Em defesa da palavra – Quarentena Inverno 2021

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AS PÁGINAS Cadernos do Olhar AMA RELAS

Em defesa da palavra Timothy Donaldson Em Shapes for sounds


PÁGINAS AMARELAS de Cadernos do Olhar Inverno 2021/Maio Texto e imagens Timothy Donaldson Tipografia Syntax Editor Claudio Ferlauto Contato clauf4455@gmail.com

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Olhando para a abundância de imagens que usamos nas nossas comunicações, e a proliferação de telas LCD coloridas, ora pequenas em nossos bolsos ou grandes na sala de estar, somos fortemente persuadidos a abraçar a ideia comumente aceita que a palavra escrita é uma velharia diante as imagens como a principal ferramenta da comunicação. Isto é um engano, mas é apenas um ligeiro engano.


A importância da imagem cresceu em utilidade com o desenvolvimento tecnológico do século XX, porém sem um sólido contexto ou como prioridade do conhecimento, pois tais imagens precisam sempre ser explicadas com um texto de suporte. Muito frequentemente a verdadeira comunicação é realizada pelas palavras e têm as imagens como suporte. É muito difícil produzir design gráfico sem palavras, mas é perfeitamente faze-lo somente


com palavras. Todo texto que sustenta que atuamos por meio da comunicação baseada em palavras, é escrito com muitas palavras. Eu gostaria de ver como seria chegar sob minha porta envelopes sem nome e endereço escritos, apenas com minha imagem e a da casa impressas na frente deles. Da mesma forma gostaria de ver um jornal totalmente feito de imagens e de recursos gráficos; ou achar o caminho de casa me orientando por placas


Alfabeto é um


termo genérico


de sinalização com apenas setas e desenhos, mas imagino que estas coisas ainda não tenham muito futuro. Para cruzar fronteiras nacionais precisamos de um documento com texto: o passaporte não é feito apenas com a imagem de nosso rosto. As taxas obrigatórias são um documento que se ignorado, pode nos tornar criminosos, elas não contem imagens. O código [visual] das estradas contem muitos signos baseados em imagens,


mas que sempre precisam ser explicados com palavras. A internet é 95% texto. Alguns pontos da linguagem falada-escrita [emoticons] nos tel celulares são como uma degradação da linguagen e uma erosão dos padrões linguísticos, mas ainda assim é comunicação textual e, de qualquer forma, não é feita por mensagens visuais. Letras são imagens altamente especializadas e, desde sempre, lemos as palavras como imagens.


Palavras são percebidas como imagens silhuetadas; as letras atuais são realmente constituídas como pequenas imagens e escritas com um modo de desenhar altamente evoluída e especializada. O alfabeto é uma das maiores invenções do homem; é ele que permite a preservação do conhecimento e do saber dos homens e ele é um sistema simples de aprender. Também tem grande significação; enquanto o advento da tipografia


—alfabetos impressos— foi um elemento reducionista do desenvolvimento da forma das letras, o alfabeto tem sido cada vez mais desenvolvido nos últimos 500 anos do que no período anterior. A tipografia é o motor do design gráfico e a escrita é seu combustível. Mas mais que isso, o alfabeto tem sido o propulsor da comunicação de massa desde o código Morse até a internet. 'Alfabeto' é um termo genérico, existem muitos alfabetos.


Esta obra procura mostrar as origens (a gênese) e a evolução do mais conhecido deles [o alfabeto latino] por meio do desenvolvimento de seus limites relativos, e para demonstrar que esse desenvolvimento (poder) aconteceu de diversas maneiras diferentes. Também investiga questões como: porque temos três letras —K, Q e C— que podem representar o mesmo som, mas o mesmo não acontece para NG, YH ou CH ou para o som


de S em MEASURE? O livro faz isso com uma porção de imagens e com muitas palavras.

Prefácio de Shapes for Sounds Donaldson, Timothy. Shapes for Sounds. Nova York, Mark Batty Publisher, 2008.


Phonemehead


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