ONFIRE 58 | Only 4 The Ones Who Breathe Saltwater | Aug-Septl 2012

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www.onfiresurfmag.com | nยบ58 ano X | Agosto Setembro 2012 bimestral pvp cont 3euros [iva 6% inc]



*A vida é melhor de calções!



*Primeiros a entrar, últimos a sair. **Junta-te a 60 anos de inovação!

O’Neill Portugal: oneillportugal@sportzun.com



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*”Ele é um esquilo voador - sempre no ar mas aterra sempre em pé.” - Comparação do reino animal feita por Reef McIntosh’s sobre Clay Marzo. **Para veres a bio do Clay vai a: DCShoes.com/surf




Tens de concordar que a Rute Penedo, como já percebeste a modelo preferida da ONFIRE, é um excelente sinónimo de um Verão excelente! photo by carlospintophoto.com

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Temos tantos alucinantes momentos de surf de Frederico Morais no nosso arquivo que (quase) já olhamos para eles sem perceber o seu real impacto. Qualquer um desses faria capa em qualquer revista mas nós quisemos aguentar por um que nos rebentasse as órbitas dos olhos. E aqui está ele!!! | photo by carlospintophoto.com

...................................................................... .024 Feedback .026 Coffeebreak .028 Stuff .030 Check-Out .032 DNA .034 Opinion Lider .036 OF Virtual .037 Chill’Out .038 À Deriva .040 Uma Pedrada no Charco .078 Hotnights .080 Art Riders .082 Preparação .....................

Na Surftrip desta edição poderás descobrir a loucura que é o Verão dos surfistas portugueses que fazem peregrinações a França e Espanha. Entre muitos campeonatos, estes aproveitam também para muito free surf onde treinam todo o tipo de manobras. Por norma, o Verão tem mais dias de ondas pequenas do que com tamanho. Mas quando os dias de swell maior entram, então o surf tem de estar à altura. Ou seja, se num dia de meio metro um surfista como Frederico Morais voar meio metro acima do lip, num dia de metro e meio sólido, Morais faz questão de voar, no mínimo, um metro e meio acima do lip. Foi este o deal combinado com o fotógrafo Carlos Pinto (da casa ONFIRE) antes desta sessão. Todos concordamos que este foi um negócio fechado da melhor forma possível para ambas as partes não? OF

.012 Sinopse

.................................... É só isto que queremos... consegues adivinhar sem escrevermos aqui ao que nos referimos?

.016

Xpression

............................ JFA significa Japan Football Association (Associação Japonesa de Futebol) para o Google mas para nós são as iniciais dos primeiros nomes dos três surfistas da Xpression. Conseges descobrir quem são?

.044 Análise

RubenGonzalez TrainingCamp

.................................. Este ano foram as curtas mas perfeitas ondas do beachbreak da praia das Maças as escolhidas para receber a futura geração portuguesa de surf que esteve debaixo de olho do icónico Ruben Gonzalez no seu Training Camp.

.050 Destinos O

Paraíso dentro Paraíso

do

........................ As Mentawai são o paraíso que todos sabemos mas descobrimos um outro paraíso dentro deste, o primeiro resort de luxo, Kandui Villas. Prepara-te para uma viagem alucinante...


.056 V1DA5

Surf nas Veias

.................................... Entrevistámos um dos mais carismáticos e divertidos surfistas portuguesas da geração dos ano 90, Mica Lourenço. Podes ficar a saber tudo sobre o passado e presente deste local da Ericeira.

.064 Surftrip

Summer M a d n e s s

.................................. Imaginas-te a passar o Verão Europeu em França e Espanha a acompanhar os portugueses mas instalado que nem um lorde numa mega limusina? É esta história baseada em factos verídicos que podes ler na Surftrip desta edição.


Algures em Julho passado aconteceu algo que me deu uma nova percepção sobre a dimensão que o surf já tem no nosso país. Foi durante o Billabong Pro J-Bay, que este ano foi uma etapa do WQS em vez de WT. Depois de passar alguns heats Vasco Ribeiro chegava ao round de 24, um resultado que já se podia considerar muito bom. O heat era difícil, contra uma dupla de havaianos que nunca hesitaria em marcar o português se se proporcionasse. Mas não proporcionou, Vasco abriu com uma nota de 7 pontos e pouco depois marcou 10 noutra. No entanto, deste lado do mundo estava um número incontável de portugueses a entrar em desespero. Isso porque, no momento em que decorreu o heat do português, houve um problema técnico, o webcast não estava a funcionar nem a onda do 10 (ou sequer do 7) ficou gravada. Na falta de outro sitio para protestar, o facebook ficou “ONFIRE”. Atacava-se a marca, a ASP e mais qualquer outro potencial culpado que nada tinha a ver com este problema temporário. Mas a “multidão” não estava satisfeita (pelo menos até à ONFIRE lançar um vídeo da onda umas horas mais tarde). Isso para dizer que, com esta falha ganhei/ganhámos a percepção de que não é só quando o circuito nos bate à porta (i.e. WT de Peniche) que as pessoas se lembram de ver e acompanhar os melhores portugueses a dar luta aos melhores do mundo. E sempre que Tiago Pires, Frederico Morais, Vasco Ribeiro (e brevemente outros os seguirão) entram na água a “carregar” a bandeira do nosso país, o público português para o que está a fazer e acompanha. Porque o surf é o nosso futebol!!! ................. António Nielsen

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Muito recentemente falava com o Nicolau (Von Rupp) da forma como as nossas gerações viveram um lado muito específico do surf, as viagens. Ao mesmo tempo que era “agredido” por ser “velhote” - diariamente e durante 10 dias diga-se -, perguntava-lhe se alguma dia tinha tido uma surf trip no sentido mais puro (pelo menos para mim) possível, ou seja, algo como passar uns dias acampado o mais perto possível das ondas. Ter de fazer fogueiras para comer, aliviar a tripa em cima de uma duna sempre com um olho nas ondas, conhecer alguém na praia que com o passar das horas dentro de água acaba por nos convidar para um jantar em sua casa, “obrigando-nos” ao abandono de tendas e pertences (excepto pranchas e fatos) por umas horas e rezando para que ninguém resolva roubar o nosso abrigo que, para azar, tem um buraco no tecto por onde a humidade da noite não pára de entrar. Ele confessou-me que, excepto uns acampamentos com o João de Macedo, realmente “sofria” do modernismo das surf trips de hoje, uma bela e confortável cama num bom resort ou barco. Óbvio que em nada sou contra este tipo de viagem/conforto mas sinto que teria perdido muito do que o surf para mim significa se não tivesse passado por acampamentos selvagens, sem as “mordomias” da evolução que o surf hoje sofreu. Claro que este tipo de viagem continua a ser possível mas, infelizmente, não me parece que seja a primeira opção de toda esta geração de surfistas. Mas esta opção é para mim, neste momento, o equilíbrio, pois se de um lado está o acampamento selvagem, no lado oposto estão os resort de luxo para surfistas. No Destinos desta edição mostramos-te o primeiro resort de luxo das Mentawai e, a conclusão a que chego, apesar de nunca lá ter estado, é que o que realmente interessa, independentemente de dormitares debaixo de uma tenda rota, num barco ou num resort de luxo, é teres as ondas que sempre sonhaste à tua frente! ............... Nuno Bandeira

.............................................................................................................................................................................................................. Independentemente de estar acampado numa tenda com buracos, de estar num barco que mete água ou de ter o esqueleto deitado nas delicadezas de um resort de luxo, o importante para qualquer surfista é ter ondas como esta ao seu alcance. | photo by Kandui Villas

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DistribuĂ­do em Portugal por: www.marteleiradist.com info@marteleiradist.com Tel. 21 297 20 54



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Quantas vezes já não sonhaste em dar um aéreo? Ao ponto que até te passou pela cabeça arranjares uma forma mecânica para te ajudar a elevar pelos céus de uma qualquer praia. Um guindaste seria sem dúvida a melhor opção, e até serias o primeiro surfista a cometer um feito destes no mundo. Esquece, o algarvio Alex Botelho antecipou-se mas, ao contrário de ti, não precisou da ajuda do guindaste para se elevar pelos céus! .................................................... photo by João “Brek” Bracourt


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Sabias que uma pergunta só é considerada uma pergunta se não souberes a resposta? Então porque é que ainda te perguntas se o Zé Ferreira terá saído deste tubo em Greenbush, Mentawai, se sabes perfeitamente que saiu, ileso e cheio de adrenalina a jorrar-lhe de todos os poros do corpo a mil à hora? ............................................................................................... photo by carlospintophoto.com


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Temos perfeita noção que procuramos sempre o momento mais high performance ou mais power possível para as páginas de cada edição da ONFIRE. Por isso, muitas vezes esquecemo-nos de um elemento primordial, muito em voga nos anos 80 e 90 mas que nas últimas décadas saiu um pouco da luz da ribalta, a verticalidade. Este momento do Francisco Alves fez-nos relembrar que por vezes não precisamos de uma áereo animalesco ou de um super carve para ficarmos todos excitados para ir surfar, basta uma sticka bem vertical e certeira no pocket da onda! ........................................................................................... photo by Hugo Valente



*O fato mais rápido do mundo a secar. **Faz um scan com o teu telemóvel para mais notícias do flashbomb+


FEED

ME

BAC

K

Acabei de reparar numa coisa deveras interessante... Se juntar os títulos dos dois Feedbacks desta página fico com a seguinte frase:

“Não por um mas por dois anos quero mais loucura!” O que significa isto? Pode significar muita coisa, desde mensagens subliminares do meu subconsciente a associações das loucas festas de Verão . Ou simplesmente, que sei juntar um mais um!

ON F IRE I n s t a g r a m n a s m ão s d o Óscar ............................................................. Pedíamos ao Sr. Óscar, sim, o mesmo responsável pelos de Hollywood para agarrar nos Instagrams da ONFIRE, fazer categorias e escolher a foto vencedor. Aqui fica o seu trabalho. ............................................................. Óscar “Mais Quiducho”:

Vasco Ribeiro e Cannelle Bulard em França. photo by carlospintophoto.com

.................................................. Óscar “Verão Perfeito”:

Mais um momento explosivo de Marlon Lipke em Barcelona onde a sua expressão parece dizer: “Aiiiii Barça, quando eu te apanhar épica andarei por dentro de ti com a mesma intensidade com que agora abuso na rotação do meu tail para cima e frente. | photo by carlospintophoto.com

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Praia Pequena. photo by ONFIRE

............................................................. Óscar “Socialight do Verão”:

Não por um mas por dois anos... Escrevo para vos dar os parabéns pelo vosso trabalho! Faço surf desde 1998 e já não comprava uma revista de surf portuguesa faz muitos anos. Costumava comprar a revista de Surf Portuguesa mais antiga e de tão antiga que é nunca saiu da Pré-História! Por isso deixei de comprar mas nos finais de Julho estava no aeroporto à espera do avião para ir para casa e resolvi comprar a edição de Junho da ONFIRE... porque adorei a capa e disse para mim (deve ser uma revista de surf interessante). Acabei por ler a revista num instante... Cheguei a casa e disse: “vou assinar esta revista não por um ano mas por dois anos”! Abraço e continuem o bom trabalho. _ Ricardo Queiros

Olá Ricardo, como já tivemos oportunidade de te dizer, muito obrigado pelo Feedback e por todos os elogios. Estamos a tentar trabalhar no sentido de não se ler a “revista num instante”, eheh. Óbvio que percebemos o que queres dizer mas se conseguíssemos uma espessura de revista como uma das três grandes americanas, de certeza que necessitarias de umas duas ou três viagens para a leres. Mas, muito provavelmente, para isso, o mercado também teria de ter a quantidade de surfistas do Uncle Sam. Ah, e como ouvimos dizer que vês a praia da janela de tua casa, que tal enviares um shot dessa vista aqui para nós. Grande abraço! ............................................................................................................................................

Filipe Jervis e Pedro Boonman tentam postura “socialight” durante o Internacional Surfing Day em Cascais. Empate técnico pelo que têm de dividir o Óscar. photo by ONFIRE

............................................................. Óscar “Mais Nojento”:

Quero Mais Loucura!!! Hola! Qué tal? Não, não sou espanhol mas já ando a trabalhar nesta língua pois conto, para o ano, em estudar durante seis meses onde... Barcelona. Andava angustiado pois pensava que ondas lá eram praticamente inexistentes mas depois de ver a última ONFIRE... Já só me imagino a surfar naquelas praias altamente urbanas com aquele cenário todo. Até me imagino a dar manobras daquelas eheh, mas esta, infelizmente, sei que não será uma realidade! Entretanto, ao ler o Enredo da foto da capa, percebi que o Marlon e companhia irã voltar a Barca quando estiver épico. Pedia-vos que nessa reportagem, tentassem falar um pouco mais de como têm de estar as condições para haver ondas lá. Obrigado pela atenção e parabéns por mais um grande número! _ Renato Sousa

Olá Renato. É verdade, Barcelona tem ondas e com bem mais frequência do que muitos pensam. Essa viagem deverá acontecer neste próximo Inverno por isso esperamos que uma dessas edições te mostre os inacreditáveis tubos desta pitoresca cidade. Teremos em atenção relativamente às dicas que pedes para esse artigo, afinal, estamos cá para servir os nossos leitores com todas as mordomias que eles nos pedem. E o teu pedido, comparado com alguns que às vezes no pedem, acredita, que é o mais fácil de fazer. 24 ONFIRESURFMAG.COM

Matadouro de moscas! photo by ONFIRE

............................................................. Gostavas de submeter os teus Instagram ao Sr. Óscar e ver se ele o inclui em algum das suas estranhas categorias. Se estiveres para isso envia-o para staff@ onfiresurfmag.com. Se não estiveres para isso, nós continuaremos a inventar com os nossos!



R i p Cu r l

G i v e A w a y

........................................................................................................................................................ O maior evento de surf realizado em águas portuguesas, o Rip Curl Pro Portugal, está quase a chegar. E para comemorar este acontecimento a Rip Curl decidiu oferecer esta pack a um leitor atento da ONFIRE. Para ganhar tens de responder às seguintes perguntas: 01 . Dizer quem é o teu patrocinado preferido da Rip Curl. 02 . Dizer quem são os teus 10 surfistas preferidos que fazem parte do World Tour. 03 . Ir ao site da marca (www.ripcurl.eu) ver (e escrever) o teu modelo de fatos preferido. 04 . Estar atento ao website da ONFIRE pois é lá que vais encontrar o código “Rip Curl GiveAway” e um desafio novo que temos para ti. Por isso já sabes, fica atento é depois é só juntar tudo e enviar para staff@onfiresurfmag,com, se fores o primeiro com tudo correcto serás o vencedor!!! Good Luck!!!

Vencedor ONFIRE 57

...................................................................................................... O Rhythm GiveAway foi um dos mais concorridos dos últimos tempos. No entanto, havia um leitor que estava Ex p o s i ç ã o muito atento e respondeu assim que o código foi disponibilizado “The Reincarnation of a Surfboard” na internet. O seu nome é Carlos Melo e como foi o mais rápido, por I t h a k a ganhou este belíssimo pack. Parabéns. ............................................................................................................ É já no próximo dia 23 de Novembro, a partir das 19 horas, na Way of Arts [www.wayofarts.com] que o conhecido artista Darin Pappas “Ithaka” volta a apresentar o seu trabalho. Esta exposição é uma viagem nesta nova dimensão do Universo de Ithaka. Ithaka vai apresentar as 14 novas peças, todas pranchas reencarnadas e inspiradas no ambiente que o rodeia. Um evento a não perder!!!

5 de Agosto Vasco Ribeiro, tal como Frederico Morais venceu todos os heats desta etapa de duas estrelas, o Wharld Pro Junior, T i m e l i n e à final. Caso garantisse o primeiro ou Agosto Setembro segundoaté lugar, o título Pro Junior Europeu seria 2012 seu. Infelizmente os seus adversários Ramzi Boukhiam e Kevin Boulard tinham outras ideias e conseguiram os dois primeiros lugares tendo os portugueses ficado em terceiro (Morais) e quarto (Ribeiro). Assim a disputa do título foi adiada por uma semana. | photo by ASP .................................................................... 13 de Agosto Frederico Morais termina em segundo lugar no AirWalk Lacanau Pro Junior, etapa de uma estrela a contar para o ranking europeu. O grande vencedor foi o surfista da Costa Rica, Carlos Munoz. Foi nesta etapa que Ramzi Boukhiam garantiu o título europeu ProJunior, deixando Vasco Ribeiro como vice-campeão. ................................................................................... 1 de Setembro O Miss Sumol Cup, uma “pérola” entre o calendário feminino da Liga Meo Pro Surf, realizou-se mais uma vez em Aveiro. No meio de muito diversão foi Keshia Eyre que garantiu a taça, deixando assim Ana Sarmento (2º lugar), Carina Duarte (3º) e a líder do circuito Maria Abecasis (4º). | photo by ToMane ............................................................................... 2 de Setembro Marlon Lipke consegue mais um resultado sólido na perna europeia, um 5º lugar no San Miguel Pro Zarautz, um WQS de 6 estrelas. O grande vencedor desta etapa realizada no Pais Basco, foi o marroquino Ramzi Boukhiam. A seguir a Marlon o melhor português foi Frederico Morais, que acabou em 17º lugar. ....................................................................................... 7 de Setembro Tiago Pires termina a sua prestação em 9º lugar no WQS Sata Airlines Azores Pro, uma etapa de 6 estrelas. Tiago mostrou muito surf ao longo da semana e competição e só foi barrado por um Nat Young em grande forma. Mesmo assim foi o melhor português em prova e mostrou-se em forma para as etapas do WT que se seguiam. O eventual vencedor foi o brasileiro Messias Félix. | photo by ASP ............................................................................................................................................................ 17 de Setembro Chega ao fim o Melty EuroSurf Junior, campeonato europeu de selecções realizado em Lacanau, França. A equipa Portuguesa ficou em 3º lugar e os melhores atletas das categorias de surf foram João Moreira (4º lugar sub14), Tomás Fernandes (4º lugar sub16) e Vasco Ribeiro (3º lugar sub18). ......................................................................................................................................................... 17 de Setembro No mesmo dia, um “pouco” mais a norte, em Pantin, Espanha, Marlon Lipke vencia o seu segundo WQS de 3 estrelas do ano, o Cabreiroa Pantin Classic Pro. Marlon assim recuperou a liderança do ranking europeu que pouco antes já tinha sido sua. Também Nicolau Von Rupp e Francisco Alves que acabaram em 13º e 25º lugares respectivamente. | photo by ASP

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*Empenhados no core!


As

Botas de Surf com mais pinta do mundo?

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Filma-te a Surfar [ da areia ] sem precisares de camera man!

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ATENÇÃO, em maiúsculas para te chamar bem a Quem não é o surfista que gostava de ter todas as suas ondas filmadas? atenção, pois, caso não tenhas percebido a 100% Mas, infelizmente, isso envolve bem mais do que uma camera de filmar. Envolve uma segunda pespelo título, as magníficas botas da O’Neill que aqui soa para te... filmar. E, geralmente, esse segundo elemento é um amigo que também faz surf ou a tua te apresentamos são botas PARA SURFAR. Sim, namorada. Seja quem for, o resultado final é sempre o mesmo, filmagens manhosas. No caso do teu parecem umas botas ou ténis que usarias a toda a amigo ele irá, enquanto filma, vestir o fato, preparar a prancha, arrumar as coisas e, depois de 5min. hora e em qualquer lugar mas não será muito boa sentado a “filmar-te”, altura essa em que não irás, segundo as leis de Murphy, apanhar nenhuma ideia pois estas são para usar na água salgada e a onda, arranca para dentro de água. Quando dás por ti, está ao teu lado a mandar-te sair baseado única coisa que é suposto pisarem é areia, coral e a no argumento que é a tua vez de filmar. Caso optes por ser o primeiro a ficar cá fora a “filmar” nas tua prancha. condições que atrás descrevemos, ou seja, mal e porcamente, o resultado será o mesmo pois o teu Foi para celebrar os seus 60 anos de amigo ficará tão lixado quando entrares na água que irá fazer tudo para só filmar as tuas ondas más. inovação que a O’Neill decidiu criar estas botas “Então e se for a minha companheira de vida, a futura mãe dos meus filhos, a minha cara metade, de surf com um design mais do que original num aquela que me roubou o coração?”, perguntas-nos tu usando as mesmas frases que nessa manhã produto deste segmento e, como não poderia lhe disses-te para a convencer a filmar-te. Não interessa! Ela vai aguentar sentada dois minutos - três deixar de ser, altamente confortáveis. no caso das mais resistentes - com a camera, o que não é mais do que o tempo que necessitas para É verdade que chegar ao line-up. Passado esses 120 segundos, ela vai deitar-se a apanhar banhos de sol e, volta e em Portugal as botas de surf são um elemento usado meia, lá aponta a camera para o mar, o céu, a areia, os seus pés, enfim, para tudo menos para ti. basicamente em duas situações: durante o Inverno, Foi por isso que três surfista criaram a Soloshot, aquela que deve ser a ideia mais genial do momento para quem sofre de frio a mais nos pés, ou quem tem pois com a Soloshot podes filmar-te, de terra, sozinho!!! Sim, é verdade! uma daquelas lesões no pé em que só é possível Basicamente tens um aparelho montado num tripé que roda 360º e que seguirá movimento a velocisurfar com uma bota a proteger. dades bem altas (barcos a motor, carros, etc). É nesse aparelho que irás montar a tua camera de filmar, Infelizmente não teao mesmo tempo que “montas” no teu braço um outro aparelho, altamente resistente, confortável e mos as bancadas de coral do Tahiti, e o tipo de funque em nada atrapalhará o teu surf (e obviamente estanque). A camera irá seguir o sinal enviado pelo do que temos mais perto de nos dar ondas perfeitas aparelho que está em ti “plantado” até um alcance de 500 metros (é raro o lineup que não está dentro (e que dá e muito) são as “bancadas” de rocha. Mas deste limite), e é desta brilhante forma que consegues filmar todas as tuas ondas! este tipo de substracto (palavra usada só para dar Sim, parece incrível mas acredita que RESULTA. Se quiseres a prova disso vai ao link um toque mais científico à coisa) também esconde da Soloshot (em baixo) e vê os vídeos... Vais ficar abismado! perigos para os nossos pés: os famosos ouriços do A bateria dos dois aparelhos (emissor e receptor) dura no mínimo 5h mar. Ainda bem que, na maior parte dos spots onde pelo que provavelmente mais depressa ficarás sem bateria na camera. existem com estes bicudos seres, conseguimos pasOu seja, a partir de agora a tua namorada só terá de fazer duas coisas sar bem sem ter de usar botas de surf. caso vá contigo para a praia: apanhar banhos de sol e, caso Estas botas da O’Neill vieram mudar tudo pois necessário, mudar a bateria da camera de filmar. Se ela quise o seu impacto é tal que quererás ter umas seja ir tomar um café ou se nesse dia não estiver para levar a pincelada em que altura do ano for. Mais, sabemos – pois de estar na areia à tua espera (“porque parece que vai chover”) fizemos o teste - que se chegares ao line up e preferindo ir para o shooping com as amigas, não stresses meteres a pata fora de água no meio do crowd com a possibilidade de te roubarem o Soloshot (e a camera) quando vier o set, vai ficar tudo a pensar que és pois este traz duas correntes de segurança, uma para prender maluco por estares a surfar de ténis. O melhor a camera ao aparelho e outra para prender o aparelho e tripé algures. é que te vão deixar ir em todas as ondas para Ah, e caso alguém também chegue à praia e monte o seu Soloshot ver o resultado de surfar com “ténis”. Melhor ao lado do teu não há crise pois cada Soloshot só apanha ainda, se surfares bem (que não é o nosso caso a frequência do emissor do seu “dono”! mas tínhamos uma cobaia profissional a fazer E, perguntas tu, “porque não soube eu disto antes?” o teste connosco), é garantido que pelo menos ................................................................................. cinco surfistas vão sair para calçar os seus ténis, convencidos que assim a sua aderência ao wax w w w . s o l o s h o t . c o m será perfeita. Quando esses se aperceberam que não tem nada a ver, podes prolongar o bluff dizendo que têm de ter estes “ténis” da O’Neill. Deixa-os chegar à loja e perceber que afinal tinhas era umas botas de surf nos pés. Disponíveis em 3mm, no caso da bota, ou em 2mm, no caso do ténis, a O’Neill “calça” assim todas as possibilidades para os teus pés. Vás para o sítio mais gelado do planeta ou o mais tropical, os teus pés estarão sempre protegidos do frio ou perigos do fundo marinho, tudo com um toque de design como nenhum outro. .......................................................... w w w . o n e i l l . c o m


*Personaliza a cor do teu grip. A tua prancha é uma tela branca à espera que mostres a tua identidade única. O Customix Grip dá-te a força para personalizares a tua prancha. As possibilidade são infinitas, a escolha é tua...


................................ photos by Pedro Ferreira ..........................................................................................................

Pedro Moreno das palavras do fotógrafo Pedro Ferreira: “Eu não conhecia o Moreno. Apenas me cruzei com ele uma meia dúzia de vezes mas vê-lo surfar uma vez bastou para o querer fotografar. Abriu-me a porta de sua casa em Matosinhos num fim de tarde, véspera de aniversário e já com os preparativos para uma grande noite de festa! Nascido em S. Paulo, Brasil, chegou a Lisboa em 2005 para dar aulas de surf com o amigo Renato Ribeiro. Foi quando conheceu o Pedro “Pecas” e o João de Macedo, que os acolheram muito bem na então chamada Praia Grande Surf Academia, onde deu aulas durante esse Verão. Voltou a Florianópolis, onde vivia desde os 8 meses de idade, algum tempo depois, mas as saudades da paz e estilo de vida Português rapidamente o trouxeram de volta, ano e meio depois (em 2007). Com o Cory Lopez como grande referência e dono de um surf explosivo, moderno e com boa linha, prefere acima de tudo ondas cavadas e tubulares, para voar e entubar, principalmente em S. Jacinto: “sou viciado nessa onda”. Bem novo, aprendeu a surfar na Praia da Joaquina que continua a ser a sua onda favorita. Chegou a competir em regionais no Brasil, mas apesar do gosto pela competição, por cá, já não pensa em tentar o nacional. Por isso, com o apoio sempre forte da Surf Center, vai destruindo no free surf com a mesma energia e mestria com que lamina o peixe na actividade que descobriu quase por acaso. De brincadeira a caso sério foi um pequeno passo e pouco tempo depois já tinha passado pela maior parte dos restaurantes de Sushi do Porto, passando esta a ser a sua profissão e sustento de vida, adicionando ao mesmo tempo mais uma paixão ao surf. Com o local de emprego actual colado ao mar, se o quiserem encontrar a surfar ou a cozinhar, basta passarem por Matosinhos, e uma coisa vos garanto: no Picaba Natural Café ou numa onda, ele não vos vai desiludir e vão ficar a chorar por mais!” PF

................................................................................. nome Pedro Moreno praia Matosinhos | Joaquina idade 31 anos apoios Loja Surf Center .................................................................................... 30 ONFIRESURFMAG.COM


*Junta-te a 60 anos de inovação!

O’Neill Portugal: oneillportugal@sportzun.com


asPrimeiras de...

NunoMatta ................................

photos by ONFIRE ....................................................

Primeira prancha que shapeaste... Já não me lembro, mas quem a tiver diga que troco por uma nova!!! Primeiro bloco que usaste para shapear... Bennet. Primeira prancha “mágica” que shapeaste... Foi uma para mim, dei uma plainada a mais e ficou com um grande concave. Naquela altura ainda não era comum as pranchas terem concaves tão fundos por isso toda a gente gozava comigo, diziam que era escavações Matta, mas a prancha andava a 300! Primeira viagem para shapear... Rio de Janeiro, Wetworks. Obrigado Ricardo Martins. Primeira grande encomenda de pranchas... 130 Pranchas, para França. Primeira marca onde shapeaste... Matta Shapes. Primeiro surfista que patrocinaste... João Antunes. Primeiro surfista que despediste... João Antunes. Primeira vez que uma prancha shapeada por ti ganhou um campeonato... João Antunes em Supertubos, circuito EPSA. Não me lembro o ano! Primeira vez que usaste uma máquina de shape... Foi a da SPO do meu amigo Cartaxo há uns 10 anos. Primeira prancha que partiu... Foi a prancha do concave a dar um floater. Primeira vez que vais fazer um quiver ao staff da ONFIRE... Esta semana? OF

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*A mais recente inovação em capas de viagens para 4 pranchas. Tecnologia Slim Fit: 20% mais pequenas que as capas normais. Ultra-leve: a capa mais leve dentro do género. Expansor único. 2 pranchas com quilhas ou 4 sem quilhas. **Aprende mais sobre as capas das Creatures em www.creatures.com.au


..................................................................................... Sempre achei que uma rivalidade com carácter só aumenta o nível e foi isto que ocorreu exactamente numa dada altura da minha carreira como competidor. E de certa maneira ainda acompanha neste preciso momento o meu dia a dia. ................................................................................................... Corria o ano de 1999 “do louvado Senhor”, o surf Europeu passava por uma excelente fase com mais de 13 provas durante o ano. O nível nunca tinha estado com uma fasquia tão elevada, com australianos e sul-africanos que preferiam vir para a Europa esbanjar nível e tentar a sorte distante da sua terra natal, onde o futuro como profissional era uma ténue miragem devido à quantidade de feroz de concorrência. Uma dessas provas era no arquipélago das Canárias, mais propriamente em Tenerife, numa praia a norte conhecida como Playa del Socorro. Na altura existiam dois grupos distintos de competidores portugueses, a malta da Linha (do Estoril), que abrangia alguns da Ericeira, e outro grupo que para muitos de vocês, como eu na altura, vão pensar que eram os da Costa, mas que mais tarde, devido à minha experiência laboral vim tomar conhecimento que não tem nada a ver com os verdadeiros locais da costa da Caparica... Já tinha passado o meu heat no dia anterior e, com o mar a descer, a organização tinha marcado o início da prova para as 7 horas da manhã, um pouco depois de nascer o sol. O meu heat era o primeiro da manhã com o Marlon Lipke, João Antunes, que era o líder do outro grupo, e mais algum que não me recordo. A minha rivalidade com o Antunes sempre foi um choque de carácter e personalidade, pessoas completamente diferentes que tinham o surf em comum. Ao início do heat fiz uma interferência ao Marlon e quem compete sabe que é meio caminho andado para estar completamente perdido. Mas para mim a competição sempre foi um jogo do tudo ou nada, e optei por uma estratégia de esperar por uma bomba e tentar uma manobra poderosa o suficiente para alterar o rumo do jogo. Ela lá veio, ao contrário das muitas vezes que esperei, esperei e ainda esperei, e nada apareceu. Desta vez os deuses estavam comigo, iniciei o drop, projectei um bottom turn e nesta altura, a luz do sol da manhã escondia a superfície da onda (para se ter uma noção mais realista, a situação é idêntica ao que acontece em Carcavelos de manhã quando vamos para a direita e não vemos quase nada e por isso vamos surfando por simples instinto). Quando começo a subir sinto o fundo da prancha a vibrar, como se batesse num objecto sólido... Desequilibrei-me e caí. Na minha mente passou a ideia de fracasso, o heat já era e ao mesmo tempo os meus neurónios faziam um “deja vu” de uma situação que vivi no Havai, quando em Rocky Point atropelei numa tartaruga e tive o mesmo feeling. Quando vim à superfície, e com muita supresa, o João acertou-me com o bico da prancha. Isso foi a cereja no topo do bolo. Como a nossa relação era insustentável disse-lhe que hoje era o dia que resolvíamos os nossos assuntos pendentes. Sai cheio de raiva para a praia e esperei por ele na areia enquanto o heat desenrolava. Durante este tempo os vários membros de cada grupo foram-se juntando na areia como um tabuleiro de jogadores. O João lá saiu dá h2o e demos início a uma “diarreia verbal”. Na parte de cima da praia os outros surfistas europeus juntaram-se todos, como se fosse uma plateia a assistir a um filme cómico, a rir e a incentivar que passássemos a acção. O mais engraçado é que, como todos os bons portugueses, não passámos dos insultos “galinhescos” e, lá está, não pássamos aos actos. Continuo a afirmar que não vi o João, o sol não me deixou ver apesar dos meus sentimentos por ele. É claro que há muitos que não acreditam mas isso é problema deles... MA



www.

m ag o bny sfu rif r e s u r f .c o m ersforsurfers

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......................................................................................... O mundo virtual da ONFIRE mudou tanto nos últimos dois meses que precisaremos de pelo menos duas edição da OF para te descrever pormenorizadamente tudo o que mudou. Aqui fica a primeira parte! ............................................................................................ As mudanças são muitas mas é pelo renovado blog da ONFIRE que vamos começar. Porquê? Porque no passado este era um espaço virtual independente do site da ONFIRE mas agora, no reestruturado site, o blog está integrado, na perfeição, neste, ou seja, faz parte do seu esqueleto principal. E isto tem muito mais do que aparentemente parece... Primeiro, ainda em desenvolvimento está uma lista de ilustres bloggers que te levarão frequentemente interessantes opiniões sobre o mundo do surf. Já tiveste oportunidade de conhecer alguns: além dos Editores da OF, já leste post do surfista profissional Alex Botelho, de Pedro Jervis (irmão do surfista profissional Filipe Jervis) e de Pedro Soeiro Dias (um marketeer apaixondado por surf) – no fim de cada post podes ler pequenas biografias sobre cada autor para perceberes o porquê das nossas escolhas. Outros nomes, que não iremos agora revelar, estão alinhados para um futuro muito próximo... A integração do blog no renovado site da OF também faz com que os comentários tenham de ser por nós aprovados, o que em tudo ajuda a evitar palavras saídas de mentes doentias que no passado preferiam agredir tudo e todos em vez de partilhar criticas construtivas. E já que falámos de comentários, esta é uma das outras grandes novidades: podes e deves (e queremos) deixar o teu comentário em qualquer secção do renovado site: notícias, competição, scrapbooks, ONFIRE TV, revista ou blog. Se queres que a tua voz seja ouvida, este é o sítio para o fazeres a partir deste momento. Começando, agora, pelo início, o novo look do site da ONFIRE. Com uma design minimal, seguindo a tendência gráfica da revista que tens nas mãos, e recheado de pequenos pormenores de ouro, tens agora logo na Homepage um acesso muito directo à visualização do mais recente conteúdo das secções ONFIRE TV, Scrapbooks, Instagram, Blog e Twitter – cinco importantíssimas zonas em destaque que estão por baixo do Slideshow. Colocando “de parte” as secções “Notícias” e “Competição” pois estas seguem a mesma linha do antigo site, ou seja, actualizações diárias e com cada vez mais conteúdos exclusviso (gerados pelos editores da OR), avançamos para a ONFIRE TV. Esta continua a ser dividida em dois campos, Produções OF e Sponsored. A grande novidade no campo do Sponsored é que agora todos os dias, sem falhar um, tens à tua disposição um novo vídeo para veres, e é no campo ONFIRE TV por baixo do Slideshow da Homepage que deves procurá-lo. No campo das Produções OF também há grandes novidades: a primeira foi o lançamento do primeiro de três episodios da curta série “Winter Sessions with Ruben Gonzalez” – que retrata grande parte do Inverno passado do ex-tetracampeão nacional e do qual já pudeste ver o primeiro episódio (o segundo sairá muito brevemente), e a segunda foi o lançamento da rúbrica de vídeo mensal “Best Wave” – todos eles com o patrocínio exclusivo da MOCHE - que teve o seu início com o lançamento do site da ONFIRE em Agosto. Filipe Jervis abriu a rubrica com um incrível aéreo reverse invertido de frontside e, no Best Wave de Setembro, foi a vez de Vasco Ribeiro dizimar por completo uma onda na Costa da Caparica. Como certamente já percebeste (mais por já teres visto ambos os Best Wave do que por este texto), o Best Wave pode mostrar-te uma manobra isolada ou uma onda completa. No fundo, o que interessa é que seja um momento de pura e explosiva high performance. Resumindo, a ONFIRE TV agora não só te mostra algumas das melhores produções de surf que aparecem diariamente no mundo virtual, como produz os seus próprios conteúdos com uma frequência e qualidade maior que no antigo site. Sabemos que este artigo te vai saber a pouco mas, tal como dissemos no início, as mudanças foram tantas que precisaremos de duas edições da OF para te descrever o novo site da OF (ou se calhar três). Por isso mesmo no OF Virtual da próxima edição poderás ler mais em detalhe sobre as secções do Instagram, Scrapbooks e, se houve espaço, Revista no renovado site da OF. Sabemos que provavelmente já analisaste ao pormenor o renovado site da ONFIRE mas mesmo assim temos a certeza que neste artigos irás encontrar pormenores sobre o mesmo que te passaram e que te vão fazer ainda mais considerar este como o melhor site português de surf do momento. Um bom exemplo disto mesmo é que provavelmente então terás reparado que abandonámos o título de “Corão do Surf Português” para aquele que não poderia ser mais genuíno em toda a sua essência (tanto par site como para revista): by surfers, for surfers (de surfistas para surfista). OF 36 ONFIRESURFMAG.COM

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TV


DVD

| Dear Suburbia

K a i N e v i l l e ...................................... Dear Suburbia é um “game changer”. Numa fase em que os vídeo makers se andam a ver “às aranhas” para perceber como podem comercializar os seus produtos, Kai Neville mostra que com um pouco de imaginação tudo se consegue. Nos dias de hoje já são raros os vídeos de surf que são postos à venda quer em formato DVD, quer na iTunes. Mas Kai teve a ideia de colocar o seu novo vídeo “Dear Suburbia” para visualização online, por apenas 8 horas. E se os mais atentos tiverem tempo para o ver, quem não viu só o poderá fazer comprando. Assim Neville criou uma procura pelo seu produto e consta que as vendas fora acima do que se esperava. O filme em si é mais um passo em frente em relação aos que tinha feito anteriormente. O australiano juntou um team de luxo (Dane Reynolds, John John Florence, Kolohe Andino, Yadin Nicol, Craig Anderson, Chippa Wilson, Dillon Perillo, Conner Coffin, Mitch Coleborn, Dion Agius, Evan Geiselman, Taj Burrow e Jack Freestone), adicionou o seu estilo muito próprio e “voilá”, lançou um sério candidato a filme do ano! [ pontuação 8.0 ]

DVD

| Chromatic

A n a l o g ..................... Fugindo de formatos inovadores como “Dear Suburbia” (acima), só há uma maneira de fazer um bom filme surf, bons surfistas, locais invulgares e filmagens em HD. E nisso a Analog acertou em cheio ao criar este excelente vídeo de 22 minutos com dois dos mais falados surfistas da actualidade, Nathan Fletcher e Chippa Wilson. E se por um lado Wilson produz tudo o que é manobras modernas, já Nathan preenche-se com tubos pesadíssimos em Teahupoo e aéreos estupidamente altos com pranchas invulgares. O filme “peca” um pouco pela falta de manobras de rail, mas compensa com tudo o resto. Acresce-se a isto o facto de estar gratuitamente online e assim torna-se obrigatório para ti. Procura-o em www.onfiresurfmag.com. [ pontuação 7.0 ]

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OMUNDO NOMEUCAMINHO

.................................................................................. texto by Ricardo Vieira [ ricardovieira30@gmail.com ]

...................................................................................................................... O VENTO ASSOBIAVA RUIDOSAMENTE, talvez a pedido do frio que se fazia sentir de forma dura. Tão dura que os pensamentos custavam a acontecer e muitas das poucas palavras corajosas quase abortavam à nascença, agarradas ao fim do rebordo dos lábios. Eu estava cansado e de entusiasmo meio amassado, dividido pelos muitos anos de participações em campeonatos de surf. Este fôra mais um, em França. Agora, ali, a encarar a gare quase vazia de uma estação de caminhos-de-ferro franceses tudo me pesava; a prancha, o fato, a mochila, o barrete de lã que me tapava generosamente o cabelo ainda salgado e, por fim, a memória do troféu que mais uma vez não consegui ganhar. As idas eram sempre fáceis, mas as voltas, ao contrário de um atalho para o céu, mais pareciam um circuito de manutenção do purgatório. Na gare – que já vos disse quase vazia – uma pequena bola de fogo segura entre mãos por uma figura masculina sentada num dos bancos chamou a minha atenção. Aproximei-me e desencantei-me, a magia deu lugar a uma explicação mais racional. O fogo provinha de uma lata de Coca-Cola, decapitada pela metade, e em cujo interior ardiam pequenos pedaços de papel e lascas de canas. Olhando para mim, a barba e o bigode por detrás dos quais se escondia um homem logo se afastaram, deixando que uma boca encontrasse caminho para o verbo. “É a minha fogueira portátil…”, ouvi eu num inglês americanizado. Perguntei se me podia sentar. “Feel free!”, disse ele. O gesto confirmou-me a simpatia pela figura. E mesmo ao lado dele estava o que me pareceu ser uma prancha de surf, guardada numa espécie de capa, feita de tecidos que não soube identificar, mas que me pareciam desesperadamente cosidos, formando uma manta de retalhos. “Are you a surfer?” arrisquei. Ele respondeu-me com um sugestivo “Always!” e após uma pequena troca de palavras logo concluímos que havíamos estado no mesmo campeonato. Depois de mais algum tempo a dividir a lata por quatro mãos, quando o fogo já cansado da nossa conversa resolveu dormir, convidei-o para um “café au lait” numa casa de chá ali perto. John Caminhante era o seu nome (pelo menos a primeira parte. A segunda diz que lhe foi posta por uma ex-namorada no dia em que esta se despediu dele e do namoro) e revelouse uma caixinha de surpresas, cheio de coisas para partilhar. A capa da prancha começou por ser feita de uma só peça, mas depois, à medida que John viajava, ela era retalhada para dar lugar a bocados de tecidos correspondentes a locais, sítios e países por onde John passava. E assim os retalhos foram diminuindo em tamanho e aumentando em número, dividindo o espaço com os recém-chegados. Deitei uma nova olhada só para confirmar que não tinha visto mal; havia cerca de duzentos pedaços de tecido predominantemente amarelado pela sujidade. “ É a minha actual namorada!” , rematou ele. Fiquei sem palavras e desta vez o frio não tinha culpa. A conversa corria já muito à nossa frente, embalada a vapor saído das canecas de café quentinho. E contou-me muito mais. Contou que um dia, sem mais nem menos, e sem problemas a ajudar à decisão, saiu de casa para ir dar uma volta e de como durante essa volta se sentiu encantado pelo mundo, como se o estivesse a sentir pela primeira vez. De como de súbito este lhe pareceu maior do que lhe tinham prometido e da vontade de caminhar sempre em frente, sem volta. E fê-lo. Acontecera há quinze anos. Ocasionalmente, liga para os pais só para saber se vivem. De resto, pretende caminhar até morrer e para cada dúvida que eu tentava plantar, apresentava um sólido argumento. Sustentava a sua opção em ser um eterno viajante com o facto de o mundo ter sido feito redondo para que ninguém ficasse escudado a um canto. Depois faloume na satisfação de adormecer debaixo de um céu estrelado, sem tectos a limitá-lo. Gostava de adormecer a “olhar para Deus”, directamente nos olhos. E que nas noites piores, em que a chuva e a insónia eram senhoras da noite, aproveitava para ler sobre novos povos a conhecer e futuras rotas a trilhar. Falou-me de grandes pintores de rua que conhecera, que pintavam a troco de mais tinta e alguma rara comida. Da companhia que teve, por uma semana, do maior acrobata do mundo, que fazia coisas incríveis! E dizia ele, “por que não podemos fazer simplesmente aquilo que temos vontade de fazer? Dar um beijo a alguém que não conhecemos, pegar ao colo um cãozinho sem que o dono veja, saborear um gelado carregadinho de calorias numa reunião de gordos anónimos, deitarmo-nos na relva mesmo ao lado do letreiro que o proíbe? Só por que nos apetece? E se um dia Deus nos aparece à frente a perguntar por que não nos deitámos na relva a aproveitar a sombra do letreiro, por que não demos amor extra a um animal embalado em colo, por que não demos o contido beijo a quem dele tanto precisava? E assim vai calcorreando mundo o surfista que escolheu levar o destino consigo pela mão. Lá vai ele ao longe, pequeno ponto lento e teimoso, a caminhar determinado pela zona dos sonhos, sempre a evitar o limite imposto pelo doloroso arame farpado das vidas comuns. Lá vai o John, surfista caminhante que ninguém sabe onde vai dormir hoje. Nem mesmo ele. RV ...................................................................................................... Nota: Dedicado a John Clay, morto há dois anos, longe de todos, mas perto do céu. ................................................................................................................................................................................... Ricardo Vieira escreve segundo a antiga ortografia porque gastou 42 anos a aprendê-la. ...............................................................................................................

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............................. ............................................................................................................................. ............................................................................................................ O mundo que está no caminho de um surfista está sempre repleto de ondas que têm de ser surfadas! photo by carlospintophoto.com


Ribeira d’Eles?

................................................................................ texto by Miguel Pedreira & photo by carlospintophoto.com

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dois ou três meses de Verão, e até o melhor surfista português de todos os tempos. Sinal de fertilidade daquelas águas! Dessa comunidade nasceu também, há doze anos, um dos primeiros surf camps nacionais pensados de raiz. Com infra-estruturas criadas para receber condignamente os surfistas que se deslocavam à praia de Ribeira d’Ilhas, integrada na paisagem e com uma preocupação ambiental como até então pouco se via. Acreditando num sonho, um grupo de quatro amigos, empreendedores, comprou (e repito, COMPROU!) um terreno particular (novamente, PARTICULAR!), em cima da praia, e transformou aquilo que era um autêntico pardieiro, uma verdadeira pocilga a céu aberto (para os que não têm memória curta e ainda se lembram!), num espaço agradável, onde famílias inteiras podiam estar despreocupadas, enquanto aproveitavam as ondas ali em frente, com a comodidade da “sala lá de casa”. Embora tivessem toda a legitimidade para fazer crescer ali um negócio privado (e sim, é suposto os negócios darem lucro. Não é um crime, é uma necessidade!), a verdade é que o Ribeira Surf Camp sempre foi um espaço aberto a todos os que ali fossem por bem, independentemente de serem ou não clientes, onde nunca vi alguém ficar sem uma prancha, um fato, um banho, uma refeição, um espaço para descansar ou uma mera dica que fosse, no que às condições do mar dissesse respeito. Em suma, um exemplo de ponto de encontro de uma comunidade! Foi este património imaterial ali criado que levou muitos clientes de todo o mundo a voltarem à Ericeira, a sugerirem o destino a amigos e a terem no Ribeira Surf Camp um ponto de referência. O “modelo”

da Procuradora-Geral Adjunta Maria José Morgado, uma das vozes mais activas no combate à corrupção em Portugal. Confio na justiça. Mas do ponto de vista moral, e no que ao surf diz respeito, tenho (temos!) todo o direito de opinar, sugerir e até mesmo de exigir algumas respostas a questões que me (nos) preocupam! Não vivo no concelho de Mafra, mas como praticante de surf há trinta anos e jornalista da área há vinte, frequento as ondas da Ericeira desde que me lembro e preocupo-me com a sua “boa saúde”. Como qualquer surfista da área da Grande Lisboa que se preze, a Ericeira acabou por se tornar numa segunda casa. Profissionalmente acompanhei dezenas de campeonatos nas suas ondas, incluindo o primeiro mundial alguma vez realizado em Portugal, em 1989, a maior parte dos quais com a sua estrutura principal montada em Ribeira d’Ilhas. Esta localização privilegiada não foi escolhida ao acaso. A qualidade das ondas de Ribeira e a sua estrutura natural, em jeito de anfiteatro, são um palco lógico para albergar eventos de surf, conhecido desde, pelo menos, 1977, quando os surfistas de todo o país que ali acampavam durante o Verão decidiram organizar o primeiro campeonato nacional da modalidade, no final do mesmo. Com o passar dos anos, foi com alguma preocupação que assisti à descaracterização da vila, ao aumento exponencial da construção e à sua voracidade pelas áreas de terreno cada vez mais próximas do mar. Também me recordo do “episódio” do emissário submarino da ETAR que está no início do Vale de Santo Isidoro, mesmo por trás de Ribeira d’Ilhas, e de como o seu “encurtamento” transformou a secção final da onda. Ou seja, como qualquer cidadão que se preze, preocupei-me com uma localidade que, embora não seja onde resido, me é muito querida. Foi assim que me ensinaram a ser e é assim que entendo o conceito de “comunidade”, palavra tão cara à enorme quantidade de surfistas que, desde o final dos anos 1970 e até hoje, se mudaram para a Ericeira, de forma a poderem usufruir do maior tesouro do “North Shore” português – as suas ondas – com maior frequência. Dessa comunidade “estrangeira” nasceram negócios, carreiras, clubes, oportunidades de vida numa vila que deixou de ser apenas para

inspirou muitos outros Surf Camps e foi mesmo assumido pelo anterior Secretário de Estado do Desporto como referência para a concepção dos Centros de Alto Rendimento de Surf que estão agora a ser construídos. Foi também com base numa proposta dos sócios do Ribeira Surf Camp que o plano de pormenor do POOC para Ribeira d’Ilhas foi alterado e que a Câmara Municipal de Mafra apresentou a sua proposta actual, embora alterada em relação ao original e, por isso, para mim, megalómana e descabida na sua enormidade. Foi também a existência deste Surf Camp, com estas características, que contribuiu para que a organização Save The Waves atribuísse o estatuto de Reserva Mundial de Surf (a segunda no mundo e primeira na Europa) aquele trecho de costa da Ericeira, tendo em Ribeira d’Ilhas um ponto de convergência natural e no Ribeira Surf Camp um conjunto de pessoas que já agiam como guardiões naturais da mesma, qualidade intrínseca a uma boa formação pessoal e no âmbito de uma verdadeira comunidade. E volta a tal pergunta... Quanto é que vale uma boa ideia? Do ponto de vista ético e moral, a “tomada de posse administrativa” dos terrenos onde se situa o Ribeira Surf Camp levanta-me imensas dúvidas! Pelo seu “timing”, apenas dois dias antes das férias judiciais e em plena época balnear, deixando centenas sem o seu habitual ponto de apoio; pela força claramente exagerada utilizada, com o encerramento da estrada e a presença de um número estranhamente elevado de elementos de três tipos de polícia diferentes, numa clara e prepotente demonstração de autoridade, embora o processo judicial não esteja terminado; pela inversão surpreendente das negociações com os proprietários, que obviamente não querem deixar de ter o seu negócio e, caso isso seja de facto incontornável, legitimamente não querem ser pagos abaixo do que investiram por um conceito/negócio onde investiram doze anos (já agora… quanto vale realmente essa ideia?...); pela abrangência do protesto subsequente – não me parece que todos os que frequentavam aquele Surf Camp, que são as mesmas pessoas que frequentavam a praia, estejam errados; e pela dualidade no posicionamento da Câmara, que diz querer melhorar as condições de apoio a pessoas que não foram sequer ouvidas, não querem ser “apoiadas” daquela forma e foram altamente prejudicadas desde o dia 30 de Julho. A expropriação de um terreno privado declarando a sua utilidade pública é o último recurso que uma instituição do Estado deve tomar, sobretudo quando os donos do terreno até querem utilizar verbas próprias para a utilização pública do seu negócio, ali implantado. E o que é “interesse público”? É retirar das mãos de privados um terreno com uma localização privilegiada, utilizar dinheiros públicos e comunitários (mais de 3 milhões de Euros, ao que parece!) para construir ali um autêntico “centro comercial do surf” – vejam o projecto – e depois concessionar a sua exploração novamente a privados?... que privados? Qual é a legitimidade disto e, já agora, o “interesse do público”? Quem é o “público” em Ribeira d’Ilhas? Mas já alguém tentou perceber se a estrutura da praia comporta os “milhares” de utentes que dizem querer servir com a “nova” estrutura? Já alguém explicou o que vai acontecer ao curso da ribeira que ali corre para o mar e que implicações a alteração do seu curso terá na formação das ondas? O exemplo da Foz do Lizandro (ou, noutro

......................................................................................................................................................................... Ribeira d´Ilhas num dia absolutamente de sonho! Um dia em que o pesadelo que se vive neste momento não era sequer imaginável...

Quanto vale uma boa ideia?... Quanto valeriam, em 1970, as ruínas de uma determinada quinta, junto à Ria Formosa, no Algarve, quando o empresário André Jordan olhou para aquelas terras e visionou o seu potencial? Quanto valeria o mesmo pedaço de terra, doze anos depois, já designado como Quinta do Lago? E hoje? Quanto vale o património intangível de uma terra, de um país, da humanidade?... são perguntas que me assaltam de cada vez que penso na “tomada de posse administrativa” da Câmara Municipal de Mafra aos terrenos do Ribeira Surf Camp, em Ribeira d’Ilhas, que tanta polémica tem dado! Tudo “legal”, segundo a Câmara Municipal, “passando por cima da lei”, segundo os proprietários do Surf Camp. Do ponto de vista legal não posso nem sei pronunciar-me. Não tenho competência nem conhecimentos para isso. Confio no funcionamento regular das instituições competentes para o efeito e aguardo, como tantos outros, o desenrolar da situação. Até porque o assunto já levantou bastante polémica, alguma investigação de órgãos de comunicação social generalistas e até mesmo uma crónica no jornal Expresso


................................................................................................................................................................................................................................ concelho, da Costa de Caparica!) não chega, com uma praia descaracterizada e igual a tantas outras por essa Europa fora? Será que não entendem que o que os turistas que nos visitam procuram é precisamente esse lado “pitoresco”, diferente e não uniformizado, diferente das centenas de praias por essa Europa fora, todas iguais entre si? Pelos vistos não, se olharmos para a forma como a Ericeira foi devorada por betão! Não deixa de ser curioso ler a acta, pública, da Assembleia Municipal que decretou a utilidade pública daqueles terrenos privados e verificar que, na mesma reunião, foi decretada a eventual alienação de terrenos públicos (uma parte do parque de campismo dos Mil-Regos) para a construção de um hotel de cinco estrelas… privado, claro! Tudo na maior das legalidades! E pergunto eu… precisamos nós de leis assim? E de políticos assim, que não entendem a mais valia que têm em mãos e preferem dar cabo dela? Ou será que entendem e tudo isto é feito com uma intenção específica?... será que estão a matar a “galinha dos ovos de ouro” propositadamente? Não quero acreditar! Espero que seja apenas falta de conhecimento… Aguardo atentamente a actuação da justiça em relação a este caso, mas não me parecem óbvias as boas intenções da Câmara Municipal de Mafra neste assunto, no que ao surf diz respeito. Não vejo o mesmo tipo de actuação, por exemplo, na Câmara Municipal de Peniche ou na da Nazaré. Muito pelo contrário! Estes autarcas sabem que o poder não é eterno e que o surf é a grande mais valia que ali têm. Não estou a ver a Câmara de Peniche, por exemplo, a tentar expropriar o Surf Castle ou a Ilha do Baleal inteira, mesmo que tivesse a possibilidade de utilizar milhões de Euros do QREN para obras de “melhoramento”. É a diferença que faz saber ouvir, escutar quem todos os dias está embrenhado no assunto em causa. E o que deixa Peniche completamente cheia de turistas/surfistas durante todo o ano. Mas o que mais me entristece é a quase total ausência de tomada de posição pública de entidades que deviam ser as primeiras a fazê-lo! Salvo a meritória voz de três dos guardiões da Reserva Mundial de Surf e da Save the Waves Coalition, que mostraram estar em desacordo e atentos ao desenrolar da situação em Ribeira d’Ilhas, nenhum

dos clubes locais – supostamente representantes dos principais interessados, da comunidade – tomou uma posição. Quem cala, consente! Até o nosso melhor surfista de todos os tempos – Tiago Pires – arranjou tempo para, no meio do seu calendário apertado, tornar pública a sua opinião sobre o assunto. Goste-se ou não dela, é pública! Porque Tiago sabe que é uma figura pública e que a sua voz é ouvida/desejada! Já o Ericeira Surf Clube e a Associação dos Amigos da Baía dos Coxos estão há mais de um mês para tomar uma posição, o que só revela que algo vai mal no reino da Ericeira!... afinal a comunidade parece pouco unida, ou se calhar a situação não é consensual... ou será que os clubes representam de facto toda a comunidade?... escudandose atrás de um argumento falso – o de que se tratam de interesses privados – não entendem que o que está em causa é a sobrevivência do surf na Ericeira e do “North Shore” da Europa como Reserva Mundial de Surf! Toda esta situação diz respeito ao surf nacional, sim! (E aqui, também gostava de ver uma posição oficial assumida pela Federação Portuguesa de Surf, pela Associação Nacional de Surfistas e pela Associação Portuguesa de Bodyboard) Porque perante os factos, não há argumentos que resistam – a voracidade do betão só vai parar quando tiver toda a falésia Norte de Ribeira d’Ilhas construída e um condomínio de luxo em frente aos Coxos, com acesso privativo e exclusivo! E aí, meus amigos, como nos activos do país que estão a ser desbaratados em praça pública, será tarde demais! Está na hora de toda a comunidade das ondas se unir, de agir como tal e de dar um murro na mesa, exigindo clarificação, bom senso e ser ouvida no que respeita à Reserva Mundial de Surf, cujo real funcionamento está, até hoje, um ano depois de ter conquistado esse título, longe de ser claro. É a hora de nos unirmos e de tomarmos uma posição no que às nossas vidas diz respeito. Sim, porque isto diz-te tanto respeito a ti como a mim! E porque o preço a pagar pelo nosso não envolvimento com algo que nos é intrínseco é sermos liderados por outros, menos capazes e conhecedores do meio. E isso é insuportável, pois a ignorância é a pior das conselheiras. Está na hora de agir! MP




RubenGonzalez TrainingCamp by Billabong @ Praia das Maçãs .............................................. photos by carlospintophoto.com texto by Rita Brilhante legendas e intro by ONFIRE .............................................. Ruben Gonzalez continua com a sua missão de preparar as mais jovens camadas de surfistas portugueses para tudo o que o surf envolve, desde o seu mais puro prazer às maiores exigências competitivas, físicas e mentais. Falamos de uma geração muito nova, que vai dos 8 aos 15, que teve acesso a uma oportunidade única, e que até um surfista de 35 anos gostaria de ter. Como sempre, e principlamente por ser uma acção com o futuro do surf nacional, a ONFIRE esteve presente e mostra-te, em exclusivo, tudo o que se passou na terceira edição do Ruben Gonzalez Training Camp by Billabong.



O Ruben Gonzalez Training Camp by Billabong voltou à estrada em 2012. No seu terceiro ano consecutivo, este projeto do surfista profissional Ruben Gonzalez já dispensa apresentações. Pelo menos junto dos mais atentos e que levam o surf mais “a sério”. O que esteve no início foi a vontade de Ruben contribuir para a evolução dos surfistas mais novos transmitindo-lhes tudo o que a experiência como surfista profissional lhe permitiu adquirir ao longo dos anos. E o que veio depois foi o feedback positivo dos participantes nas primeiras edições e uma experiência que se revelou gratificante para o próprio. Para Ruben fez todo o sentido dar continuidade ao projeto que começou há mais de dois anos e, em 2012, trouxe algumas novidades, juntando às componentes de treino técnico de surf, treino físico e psicológico, palestras temáticas que potenciam um contacto mais direto dos jovens surfistas com o universo do surf, através de testemunhos na primeira pessoa. Mas, o conceito original mantém-se: o número de participantes no evento continua a ser limitado e o objetivo é trabalhar com surfistas muito jovens e com potencial de evolução, dar-lhes as ferramentas para que possam maximizar as caraterísticas individuais de cada um e proporcionar-lhes um momento único de interação 24/24h com um surfista profissional ao longo de três dias. Simplificando tudo isso, o objetivo é surfar, surfar, surfar, falar sobre surf, dar e receber dicas sobre surf, ver vídeos de surf, sonhar com surf, desenvolver atividades que ajudem a desenvolver o surf de cada um e respirar o estilo de vida do surf a 100%. Depois das anteriores edições deste evento terem decorrido no sul do país, na primeira edição de 2012 a base escolhida para o training camp foi o Surfiberia Camp, na Praia das Maçãs (Sintra). E a escolha veio a revelar-se mais do que acertada ou não estivessem condições muito boas para o surf, para além da localização do surf camp proporcionar o acesso à praia a pé, de fato vestido. Há melhor do que apenas ter de descer a rua para ir surfar, surfar várias vezes por dia com boas condições, na companhia de um surfista profissional? Se tiveres a idade destes miúdos, dificilmente haverá. Se não, possivelmente também não pedirias muito mais. O primeiro dia da 4ª edição do Ruben Gonzalez Training Camp by Billabong foi um dia passado a surfar. A surfar muito. Várias vezes e durante muito tempo. Com excelentes condições: mar com o tamanho ideal, ordenado, sem vento. O dia começou bem cedo, com uma sessão de preparação

...................................................................................................... ............................................................................................ Fluidez, estilo e velocidade, três elementos obrigatórios. Juntando estes num floaterexecutado na zona certa da onda, aquela que vai fechar e que, com esta manobra, conseguimos passar por ela por cima do lip, temos o momento perfeito. João Vidal na conjugação perfeita dos elementos.

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Não há um úncio surfista do mundo, desde o mais progressivo ao mais power e passando pelo adorador de ondas grandes, que não saiba a importância de um bottom perfeito. Dylan Groen mostra que apreendeu muito bem essa lição quer da parte de Ruben, quer dos convidados surfistas especiais (Frederico Morais e João de Macedo). ......................................................................................................................................................................................

física na Praia das Maçãs - onde fica a base deste training camp, no Surfiberia Camp. Seguiu-se uma sessão de surf na Praia Grande e logo depois do almoço, outra sessão de surf. De volta ao Surf Camp, a vista sobre o mar quebrou os planos de algum descanso, para recuperar das surfadas… em poucos minutos o grupo estava novamente preparado para surfar, desta vez à porta de “casa”! Para não variar muito, o 2º dia também começou com… surf! E as condições mantiveram-se excelentes: água com temperatura agradável, ondas com boa formação, sem vento durante o dia todo e à porta de “casa”, na Praia das Maçãs. Por volta das 9h, o grupo de surfistas desceu a rua de fato vestido e prancha na mão para passar a manhã dentro de água. E foi, literalmente, a manhã. Só perto da hora de almoço saíram da água para subir a rua e aguardar por uma visita especial reservada para o dia de hoje. Foi neste segundo dia de training camp que Ruben Gonzalez convidou Frederico Morais, Nuno Morais e João de Macedo para uma palestra informal no surf camp. O tema foi o percurso de Frederico no surf, desde o início da sua carreira, nas palavras do próprio, do pai, que o acompanha no surf desde sempre, e de João de Macedo, que pode observar Frederico nos seus primeiros passos. Todos os surfistas tiveram oportunidade de colocar várias questões e de ouvir atentamente as explicações e conselhos de Frederico, Nuno e João; e recolheram ensinamentos teóricos e conselhos para o futuro. De volta ao presente, os surfistas usufruíram de outra sessão de surf intensa, a que se seguiu a habitual sessão de Ioga. Depois de dois dias com condições excelentes, o terceiro dia do Ruben Gonzalez Training Camp amanheceu com condições fracas para o surf, com o vento onshore forte a afetar as condições do mar logo pela manhã. A opção do grupo foi por um jogo de futebol amigável no campo da Praia das Maçãs, onde todos aproveitaram para gastar energia e ganhar pica para surfar. Já ninguém quis saber das condições e saltaram todos para dentro de água, para o primeiro treino de surf, antes do dia. O treino com formato de heats ficou reservado para depois do almoço e apesar das condições de surf mais difíceis e exigentes, todos deram o seu melhor e surfaram várias ondas. De volta ao surf camp, o convívio de fim de tarde entre todos os participantes encerrou de forma descontraída os três dias de treinos intensos e muita diversão desta edição. RB

............................................................. Agradecimentos: Portugal Surf Academia e Surfiberia Camp

........................................................................................ Nota final da redacção: a autora do texto segue o novo acordo ortográfico, ao contrário do restante staff editorial da ONFIRE. Mas como somos a favor da liberdade de expressão total, mantivemos, obviamente, o texto original do autor.


A Praias das Maças é famosa pelas suas ondas de Verão com power e muitas junções perfeitas para treinar o que passar na cabeça de um surfista. Nesta junção, a mente de Santiago Belleza optou por um reentry bem power. ................................................................................................................................................ ONFIRESURFMAG.COM 49



O dentro Paraíso

do

Paraíso !

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kandui

v. . . . . i. . . . l. . . . .l. . . .a. . . . . .s. .

............................. texto & legendas by ONFIRE photos by Kandui Villas

.............................................................. O segredo de que as Mentawai são o paraíso para todo o ser bípede que um dia decidiu seguir o seu caminho de vida com uma prancha debaixo do braço já há muito que foi revelado. Desde o dia dessa revelação até ao presente, muito evoluiu no que diz respeito a alojamento. Se os “Colombos” das Mentawai as descobriram navegando (quase) em caravelas do séc. XV, hoje “caravelas” com todas as mordomias do presente cruzam as águas onde rebentam as mais perfeitas ondas no mundo. Também terra foi sendo descoberta, conquistada e desenvolvida. Simples barracas improvisadas por quem não tinha capacidade de pagar uns milhares de euros por um luxuoso barco, começaram a dar lugar a vários tipos de resorts e bungalows. É o preço da descoberta e da evolução, e se na maior parte dos casos a factura que esta traz é alta demais, noutros casos é uma benção. O Kandui Villas, aberto desde 30 de Maio de 2011, é o exemplo perfeito de evolução bem direccionada, e com um requinte único nas Mentawai: é o primeiro surf resort de luxo! Se fosse idealizado e gerido por outros seres bípedes que não surfistas aí sim, certamente que iríamos ver o lado mais negro do progresso. Em vez de uma integração perfeita da comunidade e arquitectura local, teríamos blocos de concreto no meio da praia… Lembra-vos algo recente no nosso país?…


Mas em Kandui Villas irás encontrar exactamente o oposto! Se queres ir para as Mentawai surfar as melhores ondas do mundo, ficar instalado em condições de luxo e, muito importante, teres a certeza de que podes levar a tua família pois esta estará nas melhores condições possíveis, o Kandui Villas é o paraíso dentro do paraíso! Pensado e desenvolvido para dar resposta a TODAS as necessidades do surfista, este resort de luxo responde de imediato à tua primeira necessidade: ondas perfeitas. Que o digam Kelly Slater, Rob Machado, Shane Dorian, Taylor Knox, Shane Dorian, Kalani Robb, Chris e Dan Malloy, Ross Williams, Benji Weatherley e Rizal Tandjung, que, juntamente com o realizador Taylor Steele, formam os protagonistas do mais marcante filme de surf de sempre, Momentum, e que escolheram Kandui Villas como o local para este reencontro. Kandui Villas nasce de uma História de Amor, acredites ou não. Raihana cresceu em Bikittingi, Sumatra, e em 1999 fez a sua primeira viagem às Mentawai, onde se apaixonou pela sua beleza e perfeição das ondas, decidindo que seria aí que queria viver. Nesse mesmo ano conheceu Jordan, havaiano. Apaixonaram-se, casaram e em 2001 criaram um barco para explorar as Mentawai, onde Raihana era o Chef e Jordan o guia de surf. Passaram-se seis anos de Amor, exploração e surf nas mais perfeitas ondas do mundo. Em 2002, o governo das Mentawai regulou a lei de turismo para esta zona limitando o número de entidades com permissão para explorar turisticamente as Mentawai a cinco licenças. A primeira destas licenças foi atribuída a Raihana e à sua empresa, Saraina Koat Mentawai. Uma das obrigações para ter essa licença era que a empresa de Raihana teria de construir um resort em terra nas Mentawai nos dois primeiros anos. Foi assim que surgiu a parceria com Un, o que tornou possível a aquisição do terreno onde é hoje o Kandui Villas, mesmo no coração da mais rica zona 52 ONFIRESURFMAG.COM

de ondas das Mentawai, Playgrounds, conhecida por ter num curto espaço físico algumas das mais incríveis ondas do mundo (e, à distância de 30 minutos, muitas outras ondas famosas localizadas em redor de Playgrounds). Como não poderia deixar de ser, Kandui Villas, aberto desde Maio de 2011, está de frente para uma onda, aliás duas: Kandui Left (uma esquerda rápida, comprida, intensa, buracosa e tubular apelidada por muitos, amadores ou prós, como a melhor esquerda do mundo quando está épica), e, do outro lado do canal a cinco minutos de remada, Baby Kandui (esquerda com mais de 250 metros de comprimento e com três ou quatro secções tubulares quando Kandui Left está com mais de três metros. Com ondas pequenas, o “bébé” Kandui é perfeito para high performance). Localizado na direcção em que o sol desaparece no horizonte, este paraíso dentro do paraíso torna-se ainda mais paradisíaco. Imagina acabares cada dia de surf com um pôr-do-sol inacreditável o qual poderás assistir dentro de água ou no conforto da tua mansão de luxo com a família! Hollywood, mudem a cor do tapete pois este é o verdadeiro “tapete vermelho” da Vida! Chegar a Kandui Villas é uma longa viagem que envolve voar até Padang, Sumatra, onde o staff de Kandui Villas te apanhará para, num avião anfíbio ou num barco, te levar ao paraíso. Todo o cansaço de horas infindáveis em aviões desaparecerá quando avistares o resort. Uma luxuosa, espaçosa e privada Uma (nome das casas tradicionais indonésias), construída com madeiras resistentes, será o teu castelo. Cada Uma, num total de 12, foi artisticamente esculpida por artesões locais - como toda a mobília - com temática de animas, o que lhes dá o nome (Biowak (lagarto), Monyet (macaco) ou Ikan (peixe)). Cada Uma tem duas camas king size na parte de baixo e, em cima, uma outra cama king size


Kandui Left é uma daquelas ondas que quando está muito grande é um tubo intenso e perigosissímo, por isso a maioria opta por surfar na também tubular onda de Baby Kandui. Mas Jordan Heuer, um dos donos de Kandui Villas, conhece Kandui Left como ninguém e nos dias grandes é um daqueles “loucos” assíduos!

(ou duas individuais), um jardim privado com relva japonesa, acesso privado à praia, dois ar-condicionados, rede para mosquitos, mini-bar, cofre, água quente e todas as necessidades de uma casa de banho ocidental, cujo chão, em pedra, foi todo ele feito por artesões balineses. Lembras-te que dissemos que este era o primeiro resort de luxo nas Mentawai certo? Menos não se poderia esperar! O restaurante é outro espaço inacreditável. Com dois andares e localizado ao lado da piscina, toda as refeições gourmet são do nível de qualquer restaurante com três estrelas Michelin. Preparadas diariamente, vão-te renovar as forças entre surfadas inesquecíveis, seja através de pratos locais, japoneses, italianos ou mexicanos, e onde ainda cabe o famoso barbecue. O requinte é tal que, a acompanhar toda a proteína, estão vegetais orgânicos cultivados numa estufa existente na parte de trás do restaurante. Saladas mais frescas é literalmente impossível! Também em volta da piscina está o Bar (as bebidas alcoólicas não estão incluídas no pacote de viagem). Da gelada cerveja aos saborosos vinhos e passando pelo requintado champanhe, estas são algumas das bebidas que poderás levar para a Palapa, um espaço de relaxamento em confortáveis sofás enquanto se partilham as histórias de surf do dia. Para quem gosta de relaxar com mais acção, nada como ir até ao salão de jogos e passar uns bons momentos em partidas de snooker ou ping-pong. A piscina é por si só uma das mais luxuosas comodidades de Kandui Villas. Aliás, este é o único resort das Mentawai que construiu e tem uma piscina, criada especificamente, pelos melhores fabricantes de piscinas do Sudeste Asiático, para este espaço. Com 25m de comprimento e 18m de largura, apresenta o mais avançado sistema para produzir água salgada com cloro. O cloro “fabricado” é muito “suave” e, juntamente com a água, que tem uma concentração salgada semelhante às lágrimas humanas, não irrita a pele e os olhos.


Bankvaults é uma das muitas ondas inacreditavelmente perfeitas que poderás aceder através de Kandui Villas e onde poderás dar os tubos da tua vida, totalmente em pé, como este de Jordan Heuer.

Como bom resort de luxo, Kandui Villas tem também o obrigatório Spa, onde receberás massagens shiatsu terapêuticas, outro “bem” obrigatório para quem passará horas seguidas a surfar. Como requinte único está o tipo de óleo usado, feito pelo staff indonésio do resort: puro óleo de coco, conhecido pelas suas propriedades médicas para a pele e cabelo, obtido por um processo que evolve cortar e prensar. A mais rápida ligação à internet das Meantawai, com WiFi em redor de toda a piscina e através de cabo em cada Uma., actividades como snorkling - obrigatório fazer -, uma colecção gigante de DVDs, televisão por satélite, voleiball de praia e jogos de tabuleiro são algumas das outras distracções que te ajudarão a estar ainda mais relaxado entre surfadas. Caso queiras passar algum tempos só com a tua cara-metade, Kandui Villas tem também à tua disposição um serviço de babysitter (tens de fazer o pedido na altura da reserva e de preferência com alguma antecedência). Como dissemos, estes Senhores pensaram em tudo. Descrever as ondas das Mentawai não é aqui necessário pois certamente (através de edições passadas da ONFIRE ou da web) já as conheces de cor e salteado mesmo sem nunca lá teres ido. Para garantir as melhores condições e tua segurança, os guias estão sempre prontos para levar os seus convidados às mais de 20 ondas existentes em redor de Kandui, e todos são certificados em primeiros socorros e reanimação. Uma verdadeira frota naval “estacionada” em Kandui Villas - dois dinghies de cinco metros, um veloz Kahajaya de 5.2 metros e quatro barcos de 12 a 15 metros - permitemte aceder às ondas fora de Playgrounds: Hideaways, Nipussi, Burgerworld e E-Bay Segurança, velocidade e estilo é o que a frota de Kandui Villa te garante! Ainda estás amedrontado com o tsunami que devastou a Indonésia? Não é caso para menos, principalmente se tiveres a tua família contigo. Em constante contacto com o sistema de alerta de tsunamis Indonésio-Germânico, que dá um aviso de dois


minutos após o catastrófico terremoto, tens em Kandui Villas um reforçado refúgio construído numa colina com 30 metros de altura. “Não existe estar demasiado preparado para tsunamis. Levo este assunto muito a sério pois quero que os meus hóspedes e trabalhadores estejam seguros. E eu também vivo aqui com a minha mulher e filhas de seis e ano e meio.”, diz Jordan. Imagina que partiste todas as tuas pranchas, afinal podes aceder a algumas das mais tubulares (e perigosas) ondas do mundo, ou que as tuas pranchas se perderam no transporte, ou que já estás tão à vontade que queres surfar ondas mais perigosas mas não trouxeste uma gun. No worries, tens à tua disposição, para alugar (12 euros/hora ou 32 euros/dia), um quiver de 21 pranchas da Resin 8 de réplicas de modelos de shapers como Wade Tokoro e Sam Eagan, que vão desde 5’11’’ até 7’2’’. Se estiveres interessado em algum tipo especial de prancha (tamanho/medidas) poderás mesmo reservá-la com antecedência para a tua temporada mágica em Kandui Villas. Ah, e nem precisas de ter preocupar em ter alguém para registar fotográfica ou filmicamente as tuas surfadas pois Kandui Villas tem também estes dois primordiais serviços à tua disposição. Um pormenor a ter em conta caso queiras (ou melhor, caso possas monetariamente falando - pois de certeza que querer queremos todos) marcar já a tua estadia neste paraíso: tens de ir de acordo com o calendário do resort. Aberto todo o ano, tens à tua disposição pacotes de 10 dias (cerca de 2560 euros + avião até Padang), 11 dias ou ainda um pacote de 14 dias/14 noites. Ao chegares a Kandui Villas terás, como manda a boa regra de Hotelaria, uma bebida de boas-vindas e uma deliciosa refeição caso tenhas fome. Depois ser-te-á mostrada a tua imponente Uma e passadas algumas informações importantes para a tua estadia. Mas atenção, esta sequência de chegada

não é obrigatória, podes simplesmente saltar toda esta recepção e ir directo ao objectivo de horas e horas passadas em sofrimento no avião, o surf nas melhores ondas do mundo, e, melhor que tudo, tendo já no subconsciente que depois dessa verdadeira recepção terá um paraíso de luxo à tua disposição durante os próximos 10 dias!!! OF

................................................................................................ D a d o s i m p o r t a n t e s a n t e s d e i r e s : _ o avião anfíbio que te leva até Kandui Villas só transporta duas pranchas por pessoa. Se fores de barco já poderás levar as que quiseres; _ tipo de pranchas a levar: depende muito do tipo de ondas que procuras mas pranchas para ondas entre metro a dois metros são o ideal; _ leva kits de reparação, quilhas, leahses (pelo menos uns três ou quatro), chaves de quilhas, wax de água quente (5 barras); _ botas de surf (2mm) são recomendadas para alguns spots muito rasos mas a opção é tua; _ um fortíssimo protector solar, óculos de sol, chapéu e umas t-shirts pensadas para a surfada (não pelo estilo mas para proteger do sol); _ é uma opção tua tomar medicação anti-malária ou não. Kandui Villas está constantemente a tomar medias de precaução para surtos de malária e, como não há vilas na ilha, não há malária endémica por isso as probalidades são muito reduzidas. O staff e donos vivem o ano inteiro na ilha e nunca contraíram a doença. Claro que a melhor política é não ser mordido por mosquitos por isso um bom repelente é uma opção a ter em conta; _ para mais informações vai a www.kanduivillas.com



O sucesso de uma carreira profissional depende dos objectivos que cada um traça, seja no desporto ou fora. Alguns só pensam em chegar ao topo, outros não conseguem passar limitações impostas por eles próprios. Mica Lourenço não é nenhum destes casos. Fez um percurso muito próprio em que aproveitou o surf profissional para viver a vida numa eterna diversão. A certa altura o seu talento falou mais alto e esteve entre os melhores surfistas nacionais, mas conseguiu nunca perder o foco de viver o momento sem expectativas ou outro factor que obrigasse a levar as coisas mais a sério e negligenciar o seu amor pelo surf. Fica a conhecer o trajecto deste carismático surfista!


É de backside que este surfista mais se destaca, ou não fosse natural da “terra das direitas”. | photo by carlospintophoto.com ...............................................................................................................................................................................................................................................


Estamos no Verão. É um daqueles dias raros nesta estação em que há boas ondas espalhadas por todo o lado. O vento é quase inexistente e a água está com uma temperatura surpreendentemente agradável. A maré está quase no ponto num pico perto da Ericeira que tem funcionado na perfeição nas últimas semanas. Por momentos, achei que ia haver uma mudança de planos. Por norma, o surf fala sempre mais alto e a entrevista passa para depois. É um bom sistema, principalmente quando a surfada corre bem. Mas Amílcar “Mica” Lourenço estava à vontade, de barriga cheia de ondas e disponível para se sentar comigo durante algum tempo. A combinação passa então para sua casa, um apartamento perto da Praia do Sul, na Ericeira. Era a primeira vez que eu vinha a esta casa, apesar de no passado ter frequentado com regularidade outros apartamentos onde morou. O contraste com a primeira casa que conheci deste surfista é evidente. A sua sala é um espaço aberto que faz de sala de estar e de jantar, um local agradável com direito a um amplo terraço e vista lateral para o mar. Por sua vez, o apartamento antigo, o primeiro que conheci há mais de 15 anos atrás, era uma daquelas casas antigas, com direito a mobília da velha e alguma humidade a condizer. Na altura Mica dividia a casa com os irmãos Pires, que apareciam ao fim de semana, pois ainda estudavam e moravam na linha do Estoril. Uns anos mais tarde passou a partilhar uma outra casa, no centro da Vila, só com o irmão mais novo dos Pires, Tiago (também conhecido como Saca). Tiago tinha acabado o 12º ano e aproveitado para se mudar de malas e bagagens para a terra onde na realidade se sentia em casa. Agora é outro amigo, e ocasional “patrão”, Alexandre Grilo, que mora no apartamento de cima. Mas Saca também mora por perto e a entrevista não acaba sem que ele aparecesse para meter a conversa em dia. Apesar de não ser visível à primeira vista na sua casa, tudo na vida de Mica Lourenço tem a ver com o surf. A sua namorada, os seus amigos, a sua profissão e o seu dia a dia é completamente moldado à volta deste estilo de vida. É estranho tentar visualizar Mica Lourenço não sendo surfista e mais difícil ainda perceber que o surf entrou na sua vida tão tarde. E quase por sorte. Mas se começou tarde, houve um acontecimento que funcionou como catalisador para que tudo isto fosse possível. Foi numa quartafeira chuvosa, perdida nos anos 80, que tudo começou com uma simples pergunta feita com sotaque americano. “Epá, o que estás aqui a fazer?” Pergunta Nick Uricchio, um americano que vivia em Portugal há vários anos e nesta fase já tinha montado a sua fábrica, juntamente com Miguel Katzenstein, numa terra onde não se passava nada mas que tinha (e tem) as melhores ondas da Europa. A fábrica era a Semente, e o “americano das pranchas”, como era conhecido na Ericeira na altura, conhecia Mica apenas de o ver na praia quando ia surfar na praia de São Lourenço. Sabia que o pai dele era dono de um bar nessa mesma praia e estranhou o dia em que foi deixar o seu carro a arranjar num mecânico da zona e viu Mica a trabalhar na oficina. Um fascínio recente pelo surf tinha feito com que Mica, então com 14 anos, tivesse deixado, às escondidas dos pais, de estudar para trabalhar e assim juntar dinheiro para comprar a sua primeira prancha. A praia era o local onde passava a maior parte do seu tempo e, ao ver surfistas como Uricchio, Miguel Fortes e companhia, a surfar ali, acabou por ficar com o “bichinho”. Ao fim de dois meses o seu pai descobriu que tinha largado os estudos mas não foi capaz de o castigar. Num extremo oposto dos dias de hoje, em que são os pais muitas vezes que empurram os filhos para o surf e lhes proporcionam todas as condições para que estes possam evoluir, a família Lourenço não tinha posses para proporcionar este tipo de “luxos” aos seus filhos. O facto de Mica ter ido logo trabalhar e não ter passado pela “má vida”, como acontecia regularmente na altura, fez com que

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o seu pai respeitasse a sua decisão e o deixasse seguir a sua escolha. Nick não conversou muito no dia em que se cruzou com Mica na oficina, mas achou que aquele não era o sítio certo para ele e voltou no dia seguinte para lhe fazer uma proposta de trabalho. “Nunca mais me esqueço”, conta Mica.” Chegou lá e convidou-me para trabalhar na Semente. Disse-me para ir lá na terçafeira seguinte, pois à segunda era dia de folga. E eu fui. Comecei por varrer o chão da fábrica e ao fim de algum tempo estava a aprender a fibrar, antes de começar a surfar. Depois comprei uma prancha ao Nick a um “granda” preço, e todos os meses descontava uma parte do meu ordenado. Estive um ano a pagar às prestações. Ganhava ao mês “praí” 20 contos e descontava tipo 1000 paus.” São raros os surfistas que fazem carreira no surf começando a praticar depois dos 14 anos e mais raros ainda os que aprendem a trabalhar com pranchas antes de aprenderem a surfar. Mas esse foi o percurso de Mica e a partir daí tudo aconteceu muito rápido. “A rotina diária na Semente era perfeita, surfar, trabalhar, surfar, trabalhar. Se o mar estivesse mau a rotina mudava ligeiramente, primeiro trabalhava-se, depois surfava-se.” Nick e Miguel não só proporcionavam esta rotina como o iam buscar a casa para ir surfar, nos Coxos, Praia Azul, São Lourenço... onde estivesse bom. Com esta rotina não é de estranhar que muito rapidamente tenha evoluído e desenvolvido uma bonita linha de surf. Os resultados na fábrica também foram positivos pois Mica mostrou um jeito natural para este tipo de trabalhos que exigem alguma “mão”. Ao longo dos anos foi aprendendo cada vez mais e começou a fibrar cada vez mais pranchas e a fazer pequenos “estágios” com outros surfistas/ fibradores que vinham fazer temporadas na Semente. Mica vivia e respirava surf e, talvez por ser o mais velho do seu grupo de São Lourenço, influenciou o seu grupo de amigos, que muito rapidamente o seguiu para dentro de água. Depois vieram os campeonatos e os patrocínios. Mica começou por fazer umas finais nas categorias juniores do campeonatos de inter-sócios. Primeiro na Ericeira, depois na Linha. E algum tempo depois estava a vencê-los. Daí até ser patrocinado pela Billabong, que entretanto tinha-se sediado na Ericeira, foi muito rápido. Começou por receber algumas t-shirts e fatos e fez parte da marca durante vários anos, à medida que ia subindo no “panorama” nacional. Pode-se considerar Lourenço um “late bloomer” da geração de ouro do surf nacional, pois quando surgiu entre os tops já muitos dos grandes nomes da sua geração por aí andavam há vários anos. Mas isso não impediu de se tornar num dos melhores surfistas do nosso país. À medida que subia do ranking, o seu nome começava a ser mais e mais falado. Algumas sessões inspiradas davam asas a comparações com campeões nacionais em título e a sua linha de surf bonita e stance com o pé direito à frente apelava aos goofies, que naturalmente têm tendência de torcer por outros goofies. Pode-se dizer que o seu auge como surfista competitivo foi em 1999. Esse foi o ano da “rebelião”, em que os melhores surfistas nacionais declaram guerra à Federação Portuguesa de Surf. Foi uma fase controversa do surf português, mas as consequências só se fizeram sentir uns anos mais tarde. No entanto, esse foi o ano com o melhor circuito nacional e, apesar de “rebelde”, contou com mais de 10 etapas espalhadas pelo país e prize money a condizer. Dentro do circuito três etapas se destacavam, os “Beach Games” organizados por Rodrigo Heredia via João Lagos Sport. Numa das etapas, realizada na Foz do Lizandro, Mica estava imparável. De frontside nas esquerdas deste beach break foi um dos destaques do campeonato e venceu a final sem dar qualquer hipóteses aos seus adversários, garantindo assim a sua primeira e única vitória no circuito e os 340 contos (1.700 euros) de prize money. Mas hoje Mica lembra a sua

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................................................................................................................................................................................................................................................ É na Madeira que Mica testa ao limite os seus shapes. | photo by Pia-Maria Hauschild


................................................................................................................................................................................................................................................ O seu surf continua actual ao ponto que se voltasse a correr o circuito nacional poderia surpreender muitos surfistas. | photo by Pia-Maria Hauschild


época competitiva de maneira diferente. “Eu nunca gostei muito de competir e nunca fui surfista de topo. Andava ali mais pela brincadeira, andar com amigos, surfar e viajar. Mais tarde, quando passei para a Quiksilver, comecei a fazer um resultado ou outro, e corri os EPSA (circuito europeu) e pronto, havia dinheiro no surf. Dava para pagar a renda da casa e as viagens. Mas a prova eu ganhei, e os outros bons resultados que fiz nunca foram porque fazia o meu melhor surf mas sim porque os outros desatinavam, ou apanhava a melhor onda.” Mesmo nessa fase, Mica nunca largou o trabalho na fábrica. Excepto numa fase em que quis mudar de ares e foi viver para o Algarve durante alguns anos. Quando regressou foi recuperando espaço novamente no mundo da produção de pranchas. Na altura a Semente tinha a equipa completa e Mica começou por trabalhar numa nova fábrica nova que tinha surgido na Ericeira, a Boardculture, e sempre que surgia alguma abertura, na Semente. Foi pouco depois que os irmãos Pires desafiaram Mica a lançar-se num novo projecto, a sua própria marca de pranchas. Os seus anos na Semente e o talento natural que possuía para trabalhar nesta área já lhe tinham proporcionado algum sucesso na arte de fazer pranchas. “Shapei a minha primeira prancha há muito anos e fiz pranchas de stock e as do ISN (Instituto de Socorros a Náufragos) durante algum tempo por isso ganhei alguma mão. E tinha sempre o Nick e o Picos a ajudar. Fiz muitas para o Saca à medida que ele ia crescendo. Fiz-lhe uma prancha, na altura que ele corria o Pro-Junior, com que ele fez três finais.” Mas o sucesso (relativo) que tinha tido a fazer pranchas já vinha de trás. Uns bons anos antes, em 1993, fez a sua primeira final no circuito nacional, em Ribeira D’Ilhas com a primeira prancha que shapeou. Mesmo assim, Mica demorou a “absorver” a ideia de fazer a sua própria marca e mais ainda a arranjar um nome para ela. “Não me via a fazer a minha marca, nunca tinha pensado nisso. Sempre pensei que ia ficar na Semente a minha vida toda, tipo mobília. Ser shaper da Semente também me passou pela cabeça, mas fazer a minha marca, nunca”. No entanto o “push” dos irmãos Pires foi mais forte e o mais velho dos dois, Ricardo, foi quem deu a sugestão: “Mica”. “Achei muito egocêntrico ter uma marca com o meu próprio nome mas ele veio com o meu primeiro logo, e mais tarde com outros e são os que ainda hoje uso.” Foi em 2005 que apareceu pela primeira vez as Mica Surfboards, apesar de ninguém na zona ter estranhado o aparecimento desta nova marca. A “ligação Tiago Pires” foi mais um factor que contribuiu para a credibilidade da marca. Mesmo sendo patrocinado por outra marca de pranchas, de tempos em tempos, Saca usava uma prancha do seu amigo para vencer etapas do circuito nacional, ou passar uns heats no World Tour. E assim apareceram outros nomes internacionais como Miky Picon e Patrick Beven, entre outros, que muitas das vezes que passam por Portugal levam uma Mica Shapes com eles. Mas nesta fase da sua vida, Mica considera que ainda não faz pranchas suficientes para viver só da sua marca. Mas não está longe disso, o seu “core business” é a exportação para países como Dinamarca, Suécia, Áustria, Inglaterra, Bélgica e Noruega. Apesar de estar a exportar, Mica quer fazer um trabalho próximo com os clientes, evitando lojas e intermediários. “Em termos de negócio estou a perder por não estar nas lojas mas eu quero que todos os clientes estejam satisfeitos. Não concordo muito com o conceito de “mass production”.“ Além de fazer pranchas, Mica dá aulas na Escola de Surf Tiago Pires, um projecto criado por Tiago, tendo em conta os seus grandes incentivadores desde o início, Mica Lourenço e Ricardo Pires. Mas para breve o projecto Mica Surfboards promete ganhar dimensão e aguarda autorização para montar a sua própria fábrica perto da Ericeira. Hoje, mais de 20 anos, depois de ter começado a surfar e a trabalhar numa fábrica de pranchas, a sua rotina continua muito parecida, muito surf, e muito trabalho e acima de tudo, muita curtição! OF

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E se do nada decidisses mudar o rumo da tua mente na direcção oposta e, com isso, mudarias o teu estilo de vida? Depois de tentar encontrar o lado mais roots do surf, o autor dos “Devaneios Marroquinos” da Surftrip da edição passada, decidiu procurar o lado mais material do surf, fazendo uma viagem de Verão como se um verdadeiro surfista-milionário fosse... ..........................................................................................................................................................................

S u m m e r M a d n e ss

........................................................................................................... photos by carlospintophoto.com texto by Fernando Pisco legendas by ONFIRE


O desafio não poderia ser mais interessante, ao mesmo tempo que desinteressante. Parece confuso, eu sei! Deixem-me explicar. Se bem se lembram, na última edição da ONFIRE, tive a honra de ver os meus “Devaneios Marroquinos” publicados. Nessa viagem procurei o lado mais roots possível do surf, e apesar de ainda hoje não saber bem se o encontrei ou não, penso que estive muito perto. Uns tempos depois de regressar dessa viagem tive um outro momento inspirador... Como vos disse, trabalho numa oficina de carros na Damaia e a minha especialidade são pneus. Apesar de na maioria dos dias trocar pneus de “clássicos” que “optaram” por deixar as modernices dos vidros eléctricos, ar-condicionado, bancos aquecidos e regulados automaticamente, e ligação wireless às mais futuristas engenhocas de parte, houve um dia em que a oficina parou no momento em que uma comprida limusina entrou. Um árabe, jovem ainda ao ponto de nem ter barba mas sim borbulhas de puberdade, trazia consigo a sua corte de 10 (absolutamente inacreditáveis) mulheres no interior do seu luxuoso meio de transporte, assim como dois guarda-costas e, impossível de não reparar de imediato, um bruto relógio de ouro e diamantes. Quando este (e toda a sua corte) saiu do interior da limusina, deu por si ainda na rua, uma vez que o último terço da viatura nem cabia no interior da garagem. Mas mais peculiar que esta situação, e que me fez, assim como a todos os que lá trabalham, ficar a olhar com ar de parvo para o jovem árabe, era o comprimento do seu braço esquerdo. Já ouviram falar das mulheres-girafas, aquela tribo que vive algures no meio de África e que tem por hábito enfiar argolas de metal no pescoço com o passar dos anos, ao ponto que o seu pescoço estende de uma forma totalmente anti-natural? E que, chegado um ponto, já não podem tirar as argolas pois se o fizerem morrem asfixiadas? Era mais ou menos o mesmo no caso do árabe, mas em vez de acontecer no pescoço, a estranha extensão muscular acontecia no seu braço esquerdo... Pertencente à longa linhagem de aristocracia árabe, o jovem, príncipe como vim a saber, usava o relógio que acima falei nesse braço. Era essa a sua argola para a vida, a sua herança familiar e cultural, e que era usada por este com o mesmo orgulho com que as mulheres-girafa usam as suas “correntes”. Dificilmente conseguiria perceber se seria o ouro ou os diamantes o que mais valeria no seu relógio, isto para vos dar uma noção da riqueza herdada pelo príncipe. Mas facilmente consegui perceber que aquele monstro que, acredites ou não, tinha um guardião 24h por dia – um dos seus seguranças era, literalmente, contratado para NUNCA tirar os olhos do relógio -, tinha um peso extremo. “Este meu braço mede mais 2.34cm que o direito...”, disse-me com a maior cara de orgulho. “O meu tetra-avô foi quem, até agora, conseguiu ficar com o braço mais estendido, uns desproporcionados 5.23cm... Ainda sou novo, por isso acredito que vou lá chegar!”, confessou-me. Mas, como consegui eu, mero plebeu, falar com tal elemento da realeza árabe, perguntas.

............................................................................................................................... Este foi um dos maiores dias durante a minha estadia “limusínica” em Espanha, e esta foi sem dúvida a manobra mais abusada que vi o Diogo Appleton dar no seu louco Verão europeu.

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Se as bolhas do champanhe (verdadeiro, não um espumante manhoso) que bebi tivessem a projecção vertical da água desta manobra de Miguel Blanco, teria passado os meus dias não numa limusina mas numa cama de hospital espanhola a recuperar de umas quantas operações ao nariz! .....................................................................................................................

Na minha zona de trabalho tenho, como não poderia deixar de ser, várias fotos. Sim, também dessas que imaginas, com esculturais deusas semi-nuas. Mas mais importantes que essas são as fotos de ondas perfeitas. Uma de cada sítio onde gostaria de ir um dia. O tal príncipe árabe esteve (e está) envolvido na famosa piscina de ondas do Dubai (pelo que percebi é um accionista), e tem tido os seus primeiros contactos com o surf nos últimos meses. Contou-me que para ele, neste momento, o dia perfeito consiste em levar o seu harém de mulheres para a (sua) piscina de ondas para continuar a descobrir os prazeres de cortar as doces ondas azuis turquesa, em vez de estar a gerir os campos de petróleo da sua família sentado atrás de uma secretária. “Sei que já tinha sucesso com o meu harém privado, fisicamente falando, mas não imaginas o que elas me fazem e como ficam depois de um dia destes de surf... Vou-te contar um segredo, as mulheres adoram surfistas!”, confessou-me como se tivesse descoberto o maior segredo do mundo. Foi este episódio, que só por si já dava uma longa história mas que infelizmente não é o caso pois esta viagem não leva surfistas portugueses à piscina do Dubai (quem sabe um dia...), que me levou ao tal desafio de que falo no início do texto. “Porque não inverter completamente o sentido da agulha da vida?”, pensei depois de ter mudado os 12 pneus da limusina. Se procurei o lado roots porque não, agora, procurar o lado mais “bling, bling” do surf? Viajar de avião, hotel de 5 estrelas, casinos, limusinas, festas high society cheias de mulheres saídas de capas de revistas e tudo envolvido com o mais saboroso ingrediente, surfar. Seria isto procurar um lado fútil do surf ou um lado que raros surfistas têm acesso? Interessante ou desinteressante? Deixo ao vosso critério pois, como já perceberam, para mim foi interessante o suficiente para me fazer à estrada.... aliás, ao aeroporto! Claro que não tinha o budget para me mandar para o Dubai ou para o louco e milionário mundo californiano (que, culturalmente, anda de mãos dadas com o lado mais hippie e artístico do surf). Como na Riviera Francesa os swéis demoram demasiado tempo a aparecer, optei pela outra costa francesa, aquela que começa em Biarritz e passa por Hossegor. Esta loucura de experiência teria mesmo de ser vivida no Verão pois é nesta altura que o surf mundial se centra na Europa. As várias competições de surf, e atenção que não sou grande adepto da competição, fazem com que muitas das (já milionárias) estrelas do surf venham até àquela que é umas das melhores surf zones europeias nesta altura do ano. Na França, usando o bom dialecto escrito de imigrante, já tinha estado várias vezes, mais concretamente nos arredores de Paris, em trabalho, e razão suficiente para não ver mais do que dezenas de tipos de borracha. Torre Eiffel , Arco do Triunfo, os famosos cafés parisienses, qual quê?!? Cidade do Amor? Acredito que sim mas o mais perto que estive de sentir algum amor francês durante a minha estadia foi quando um dos engenheiros que trabalha no desenvolvimento de novas fórmulas de borracha para pneus nos disse que a base dessas fórmulas é a mesma que hoje se usa nos preservativos. Estranho eu sei...

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Por isso decidi aterrar em Paris antes de partir para a loucura do Verão da costa oeste francesa, e aproveitar para visitar esses importantes marcos da cidade do Amor. Um pouco de cultura não-surfística não faz mal a ninguém, muito antes pelo contrário. A ligação que estabeleci com o príncipe árabe foi tal – o surf tem destas coisas que não olha a estratos sociais - que este me deu um contacto de limusinas em Paris após lhe ter enviado um email a contar-lhe da inspiração que a nossa conversa naquele dia me trouxe. Sim, admito, secretamente desejava que ele me patrocinasse a viagem à sua piscina de ondas do Dubai. “Se fores mesmo (a Paris) diz nesta agência que vais da minha parte que eles irão tratar-te como se fosse eu. Já os avisei. Encara isto como uma cortesia pela tua simpatia. From a surfer to another!”, assinou no final do seu email. Não tinha nada a perder, e foi numa das mais chiques zonas de Paris que entrei a pé e saí abancado no interior de uma bruta limusina conduzida por um “Ambrósio” franciú. “Biarritz, s’il vous plaît!”, ao que ele apenas respondeu: “Oui monsieur”, mas provavelmente a achar que eu era louco. 742.7 quilómetros depois estava a chegar à Grand Plage de Biarritz. Escolhi Biarrtiz como centro do meu mundo durante os primeiros dias pois pensei que seria aqui que iria viver o espírito de million dollar man da melhor forma. Foi em 1854 que a mulher de Napoleão III construiu, na praia, um impressionante palácio. Com uma arquitectura incrível, mulheres lindas a passear pelo seu interior, e onde um simples chá de limão (água e um pouco de casca de limão) é o suficiente para te deixar a carteira vazia, este palácio é hoje um luxuoso hotel e onde, melhor do que em outro sítio qualquer neste pedaço de costa, senti que estava cada vez mais imerso no corpo de alguém que caga notas de 500 euros três vezes por dia. Inicialmente o plano era dormir neste hotel mas budget para isso era, como descobri, impossível. A solução teve muito de português, historicamente célebre pelo seu desenrascanço: fazer da minha luxuosa limusina o meu quarto de hotel. Estacionei-o à entrada no hotel e era quase quase como se estivesse lá hospedado. E se pensarmos bem esta solução foi à “boss”, afinal a maioria dos surfistas fica em parques de campismo ou a dormir nos seus carros normais quando vêm para estas bandas. Está certo que, no fundo, também estava a pernoitar num carro mas digamos que o meu tinha mais do que espaço para me deitar à vontade, frigorífico pessoal, garrafeira com whiskies e alguns dos melhores vinhos que há neste pais, e, a dormir no banco da frente, um chauffeur/guarda-pranchas particular e permanente. Mais de 20 lentes apontadas, alguns autógrafos, dezenas de rostos (e não só) espalmados contra os vidros escuros da minha limusina a tentar ver se viam quem estava lá e, acreditem ou não, apenas numa noite não tive esculturais jovens francesas a quererem

............................................................................................................................................................................................................... Engraçado ver esta foto do Tomás Fernandes pois este era o meu ângulo de visão do surf sempre que estava estendido nos 3 metros da parte de trás da minha limusina. Foram muitas as manobras que perdi por causa daquele pau mas esta do Tomás ficou-me bem na retina (e parece que ao fotógrafo também) daí o meu entusiasmo ao vê-la neste artigo (qualquer dia ainda sou editor de fotografia eheh)!

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uma bebida no meu apartamento móvel - mais não digo sobre este assunto – foram alguns dos assédios que vivi e que suponho que quem viva desta forma tenha regularmente. O que uma limusina pode fazer é, honestamente, assustador...! Biarritz tem para mim um senão, as ondas. Tem dias épicos, sem dúvida, mas nesta altura do ano está longe de ser o spot perfeito. Sentia falta dos tubos de Hossegor, que mesmo no Verão funcionam muitas vezes. Sentia falta das praias de nudismo (em Biarritz só topless), da loucura despreocupada e simples das noites no Rock Food onde, do nada, deusas sobem para cima do balcão e iniciam um hipnotizante ritual de striptease (que geralmente acaba depois de mostrarem os redondos e perfeitos peitos). Sentia também a falta de ouvir português. Por isso, depois de alguns dias em Hossegor, onde tive o prazer de ver e surfar com Frederico Morais, entre outros portugueses, que não me conhece e que, divertido, me pareceu ouvi-lo comentar que havia um maluco que todos os dias chegava à praia de limusina, também o ouvi dizer que ia partir da França (toque imigrante) para Espanha pois eram lá os próximos campeonatos. “Ambrósio, allez para Spain”, pedi-lhe na língua que ambos inventámos durante estes dias (o meu françês é mau, o inglês dele era péssimo e o português para ele era como o japonês para mim – “Arigatô” e mais não sei). Confessar que foi em terras de nuestros hermanos que comecei a abandonar o sentimento fútil (agora vejo) de querer viver à milionário. Mas por outro lado, comer tapas no interior da minha limusina, de vidro aberto para o line-up num recanto onde apenas a minha viatura estava (é incrível as portas privadas que uma limusina abre), enquanto o sol desaparecia no horizonte foi uma sensação única. Admito que trazer uma femme “franciú” comigo para passar estes dias como se de uma lua de mel muito particular se tratasse também ajudou. Admito ainda, sem qualquer pudor, que fazer amor com essa femme na noite de lua cheia de Agosto no interior da limusina foi uma das melhores experiências da minha vida (fazer o Amor num carro normal queiramos quer não é uma experiência complicada que poderá acabar mal para nós se nos distrairmos muito com a localização exacto do manípulo de mudanças). Todas as manhãs eram iguais, acordava com o nascer do sol, ia acordar o “Ambrósio” para este ir descansar para o seu lugar - ele dormia fora do carro para não levar com os abanões e sons das minhas cambalhotas privadas -, e ia surfar umas duas horas. Depois voltava para o meu luxuoso quarto de hotel com rodas e para os braços da minha femme, e passava o resto do dia a ver o Vasco Ribeiro, João Kopke, Francisco Alves, Diogo Aplleton, Pedro Boonman e o Miguel Blanco, entre outros, a disputar ondas durante 20 minutos. Era como se fosse um grande filme de surf que não acabava e que tinha o luxuoso toque de ser regado a champanhe (do bom) e morangos, cortesia diária da influência do meu amigo árabe na agência de aluguer de limusinas. ....................................................................................................................................................................................................... Soube, através do site da ONFIRE, que João Kopke tinha vindo para Espanha ainda na fase final da recuperação de uma lesão no joelho. Como é que um gajo vem de uma lesão e, quase imediatamente, está a surfar melhor do que antes?

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Se o Vasco Ribeiro soubesse as consequências deste abusado aéreo reverse SEM MÃOS... Lembro-me que estava no, como dizer, bem bom com a minha femme mas sempre com um olho no mar. Quando o Vasco aterrou esta manobra, dei um salto tal que dei por mim fora da limusina aos pulos e berros. No seu interior, ficou uma francesa completamente irritada comigo... O que ela me fez já tu sabes se leste o texto deste artigo até ao fim... ..............................................................................................................

Admito que esta vida de “bling, bling” é perigosa. Atingimos uma forma de estar onde, do nada, sentimos que somos poderosos (monetariamente) o suficiente para vivermos desta forma até ao fim dos nossos dias. Acordar, surfar, viver à grande, ir às festas mais badaladas e, sempre que quisermos, podemos arrancar para outro lugar. Claro que este meu sonho estava enformado nas estradas que percorrem a Europa mas mesmo esta seria gigante o suficiente para explorar a “minha” riqueza. “Quanto mais alto subimos maior é a queda!”, diz um dos mais famosos ditados. E foi mesmo isso que vim a descobrir após 20 dias... No dia em que todos os portugueses já tinham abandonado a Espanha para regressar ao nosso amado pedaço de terra à beira mar plantado, do nada, ao fim de pouco mais de 40 minutos de surf, o vento virou on-shore fortíssimo. Nuvens pretas, trovoada, chuva torrencial, uma daquelas demonstrações da Natureza que te fazer perceber o quanto és pequeno neste planeta. Li “O Alquimista”, de Paulo Coelho, de uma ponta à outra e o único sinal que encontrei no livro que realmente teve efeito em mim foi, ao contrário do seu personagem que encontrava sinais de vida em tudo o que via e vivia, o último ponto final, aquele que marca o fim de um livro. Desculpem-me os amantes deste Coelho brasileiro, mas para mim, este autor, nem da cartola de um mágico merece sair. Forte eu sei, mas era mesmo esta a minha opinião sobre o autor e este livro em concreto. Mas até isto mudou com a chegada da tal tempestade... Como bom ser humano em perigo, nadei mais rápido que o Michael Phelps e “pedalei” pelas areias de Sopelana mais rápido que o Lance Armstrong, apenas “dopado” pelo medo aterrador de levar com uma luminosa e chocante lança de Zeus no meio da cabeça. “O lugar mais seguro para estar durante um trovada é dentro de um carro”, lembrei-me. Mesmo que não fosse, não teria outro lugar para onde fugir. O meu trágico destino estava traçado... Assim que pisei o interior da limusina, uma hora depois de ter saído dela, e usando um gigante cliché mas que não poderia ser mais apropriado, senti que foi um pequeno passo para mim mas um grande passo para a (minha) humanidade (que acabaria caso a fúria de Zeus me tivesse acertado). Sol de pouca dura, continuando nos clichés, pois se no momento de deixar a pegada senti que tinha protegido a minha humanidade, rapidamente esta deixou de existir e foi substituída pelo lado mais animal do Homem. Virei bicho, daquele que espuma pela boca e espelha toda a sua dentadura enquanto ruge aos céus os mais altos gritos de raiva...

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O ser humano é um ser de hábitos e pelos vistos nós surfistas, por muito que pensemos o contrário devido à suposta “liberdade” que o surf nos dá, não ficamos atrás... A minha bela dama estudou os meus hábitos, assim como o meu suposto e leal compincha “Ambrósio”, e assumiu que as minhas duas horas de surf matinal eram religiosas. O mais grave é que até eram, pelo menos até a Natureza se ter (re)afirmado como a mais poderosa bomba que existe à face da terra. Queria sentir o lado milionário da vida e penso que o senti também da pior forma. Não que considere este episódio – que já devem ter percebido qual - exclusivo de quem vive na roda alta do dinheiro, mas não são os “famosos” carimbados pela facilidade com que trocam de mulheres, não por terminaram as suas paixões mas por levarem uns bons pares de adornos na cabeça? Pois também eu levei esta “aumento do crânio” e que só descobri quando da tempestade fugi, ignorando por completo o conceito de que, num instante, a nossa vida pode ser colocada de pernas para o ar. Já o deveria ter aprendido no meu “Devaneio Marroquino” mas a embriaguez da boa vida fez-me esquecer o elementar. Não que pudesse fazer algo para mudar este rumo da vida, mas pelo menos poderia estar mais preparado mentalmente! Pisar o interior da minha limusina, feliz por estar em segurança e ansioso por me sentir na seguranças dos braços, pernas e seios quentes da minha amada era o que ansiava enquanto os meus dedos travavam uma lutam desigual em número com as centenas de cabelos que me caíam pela testa abaixo. O prémio desta batalha era a visão, e, se soubesse o que sei hoje, teria deixado a vitória para os meus prolongamentos capilares. Mas não foi o caso, e após a força bruta dos meus dedos derrotar a minha cabeleira, a minha cegueira momentânea desapareceu e com esta, iria também desaparecer a cegueira milionária que até aqui me tinha feito chegar. A “minha” companheira de noites mágicas rastejava com as suas formas perfeitas pelo corpo nu do “Ambrósio”, embrulhados que nem duas cobras siamesas. Mais não será preciso contar deste triste desfecho, excepto que nunca tinha vista um ser humano, em três segundos, passar por um buraco tão pequeno como aquele que separa o banco do condutor do passageiro da limusina, ligar o carro e arrancar largando-me que nem lastro de navio no meio do nada psicológico onde me encontrava. Coração abatido à parte – as mulheres francesas têm esta estranha capacidade de nos enfeitiçar sem nos apercebermos – esta não deixou de ser uma grande lição de vida, a qual só me foi entrando na mente à medida que ia trocando de viatura de volta para a Damaia, Portugal. A cada dedo polegar estendido à espera da próxima alma caridosa que me ajudasse a fazer mais uns quilómetros pela desértica auto-estrada espanhola, ia apreendendo no meu cérebro dois factos importantes e que já deveria saber há muito: o dinheiro “à bruta” não traz felicidade, e, afinal, o Sr. Coelho brasileiro até sabe uma ou outra coisa sobre a vida e os seus sinais! FP

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Von Zipper [ unbelievable ] Pa rt y

........................................... photos by João Marques texto by ONFIRE

................................................................. Uma deusa vestida com uma gabardina passeava-se pela multidão de um mega-festão… Quando se cruzava com alguém, em menos de cincos segundos deixava essa pessoa de queixo nos pés… e com uns magníficos óculos de sol na cara!… .............................................................................................................................................................. A expectativa era muita… Corria o burburinho que algo embriagante (e que não envolvia bebidas alcoólicas) iria acontecer. Rumores passavam de boca em boca e sms em sms. Joana Rocha [01] tentava decifrar o enigmático sms que continha pistas do que estava para acontecer mas nem ela nem a enorme multidão presente no Bar Pedro o Pescador [02], Ericeira, conseguiria prever a forma brilhante como a Von Zipper Portugal iria apresentar a sua mais recente colecção. O segredo foi desvendado quando a estonteante Rute Penedo entrou vestida de gabardina e óculos de sol VZ [03], ao lado de Paulo Martins. E se a presença da top model automaticamente levava a festa para

outro nível, imagina quando, de repente, ela começou a abrir a gabardina… Sabes aqueles momentos em que o tempo entra em super câmera lenta? Se já deste um tubo sabes bem, e sabes também que esses momentos, fora de água, são tão raros que geralmente só acontecem se passas por uma situação em que vez a morte à frente dos olhos. Mas a Rute Penedo, com a sua sensualidade muito própria, a abrir a gabardina mostrando que por baixo desta só haveria pele…. BUMMM!!!! O mundo parou! As suas formas perfeitas revestidas por um biquini eram a fórmula perfeita para realçar o interior da gabardina de Rute, onde estavam pendurados os novos modelos da VZ. “Será que podemos tirar os óculos de gabardina da Rute Penedo para os experimentar?!?”. Desejo concedido e, a partir daí, começou uma autêntica “luta” por um lugar debaixo da gabardina da Rute. Houve uma amigável disputa de sexos [04] para ver quem começaria a experimentar os óculos com a Rute, luta essa que terminou com os homens, como bons cavalheiros, a deixar as ladies serem as primeiras [05]. O entusiasmo era tal que até um cão ameaçou morder o dono, e todos os machos presentes, caso este não o coloca-se ao lado da Rute com uns dos novos VZ no focinho [06]. Ele era o alpha male da noite e, verdade seja dita, nenhum outro macho presente teve coragem de o enfrentar. Os “Miguéis” (Fortes e Matos) foram os primeiros machos não-alpha que experimentaram dois modelos de óculos e foram também os primeiros, de muitos, a quem a sempre simpática Rute fechou gentilmente a boca [07]. Onde estão dois “migueis” está sempre um terceiro, e este era o Kazenstein, que com o seu conhecido bom humor acabou por brincar com a situação como ninguém [08]. Seguiu-se, no embelezamento dos globos oculares, Rodrigo Pimentão [09], que apesar de já conhecer a colecção como ninguém - é director de marketing da marca -, quis obviamente ter um registo desta noite de sucesso. As horas foram passando e as fotos com a Rute e os VZ na cara foram aumentando exponencialmente entre vários dos convidados [10] e convidadas [11] presentes. Se a festa já estava a ser inesquecível, então quando Rute resolveu saltar para trás do bar [12], aliando beleza feminina em biquini com bebidas alcoólicas, soubemos que esta seria uma noite para contar aos nossos netos! Ou seja, para saberes os pormenores do fecho desta noite, terás então de esperar pela terceira geração de descendentes dos editores da ONFIRE. Qualquer coisa como uns 25 ou 30 aninhos, nada que não passe num instante! OF 78 ONFIRESURFMAG.COM



Dá-nos uma breve introdução à tua pessoa como artista. Quando e como começaste, o que tens feito e o que te define, te diferencia e te relaciona com a arte. Acima de tudo considero-me um surfista, tendo sempre vivido na praia, esta sempre foi o meu “playground” de eleição. Desde muito cedo que nutro uma grande paixão pelo mar, surf e tudo o que o envolve. Naturalmente comecei a surfar muito cedo, daí a ter alguns apoios, viajar e competir foi “um saltinho”, mas uma vez que como surfista, a competição nunca mexeu muito comigo, acabei por enveredar mais por uma onda de freesurf. Isso fez que desde cedo cultivasse o cuidado de trabalhar com fotógrafos a fim de ir documentando as minhas surfadas e viagens. O resultado foi um gradual interesse pela fotografia em si. Mais tarde acabei por comprar a minha primeira máquina fotográfica e comecei eu próprio a abordar essas mesmas vivências de uma perspectiva mais pessoal. À medida que fui evoluindo como fotógrafo, a curiosidade e o interesse foram proporcionalmente aumentando, e consequentemente o meu trabalho foi ganhando alguma exposição, tendo inclusive algumas fotos publicadas em edições tanto nacionais como internacionais, tendo mesmo realizado algumas exposições, e ganho alguns concursos fotográficos. Hoje o surf continua a ser uma prioridade na minha vida, ou seja, basicamente só quando não estou a surfar, é que estou dentro de água a fazer uns fotões! Quais os projectos que tens estado envolvido ultimamente? Em termos fotográficos, sempre que posso, continuo a fotografar o que me dá mais gozo. Maioritariamente como freelancer, embora já tenha tido alguns trabalhos como documentar surftrips, campeonatos, eventos, etc. Actualmente estou preparar uma série de exposições (tanto individuais como colectivas) e à parte disso estou a trabalhar no meu website/portfólio que espero esteja pronto brevemente. Quais os teus materiais preferidos? Para mim tanto a máquina como a caixa estanque fazem parte do meu “quiver” e, assim como as minhas pranchas, são uma prioridade em qualquer surfada. Pessoalmente acho aborrecido ficar horas e horas a fotografar surf a partir da praia, pois é muito monótono. Gosto mais de estar perto da acção, pois fotografar dentro de água, os perigos inerentes, a colocação em relação aos surfistas, é muito mais emocionante. Que relação encontras entre o surf e a arte? É a arte que influência o teu surf ou o surf que inspira a tua arte? A minha fonte de inspiração é o mar, e todos os sentimentos intrínsecos a este, seja a surfar ou a fotografar... Para mim o surf está primeiro e depois vem a fotografia... Sinto que tudo está interligado, pois não é raro dar por mim a surfar e a vibrar com os outros dentro de água a pensar as boas fotos que “estou a perder”, no entanto, quando estou a fotografar dentro de água e totalmente absorto pela envolvência do ambiente, continuo a vibrar com as ondas dos outros mas não posso deixar de pensar nas ondas que podia estar a surfar. É o eterno dilema... .................................. JR texto by João Rei ...............................................................................................................................................................................................................................

M a r c o

D o m i n g o s

a . k . a .

S e n e x

............................................................................................................................................................................................................................... Patrocinios apoios = Ferox Surf boards + Janga Wetsuits + Freak Traction + Ditadura Bar website portfolio www.facebook.com/senexphotos ..........................................................................................................................

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SURF [ BOM & BARATO ] Certa vez estava num stand de automóveis numa daquelas secas monumentais à espera do parafuso xpto para o meu carro, quando vi no monte de revistas (todas elas auto qualquer coisa) uma revista de surf! Depois de ver todas as imagens decidi ler um artigo relacionado com a técnica do surf. Neste li um comentário do Kelly Slater em que ele disse ipsis verbis “its all in the ankles”. Esta observação tem muito que se lhe diga e à partida ficou muito por dizer para que eu compreendesse em pleno a sua afirmação em relação à importância dos tornozelos no surf. Contudo podemos ter como garantia o seguinte: o primeiro conjunto de articulações entre nós e a prancha são os tornozelos (sem contar com as articulações do pé). Todas as forças que passam entre o corpo e a prancha transitam por estas articulações. Isto implica que as mesmas influenciam brutalmente o resultado final das nossas acções sobre a prancha, assim como as reacções da prancha sobre o corpo. Recorrendo a uma analogia, podemos comparar os tornozelos a dois filtros que condicionam tudo o que por eles passam, de maneira positiva ou negativa. Em termos práticos e nomeadamente onde nos é possível intervir podemos considerar dois aspectos fundamentais: a flexibilidade tíbio-társica (tornozelos) e a posição dos pés em cima da prancha sendo que a primeira será tema do próximo artigo, concentremo-nos na segunda.

Kelly Slater e os seus famosos tornozelos! | photo by Timo/Quiksilver

SURF [ BOM & BARATO ]

................................................................... texto by Zaca Soveral ...........................

Ao abrir qualquer revista de surf podemos ver diversas abordagens a este nível. Uns colocam ambos os pés perpendicularmente à longarina; outros colocam o pé dianteiro na diagonal e apenas o pé traseiro na perpendicular em relação à longarina. A meu ver esta última abordagem será a mais correcta, uma vez que em termos biomecânicos facilita a manutenção das ancas por cima da prancha. No surf de backside, este alinhamento das ancas com a prancha facilita a rotação da coluna para a parede da onda nas manobras de backside. Mantendo o pé dianteiro diagonal à longarina implica também um menor esforço no joelho traseiro na medida em que diminui substancialmente a necessidade de rotação externa deste. Para compreender melhor este aspecto tem em conta que ao metermos o joelho de trás “para dentro” quando estamos em pé em cima da prancha, o pé de trás mantêm-se perpendicular em relação à longarina devido ao wax ou o deck. Caso contrário o pé traseiro rodava em simultâneo com o joelho, ficando desta maneira também ele na diagonal em relação à longarina. Estes aderentes desempenham a sua função mantendo o pé onde está independentemente da posição do joelho, mas não podemos ignorar as forças que actuam sobre o joelho nesta posição de esforço (quando o pé está perpendicular á longarina). Surfar com ambos os pés na diagonal é uma abordagem equilibrada pois é mecanicamente equivalente a mantermos ambos os pés perpendiculares á longarina com o bónus de danificar menos os tecidos moles dos ambos os joelho e especialmente o de trás. Nas palavras de um vendedor de automóveis seria a melhor opção em termos de preço/qualidade e é bom que o surf não nos saia caro. Negócio fechado? ZS

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*Juventude contra monotonia.


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