www.onfiresurfmag.com | nยบ57 | ano X | JunHo JuLHo 2012 | bimestral | pvp cont 3euros [iva 6% inc]
*A vida é melhor de calções!
O’Neill POrtugal: oneillportugal@sportzun.com
*Primeiros a entrar, últimos a sair. **Junta-te a 60 anos de inovação!
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*”É quase aborrecido porque te faz sentir mal sobre a forma como fazes surf.” - Mitch Coleborn sobre o estilo suave de Craig Anderson. **Para veres bons clips do Ando vai a DCShoes.com/surf
*É como se não usasses nada.
photos by carlospintophoto.com
................................................................ .020 Feedback .022 coffeebreak .024 Dna Quando pedimos a marlon Lipke para nos escrever o .026 À Deriva texto desta inédita surftrip a Barcelona, com o .028 check-out objectivo primordial de surfar, perguntou-nos se .030 stuff queríamos mesmo publicar esta viagem. Ficámos .032 opinion lider indignados com a sua pergunta pois as fotos eram .033 after surf simplesmente inacreditáveis. “É que aquilo dá ondas .034 oF virtual 100 vezes melhores. estamos a planear ir lá novamente .035 chill’out quando estiver épico, não preferem esperar?”. .080 art riders A qualidade das ondas pode não ter sido a melhor mas o .082 preparação ................................................. surf de Marlon e dos seus companheiros de viagem encaixa em qualquer tipo de ondas (ou não tivesse Marlon estado no WT). Misturando este movimento artístico-surfístico com a arte natural que a cidade espanhola transpira (e a arte não menos importante do fotógrafo Carlos pinto), era impossível não só não sair uma reportagem esplendorosa como uma das capas mais espantosas da história da OF. Nem todos irão concordar connosco nesta questão da capa, mas a arte é sempre sinónimos de sentimentos contraditórios para quem a vê e, caso não saibas, editar revistas é também uma arte! OF
...........................................................................
.012 Sinopse
............................ A prova de que o digital nunca conseguirá acabar com o papel está aqui (ignora os gatafunhos escritos pelo meio)...
.016 Xpression
................................ Mais uma prova, aliás, duas, de que a ONFIRe tem como missão mostrar o mais moderno do que se passa em Portugal...
.036 Life
on
Tour
onTherise ............................... Fazemos questão de seguir, em todas as edições (ou quase todas), as performances de Tiago “Saca” Pires, sempre contado pelo próprio. Nesta edição, Saca fala-nos sobre o seu quiver, sobre gerir sentimentos no Tour, sobre o que vai fazer entre a etapa de Fiji e do Tahiti e muito mais...
.050 050 Spotligth
FranciscO alves
DeBAIxO De OLhO
............................... há menos de dois anos atrás, Francisco Alves confessavanos que nem conseguiu surfar direito com a pressão de ter Carlos Pinto 100% ao seu dispor. As fotos deste Spotlight são todas deste fotógrafo da casa OF, e este é o melhor exemplo para mostrar a tremenda evolução de “xico” que nos últimos dois anos construiu os alicerces que lhe irão sustentar um futuro muito promissor...
.042 Destinos
.058 Surftrip
.................................. Não fazes ideia do que perdes por nunca teres pensado em fazer uma surftrip a Barcelona! Marlon Lipke, Tim Boal e Yannick de Jagger, passaram uns dias a surfar numa das mais imponentes cidades europeias, misturando a sua cultura de surf com a cultura artística de “Barça”!
...................... um surfista comum aventurou-se pelo deserto marroquino para encontrar o lado mais roots do surf. Pelo caminho deparou-se com o lado mais performance do mesmo, graças à presença de Frederico Morais e dos gémeos Guichard!
Loucuraem Barcelona
Devaneios MARROQuINOS
.068 Slideshow
................................. Cada foto deste Slideshow poderia perfeitamente ser um quadro da tua casa. e, por muito que nos custe, sabemos que é isso que irás fazer: arrancar estas páginas, mandar emoldurálas e colocá-las na parede em frente à tua cama, para teres o melhor despertar possível!
Segundo reza a história, istória, o génio Arquimedes, um dos maiores matemáticos de sempre e do qual ainda muito pouco se conhece, não era grande fã de água. Se a salgada estava lá no mar e aí deveria permanecer sem o incomodar, também pela doce o grego não nutria grande prazer. Consta mesmo que Arquimedes era obrigado a tomar banho para libertar a sujidade do seu corpo, e convém não esquecer que se vivia numa época em que tomar banho já era algo raro, ou seja, quem fugia ao esporádico banho, em nada melhorava o seu odor... É que para este Senhor, todo o seu tempo passado no planeta Terra tinha de ser totalmente investido a desenvolver as suas obras matemáticas, as suas invenções, as suas ideias, teorias e leis. Consta que, e é aqui que a história se torna deveras interessante (pelo menos para mim), quando conseguiam que Arquimedes tomasse banho, ele precisava de alguém para o lavar, não porque tivesse algum tipo de incapacidade física mas porque, “simplesmente”, passava esse tempo debruçado sobre a banheira para, com a espuma do sabão, conseguir escrever as suas fórmulas matemáticas no chão. É um facto adquirido e consumado que um viciado em surf passa todo o seu tempo ou a surfar ou a pensar na surfada que deu! Nos tempos “livres” o pensamento divaga entre pranchas, manobras, surftrips, quilhas, fatos, pointbreaks perfeitos, beachbreaks perfeitos, ondas perfeitas com amigos num clima tropical! No caminho para a praia, nas aulas, no trabalho, à mesa (nunca comer puré se tornou tão divertido graças à sua espantosa capacidade “moldável”), (principalmente) nas reuniões familiares do cônjuge, na casa de banho ou em qualquer outra situação da nossa vida, o nosso cérebro parece não querer divagar para mais longe do que tudo o que gira em volta daquele que é o estilo de vida que mais prazer nos dá. O moral desta divagação, se é que há algum, é o seguinte: quando verdadeiramente se Ama algo, fazemos tudo na vida para conseguir que a nossa vida gire em volta (e se possível nos faça viver) disso, seja matemática ou surf! ............... nuno Bandeira ......................................................................................................... ................................................................... este é um excelente exemplo de uma foto que vista num ipad (ou em outro qualquer gadget electrónico) não teria o impacto que merece! um line-up praticamente vazio num dia de Inverno, algures por aí... | photo by carlospintophoto.com ............................................................. ..................................................................
Nesta altura em que tanto se fala das novas tecnologias e tanto se especula sobre o lugar da imprensa escrita no futuro, não quis deixar de fazer uma experiência com um iPad. Agarrei no da minha “cara-metade” e dediquei algum tempo a navegar nesta tablet. Depois fiz um teste que me intrigava há uns tempos, leitura online VS leitura em papel. Já tinha uma assinatura em papel da Surfer, e por um preço reduzido (23 euros) assinei três revistas de surf que gosto de seguir, Surfing, Transworld Surf e Stab. este “desafio” do preço foi ganho pelo iPad pois o valor para assinar online é imbatível. Outro ponto a favor desta plataforma são os timings pois muito mais rapidamente as revistas chegam ao iPad do que ao correio. 3 a 0 quando pensei no impacto ambiental, download VS papel. Independentemente das revistas serem impressas em papel de árvores que já são plantadas para este efeito, a verdade é que há algum factor poluição neste processo. entretanto as revistas começaram a chegar, tanto as digitais como a impressa e durante algum tempo achei que este formato digital era perfeito e o futuro era seu. O primeiro defeito que encontrei na tablet foi a visualizar imagens. Por mais “zoom” que fizesse não conseguiu ver ao pormenor que se vê no papel. Tanto nas imagens mais fora de série como nas mais pequenas, nem de óculos as vi como queria. então um especial de fotografia, como o que a Transworld fez recentemente, no iPad é um “atentado”. Ponto a favor do papel, 1-3! entretanto os deadlines da ONFIRe apertaram e o tempo para ler revistas de surf diminuiu radicalmente. Ao fim de algum tempo tinha sete revistas para ler no iPad e duas em papel. Meti as de papel na mochila e a cada momento que surgia ia lendo. enquanto esperava um pouco pela maré na praia, enquanto descarregava material para trabalhar e, claro, na casa de banho! enfim, sem o stress de ter um material frágil e caro (i.e. iPad), algo que encaixa no bolso se for caso disso, fica à vista no carro, cai ao chão, empresta ao amigo, agarra e lê ao pormenor? Verdade seja dita, quem é que é capaz de levar um iPad para a praia e deixar à mercê da “gandulagem” enquanto vai surfar? eu não! Os pontos foram-se juntando a favor da revista de papel e eventualmente meti a leitura mais ou menos em dia com o iPad. Mas a essa hora já as duas de papel estavam “lidas, relidas e trelidas”, meio danificadas mas com direito a lugar de honra na minha estante! Contas feitas, na minha opinião o papel ganhou esta batalha, mas a “guerra” continua... ................ antónio nielsen
Distribuído em Portugal por: www.marteleiradist.com info@marteleiradist.com Tel. 21 297 20 54
*”Penso que alguém vai surfar a maior onda de sempre em Teahupoo hoje...” - KS. “Fuck, isso é animal. Quem será?” - Nathan
não há certamente, neste momento, nenhum outro surfista português que esteja tão à frente nas variantes de aéreos como filipe Jervis. Desde o simples double grab, ao slob, e passando pelo lien, mute ou stalefish, entre outros, muitos são os que os tentam, mas ainda são muito poucos os que os acertam! e é por isso que Jervis está, neste campo, no topo da lista, porque os completa! a prova disso é esta sequência, um slob air perfeito (de tal forma que até o próprio Jervis ficou banzado), e que ainda por cima tem o detalhe mágico de ter sido dado num secret spot algures na costa sul portuguesa... ...................................................................................................................................................................... photos by mauro motty
esta é mais uma daquelas sequências que tens de analisar cada frame ao pormenor! repara bem como o Vasco ribeiro, usa ambos os braços para fazer de pivot ((frame frame 2), como a prancha se enterra em mais de 80% na onda ((frame 6), em como o seu tail fica todo fora da onda ((frames 7 e 8), e como ainda mete muita água no ar durante toda esta rotação, água essa que só desaparece no frame 10 (de 12). a-Ba u-s-o!!! photos by carlospintophoto.com ...................................................... ONFIReSuRFMAG.COM 19
Henrique moniz, olhos focados na manobra, ouvidos atentos a possíveis banhistas desprevenidos que se banham no inside da perfeição de espinho. | photo by João Pedro rocha ................................................................................................................
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o Verão chegou! as ondas más, o crowd, os banhistas, blá, blá! Já conheces este filme de trás para a frente, até porque todos os Verões fazemos questão de te relembrar da depressão que estes meses são para nós (excepto o calor e as babes na praia). neste f feedback apelamos para que tenhas um papel mais activo nestes meses para que fins trágicos como o que abaixo podes ler diminuam. ................................................ ......................................................................................................................... fim Trágico [ mas que podes ajudar a evitar ] estou a escrever porque (como sempre) li o texto inicial na onFire 56 e que felizmente teve um final feliz. em espinho, o fundo está bom para surfar e com o canal junto ao paredão a levar-nos para o outside em segundos. perfeito para nós, um pesadelo para banhistas e mesmo para iniciantes de surf/bb. este tipo de acidentes que relatam (como todos sabemos), sempre aconteceram e, pelo que eu vejo, vão continuar a acontecer enquanto as autoridades competentes não tomarem medidas. por cá, no último mês, sucederam-se casos similares todas as semanas. a constante vigília das escolas de surf e surfistas não conseguiram evitar uma tragédia. Um rapaz de 16 anos não aguentou e acabou por falecer no hospital dias depois. tinha ido com amigos da escola à praia e os que quiseram mergulhar foram arrastados. alguns ajudados por surfistas e outros a sair pelas pedras lá se safaram mas o outro desapareceu muito rápido. o alerta foi dado para dentro de água que faltava uma pessoa e começou a busca. Quando o encontraram iniciaram as manobras dentro de água e até terra, sendo depois socorrido por um nadador-salvador que ocorreu ao ver o aparato e mais tarde o inem. após este caso trágico, mesmo com várias placas colocadas pelo surfjah a avisar para correntes fortes, voltou-se ao mesmo, tendo os surfistas resgatado vários banhistas já em pânico que quiseram tomar banho naquelas águas “calmas”. enfim… sei que se estão a tomar medidas para avisar as pessoas e que, entretanto, começa a época balnear. mas tudo o que vai ser feito já é tarde para uma pessoa! sei que o assunto já tem barbas, mas acho que a comunidade surfista não pode parar de lutar e alertar para, no mínimo, alargar os meses de praia vigiada. abraço e parabéns por mais uma onFire que ainda estou a saborear :). Pedro ferreira f
Olá Pedro. Sim, tenho noção que o tipo de história que vivi infelizmente costumam ter finais trágicos, como a que aqui descreves. Sem dúvida que nos dias de hoje temos a obrigação de ter sempre um ouvido em alerta para estas situações, principalmente nestes meses de Verão. e este é o apelo que fazemos publicamente aqui a todos os nossos leitores: façam surf mas tenham também um olho nos banhistas que vos rodeia. Ninguém pode comparar a acção de salvar uma vida com a de surfar uma onda! Mas lembra-te, se fores salvar alguém, mete sempre a tua prancha entre ti e a vítima, depois dálhe a tua prancha, mantém distância até a pessoa se acalmar e só aí deverás ajudar a pessoa a chegar a terra. iisto para que não fiques também em perigo de vida! eSuRFMAG.COM
.................................................................... oBrigaDo PeLo gana! caros “onfires”, queria dar-vos os parabéns pelo report do Gana! infelizmente hoje em dia as revistas (e sites) “batem” muito nos mesmos destinos pelo que ver um sítio de surf nunca antes visto e de onde, mesma na Web, há muito pouca informação, é sempre excelente! sem dúvida que um dia gostava de ir lá, apenas ter um pouco mais de sorte que vocês e apanhar aquilo clássico eheh. se o fizer, envio-vos umas fotos para vos fazer inveja! Grande abraço e continuem sempre e, se possível, a divulgar mais destinos destes. Jorge Peixoto
Caro Jorge, obrigado pelo feedback. Sempre que possível, fá-lo-emos (como é difícil pronunciar estar palavra, by the way). ao o longo da História da ONF ONFire ire temos mostrado alguns destinos pouco explorados, principalmente no artigo Destinos ((iiislândia, slândia, Cádis, Senegal, líbia, entre dezenas de outros), mas infelizmente a maioria desses não são explorados por portugueses, como aconteceu no gana. Melhor do que nos enviares as fotos, seria mesmo convidar-nos para ir contigo, tipo despesas todas pagas, para fazermos uma reportagem desse swell mágico no gana, pois só mesmo aí faria sentido voltar a fazer um artigo sobre este destino!
*Um lugar ao sol, para pessoas Ă sombra.
rHyTHm
give away
................................................................................................................. mais ais uma edição, mais um grande pack para ti! Desta vez foram os nossos amigos da rhythm hythm que fizeram questão que mais um dos nossos leitores andasse muito bem vestido. mas as para seres o grande vencedor deste pack único, tens de fazer o seguinte:
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01 Dizer o que significa para ti a palavra rhythm; 02 . ir ao site da marca (www.rhythmlivin.com) ver (e escrever) a peça que mais gostaste; 03 . estar atento ao website da onFire para ver quando sai o código ““rhythm Giveaway”; a away”; 04 . responder aos desafios que estarão junto do código “rhythm Giveaway”. a away”. por or isso já sabes, fica atento! Depois é só juntar tudo e enviar para o nosso email: staff@onfiresurfmag.com. se fores o primeiro com tudo correcto serás o vencedor!!! staff@onfiresurfmag.com Good luck!!!
errat onfir ................... . . . . . . . . . . . . . . . . .a 56 . . . . . . . . . . . . . . . .e ........ Ups, we did it ag ai n. na colocámos um edição passad a a sequência do marcos anastá cio, na sua coluna “o pinion leader que creditám ”, os como send o fotografada carlos pinto (a por ka carlospinto photo.com). no entanto, as imagens são da autoria de mauro motty . sorry mate...
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V e n c e D o r o n f i r e 56 ........................
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........................................ .... para ganhar este pack da ocean& earth não era preciso muito mais do que estar atento. e quem esteve mais atento foi o francisco antão, que sabia que a característica “especial” do novo grip pro-model de owen Wright era a capacidade de ser personal izado ao gosto de cada um. Depois foi só dizer o ano de origem da mar ca, escrever o código “oceano e terra” e escolher os seus patrocin preferidos a nível nacional (alex ados bote otelh lho) o) e internacional (Kanoa igarashi). parabéns Francisco!
16 de maio Tiago Pires competiu novamente ao seu melhor nível no Billabong rio Pro,, terceira etapa do Wt. t saca t. aca marcou dois noves e avançou até ao quartos de final onde foi eliminado pelo eventual finalista, Joel parkinson. arkinson. pelo elo caminho derrotou Kai otton, owen Wright, michel bourez ourez (2x) e Jordy smith, mith, um grande feito. os pontos que conseguiu com o seu 5º lugar foram suficientes para ascender ao 13º lugar do ranking. parabéns arabéns tiago!!! photo by asP P / Kirsten
19 de maio pelo terceiro ano consecutivo, uma vitória portuguesa no pro Junior das canárias, o gran canaria santa Pro Jr. e foi, como no ano passado, Vasco ribeiro quem acabou no topo do pódium ao derrotar na final o espanhol vicente romero. o segundo melhor português foi frederico morais que perdeu para v vasco nos quartos de final man-on-man. parabéns vasco! v
27 de maio cerca de uma semana depois, mais uma vitória para Vasco ribeiro. Desta vez foi (novamente) na liga meo p ro surf que v vasco venceu, e a etapa foi o moche oche Porto Pro. Pro a prova realizou-se na praia internacional nternacional onde o surfista da poça encontrou e derrotou na final o bi-campeão desta etapa, Justin photo by asPeurope mujica. com om esta vitória, v vasco disparou ainda mais na liderança e agora será difícil apanhá-lo! nas meias finais ficaram marlon arlon Lipke e gony Zubizarreta. photo by Hugo Valente
*Performance Pura. ultraflx - flexibilidade igualĂĄvel a uma prancha standard. ConstruĂda para durar. Liberta o teu potencial.
as úLTimas de...
pedro
Boonman
........................................................................................................................................................................................................... photo by onfiresurfmag.com ..................................... última decisão difícil... quando me inscrevi para o WQs de vendée. v a uma semana do campeonato estava quase para cancelar a inscrição, mas lá fui e no final de tudo foi positivo não ter cancelado. última desilusão... quando confiei num amigo durante muito tempo e só me apercebi que estava mal tarde demais. última vez que tiveste medo... Quando voltámos de vendée. v eram três da manhã e estávamos quase a ficar sem gasolina. não havia bombas de gasolina abertas e à nossa volta só víamos hotéis com grades que mais pareciam prisões! última viagem que não rendeu... há pouco tempo. estava com o “Xico” na costa e até estavam umas ondas mas recebemos um telefonema a dizer que estavam altas ondas no Guincho. Fomos para lá mas quando chegámos estava a chover, uma ventania gigante e uma porcaria de ondas. última viagem que rendeu... mentawai. altas ondas, água quente e um bom espírito de grupo. última vez que deste um bom tubo... nos supertubos de backside num dia de altas ondas! última lesão... nunca tive uma que me deixasse parado bastante tempo. mas tenho um buraco gigante no meu pé esquerdo que me apareceu do nada e que por vezes não me deixa surfar. mas de momento encontra-se fechado. último campeonato que venceste... um regional do algarve. último heat que venceste... em v vendée, no primeiro WQs que fiz. pensava que não tinha passado porque não se ouvia nada mas quando cheguei lá fora o Filipe Jervis disse-me que tinha ficado em primeiro. última surfada em caxias... no início deste ano. o mar estava grande e todo partido em todo lado mas lá estava meio metrão com altas esquerdinhas para voar. última vez que dropinaste... eu não costumo dropinar ninguém, só mesmo o Francisco alves. última vez que sentiste saudades... na viagem aos mentawai, fiquei duas semanas sem comunicar com os meus pais. última ltima discussão de que te lembras... em casa com os meus pais porque eles dizem que eu nunca vou passear o meu cão. mas eu vou mais vezes que eles todos juntos! último ltimo bom conselho que recebeste... nunca desistir daquilo que mais gostas. of
24 ONFIR ONFIReSuRFMAG.COM
Ocamel o
.............................................. texto by ricardo Vieira ricardovieira30@gmail.com........................................................................................................
“Descemos carregados ao máximo pelas escadas do prédio, colados ao escuro da noite, contracapas das trevas, mas silenciosamente felizes, felizes como cristo antes de saber dos pregos.”
Será que ricardo vieira voltou atrás, ou optou por, uma vez chegado ao Sul, chamar Miguel Mouzinho das alturas para lhe pedir um par de pranchas emprestadas? | photo by Mauro Motty ...............................................................................................................................................................................
Às vezes Deus escreve torto por linhas direitas. alzheimer, talvez. nessas alturas temos de lhe segurar a mão e ajudá-lo a decidir o que lá vem para nós, ao bochecho ou de empreitada. e se a vida cansa até aqueles que ainda brilham a novo, o que fará à paciência dos já fartos de andar a voar abaixo do radar, à espera de um bom prémio de jogo que os cate ao bar da esquina, cortando a coisa rente, rente, pelo caule. mas temos de manter a fé e acreditar que devagarinho a bondade, civismo e inteligência da humanidade evolui, expande, muda e melhora. mas até lá, e como a coisa ainda demora, invisto mesmo é em férias. estamos em Junho de 2012, três semanas pela frente, a autocaravana completamente abastecida de comidas, bebidas, gás, livros, roupas e violas, a carteira a fugir ao fisco para sustentar a liberdade de passarinho ferido, o gato na gaiolinha, mentalmente preparado para não curtir uns dias no alentejo e duas pranchas “basta juntar água” na varanda, prontas a descer por último, no fim dos trastes todos. Descemos carregados ao máximo pelas escadas do prédio, colados ao escuro da noite, contracapas das trevas, mas silenciosamente felizes, felizes como cristo antes de saber dos pregos. a caminho da caravana os carros mal estacionados sucedem-se uns atrás dos outros, a coisa por aqui está literalmente mal parada. Dou mais uns passos e chego à minha casa ambulante. o sangue gela, o coração quase pára e a temperatura sobe-me dos pés à cabeça, vértebra a vértebra. são cinco da manhã, não se ouve pena a cair, à minha volta só marte, e tenho um carro aparcado mesmo em frente da minha modesta casinha. como é possível?! como é que alguém estaciona a tapar a saída de outro veículo e se vai embora para uma noite descansada? Que pessoas são estas? em que promoção conseguiram a iscazinha a que chamam cérebro? e vão ter filhos um dia? para QUÊ?! para eDUcar como?! sou acalmado pela rute, a parte sensata do meu casamento, que me convence a abandonar a ideia do cocktail molotov no tejadilho e teima em cumprir a lei chamando a autoridade, coisa que não me dá maior esperança, o cocktail ainda me parece o mais fiável. opto por ir arrumando as coisas dentro da caravana, preparando tudo para o caso de um dia conseguirmos mesmo sair dali. e, surpresa das surpresas, a polícia chega em poucos minutos, obtém a morada do transgressor pela matrícula e toca-lhe à campainha. o mongolóide aparece à porta do prédio a perguntar se “quer sair?”. com muito esforço para não levantar as mãos e acabar preso no primeiro dia de férias, escolho um sorriso irónico e ajudo o palhaço batatinha, apontando-lhe o carro da polícia. a besta mostra-se desnorteada na arena e parece não perceber o que fez de errado. com o caminho livre, deixo os 26 ONFIReSuRFMAG.COM
agentes de autoridade a explicar-lhe da melhor maneira que sabem, uma multa para acordar bem disposto. Já foste. À entrada da ponte, a caminho do sul, a visão de um Deus menor a tremer das mãos, sem amparo possível, e um calor a escalar por mim desde o campo base até ao topo da montanha com direito a bandeirinha. lembram-se das pranchas na varanda? pois é…não se lembram de eu ter voltado atrás para ir buscá-las, pois não? Depois de um calão bem semeado ao vento por uns quilómetros, resolvo que só a multa do campónio não me satisfaz. agora mereço ganhar dinheiro com ele, o bastante para alugar umas pranchas e fazer uns almoços em memória do triste ser. e a ideia chega com a força de uma chuva tropical. vou escrever uma crónica. rV
............................................................... nota ricardo vieira escreve segundo a antiga ortografia porque a nova é cerveja quente num dia de verão.
o repelente electrónico De tUbarões
eLecTronic sHarK Defense sysTems (esDs) ........................................................................................ 242.00 € [ sem leash ] | 270.00 € [ com leash ] ........................................................................................ estás, muito provavelmente, neste preciso momento, a reservar o teu bilhete de avião para as tuas férias de v verão que serão recheadas de perfeição (sem dúvida que a rima mais fácil do mundo é a que termina em “ão”!). bali, tahiti, Fiji, mentawai, maldivas, austrália, nova Zelândia, África do sul, são provavelmente alguns dos destinos na tua mira mas, por muito que saibas que te esperam ondas absolutamente perfeitas e mais uma surftrip de sonho, não consegues deixar de sentir uma espinha encravada na garganta... o medo de um encontro imediato com o mais temido e voraz dentuça afiada dos oceanos, o tubarão! É nesta altura que te vêm à cabeça relatos de surfistas como bethany hamilton - que perdeu um braço num encontro com um destes habitantes marinhos - ou histórias de muitos outros que tiveram um destino mais dramático que o da havaiana! suor escorre-te da testa para o teclado, de tal forma que este entra em curto-circuito e o teu computador futurista de milhares de euros começa a deitar fumo, pifando antes de confirmares a tua passagem. estranhamente, em vez de entrares em histeria, sentes um estranho alívio por não teres conseguido finalizar a reserva para o destino com que há tanto sonhavas... Dentuças dos oceanos, só no oceanário! o mais recente repelente de tubarões, o esDs (electronic shark Defense system), poderá ser a tua solução. infelizmente os surfistas são as maiores vítimas de ataques de tubarão (representando 50.8% das vitimas em 2010 e 60% em 2011) e, talvez por isso mesmo, tenha sido um surfista havaiano, Wilson vinano Jr., o inventor deste gadget. os tubarões têm no seu focinho sensores electromagnéticos que lhes permitem receber os mais pequenos sinais eléctricos. o que o esDs vai fazer é como que provocar um curto-circuito nesses sensores fazendo com que os tubarões se afastem rapidamente. vinano descobriu que mais importante do que a força do sinal emitido é a forma da sua onda (os sinais eléctricos propagam-se por ondas) e, ao fim de vários anos, acredita que descobriu a fórmula perfeita entre força e forma da onda eléctrica. É esta fórmula de onda eléctrica que o esDs emite. com cerca de 5cm x 5cm, menos de 200gr, uma bateria que dura 9h e que podes recarregar como se fosse um telemóvel, o esDs é um pequeno aparelho que se liga automaticamente em contacto com a água, funciona até 6m de distância e 45m de profundidade, e que podes prender no leash para que não te incomode enquanto surfas. a pergunta que todos querem realmente saber a resposta: e funciona? bom, convidamos-te a ver o vídeo que está no link no final deste texto. como poderás ver, os tubarões afastam-se quando o mergulhador tem o esDs na mão, mas, mais impressionante que este teste é o seguinte: um saco cheio de isco é lançado juntamente com o esDs e os tubarões nem se atrevem a tocar na “xixa”. no entanto, quando o esDs é retirado, os dentuças entram no frenesim típico de quem se vai banquetear, atirando-se ao isco como se não houvesse mais nenhum peixe no oceano para devorar! para nós, a prova está dada (isso e pelo facto do conhecido surfista havaiano Joel centeio dar a cara por este gadget). se funciona com todas as espécies de tubarões? bom, todos os tubarões têm no seu focinho sensores electromagnéticos por isso, na teoria, a resposta lógica e praticamente certa é sim mas a esDs avisa que não testou (ainda) este gadget em todas as espécies de tubarões. pelo menos sabemos que nas espécies de tubarões que existem no havai funciona. e lá está novamente aquele suor estranho a escorrerte pela testa abaixo (excepto se fores para o havai)... ........................................................................................ www.esdshawaii.com
A Primeira Bebida do Mundo que te Bronzeia!
Drink Sunlover
........................................................................................ 1.59 € ........................................................................................ A primeira vez que ouvimos falar desta revolucionária bebida foi há menos de um ano, durante o WT de Peniche, o Rip Curl Pro Portugal. A Sunlover esteve presente naquele que é, como todos sabemos, o maior evento de surf que acontece em águas nacionais, e foi durante o incrível show de tubos que durou literalmente dois dias e meio, que se começou a ouvir o burburinho de que havia uma bebida que nos fazia ficar bronzeados. Estranhámos, pois nunca tínhamos ouvido tal coisa, afinal nem podíamos, pois nunca uma bebida com estas propriedades tinha existido. Tivemos de passar as nossas papilas gustativas por esse néctar... uma bebida muito agradável, fresca e com aroma a laranja. Nesse dia o nosso bronzeado não mudou mas quisemos investigar se realmente esse boato que corria em Supertubos era verídico... A evolução da biotecnologia aliada à cosmética foi o catalisador da bebida Sunlover, a primeira bebida nutri-cosmética do mundo (o próprio Slater, entre muitos outros surfistas do WT, experimentou-a; Matt Wilkinson não passou um dia sem beber Sunlover) e a sua fórmula estimula e prolonga, efectivamente e por incrível que te possa parecer assim de repente, o teu bronzeado! Com 0% de calorias e feita com água mineral, esta bebida, ao mesmo tempo que te bronzeia, nutre e vitamina a tua pele, cuida e fortalece a sua estrutura e as suas defesas, preservando-a dos sinais de envelhecimento. Ficámos ainda a saber que se deve beber Sunlover preferencialmente fresca e durante todo o ano. Se no Verão te ajuda a ter um bronzeado mais rápido, mais homogéneo e mais saudável, já no Inverno mantém a tua pela mais hidratada, viva e igualmente saudável. Aplicando isto à realidade surfística, os seres que mais tempo passam expostos ao sol durante o ano todo, rapidamente percebes que este não poderia ser o produto mais indicado. E, também rapidamente, percebes que no fund esta é a bebida indicada para todos os que gostam de sol, praia e ficar bronzeados da forma mais saudável possível. Segundo a Sunlover, uma a duas latas por dia (antes e depois da exposição solar) é a dose certa para sentires os seus “mágicos” efeitos! Se estás com dúvidas quanto à realidade desta bebida que aqui te apresentamos, propomos-te um desafio simples: faz o teste! Durante uma semana bebe Sunlover duas vezes por dia e vais ver que vais ficar com um bronzeado como nunca tiveste, ao mesmo tempo que cuidaste da tua pele. A Sunlover foi já eleita “Produto do Ano 2102” pelos consumidores, e tem como ponto obrigatório, além da óbvia presença na praia e seus eventos, uma política de apoio ao desporto e, muito concretamente, ao surf (a surfista portuguesa Maria Pessanha é uma das novas apostas da Sunlover). Desde o notável dia em que experimentámos Sunlover até ao dia de hoje que esta bebida (atenção, um produto português), tem tido, numa altura de crise mundial financeira, um crescimento gigantesco. E, como percebeste, não é caso para menos! ........................................................................................ www.drinksunlover.com
Máscaras de Mergulho com Camera Acoplada
Liquid Images Scuba Series HD 1080p ........................................................................................ 300.00 € [ +portes ] ........................................................................................ Não aconselhamos ninguém a surfar com as máscaras de mergulho da Liquid Images, que aqui apresentamos pois têm uma camera de filmar integrada, uma vez que estes não são feitas para surfar. Mas admitimos que num dia de ondas pequenas o risco de fazer esta experiência é mínimo (o maior será mesmo tentar não perder a máscara) pelo que poderás pensar nisso só pela diversão. Então o porquê destas máscaras de mergulho numa revista de surf?!? Porque não conhecemos surfista que não goste de mergulhar! A Liquid Image é uma empresa que tem revolucionado o mercado das máscaras de mergulho pois tem acoplado nestas potentes cameras de filmar (e fotografar). A camera, como podes ver na imagem, está integrada na perfeição nas máscaras, o que te permite ter as mãos livres sempre que estiveres a passear no maravilhoso mundo subaquático. Tens à tua disposição máscaras de mergulho com vários tipos de qualidade de imagem: 1080p Full HD a 30fps e que faz fotos com 12 megapixeis, e cujo sensor da camera foi pensado para filmar/fotografar em condições pobres de luz – segunda a marca consegues obter bons resultados a 20 metros de profundidade; 720p HD a 60fps (mais conhecido por High Definition (HD) - o anterior é conhecido por Full HD), fotos com 5 megapixeis e com um preço que ronda os 265.00 euros (+ portes). Ambas estas opções têm uma lente grande angular para que captes tudo à tua volta, o que não acontecia nos primeiros modelos lançados pela marca. Tens ainda duas outras opões: 720p HD mas sem lente grande angular (227.00 euros + portes) e uma opção de vídeo não HD (115.00 euros + portes). As cameras vêm com cartões de 4GB mas podem ser colocados cartões até 32GB, e a bateria (de lítio) é suposto aguentar 2000 fotos ou duas horas de filmagens. Se reparares na foto, a máscara tem em cima do lado direito (supondo que a tens na cara) duas pequenas “alavancas”. É com estas que podes pressionar os botões para controlares a camera. Facilmente manuseáveis com luvas de mergulho, a única coisa que tens de fazer para filmar ou fotografar é ligar a camera, escolher o modo (filme ou fotografia), e carregar no botão para gravar. Uma luz no interior da máscara indica-te o modo em que estás. Depois de filmares todas as sardinhas, polvos, moreias, sereias e “nemos” dos teus mergulhos, só tens de ligar a camera ao computador através de um cabo USB e passar as imagens. Da próxima vez que estiver flat e quiseres aproveitar para passear pelo mundo subaquático já sabes como captar todas as imagens! Ah, e se quiseres experimentar a camera a surfar, só num dia pequeno, força, mas prepara-te para fazeres uma figura bem estranha! ........................................................................................ www.liquidimageco.com
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.................................................................... photos by carlospintosphoto.com .................................................................... João murjal nas palavras de freDerico “Kikas” morais: “o João é um dos meus melhores amigos e uma pessoa que me tem vindo a apoiar bastante. a nossa amizade é recente, não o conheço desde criança apesar de termos amigos em comum e já o conhecer de vista do Guincho. e também de quando eu andava no quarto ano, sendo ele quem me batia e me metia a chorar na escolinha da tia ló (risos). É uma pessoa que tem sempre vontade de surfar e é uma boa companhia na água, sempre com muita educação e um sorriso na cara. É basicamente com ele que eu surfo todos os dias. agora já tenho carta de condução mas há muito pouco tempo, quando ainda não tinha, era ele que me vinha buscar todos dias para ir surfar e me levar ao melhores sítios, além de fazer me companhia nas coisas que eu tinha para fazer. não são todas as pessoas que fazem isso mas felizmente eu tenho bons amigos que me aturam. ele chegou a competir e a fazer uns bons resultados. Gosto de o ver surfar e tem vindo a fazer uma óptima evolução. Gosta de ondas power e uns buracos para se meter lá para dentro, e tanto surfa meio metro onshore no Guincho como altas ondas nas maldivas. É uma pessoa muito culta e interessada pelos aspectos económicos do país, não é só surf que vê à frente. sabe que o surf é um divertimento, uma coisa que o completa, mas tem os seus objectivos bem definidos. mas está muito dentro do surf, treinou na escolinha do Guincho durante anos, deu aulas de surf aos miúdos mais pequenos e é uma pessoa que percebe bastante sobre a modalidade. e se forem ao Guincho ele vai lá estar para mostrar come se surfa haha!” fm
.................................................................... nome João mUrJal praia GUincho idade 22 anos ....................................................................
....................................................... Diz-me com quem andas e dir-te-ei como cravas o rail! João murjal in rail action!
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será esta dama a famosa stripper que ficou com o sutiã preso no aparelho do personagem da história real que marcos anastácio conta nesta edição, e que neste dia resolveu ir a carcavelos ver anastácio a cravar o rail? | photo by mauro motty
.............................................................................................................................................................................................................. “e “e e,, ao tentar abrir um daqueles sutiãs modernos, que tem um pequeno feixe à frente, a presilha ficou presa na boca do nuno. n parece estranho não é? m p mas eu passo a explicar...” .............................................................................................................................................................................................................. fiquei de escrever sobre as loucas aventuras de um tal de João almeida (mais conhecido por Dapin) em san Jose, capital da costa rica. mas não vai ser desta pois são demasiadamente “rambulescas” para serem contadas neste momento, e vou esperar para fazer delas a corda dorsal de um livro que estou a pensar em escrever. no fim dos anos 80/início dos anos 90, o surf, apesar de ser, e sempre será, um desporto individualista por natureza, funcionou como um catalisador. ligava e unia o grupo da praia, no meu caso o grupo era o da malta da tricana, que nos seus momentos áureos chegou a ter de mais de 40 membros do clube. Uns eram surfistas, outros bodyboarders, motoqueiros, artistas do graffiti, sem esquecer as miúdas, poucas mas algumas, que aturavam a nossa selvajaria. Foi nesta altura, em que todos vivíamos felizes e sem preocupações, de uma forma espontânea e por vezes irracional, que conheci o nuno leão. Um bodyboarder (tinha preguiça de se levantar), um miúdo simpático e amistoso e sempre disponível para a farra. anos mais tarde comprei juntamente com a minha mulher a nossa primeira casa, e o nuno já lá vivia com a sua namorada e o seu primeiro “progênito”. Já era amigo mas tornou-se ainda mais próximo. Um dia contou-me que ia casar e convidou-me para o acompanhar na sua despedida de solteiro, juntamente com outros amigos que gravitaram perto do bando dos “tricana boys”. o início não achei muita graça, detesto a aura da noite, o cheiro a álcool e o
cheiro a tabaco que se infiltra na roupa e só pára na superfície da nossa pele! Já para não esquecer aquela malta para quem a “night” funciona como catapulta para a estupidez a roçar a loucura. no entanto, a “patroa” lá me convenceu com o argumento que me ia fazer bem. o destino foi um bar/restaurante de strip conceituado da capital. Depois de um jantar de ovos mexidos com farinheira, acho eu pois o local era muito escuro e difícil dissecar o que estava a comer, iniciámos a sobremesa, e foi quando entrou a primeira dançarina, e, logo depois, outra. Quando o speaker anunciou a entrada da melhor dançarina da casa, nem mais nem menos do que a pamela anderson portuguesa, até aqui, tudo bem... o hilariante foi o depois, quando a “pamela portuguesa” se revelou melhor e o queixo de metade da mesa caiu ao perceber que era uma velha conhecida de rana e que já tinha curtido com metade deles. Ficou tudo a rir que nem uns perdidos, mas o mais engraçado ainda estava para chegar. a “senhora”, sempre muito profissional, não se desmanchou e, como manda a tradição, foi fazer uns movimentos mais inconvencionais para cima do noivo. e, ao tentar abrir um daqueles sutiãs modernos, que tem um pequeno feixe à frente, a presilha ficou presa na boca do nuno. parece estranho não é? mas eu passo a explicar, o nuno usava um aparelho nos dentes! Foi hilariante, mas depois duma pequena guerra com a presilha lá se resolveu tudo. a noite continuou para o grupo e eu fui para casa com uma história brutal para partilhar com vocês. ma
uni, susHi resTauran u T Tauran T agora sim, a ericeira está completa! ............................................................................................................................................. passar um dia a surfar ondas clássicas na e p ericeira está muito perto da perfeição para qualquer surfista. agora podes atingir esse estado reservado aos deuses, pois tens à tua disposição na mais famosa vila do a surf portuguê o u uni, um dos melhores restaurantes de sushi a que já fomos. localizado no coração da ericeira, o Uni nasceu há menos de um ano. rapidamente se tornou num ponto de paragem obrigatório para tiago pires, r ruben Gonzalez, João Guedes, marlon lipke e Gony Zubizarreta, entre muitos outros, hoje clientes assíduos do primeiro restaurante de sushi da famosa vila! percorrer as típicas ruas da ericeira após uma manhã de surf clássico na pedra branca, ribeira d´ilhas, coxos ou qualquer outro famoso spot, sabendo que em pouco tempo estarás a degustar alguns dos melhores sabores que já experimentaste, é um prazer tão supremo como aquele que sentes quando estás a ir para a ericeira e sabes que o mar vai estar clássico, uma composição equilibrada entre excitação, nervosismo e uma pitada q.b. de ansiedade. se durante os primeiros meses de vida o Uni enfeitiçou os seus clientes durante o jantar, neste momento e até outubro, poderás almoçar e jantar independentemente do dia da semana pois, ao contrário do período de inverno, o Uni, nesta altura, não encerra à segunda-feira. Frémitos de prazer irão percorrer cada céluda do teu corpo, quer optes por ficar na esplanada ou no não menos agradável, amplo e relaxado interior do Uni. pedimos ao sushi man que escolhesse por nós, excepto, confessamos, a entrada: um t temaki de salmão. a acredita nesta verdade universal: não há temakis t melhores que os do Uni. passámos o resto do almoço extasiados com as maravilhas que nos colocaram na mesa. Uma apresentação irrepreensível, como manda a regra de excelência deste segmento de restauração, suportada pelo melhor que qualquer ser humano pode pedir, a melhor refeição de sempre (a refeição perfeita é tida como um prazer tão supremo que até um condenado à morte tem o direito de escolher o que quiser para a sua última refeição), é o que irás encontrar no Uni! após a primeira “degustação” aconselhada pelo sushi man, a ficámos rendidos, maravilhados, incapazes de mexer as pernas com medo que qualquer movimento nos trouxesse à realidade que não aquela onde nos encontrávamos, o equilíbrio perfeito da combinação de sabores do meiji roll: o arroz temperado na perfeição, o salgado do salmão e do camarão numa amigável batalha com o picante do molho secreto “da casa” (usando a boa gíria da restauração), o crocante da alga de soja a entrelaçar-se com o maciez do queijo creme... D-i-v -v-v v-i-n-a -a-a a-l! estando na ericeira, o sashimi não poderia ser do mais fresco que há, com o salmão e o atum a desfazerem-se na boca largando aquele incondundível sabor a mar, relembrando-te de imediato, as ondas perfeitas que nem há meia hora atrás apanhaste. É impossível dizer qual foi o nosso prato preferido. o menu é longo e altamente embriagante só de ler e (tentar) imaginar, e temos a certeza que mesmo depois de experimentares toda esta panóplia de saberes memoráveis tabém permanecerás indeciso quanto ao teu sabor preferido. o Uni ainda tem uma outra vantagem relativamente aos outros restaurantes de suhi deste nível máximo de prazer, o preço. apesar a de não ser barato, nenhum bom restaurante de sushi com este nível é, tem um preço mais em conta que os seus equivalentes. todos sabemos que um dia de ondas perfeitas não tem preço, t e, no Uni, aplica-se a mesma teoria: um almoço ou jantar neste espaço não tem preço! e é por isto que a ericiera, com o Uni, está agora completa! of
qualidade da comida: 5 estrelas | atendimento: 5 estrelas | ambiente: 5 estrelas | Decoração: 4 estrelas surf feeling: 5 estrelas (ou não estivéssemos na ericeira) | Preço: 3 estrelas .............................................................................................. morada: rua Fonte do cabo nº44 a, ericeira, portugal Horário: todos os dias ao almoço (12:30 – 15:00) e jantar (19:00 – 24:00) | reservas e Take away: 91 536 65 19
WWW W.
o n f i r e surf
m aG
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............................................................................................... este e ste é um dos mais complicados textos de escrever nesta edição pois é um gigantesco tiro no escuro... ............................................................................................................. “e porquê tal “desprofissionalismo” da vossa parte?”, perguntas curioso e uma vez que já tens o sentido profissional do staff da on onF Fire embutido no teu cerebelo como uma carraça num cão. a maior revolução virtual dos últimos tempos da onF Fire está prestes a acontecer e neste momento é, acreditem ou não, quase impossível prever se quando esta edição estiver nas bancas já se tornou uma realidade. bom, om, seja como for, essa mudança que falamos poderá não acontecer mesmo na data de saída deste número, mas acontecerá muito perto dela por isso, e para não quebrar o suspense, este onFire virtual irtual seguirá os moldes dos anteriores, em vez de um próximo que desconstruirá ao pormenor o que estamos a construir neste preciso momento (e nos últimos tempos)... o site (www.onfiresurfmag.com www.onfiresurfmag.com)) continua na linha da frente da informação especializada de surf nacional (que frase ilustre esta, quase parece saída da cabeça de um jornalista!) com as suas actualizações diárias e, como sempre, com artigos de raiz e saídos da nossa massa cinzenta, dando o toque credível de quem vive este mundo profissionalmente há quase 10 anos. sem dúvida que a onF Fire tv tem brilhado com vários das dezenas de produções que são lançadas por mês, mas o grande fugitivo na tabela do sucesso de visualizações foi mesmo o mais recente vídeo de Frederico morais – “traveling raveling Without moving”. em m segundo lugar, e com a ilustre medalha de prata, a histórica sessão de free surf que aconteceu durante o volcom Fiji pro v ro – “Fiji Fright trains”. o onfire scrapbook continua a surpreender o mundo virtual. com mais de 8.000 visualizações está o scrapbook 005 powered by meo meo: moche porto pro, ro, onde podes ver fotos únicas de tudo o que aconteceu na terceira etapa do mais importante circuito nacional, a liga iga meo pro surf. muito recentemente, como certamente já viste, lançámos o scrapbokk 006: “the Unseen photos of... onFire 56”, onde, mais uma vez, colocámos as fotos que não tiveram lugar (por falta de espaço físico do papel) na edição passada. Já sabes que um mês após a saída de uma edição em papel, as fotos que não couberam nessa edição aparecerão depois nestes scrapbook intitulados “the Unseen nseen photos of...”. o nosso instagram parece destinado a rebentar com a escala de seguidores, e, nestes últimos tempos, tivemos a foto com mais likes de sempre. a foto em questão foi a foto que o fotógrafo tó mané publicou na revista sUrFinG G do João Guedes num encaixe perfeito em leça da palmeira, almeira, rebentando assim com um hiato de largos anos de ausência de surfistas/fotógrafos nacionais na prestigiada revista americana. se e andas atento ao nosso facebook então também reparaste em algumas mudanças mas, a mais importante de todas, é que tens de rapidamente fazer um like no Facebook profissional da onFire ire pois iremos extinguir o de amigos nos próximos tempos. v vá, á, não sejas preguiça e dá um like antes que te percas de nós no infinito mundo dos bytes! nunca unca é demais lembrar que lançámos também recentemente a nossa personalizada e cuidada newsletter,, para que recebas semanalmente aquelas que são as notícias que consideramos como as mais importantes das que colocámos no site da onFire,, isto pois sabemos que nem sempre consegues acompanhar todas as actualizações que fazemos diariamente. podes odes enviar-nos um email - staff@onfiresurfmag.com - a pedir para te inscreveres na nossa amada newsletter. Um último parágrafo para o blog da oF (http://onfiresurfmag.blogspot.com http://onfiresurfmag.blogspot.com) que só não morreu oficialmente pois não sabemos como tirá-lo do grande mundo virtual. alguém lguém dá uma ajuda pois está prestes a surgir algo novo e este já não faz sentido? of 34 ONFIReSuRFMAG.COM
DVD – Josue 1.8
DVD - Being captain Zero
coma oma Pro ProDucTions ............................. conheces Jose casillas? provavelmente rovavelmente não, mas na década que passou era bastante conhecido na europa uropa por ser um dos mais promissores surfistas das ilhas canárias. anárias. Durante muitos anos correu o circuito epsa (agora chamado de asp europe) urope) mas, apesar de ser visivelmente talentoso, “el pecas” ecas” era mais conhecido pelas histórias que circulavam sobre ele. Uns diziam que tinha sido internado num manicómio e que tinha fugido várias vezes, e as suas aventuras pelo “submundo” também eram populares. “Guess what?”, era tudo verdade! Jose ia de mal a pior até ao dia em que um tal de tom c curren lhe deu dois conselhos que mudaram a sua vida, lê a bíblia íblia e continua a surfar. não se pode dizer que a sua vida encarrilou logo de seguida mas foi um começo. neste excelente documentário, casillas asillas conta a sua história na primeira pessoa e o seu percurso vai deixar qualquer um de boca aberta! obrigatório!
ama macDonaLD .......................... “being captain Zero” não é um filme de surf e muito menos um lançamento recente. É um documentário sobre dois surfistas da antiga e a sua história é umas mais empolgantes que alguma vez vais ver. este dois foram, nada mais nada menos, que alguns dos maiores traficantes de droga dos anos 70! os objectivos de vida destes “criminosos” eram só dois, surfar e traficar. algumas toneladas de “estupefacientes” mais tarde estes amigos tiveram que se separar, deixar o tráfico e ir cada um para seu lado. Um deles, allan Weisbecke, além de ter lançado um livro que se tornou num best seller, virou-se para hollywood onde escreveu guiões de series (uma delas foi a famosa miami vice) e filmes, baseados na sua experiência de vida. o outro, patrick abrams, emigrou para puerto viejo, na costa rica, atrás de uma das ondas mais pesadas da américa centra, salsa brava. este documentário acompanha a “carreira” dos dois e vai até ao momento em que se reencontram 20 anos mais parte. este é um documentário que te vai deixar colado ao ecrã do início ao fim! obrigatório!
[ pontuação 8.1 ]
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CRÉDITOS ONFIRE SURF 57 ... The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editor de Fotografia Hugo Valente | Arte & Design Marcelo Vaz Peixoto Fotógrafos residentes Carlos Pinto [www.carlospintophoto.com] e Mauro Motty | Photo maniacs Jorge Matreno . John Callahan . Carvalhão . Tó Mané . Miguel Dolce . Pedro Silva . Sérgio Villalba André Carvalho . Sandro Bravo | Escribas colaboradores Ricardo Vieira . João Rei . Zaca Soveral . Xibanga . YEP . Mikael Kew . Marcos Anstácio ... Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen, Marta Costa | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #57 ... Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção/Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens.
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Depois de um começo de ano fraco no World Tour, Tiago Pires encontrou o caminho para as vitórias e começou a “escalar” o ranking. Quando a ONFIRE o encontrou, poucos dias antes de arrancar para Tavarua para o Volcom Fiji Pro, Saca ocupava a 13ª posição no ranking e aparentava estar confiante para as próximas etapas. Eis o que conseguimos “arrancar” deste guerreiro do World Tour!
......................................................................................................................................................................................................... texto e legendas by ONFIRE photos by Marcelo Maragni/Red Bull Content Pooll
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Tiago, o que tiras desta temporada recente na Austrália? Correu bem mas os campeonatos em si não correram nada de especial. Na Gold Coast perdi logo mas em Bells passei um heat. Mas o importante era vir da Austrália com boas pranchas e antes do primeiro WT estive em casa do Chilli (James Cheal, shaper). Trabalhámos muito nas pranchas e começámos a ter alguns resultados. Infelizmente só depois de Bells é que comecei a receber aquelas pranchas que eu queria, mas é sempre bom e positivo passar uns dias com um shaper. Apesar dos resultados não terem sido tão expressivos como no ano anterior, senti-me a surfar bem. No WQS de Manly pareceu que saíste do avião directamente para o heat. Como aconteceu isso? Quando aterrei em Sidney e vi a que horas era o heat achei que não ia poder entrar. Liguei para o Luke Egan (director de prova) e ele disse-me que não conseguia mudar o meu heat. Mas o Chilli veio-me buscar ao aeroporto e felizmente tem uma carrinha bastante grande onde eu me pude ir trocando e preparando uma prancha a caminho da praia. Metemos uma pessoa a fazer o check in por mim para ficar com a lycra à espera e quando cheguei tive que ir a correr para a água porque já tinha começado o heat. Foi uma história engraçada e a primeira vez que me aconteceu na vida. Entrei na água sem saber como estavam as ondas mas deu-me um bocado de pica para conseguir passar o heat. A seguir ao heat sentime muito cansado e foi difícil nesse dia ficar acordado porque o esforço foi grande. Entretanto o Chilli veio cá a Portugal trazer-te pranchas... Sim, ele trouxe-me umas sete ou oito muito baseadas numa que recebi depois de Bells Beach. Mudámos algumas coisas em relação às anteriores, o rocker era o da prancha que surfei em Manly. Era uma prancha um pouco mais rápida que as outras e parecia-me muito solta. Disse-lhe isso, que era muito solta e que só conseguia surfar nela em ondas pequenas e ele trabalhou um bocado nesse design. Fê-la um bocadinho mais pesada, mais sólida e com um bocadinho mais de volume. Acabei por surfar logo após ter perdido em Bells Beach, adorei e ele disse-me para deixá-la que agarrava nela e trabalhava-a. Foi isso que aconteceu e trouxe-me umas pranchas baseadas nessa mas acabou por ser a primeira a que ficou. Essas pranchas deram-te confiança adicional para a etapa seguinte? Eu sabia que não tinha começado bem na Austrália e que tinha de atacar o Brasil de uma maneira diferente do ano passado. Sabia o que podia esperar e fui muito preparado, fiz uma preparação mental e técnica muito forte. Também estive muito motivado antes de ir para lá, a surfar muito, muito activo a apanhar qualquer tipo de ondas. Fiz um treino físico bastante bom também, ou seja, tudo caminhou para que eu fosse para o Brasil muito motivado e com vontade de limpar o que tinha feito no ano anterior. No heat do Arpoador fizeste uma das melhores notas do campeonato mas não conseguiste vencer. Conta como correu esse heat... O Arpoador é uma onda gira quando apanhas uma boa mas é muito difícil competir ali com três pessoas. Para man-on-man é muito mais indicada porque quando há muito picanço dentro de água acabas por perder um bocado o nível de surf face à consistência. Depois de ter feito o meu 9.00, de ter esperado bastante para achar aquela onda, não consegui achar um back up e o Miguel Pupo, com uma onda de 7 e outra de 6, ficou à frente e começoume a marcar. Não tive hipótese, os sets vinham só com uma onda e tive de ir nas mais pequenas, o que dificultou a minha passagem ao terceiro round. Mas o que interessa é que saí da água animado para a batalha seguinte. No segundo round as ondas não estavam boas mas conseguiste ser consistente! Sim, estava pesado e a fechar muito. Eram ondas onde poderíamos ter posto em causa a realização do campeonato. Eu achei que não fazia muito sentido o round 3 ir para a água. As ondas não tinham melhorado e uma coisa é fazer o round de repescagem em que já começaste de manhã com aquelas ondas mas pronto, tive tão pouco tempo de um heat para o outro que não me quis chatear muito nem questionar muito. Acabei até por me beneficiar com isso porque estava com mais ritmo e acostumado ao pico do que o Owen, que não tinha competido desde o Arpoador. Seguiste para o round 4 onde venceste pela primeira vez desde que o formato mudou e fizeste outra nota 9... Sim, o mar estava bastante difícil, mais uma vez piorou mesmo antes do meu heat começar, estava muito vento, choveu e mudou completamente. As ondas estavam muito boas antes disso mas pronto, a minha táctica foi a mesma. Não me deixei afectar com as condições do mar e simplesmente dei o meu melhor. Fiquei o heat todo à procura das ondas certas, não encontrei muita coisa a não ser aquele 9. Sabia que a melhor coisa a fazer naquele dia era um tubo e que, apesar do vento estar errado, as ondas eram tão buracosas que acabavas sempre por encontrar um tubo ou outro. E foi isso que aconteceu naquele heat e isso levou-me para o primeiro lugar.
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......................................................................................................... Nada como uma sessão no Reef para aperfeiçoar a técnica dos tubos de frontside! | photo by Karin Seelow
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nos quartos de final calhaste com o Joel Parkinson, um adversário com quem tens sempre grandes heats. É um surfista contra quem te esforças mais para tentar ganhar? É sempre um heat bastante competitivo contra o parko, ele é um dos atletas mais competitivos do tour e surfa bem em qualquer lado. Daria um gostinho especial se tivesse ganho aquele heat porque já são vários os nossos confrontos e ele está sempre a levar a melhor. agora passei mais uma vez muito perto. ainda fiz aquele 7 pontos que deu para assustá-lo e acho que o parko começa a perceber que comigo não tem heats fáceis e vai sempre para a água para dar tudo. Vocês já foram da mesma equipa e já tiveram muitos heats renhidos, como fazes a gestão de amizades e rivalidades com adversários como o Parko e companhia? É muito simples, aquilo é o nosso trabalho, a nossa carreira, queremos ser o melhor possível e acabar o melhor possível. por isso dentro de água somos todos inimigos. no ano passado tive um episódio com o Jeremy (Flores), que é um dos meus melhores amigos e com quem eu viajo mais, na etapa de nova iorque. Foi um heat complexo para mim porque estava a precisar de um resultado para não sair do tour naquele corte a meio do ano. poderia se calhar ter garantido com um 13º mas era um bocado inseguro e a passagem ao quarto round garantia-me de certeza. o Jeremy não tinha nada a perder, estava muito mais confortável do que eu e eu pensei, ingenuamente, que ele iria facilitar um bocado aquele heat. não falámos muito antes do heat começar, houve aquele silêncio um bocadinho enganador e no início do heat senti que ele não fez força nenhuma para ganhar posição, então pensei que íamos surfar amigavelmente e que ele me ia deixar passar para eu conseguir ficar no tour. isso não aconteceu, ele fez um heat bom, foi muito renhido mas deu para o lado dele. a partir daí realizei que tinha sido um bocado ingénuo em sequer pensar isso. o Fanning e o parko também são amigos e “comem-se” nos heats. Quando entramos na água somos inimigos e fora de água falamos todos, pode haver algumas rivalidades um bocadinho mais temporárias, cada um tem as suas. mas acho que é um circuito onde paira muito respeito e toda a gente se fala. no início do ano tinhas dito que não querias definir objectivos mas entretanto subiste para a 13º colocação no ranking e bem dentro da “bolha” da qualificação. continuas sem definir objectivos ou este resultado mudou alguma coisa? não, sinceramente não tenho nada definido na minha cabeça. este resultado ajudoume sem dúvida. o que eu não procuro é aquela frustração no fim do ano de acabar fora daquele “numerozinho” que eu especulei e pus na minha cabeça e acaba realmente por trazer pouca coisa pois se eu acabar o ano em 17 ou 16, é mais ou menos a mesma coisa, passei os heats que tinha de passar, fiz bons campeonatos. achas que não há diferença de estatuto do 16º (top16) para o 17º? acho que não, hoje em dia o circuito está tão competitivo que acabares em 16 ou 17 ou 15, ou se tiver no top 10 ou 11º, é mais ou menos a mesma coisa. a cena é acabar no top5, realmente seres um top5 é um candidato ao título, é realmente um ano excelente, depois tudo o resto é quase... é claro que não posso estar a ser também irrealista e dizer que me é indiferente acabar em 9º ou 17º. não quero é estipular essas metas na minha cabeça, o que eu realmente gostava de conseguir este ano era ganhar um campeonato. isso acho que é um objectivo sólido e concretizável, muito mais do que um número no fim do ano. Para terminar, há um intervalo grande entre fiji e Tahiti, vais aproveitar para pontuar nos eventos de qualificação que acontecem entretanto? Devo ir à África do sul competir no prime de balito, não vou a J-bay porque acho que não faz muito sentido. um wqs de 6 estrelas já não “rende” em termos de pontos? não se justifica muito. o meu objectivo é surfar só o Wt, t, se a meio do ano eu estiver t com resultados muito maus talvez ataque um bocadinho mais ferozmente o WQs. mas a minha meta é qualificar-me pelo Wt e não ter que usar o WQs para isso. vou v continuar a trabalhar nesse sentido nas provas que vão acontecer agora. sou obrigado a fazer dois primes por ano, eu já fiz agora um no brasil e em princípio faço o de balito, que é uma onda bastante boa. isso para, se este ano não me apetecer fazer a triple crown, que é numa altura em que já estou muito cansado, não ter a pressão de ser obrigado a competir nos primes de sunset ou haleiwa. of
.................................................................................................................................................................... os treinos de Tiago Pires começam em portugal mas é na austrália que se vêem os resultados! photos by carlospintophoto.com
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texto by marlon arlon Lipke e onfire photos by carlospintophoto.com (em ( barcelona, arcelona, “ ...........................................................................................................................
Quando se fala sobre barcelona, a palavra “surf” não é uma palavra que, por norma, entra na conversa. bairro airro Gótico, sagrada Família, Gaudi, park ark Guell é o que vem à cabeça da maior parte das pessoas. as os surfistas não são pessoas vulgares, procuram algo diferente dos marcos famosos. procuram rocuram ondas acima de tudo, point breaks, água quente, mulheres de biquíni na praia e, claro, locais novos. mas as quando já se fez as mesmas viagens a quase todos os melhores locais para praticar surf (várias vezes), começa-se a procurar algo novo. Foi o que aconteceu com este grupo muito especial constituído por marlon arlon lipke, oal e Yannick de Jagger,ww que se divertiram mais em poucos dias em barcelona do que em semanas nas “mecas” do surf.
Marlon Lipke abre o leque em Barceloneta. ..................................................................................................................
Uma surf trip a um local como Barcelona não é, nem nunca será, como outra qualquer. Por mais interessante que esta cidade seja, e pode-se dizer mesmo que é uma das mais interessantes do mundo, no que toca a ondas é preciso estar bem atento às previsões pois este local fica semanas sem dar nada. Mas este grupo tinha duas peças fundamentais para que esta viagem fosse um sucesso, Quirin Rohdinder e Marlon Lipke. Quirin, amigo de Marlon de longa data e team manager da Friday Managment, grupo que gere carreiras de atletas entre outros “produtos”, viveu durante dois anos naquele local e conhecia o caminho para as ondas e o tipo de ondulações necessárias para esta “Jóia do Mediterrâneo” funcionar. Por sua vez, Marlon Lipke tinha um episódio da sua conhecida série, Weekend Warrior, para produzir. Através deste seu programa, feito para a televisão, o luso-germânico tem conhecido e dado a conhecer não só alguns destinos invulgares mas também o estilo de vida que ele e os seus amigos mais próximos têm. Desta vez os seus colegas de viagem seriam os seus grandes amigos e team mates Tim Boal e Yannick de Jagger. O primeiro é já nosso conhecido pelo impacto que teve na cena competitiva europeia e por se ter qualificado para o WT no mesmo ano que Lipke. Tim faz parte do grupo mais íntimo de Marlon, uma mini-euroforce dentro da Euroforce, e juntamente com Gony Zubizarreta (que não veio nesta viagem) são quase inseparáveis desde as categorias juniores. Yannick é menos conhecido em Portugal mas tem feito nome como o melhor surfista que alguma vez saiu da Holanda. Curiosamente, ao contrário de outros surfistas de países “menos surf”, e apesar de viajar muito, de Jagger vive mesmo na Holanda e não num país mais “típico” de surf. Isso faz com que o seu percurso e o seu lugar no surf europeu seja ainda mais impressionante pois o seu nível actualmente é altíssimo. Juntou-se o “nosso” Carlos Pinto, então apelidado de “Pincho”, para “imortalizar” esta viagem, e o grupo ficou completo. Não havia uma data marcada mas quando o swell apareceu foram precisos “apenas” cerca de 20 emails e muitas marcações e remarcações de última hora para que os cinco estivessem em Barcelona. Este é aquele tipo de viagens em que todos os intervenientes têm de se mexer um pouco para não ficarem de fora e foi o que aconteceu. O resultado foi que durante quatro ou cinco dias este grupo, que já viajou pelos quatro cantos do mundo, descobriu um novo tipo de viagem. E segundo entendemos pelas palavras de Marlon Lipke que se seguem, preencheu-os mais do que a vulgar “surf trip”. 44 ONFIRESURFMAG.COM
(It was long ago, seems like a dream. the day I sucked the air from a bottle of whipped cream and i got real high and things got real slow and i started talking like this what’s going on? i don’t know and then i sold my car for a Greatful Dead ticket my dad yelled at me and he grounded me and he said i was a dick, it was the worst day of my life and i’ll never forget but the very next day I was doing bong hits in the back of my friend’s chevy so don’t tell me we’re winning the war on drugs cause drugs are like a bog ol’ can of raid and you’re all little bugs and don’t tell me to not get high cause i’m as low as i can get without kissing your ass and blowing you at the same time.) “Sex, drugs & rock ‘n roll dos Guns N’ Roses! Quando ouço esta música penso numa cidade em Espanha chamada Barcelona. Todas as noites são uma aventura, seja sexta-feira mágica ou quarta-feira estranha, esta cidade não dorme e as suas luzes brilham gloriosamente pela noite enquanto a festa continua... Nenhum homem conhece as suas fronteiras, o que pensas ser a realidade floresceu, o que era já não é, significado torna-se insignificante. Pelo menos foi o que pensei quando vi o meu amigo e team manager a chegar-se mais perto do seu lado feminino enquanto andava de mão dada com um Sul-Africano gay que lhe prometeu uma conversa profunda à sua lareira. Alguns de nós perderam-se e, aparentemente, alguns de nós encontraram-se. Se Jim Morrison .................................................................................................................................... Em Barcelona faz-se surf faça chuva ou faça sol pois o swell é sempre de pouca dura. Tim Boal a aproveitar enquanto dura.
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.................................................................................................................................... Ainda há dúvidas que Yannick de Jagger é o melhor surfista que já saiu das “terras baixas”?
procurava LSD, ou o que quer que seja que ele tomava para o ajudar a estender o seu estado de espírito criando algo mágico, em Barcelona uma “potato samosa” e três copos de vinho tinto faziam a festa. O que posso dizer é que depois de 15 anos a ir para os mesmos sítios, surfar as mesmas ondas, fazer a mesma rotina, são locais como este que me dão pica, e eu ainda nem comecei a falar das mulheres! Ao mesmo tempo esperava que o Carlos Pinto (Pincho) tirasse uma ou duas fotos para um artigo. Como o único sem namorada (NA ALTURA) do grupo, acenava a bandeira de solteiro bem alto. Mas talvez tenha sido alto demais porque 46 ONFIRESURFMAG.COM
só consegui fazer contacto com apenas um estranho ao grupo, uma mulher que estava atrás do balcão e as únicas palavras que trocámos foram “una mas” e “gracias”. Além das duras noitadas, também fomos à praia. Barcelona tem um beach break muito divertido, mesmo junto à cidade, chamado Barceloneta. As ondas quebram perto da areia preta e a maior parte das ondas levam com backwash, mas isso não nos impediu de nos divertirmos. O Yannick (de Jagger) “desencadeava” a sua experiência de ter crescido em águas holandesas com condições similares, enquanto o Tim (Boal) fazia o que sempre faz, soltava o tail como se não houvesse amanhã, misturando com
os seus carvings marca registada. Contas feitas, esta foi uma das melhores viagens das nossas vidas e seguramente nunca perderemos um swell numa segunda-feira louca ou quarta-feira estranha. Nas nossas últimas viagens a flutuar pela sujas águas da cidade, enquanto o sol se punha, era exactamente o que tínhamos imaginado para a nossa viagem mas com um pequeno upgrade, do Íbis fora da cidade para o W Hotel que fica ao lado da praia de Barceloneta, que foi o tema de conversa desde o primeiro momento que lhe deitámos os olhos em cima...” ..ML
franciscoalves
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debaixodeolho
.............................................................................................................................. ........................................................................................................... texto by onfire photos by carlospintophotos.com
os novos talentos da actualidade confundem-se uns com os outros. têm linhas de surf e estaturas semelhantes e muitas vezes só podem ser diferenciados pelos autocolantes nas suas pranchas. Francisco alves vem de um “molde” diferente, a sua estatura, o seu surf e a sua atitude são diferentes dos demais, o que faz dele uma das personalidades mais interessantes da sua geração.
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São 9.30 da manhã e passo a Ponte 25 de Abril consciente de que o meu entrevistado para esta edição já está na água. O trânsito não perdoa e as ondas também não, Francisco Alves a esta hora já estaria a surfar. Tinha combinado fazer a sua entrevista no local que considera o seu quintal, o CDS, na Costa da Caparica, uma praia que está a escassos metros de ser literalmente considerada o quintal da casa onde cresceu e ainda hoje vive. Foi nesta praia que o seu pai, João Alves “Janita”, surfista da Caparica de longa data, o meteu pela primeira vez na água há mais de 10 anos atrás e, ao longo dos tempos, esse continua a ser um dos seus campos de treinos mais usuais. Chego ao CDS um pouco depois e examino o line up nos 100 metros que vão de um pontão ao outro. Não há mais do que três surfistas na praia toda mas tenho dificuldade em o descobrir. Entra um set e algumas esquerdas “rolam” de um dos pontões até meio da praia sem que um surfista consiga passar as secções. Fico na dúvida se, à última da hora, “Xico” não teria sabido de outro spot a dar ondas melhores e teria arrancado sem me avisar. Isso resultaria numa manhã de procura e não de ondas e entrevista. Até que reconheço a sua linha de surf inconfundível a arrancar numa bela esquerda. Uma vez na onda não é difícil reconhecê-lo. Não há muitos surfistas da sua idade com 1.90m de altura e o seu nível de surf. Aliás, não há mais nenhum! A sua técnica é invulgar para um miúdo de 18 anos e mostra potencial para chegar a um patamar muito alto. Depois de um bottom bem cavado, Francisco “dispara down the line” e nesse momento apercebo-me que o nosso fotógrafo residente, Carlos Pinto, está na água pronto para captar mais um potencial grande shot. Infelizmente, no trajecto entre a secção mais perto de Carlos e o local onde arrancou, Xico teve de sair da onda para se desviar de um surfista que se tinha atravessado no caminho a remar para fora pelo verde e não pela espuma. Típico. Uma onda desperdiçada, Xico senta-se na prancha e baixa a cabeça, Carlos bate com as mãos na água, claramente frustrado com a situação! Sendo ele também da Caparica, Carlos já acompanha Francisco desde pequeno e a primeira foto publicada dele na ONFIRE estava “assinada” de “CP”. Ao longo dos anos estes dois têm produzido excelentes momentos de surf, culminando na capa da edição 55 da ONFIRE, a estreia de Alves na “portada”. Hoje em dia é raro Carlos fotografar na Caparica mas os dois estavam “on a mission” para conseguir mais uns momentos antes de Xico “arrancar” por uns meses. França e depois Maldivas seriam os seus próximos destinos. Poucos minutos depois estou na água também mas levo o meu tempo a chegar a pico, optando por umas ondas mais no inside para abrir o apetite. Sendo o único não “capariquense” na água penso na minientrevista que lhe tinha feito uns meses antes, cujo tema principal era a pressão de ser o grande representante da Caparica na actualidade. Esta “terra” tem um longo historial de grandes surfistas, desde nomes como Bruno Charneca, João Antunes e Nuno Matta, sem esquecer surfistas mais recentes como David Luís e companhia. Na mini-entrevista Francisco deu-me a entender que não sentia pressão mas que às vezes os mais velhos tentavam “puxar” por ele. Mas é visível que, mesmo que Xico não o sinta, a Caparica está de olho nele. Neste dia os outros dois locais na água estavam claramente interessados em saber mais sobre este júnior. Ambos eram uma ou duas gerações acima de Alves mas assumiram o papel de groupies (no bom sentido) nesta surfada. Entre cada set as perguntas não paravam, uma, duas, três. Que pranchas estava a usar, se pagava por elas, quais as quilhas que estava a usar, que modelo de fato, se o fato era bom… Francisco respondeu sempre com educação e humildade, suas características, mas ficou visivelmente desconcentrado com a quantidade e regularidade delas, e cada vez se tornou mais difícil fazer a conexão com Carlos Pinto. Uma sessão praticamente desperdiçada. Mas num (quase literal) mar de perguntas chatas, ouvi uma que estava na minha lista para a entrevista! “Achas que vais ser convidado para o WT de Peniche este ano?”
........................................................................................................ Depois de um “double spread” na edição passada a enterrar o rail Francisco Alves faz o oposto e solta o tail no lip.
Qualquer bom surfista da actualidade consegue dar um aéreo mas são poucos os que conseguem usar a sua técnica para fazer um tail slide com esta expressão! ........................................................................................................
Xico não sabe a resposta. De facto, no ano passado, apenas soube que ia ser wildcard escassas horas antes de estar realmente a vestir a lycra de competição à frente de 40.000 portugueses. Isto porque, depois de uma prestação fraca nos trials, o capítulo WT de Peniche já estava para trás das costas, e no dia seguinte já estava de volta à Caparica. Enquanto almoçava com a sua mãe recebeu um telefonema que nunca mais esquecerá. Era o Francisco Spínola, director de Marketing da marca que o patrocina, a Rip Curl. “”Atão” puto, onde estás, anda para Peniche que vais ser wildcard”! Apesar de Justin Mujica ter garantido o primeiro wildcard por ter vencido os trials, havia mais uma vaga disponível devido à ausência de Jeremy Flores. Como patrocinado da marca a nível europeu o critério caiu sobre si, e umas horas depois havia uma lycra azul do Rip Curl Pro com o seu nome no peito. Talvez pelas expectativas baixas que o público tinha para ele em relação aos outros da casa, Tiago por ser do World Tour e Justin por ser um “seasoned competitor”, o que é certo é que Xico foi a mascote do público na praia. Saca foi quem surfou melhor dos três mas ninguém, entre os portugueses, levou o público ao rubro como Francisco Alves. Francisco tornou-se assim no primeiro surfista da sua geração a competir num WT. Durante três dias este goofy da Caparica esteve inserido no mesmo grupo que muitos dos seus ídolos. Entre eles estava Gabriel Medina, um dos nomes mais falados da actualidade. Por serem da mesma idade e da mesma marca pensei que os dois já poderiam ter convivido antes em algum meeting ou surftrip da Rip Curl. E várias foram as imagens que surgiram dos dois a falar como se grandes amigos se tratassem. Mas apesar de ainda não se terem cruzado em eventos da marca, estes dois já se conheciam há vários anos. “Conheci-o no ISA World Juniors no Equador em 2009, quando ele ainda era da Volcom. Ele comia tipo cinco gelados por dia (risos)” conta Francisco. “Eu ia comer com ele e sempre foi impecável, sempre me dei muita bem com ele. Sempre que o vejo fala-me bem apesar de ser quem é, é humilde e um gajo porreiro. Já na altura dava para perceber que ele era um “anormal” a fazer surf. Quando chegámos ao Equador estava maré cheia e lembro-me perfeitamente de estar a remar para fora e ele deu dois aéreos reverse gigantes. Foi aí que ele apareceu, antes disso já tinha feito o ISA de França, um ano antes, mas ninguém reparou nele.” Além de Medina, “Xico” procura inspiração noutros goofies como Tanner Gudauskas e Owen Wright. “Tento imaginar-me a fazer aquilo que eles fazem, parece que para os regulares há manobras que saem melhor que os goofies. Por isso tento sempre olhar para os goofies que conseguem fazer esse tipo de manobras e que para eles não há manobras difíceis.” A oportunidade de participar no WT de Peniche acabou por ser só mais um passo numa direcção em que caminhou sem ter definido como objectivo, uma carreira como profissional de surf. Percebi isso pela resposta que recebi quando lhe perguntei qual tinha sido o momento em que tinha decidido envergar nessa direcção. “É estranho, não há volta a dar, já aqui estou e agora é dar o meu melhor. Se Deus me leva por onde estou a ir é para seguir. Mas foi algo que foi evoluindo, nunca tive “aquela” conversa com os meus pais. Mas chegou uma altura em que disse “pronto, já vi que não dá para fazer as duas coisas (estudos e surf), “bora” concentrar-me só numa e fazer essa como deve ser”. E é isso que tenho tentado fazer, e para mim tirar bons resultados é a coisa mais importante neste momento, e se o fizer sou a pessoa mais feliz do mundo. Pesa-me quando perco, como nas Canárias recentemente, quanto mais pressão tiver em cima de mim menos as coisas correm bem. Se tiver pessoas ao meu lado que me põem pressão na cabeça perco logo. O que é o contrário daquilo que a Rip Curl faz, tentam sempre ajudarme e tirar pressão.” Observando Francisco em competição percebe-se que se passa algo diferente dos outros. Nesta fase da sua carreira ainda lhe falta
consistência competitiva mas quando os resultados acontecem as pessoas têm tendência a vibrar com o seu resultado. Não se trata só do seu núcleo mais chegado (pais, treinadores, patrocinadores), mesmo os outros competidores, o público e os media têm tendência a celebrar os seus bons momentos, independentemente de já terem afinidade com ele ou não. Isso poderá explicar o seu sucesso em Supertubos durante a etapa do WT. Talvez por ser diferente dos outros, por ter uma postura “happy go lucky” e humilde, ou por outra razão que não se consegue apontar, o que é certo é que isso será sempre uma grande mais valia na sua carreira. Apesar dos seus 18 anos, Francisco “caminhou” muito para chegar até aqui, e muito mais está pela frente. Não foi uma caminhada solitária. O surf no nosso país chegou a uma realidade muito distante dos tempos em que era mal visto pela sociedade e família. De tal forma que os seus pais foram apoiantes desde o primeiro dia, fazendo um esforço conjunto para que o seu filho atingisse o máximo do seu potencial. O seu pai era regularmente visto nos campeonatos em momentos que “only a father knows the feeling”, a “explodir” com as vitórias e derrotas, muitas vezes não se conseguindo conter com a pressão. Mas Francisco reconhece hoje que foi tudo por uma boa razão e para seu bem, apesar de muitas vezes ter resultado em zangas entre os dois. Além dos seus pais, Francisco foi acompanhado por treinadores desde cedo. Inicialmente o mítico surfista da Caparica, Hugo Zagalo, e mais recentemente pelo grupo de treino que é quase obrigatório para um surfista na sua posição, a Surftechinique. Pelo caminho ficaram mais segundos lugares do que títulos. A sua idade colocou-lhe pela frente alguns adversários de peso que lhe foram roubando o primeiro lugar. “Inicialmente ficava sempre em segundo atrás do Kikas (Frederico Morais), nos sub12 e sub14, e quando ele subiu para sub16 tive ali dois anos com o Vasco (Ribeiro). Depois passei para os sub16 e fiquei sempre em segundo atrás do Zé (Ferreira), até que no penúltimo ano de sub18 ganhei e no ano passado não corri!” Desde o primeiro momento em que foi patrocinado, aos 12 anos, até hoje, Alves conta com muito bons patrocínios. Excepto durante três ou quatro meses entre o fim de 2009 e o início de 2010. Alguns anos depois de ter passado da Oakley para a Rip Curl, Francisco aceitou um convite para entrar na Quiksilver que lhe oferecia melhores condições. No entanto, no fim desse ano, apesar de ainda haver interesse da marca em continuar a patrociná-lo, Francisco e o seu pai optaram por esperar por uma oferta melhor. Mas o tempo foi passando e quando a situação começou a parecer complicada, pois os budgets são definidos mais cedo no ano, surgiu novamente a Rip Curl. É um acontecimento raro, um surfista sair de uma marca e voltar, mas acontece. Mesmo tendo saído, Xico não tinha perdido contacto com o team manager a nível europeu que, quando soube que ele estava disponível novamente, uniu esforços a nível europeu e nacional para conseguir este regresso”. “É sempre um risco, ficar sem patrocínios é horrível. Ter uma marca que nos apoia é um prazer e a melhor coisa do mundo, sermos pagos para surfar”, comenta Francisco. “Na altura não pensava muito nessas coisas, hoje em dia já penso mais, porque tenho de mostrar mais serviço, são as coisas normais da vida. Mas achei sempre que ia ficar tudo bem e que se ia resolver. Tenho contrato até Junho de 2013 mas acho que numa marca e numa relação não é preciso só dinheiro, acho que o apoio do patrocinador é sempre importante, não é só dizer, toma, está aqui, agora desenrasca-te. Eles estão sempre presentes e ajudam-me imenso em tudo o que preciso.” À Rip Curl, Francisco juntou os patrocínios da Reef, Creatures, pranchas SuperBrand e Futures Fins, e assim ficaram criadas as condições para que este surfista tenha uma verdadeira oportunidade de, juntamente com outros talentos da sua geração, fazer um nome fora das nossas fronteiras. O público português está de olho nele... OF
........................................................................................................ [ D ES T AQUE ] Full rail attack em S. Torpes. [ SEQU Ê NCIA ] Um dos fortes deste surfista é ter no seu repertório moderno manobras diferentes e progressivas para fazer em secções onde se espera outra coisa.
photos by carlospintophoto.com texto by Fernando Pisco legendas by ONFIRE ........................................................................................................... A descrição da viagem que se segue conta os devaneios de um surfista comum que quis procurar o lado roots do surf em Marrocos, na mesmíssima altura em que Frederico Morais e os irmãos Guichards afinavam o seu surf nas águas do deserto de Alá!
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....................................................................................................................................................... Se há algo que convém teres para explorar os picos do deserto de Marrocos é um bom jipe pois só assim terás acesso a algumas gemas escondidas das terras de Alá. Foi isso que permitiu a Frederico Morais surfar, desta abusada forma, esta onda.
Horas intermináveis sentado ao volante, alternando entre uma nalga e outra para ver qual ficava menos calejada; longos e profundos buracos negros debaixo dos olhos; tímpanos quase inertes graças ao graves decibéis de sonoridade “kin, kan, kun” gritados pelos desgastados amortecedores do corpo ferrugento que me suportava valentemente sem se desconjuntar de vez – valeram-me as exostoses para não estranhar o fenómeno da surdez; cara coberta de espessa penugem preta com algumas zonas brancas, que teimam em reproduzir-se com o passar dos anos, e que pareciam pedir uma bola como se fossem uma marca de grande penalidade; cabelo lambido por duas mãos que, incontáveis vezes, mergulharam no precioso líquido que mais uns bons quilómetros para sul teimaria em gravemente escassear... Um percurso doloroso, solitário, infindável... Pranchas no carro, latas e latas de sardinha, atum e de todas as famílias possíveis de feijão - desde o religioso frade ao escorregadio manteiga, sem esquecer o selvagem vermelho -, dezenas de placas rectangulares cobertas por chocolate, açúcar, sal e passas, entre muitas outras “especiarias”, e, no banco ao lado, um batalhão de alma vazia que outrora pertenceu ao mesmo regimento dos seus irmãos de plástico que ainda viviam afortunados, no banco de trás, com o líquido que foram destinados a carregar e que, na teoria, serviria exclusivamente para enfiar pela minha goela abaixo, nunca para tentar afogar a sujidade do meu couro cabeludo... Agora sim, via com clareza que algo não deve ter funcionado muito bem no meu cérebro quando decidi que não poderia haver nada mais surf roots do que me aventurar sozinho pela linhas de alcatrão que ligam a minha amada Damaia até à longínqua vila de Taghazout. Hoje muito famosa é verdade, mas não para mim, que quis lá chegar sem usar mapas, GPS e muito menos a ajuda do vocabulário. Quis chegar lá por mim, pelo instinto de percorrer a costa de Marrocos, guiando-me apenas por sinais impossíveis de ignorar. Se as 24 horas de Le Mans parecem ser infernais, então o que dizer das mais de 56 horas de Le Marrocan que fiz, onde nem o tão falado fenómeno das cabras a enfeitar árvores ao melhor estilo bola de Natal me satisfizeram pois, pura e simplesmente, não vi nem uma. Talvez só de noite é que estes ruminantes de cornos protagonizassem tal proeza! Mas havia alguma esperança nesta minha tentativa de tentar o mais possível sentir o que surfistas, há mais de 50 anos atrás, sentiram ao deambularem sozinhos ao sabor dos trilhos de uma costa: o encontro de perfeitos point breaks de direita. Anchor Point estava à vista, ao contrário do que me fez cometer esta louca viagem de carripana, as ondas! Até a poça onde tinha os pés mergulhados para sentir as temperatura da água marroquina tinha mais ondas surfáveis que o famoso point break. Foi nesse momento que me veio à cabeça o incontável número de pranchas, fatos e todo o restante branding do surf,
Não só nos picos do deserto surfaram os irmãos Guichard, e não só manobras mais clássicas fizeram os gémeos habitantes do sul de Portugal. Luca Guichard, com direito a plateia, abusou estupidamente neste aéreo reverse! .................................................................................................................................................................................
que há uns minutos atrás me deixaram de queixo caído quando passava pela rua principal de Taghazout à procura do caminho para este pico. Sabia que Taghazout era hoje uma comunidade bem viva de surf, mas nunca imaginei que desta dimensão. Como poderia encontrar o lado mais roots do surf aqui? Com um rabo que me faria ser aceite em qualquer comunidade de babuínos, completamente exausto física e mentalmente (pela falta de ondas), aspecto vadio e odor corporal pouco aconselhável até para os mais tesos narizes do momento, o calor do fim de tarde começou a afectar-me, provocando-me visões do que me parecia ser Frederico Morais acompanhado de uma das maiores lendas do surf mundial, Richard “Dog” Marsh! Lights out... Acordei a meio da noite abanado por um mão enrugada, enfeitada por cinco unhas grandes, sujas e onde uma delas conseguia sobressair mais que todas as outras, adornada por uma “tattoo” interna que abusava das cores negras e amarelo cor de “cerol”. Um simpático mas nervoso sorriso, camuflado por uma cara ainda mais enrugada que a mão que nesse momento já me esbofeteava, foi a primeira coisa que vi quando voltei a mim. Só mesmo as estrelas e uma lua cirurgicamente dividida ao meio me deixavam observar o marroquino que, por obra do destino, foi quem me informou enquanto partilhávamos um chá por ele servido com toda a pompa e circustância local, que tinha ouvido dizer que os portugueses presentes em Taghazout iriam aventurar-se no deserto à procura de ondas. Foi simpático o suficiente para me fazer um mapa e eu fui crente o suficiente para nele acreditar. Rezei para que a poça de onde tirava a água para mais um banho instantâneo não fosse a mesma onde há umas horas atrás tinha mergulhado os pés Enfiei-me no carro e rumei a sul, com esperança nas ondas e em dividir o pico com um dos maiores valores nacionais. Com o sol a nascer, fui-me recordando da conversa com o local marroquino, antigo pescador e actual dono de um café em Tagazhout famoso pelo seu mega pequenoalmoço, e que tanto me descreveu e insistiu para que o provasse, e que muita dificuldade teve em perceber que o que queria provar era água salgada em forma de ondas. “Do mar já estou farto e cansado...”, respondeu. Além de Frederico Morais, que tinha também consigo um homem cheio de máquinas de fotografar, soube que mais dois portugueses, fotocópias um do outro excepto no tamanho do cabelo, estavam também pelas terras de Alá. Não foi preciso muito para chegar à conclusão que seriam os irmãos Guichards, locais do sul de Portugal e que só por isso contaram com menos 300 quilómetros na maquinaria do seu carro para chegar onde me encontrava (mal sabia que, muito provavelmente, tal como Frederico Morais, tinham chegado a Marrocos em meia dúzia de horas e da melhor forma possível, a aérea). A Fé move montanhas, segundo dizem, mas se em vez disso indicasse o caminho pelas poeirentas estradas do deserto fazia melhor figura. Se por onde andei – ainda
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O mesmo surfista que viu mais perto do que ninguém a abusada manobra de Luca Guichard na página anterior, teve a infelicidade de não ver esta explosão de energia de Joackim Guichard pois assim voltaria a casa não só com lições práticas de performance como de power surf. .........................................................................................................................................................................
hoje não sei bem - houvessem montanhas, talvez então a Fé pudesse ter brilhado. A única coisa que brilhou foram os meus olhos quando finalmente encontrei finalmente o desejado point break do deserto, sem vivalma por perto, e com ondas bem fun... Mas até chegar a este momento, que na teoria não deveria ter demorado mais de algumas horas, passaram-se dois dias. Em que parte do caminho é que errei? Não quero nem tentar perceber! Valeram-me as casas que do nada surgiam timidamente, e onde, a troco de alguns dirham, consegui, por vezes, abastecer o estômago com tajines recheadas de bolinhas de borrego, visto que o meu carregamento de latas e bolachas já há muito que tinha desaparecido. Se pedir direcções para um destino na nossa língua é muitas vezes uma tarefa herculeana (a velha história do “não viras na primeira, passas a segunda, na terceira segues em frente e depois na quarta rua, não, nessa também segues, depois na quinta é que viras”), então agora imagina pedir direcções noutra língua. Apontei para o mapa, para o mar, desenhei ondas, tirei a prancha e pus-me em pé para simular o que pretendia mas todos eles riram-se, bateram palmas e pediram para repetir o “teatro”. Alguns começavam aos berros, pelos vistos a chamar crianças e idosos, que apareceiam não sei de onde para me ver. Chegaram mesmo a atirar-me uns dirham! Queria um feeling roots, e, na realidade, mais roots não poderia estar nesse momento! Perdido no deserto à procura de ondas e com dificuldades em comunicar com os ocasionais locais que apareciam... Só de pensar que algures, naquele momento, os Guichards e Frederico Morais se banqueteavam com surf... Os meus devaneios pelo deserto já duravam há dois dias. A única coisa que tinha como certa era uma bússola com a qual sabia a direcção do mar. E era nessa direcção que seguia, numa condição física que nem aqui me atrevo a descrever, mas cheio de crenças que iria chegar ao objectivo.
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Lembro-me de ter lido algures que alguns cactos do desertos produziam frutos comestíveis e, apesar de ainda ter algum abastecimento, quis experimentar um dos lados mais selvagens da condição humana: ter de providenciar o meu próprio alimento. Loucura do sol ou efeito de algum chá alucinogénio que me tinham oferecido, decidi parar e fazer um pitoresco monte de enlatados na berma da estrada. Atum, sardinhas e feijão, compuseram uma bela escultura metálica, certamente um paraíso de comida para quem encontrasse aquela tentativa de obra-prima. Graças a Deus não caí no erro de deitar fora a água que me restava pois provavelmente, se o tivesse feito, não estaria neste momento a contar esta minha aventura. Vegetação era algo que não faltava onde me encontrava, talvez por ainda não estar no coração do deserto mas sim na sua perifieria (ou talvez até perto desta ainda), e os famigerados cactos abundavam. A fome apertou, e foi tempo de me transformar num colector. Depois de mil cuidados para não me picar 10.000 vezes para apanhar o desejado fruto, alcancei-o e passei-o em velocidade relâmpago da mão para a boca! No momento em que o trincava, comecei a sentir picos na mão e, como é fácil imaginar, muito rapidamente essa sensação passou-me para a boca. Vim a saber mais tarde, já de volta a Taghazout, e pela boca do meu velho amigo marroquino, que esses frutos têm uns picos quase invisíveis a olho nú! Acreditem ou não, essa foi também a minha salvação... Passei horas sentado no carro, já com o mar como pano de fundo mas sem fazer puto de ideia onde se encontrava o tal pico, a tirar as dezenas de picos das mãos, língua e lábios, e foi passado umas horas que vi, no meio de cactos e arbustos, uma imagem familiar para qualquer surfista: pranchas a cortarem a poeira do deserto a mais de 100Km/h, acentes no tejadilho de um carro. Ignorei os picos e meti prego a fundo para descobrir o caminho por onde esse carro passava (infelizmente na direcção contrária à que eu queria). Enquanto galgava arbustos e desfazia cactos em mil pedaços – com um grande prazer de vingança presente em todo o meu corpo – invejava, ao mesmo tempo que admirava, aquele carro, pois sabia que o bando de surfistas do seu interior tinha passado as últimas horas a fazer o que eu mais queira, surfar! A Fé não moveu nenhuma montanha mas mostrou-se através de marcas de pneus na terra... Era assim que se revelava o meu sinal para a perfeição: através de marcas de pneus Pirelli P6000 (trabalho numa oficina de carros e sou especialista em pneus). Acreditem ou não, quando cheguei ao pico e me deparei com as desejadas ondas sem ninguém na água, ajoelhei-me e rezei como os marroquinos. Não faço ideia se na direcção certa mas foi o que me pareceu certo no momento. A noite já se tinha instalado e não tive por isso outra hipótese senão acender uma fogueira e dormir a noite mais tranquila da minha vida! Fui acordado um pouco antes do nascer do sol pelo barulho de um carro a chegar. Dois simpáticos surfistas, um francês e um espanhol, tinham ouvido os relatos de Morais e Guichards sobre as ondas que tinham apanhado no deserto, nenhum swell extraordinário mas sem crowd e bem fun. Decidiram meter-se a caminho. Um deles já cá tinha estado pelo que em vez de dois dias demoraram umas horas. Partilhámos uma chávena de chá (cortesia deles pois eu não tinha mais do que frutos do deserto para lhes oferecer – que eles recusaram graciosamente), antes de vestirmos os fatos para dar início áquela que seria a primeira partilha de ondas sem ninguém e que duraria cinco dias seguidos. Dividiram a comida que traziam comigo, partilhámos histórias e voltámos juntos para casa, Taghazout (aproveitei para fazer o meu mapa privado), onde, antes de partir de volta para a Damaia, passei uma última e relaxada noite. Na manhã da partida a minha última refeição em Marrocos foi o famoso pequeno-almoço do meu enrugado amigo marroquino que, apesar de me ter feito andar às voltas pelo deserto, de alguma misteriosa forma conseguiu com que encontrasse o que buscava: o lado roots do surf. Será o que o fez propositadamente? Só Alá o sabe... FP
........................................................................................................................................................ No início da sua ascensão, Frederico Morais foi criticado por alguns por só se concentrar no power surf. Hoje, o surfista do Guincho, domina os aéreos como poucos da sua idade, e, sem margem para discussão, está na vanguarda do power surf no seu escalão!
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Ruben Gonzalez, Canรกrias. | photos by carlospintophoto.com
Tomรกs Valente, Guincho. | photos by carlospintophoto.com
photo by Mauro Motty
photo by Mauro Motty
Dane Hall, Supertubos. | photos by Diogo Soutelo
Nicolau Von Rupp, L-Point. | photos by carlospintophoto.com
João Guedes, Praia Internacional. | photo by Tó Mané
quais os projectos que tens estado envolvido ultimamente? os desenhos em cadernos de viagem, que já se fazem desde o renascimento ou desde o tempo das grandes descobertas, ganharam hoje através dos blogs uma visibilidade nunca antes vista, nunca se venderam tantos livros sobre sketchbooks, carnés de voyage, ou diários gráficos. o site internacional “urbansketchers” ganhou um dimensão nunca esperada, na imprensa e na televisão recuperou-se a ideia da documentação de viagens ou de lugares através do desenho. nos últimos anos tenho participado em livros editados sobre diários gráficos, editei o livro en2 sobre a estrada nacional 2 que percorri numa carrinha pão de forma escrevendo e desenhando pelo caminho, fui narrador e desenhador no documentário da rtp2 “De angola `z contra costa” sobre a viagem de capelo e ivens, e mais recentemente fui co-autor, juntamente com o pedro adão e silva, do livro “tanto mar”, as praias de portugal, de caminha a vila real de santo antónio.
.................................................................. texto by Jo ã o re i ..........................
JoãocaTarino
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Dá-nos uma breve introdução à tua pessoa como artista. quando e como começaste, o que tens feito e o que te define, te diferencia e te relaciona com a arte. tenho vindo a desenvolver trabalho que se aproxima do universo da ilustração, das artes gráficas e sobretudo dos desenhos de viagem feitos em cadernos de viagem independentemente de estar ou não a viajar. com os cadernos posso desenhar fora do atelier. nos cadernos desenho pessoas, coisas que se atravessam no caminho, momentos de espera, rotinas que os desenhos podem transformar em viagens, ou mesmo viagens fantásticas lado a lado com as coisas banais, dou largas ao impulso ansioso de como o desenho pode fixar alguns momentos de uma forma muito intensa da vida que passa. asfixia-me o espaço e a pretensão de pensar fechar-me num atelier a produzir obras de arte, não tenho essa qualidade, ou talvez o apelo do ar livre ainda seja demasiado forte.
quais os teus materiais preferidos? claramente materiais portáteis que sequem rápido como canetas, pincéis, tinta da china, aguarelas e cadernos artesanais de desenho com capa e contra-capa rija, sem argolas para os desenhos poderem se estender livremente sobre as duas páginas. que relação encontras entre o surf e a arte? É a arte que influência o teu surf ou o surf que inspira a tua arte? o surf é para mim essencialmente uma experiência estética e contemplativa, só depois vem o lado performativo e o vício da vertigem. o quadro fica perfeito quando os elementos se combinam num dia de metro glass, água turquesa e ondas perfeitas, o surf deve enquadrar-se nesta composição, desenhar curvas redondas com o mínimo de quilhas, sem quebras nem demasiada água para fora. É inevitável que o surf contamine os desenhos que faço, o que eu gostava era de desenhar com a quilha na água, com a mesma facilidade com que o faço, com o pincel no papel, mas isso já não vai lá com o tempo, embora surfe há já uns bons anos, o desenho já leva muitos mais de vantagem. Jr
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Um amigo meu deixou de treinar comigo porque disse-me que uma vez por semana não chegava e foi treinar para um ginásio. Um treino por semana da condição física para o surf é pouco? não me parece. este programa é muito equilibrado e para a maioria dos surfistas dá e sobra. treinamos a força, a resistência, a flexibilidade, a técnica do surf e a condição física específica para a modalidade. inicia hoje a tua semana de cross training. tenho a certeza que é mais do que estás a fazer de momento. Zs
.......................................... texto by Zaca soveral photo by carlospintophoto.com
traininG cross
a nossa querida modalidade exige determinadas condições que nem sempre se proporcionam, e lá passa mais um dia da semana em que não fizemos exercício. trabalhei muito anos nos famosos healthclubs. constatei que nem toda a gente gosta de treinar neste tipo de espaço. Que outras soluções existem para treinarmos com qualidade e resultados? em 2010 iniciei umas aulas especificamente para o treino da condição física para o surf na intenção de colmatar esta lacuna. no princípio deste ano passei de duas para uma aula por semana. tomei esta opção porque ninguém fazia sistematicamente dois treinos por semana sem faltar mas o cerne da questão reside no facto de que um treino por semana apenas não equivale a um treino por semana mais uma ou duas entradas no mar (o que assim representa dois a três treinos por semana). se adicionarmos mais um dia de corrida, btt ou saltar à corda já vamos em quatro dias de treino por semana. mais um dia de elevações e flexões (4x 10 a 15 repetições cada) que podemos fazer em casa e temos cinco dias de treino por semana. para completar este esquema semanal de cross training (tipos de treino diferentes), basta dedicar um ou dois dias da semana a sessões relaxantes de alongamentos (que irei abordar no próximo artigo) que também podemos fazer em casa em dias alternativos. o factor de treino mais importante é a frequência de treino. Um professor meu da faculdade dizia que para um indivíduo aumentar a sua força bastava empurrar ou puxar com carga exigente. o tipo de exercício ou a intensidade do esforço são factores significantes mas o número de treinos por semana assumem uma maior importância. a variedade dos estímulos também beneficia o praticante.
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. Joackim . . . . . . . . . .guichard . . . . . . . . . .pode . . . . . .não . . . .fazer . . . . . cross . . . . . . .training. ..............................................................
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a semana tem sete dias. entre as horas de trabalho e outros afazeres incontornáveis (como surfar!) sobra-nos por norma pouco tempo para treinar a condição física. o surf como modalidade única é, na minha opinião, insuficiente para o comum mortal...