OMU 121

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ANO 20 | EDIÇÃO 121

www.omundodausinagem.com.br

PRODUÇÃO DE ENGRENAGENS Novo método permite usinagem com menor custo, flexibilidade e customização

PRODUTIVIDADE Desfazendo os mitos da Indústria 4.0

ENTREVISTA Os detalhes da nova sede da Sandvik Coromant no Brasil

NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA Era digital impõe nova cultura nas empresas

EDUCAÇÃO Brasil ganha pós-graduação em Robótica

CONHECENDO UM POUCO MAIS O caminho de aceleradoras para projetos de Indústria 4.0



EDITORIAL

A

nossa primeira edição impressa de O Mundo da Usinagem desse ano tem como temática central a inovação. Nas páginas que seguem fa-

zemos uma série de reflexões sobre a Indústria 4.0 e apresentamos novas aplicações que trarão ganhos de produtividade para o setor. No campo das novas tecnologias, o leitor conhecerá o novo método InvoMilling® da Sandvik Coromant que traz para o mercado uma abordagem inédita na fabricação de engrenagens externas e estrias, que combina economia, flexibilidade e personalização. Em outra reportagem, nosso colaborador Christian Dihlmann faz uma reflexão sobre os mitos que permeiam a implantação de projetos industriais 4.0, hoje ainda limitados a grandes corporações e instituições de ensino de ponta. Também nessa edição fazemos o registro histórico da mudança da sede da Sandvik no Brasil, que depois de 54 anos deixa a região de Santo Amaro para se instalar na região de Jundiaí, agora com o status de abrigar um Sandvik Coromant Center, plataforma restrita a um seleto grupo de unidades da companhia no mundo. A revolução cultural que acompanha a digitalização das empresas, por sua vez, é o tema de reportagem produzida especialmente para esta edição pelo jornalista Renato Cruz, um dos mais respeitados analistas de tecnologia e inovação do País. Em outra frente, trazemos uma reportagem que conta os bastidores do primeiro programa de pós-graduação do Instituto Avançado de Robótica (I.A.R.), que irá capacitar engenheiros para a construção de máquinas inteligentes e de alta performance. E para os empreendedores de plantão, fomos conhecer algumas das principais incubadoras e aceleradoras do País para mostrar qual o caminho das pedras para apresentar um projeto de inovação e ganhar o suporte de grupos experientes em gestão e captação de financiamento de recursos. Boa leitura!

O MUNDO DA USINAGEM

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EXPEDIENTE

O MUNDO DA USINAGEM é uma

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO

publicação da Sandvik CorowBrasil, com

REPORTAGEM

distribuição gratuita para mais de 10.000

Denise Marson

leitores qualificados.

Felipe Datt

RESPONSÁVEL

FOTOS

Fábio Ferracioli - Gerente de Marketing

As fotos sem menção de crédito são

da Sandvik Coromant.

do banco de imagem iStock.

EDITORES

CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Vera Natale - Sandvik Coromant

Pigma Gráfica

Claudio Sá - Conteúdo Comunicação TIRAGEM PRODUÇÃO E PROJETO GRÁFICO

7.000 exemplares

Conteúdo Comunicação CONTATO DA REVISTA OMU DIREÇÃO EXECUTIVA

Você pode enviar suas sugestões

Cláudio Sá

de reportagens, críticas, reclamações ou dúvidas para o e-mail:

DESIGN

faleconosco@omundodausinagem.com.br

Mariana Fabio

ou ligar para: 0800 777 7500

Daniel Casanova Bárbara Morais

Esta edição está disponível no site www.omundodausinagem.com.br

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SUMÁRIO

SOLUÇÕES DE USINAGEM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Engrenagens: nova solução reduz custo para usinagem de peças customizadas

PRODUTIVIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 2 Os mitos da implantação de projetos de Indústria 4.0

ENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Sandvik Coromant tem nova sede no Brasil

NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

24

Não basta digitalizar. Desafio é transformar cultura nas empresas

TECNOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

30

Drawbar: a importância de inspeções periódicas para garantir eficiência na operação

EDUCAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

34

Pós-graduação em robótica amplia oportunidades para engenheiros no Brasil

CONHECENDO UM POUCO MAIS . . . . . . . . . . . . 40 O caminho das pedras para empreendedores da Indústria 4.0

O MUNDO DA USINAGEM

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SOLUÇÕES DE USINAGEM

MAIS EFICIÊNCIA NA USINAGEM DE ENGRENAGENS O inovador método InvoMilling® na fabricação de engrenagens facilita e otimiza a produção de lotes pequenos, não seriados, e peças únicas POR VERA NATALE FOTOS E ILUSTRAÇÕES SANDVIK COROMANT (SUÉCIA)

A

demanda por ciclos de fabricação mais curtos, flexíveis e personalizados é cada vez mais frequente para a maioria das in-

dústrias, incluindo os fabricantes de engrenagens. Na prática, essa necessidade abriu caminhos para o desenvolvimento e aplicação de novos métodos como o InvoMilling® da Sandvik Coromant, que possibilita, por exemplo, o uso de máquinas cinco-eixos e de ferramentas standard, que são mais flexíveis do que geradoras de engrenagens dedicadas e fresas caracóis inteiriças, elaboradas para cada perfil específico de engrenagem.

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SOLUÇÕES DE USINAGEM

InvoMilling® é um método desenvolvido pela Sandvik Coromant para usinagem flexível de engrenagens retas, helicoidais e cônicas em máquinas cinco-eixos O MUNDO DA USINAGEM

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SOLUÇÕES DE USINAGEM

Isso trouxe como bônus maior ganho de ef iciência operacional e redução de custos, além da quebra de paradigma ao usar máquinas e ferramentas flexíveis para a geração de dentes de engrenagens. O QUE É O INVOMILLING®? InvoMilling® é um método patenteado para usinagem de engrenagens externas e estrias com fresas standard para diversos perfis. A solução inclui ferramentas, software e treinamento. Pode ser usado em máquinas multitarefas ou centros de usinagem com cinco-eixos para produzir muitos perfis diferentes de engrenagens com o mesmo conjunto de ferramentas. O resultado é mais flexibilidade para lotes pequenos e médios e tempos de entrega menores. Com o software patenteado InvoMilling uma mesma fresa pode ser utilizada para diferentes perfis de engrenagens. A capacidade de alterar o programa CNC, em vez de mudar as ferramentas, significa que peças completas podem ser usinadas em um único set-up, em máquinas multitarefas ou em centros de usinagem com cinco-eixos. COMO FUNCIONA? O InvoMilling® explora a força cinética da máquina-ferramenta para produção eficiente e flexível de engrenagens de alta qualidade e estrias com qualidade 6 ou superior (de acordo com a norma DIN 3962). Após inserir os dados de engrenagem

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O software InvoMilling® da Sandvik Coromant oferece ainda mais possibilidades para produzir engrenagens em centros de usinagem universais de cinco-eixos.


Foto: Aalen University

SOLUÇÕES DE USINAGEM

necessários, o software CAD/CAM intuitivo define as estratégias de usinagem ideais e gera um programa CNC que permite a produção de diferentes perfis de engrenagens usando apenas poucas ferramentas de precisão standard. O software também oferece excelentes gráficos e recursos para criar e simular percursos de fresamento. Assim como as opções disponíveis para engrenagens espinha de peixe, helicoidal dupla (com e sem intervalos) e engrenagens cônicas retas desde o final de 2017, a nova função que também está disponível na última versão do software é a correção de flanco. O software aplica o alívio na cabeça do dente e o coroamento tanto na direção do flanco quanto do perfil, além de corrigir o ângulo de hélice e de pressão. Várias melhorias também foram feitas nas ferramentas. Por exemplo, ferramentas adaptadas foram introduzidas na

Tillmann Körner Professor Doutor da Aalen University

biblioteca de ferramentas. Vale conferir a entrevista realizada pela Sandvik Coromant na Suécia com o pro-

nentes de reposição, em que os clientes

fessor Tillmann Körner, da Aalen Universi-

esperam cada vez mais engrenagens es-

ty, sobre as atuais tendências na área de

peciais, sob medida e em prazos de entre-

fresamento de engrenagens.

ga mais curtos. Essa demanda reflete no processo de fabricação de engrenagens

Professor Körner, quais as mudanças que

que será cada vez mais diferenciado em

podemos observar no fresamento de en-

relação à duração do processo em si, à

grenagens?

geometria da engrenagem e aos parâme-

A fabricação de engrenagens precisa ser

tros usados. Mais notável de tudo, é que a

mais rápida e flexível. Isso é especialmen-

produção de engrenagens se tornará inde-

te importante no caso de peças únicas e

pendente das máquinas convencionais de

lotes pequenos para protótipos e compo-

corte de engrenagens.

O MUNDO DA USINAGEM

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SOLUÇÕES DE USINAGEM

O que isso significa para as ferramentas,

ao ofertar uma solução completa que vai

máquinas e métodos de produção que

desde a ferramenta até o próprio softwa-

estão sendo usados?

re específico para esse tipo de fabricação.

Um desacoplamento do processo de corte

Com soluções de software inovadoras e in-

de engrenagens na interface entre a má-

terfaces adequadas, os fabricantes de fer-

quina tradicional e a ferramenta tradicio-

ramentas garantem a viabilidade de um

nal de corte de engrenagens é essencial

processo de corte de engrenagens flexível

para uma fabricação de engrenagens mais

e eficiente. Além disso, a função de dimen-

rápida e flexível. Como resultado, as má-

sionamento de seu software permite que o

quinas-ferramentas que são independen-

cliente projete, defina e produza indepen-

tes em termos de cinemática, e podem

dentemente geometrias de engrenagens

produzir engrenagens usando apenas

individuais.

ferramentas standard independentes de módulos, são uma tendência. Além disso,

Qual é o significado de inovações como o

operações de usinagem de engrenagens

InvoMilling®?

desde a operação inicial até a rebarbação

O processo InvoMilling® é uma solução de

estão sendo cada vez mais combinadas

software intuitiva e fácil de usar, com fer-

em uma só máquina. Em suma, o futuro

ramentas correspondentes que marcam

pertence a fresadoras de cinco-eixos com

o início de uma mudança de paradigma.

ferramentas de corte standard precisas

Isto é precisamente o que a indústria exige:

e fáceis de usar e software 3D especial.

a produção rápida e de alta qualidade de

Essa combinação permite a produção de

engrenagens únicas, em verde ou endu-

engrenagens de forma rápida e de baixo

recidas, flexível e a um custo aceitável em

custo para peças únicas ou de pequenos

fresadoras standard de cinco-eixos.

lotes. O software controla o pré-desenvol-

A última versão do software Invo-

vimento e a subsequente implementação

Milling®, desenvolvida por estudantes de

da produção na máquina.

doutorado na Universidade de Ciências Aplicadas de Aalen, permite a usinagem de

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Qual é o papel dos fabricantes de novas

engrenagens retas e engrenagens cônicas.

ferramentas e soluções de software?

Como resultado, o software oferece ainda

A importância dos fabricantes de ferra-

mais opções para a fabricação de engre-

mentas para engrenagens em máquinas

nagens em máquinas cinco-eixos, impul-

cinco-eixos está aumentando, pois preen-

sionando ainda mais o desenvolvimento e

chem uma lacuna importante no mercado,

disseminação dessa tecnologia.

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O MUNDO DA USINAGEM

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PRODUTIVIDADE

PRODUTIVIDADE, O CORAÇÃO DA INDÚSTRIA A manufatura inteligente reduz drasticamente a arritmia dos processos de produção atuais, trazendo benefícios concretos para a rentabilidade e competitividade das empresas POR CHRISTIAN DIHLMANN

H

á muitos motivos para estarmos curiosos e tratarmos a Indústria 4.0 – I4.0 ou 4ª Revolução Industrial ou ainda Manufatura

Avançada com a atenção que o tema requer. Não obstante estar ele permeando toda a cadeia de geração de negócios, ainda pouco se discute fora dos ambientes fabris de grandes corporações e das instituições que se posicionam na vanguarda do ensino e da pesquisa. É importante destacar que, apesar de ser intitulada como tal, não se trata de uma revolução, mas sim da evolução dos processos, com a consequente aplicação de tecnologias e metodologias desenvolvidas ao longo das últimas três décadas. Também em função da abrangência conceitual, não é uma aplicação exclusiva da indústria, mas sim de todo o modelo econômico de negócio mundial, incorporando, além das operações fabris, as relações de comércio, serviços e agronegócio.

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PRODUTIVIDADE

Outro mito é o entendimento míope de

O modelo produtivo anterior à revolu-

que se trata de um sistema difícil de ope-

ção industrial do fim do século XVIII era

rar. O correto é classificá-lo com um siste-

baseado na produção artesanal, entre-

ma complexo, composto de muitas ativida-

tanto com baixa eficiência por tratar-se

des interconectadas, com grande volume

de operações manuais e dependentes do

de informações e dados e considerável

ser humano e seu “humor” momentâneo.

nível de trabalho para sua adoção. É um

Era praticamente impossível produzir dois

conjunto de tecnologias e metodologias

produtos iguais. A partir da adoção da

entrelaçadas que, por sua característica

produção mecanizada atingiu-se a matu-

intrínseca, requer uma grande capacidade

ridade desejada para a época, viabilizan-

simultânea de processamento, só alcança-

do produções em massa de produtos com

da nos últimos anos com a evolução expo-

melhor qualidade e a baixo custo. Avança-

nencial dos computadores.

-se mais dois séculos e a individualidade

O MUNDO DA USINAGEM

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PRODUTIVIDADE

do consumidor requer produtos persona-

para garantir que a 4ª Revolução Industrial

lizados, com qualidade e a preços justos.

voltada à fabricação proporcione o máximo

Nesse período a tecnologia e os meios de

de benefícios positivos para a sociedade.

produção desenvolveram-se de maneira

Elas são baseadas nos princípios de: me-

tão robusta e forte que passaram a validar

lhorar a qualificação do operador, ao invés

o novo modelo comportamental humano.

de substituí-lo; investir na capacidade de

Agora sim, com viabilidade produtiva e

pensar e criar e na aprendizagem continu-

mercado demandante, o céu é o limite. O

ada; difundir tecnologias ao longo de áreas

consultor Paulo Roberto dos Santos defi-

geográficas e incluir as Pequenas e Micro

ne, em palavras sábias, essa nova “onda”,

Empresas - PME; proteger as organizações

mencionando: “o que basicamente norteia

e a sociedade através da segurança ciber-

a Indústria 4.0 é que o consumidor passa a

nética; colaborar em plataformas abertas

influenciar a cadeia produtiva” [1].

para a 4ª Revolução Industrial e manipular

A abordagem sobre a participação do

dados com cuidado e enfrentar o desafio

Brasil nesse modelo é pertinente, consi-

da mudança climática utilizando tecnolo-

derando que o País atravessa um período

gias da 4ª Revolução Industrial. A responsa-

relativamente longo de economia desace-

bilidade por estas ações deve ser tanto do

lerada, ocasionando a redução na lucrativi-

setor público como do privado [2].

dade das empresas e, por consequência, o

O mesmo Fórum relaciona as megaten-

corte nas contas de investimento de ativos.

dências das tecnologias-chave que deter-

Especificamente na indústria, a renovação

minam o impacto no âmbito da produção

do parque fabril tem atingido os menores níveis da história. Isso torna a produção menos eficiente e a perda de competitividade é imediata. Ou seja, a hora de “mexer” não pode mais ser postergada.

CONECTIVIDADE Cria conexões entre nós de redes discretas, aumentando a visibilidade

ENTENDER PARA APLICAR O Fórum Econômico Mundial (World Eco-

nomic Forum) resolveu fazer uma chamada em prol de uma ação para acabar com a estagnação da produtividade que o mundo está vivenciando e enfrentar os desafios

INTELIGÊNCIA Automatiza o reconhecimento do evento e o tratamento para a tomada de decisão

AUTOMAÇÃO FLEXÍVEL Incorpora mecanismos responsivos, automação e movimentos remotos

mais importantes – tais como a mudança climática, escassez de recursos e uma força de trabalho envelhecida. Sugere seis ações

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Megatendências das tecnologias-chave para transformação da produção [2]


PRODUTIVIDADE

inteligente, definindo o modelo como a in-

dos meios de manufatura para geração de

tegração entre a inteligência, a automação

dados ricos e confiáveis o suficiente para

flexível e a conectividade.

dominar o conhecimento sobre a empresa e permitir que as decisões futuras sejam

DIGITALIZAÇÃO COMO SOLUÇÃO

procedidas de forma inteligente. Um dos

É preciso desmistificar o entendimento so-

grandes gargalos é a compilação e trata-

bre a I4.0. Não necessariamente há investi-

mento de toda a massa de dados adquiri-

mentos de grande monta nas fases iniciais.

da combinada com o conhecimento sobre

Ao contrário, as primeiras etapas precisam

clientes, fornecedores e entidades envolvi-

ser mais teóricas. É necessário desenvolver

das na geração de valor do produto ou ser-

e adotar um Plano Diretor para Digitaliza-

viço oferecido. A limitação das competên-

ção – PDD da empresa.

cias e habilidades dos grupos de trabalho

A I4.0 é composta de alguns conceitos como interoperabilidade, virtualização,

será um dos principais obstáculos a ser superados na evolução da análise de dados.

descentralização, informações em tempo real, computação em nuvem e modulariza-

DESAFIOS À FRENTE

ção. O nível de imersão na indústria 4.0 de-

A partir de um cenário pouco promissor

pende do tipo de indústria e do tamanho

vivenciado nos últimos anos registrou-se

da mesma, mas pode ir de mera automa-

um grande acúmulo de prejuízos no âm-

tização de processos até a transformação

bito da indústria nacional, repercutindo

total em uma fábrica inteligente.

diretamente no preço dos produtos para

Entretanto, a definição de digitalização

o consumidor e implicando dorsalmente

precisa ser entendida em todo seu contex-

no baixo nível de investimentos com con-

to para evitar a mera interpretação de que

sequente redução de competitividade. Em

se trata de cadastrar os produtos em um

período de incerteza, a naturalidade apon-

sistema informatizado. Ela é apenas uma

ta para retenção dos ativos financeiros em

pequena parte do universo da Indústria

detrimento dos ativos produtivos. Forma-

4.0, e comporta a digitalização dos pro-

-se assim um represamento na evolução

dutos, dos processos e dos equipamen-

da produtividade.

tos. Após o estudo e planejamento com o

O desenvolvimento da Indústria 4.0 no

PDD, é o passo seguinte para estruturar

País traduz-se em uma alternativa impor-

uma empresa a galgar esse novo patamar

tante para contribuir com a solução desse

tecnológico e é imprescindível para que as

problema. Alguns grandes desafios que

análises de dados sejam precisas e apon-

se mostram à frente, em diversas verten-

tem o rumo certo dos investimentos.

tes, tanto no setor público quanto privado,

Essa fase compreende a sensorização

passam por:

O MUNDO DA USINAGEM

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PRODUTIVIDADE

- Âmbito do País: estabelecimento de

e sindicatos unidos formando a cultura

uma política industrial de Estado voltada

inovadora; escolas privadas com novas

ao fomento da renovação, evolução e ino-

metodologias de ensino e universidades

vação do parque fabril brasileiro; adoção

corporativas; canalização de recursos fi-

de posturas de fomento para a utilização

nanceiros para o aprendizado e adoção da

das ferramentas, tanto no serviço público

nova tecnologia de forma rápida e consoli-

quanto nas operações ativadoras da eco-

dada; gestores precisam propor planos que

nomia do País; simplificação do modelo

instiguem mudanças em ambientes con-

tributário; redução na carga tributária e efi-

trolados com o intuito de alavancar novas

cácia no sistema de cobrança de impostos,

formas de gerar valor para a companhia.

viável com as ferramentas computacionais,

- Âmbito do desenvolvimento pessoal:

permitindo uma melhor distribuição de

adoção de comportamento humilde para

impostos e evitando a sonegação; investi-

reconhecimento de f raquezas; intensifi-

mento maciço em educação e capacitação

cação do aprendizado e aprofundamento

profissional, tanto técnica quanto gerencial

do conhecimento; mindset diferenciado e

(empreendedorismo) com modelos forma-

aberto a novas tecnologias e modelos de

tivos mais eficientes; realização de estudos

trabalho; autoevolução da carreira profis-

comparativos da evolução da Indústria 4.0

sional e geração de valor à profissão; en-

de outros países relativamente ao Brasil;

tendimento do profissional 4.0 sobre onde

política para adoção escalonada em Micro

deve se encaixar nesse novo mercado e

Empreendedor Individual - MEI, Pequena e

onde buscar conhecimentos válidos para

Micro Empresa - PME, empresa de médio e

a área de atuação.

grande porte; implantação de infraestrutura digital de alta performance no País.

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OPORTUNIDADES EMERGENTES

- Âmbito empresarial: conscientização

De outro lado, superados os desafios, as

dos empresários para o completo enten-

possibilidades de geração de negócios são

dimento da lógica de operação e para a

ampliadas vertiginosamente, em função de

preparação do ambiente com vistas à im-

diversos fatores: novos modelos de negó-

plantação de ferramentas integradoras;

cios; melhor eficiência e eficácia dos siste-

autodiagnóstico para mapeamento do

mas operativos; maior inserção de valor nos

estágio atual da empresa frente a todas

produtos fabricados; serviços com maior

as “revoluções” – algumas empresas ain-

rapidez e assertividade; elevada qualidade

da não atingiram a Indústria 3.0; parcerias

e precisão nas entregas prometidas; desen-

internacionais com investimento em pes-

volvimento de profissões com maior ampli-

quisa; coragem de empreender e inovar;

tude de conhecimento; atendimento perso-

envolvimento de associações empresariais

nalizado do desejo de consumo; menores

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PRODUTIVIDADE

custos de performance dos equipamentos

desviar-se dele. Todos estamos (ou estare-

com consequente redução de manutenção;

mos) inseridos nele e dele seremos parte.

espaço para as startups; dentre outros.

Ou acatamos a situação ou vamos ser engolidos pela concorrência, que certamente

NÃO PARE DE PENSAR

não ficará estagnada e estará à frente.

Com um pouco de criatividade e emba-

Acredito nessa proposta e estou cer-

samento tecnológico, pode-se começar

to de que contribuirá com o aumento da

a pensar já na futura Indústria 5.0 e, qui-

eficiência, competitividade e lucrativida-

çá, na Indústria 6.0. Arrisco sugerir que a

de das empresas, perpetuando-as em um

I5.0 será baseada nas microfábricas, que

mercado cada vez mais disputado.

me atrevo a intitular de home-factory , a regressão da indústria gigante para a

REFERÊNCIAS

produção caseira. O orgulho de ter uma

[1] Santos, P. R. dos; Ações empresariais

empresa com milhares de profissionais

na implementação da Avicultura 4.0. 35ª

será substituído pela esperteza de fabricar

edição da Conferência FACTA WPSA Brasil

produtos personalizados com baixo custo

2018. Campinas, SP. Maio/2018.

e dentro do seu próprio quarto. Ah, e a I6.0? Novamente não vejo como

[2] Leurent, H.; Boer, Enno de; Fourth In-

uma revolução, mas como evolução de tudo

dustrial Revolution: Beacons of Technology

que vem sendo desenvolvido gradualmente

and Innovation in Manufacturing. Fórum

ao longo de décadas. O comando por ondas

Econômico Mundial. Davos, Suíça. 22 a 25/

cerebrais já tem algumas aplicações espe-

janeiro/2019.

abrangência será tão grande que diversos equipamentos, máquinas e sistemas serão controlados diretamente por métodos sensoriais. Quase um “produzir o pensamento”. Por conta da facilidade de observar e

Foto: Acervo pessoal

cíficas e, em futuro não muito distante, sua

controlar equipamentos através de dispositivos móveis, o chavão hoje é “a indústria na palma da mão” – the industry in the

palm of your hand. Em futuro não muito distante, penso que o mote será “produção sem toque” – touchless production. Por f im, importante é entender que esse ciclo é real e está posto. Não há como

Christian Dihlmann Presidente da ABINFER

O MUNDO DA USINAGEM

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ENTREVISTA

UM NOVO CAPÍTULO DE HISTÓRIA NO BRASIL Após mais de cinco décadas no bairro de Santo Amaro, na capital paulista, a Sandvik Coromant inicia um novo ciclo em Jundiaí, no interior do Estado de São Paulo, onde dará ênfase ainda maior aos treinamentos e à disseminação do conhecimento na área POR DENISE MARSON

U

ma testemunha da industrialização do Estado de São Paulo e, por que não dizer, de todo o Brasil. Assim pode ser defi-

nido o prédio localizado no bairro de Santo Amaro, Zona Sul da Capital paulista, em que a Sandvik Coromant passou 54 anos de sua história. Ciente de toda essa bagagem, a equipe de funcionários e colaboradores partiu para a construção de mais um novo capítulo, agora em nova cidade: Jundiaí, no interior do Estado de São Paulo. “É um misto de sentimentos. Foi muito difícil do ponto de vista emocional, pois Santo Amaro acompanhou a história do Brasil. Mas chegamos em uma hora muito motivadora”, resume

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Foto: Renato Pizzutto

ENTREVISTA

Claudio Camacho, vice-presidente de vendas da Sandvik Coromant América do Sul e Central

Claudio Camacho, vice-presidente de ven-

Center. Isso significa que as instalações es-

das da Sandvik Coromant América do Sul

tão nos mesmos moldes das demais, prin-

e Central.

cipalmente em layout e em termos tecno-

A subsidiária brasileira – que iniciou o

lógicos. Além disso, trata-se de uma forma

processo de transição ainda em 2018 e pas-

de prestigiar o País e sinalizar a importância

sou a atender formalmente no novo ende-

deste mercado.

reço no início deste ano – alcançou um novo

Tendo acompanhado aproximadamen-

status frente às demais sedes ao redor do

te quatro décadas da história da empresa

mundo: ela agora integra um seleto grupo

no Brasil, Camacho não esconde o entu-

de sedes que possui um Sandvik Coromant

siasmo com as novidades que estão por vir.

O MUNDO DA USINAGEM

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ENTREVISTA

Especialmente as que estão ligadas aos

Na verdade, nós estávamos em Santo

treinamentos e à capacitação das empre-

Amaro há 54 anos. A sede foi adaptada,

sas para a Indústria 4.0, por meio das má-

ampliada, com objetivo de alocar a fábrica

quinas, equipamentos e software que es-

que tínhamos ali. Com o passar do tempo,

tarão disponíveis tanto para cursos quanto

isso foi se modificando e o prédio acabou

para os tryouts de seus clientes.

ficando muito grande para nós. Além dis-

Requisitos de saúde, segurança e meio

so, passamos a necessitar desta mudança

ambiente foram atendidos, além da ade-

para acompanhar o movimento dos clien-

quação à padronização de layout adotada

tes que saíram da Capital rumo ao Interior.

nas demais sedes que possuem centers.

Isso nos daria um melhor acesso a eles. O

Para a conclusão do processo de certifica-

bairro de Santo Amaro se tornou uma área

ção, a nova sede também passou por uma

difícil, devido a todas as restrições que a

rigorosa auditoria.

cidade de São Paulo tem. A cidade de Jundiaí propicia fácil acesso tanto para os que

Além das questões logísticas, uma vez

estão no Interior quanto para os que ainda

que o centro de distribuição do Grupo

estão na Capital.

Sandvik também está na região, o que mais motivou a transferência da unidade

A escolha do Brasil para ser um dos mer-

brasileira para a cidade de Jundiaí?

cados agraciados com o novo Centro posiciona o País de que maneira em relação ao mundo?

A COROMANT MOSTROU QUE O BRASIL É UM PAÍS IMPORTANTE NO GRUPO. FOMOS PRIVILEGIADOS E ESTAMOS MUITOS FELIZES. É UM RECONHECIMENTO AO NOSSO TRABALHO

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Nós tínhamos um centro de produtividade em Santo Amaro. Mas quando esta decisão (de capacitar a subsidiária nacional) foi tomada globalmente, foi preciso alterar o formato. Esse tipo de Centro está presente em um número reduzido de países e todos precisam ser padronizados: suas características físicas e estruturais seguem

guidelines globais. Qualquer Coromant Center no mundo todo tem as mesmas características. Com isso, a Coromant mostrou que o Brasil é um país importante no


ENTREVISTA

grupo. Fomos privilegiados e estamos muitos felizes. É um reconhecimento ao nosso trabalho. Como líderes no mercado, temos uma imagem extremamente forte em termos de treinamento, assistência técnica e serviços. Considerando o número de pessoas que já treinamos no Brasil, dificilmente iremos encontrar algum profissional que não tenha passado por algum curso conosco.

CONSIDERANDO O NÚMERO DE PESSOAS QUE JÁ TREINAMOS NO BRASIL, DIFICILMENTE IREMOS ENCONTRAR ALGUM PROFISSIONAL QUE NÃO TENHA PASSADO POR ALGUM CURSO CONOSCO

Além da mudança física, a Sandvik Coromant no Brasil passa a exercer um novo papel junto à América Latina?

Será possível introduzir em nossos treina-

Nosso papel não mudou. A grande diferen-

mentos o conceito de Indústria 4.0 graças

ça é que vamos oferecer uma quantidade

a esse aumento de capacidade. Nossos

maior de treinamentos e eles serão mais

cursos serão para, em média, 30 a 40 pes-

específicos. Também acreditamos que a

soas e nossos auditórios têm capacidade

qualidade deles será superior ao que já ofe-

para até cem pessoas.

recíamos. Além disso, com os novos recursos, seremos capazes de fazer treinamento

Quais os principais requisitos para se ob-

daqui do Brasil para outros países.

ter a certif icação de Center? O que foi preciso fazer?

Falando especificamente do Sandvik Co-

Para que nós sejamos certificados, preci-

romant Center, o que ele abrange?

samos estar de acordo com a legislação

As novas instalações estão oferecendo

vigente no País com relação à saúde, se-

recursos muito maiores. A parte de trei-

gurança e meio ambiente. Além disso, nós

namento tem pelo menos o dobro do ta-

precisamos ter os mesmos recursos físicos e

manho do que tínhamos em Santo Amaro.

tecnológicos que os demais Centers: áudio,

Nós temos máquinas e equipamentos no-

vídeo, identidade visual, estrutura, mobili-

vos, que vão nos ajudar a fazer treinamen-

ário. Também compartilhamos do mesmo

tos mais atualizados e atingir um novo pa-

know-how, máquinas e recursos. Antes da

tamar de tecnologia.

inauguração, passamos por uma auditoria.

O MUNDO DA USINAGEM

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21


ENTREVISTA

NOSSAS MÁQUINAS ESTARÃO INTERLIGADAS A UM SISTEMA DE TRANSMISSÃO DE DADOS ENTRE ELAS, ROBÔS, EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO, PROCESSOS, PROGRAMAÇÃO, TUDO ISSO COM O INTUITO DE SIMULAR O AMBIENTE DE UMA INDÚSTRIA 4.0

torneamento multitarefas, um centro de usinagem horizontal, um centro de usinagem vertical e um torno CNC. Essa estrutura de máquinas será usada para treinamento? Há possibilidade de os clientes realizarem tryouts? Além de estarem disponíveis para treinamento do nosso próprio pessoal, nossos clientes poderão contar com uma oferta maior de máquinas em nossas instalações para que possam simular a usinagem de suas peças. Isso é importante quando eles não podem parar suas produções para fazer testes.

22

|

O Center conta com uma estrutura com-

Quando a transferência para a nova estru-

posta por máquinas integradas em um

tura foi finalizada? Quanto tempo durou o

conceito de Indústria 4.0. Você poderia

processo de transição?

dar mais detalhes sobre os tipos e mode-

O processo de mudança vem sendo discu-

los disponíveis?

tido por algum tempo, desde 2015. Entre a

Nossas máquinas estarão interligadas a

decisão e a inauguração, estamos falando

um sistema de transmissão de dados en-

de um período entre nove e dez meses. Em

tre elas, robôs, equipamentos de medição,

oito meses, já estávamos trabalhando aqui.

processos, programação, tudo isso com o

Foi tudo conduzido com bastante cuidado,

intuito de simular o ambiente de uma In-

após muitos estudos e análises. A partir do

dústria 4.0. Por meio desta simulação e

momento em que decidimos, houve um

da administração das informações prove-

trabalho de muita motivação. É um am-

nientes desses novos equipamentos, será

biente muito saudável, que transpira tec-

possível que o gestor tome as melhores

nologia. E temos absoluta certeza de que

decisões baseadas em dados. Entre ou-

iremos transmitir esse sentimento aos nos-

tros equipamentos, teremos um centro de

sos clientes quando vierem nos visitar.

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O MUNDO DA USINAGEM

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NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA

O DESAFIO DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL Vivemos a quarta revolução industrial e, além de adotar novas tecnologias, as empresas precisam passar por uma profunda mudança cultural POR RENATO CRUZ

L

eva algum tempo entre o surgimento de uma tecnologia e a descoberta do melhor uso que podemos fazer dela. Um caso

curioso é o da comida enlatada, citado no livro A evolução das coi-

sas úteis, de Henri Petroski. As latas para conservar e transportar alimentos foram uma solução criada em 1810 por Peter Durand, um comerciante de Londres. Ele aperfeiçoou uma técnica do francês Nicolas Appert, que usava garrafas. Ao contrário dos recipientes de vidro, as latas de ferro poderiam ser transportadas sem risco de quebrar por soldados ou pela Marinha Real Britânica.

24

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NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA

Com o surgimento dos enlatados, a in-

latas. Antes disso, as pessoas usavam fa-

venção do abridor de latas parece óbvia,

cas, martelos, baionetas e até tiros para

pelo menos para nós, que vivemos hoje.

abrir os enlatados.

Mas não foi isso o que aconteceu. Passa-

Esse é só um exemplo de como levamos

ram-se mais de 50 anos até que o abridor

algum tempo para descobrirmos a melhor

fosse inventado. Na década de 1850, o fer-

forma de usar uma tecnologia. Vivemos

ro foi trocado pelo aço como matéria-pri-

atualmente a quarta revolução industrial,

ma, o que reduziu o peso e trouxe mais

em que as empresas se tornam mais inteli-

flexibilidade aos enlatados. E somente em

gentes, com tecnologias como internet das

1858 o norte-americano Ezra Warner re-

coisas, computação em nuvem, big data,

gistrou a patente do primeiro abridor de

manufatura aditiva e aprendizado de má-

O MUNDO DA USINAGEM

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25


NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA

quina sendo integradas à automação que

ta no título porque uma de suas fontes de

caracterizou a revolução anterior.

inspiração foi o Sistema Toyota de Produção,

Nesse cenário, o grande desafio é a mu-

idealizado pela empresa japonesa em me-

dança cultural. Não adianta adotar novas

ados do século passado para aumentar a

ferramentas, integrar tecnologia da infor-

produtividade e a eficiência de suas fábricas.

mação e tecnologia operacional, sem mo-

No setor de software, foram criadas no

dificar a forma como as pessoas trabalham.

começo deste milênio metodologias ágeis

Em primeiro lugar, o cenário atual exige

para reduzir o tempo de desenvolvimento

equipes cada vez mais heterogêneas, tanto

e tornar o produto mais próximos das re-

em sua formação quanto em suas vivên-

ais necessidades dos usuários, com ciclos

cias pessoais.

menores de programação. Apesar de os

O cientista de dados, que antes ficava

métodos não serem os mesmos da Toyo-

próximo das equipes de negócios, começa

ta, a mentalidade é bem próxima. Com o

a ser requisitado na produção. Com a inter-

tempo, essas metodologias passaram a

net das coisas, as máquinas passam a gerar

ser aplicadas nas mais diversas áreas das

um volume crescente de informações, que

empresas. A transformação digital depen-

precisam ser analisadas em tempo real. O

de da agilidade de toda a operação, o que,

sistema de gestão gera dados que alimen-

de certa forma, é uma retomada e uma

tam a fábrica e vice-versa. As equipes de TI

ampliação das ideias desenvolvidas pela

e de operações trabalham lado a lado.

Toyota no século passado.

Outro conceito que ganha importância em todos os setores da empresa é a diver-

COMO ESTAMOS

sidade, seja de gênero, raça, orientação

A indústria brasileira ainda tem um grande

sexual ou formação educacional. Equipes

caminho a percorrer para a sua transforma-

homogêneas tendem a cometer sempre os

ção digital. Em paralelo com a questão cul-

mesmos erros e, se quiserem ser realmen-

tural, as empresas brasileiras ainda enfren-

te inovadoras, as empresas precisam estar

tam obstáculos na adoção da tecnologia.

abertas a cometer erros novos.

Segundo o Projeto Indústria 2027, somente 1,6% das companhias nacionais

26

|

DE VOLTA AO CHÃO DE FÁBRICA

adota atualmente tecnologias digitais

Um livro referência entre empreendedores

avançadas. Em dez anos, esse percentu-

é A startup enxuta, escrito por Eric Ries. O

al deve subir para 21,8%. Apenas 15,1% das

autor descreve um método de análise con-

companhias ouvidas têm projetos em exe-

tínua do mercado para apoiar o desenvolvi-

cução para incorporar tecnologias digitais

mento de produtos. Ele usa a palavra enxu-

de última geração. A maioria delas (45,6%)

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NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA

realiza estudos iniciais ou tem planos apro-

tes e capacidade de subsidiar gestores com

vados sem execução, enquanto 39,4% não

informações para tomada de decisão.

têm nenhuma ação prevista nessa área. A pesquisa considerou os seguintes estágios tecnológicos digitais:

O estudo mostrou que 77,8% estão nos estágios 1 e 2. Em dez anos, no entanto, a maioria deve passar para 3 e 4. A pesquisa

1. Produção rígida, com uso pontual de tecnologias da informação e comunicação (TIC) e automação rígida e isolada;

ouviu 759 médias e grandes empresas entre junho e novembro deste ano. O Projeto Indústria 2027 é uma iniciati-

2. Automação flexível ou semiflexível,

va da Confederação Nacional da Indústria

com uso de TICs sem integração ou inte-

(CNI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), em

gração apenas parcial entre áreas da em-

parceria com as universidades Federal do

presa;

Rio de Janeiro (UFRJ) e Estadual de Cam-

3. Uso de TICs integradas e conectadas em todas atividades e áreas da empresa.

pinas (Unicamp). Outro estudo, feito pela Dell em parce-

4. Produção conectada e inteligente,

ria com a Intel, mostrou um quadro seme-

com tecnologias da informação integradas,

lhante, em que somente 6% das empresas

fábricas conectadas e processos inteligen-

brasileiras de médio e grande porte podem ser consideradas líderes digitais. Apesar de poucas estarem prontas, 37% contam com um plano digital maduro e fazem investi-

Indústria Geral

mentos em inovação e 33% investem de forma gradual e com maior cautela.

100%

1,6%

90%

21,8%

20,5%

80%

As empresas brasileiras que se movem muito lentamente são 22% e 2% não contam sequer com um plano digital. Condu-

70% 60%

36,9%

39,1%

zida pela Vanson Bourne, a pesquisa ouviu

50%

4,6 mil grandes e médias empresas em 42

40%

países, incluindo o Brasil.

30%

26,6%

20%

38,7%

10%

14,6%

0% HOJE

EDUCAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO O Brasil fechou 2018 com 12,2 milhões de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geograf ia e Estatística (IBGE).

FUTURO

Mesmo assim, existem 250 mil vagas para Estágio 1

Estágio 2

Estágio 3

Estágio 4

profissionais de tecnologia no País, com di-

O MUNDO DA USINAGEM

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27


NEGÓCIOS DA INDÚSTRIA

ficuldade de serem preenchidas. Se nada

REFERÊNCIAS

for feito, o problema tende a se aprofundar,

•  Cruz, Renato. “Ainda falta muito para a

com trabalhadores no mercado que não

transformação digital”. Inova.jor, São Paulo,

estão preparados para ocupar as posições

18 jan. 2019.

disponíveis nas empresas.

•  Instituto Euvaldo Lodi. Indústria 2027

A transformação digital exige prof is-

– Volume 1 – Disruptive technologies and

sionais bem preparados para trabalhar

industry: current situation and prospective

com ferramentas tecnológicas sofistica-

evaluation. Brasília: IEL, 2018.

das. Mesmo o mais avançado sistema de

•  McKinsey Global Institute. A future that

inteligência artificial não consegue fazer

works: automation, employment, and pro-

tudo sozinho. Não conseguiremos resolver

ductity. McKinsey: San Francisco, 2017.

a questão da produtividade da economia

•  Petroski, Henri. The evolution of useful

brasileira sem educação e treinamento. Um estudo recente da consultoria McKinsey mostrou que a possibilidade de

things. New York: A. Knopf, 1992. •  Ries, Eric. A startup enxuta. São Paulo: Leya, 2002.

trabalhadores humanos serem totalmente substituídos por robôs afeta menos de 5% das profissões. Mas, se analisarmos as atividades desempenhadas por um profissional em seu dia a dia, esse percentual alcança Ou seja, a tendência é que as pessoas cada vez mais tenham de trabalhar ao lado de robôs, que podem existir fisicamente ou ser um sistema de software. O relatório da McKinsey aponta que essas atividades que

Foto: Acervo pessoal

50%, com as tecnologias que existem hoje.

podem ser exercidas hoje por máquinas equivalem a quase US$ 16 trilhões em salários em todo o mundo. Diante desse cenário, é urgente que as empresas mudem a forma como trabalham, e que haja um esforço que envolva iniciativa privada, governo e academia para prepararmos pessoas suf icientes para a transformação digital.

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Renato Cruz Editor do inova.jor e professor do Centro Universitário Senac


O MUNDO DA USINAGEM

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TECNOLOGIA

FORÇA IDEAL PARA GARANTIR A PRECISÃO Fundamental para a fixação automática de ferramentas em máquinas CNC, o drawbar deve passar por periódicas inspeções com o intuito de evitar problemas na operação de usinagem POR DENISE MARSON FOTO E ILUSTRAÇÃO SANDVIK COROMANT (SUÉCIA)

Q

uem trabalha no chão de fábrica certamente já viveu ou ouviu alguma história semelhante: uma determinada máquina

começa a apresentar vibrações durante a usinagem e, por conta disso, a produtividade das ferramentas e o acabamento das peças começam a ser afetados. Diante disso, o ajuste dos parâmetros de corte costuma ser a primeira providência a ser tomada. E quando, mesmo assim, o problema não é solucionado? Especialista em fixação, Sérgio Coca sugere que, muito provavelmente, o problema esteja no conjunto fixador de ferramentas.

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Foto: Divulgação

TECNOLOGIA

Em seus mais de 30 anos de experiên-

até conservador”, destaca, ao lembrar que

cia, acumulando passagens por empresas

o parque de máquinas brasileiro tem exem-

como Sanches Blanes, Deckel e Schunk,

plares com, em média, 17 anos.

Coca observou que, após três a cinco anos

Segundo Coca, esta perda gradual da

de trabalho, este componente (chamado

força de retenção ocorre pela fadiga das

drawbar) pode apresentar uma redução

molas-prato responsáveis pela fixação do

gradual na força de retenção, o que leva

porta-ferramentas dentro do cone do eixo-

80% das máquinas a operarem com me-

-árvore (spindle). “Trata-se de um conjunto

nos de 50% do valor especificado pelo fa-

de mais de cem molas-prato, que, devido

bricante. “Na verdade, este número (80%) é

à deformação, são responsáveis pela fixa-

O MUNDO DA USINAGEM

|

31


TECNOLOGIA

ção das ferramentas”, descreve. Além do

fixação da máquina. “Este tema não costu-

desgaste prematuro das arestas de corte

ma ser abordado em treinamentos e, mui-

das ferramentas de usinagem, este pro-

tas vezes, não aparece nem nos manuais

blema pode acarretar danos irreparáveis

das máquinas”, explica Coca. “Geralmente,

aos cones, caso ocorra o escape do porta-

cada fabricante especifica um valor, expres-

-ferramentas durante a usinagem, com a

so em kN ou psi, que deve ser suficiente

consequente quebra do pino de retenção

tanto para a usinagem de maior desempe-

(popularmente chamado de "chupeta"). No

nho quanto para a mais leve, mas poucos

caso de máquinas com comando numérico

conhecem.” Por esta razão, a grande maio-

computadorizado (CNC), com eixos-árvore

ria das empresas não está com suas ferra-

(spindles) operando a altíssimas velocida-

mentas de usinagem fixadas corretamente,

des, isso pode levar a custos muito eleva-

por simples desconhecimento.

dos, quando se faz necessária a substituição ou o reparo de seus rolamentos.

O desgaste nesse componente, de acordo com Coca, também é proporcional à

Esta questão torna-se muito delicada

quantidade de trocas de ferramentas feita

uma vez que, de acordo com Coca, pou-

diariamente e também à usinabilidade do

quíssimas empresas possuem spindles so-

material trabalhado, entre outros fatores.

bressalentes. Outra dificuldade, segundo

Por isso, há uma faixa entre três e cinco

ele, está no fato de que também há poucos

anos até que o componente possa ter seu

fabricantes ou importadores destes itens lo-

desempenho prejudicado.

calizados no Brasil. Com isso, essa condição

Ao se deparar com a falta de conhe-

pode levar à interrupção da produção por

cimento sobre esse tema, Coca decidiu

dias, semanas ou meses, até que a peça seja

oferecer um serviço de medição periódica

substituída. Infelizmente, a possibilidade de que isso ocorra pode aumentar, considerando-se a adoção cada vez maior de máquinas de usinagem a alta velocidade, com eixos-árvore que operam a rotações quase sempre superiores a 10.000 rpm. PREVENÇÃO É A SOLUÇÃO Apesar da gravidade das consequências, a maior parte das empresas não sabe da importância de um trabalho de prevenção, com inspeções periódicas no elemento de

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Pinça do drawbar atuando sobre o tirante de tração


Foto: Acervo Pessoal

TECNOLOGIA

conta própria – seja por ausência de uma equipe especializada ou por não possuírem recursos para investir em equipamentos de medição com esta finalidade. A primeira etapa a ser realizada é a medição. Para que ela seja feita, são necessários apenas de cinco a dez minutos de máquina parada. Caso seja identif icado que a força de retenção está abaixo do valor recomendável, será sugerido agendamento para o reparo do conjunto fixador. “A primeira tarefa que eu preciso fazer é passar a informação para a força de trabalho, pois as empresas têm que economizar ao máximo os seus recursos”, destaca Coca. A partir daí, o reparo ou o ajuste poderá ser feito na própria empresa, caso esta disponha de pessoal especializado – o que é

Sergio Coca Especialista em fixação

bastante incomum, nas palavras de Coca. Outra opção, caso o componente ainda esteja dentro do período de garantia estipulado pelo fabricante, seria submetê-lo à

da força de retenção do drawbar, como

assistência técnica.

forma de prevenção. Esta atividade é o

O diagnóstico final de Coca é o de que,

carro-chefe de sua nova empresa, a Wiser,

hoje em dia, as empresas estão trabalhan-

que também é responsável pela comercia-

do com uma produtividade muito baixa,

lização dos equipamentos de medição da

o que pode levar a gastos desnecessários

americana Clamprite.

com ferramentas, sem contar o desgaste

Além de promover este trabalho de

prematuro da máquina-ferramenta, que

conscientização nas empresas, ao levar in-

pode até perder seu eixo-árvore. “Estas

formações sobre a importância desse tipo

despesas podem ser evitadas com a pro-

de prevenção, o trabalho da Wiser é dire-

gramação de uma manutenção preventiva,

cionado principalmente àquelas que não

principalmente quando a força de retenção

têm condições de realizar este serviço por

já está abaixo de 20%”, recomenda.

O MUNDO DA USINAGEM

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33


EDUCAÇÃO

PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ROBÓTICA® – UM SONHO AGORA POSSÍVEL NO BRASIL O Instituto Avançado de Robótica (I.A.R.) lança seu inédito curso de pós-graduação em Engenharia Robótica® – mais uma alavanca para o País se alinhar às necessidades da Indústria 4.0 POR ROGÉRIO VITALLI E VERA NATALE

N

ão é mais novidade que a transformação digital e todo o seu aporte tecnológico como inteligência artificial, cloud compu-

ting, IoT, realidade aumentada, carros autônomos, digitalização de pagamentos com os bitcoins, tecnologia NFC (Near Field Commu-

nication) e QR codes, computação cognitiva, utilização de laser e drones para modelagem em 3D de qualquer tipo de obra, manufatura aditiva, robôs, entre outros, faz cada vez mais parte de nosso cotidiano, causa impacto na nossa maneira de pensar, agir e trabalhar e nos ajuda a sermos mais eficientes e ágeis, muitas vezes sem nos darmos conta. Todavia, discutir se os robôs vão ou não roubar os empregos no futuro tem sido recorrente em vários fóruns, grupos,

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O MUNDO DA USINAGEM

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35


EDUCAÇÃO

segmentos e sobretudo na mídia e ainda é

vênio de Cooperação Técnica e Científica,

preciso desmistificar essa questão.

contribuindo assim para o País se alinhar

Se por um lado não faltam especulações, também não faltam explicações cla-

ainda mais com as tendências globais de transformação digital.

ras e dados de que as máquinas programáveis e inteligentes serão cada vez mais

DESVENDANDO O MERCADO DA

usadas para substituir os humanos em ta-

ENGENHARIA ROBÓTICA®

refas insalubres, repetitivas, ou até mesmo

A indústria da manufatura foi a primeira a

nos surpreender fazendo tarefas manuais

investir pesadamente em robótica indus-

relativamente simples do cotidiano como

trial, e continua a ser o principal emprega-

cozinhar, por exemplo.

dor na área. A otimização do tempo de ciclo

Porém, segundo dados do I.F.R. (Inter-

de produção e a diminuição de desperdí-

national Federation of Robotics - Federação

cios, riscos e falhas no chão de fábrica já são

Internacional de Robótica), o País possui

realidade concreta em muitas montadoras,

aproximadamente 20 mil robôs instalados

em virtude da adoção de novas tecnologias,

e somente cerca de 200 peritos em robótica

principalmente de robôs que conseguem

e uma média de 10 robôs instalados para

reproduzir muitas tarefas insalubres e ma-

cada 10 mil empregados – número baixo

nuais realizadas antes pelo ser humano.

considerando a média mundial, que está em torno de 74 robôs e tende a aumentar.

|

dem-se detectar outros benefícios da en-

Considerando nosso contexto, com

genharia robótica® como maior segurança

muito espaço para se desenvolver nes-

e qualidade nos processos; maior possibi-

se campo, é que o Instituto Avançado de

lidade de customização de produtos com

Robótica (I.A.R.) desenvolveu o primeiro

o uso de robôs inteligentes; uniformização

curso de pós-graduação lato sensu (espe-

dos processos fabris; melhores condições

cialização) em Engenharia Robótica , já

de trabalho para os operadores; padroni-

patenteada pelo INPI e homologada pelo

zação dos procedimentos de manuten-

CREA, com o principal objetivo de qualifi-

ção; virtualização e comissionamento

car esses profissionais que serão cada vez

virtual das operações robóticas e conec-

mais necessários. O curso, inédito no País,

tividade com a fábrica e com ferramentas

complementa a grade de cursos de forma-

de produção.

®

36

Nessa indústria avançada, ainda po-

ção de peritos em robótica já oferecidos

Dessa forma, a robótica industrial e co-

pelo Instituto e também os da Faculdade

laborativa já pode ser considerada como

Impacta, com quem estabeleceu um con-

a melhor saída para proporcionar maior

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Foto: Divulgação

EDUCAÇÃO

eficiência operacional, aumento de produ-

PERFIL DO ENGENHEIRO ROBÓTICO

tividade, tornando o negócio mais compe-

Parece simples pensar que esse profissio-

titivo, rentável e sustentável no longo pra-

nal constrói robôs. Mas isso envolve exa-

zo. Porém, nos últimos anos houve rápida

tamente o quê? A explicação não é nada

expansão de pesquisa e engenharia em

complicada – os engenheiros de robótica

robôs para aplicações como agricultura,

projetam robôs, os mantêm, desenvolvem

mineração, manutenção de usinas nucle-

novas aplicações para eles e conduzem

ares e uma variedade de outros campos.

pesquisas para expandir o potencial da

É seguro apostar que, daqui a vinte

robótica. Um campo em rápido desen-

anos, os robôs serão empregados em uma

volvimento, com avanços na mecatrônica

ampla gama de novas atividades. Aqueles

abrindo constantemente novas possibili-

engenheiros que melhor puderem ante-

dades de aplicações robóticas em diversos

cipar as necessidades que serão preen-

segmentos e áreas.

chidas com êxito por robôs e que pude-

Um engenheiro de robótica é um tipo

rem trabalhar em equipes de engenharia

especializado de engenheiro. Ele é respon-

para desenvolvê-las, serão extremamente

sável pela criação de robôs e sistemas ro-

bem-sucedidos no campo e disputados no

bóticos capazes de executar tarefas que os

mercado de trabalho.

humanos não conseguem ou preferem não

Robô colaborativo e sensitivo LBR IIWA de alta tecnologia da KUKA Roboter

O MUNDO DA USINAGEM

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Foto: Divulgação

EDUCAÇÃO

Célio Antunes, presidente-fundador do Grupo Educacional Impacta Tecnologia, Rogério Vitalli, fundador do I.A.R., e Edouard Mekhalian, diretor da Kuka Roboter no Brasil

cumprir. Por exemplo, tarefas insalubres,

criar. Por essa razão, não é incomum que

perigosas e repetitivas como desarmamen-

um engenheiro de robótica trabalhe ape-

to de bombas e minas terrestres, reparos

nas em um único projeto ao longo de toda

em usinas nucleares, vigilância aérea de flo-

a sua carreira.

restas, inspeção de cabos submarinos, etc.

38

|

Os engenheiros de robótica devem as-

Por meio de suas criações, um enge-

sim ter a mesma atenção disciplinada aos

nheiro de robótica ajuda a tornar os traba-

detalhes, imprescindível a todos os enge-

lhos mais seguros, fáceis e eficientes, par-

nheiros de um modo geral, mas também

ticularmente na indústria da manufatura.

devem ser focados e pacientes. Nesse rol,

Antes de um robô ser construído, o enge-

ainda podemos acrescentar as chamadas

nheiro primeiro pesquisou e determinou

soft skills, em alta nesse novo cenário da

exatamente para que o robô será usado e

transformação digital, como capacidade

a maneira como ele atingirá seu objetivo

de ter empatia, de trabalhar em equipe, e

com o máximo de segurança.

solucionar problemas. A mais recente no-

Para esses profissionais, o processo de

vidade é a ênfase à criatividade como ha-

construção levará muito tempo. Os robôs

bilidade não menos importante para esse

são altamente técnicos e complexos de se

profissional da robótica.

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EDUCAÇÃO

ROBÓTICA X EMPREGOS

automação e funcionamento das novas

A profissão de Engenharia Robótica® ofere-

tecnologias e suas aplicações.

ce assim empregos para uma ampla gama

O que importa saber é que nesse cená-

de temperamentos. Desde engenheiros de

rio robótico da Indústria 4.0 será impres-

robótica visionários que podem trabalhar

cindível ter mão de obra qualificada para

projetando robôs móveis experimentais, com

cuidar do desenvolvimento, programação,

aplicações que vão desde usos médicos e mi-

comissionamento virtual e manutenção

litares até projetos destinados a criar veículos

desses diferentes tipos de robôs. Ou seja, o

capazes de pilotar em outros planetas, ou ro-

ser humano continuará a ser protagonista e

bôs que exercem função de guias turísticos.

terá mais chance para atuar em operações

E nesse amplo contexto é claro que

estratégicas, ou menos operacionais. Basta

muitas funções e postos de trabalho serão

focar e se planejar adequadamente para vi-

extintos gerando desempregos. Em con-

venciar as oportunidades que serão muitas

trapartida, a robótica criará outros novos

num futuro nem tão distante assim. Cursos,

empregos ao exigir profissionais com co-

incluindo de pós-graduação, já não faltam

nhecimento qualif icado e avançado em

mais aqui no Brasil!

O CURSO PÓSGRADUAÇÃO 4.0 EM ENGENHARIA ROBÓTICA®

novas propostas globais de ensino mul-

mestres e doutores com experiência no

tidisciplinar. Vale ressaltar que o curso

chão de fábrica.

será sempre acompanhado de muita

A proposta de monografia final de

experiência prática, cerca de 50% do

conclusão do curso (TCC) terá como pon-

tempo, na unidade móvel de alta tecno-

to de partida um problema real de inte-

logia do I.A.R.

gração de robôs e células robóticas na

Nesse curso, patente número 906638623,

Dentro da unidade móvel do I.A.R.,

indústria (plano de negócios). Ao final, o

será abordado com profundidade o

também patenteada pelo INPI, há ro-

curso irá conceder uma atribuição de en-

tema da robótica industrial, seguindo a

bôs ABB, KUKA e MOTOMAN, com

genheiro de robótica no CREA (Conselho

sua proposta de formar profissionais

softwares da SIEMENS PLM de última

Regional de Engenharia e Agronomia), o

cada vez mais gabaritados para atender

geração, além de outras tecnologias da

que tornará o profissional apto a assinar

às demandas da Indústria 4.0 e no esti-

Universal Robots, Festo do Brasil,

ART (Anotação de Responsabilidade

lo “mão na massa”. Ou seja, competên-

Pilz, Schunk, Staubli e Yaskawa. A

Técnica) de células robotizadas.

cia baseada em projeto e alicerçada em

metodologia original de ensino é toda

Para saber mais acesse e faça sua ins-

consultorias reais, característico de

orientada a projetos, com professores

crição https://iar.eng.br/pos-graduacao

O MUNDO DA USINAGEM

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39


CONHECENDO UM POUCO MAIS

HORA DE ACELERAR A Indústria 4.0 entrou no radar dos programas de aceleração de incubadoras de startups. Saiba quais são as principais demandas tecnológicas e o que é preciso para ter seu negócio selecionado POR FELIPE DATT

E

m anos recentes, o ecossistema brasileiro de startups ganhou um importante reforço: o surgimento de aceleradoras, progra-

mas de aceleração e centros de empreendedorismo tecnológico que dedicam esforços ao segmento industrial. Com diferenças pontuais, essas estruturas buscam potencializar startups focadas

na Indústria 4.0, especializadas no desenvolvimento de soluções para as fábricas baseadas em realidade virtual e aumentada, sensores inteligentes, Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), big

data, inteligência artificial, telemetria e algoritmos preditivos. A entrada nesses espaços é concorrida. É preciso, mais do que uma empresa formalizada e um plano de negócios, que a tecno-

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CONHECENDO UM POUCO MAIS

logia esteja minimamente validada e que

objetivo de fazer com que as startups pos-

a empresa já seja operacional, gerando

sam vir a ser as catalizadoras da inovação

receita e com no mínimo um cliente em

nas grandes indústrias. A proposta é sim-

carteira. Para quem ingressa, as vantagens

ples: as indústrias identificam um proble-

são inúmeras: ganho de escala, atração de

ma real em suas operações e as startups

investidores e a possibilidade de fazer ne-

indicam as soluções. “Via de regra, o que

gócios com grandes indústrias são as mais

as indústrias buscam é a maior eficiência

evidentes. Veja a seguir o que buscam os

produtiva, via aumento da produtividade

principais programas de aceleração e de

ou redução de custos”, diz o coordenador

empreendedorismo tecnológico do Brasil.

de Inovação da ABDI, Rodrigo Rodrigues.

O programa Startup Indústria 4.0, cria-

A primeira edição do programa, em

do em 2016 pela Agência Brasileira de

2017, teve a adesão de 10 grandes indús-

Desenvolvimento Industrial (ABDI), tem o

trias (a exemplo de 3M, Embraer e Embraco).

O MUNDO DA USINAGEM

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Foto: Divulgação

Foto: Celso Doni

CONHECENDO UM POUCO MAIS

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Rodrigo Rodrigues Coordenador de Inovação da ABDI

Renata Zanuto Head de Ecossistema do Cubo Itaú

A partir de demandas desses players, 27

tecnologia tenha escalabilidade, ou seja,

startups foram selecionadas para realizar

possa ser utilizada em diversos setores e

uma prova de conceito, em um trabalho de

por diversas indústrias. “Procuramos star-

co-desenvolvimento, seguida de um piloto

tups em fase acelerada de crescimento. O

para testar a solução na prática. “Procu-

programa é focado em ampliar o acesso a

ramos soluções que se conectem ao core

mercados para essas empresas”, diz.

business da indústria, à sua linha de produ-

Contar com uma equipe multidiscipli-

ção, de forma a deixar a empresa mais inte-

nar (considerando os sócios, desenvolvedo-

ligente”, diz. Isso se traduz em tecnologias

res, colaboradores) é outro fator relevante

de realidade virtual e realidade aumentada,

para o ingresso das startups em acelera-

sensores inteligentes e IoT.

doras ou centros de empreendedorismo e

A segunda edição selecionará 30 in-

tecnologia, a exemplo do Cubo Itaú, que

dústrias e 120 startups. Para ingressar no

funciona como uma espécie de hub (cen-

programa, é preciso que a startup esteja

tro) que conecta startups com grandes

constituída há no mínimo seis meses e que

empresas e investidores. “Damos muita

a solução tecnológica já tenha sido testa-

importância para o time. Uma boa equipe

da, seja em provas de conceito, protótipos

pode pivotar (mudar a direção) um modelo

ou um MVP (sigla em inglês para produto

de negócios, um produto ou serviço e fazer

mínimo viável). Outra demanda é que a

a startup ir para frente”, diz Renata Zanuto,

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CONHECENDO UM POUCO MAIS

head de Ecossistema do Cubo Itaú.

ao menos um cliente em carteira. “Avalia-

Com a mudança para a nova sede, em

mos principalmente se a startup tem um

agosto de 2018, e a ampliação do número

produto real para resolver um problema

de startups residentes (são mais de cem

real e com potencial de escala. A maioria

atualmente), o Cubo também colocou em

das startups chega por indicação de ou-

prática uma estratégia de divisão do espa-

tros empreendedores”, diz Renata. A dica

ço por “verticais”, ou áreas de atuação. A

é importante: a participação constante

Indústria 4.0 foi uma das áreas escolhidas,

em eventos do ecossistema (conferên-

atraindo negócios de base tecnológica fo-

cias, circuitos, hackathons etc.) fortalece o

cados em aumentar a eficiência e a produ-

networking com outros empreendedores e

tividade para as fábricas com a adoção de

deixa o negócio em evidência.

soluções como IoT, sensores inteligentes e inteligência artificial.

O grau de inovação tecnológica, os diferenciais competitivos da solução e a escalabilidade são alguns dos fatores mais relevantes para as startups que desejam cavar

um processo seletivo que ocorre durante

um espaço em programas de aceleração

o ano todo, sem peridiocidade definida.

ou em centros de empreendedorismo tec-

Via de regra, são selecionados negócios já

nológico. “Não aceleramos ideias, mas star-

operacionais, que gerem receita e tenham

tups que já tenham uma solução validada,

Foto: Divulgação

Para ingressar no centro tecnológico como residente, as startups passam por

Beny Fard Fundador da Spin

O MUNDO DA USINAGEM

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CONHECENDO UM POUCO MAIS

com ao menos um cliente e que estejam

Conforme Igor Nazareth, subsecretário

em busca de escala”, resume Benyamin

de Inovação do Ministério da Economia,

Fard, sócio-fundador da Spin, considerada

a duração do programa é de sete meses.

a primeira aceleradora de startups com

Para se candidatar, é necessário que o

foco em indústrias no Brasil.

negócio esteja em estágio de validação,

Com sede em Jaraguá do Sul (SC) e em

operação e tração. A receita bruta anual

operação desde 2017, a Spin oferece três ci-

precisa ser inferior a R$ 4,8 milhões. “Pro-

clos de aceleração anuais, com três meses

curamos startups que ainda estejam no

de duração cada, e conexão com 10 gran-

começo da operação, mas que já se forma-

des empresas com vistas a criar oportuni-

lizaram, possuem alguma venda, um track-

dades de negócios. “A indústria tem apetite

-record (histórico). A ideia é acelerá-las para

para inovar e a startup pode preencher a

que possam receber investimentos e fazer

lacuna da inovação aberta. É importante

negócios com grandes indústrias”, diz Na-

que a startup já esteja operacional para le-

zareth. Até o final de 2019 a meta é acelerar

varmos ao mercado uma possível solução

250 startups.

de prova de conceito ou protótipo”, diz. Atualmente, são 23 startups no portfólio da Spin. A meta para 2019, quando a aceleradora abrir uma unidade em São Paulo (SP), é chegar a 50 aceleradas. “Internet industrial das coisas, telemetria e algoritmos preditivos, que podem indicar falhas nos equipamentos, são grandes tendências no universo da Indústria 4.0 e exemplos de tecnologias que nos atraem”, diz. Conectar startups com grandes indús-

Inscrições até 31/3 https://startupindustria.com.br Cubo Itaú Seleção durante o ano todo

Brasil, programa de aceleração criado em

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Economia. Mesclando oferta de conteúdo desenvolvido pelo Insper e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) com uma rede de mentores e investidores-anjo formada por empreendedores Endeavor e executivos de grandes empresas, o programa já acelerou mais de 840 startups.

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ABDI

trias também é o objetivo do InovAtiva 2013 sob o guarda-chuva do Ministério da

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desde o ano 2000. É distribuída gratuitamente para leitores que fazem parte das principais indústrias de manufatura do País, além de escolas técnicas e universidades de engenharia mecânica. A revista aborda assuntos ligados ao setor metalmecânico e temas relacionados. Também é publicada no site: www.omundodausinagem.com.br ANUNCIANTES Abimaq - www.abimaq.org.br Blaser - www.blaser.com Expomafe - www.expomafe.com.br Grob- www.grobgroup.com Hanna Tools - www.hannatools.net Sandvik Coromant - www.sandvik.coromant.com WMTools - www.wmtools.com.br COLABORADORES DE CONTEÚDO Soluções de usinagem Vera Natale - vera.natale@sandvik.com Produtividade Christian Dihlmann - presidente@abinfer.org.br Entrevista Claudio Camacho - claudio.camacho@sandvik.com Negócios da Indústria Renato Cruz - renato@inova.jor.br Tecnologia Sergio Coca - sergio.coca@wiser.ind.br Educação Rogério Vitalli - vitalli@iar.eng.br Conhecendo um pouco mais Rodrigo Rodrigues - startupindustria@abdi.com.br Renata Zanuto - startups@cubo.network Beny Fard - ola@spin.capital

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