O livro da gráfica/de bolso Parte 01 2014

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O livro da gráfica | Claudio Ferlauto e Heloisa Jahn

4ª edição revista e ampliada


O LIVRO DA GRテ:ICA

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AZUL

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A GRテ:ICA DO LIVRO O LIVRO DA GRテ:ICA


AMARELO

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VERMELHO

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CLAUDIO FERLAUTO HELOISA JAHN

A GRテ:ICA DO LIVRO O LIVRO DA GRテ:ICA


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6 O fim 08 Os princípios 10 O tipo de letra 12 Os tempos do tipo 14 O livro de Cristina Burger 16 Tipos famosos 18 Classificação dos tipos 22 Tipos bem brasileiros 23 Qual o seu tipo? 28 Um alfabeto de Tide Hellmeister 33 Litografia, xilografia, gravura em metal 36 O tipo de Oswaldo Miranda 37 Fotografia 45 O livro de Paulo Monteiro 46 Colagem/fusões 50 O livro de Silvio Silva Jr.


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Design, conceitos 51 Revista Senhor 65 O livro de Luciano Pessoa 68 Livro. Um apanhado histórico 69 Romance 74 Poesia 76 Poemas visuais 78 Livro infantil – Bel 79 Autores, de A a Z 90 As capas e livrarias brasileiras 97 O livro de Guto Lins 112 Ensaios 113 Colaboradores, autores 121 Bibliografia 123 Índice 124 Agradecimentos 127


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O FIM Como um prテウlogo, em 2012.


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Havia quem não quisesse trocar seus rolos de manuscritos pelos recentes e revolucionários códex, nos idos da Idade Média. Os aristocratas do início do século XVI, por sua vez, abominavam os primeiros livros impressos com os tipos móveis de Gutenberg: preferiam livros personalizados produzidos por escribas com iluminuras douradas e outros detalhes sofisticados; assim como hoje muitos leitores, que gostam de afirmar uma rejeição aos livros eletrônicos, afirmam com veemência que “o livro não vai acabar”… e que a sensação de manusear um livro não será substituída pelo contato frio das superfícies dos tablets. Mas a fila anda. ¶ O livro, como conhecemos hoje, originário do códex —folhas costuradas na lombada­— é uma experiência humana de pouco mais de 500 anos. Ele moldou uma sociedade, que o canadense Marshal McLuhan chamou de a Galaxia de Gutenberg, habitada pelo homem tipográfico. Este modelo vive seus últimos momentos (considerar aqui o tempo histório, não o tempo do nosso cotidiano ou mesmo o de nossas vidas­). ¶ O códex já foi considerado por muitos como um fato mais importante para o homem, do que a invenção da tipografia. E não vai desaparecer em poucas décadas. Talvez nem desapareça, apenas mude de status e função, assim como o teatro não desapareceu com a chegada do cinema, nem este com a chegada da TV, e nem esta com a internet super rápida e quase cinematográfica que está prestes a entrar em nossas vidas por meio da TV, dos tablets, telefones (que de telefone não têm mais nada) e outras mídias que estão sendo gestadas cotidianamente na mente do homem contemporâneo. Para o empresário norte-americano David Spadafora “a revolução digital é boa para o objeto físico [livro]”, visto que para muitos usuários, ele não é apenas o texto, mas um objeto de estima e afeição. ¶ É mais provável que o atual modelo de negócios editorial desapareça antes do livro. E esta é uma realidade latente e ameaçadora na medida que, um dos poucos gigantes que dominam nossas vidas —Google, Apple, Amazon, Orkut, Facebook­— decidir que além de distribuir e vender, resolva editar os livros. E aqui a discussão não será mais sobre o livro, mas sobre o conhecimento. Ou mais corretamente, sobre controle do conhecimento. ¶ Previsões previsíveis como “tablets podem ser a tendência do futuro”, são uma bobagem. Eles apenas vão mudar nossos hábitos de leitura. Mas isso é um outra discussão: importam os livros ou as leituras?


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SimestriA

x

Os prin olhar Assim como o escritor tem na leitura sua matéria prima criativa, os designers contemporâneos tem a sua no olhar, na escrita e na leitura.

Anotar Grande parte das anotações resultantes do olhar são observações verbais e traços com as ideias iniciais.

ESTRUTURAR A grade/grid é uma estrutura. Ela começa de modo simples: definir o que está em cima e o que está embaixo, o que vai à esquerda ou à direita.


x

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assimetria

cípios: A página Sempre pensar na página dupla, que é o modo como ela é visualizada pelo usuário.Toda página tem uma carga de simetria que pode se transformar em assimetria.

INTERPRETAÇÃO O resultado é a composição organizada segundo a interpretação dos editores e dos designers: uma partitura para ser interpretada pelo leitor ou usuário. Quando bem composta realiza uma A composiçÃO de suas funções, Compor a página ou o texto é como compor que é comunicar. música: é necessário pensar em ritmo, harmonia, silêncios e vazios. O leiaute é a interpretação dos elementos da composição, sejam textos, imagens, contextos ou superfícies. Tipografia Caligrafia, desenho de letras/lettering e tipografia não são a mesma coisa: as três atividade apenas tem uma coisa em comum, a letra.


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“I treat type two different ways. The type might contrast with the image, in which case the scale of one to the other is very important.I prefer classic faces (text and display)

TIPO because

I haven’t

found anything

new to get excited about. love

19th

I still

century faces”.

Seymour Chwast

“É

a arte de escolher os tamanhos,

o comprimento das linhas e as diferentes espessuras

das informações dos textos.

Seu

critério de legibilidade deve

depender, única e exclusivamente, de sua forma e contraforma, da proporção e da fluência rítmica dos seus sinais”, diz

Eduardo Bacigalupo.


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O TIPO DE LETRA. Aprender a desenhar é aprender a ver. Ver não é a mesma coisa que olhar, com os olhos distraídos e desinteressados de quem procura, apressadamente, um par de tênis ou uma bolsa na vitrine de uma loja. Ver exige mais. Exige atenção que desenhamos com a mente, com a cabeça, e não, simplesmente, com as mãos, com lápis ou computadores. Para conhecer a tipografia

GRA FIA

O

e crítica, para que possamos ser criativos. Também sabemos

devemos agir da mesma forma. É preciso conhecer, ser apresentado aos tipos. Assim seremos capazes de perceber suas nuances, sua personalidade, a funcionalidade e a beleza de suas formas. “Quanto mais sabemos sobre tipos, mais preparados estamos para usá-los”, comenta Allan Haley, o cronista dos tipos na revista norte-americana Step by Step. Mais adiante falaremos de usos e significados. Por enquanto esta é uma boa definição de tipografia: “Tipografia é transformar um

espaço vazio

num espaço

que não seja mais vazio. Isto é, se você tem uma determinada informação ou um texto

manuscrito e precisa dar-lhe um formato impresso

com uma mensagem clara que possa ser lida sem problema, isso é tipografia”, afirma o tipógrafo alemão, Wolfgang Weingart. “Mas essa definição tem o defeito de ser muito curta. Tipografia pode ser também algo que não precisa ser lido. Se você gosta de transformar partes dessa informação em algo mais interessante, pode fazer algo ilegível, para que o leitor descubra a resposta. Isso também é possível, e isso também é tipografia”, completa Weingart.


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OS TEMPOS DO TIPO

n Desde há muito tempo, muito tempo

mesmo, o homem utiliza imagens e signos para sua comunicação. Nos tempos antigos ele misturava ícones a uma escrita rudimentar, sem distinguir uma coisa da outra. Seria o caso até de dizer-se que realizava fusões de imagens com palavras. Essa aparente confusão entre signos verbais e não verbais não é uma invenção do Photoshop, mas uma invenção do homem. Há mais de 60 mil anos o homem fixou imagens nas paredes das cavernas. Lá por 3.500 a.C., na baixa Mesopotâmia, os sumérios gravavam em pequenas tabuletas sua língua monossilábica, estabelecendo, na cronologia humana, a primeira ocorrência da escrita como a conhecemos hoje. Algumas centenas de anos depois, no Egito, era a vez dos hieróglifos, escrita figurativa baseada numa espécie primal de logotipo conhecido como pictograma. Os chineses, há milênios, gravavam ideogramas em ossos e cascos de tartaruga. Fenícios, gregos, árabes, hebreus, maias, astecas, cada um a seu modo, utilizaram sistemas de representação dos sons da fala. n Na Idade Média, a Igreja dominante elege o latim como língua sagrada e passa a usar caracteres latinos em seus documentos e manuscritos, transmitidos aos pósteros pelo trabalho dos copistas. Quem leu o romance de Umberto Eco ou viu o filme homônimo de Jean-Jacques Arnaud —O nome da rosa—, identifica facilmente o trabalho desses artífices das letras. n A efervescência renascentista, aliada à invenção da imprensa de tipos móveis (Gutenberg, 1455), descobre e/ou inventa novos públicos para a informação escrita.


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Em seguida, transformações culturais e tecnológicas alteram profundamente as formas da representação da escrita, fazendo da tipografia uma atividade importante e sofisticada. n Nos dias de hoje, a tecnologia avançada permite que todos os alfabetos criados nos últimos quinhentos anos caibam em nossos computadores pessoais, digitalizados, virtuais, prontos para um uso facilitado e muito simples. Isso possibilitou o acesso às obras primas de Claude Garamond, Giambattista Bodoni, Adrian Frutiger e Zuzana Licko, a um vasto público leigo — de todas as idades e escolaridades— ao redor do planeta. n Por intermédio dessa via eletrônica são criados novos alfabetos e novas maneiras de expressão gráfica que, destruindo ou desconstruindo a lógica herdada da Renascença, voltam a fundir imagens e escrita numa nova expressão: o design gráfico contemporâneo.

Gutenberg, por Cristina Burger.

E quando novamentese elimina, como se fosse grande novidade, a distinção racionalista e estrutural entre texto e imagem, entre legibilidade e transmissão de significados, a serpente da comunicação morde o próprio rabo pré-histórico: “A serpente come a própria cauda. Mas é só depois de um longo período de mastigação que ela reconhece no que ela devora o gosto da serpente. Ela pára então... mas ao cabo de um outro tempo, não tendo nada mais para comer, ela volta a si mesma... Chega então a ter sua cabeça em sua goela. É o que se chama uma teoria do conhecimento”. (Paul Valery, 1944, traduzido por Augusto de Campos em 1985, em Paul Valéry: a serpente e o pensar,.)


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O

Cristina Burger, Sテ」o Paulo 2002. Aquarela.

livro de


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“What kind of Typography I prefer and why? I like every Typography

which shows real character, and real individuality.

Including also Jan Tschichold...” Wolfgang

weingart

Capitular, Maiúscula, Caixa Alta, a letra A da Caslon 540, corpo 550. Minúscula, caixa baixa, a letra Z da Helvetica no corpo 50.


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Original

por

Giambattista Bodoni, 1787

William Caslon, 1725

Criada

em

1928

por

Paul Renner

Desenhado

em

1530

por

Claude Garamond

Desenhado

em

1957

por

Max Miedinger

Stanley Morison e Victor Lardent

Criado

em

1957

por

em

Adrian Frutiger

1929


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Clássico moderno, está sempre na moda. Recentemente foram lançadas três versões desse alfabeto. Sumner Stone consultou os originais de Giambattista no Museu Bodoniano, em Parma, na Itália. ”A pesquisa transportou-nos para uma nova dimensão e para novas ideias. Não estávamos apenas olhando velhos livros e velhos tipos metálicos. Viajamos para Parma em busca do espírito de Bodoni o verdadeiro Bodoni.”

Paul Rand, grande designer americano, projetou seu penúltimo livro Design, Form, and Chaos usando a Caslon 540: “Seu uso pode sugerir que o autor, subitamente, tenha tido um ataque de nostalgia. Embora ela estilisticamente tradicional, o modo como a usei não o é. Se tivesse usado um alfabeto sem serifa, isso poderia ser diferente no seu sabor, mas não na substância ­—como a diferença entre chocolate e baunilha.”

Construída

a partir de formas geométricas puras: as letras

O, C, G e Q,

seja

por exemplo, originam-se do círculo.

muitas de suas letras são simples segmentos de reta; outras são junções desses segmentos com secções do círculo.

Por suas características formais, não funciona para textos longos, sendo recomendada para títulos Nos anos 1970, baseado nela, milton glaser desenhou um alfabeto stencil, que chamou neo futura.

O Cardeal Richelieu

considerava essa fonte uma expressão da universalidade.

uma de suas fontes preferidas, em seu

Calendário 1997. Foi o mais Pioneiro, inventou o primeiro design itálico de caracteres. Está no e Junesuke Ota, e também no da QU4TRO Design.

pós e e

O

Bauhaus,

Uma

Eduardo Bacigalupo a elegeu Renascença. do Und, escritório de Norberto Chamma

elegante tipógrafo de toda a logotipo

Modernista Preferida por nove entre dez estrelas escolas de design, é emblemática da produção dos pioneiros brasileiros como Maurício Nogueira Lima, Ruben Martins Alexandre Wollner. Em 2000 foi tema do primeiro filme sobre tipografia, do diretor Gary Hustwit.

A

mais internacional das letras.

e textos curtos.

das mais populares em aeroportos e desktops no mundo todo.

é sinônimo do estilo internacional e da tipografia suíça até no nome.

alfabeto foi desenhado para o jornal londrino

foi desenhado por

Victor Lardent

The Times. Criado

a partir de uma ideia de

Stanley Morison, Sua atual popularidade

enquanto ele trabalhava no departamento de arte do jornal.

advém não apenas de suas qualidades e funcionalidade, como também do fato de estar presente no sistema operacional dos principais computadores pessoais.

Para

a calígrafa

A

versão atual é o quinto redesenho dos originais criados no início do século

Katherine Wolf, o Univers é, entre os alfabetos sem serifa, aquele que mais se aproxima —letras de cerca de doze centímetros de altura encontradas na coluna de Trajano,

das capitalis romana

em

que eram primeiramente pintadas com pincel largo e em seguida esculpidas no mármore por incisão do cinzel.

Está

presente na sinalização da

Avenida Paulista,

projeto da

Cauduro e Martino Arquitetos Associados.

XX.

Roma—,


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LETRAS A primeira e mais simples das classificações, conhecidas mesmo por muitos leigos, é aquela que divide as letras em serifadas e sem serifas. Entretanto essa simplificação não explica a origem dos alfabetos e não serve para estudiosos e profissionais. Muitos estudiosos elaboraram sistemas de classificação para as letras. Segundo o tipógrafo Jorge de Buen, os principais foram Francis Thibauden, Maximilien Vox e Robert Bringhurst, além dos designers Aldo Novaresi e Herman Zapf e uma dezena de outros. Ele também chama a nossa atenção para classificação realizada pela DIN/Deutsche Industrie Normen em conjunto com ATypl/Associação Tipográfica Internacional. Aqui destacamos um sistema de classificação europeu e um norte-americano. Se discordar delas, não pense estar sozinho:  não há unanimidade sobre o tema em nenhum recanto do globo. Bringhurst e de Buen têm outras ideias sobre a classificações dos tipos, respctivamente, em Elementos do estilo tipográfico (CosacNaify) e no Manual de diseño editorial (Santillana).


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CLASSIFI CAÇÃO

S

A CLASSIFICAÇÃO EUROPEIA de Christopher Perfect

Humanistas São alfabetos originários dos primeiros tipos romanos aparecidos na Itália (1460–1470), e que se baseiam nas letras dos manuscritos humanistas escritos com as minúsculas carolíngeas. São também identificados como alfabetos venezianos. Esses alfabetos não estão na moda e não são os mais frequentes nos desktops contemporâneos. Alguns dos mais conhecidos: Italian Old Style, Jenson, Lutetia, Stempel Schneider e Verona. Old Style/Estilo Antigo O estilo antigo é uma variação das fontes humanistas, com modificações nas maiúsculas e minúsculas. O old style teve variações em função de aspectos culturais de cada país onde foi mais usado. Na Itália prevaleceram as obras de Aldus Manutius, Francesco Griffo e Ludovico Arrighi. Na França, a predominância foi de Claude Garamond (1480–1516), que desenhou seu famoso alfabeto em 1530, baseado na obra De Aetna, de Aldus Manutius. Essa é considerada a época de ouro da tipografia francesa. Os holandeses Dirk Voskens (1669) e Cristoffel van Dijck são os destaques dos Países Baixos, com o alfabeto Dutch Old Style, exportado para muitos países. Os ingleses, que tinham toda a atividade de fundição de tipos sob controle do governo, importavam as matrizes holandesas e em razão disso, o old style inglês só se formou no começo do século XVIII, baseando-se no trabalho de William Caslon (1692–1766) e de seu grande rival, John Baskerville. Uma seleção old style sempre incluirá os alfabetos Garamond, Goudy Old Style, Palatino, Plantin e Sabon. Transicionais Por cerca de duzentos anos o old style dominou a tipografia na Europa. Em 1692, Philippe Grandjean (1666–1714) foi contratado para desenvolver um novo alfabeto romano (ou seja, baseado nas capitalis romana) para a Imprensa Real da França: “Pela primeira vez na história, o design de cada


letra foi realizado tendo como base um quadrado preciso, e seu outline calculado matematicamente para a obtenção de um corte preciso”, relata Christopher Perfect em seu livro The Complete Typographer. São considerados alfabetos de transição: Baskerville, Bookman, Quadriga Antiqua, Stone Serif, Zapf International. Modernos O nome fundamental entre os modernos é Giambattista Bodoni, italiano famoso pela elegância de seu alfabeto e pela precisão de seu Manuale Tipografico. Bodoni foi o tipógrafo do duque de Parma, e é conhecido como “o rei dos tipógrafos, e tipógrafo dos reis”. Ele e seu maior rival, o francês Firmin Didot (tipógrafo do rei Luís XVI), foram influenciados pelo trabalho do inglês John Baskerville. São modernos os tipos Bell, Bodoni, Didot, Fenice, Walbaun. Slab serif/Serifa quadrada ou reta Definidas pelo próprio nome. Alguns alfabetos: Aachen, American Typewriter, Clarendon, Lubalin Graph, Memphis.

Ba uh au s

Op tim a

Gil l Sa ns

Bo do ni

Ba ske rvi lle

Typ ew rite r

Am eri can

Bo ok ma n

Sem serifa O primeiro tipo sem serifa só apareceu no início do século XIX, produzido pela casa fundidora de Caslon. Avançado para o mercado da época (1816) —dominado pelos alfabetos de serifa quadrada—, teve pouca influência cultural e não obteve sucesso comercial. Pouco tempo depois, William Thorowgood produziu o primeiro alfabeto sem serifa com minúsculas, que ficou conhecido como Grotesque, raiz da maioria dos não serifados em uso. Famosos e conhecidos: Eurostile, Franklin Gothic, Gill Sans, Helvetica, Arial, Kabel, Optima, Univers. Displays Num último escaninho restam os alfabetos sem origens antigas, desenhados com uma falsa serifa ou serifa curta, inclassificáveis como serifados ou como sem serifa e mesmo como modernos. Entre eles estão os populares Cooperplate, Belwe, Bauhaus, Broadway, Novarese, Poster Bodoni, Zapf Chancery.

Ga ram on d

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A VISÃO NORTE-AMERICANA de Allan Haley

Old Style – Veneziano (Bauer Text); Aldino/referente a Aldus Manutius (Bembo, Garamond); Holandês (Caslon, Plantin); e Revivals Old Style (Benguiat, Cooper Black). n Transicionais – (Americana, Zapf International). n Moderno – Didone/referente a Didot+Bodoni (Bodoni, Didot Bell, Walbaun); Século XX (Centennial, Fenice). n Clarendon – Século XIX (Bookman); Neo Clarendon (Cheltenham); Clarendon/legibilidade (Clarion, Corona). n Slab Serif – (Lubalin Graf). n Glíficos – (Friz Quadrata, Novarese). n Sem Serifa – Grotesque (Franklin Gothic); Neo Grotesque (Helvetica, Univers); Geométrico (Futura, Kabel); Humanístico (Frutiger, Gill Sans); Quadrada (Eurostile). n Scripts – (Mistral, Snell Roundhand) n Gráficos – (American Typewriter, Peignot). n

O TIPO DIGITAL Zuzana Licko, da Emigre (Narly, Variex), Neville Brody (Industria, Face), Jonathan Hoefler (Gestalt), Jeffrey Keddy (Keedy), Barry Deck (Template Gothic), Scott Makela (Dead History), Eric von Blockland & Just van Rossum (Beowolf), Eric Spiekerman (Folha de S. Paulo) são alguns dos pioneiros A Variex de Zuzana Licko, da nova via tipográfica de origem eletrônica, pós chumbo, pós fotocomposição, 1988, da Emigre, utiliza pós tudo. No Brasil, podemos falar, entre outros, de Tony de Marco, os elementos geométricos Burritos do Brasil, Claudio Rocha, Guto Lacaz e Nú–dës. Alguns seguem básicos (círculo, reta, as sendas da pura experimentação e da ilegibilidade planejada, outros triângulo) no desenho —como Spiekerman e Hoefler— a linha estruturalista e linear que a tradição de seus caracteres, inspirada e a própria lógica do verbal estabeleceram para a tipografia nesses mais de nas ideias que Herbert Bayer quinhentos anos de imprensa. usou para seu alfabeto Os designers Ellen Lupton e Abbott Miller, em sua obra Design, Writing, Universal, em 1926 na Bauhaus, e que, dois anos Research: Writing on Graphic Design, afirmam: “Esses alfabetos trocaram a limpeza e a simplicidade, paradigma mecânico do estruturalismo, por um depois, inspirou o alfabeto Futura de Paul Renner. modelo que funde a tecnologia e a biologia. Essa postura praticada pela tipografia tem participação ativa na reavaliação cultural do modernismo. Enquanto eles institucionalizavam o choque do novo, o pós moderno recoloca essa crença de renovação na paródia, na citação, no pastiche e numa inquieta aliança com a tecnologia”,

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TIPOS BEM BRASILEIROS.

O questionamento era: onde está e qual

é a tipografia tipicamente brasileira? Que cultura tipográfica o Brasil pode legar às gerações futuras? Ou seremos sempre, —mesmo quando nos tornarmos potência mundial de verdade— , dependentes das culturas suíça, holandesa, norte-americana? Quem levantou a questão foi a designer Giuliana Rollo em uma conversa sobre projetos tipográficos. ¶ A primeira ideia para enfocar este universo foi pensar em quem produz uma tipografia espontânea no país: os antigos e remanescentes tipógrafos da era de metal. Pequenas gráficas espalhadas pelo país, —em pequenas cidades interioranas do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, de Pernambuco, do Pará etc.— imprimem todo o dia trabalhos para divulgação de pequenos negócios e serviços, como chaveiros, eletricistas, cartomantes, restaurantes a quilo, santos milagrosos etc. ¶ Depois, pensando um pouco mais, tivemos —e ainda subsiste— uma vertente modernista bem abrasileirada, mas de sabor suíço, que desenvolveu-se por intermédio do trabalho dos pioneiros como Ruben Martins, Décio Pignatari (e os poetas concretos), Fernando Lemos, Alexandre Wollner e todos aqueles que estiveram em torno da ABDI/Associação Brasileira de Desenho Industrial nos anos 1960, que aproveitou-se também do tempero elaborado pelos artistas e agitadores modernistas da Semana de Arte de 1922. ¶ Uma terceira onda, derivada das tecnologias digitais e dos modismos absorvidos no pós-modernismo, via Inglaterra (Neville Brody) Holanda (Gert Dumbar), e Estados Unidos (David Carson), assolou o mundo tipográfico brasileiro a partir do final dos anos 1980 e que de resto foram de grande influência para os tipógrafos eletrônicos formados no Brasil nas últimas décadas. Este tsunami foi alimentado por cópias e apropriações (revista MacMania e Tony de Marco); paródias e brincadeiras (Elesbão e Haroldinho), maneirismos (Vicente Gil), experimentalismo vernacular (Priscila Farias, Jimmy Leroy, Cristian Cruz) e trabalho erudito (Fernanda Martins, Claudio Rocha, Rodolfo Capeto); até chegarmos a uma certa maturidade juvenil, nascida de puro voluntarismo, fruto de estímulos como os eventos Tipografia Brasilis; e que pode ser detectada nas mostras mais recentes dos Tipos Latinos e na oferta de serviços de alto nível no nosso mercado gráfico. ¶ Mas, escondidas em algum grotão do país, existem experiências que fogem desses caminhos. Anos atrás, alunos da graduação da Universidade Anhembi Morumbi, pesquisando sobre tipos brasileiros, descobriram que, em Minas Gerais, na região de Ouro Preto, durante o período colonial, foi esculpido um alfabeto metálico com a tecnologia existente na Europa (e certamente por influências estrangeiras) que foi utilizado para publicar documentos políticos contra o Império. O que faz sentido: a região reunia a tecnologia (fundição, gravura), a luta política pela independência, e a necessidade de divulgar novas ideias, pois na época, a imprensa era proibida no Brasil. ¶ E mais: da experiência de O Gráfico Amador, grupo do qual fez parte Aloisio Magalhães, (advogado e artista gráfico, incensado como nosso maior designer gráfico), podemos identificar influências e lições tipográficas que marcaram as primeiras editoras importantes do país, entre as quais a Civilização Brasileira (Rio de Janeiro), a Globo (Porto Alegre), e a Brasiliense (São Paulo). ¶ São trilhas independentes que se cruzam, sem preconceitos ou cerimônia, e nelas, e de suas misturas, está sendo moldado o jeitão brasileiro de desenhar tipos e letras.


QUAL ÉO SEU TIPO? tipografia

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“Com

quantos tipos se faz

tipografia?

Diria que são suficientes Ou quatro.

uns cinco tipos.

Primeiro

um bom tipo sem serifa

e alguns tipos com serifa.

O Times

é um bom tipo.

Não

com tipos.

problemas que temos

Os

tenho problemas

para resolver, como tipógrafos, são os de organizar um certo

espaço visual de forma inteligente e não ficar selecionando tipos entr eduzentos ou mais.

Isso,

escolher tipos,

não é problema

nenhum para mim.”

Wolfgang Weingart

Depoimento

Claudio Ferlauto 1995. Abigraf. a

publicado em

na

Revista

“What

does this teaching have to do with the profession?

Perhaps educators should I have a teaching method

prepare students not only for today but also for the future.

I

call the typography backpack system”

This

system describes the fundamental process

of ourlearning and working with typography”.

Wolfgang Weingart


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AS IDEIAS. Wolfgang Weingart não é um designer comum, não é um tipógrafo comum, nem um professor igual aos outros. É um compositor. Um designer de ideias. Um educador persistente. Recusa o olhar saudosista como o diabo foge da cruz. Não fala de problemas menores, como tipografias ilegíveis e outras banalidades modernas. Afirma não ser um pensador que faz do verbal a sua arma ou o seu escudo. É um fazedor, pensador não verbal como Leonardo da Vinci e Jean-Luc Godard. Tudo o que quer dizer, diz por meio do trabalho. Não procura ser diferente. Mas é original: fiel às suas origens. ¶ O tempo todo inclui a vida em seus trabalhos: recordações sentimentais, paisagens de suas andanças, a casualidade do dia a dia. Nascido na Alemanha e vivendo na Suíça há quarenta anos, aparenta ser convencional e durão, mas por trás de seus óculos esconde uma pessoa nada formal ou fechada. Aquariano com ascendente em Áries, é visionário, sonhador. Um futurista de velha estirpe. Por baixo da pele do lobo/wolf existe um mestre doce e exigente. Weingart é um artista dialético que trabalha nos níveis mental, emocional e pragmático. Um pensador que trilha os caminhos de Charles Sanders Pierce e da tradição lógica de Heidegger. Com extrema precisão transforma ideias abstratas em tipografias. Com paixão, renova a ideia que seus alunos fazem das artes gráficas, de modo mais profundo do que a influência de macs e pecês. É um sobrevivente rebelde do que houve de melhor na Bauhaus, em Ulm e nas revoluções estudantis dos anos 1960–1970. Data dessa época efervescente sua iniciação na Basel School of Design. ¶ Foi desse espírito de liberdade que ele forjou as lectures que levou aos Estados Unidos em 1972, e que fizeram dele o centro irradiador de uma nova visão do mundo tipográfico. A publicação de suas ideias no famoso texto How Can One Make Swiss Typography Work? influenciou uma geração inteira de artistas americanos, da Califórnia a Nova York, provocando uma peregrinação de designers americanos a Basileia, fenômeno que perdura até hoje. Lembra o turrão e cortante Bob Dylan e o bem humorado e criativo Jerry Garcia, se é que essa mistura pode existir em termos de design. Sua generosidade intelectual e suas exigências de dedicaçãoe disciplina fizeram dele umpersonagem importante na história do design. Mais que guru da nova tipografia, ele é um educador original. E radical. ¶ “Tipografia é transformar um espaço vazio num espaço que não seja mais vazio. Isto é, se você tem uma determinada informação ou um texto manuscrito e precisa dar-lhe um formato impresso com uma mensagem clara que possa ser lida sem problema, isso é tipografia. Mas essa definição tem o defeito de ser muito curta. Tipografia pode ser também algo que não precisaser lido. Se você gosta de transformar partes dessa informação

Garamond Claude Garamond/1530

Cheltenham Bertram Goodhue/1896

Lubalin Graph Herb Lubalin/1974

Novarese, Aldo Novarese/1980

Gill Sans, Eric Gill/1928


TIPOGRAFIA SUíÇA. “Primeiramente, a tipografia suíça não existe mais. Mas se você se refere àquela dos anos 1920, a pureza da tipografia, na maioria das vezes composta de ângulos certos e com poucos tipos, eu diria que essa tipografia simplificada, de letras organizadas, é aplicável em todo o mundo. As informações nas cidades, nos aeroportos, nas repartições oficiais, por exemplo, devem ser muito claras e ter um estilo internacional. Isso é parte da tipografia suíça, mas na Suíça há cerca de trinta anos não há mais tipografia suíça. Fazemos todos os tipos de tipografia, todos os estilos. Em minhas aulas trabalhamos em diversas linhas, inclusive a chamada tipografia suíça. Não há mais estilo, você deve encontrar sua própria linguagem, preferentemente originada de pensamentos claros e concisos como foi a tipografia dos anos 1950 e essa é a base que você necessita para criar sua própria tipografia. Hoje, o fundamental para o ensino —e é o que tento responder de uma forma em que você tenha de aprender—, é conhecer os princípios básicos. Mais do que nunca, esses fundamentos são importantes devido aos computadores. ¶ Devemos aprender outra vez os princípios básicos da tipografia, que continuam muito importantes ainda hoje: nada mudou desde que o papel existe. Você continua a escrever ou imprimir alguma coisa no papel, não importa se usando a mão, máquina de escrever ou computador. Todo texto impresso é para ser lido, não importa se foi impresso em ofsete ou de qualquer outra forma. Por isso é importante que se aprendam os princípios antes de começar-se a trabalhar com máquinas complexas com as quais, como em qualquer atividade humana, podemos fazer coisas maravilhosas. Ou horrorosas. Portanto, os elementos básicos são necessários: a distância entre as letras, o espaço entre letras e entre linhas, corpos, os tipos de impressão, o lettering, os diferentes sistemas de composição, e outros detalhes. Tudo é importante para se obter um bom resultado em tipografia. E, sobretudo, entender a relação entre todos esses elementos”.

Helvetica Max Miedinger/1957

Bodoni Giambattista Bodoni/1787

Variex Zuzana Licko/1988

Template Gothic Barry Deck/1990.

tipografia

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em algo mais interessante, pode fazer algo ilegível, para que o leitor descubra a resposta. Isso também é possível, e issotambém é tipografia. Escrita à mão é tipografia. Fazer letras à mão também é tipografia. Tipografia é a arte de escolher o tamanho correto, o comprimento certo da linha, de escolher as diferentes espessuras das informações do texto. Ela pode incluir cor, que dá um outro significado à palavra. Se voce imprimir algumas partes em vermelho, elas se transformam numa outra informação. A tipografia inclui regras para o uso de linhas, formas positivas e negativas , aplicação de retículas, letras em diferentes contrastes de claro escuro e de tamanhos pequenos e grandes”.


O LIVRO DA GRテ:ICA

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tipografia

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O alfabeto de Tide Hellmeister S達o Paulo 2003 Colagem.


O LIVRO DA GRテ:ICA

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tipografia

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O

alfabeto mostrado

nas edições anteriores

1990. 2003.

foi criado em

Este

é de


O LIVRO DA GRテ:ICA

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1ツェ

Litografias de Claudio Mubarac. 1998, impressas por EtrAtelier.

ediテァテ」o de


LITOGRAFIA e outras grafias Claudio Mubarac Quando Aloys Senenfelder, utilizando pedras calcárias da região da Boêmia, desenvolveu em 1797 seu processo de impressão e resolveu chamá-lo “impressão química”, estava dando um grande passo para o estabelecimento das modernas técnicas de reprodução do nosso tempo. Mais tarde chamado de litografia —do grego, escrever sobre pedra—, o novo procedimento gráfico seria a base para o atual ofsete e todo um conjunto de processos ligados à fotomecânica. Seus princípios químicos baseados na repulsão entre gordura e água e sua característica de utilizar matrizes planas iriam facilitar grandemente todo o trabalho ligado ao desenho e atrair artistas que não tinham uma formação ligada aos ofícios da gráfica. Na litografia o desenho é feito diretamente na pedra, sem a utilização de ferramentas ou processos químicos mais complexos, como nos casos da xilogravura e da gravura em metal. O desenhista trabalha com lápis crayons, pincéis etc., que têm em sua constituição materiais químicos específicos para possibilitar a posterior gravação da imagem. O processamento e a impressão das matrizes geralmente são feitos por um mestre impressor, desvinculando o artista do conhecimento da química do processo. Reside aí outro traço distintivo da litografia: o de ser um processo fundamentalmente colaborativo, no qual o impressor tem papel central. A litografia de Géricault estará sempre associada a Hullmandel e Villain, e a de Picasso e Braque a Mourlot e Desjobert, grandes mestres impressores. Além de atrair os artistas, a litografia também foi alvo de grande interesse por parte dos gráficos, o que fez com que ela tivesse um desenvolvimento rápido, ligado aos nascentes processos industriais. Sua prática se espalhou por toda a Europa e pela América devido à rapidez de execução, a possibilidade de grandes tiragens e a facilidade na construção da estampa a cores. Com a cromolitografia se materializava uma vontade que dirigira os esforços de muitos gravadores, desde meados do século XV, com relação à impressão a cores e em larga escala. Contemporaneamente, os processos litográficos continuam sendo utilizados por artistas, de forma tradicional ou experimentalmente, e vêm somar-se aos outros processo da gráfica —xilografia, gravura em metal e serigrafia— como possibilidades expressivas ricas e abertas.

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Litografias de Claudio Mubarac 2ª edição 1998 e 3ª edição 1999, impressas por EtrAtelier.


XILOGRAFIA Claudio Mubarac A gravura em madeira é o mais antigo suporte de impressão. Não se pode precisar sua origem no Oriente, mas há indícios de sua prática na China e na Índia há mais de dois mil anos. No Ocidente, os primeiros exemplares xilogravados aparecem no século XIV, reproduzindo imagens sacras e cartas de baralho. Seu princípio de impressão por relevo dá origem, no século seguinte, à tipografia de Gutenberg e à história da indústria gráfica. Xilografia Cristina Burger, 2010.

Como meio de expressão artística, a xilografia atinge seu apogeu nos séculos XV e XVI, com artistas como Dürer e Hans Baldung Grien, sendo depois

suplantada pela gravura em metal. Ela passa então a servir, ao lado da tipografia, para a impressão de livros ilustrados. Só será alvo do interesse dos artistas no final do século XIX, quando Gauguin, Munch e os expressionistas renovam a linguagem gráfica voltando a praticar a xilografia de maneira direta e inventiva.

Xilografia

a água,

técnica japonesa,

Claudio Mubarac, 1988.

Como forma de expressão original, a xilografia tem sua força na simplicidade de seus meios, tendo atingido momentos de alto grau de sofisticação. É o que provam a xilografiajaponesa —Ukiyo-ê—, em que a estampa ganha a agilidade e a leveza do desenho e da pintura à base de água, e a utilização de um grande número de matrizes para impressos policromados de mestres como Hiroshige, Utamaro e Hokusay.

outras grafias

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GRAVURA EM METAL Claudio Mubarac Da conjunção das artes do niello, da ourivesaria e dos armeiros medievais, somada às solicitações de maior apuro na construção do desenho no que diz respeito à perspectiva e ao claro escuro, nasce, no começo do século XV, a gravura em metal. Com o uso de ferramentas delicadas, como o buril, e os processos de corrosão da água forte, artistas e gravadores começaram a desenvolver os procedimentos da gravura em talho doce que aumentaram em muito as possibilidades dos processos de impressão existentes. O princípio da construção das matrizes baseia-se no corte e na posterior entintagem dos encavos produzidos, constituindo-se assim no oposto da xilogravura, em que o corte é a parte não impressa. Esse caráter mais direto da gravura em metal atraiu desde o início artistas como Dürer, na Alemanha, e Mantegna, na Itália.

Gravuras

em metal:

impressão com ouro,

Claudio Mubarac, 1995


outras grafias

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Sobre chapas de cobre foram se criando muitos processos diferentes e novas concepções sobre o desenho, como a água-tinta e o mezzotinto (ou maneira negra), interessando muitos artistas não especificamente gravadores. Não há período da história da arte onde não se encontrem obras fundamentais realizadas por esse meio. As obras gráficas de Rembrandt, Goya e Picasso são exemplos marcantes. A gravura em metal continua interessando muitos artistas nos dias de hoje devido à grande flexibilidade oferecida por sua técnica e à qualidade peculiar dos resultados obtidos na impressão. Na indústria, o princípio gráfico do encavo originou Gravuras

os processos de rotogravura.

em metal:

sistema tradicional

Claudio Mubarac, 1990.

Aqui. Para as artes gráficas brasileiras,

A litografia, inventada em 1796

a etapa seguinte a das gravuras artesanais

por Aloys Senenfelder, foi introduzida

foi a das impressões com chapas — ­ de zinco

no Brasil por João Seinmann, com

ou cobre— gravadas fotograficamente:

as primeiras pedras sendo importadas

os clichês, autotipias, zincografia.

da Alemanha.

Primeiro somente a traço, e na sequência com rudimentares retículas

As técnicas que sucedem as xilos, litos e gravuras sobre metal são

pontilhadas. Para se ter ideia da importância

o ofsete, a rotogravura, e as impressões

de imprimir imagens, no início do século

digitais/eletrônicas de tecnologia

os clichês eram produtos importados.

xerográfica e laser.


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O

tipo do

Oswaldo Miranda


39

A foto 辿 feminina basta olhar a menina dos olhos dos olhos da menina.

FOTO GRAFIA Guto Lins

Se n達o tivesse havido a impress達o e as gravuras em metal e madeira, a fotografia n達o teria aparecido . Marshall McLuhan.

Fotos

Adriana Lins, Guto Lins e Marshall McLuhan in Galaxia de Gutemberg. de

com textos de


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Foi em 1939 que William Henri Fox Talbot, perante a Sociedade Real, procedeu à leitura de sua comunicação Notas sobre a arte do desenho fotogênico, ou processo pelo qual os Objetos Naturais podem ser delineados sem a ajuda do lápis do artista. Ele tinha plena consciência de que a fotografia era uma espécie de automação”. Marshall McLuhan.

Fabrizia Pinto e Miguel Amarante São Paulo, 1997.


fotografia

41


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Sテ」o

Alice Tassara na banheira, Paulo, 1996.


fotografia

43

Na janela, São José das Três Ilhas, Minas Gerais, 1997.


O LIVRO DA GRテ:ICA

44

Daiana da Silva, Sepetiba,Rio de Janeiro, 1997.

Verテエnica Julian, Real Gabinete Portuguテェs de Leitura, Rio de Janeiro, 1997.


fotografia

45

Gabi Prudente de Moraes, Cabo Espichel, Portugal, 1994.


O LIVRO DA GRÁFICA

46

Trocando em miúdos. Com trabalhos de Um livro disseca o que é o objeto livro: Adriana Lins Cristina Burger Guto Lins Luciano Pessoa Moema Cavalcanti Oswaldo Miranda Paulo Monteiro Silvio Silva Jr. Tide Hellmeister

uma introdução aos temas que compõem esse universo. Os autores escrvem ensaios curtos sobre diferentes assuntos relacionados ao livro e à impressão de uma forma geral. E juntam textos de outros autores, fotos e ilustrações […] como se fosse uma colagem, um videoclipe. n Adélia Borges


tipografia

47

O livro da gráfica | Claudio Ferlauto e Heloisa Jahn

4ª edição revista e ampliada


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