ONFIRE 55 | Fighting the Crisis with Surf | Fev-Mar 2012

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www.onfiresurfmag.com | nยบ55 | ano X | fevereiro marรงo 2012 | bimestral | pvp cont 3euros [iva 6% inc]




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*Novo F.U.Z.E. 2011: o novo sistema de fecho no peito usa a mesma tecnologia do sistema de fecho Z.E.N. Mas agora é mais fácil entrar e sair, e há um aumento da temperatura devido ao RG8-Air Firewall que te mantém seco sem perder flexibilidade. **Faz a sala verde mais verde. Combinando materiais ecológicos com material de ponta e os seus benefícios, isto resulta num produto com performance superior que ajuda o ambiente. Todos os Psycho RG8 salvam 100 garrafas de plástico de poluírem os Oceanos e diminuindo as garrafas que estão à deriva no vortex do Pacífico e Atlântico. A O’Neill continua a encontrar soluções reais para os desperdícios que a indústria enfrenta hoje. Desde sempre que usamos limestone neoprene e reciclamos bocados de neoprene. Estamos empenhados em marcar a diferença com o programam Regenerate e os seus esforços para reduzir, re-utilizar e regenerar produtos que te mantêm na água mais tempo.


Aura, SA 21 213 85 00



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*Surfista de ondas grande e embaixador do planeta. VĂŞ mais em ripcurl.com. **Seca num instante


Francisco Alves achou que voar durante 24 horas não foi suficiente para a sua adrenalina, por isso decidiu fazer mais umas horas de voo mal aterrou na Austrália. photo by carlospintophoto.com

....................................... .024 Feedback .026 coffeebreak .028 check-out .029 chill’out .030 oF virtual .031 art riders .032 stuff .034 À Deriva .036 Dna .038 Quiver champ .040 opinion lider .098 preparação .......................................

O Enredo .................................. Podemos assumir que a capa desta edição apareceu como um relâmpago. Deixem-nos tentar explicar esta ideia... Francisco Alves chegou à Austrália com a restante comitiva júnior e, como seria óbvio, cheio da pica para surfar as quentes e perfeitas ondas do outro lado do mundo, e onde se concentram alguns dos mais promissores nomes da sua geração. Se há um país perfeito para evoluir o surf performance é aqui, principalmente no início do ano, e foi com todo este envolvimento que o surfista da Costa da Caparica, na sua primeira sessão de surf, elevou o nível com este abusado aéreo! Nessa noite, Carlos Pinto, fotógrafo da casa ONFIRE, enviou-nos um email com o abusado momento e, tão rápido, como o email a chegar, foi a nossa decisão do destino dessa foto. Francisco Alves faz assim a sua primeira capa na ONFIRE. ..................................

É nesta altura do ano em que os momentos mágicos da linha do estoril acontecem muito regularmente. s. pedro do estoril num fim de tarde de sonho. photo by mauro motty

O melhor surfista português de sempre fala-nos, ao detalhe, de como se preparou para mais uma temporada no mais alto patamar do surf competitivo, o WT. .................................... Preparando mais uma temporada!!! ................

.042 Life on Tour .012 Sinopse

........................... A foto da Sinopse - pois como já sabes os textos dos editores não valem um charuto - vai-te mostrar quem está realmente prestes a levar com a crise...

.016 XPression

................................ Sabemos que gostaste de ter uma XPression com muitas páginas na edição passada por isso decidir repetir a dose neste número.

.050 Destinos

.............................. A Baía do Escorpião ........................ Mostramos-te a Perfeição Efémera no Deserto da Namíbia... Ou seja, e para te ajudar a descodificar isto, mostramos-te o mais longo tubo do mundo...


.056 Análise

............................ 7 Formas de Combater a Crise .................................... Já que se fala tanto de crise, e como queremos que te aguentes a este ano duro, arranjámos sete formas de combateres a crise, sempre com muita diversão claro!

.064 Spotlight

............................... Miguel Blanco – Rising Star ................................. O surfista Miguel Blanco é um dos mais promissores surfistas da nova geração, por isso decidimos que estava na hora de colocá-lo debaixo do forte holofote da ONFIRE!

.074 Surftrip

.................................... Fim de semana em Itália .............................. Não, não é um fim-de-semana amoroso, pois sabemos que Frederico Morais, Marlon Lipke e Gony Zubizarreta foram a Itália apanhar ondas incríveis e não para cultivar o Amor!

.082 Slideshow

................................. Um “ajuntamento” dos melhores momentos de surf, como sempre portugueses, dos últimos tempos, tudo encaixado em 16 páginas cheias de magia!



Seria demasiado hipócrita dizer que toda esta história da crise (verdadeira ou fictícia é já outro assunto) não nos afectou! Infelizmente é principalmente na parte do surf feminino que o vais sentir, uma vez que este ano vamos ser obrigados a colocar em stand by as 32 páginas que decidimos integrar na ONFIRE na última edição, e todas elas dedicadas a este segmento do nosso desporto. Mas é como dissemos, estamos a colocar esse projecto em stand by pois, como sabes, não tem havido meio de comunicação nos últimos anos que mais tem puxado pelo surf feminino! Todos sabemos - quem não sabe devia! - que estas histórias das crises são processos cíclicos. Aliás, a ONFIRE começou numa altura de crise e, apesar desta ser (ou parecer) mais profunda que a de há 9 anos atrás, todos nós aqui no escritório da OF temos perfeita noção do tipo de sacrifícios que têm de ser feitos! Por outro lado, tudo tem um lado positivo, e o staff da OF tem para mim a mais importante qualidade de um grupo de trabalho: união soberba nos momentos críticos! É em momentos destes que nos unimos como nunca e posso dizer-te que atravessamos a fase mais criativa da nossa História. Pode parecer estranho mas se pensares bem não é! O que vos posso dizer é que, apesar de toda esta crise, são alguns os projectos que temos para lançar em 2012... Como é óbvio não quero, nem posso, desvendá-los, senão sou despedido, o que nesta altura de crise não dava muito jeito, mas posso garantir-vos que faremos tudo para que atravessem esta fase da forma correcta: com força, positivismo, MUITA diversão e a fervilhares de ideias. Aliás incutir estas “mensagens” nos vossos cérebros sempre foi o grande objectivo da ONFIRE, então porque haveria este ano de ser diferente? ................ Nuno Bandeira

Olhem bem para esta foto e digam lá quem é que está realmente prestes a levar com um gigantesca crise na cabeça? Isto sim, é caso para estar realmente preocupado! | photo by carlospintophoto.com

Este está a ser o Inverno com a água mais gelada de que me lembro. Foi o ano em que decidi abdicar do meu fato 4/3 super maleável por outro mais “armadura”, desde que fosse muito mais quente. Para meu espanto o fato mais quente pouco tinha de armadura, o que me deixa orgulhoso de realizar o quanto a nossa indústria evolui de ano para ano. Enquanto despia este fato pela primeira vez lembrei-me do primeiro que tive. Devo tê-lo comprado no dia 25 ou 26 de Dezembro, pois foi com aqueles “troquitos” que o velho barbudo traz naquele dia que arranjei “capital” para o fazer. Com o “cash” no bolso dirigi-me à (já desaparecida) Windsurf Guincho das Amoreiras e comprei logo o primeiro que vi, Um Gul Classic 3/2. Custava 19.800 (escudos, aproximadamente 100 euros na moeda de hoje). Na verdade tinha dinheiro para comprar um melhor, nomeadamente um O’Neill que havia lá, e uns meses mais tarde iria arrepender-me da minha escolha. Mas na altura quase todos os meus amigos tinham fatos Gul e nessa idade muitas vezes procura-se mais aceitação do que individualidade. Apesar de ser muito melhor do que surfar de fato de banho e licra, como aconteceu nos primeiros meses, esse fato sim, era uma autêntica “armadura”. Deixava o frio de fora, mas os movimentos também ficavam muito limitados. E com o que cresci na altura também a circulação ficou limitada e menos de um ano depois quase não cabia nele e tive de comprar outro. Se não me engano um Wavelenght, também 3/2. Na altura os fatos em segunda, terceira e quarta mão circulavam bastante e sabia que parte do valor do meu Gul ia ajudar a “patrocinar” a minha próxima troca de prancha ou fato. Foi aí que um amigo lá da praia se ofereceu para me ajudar a vendê-lo e rapidamente lho passei para a mão para esse efeito. Ainda hoje gosto de acreditar que foi uma infeliz coincidência o facto dele ter deixado de fazer surf pouco depois e, por consequência, nunca cheguei a ver a “cor do dinheiro”! Desde aí já devo ter tido mais de 20 fatos e uma das coisas que me dá mais “pica” é, a cada inverno, testar um novo e confirmar o que evoluíram de ano para ano. E, nostalgia à parte, aproveito para deixar um recado a um amigo que não vejo há muitos anos. “Cadá”, se estiveres a ler isto, devolve-me o fato SFF!!! ................ António Nielsen


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Distribuído em Portugal por: www.marteleiradist.com info@marteleiradist.com Tel. 21 297 20 54

*Parabéns Nathan Fletcher . Oito capas este ano e ainda a contar... **Rodas de skate gastas são usadas para fazerem os teus jeans mais macios e confortáveis.


esta foto foi tirada algures em s. torpes, num pico onde não há nenhum surfista que passe mais horas do que filipe Jervis. a dúvida que nos surgiu foi: será que Jervis já passou mais horas a surfar neste pico ou a voar pelos céus das várias praias? photo by carlospintophoto.com




De certeza que quando pedes a fibragem das tuas pranchas pedes que esta seja leve mas resistente, ou seja, pedes o melhor dos dois mundos. A verdade é que terás sempre de optar um pouco por um deles, a não ser que sejas um surfista com o power de Joackim Guichard. Aí sim, sabes mesmo que tens de pedir uma prancha resistente, caso contrário não consegues ter uma prancha que dure mais de uma surfada.

photos by carlospintophoto.com



photo by carlospintophoto.com

Estamos em falta com o Pedro Pinto. No outro dia enviou-nos um sms a perguntar se estava algum fotógrafo da ONFIRE presente para uma sessão. O trabalho era tanto (cof, cof, ok estávamos a surfar) que entretanto a nossa resposta ao sms nunca existiu. Envergonhados com a nossa atitude, cruzámos os dedos para que estivesse lá um fotógrafo nosso e... voilá!!!



De certeza que ficaste a pensar em que lugar paradis铆aco do mundo estava Nicolau Von Rupp quando viste esta foto. E de certeza que depois de analizares cada palmeira ao pormenor, juntamente com a morfologia da bancada de coral ao fundo, descobriste a p贸lvora: Mentawai!

photos by carlospintophoto.com


Neste Feedback discutimos o que é o paraíso - mas sem conotações religiosas - para a nossa comunidade, ao mesmo tempo que somos provocados por um leitor que nos provocou um aperto no coração por nos relembrar os maravilhosos dias que passámos nos Açores o ano passado! ...................................................................................................................................................... se o outro lado do Paraíso é assim... Quero lá estar!!! boas! Foi com muita expectativa e curiosidade que cheguei ao artigo da viagem às mentawai da edição passada uma vez que diziam que íamos conhecer o outro lado deste paraíso. Depois de ler o artigo, e ver as fotos, fiquei com a sensação de que se este é o lado “mau”, em termos de ondas, das mentawaii, então quero lá estar todos os dias da minha vida!!! Quero lá saber se estava pequeno ou com o vento um pouco manhoso! pelo que vi estava era perfeito!!! ondas compridas, performance, água quente e pequeno, como dizem, mas pelos vistos havia uns tubos bem fundos (basta ver o do Zé Ferreira)! não sei se são todos esquisitos ou não mas gostava que fossem, ao ponto de nem iram às mentawai quando está assim pois era de certeza nessas alturas que eu ia surfar essas ondas “más” e sem ninguém na água. abraços a todos e keep up the great work, Vasco Perdiz ................. Caro Vasco, pessoalmente não poderia estar mais de acordo contigo. E olha que não é preciso muito. Cá no burgo, há alguns pointbreaks que quando estão pequenos o crowd fica praticamente nulo pois, para a maioria está mau. A pergunta é, como pode estar mau se a onda é comprida o suficiente para um paparuco como eu encaixar cinco manobras (aliás, cinco tentativas de manobras)? Ok a água não é quente e os tubos (pequenos) são raros mas quem se pode queixar de surfar ondas desta qualidade sem crowd? Só mesmo os esquisitos!!! Como já percebeste, quando as condições nas Menta estiverem más, além de ti, também eu estarei lá!!! Mas dois não faz crowd por isso continuaremos sozinhos no paraíso (mas não te ponhas com ideias gays que não jogo para esse lado!).

...................................................................................................................................................... feedback açoreano boas! (…) comprei a vossa revista e gostei dos vossos artigos, tanto o dos açores como o de supertubos. Quando for para o continente tenho de experimentar supertubos, sem dúvida! notei que na publicação das fotografias da festa do artigo dos açores trocaram as legendas (2 com a 5, acho eu). mas muito bom o trabalho! anexo uma fotografia para vos dar pica em voltarem para os açores/s.miguel. este é um dos meus picos favoritos que não devem ter tido oportunidade de surfar porque na altura do verão os fundos nesse local estavam muito maus. mas situa-se no monte verde, pico das piscinas (na qual consegues ver as piscinas na fotografia). tirada por carlos Duarte, fotógrafo local. Um pico com um bom drop, tubo para a direita e

para a esquerda. Direita comprida com boas secções tanto para bater como para voar, mas algumas secções a pedir um cutback para ganhar velocidade. esquerda, um drop mais agressivo que a direita, muito rápida mas com uma voa junção para voar! espero ver-vos em breve cá! Luís Cunha ................ Grande Luís, foram sem dúvida belos dias aí em S.Miguel e já estava mais do que certo de que iria voltar assim que possível. Por acaso já tive o prazer de apanhar esse pico a funcionar pois, graças ao meu pai, tenho feito várias investidas a S. Miguel na última década! E o mais grave é que todos os anos “tenho” mesmo de voltar, e escusado será dizer porquê, se bem que agora, depois do sucesso do Billabong Islands Pro, já o mundo inteiro sabe. Mas, mesmo assim, sabemos perfeitamente que há ondas de sobra e quais as melhores condições para ir, por isso o segredo ainda está meio protegido eheh. Vemo-nos este ano por aí ou, caso venhas ao continente entretanto, em Supertubos! Ah, realmente trocámos as legendas mas a culpa não foi nossa mas sim da beleza do sorriso da simpática açoreana da foto cinco que nos fez ficar sem concentração no trabalho e desejar ainda mais voltar à Ilha eheh! Abraço!

Está pequeno e não há tubos! Este é o lado “mau” das Mentawai, aquele faz muitos pensarem duas vezes antes de lá ir... Mas vocês andam nas drogas ou não estão bons da cabeça? .................................................................................................. . photo by Hugo Valente


what turns you on?


analog giveaway ........................................................................................................ como o sol já apareceu e o verão já não está assim tão longe, os nossos amigos da analog não quiseram deixar de dar a oportunidade a um leitor da onFire de ganhar este belíssimo pack. e desta vez os desafios são fáceis, apenas tens de fazer o seguinte: 1 | Dizer quem é a mais recente contratação do team analog nacional (Dica: procurar em www.onfiresurfmag.com); 2 | ir ao site da marca (www.analogclothing.com) para nos dizeres qual é a tua peça preferida; 3 | Dizer quem é o teu patrocinado internacional preferido da analog; 4 | Juntar o código “analog Giveaway” que estará no site da onFire no momento em que menos esperares, por isso tens de o visitar regularmente! Depois é só juntar tudo o que pedimos e enviar para staff@onfiresurfmag.com. se fores o primeiro com tudo correcto serás o vencedor!!! boa sorte!!!

o. . 2. .0. . 1. .2. . re. . ir e v e . F . / o . . /.J. a. .n. . e. . ir. . . . . . . . . . . . . 1 1 0 2 o r ezemb. . . . . . . . . . . . e. D e. l. i. n ........... . . . . . T.i.m . . ....

12 de Dezembro: muito perto da saída da última onFire de 2011, a edição 54, dois surfistas da nova geração sagraram-se campeões nacionais open (aka liga meoprosurf). maria abecasis foi a primeira pois bastava-lhe passar o seu heat dos quarto de final para 11 de Dezembro: Tiago levar o título. além de ter avançado para as meias Pires acaba o seu ano e ter garantido o título, maria acabou por vencer a competitivo de 2011 no Billabong Pipeline masters. etapa acabando muito bem o seu ano neste circuito. photo by mauro motty apesar de não se ter dado bem na triple crown of surfing, saca acaba o ano em 23º lugar do ranking e garante a permanência na elite pelo quinto ano consecutivo! parabéns tiago!!! | photo by asP

12 de fevereiro: enquanto vasco e Kikas competiam em burleigh, outros juniores “foram andando” para manly onde competiram no australian open of surfing Pro Junior. francisco alves e Zé ferreira mostraram também muito bom surf no meio de muitos australianos e alguns “internacionais” para chegar aos quartos de final, acabando ambos em 13º lugar! photo by carlospintophoto.com

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Umas horas mais tarde vasco ribeiro faria o mesmo, vencendo a etapa e o título, sagrando-se assim o campeão nacional open mais novo de sempre. na final estava o outro candidato ao título, ruben Gonzalez, que ficou em quarto lugar e ainda nicolau von rupp (2º) e Frederico morais (3º). será o primeiro de muitos? photo by onfire

26 de Janeiro: Já em 2012, na Gold coast da austrália, os dois melhores juniores portugueses competiram no Billabong world Junior championship. esta era a derradeira etapa do mais importante circuito júnior do mundo e ambos perderam para eventuais finalistas. frederico morais perdeu logo no round 2 para o Havaiano nathan carvalho enquanto que vasco ribeiro foi eliminado no round 4 com Wade carmichael. mesmo assim vasco acabou em 12º no ranking final enquanto que Frederico ficou em 21º lugar. photo by carlospintophoto.com ................................................................ 05 de fevereiro: vários portugueses competiram no oakley Pro-Junior em notrh stradbroke e vasco ribeiro foi novamente o melhor, acabando em 5º lugar. vasco foi eliminado mais uma vez pelo eventual vencedor do campeonato, peterson crisanto, apesar de o ter derrotado em rounds anteriores.

10 de fevereiro: o surfista da praia Grande, nicolau von rupp, perdeu para Joan Duru no round de 16 do Hang Loose Pro contest, um evento prime em Fernando de noronha, brasil. pelos quatro rounds que passou até aí nic recebeu 2.400 pontos no ranking, uma pontuação muito valiosa para o seu objectivo de se qualificar para o World tour. Go nic! photo by carlospintophoto.com

11 de fevereiro: entretanto, do outro lado do mundo, na austrália, vasco ribeiro e frederico morais faziam o que será talvez o resultado mais expressivo das suas carreiras até agora. ambos chegaram às meias finais do Breaka Burleigh Pro, um WQs 4 estrelas que está sempre carregado de grandes nomes. entre os dois, pelo caminho, derrotaram nomes como mark occhilupo, mick Fanning, Jack Freestone, Kolohe andino e por muito pouco Julian Wilson e bede Durbidge não se juntaram a esta lista! vasco e Frederico não ganharam muitos pontos com os seus 5º e 7º lugares (respectivamente) mas mostraram que estão prontos para enfrentar o WQs! | photo by carlospintophoto.com


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texto e photos by João Pedro Rocha ......................................................................................

Ricardo Alves é um surfista júnior do grande Porto que começou a surfar com cerca de 12 anos numa das escola de surf na praia de Matosinhos. O seu talento tem vindo a verificar-se cada vez mais com o passar dos anos, tendo vários treinadores ao longo deste percurso. Um deles foi fundamental, “João Carlos Alves”, a quem agradece muito. Sendo agora um dos surfistas que mais se destaca da nova geração do Porto, Ricardo tem um surf fluido e radical, procura sempre inovar a cada surfada que faz. Adora manobras aéreas e inovadoras e tem como surfistas de referência Owen Wright e João Guedes, quem aponta como o melhor surfista que o norte teve. Actualmente estuda Arquitectura na baixa do Porto. Ricardo tem uma grande família de amigos atrás dele que o apoia em tudo o que é preciso. É uma pessoa simpática, bastante sociável e determinada com os seus objectivos, mas tem acima de tudo uma grande paixão pela praia. Já viajou para as Maldivas com a Surfcenter onde apanhou as melhores ondas da vida dele com os melhores amigos. Também foi para o Norte da República Dominicana em busca de novas ondas e tem como um dos principais objectivos viajar cada vez mais. A nível competitivo já foi campeão regional Sub 18 do Circuito de Surf do Norte e ganhou etapas Open regionais. Agora prepara-se para correr todas as etapas do Circuito Nacional e promete dar que falar. RPR ricardo faz de um reentry quase um aéreo quando solta a sua prancha toda!

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Livro - 50 Years of SURFER Magazine ............................................................ Little House Productions ..................................... Ninguém se pode gabar de ter uma (mini ou mega) biblioteca de livros de surf em casa se não tiver este livro! A SURFER é o único título que se pode gabar de ser a “bíblia” do surf e foi responsável por capturar e definir a cultura do nosso desporto. Este livro é um pequeno apanhado de tudo o que aconteceu ao longo dos primeiros 50 anos da revista. Dizemos “pequeno” porque, para meter tanta informação que estava tão bem catalogada, apenas num livro fica sempre aquém do que seria justo. 50 Years of SURFER Magazine é um livro de capa dura, com uma certa dimensão que te dará dias e dias de excelente leitura. Sam George e Shaun Tomson são os principais responsáveis por este autêntico tributo mas muitos outros participam nele também. No fundo este livro está longe de ser só um apanhado de tudo o que já se fez pois tem muito conteúdo novo que inclui, por exemplo, uma das mais bem elaboradas listas de surfistas mais influentes da história do surf alguma vez feita! Viagens, surfistas, design, performance, cultura e fotografia são alguns dos tópicos que fazem deste nostálgico livro indispensável.

Livro - Jack O’Neill – It’s Always Summer On The Inside ........................................................................................ Drew Kampion ........................ Uma pérola entre os livros de surf. Nenhuma marca poderia ter feito um apanhado melhor da história do surf do que a O’Neill. Porquê? Simplesmente porque esta marcou moldou o surf com o seu contributo incontornável, o fato de surf! Se hoje se usa a expressão “It’s Always Summer On The Inside” muito se deve a esta marca que contribuiu para que o surf fosse possível de praticar em qualquer lado do mundo. E não sendo a marca mais antiga da história do surf, é provavelmente a mais antiga que ainda continua a existir, e sempre perto do topo! Este livro, além de contar a história da família O’Neill e da sua marca, é também um apanhado histórico que honra todos os que estiveram ligados à evolução do desporto nos primórdios. Poucas publicações te vão dar tanta informação sobre a época em que o surf começou a caminhar para ser um desporto de massas. E provavelmente nenhuma o fez de um modo tão bem documentado. Deves adquirir um? Sem qualquer dúvida que sim!

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................................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................................... CRÉDITOS ONFIRE SURF 55 ... The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editor de Fotografia Hugo Valente | La Editora Mariana Leite | Arte & Design Marcelo Vaz Peixoto | Fotógrafos residentes Carlos Pinto [www.carlospintophoto.com] e Mauro Motty | Photo maniacs Jorge Matreno . John Callahan . Carvalhão . Tó Mané . Miguel Dolce . Pedro Silva . Sérgio Villalba . André Carvalho . Sandro Bravo | Escribas colaboradores Ricardo Vieira . André Leal . Zaca Soveral . Xibanga . YEP . Mikaeel Kew ... Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Propriedade Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda Impressão Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #55 ... Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede social Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens.

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w w w.o n f i r e s u r f m ag .c o m

................................. ............................................................................ ................. ................................. ............................................................................ ................. Começou a revolução dos espaços virtuais da ONFIRE que tanto falávamos aqui, e é isso que aprofundamos neste artigo! .............................................................

iniciámos nestes últimos dois meses a revolução online que falávamos neste artigo na última edição, tal como deves ter reparado. o nome deste início de revolução no site da onFire (www.onfiresurfmag.com) é scrapbook que, como viste, é a nova forma que temos de te apresentar os, agora velhos, slideshow. o primeiro scrapbook incidiu sobre os melhores 16 surfistas nacionais de 2011 (de acordo com o ranking da liga pro surf), e foi aqui que leste a nossa análise sobre cada um desses surfistas e onde viste fotos nunca antes publicadas de cada um. este é o grande propósito do scrapbook, levar todo o conceito da onFire para perto de ti mais do que seis vezes por ano (corresponde às seis edições em papel da onFire). agora, sempre que lançarmos um scrapbook, e acredita que temos vários planeados para este ano, sentirás, de alguma forma, que estás a desfolhar uma nova edição da tua revista preferida, mesmo que o estejas a fazer virtualmente. mas esta revolução é apenas o levantar de um tapete de projectos altamente criativos. não falamos de um gigantesco tapete mas sim de um capacho de tamanho reduzido. É que tamanho não é qualidade, e preferimos ser mais cirúrgicos do que lançarmos 50.000 coisas sem qualidade nenhuma. resumindo, e parando com esta conversa de tapetes, que até a nós nos está a parecer altamente estúpida, iremos continuar a revolucionar os nossos espaços virtuais durante os próximos tempos... a nível de vídeos, outra das nossas grandes apostas, colocámos duas novas produções online, ambas sobre a última etapa da liga pro surf de 2011! se no scrapbook estamos a usar toda a potência da ferramenta issuu.com, na onFire tv, como já sabes, usamos a magnitude do vimeo, que te permite ver as nossas produções em High Definition (HD) directamente no nosso site. a nível de notícias sem dúvida que temos de destacar a notícia que colocou a onFire entre as melhores revistas do mundo no ranking das redes sociais destas publicações. no fundo, o que sharpy (editor de fotografia da revista inglesa carve) fez foi analisar, de uma forma 100% isenta, os números oficias do Facebook e twitter daquelas que considerava as melhores revistas dos mais importantes países, e publicou os resultados sobre a forma de gráfico. Foi assim que vimos a onFire representar portugal nesse gráfico entre revistas como as gigantes americanas surfing, surfer ou transworld, e como a australiana stab, entre outras. a onFire estava no fim da tabela, mas não em último, é

verdade mas isso não nos admirou tendo em conta que apenas investimos na Web há três anos e que, de todas as presentes, somos a revista mais recente no mercado (a par com a stab): nove anos comparado com publicações que têm mais de 20 anos de existência. e claro que não podemos comparar o mercado americano (que açambarca o mundo inteiro) ou o australiano, ou mesmo o espanhol, com o português. em último lugar nestes resultados ficou a outra publicação portuguesa do nosso mercado, a surfportugal, apesar de não deixar de ser positivo também estar presente neste estudo a nível global. Uma outra referência obrigatória para o desenvolvimento dos nossos espaços virtuais (e que de certeza que no próximo estudo de sharpy irá também contribuir para a estatística final devido ao efeito viral que teve na nossa comunidade) é o instagram! não há surfista no mundo inteiro que não esteja fã desta esplêndida aplicação de fotografia que te permite aplicar uma série de filtros espantosos às tuas fotos e depois publicar o resultado numa plataforma de comunidade da própria aplicação. só tens de seguir os teus ídolos e amigos (onde sabemos que se incluí a onFire) para veres as fotos que eles vão colocando no seu dia a dia. também em portugal, o instagram foi acarinhado pelos nossos surfistas sendo Filipe Kervis e nicolau von rupp os dois mais aficionados. mas mais que eles é mesma a onFire o mais aficionado do instagram. tudo começou quando decidimos cobrir a última etapa da liga pro surf desta forma inédita (e que pudeste seguir via Facebook, mais uma maravilha desta aplicação). os resultados foram tais que desde aí é raro o dia em que não publicamos uma foto do nosso dia a dia de trabalho (e que, como sabes caso nos andes a seguir no instagram, passa sempre por surfadas para inspirar o dia. logo, fotos de ondas dos últimos dois meses não faltam)! Já o outro espaço da virtual da oF, o blog (http://onfiresurfmag.blogspot. com) também sofreu uma alteração de design. a grande alteração, apesar de não notória visualmente, está no facto de agora, para comentares, teres de estar registado. ou seja, para dizeres barbaridades tens de dar a cara o que, obviamente, afastará aqueles que cá vinham mandar “bolachadas” estúpidas (apesar de admitirmos que muitas delas eram hilariantes). .... of


Dá-nos uma breve introdução à tua pessoa como artista. Quando e como começaste, o que tens feito e o que te define, te diferencia e te relaciona com a arte. Seria impreciso apontar o início do curso de fotografia do Ar.co, em 2002, como o início do meu percurso como autor. Esse momento constitui, sem dúvida, uma importante aproximação ao mundo da arte, mas a verdade é que entrei no Ar.co com o objectivo claro de trabalhar para revistas de viagens. Tinha regressado de um ano a viajar sozinho à volta do mundo e decidido que era esse o estilo de vida que queria para mim. Os anos no ar.co representaram, no entanto, uma enorme revelação, tanto que no final não eram as reportagens de viagens que me interessavam mais mas sim os trabalhos autorais. De lá para cá, e estamos a falar concretamente do Verão de 2008, tenho tentado conciliar os trabalhos pessoais com os trabalhos comerciais, fundamentais para o equilíbrio financeiro. Em termos artísticos a minha saída do Ar.co foi custosa. Na escola os teus projectos são acompanhados semanalmente, há um aconselhamento e são levantadas diversas questões que te obrigam a reflectir. Uma vez fora desse abrigo fica o abandono e eu senti essa queda. Até porque, e falo pela minha experiência, percebes que as possibilidades de trabalho são infinitas, não há constrangimentos de qualquer ordem, o que é positivo claro, mas necessitas de solidez para o enfrentar. Isto tudo para te dizer que até 2011 tenho combatido esse desamparo com pequenos projectos nascidos, na esmagadora maioria dos casos, da forma bastante intuitiva. Uma opção que se tem revelado muito proveitosa para a minha prática autoral, porque não só me tem permitido resolver e avançar sobre pequenas questões como abrir campos de interesse até então completamente ocultos. Em suma, tem sido uma fase de pouca concretização em matéria de exposições, por assim dizer, mas antes de fazer e reflectir sobre esse fazer. Posto isto, e penso que seja compreensível, é muito cedo para conseguir responder-te com firmeza sobre as minhas características como autor, o que me distingue dos outros. Há, no entanto, interesses que começam a ser comuns nos meus trabalhos como sejam questões ligadas ao território e certas particularidades que decorrem da relação que os seres humanos mantém com a natureza.

Quais os projectos em que tens estado envolvido ultimamente? Em 2011 fui convidado pela Gulbenkian para participar no European Photography Exhibition Award, um evento que reúne 12 fotógrafos europeus. A bolsa de trabalho deste prémio permitiu-me, pela primeira vez, a possibilidade de me dedicar quase exclusivamente a um projecto. Resolvi mudar-me para Sagres e iniciar Ropes, uma série fotográfica sobre as cordas (e estruturas de) utilizadas pelos marisqueiros que apanham percebes. Este tem sido o projecto que tenho dado mais atenção neste momento ainda continuo a trabalhar sobre ele, mas há coisas antigas que entretanto ganharam uma nova dimensão e que por isso justificaram regressar a elas. Em modo on and off, e para além de Ropes, estou neste momento a trabalhar em três filmes - um deles que envolve surf, e iniciar um par de outros trabalhos fotográficos. Quais os teus materiais preferidos? Parte significativa do meu trabalho tem sido desenvolvido através de fotografia, e mais recentemente filme e vídeo. A fotografia é, sem dúvida, o medium que me sinto mais confortável, mas a experiência de trabalhar em filme tem sido muito especial. Ainda assim continuo a trabalhar no medium que me parece mais adequado para cada projecto ou ideia. Que relação encontras entre o surf e a arte? É a arte que influencia o teu surf ou o surf que inspira a tua arte? Não consigo distinguir o surf de outro assunto em particular. Tudo se encontra potencialmente relacionado com a arte, assim como o inverso também pode ser verdade. O surf é, para mim, e em primeiro lugar, uma prática utilitária na medida em que responde a uma necessidade. E não há qualquer lado místico nesta relação ou influência como me perguntas. Agora, é claro que há diversas questões artísticas que se podem encontrar no universo do surf, e é inevitável que eu não consiga fugir a algumas delas. Nesse domínio, tenho-me interessado em particular pela questão da obsessão e as suas diferentes formas de manifestação, que é, aliás, tema num dos filmes que estou a trabalhar. JR

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..................................................................................................... Relógio Movido a eneRgia SolaR ..................................................................................................... Relógio Freestyle “Boiler” | n.d. Uma das mais famosas marcas americanas de relógios, a Freestyle, e que há uns largos anos atrás em Portugal teve um sucesso gigante, tem um modelo de relógio que funciona da melhor forma possível, a energia solar! E, como podes ver na foto ao lado, o “Boiler” não precisa de ter um gigante painel solar conectado para funcionar na perfeição. E não penses que tens de estar constantemente à procura de raios solares com medo que o relógio deixe de funcionar pois, segundo a marca, um único carregamento de energia solar dá para 365 dias de rotação da Terra em volta do sol! Sim, uma ano inteirinho!!! No visor tens também um símbolo de bateria para saberes como está a situação mas é como te dizemos, uma vez carregado só tens de olhar para esse símbolo 365 dias depois. O “Boiler” é assim um relógio amigo do ambiente uma vez que não necessita de pilhas ou baterias para funcionar. Infelizmente o “Boiler” já não existe no catálogo de 2012 da Freestyle pelo que se quiseres um só tens duas hipóteses: ou tentas encontrar alguém que queria vender o seu na Web ou então tens de esperar que a marca volte a relançar o “Boiler” na sua colecção! ................................... www.freestyleusa.com

Finalmente Nasceu a Verdadeira Carrinha do Surfista!!! ...................................................................................................................................................................... DoublebaC a k VW T5 Camper aC ............................................................................ 66.000.00 €

Não podemos começar a descrição do melhor produto que alguma vez aqui apresentámos senão da seguinte forma: POR FAVOR, algum milionário que nos ofereça a revolucionário carrinha VW DoubleBack rear Slide T5 Camper, conhecida por DoubleBack! Os GRANDES senhores da Overland Motorhomes decidiram agarrar na famosa carrinha VW Transporter, mais concretamente no modelo Long Wheelbase 2.0TDI 140PS, (um modelo muito popular entra a nossa comunidade quando surgiu) e adaptá-lo de uma forma incrível para se transformar na verdadeira casa com rodas! A Doubleback dá-te cerca de 5.5 metros de espaço quando na realidade mede cerca de quatro metros. Como é isto possível? É na resposta a esta questão que reside todo o brilhantismo da Doubleback. Basicamente, o que os Senhores da Overland Motorhomes conseguiram fazer de uma forma estupenda foi incorporar um módulo extensível na parte de trás de uma Transporter. Esse módulo, quando estendido na sua totalidade, adiciona quase dois metros de comprimento à carrinha. Esta é considerada como a maior inovação neste tipo de Mercado desde a invenção, há 30 anos atrás, do tecto elevado (que cria uma espécie de segundo andar). Esta “velhota” funcionalidade está também presente na DoubleBack, ou seja, a carrinha “cresce” para cima e para trás”! Construído em alumínio e desenvolvido durante quatro anos, o módulo demora cerca de 45 segundos a atingir a extensão máxima (bastando para tal tocar num botão no interior da carrinha ou na chave electrónica) ao mesmo tempo que, também electronicamente, saem duas pernas de apoio que auto-nivelam o módulo mesmo em terreno incerto. Quase que vais sentir que estás a aterrar um poderoso Boing 747! O módulo traseiro aguenta com peso até 500Kg e foi desenhado para teres acesso através da porta traseira da carrinha, que em vez de estar ligada à carrinha em si, está ligada ao módulo (como podes ver na foto). Quando o módulo retrai, uma borracha sela na perfeição a ligação com a carrinha impedindo a entrada de chuva e humidades. O módulo está ainda termicamente isolado de forma a proteger os seus ocupantes do gelado clima inglês (ou seja, em Portugal vai parecer que estás num ambiente tropical!). Quanto ao interior do módulo não te faltam opções com o que fazer com ele: desde uma espaçosa cama retráctil em toda a sua extensão, o módulo pode vir com um chão à prova de água, para servir como zona de armazenamento de pranchas, fatos (que é o que os interessa), bicicletas, motas ou outro equipamento recreativo. O melhor dos dois mundos será ter um chão à prova de água com a cama uma vez que por baixo desta sobra mais do que espaço para guardares as tuas pranchas, fatos, bagagens e quase tudo o que leves contigo. Mais, uma vez que a DoubleBack tem também o tecto elevado que atrás falámos, tens sempre a opção de escolher em que suite queres dormir, na de cima ou na espaçosa penthouse das traseiras mas atenção que quando extendido o módulo, o tecto de cima deixa de ter a função de cama para ter “apenas” a função de ter permitir andar em pé no interior da carrinha, enquanto preparas o jantar, por exemplo. Ah, de referir ainda que o módulo pode vir com tecto de vidro, ou seja, a tua penthouse transforma-se ainda mais uma zona de luxo com vista perfeita para as estrelas! A separar o módulo da carrinha está uma mini-cozinha com dois bicos para cozinhar, um lava-louças, um frigorífico de 50L com caixa de gelo, uma mesa removível, leitor de TV/DVD, e zona de arrumação. Os bancos traseiros fecham quando o módulo está retraído e, nesta situação, os únicos lugares sentados e que obedecem às leis - da obrigatoriedade de cintos de segurança -, são os dois da frente (condutor e “co-piloto”) e um lugar de uma pessoa na parte de trás. Este talvez seja, o “handicap” da Doubleback uma vez que só permite que três pessoas viagem nela. A nível de extras, podes optar por uma caixa de arrumação deslizante para debaixo da cama, iluminação LED no chão e um aquecimento de 2kw. O consumo da “DoubleBack” está estimado em 6.5 Litros (para 100 quilómetros). O grande senão da maior invenção automóvel de todos os tempos, é que a “Doubleback” será apenas, por enquanto, lançada em Inglaterra apesar da Overland Motorhomes estar à procura de um representante nos EUA, e por enquanto sabe-se que não irão ser fabricadas muitas unidades. ..................................... ......................... www.doubleback.co.uk


Três Lentes de Sonho para... Telemóveis! .................................................................................................................................................... LenTeS PhoTojojo.com: FiSheye, macro/Grande anGuLar e TeLePhoTo (2x) .................................................................................................................................................... 38.00 € (+portes) Qual a máquina de fotografar mais usada no mundo inteiro? Muito provavelmente a que está inserida no telemóvel. Então hoje em dia, principalmente na nossa comunidade, que apadrinhámos a aplicação Instagram como se de um novo modelo milagroso de pranchas se tratasse, fotografar com os nosso telemóveis alcançou outro nível. E se o Instagram é a aplicação preferida dos surfistas (Slater é um aficionado), o iPhone é também sem dúvida nenhuma o nosso telemóvel favorito. Aliás a combinação iphone+Instagram é letal e podes ver o resultado disso mesmo seguindo o Instagram da ONFIRE (isto se ainda não o fazes). Quando o vício de fotografar se apodera de nós, apodera-se um outro: o de querer ter mais opções. E isso implica, na maior parte das vezes, lentes diferentes. Este é um mundo gigante e altamente viciante mas, até há pouco tempo totalmente impensável para os fotógrafos de telemóvel! Tudo mudou com a Photojojo.com. Esta companhia lançou três lentes, em vidro, que podes aplicar directamente na camera do teu telemóvel permitindo-te ângulos e fotos completamente inovadoras. Macro, Fisheye e Macro são as lentes que podes acoplar no telemóvel consoante a ocasião. Se não percebes nada de lentes, aqui fica uma breve explicação do que cada uma destas três faz. A lente fisheye é a que provavelmente já mais ouviste falar, e, basicamente, dá o efeito de que o que fotografas está dentro de uma bolha. A lente macro/grande angular é como se fossem duas lentes numa. Se fotografares em modo macro poderás captar pormenores em alta definição enquanto que se optares pela função grande angular irás conseguir captar muito mais “cenário” numa única foto pois esta tem um ângulo de captura de objecto maior que as lentes normais (daí o seu nome de grande angular). Por último, tens a lente telephoto e que te irá transformar num pequeno paparazzi pois irá aumentar a capacidade de zoom em 2x. Caso não querias gastar 38.00 euros (+portes) pois não necessitas das três lentes (apesar de rapidamente perceberes que gostavas de ter todas) podes sempre comprar as lentes em separado, sendo que a Telephoto e a Macro/Grande Angular custam cerca de 15 euros (+portes), enquanto a fisheye custa cerca de 19 euros (+portes). Se quiseres ver como ficam as fotos com estas lentes dá uma olhadela no site em baixo. Ah, não te esqueças de, quando colocares as fotos no teu Instagram, escrever com que lente Um Verdadeiro Canhão fotografaste pois gostamos de saber esses detalhes fotográficos, ao mesmo tempo que para o teu iPhone .................................................................................. ficamos a saber que este artigo atingiu o seu propósito! Lentes Photojojo.Com O único problema que te poderá surgir depois de adquirires este viciante conjunto teLePhoto Para iPhone (8x) de lentes é que, como qualquer vício, vais querer mais... ........................................................................................ 27.00 € (+portes) Ok, já estás viciado no maravilhoso mundo das lentes para a camera fotográfica do teu telemóvel. Já sentes que não és um amador e que as tuas fotos têm feito um sucesso incrível, principalmente porque quase ninguém acredita que foram tiradas de um telemóvel. Mas já estás na fase de te coçar todo pois o vício pede mais! E, o único caminho que sobra é, mais zoom! Tens a tua lente telephoto que te duplica o zoom mas queres mais e melhor pois queres mesmo dar numa de paparazzi à séria. Aliás, sabes que a babe dos teus sonhos irá vibrar quando chegares ao pé dela com uma verdadeira lente de telephoto incorporado no teu iPhone. Grande, larga e viril! É por isso que tens de adquirir esta poderosa lente telephoto que te dá um zoom de 8x, mais uma vez criada pela empresa photojojo.com (nota: esta lente só dá mesmo para iPhone 4 ao contrário das anteriores que se adaptavam a qualquer telemóvel). Esta lente traz um capa preta para iPhone daquelas duras e é nessa que irás enroscar a lente. Depois só tens de rodar o anel da lente que foca e desfoca e, click! Fotografaste todo o pormenor do sorriso sensual da babe de sonho graças ao zoom da lente. Ela vai ficar tão surpresa com a foto que, podemos dizer, a partir daí estarás lançado para futuras e sensuais sessões fotográficas com ela... Ah, se não estiveres a usar a lente, que estará guardada no teu bolso, podes deixar a capa no iPhone, ou seja, além de uma lente ficas também com uma capa de protecção para o teu precioso iphone. Juntamente com a lente e a capa, recebes ainda um tripé para te ajudar na estabilização e foco do teu “canhão” e que, segundo a marca, irá ajudar muito se estiveres a fotografar em condições pobres de luz. Não menos importante é ainda um pequeno pano próprio para limpar a lente, um dos mais importantes objectos de qualquer fotógrafo profissional pois não há nenhum que, antes de começar a sessão, não esfregue a sua lente meticulosamente! Se quisermos ser picuinhas procurando algum defeito, só encontramos um: realmente o iphone com esta lente fica com um aspecto bastante estranho, típico de um nerd da fotografia. Mas, por outro lado, a verdade é que as mais sensuais modelos do mundo estão numa fase em que adoram nerds por isso só sais mesmo a ganhar!

................................... www.photojojo.com

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ESCOLAS DE SURF

............................................................................. O FUTURO HOJE? .................................................... . texto by Ricardo Vieira (ricardovieira30@gmail.com)

Às vezes o alinhamento de textos sofre uma alteração. Existe a vontade e intenção de contar uma determinada história mas uma urgência maior tira outra do fumeiro e exige a sua apresentação. Sobre escolas de surf já escrevi há alguns anos. Uns compreenderam a essência da crítica positiva e mudaram de atitude, alteraram perspectivas, melhoraram. Outros não tiveram a coragem – ou a inteligência, ou as duas - de me confrontar com o escrito e optaram pela crítica quase em surdina, pelas costas, serpenteante, apesar de não lhes ter faltado oportunidade física de apresentar armas e argumentos. Hoje é domingo e fui à praia a pé. Acordei bem disposto e foi com a habitual fome de paz que caminhei para descontrair. Quase não há ondas, mas estão trinta, quarenta miúdos na água. E mais alguns a exercitar-se na areia. São fruto de escolas de surf. Presto mais atenção. Alguns são alunos de escolas residentes, outros de escolas vindas de fora, diz-me um amigo. Acompanho o treino teórico, os “aquecimentos” e alongamentos à beira-mar. Um monitor-professor grita a vontade dele para um bando de miúdos. A ordem é correr dez minutos pela praia com o fato vestido. Uns aguentam, outros rapidamente abrandam o passo e por fim tentam aliviar a gola do fato para deixar sair algum do calor do corpo. Uma rapariga acaba mesmo por se deixar cair na areia com um “não consigo!”. O monitorprofessor não se altera, nem se preocupa, aproxima-se da pequena e continua a gritar motivação por todos os poros. A rapariga não reage, continua deitada na areia e já nem vontade de ir para a água parece ter. O resto da turma completou a corrida e já se encontra no líquido. Sem pranchas, a nadar contra a corrente. Calculo que por mais dez ou vinte minutos. Um deles fica preso num agueiro e rapidamente se afasta do resto. Ninguém lhe põe âncora e daqui a nada já nem a vista em cima. O professor segue seguro e seco em terra. Está a falar ao telemóvel. Rezo para que seja com a capitania, a pedir socorro em nome do náufrago. Pelo túnel da praia, em passo de corrida, surge mais uma mão cheia de alunos de outra escola, de licra igual, secundados por outro “professor” e pelo seu cão, sem trela mas a ladrar liberdade para todos. Uma senhora está sentada na areia a ler um livro, passam por ela, o cão abranda, cheira a areia a três, quatro metros da senhora, e faz as suas necessidades completas. O “prof” olha em volta, julga que ninguém o vê e com o pé empurra areia para cima das ditas, tapando-as. Não as recolhe. Não tem tempo nem vagar, segue com crianças em missão educativa sem paralelo. Uma centena de metros mais à direita, outra escola na água. Os alunos gritam uns com os outros e também com alheios que bóiam ali perto. Pelo meio, palavrões em catadupa. O “prof” não reage. Reconhece o palavreado como código aceite e comum. Inclui-se. Um alheio disputa uma onda com um dos alunos, a prioridade é do primeiro. O “prof”, numa distracção mal fingida, empurra a própria prancha para a frente do alheio, barrando-lhe o caminho, destituindo-o da prioridade, favorecendo um aluno que naquele momento não merece, oferecendo-lhe uma onda e um exemplo que talvez venha a seguir no futuro. Oferece-lhe uma educação. A que tem, a que pode. E a que não se espera de um agente formador. Vou almoçar. Levo as pastilhas para a azia comigo. É o primeiro domingo do ano e foi assim que entrámos em 2012. O futuro é hoje. .............................................................................................. PS - Apesar dos exemplos reais acima descritos, em algumas escolas de surf o civísmo e a boa educação prevalecem e são ponto de honra. Para essas, força. Mostrem o caminho.

.............................................................................................. RV

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SerĂĄ que nas escolas de surf francesas, como no caso desta e na qual professor e alunos admiram a forma como Frederico Morais crava o rail, se passa o mesmo do que em muitas escolas de surf portuguesas? Esperemos que nĂŁo! | Photo by carlospintophoto.com


... e d s a a s ú lt i m

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LV E S C O A ....... S I C N ........ FRA ........ . . . . . . . ..... a ........ vir par ........ . . . . . . avião, a . . o . . n . , . a . r . Ago ..... tiste... ue par q a h c pran Última a. ele áli o para r t s u irmã a Au e m o A e... ue lest livro q o ça s, no im lt Ú speran . E r f e r c u e S te... a do r m vences to que a n o e ca mp Último strália. sado. r na Au s a io p n o u n -J a ro este... P oite em e venc u q t a e os n a n h n a o 4 á im Últ ... H u b a do oste ro f e u q vez Zé Última ato” do . a o . Pelo “R .. o Lisb d a opin o st e d r z que f ! e v a s, d a Últim da hoje s os dia in o a d a o T ir . e es.. Ferr au d a d ntiste s e s e u . vez q barõe s Última , dos t u ília. je m o fa h a a ind minh edo... A e st e m iv o t e u bro, nã vez q me lem o Última ã N . .. te omitas z que v e v a , co m ar. Últim os dias s o vomit o m d u o t T s co ar... é ch o r riste at ara não rir! e u q z ve áp ra cá! Última o aqui, não d e vir pa p d u s r e g t e n e st ... A escola o st e à f e u q . vez História Última e... 10, a m a x e me e um . Já não nota d cama.. a Última u t a a. en ormist e m ca s z que d stado muito e v a oe Últim i, eu e o ã o te n h , adore n , a o n r n b a ih lem oste... R a que f o t r e c co n ! s dias Último támos muito o dos o s T o . g .. s o c a br Vas te lem de que e s). o ã s s u disc nand Última s (Tomás Fer o g a J tawai. co m o... Men h n o nte s s de asco, a viagem ... Do V a e t s im e lt b Ú ce que re nselho pela boa. o c m o b ar cho Último ara eu e sper Natal, a o n s p ia , t me do he a . Um a s deste.. e u q e t presen mã. , ... Hoje Último a ir h in m próprio os i à t i e fo d e m qu os o orgulh oder e star co p ficaste e e s u a q d z ve ! s on Última anhado alta das de sonho p n a o r r e t fa r po a sur s eg u i migos ue con oder ficar a Q s . u .. e e t m p es c to d e e receb ícia qu avião e pelo fa t o n a bo h e te d e Última meu bil OF o r a r e alt o. ç r a M c á até

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O campeão Nacional pediu ajuda ao seu shaper para explicar as suas novas “armas” para 2012. Estas são as pranchas que Vasco Ribeiro levou para a Austrália para o início da época competitiva. Descrição das pranchas por Nick Uricchio.

01. Semente By Nick Uricchio

5’11” x 11 1/2” x 18 3/8” x 14 3/8”x 2 1/4” (Single to double concave squash tail) ............................................................... Esta é a mais larga de todas, principalmente no nose e tail. A linha do rocker é suave e bastante recta. Devido à profundidade do concave temos uma curva acentuada na linha do rail. Procuramos velocidade constante devido ao rocker e concave e área total de prancha e maneabilidade pelo planeshape e linha do rail. A distribuição de massa tanto no nose como no tail está feita para recuperar rápido de manobras extremas.

05 06

02. Semente By Nick Uricchio:

5’11” x 11 3/8” x 18 3/8” x 14 1/8” x 2 1/4” (Single to double concave squash tail) ............................................................... É mais ou menos igual à primeira mas fechámos um pouco o nose e tail para poder fazer o arco nos carves e bottoms em mar mais cavado.

03 e 04. Semente By Nick Uricchio:

5’11”x 11 7/16” x 18 3/8” x 14 1/4” x 2 1/4” (Squash) ............................................................... Uma é mais fechada nas últimas 6 polegadas do tail. As duas têm o concave mais fundo que as anteriores e também aumentei um pouco de saída do rocker no tail. Nestas, como em todas deste quiver, procuramos velocidade e soltura mas também procuramos linhas fortes e pranchas que deixam ou Vasco mostrar teu power o máximo!

05. Semente By Nick Uricchio:

6’0” x 11 3/8” x 18 3/8” x 14 1/8” x 2 1/4”

06. Semente By Nick Uricchio:

6’0” x 11 3/8” x 18 3/8” x 14 1/8” x 2 1/4” ............................................................... Ambos do mesmo design single to double concave. O rocker é um pouco mais acentuado que nas 5`11”s mas mantive as mesmas características. Uma tem um squash mais fechado que a outra. As duas foram feitas para mar um bocado mais forte, quando um 5’11” já não aguenta. Todas estas pranchas e outras duas (não presentes no foto, uma 5’10” “small wave destroyer” e uma 6’1” squash para ondas maiores) vão ditar em que direcção vamos trabalhar para este ano de 2012!

photo by carlospintophoto.com

NU


geração

desenrascada

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crónicas de um

Líder de Opinião

.................................................................................. texto by marcos anastácio photos by carlospintophoto.com .................................................................................. no conforto do alfa Pendular Porto-Lisboa, numa viagem mal sucedida de negócios e com a cabeça a mil e a pensar em mil e uma coisas ao mesmo tempo (enquanto tentava fazer bons negócios para manter os números do ano passado), passo por uma placa que anuncia a estação de ovar. ovar é a cidade, mas o que vem à cabeça, fazendo perder a noção do futuro próximo, é uma pequena vila Piscatória cheia de tradição de homens do mar chamada mais propriamente furadouro. foi aí que “saboreei” uma aventura pitoresca que, fazendo uma retrospectiva, ficará para sempre como uma trip que marcou uma geração.

vinte e poucos anos depois de ter ganho o seu primeiro prize money marcos anastácio mostra que continua com o surf no pé e o rail na água! ..................................................... photos by carlospintophotos.com

a geração do desenrascanço, pode parecer estranho, mas a história não pára de se repetir! se conhecermos bem a história da europa, podemos encontrar esta história de desenrascanço mas com contornos muito mais vincados e argumentados. na europa do século Xv, enquanto a europa estava mergulhada numa guerra de sucessões, uma pequena pátria situada na península ibérica fez-se ao mar contra tabus, tormentas, e não sei mais o quê. e descobriram mais de metade do novo mundo, provando aquele ditado que “as primeiras migalhas são para os pardais”. essa foi com certeza a primeira geração desenrascada da nossa pátria amada. mas já chega de lenga lenga, vamos passar à história para ver se a leitura de Wc se torna mais interessante. corria o ano 1989 do senhor (ou talvez não), pottz consagrava-se campeão mundial de surf e metade da minha geração perdia a virgindade nas dunas de Hossegor. não havia telemóvel nem surf report, sabíamos das provas de boca em boca e soubemos assim de uma prova com prize money na praia do Furadouro. É bom relembrar que, nesta altura, os prémios das provas consistiam geralmente do seguinte: 1º lugar: uns calções; 2º lugar: uma t-shirt; 3º lugar: uns óculos; 4º lugar: autocolantes! não foi surpreendente que o som das palavras “prize money” fossem música para muitos ouvidos e logo se organizaram romarias para a vila do Furadouro. a minha malta era a da tricana (carcavelos) e da poça (s. João do estoril). era o Grego com aquele camisolão de malha amarelo mostarda que nunca tirava, com nuances de verde 7up. era o pirujinho, mais conhecido por Zé bombeiro vá-se lá saber porquê, o paulo do bairro, o Gatinho (irmão do Gato), o Duarte capucho (que não surfava mas nesta altura as provas de surf eram paralelas às de bodyboard) e mais alguns colegas da adolescência que agora não recordo os nomes. apanhámos o comboio em santa apolónia e a verdadeira aventura teve início logo na chegada quando uns membros do grupo, liderados pelo Gatinho (que tinha negativa a Geografia), saíram uma estação antes completando o trajecto a pé com mochila às costas e prancha no braço


(sim, só uma, na altura uma 6’1” dava para tudo), chegando umas horas mais tarde com os pés doridos. “Orientámos” uma daquelas pensões baratas, ou seria mais uma pocilga de luxo, onde cabiam seis ou sete no mesmo quarto, sem contar com as melgas “vampirescas” e outros insectos esquisitos que não nos deixavam descansar à noite com a prova na manhã seguinte. Viemos a descobrir, nos posters da prova fixados pela Vila, que a prova era patrocinada por uma discoteca local chamada Fénix. No início da manhã seguinte já conhecíamos e tratávamos por tu a organizadora da prova, uma senhora muito Castiça, que também acumulava a função de gerente da discoteca. Foi um fim de semana em cheio para mim. O mar estava como eu adorava: meio metro com esquerdas, e fui fazendo aquilo que sabia fazer melhor de backside. De fininho ganhei a prova derrotando os favoritos, se não me engano muito era o Antunes e o Tiago Oliveira. Acho que foi nesta altura, com 80 contos na carteira de velcro da Lightning Bolt, que pensei para os meus botões: “é isto que quero como profissão”! A prova terminou num Domingo ao fim do dia e a entrega dos prémios realizou-se na “disco” ao som de U2! É engraçado que não me recordo do sexo feminino na festa! Mas sempre que não me recordo era porque não havia gajas boas (já não posso dizer isto, tenho dois filhos e sou um homem de família respeitador), raparigas interessantes. Nunca mais me esqueço, eram cerca das 23H30 com a música a bombar quando fomos informados que tínhamos um comboio às 24h! Apanhámos táxis e comprámos bilhetes mesmo em cima do tempo. Quando o comboio da 24 horas parou, abrimos a porta e não acreditámos no que vimos, um mar de feijões verdes (malta da macaca)! O comboio ia com tantos militares, que regressavam para o quartéis de Lisboa e arredores (nessa altura ainda era obrigatório dois anos de serviço militar), que era impossível andar um metro para a frente no interior da carruagem. Era malta deitada no chão, nos bancos, por cima dos bancos, onde se põem as malas, em todo o lado. Era mesmo impossível entrar nas carruagens e

não tivemos remédio senão esperar pelo segundo comboio, que passou uma hora depois. Mas infelizmente a sequela do primeiro filme repetiu-se e tomámos uma decisão, no próximo comboio que passasse no sentido de Lisboa entrávamos, “nem que a vaca tossisse”! E lá veio ele, passado 45 minutos, e para nosso azar, a história repetiu-se. No entanto fez-se luz, um de nós teve a brilhante ideia de saltar para as carruagens que transportavam os carros. Eu fui logo atrás da ideia e nunca mais vou esquecer do que é viajar por baixo de um carro. O mais curioso é que fiquei com a ideia que a malta da CP sabia que nós estávamos ali, naquelas carruagens. Pois então como consigo explicar que em todas as estacões que passávamos éramos molhados com mangueiras! E a juntar à água das mangueiras estava aquele frio da noite de Verão das terras do norte! Aguentámos debaixo dos carros até Coimbra e na estação tivemos que tomar uma decisão, esperar três ou quatro horas pelo primeiro comboio para Lisboa ou apanhar o comboio para Lisboa via Oeste. Esse parava no Rossio e partia em meia hora. Esta última opção pareceu ser a melhor mas o mais engraçado é que viemos a saber que chegámos à mesmo hora a Lisboa que o outro que só partia três ou quatro horas depois. Mas foi muito mais tranquilo este comboio do Oeste, tínhamos imenso espaço e como estávamos super cansados adormecemos ali mesmo, uns escarrapachados nos bancos, outros no chão. Nunca hei de me esquecer que, já no fim da viagem, as carruagens foram ficando mais cheias de gente que vive na Periferia de Lisboa e todos os dias apanha o comboio para ir trabalhar na capital. Foi nessa altura que ouvi uma conversa entre duas senhoras do estilo: “Já viste isto? Este comboio já parece o que vem de França com os emigrantes e a malta dos inter-rails!” Umas horas depois lá cheguei a casa, todo encardido, todo roto, com 80 contos e uma ideia na cabeça, “quero ser surfista profissional”. Agora chego à conclusão, 20 anos depois, que apesar de não ter ficado rico com o surf, ganhei um monte de histórias, aventuras que ninguém me pode tirar! MA

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Só um português tem legitimidade para chamar Kelly Slater de “colega de profissão”, Tiago Pires. O surfista da Ericeira entra agora no seu quinto ano consecutivo sem qualquer interregno, uma marca única na Europa. A ONFIRE conseguiu apanhá-lo nas vésperas de arrancar paramais uma temporada para saber as novidades e o que lhe passa pela cabeça!

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Preparando mais uma temporada!!!

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texto by ONFIRE | photo intro by Mauro Motty



Este ano fizeste alguma coisa diferente a nível de treino Pré Época? Estou a dar mais prioridade ao surf, nos outros anos treinava sempre de manhã no ginásio e acabava por perder algumas sessões boas. Este ano estou mais flexível nesse aspecto. Se for preciso, se o mar estiver bom, vou surfar de manhã e depois treino à tarde, estou com uma rotina de quatro dias por semana no ginásio e os outros dias é para estar a surfar. E ao domingo tento descansar mesmo do surf para ver se o corpo relaxa um bocadinho, porque os treinos físicos são puxados, requerem muita energia e depois começas a ficar muito cansado e já não rende. Por isso é bom teres um dia por semana para descansar e deixar o corpo assentar um bocadinho. E realmente no ano passado senti que perdi várias sessões boas de surf e acabei por também não estar com o surf tão no pé como eu queria e por isso este ano não quero que isso aconteça. Além disso, vais fazer mais alguma coisa diferente em relação a 2011? Não, nem por isso. Apenas vou para a Austrália mais cedo, duas semanas antes porque vou competir no 6 estrelas de Sidney. Vou sem expectativas nenhumas, só para desenferrujar um bocado os braços e voltar àquele esquema mental de competição, um pouco como fiz no ano passado em Burleigh Heads. Optei também por passar uma semana em casa do meu shaper, o Chilli, e testar lá e trabalhar logo as minhas pranchas, em vez de começar já a trabalhar à distância. Vou fazer esse trabalho lá porque acaba por ser muito mais eficaz. No ano passado tiveste alguns problemas a nível de pranchas, o facto de ficares em casa do Chilli achas que vai ajudar a precaver isso ou achas que também passa um bocado por ter sorte nas pranchas que recebes? Eu acho que acaba por ser um bocadinho de sorte. Tu nunca sabes como é que as pranchas se vão “portar” e acabas por rodar muitas pranchas num ano. Se por acaso tiveres sorte e realmente os shapers acertaram a mão, terás várias pranchas boas e tens esse trabalho muito mais simplificado. No ano passado não conseguimos acertar mesmo numa prancha mágica, tive várias boas mas realmente não fui muito feliz nesse aspecto. Acabei por me perder um pouco em termos de confiança na minha própria cabeça em termos de material. Este ano é claro que não podemos repetir o mesmo erro mas também nunca sabemos o que está à nossa espera, é ver para crer! Quantas pranchas andas a experimentar por ano? Olha, com a Pukas eu não tenho um limite, eles são muito bons para mim, posso praticamente fazer as pranchas que quiser. Vou trocando pranchas, entregando algumas, mas rodo mais ou menos 60 a 80 pranchas por ano! Maioritariamente Chillis? Chilli e Bradley, e ouvi dizer que a Pukas agora ficou com a distribuição da Channel Islands na Europa, por isso pode ser que dê para incluir um novo shaper como o Al Merrick no meu quiver. Neste momento já tens cerca de 10/11 anos de circuito mundial, 4 deles no WT. Sei que era um objectivo de vida mas hoje, olhando para trás, era tudo o que tu imaginavas? Não sei, a vida vai mudando muito conforme vais envelhecendo. A percepção que tens das coisas quando és um adolescente, quando pouca coisa tens, pouca coisa conquistaste e quando olhas para o WCT que é um mundo muito restrito e longínquo ao mesmo tempo, é completamente diferente do que tenho agora. É claro que, ao entrar no WCT tu desmistificas muita coisa, a própria relação que tens com os tops mundiais muda muito do que aquilo que sempre imaginaste. Passas a ser colega de profissão, a conhecer bem, dás-te muito com esse tipo de pessoas e é claro que as coisas mudam de figura. Se foi aquilo que estava à espera, ou não? Acho que foi, é realmente uma grande mudança tu passares do WQS para o WCT, não só a nível de prize moneys mas também na maneira como és tratado e o poder que deténs... é muito diferente! Chegas a uma altura em que estás em reuniões e estás a decidir o futuro do desporto. E quando estás em WQS isso não te passa nem de perto, muito menos em júnior. É engraçado tu chegares a um patamar, a um ponto onde tu próprio estás a decidir o futuro do desporto. O futuro daquele desporto em que tu sempre sonhaste em ser um profissional, e estás em reuniões em que o teu voto ou a tua palavra são importantes e realmente entras mesmo no seio da ASP e ficas a perceber bem como é que tudo funciona. Mas todos os membros do WT têm essa ligação tão próxima das ASP e das decisões? Eu envolvi-me mais com a parte técnica, faço parte do grupo de surfistas que vão às reuniões chamadas “comités técnicos”. São reuniões em que discutes os formatos, a parte técnica do desporto, como é que os campeonatos estão a acontecer e discutes todos os pontos inerentes ao desporto. É um patamar mais técnico como, por exemplo, se as áreas de prova

Tiago encontra sempre boas ondas para treinar em Portugal, nem que seja os seus potentes reentrys! | photo by carlospintophoto.com


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estão boas e esse tipo de coisas. São reuniões onde é preciso decidir e se há coisas para alterar é aí que se decide para depois serem aprovadas no quadro da ASP. Eu não vou a todas as reuniões porque às vezes não tenho paciência para ir e são muitas reuniões. Então antes da primeira prova há várias em que há surfistas que estão mais activos que outros. Eu sou um deles e fiquei um bocado responsável por representar a Europa. Tens mais três ou quatro surfistas que também vão a essas reuniões e dão um bocado o parecer deles. São surfistas que têm mais cabeça para pensar nesse tipo de coisas. No fundo isso é o que o Bobby Martinez deu a entender que não acontecia muito... Há duas forças que trabalham na ASP, uma é esta equipa que é o departamento técnico da ASP que é composto por alguns júris, membros da ASP e alguns surfistas. E depois há o WPS (World Professional Surfers), que é o sindicato dos surfistas. É onde geralmente os problemas começam a ser apontados. Começam por aí e depois são transportados para esses meetings da ASP. Aquilo que o Bobby fez foi criticar a WPS. Basicamente a WPS tem reuniões abertas a todos os surfistas e todos devíamos aparecer em todas as reuniões. Mas, para teres uma noção, sempre que aparecem metade dos surfistas é um bom número. O Bobby foi um daqueles que nunca apareceu e sempre criticou tudo, por isso é claro que a opinião dele acabou por ser inválida. Ele nunca quis participar, a única coisa que fez foi barafustar para os media, nunca foi activo em relação a querer mudar ou querer impedir aquela mudança. E, para tu veres, essa mudança acabou, as coisas também não se podem mudar de um dia para o outro. As decisões são tomadas já com algum tempo e depois não se pode mudar de um dia para o outro. O Bobby realmente não soube actuar e não se soube manifestar. Menosprezou um bocado o nosso sindicato que era onde ele devia ter sido mais activo e foi aí realmente que tudo começou para que esta mudança acontecesse outra vez! Na teoria o controle anti-doping, que é uma medida nova para 2012, dará mais credibilidade ao desporto. Na prática, no dia a dia do tour, achas que vai mudar alguma coisa? Eu acho que não, acho que o surf ainda não é um desporto onde se use componentes para melhorar a performance, não é um desporto onde precises de fazer tempos. Há drogas recreativas e drogas de melhoramente de performance e todas elas são puníveis. Acho que no meio dos surfistas, se houver casos será mais por drogas recreativas do que por drogas de melhoramente de performance. É uma coisa complicada, pode ser que haja alguém que saia bastante prejudicado e uma vez que sejas apanhado pelo controle anti-doping a tua carreira vai por aí abaixo. Vais ficar com uma imagem muito má. Mas eu acho que a introdução do anti-doping tem um bocado a ver com o que aconteceu ao Andy Irons, é uma maneira de se precaver que aconteçam coisas dessas. E era uma coisa que mais tarde ou mais cedo iria acontecer. Neste momento há uma geração de surfistas em Portugal que, à primeira vista, parecem mostrar potencial de seguir as tuas pegadas. Acreditas que esta é a geração que te vai seguir? Eu acho que sim, acho que realmente há alguns surfistas em Portugal que estão com um nível de surf bastante bom e é isso, à primeira vista parece que sim. Acho que potencial técnico há, mas não só disso vive um surfista do WT. Acho que a prova mais dura para eles vai ser mesmo se eles têm capacidade de esforço, de entrega ao desporto, se realmente são capazes de mentalmente passar por certos obstáculos que é preciso passar. Sem dúvida que eles tecnicamente estão muito bons. Mas tecnicamente os juniores estão todos muito melhores do que na minha idade. É normal que, com a evolução natural do desporto, com a introdução de muito mais dinheiro, haja cada vez mais talento, mais surfistas. E Portugal passa pelo mesmo momento. Há muito mais dinheiro em Portugal, muito mais surfistas, e vão aparecer cada vez mais talentos. Agora há que passar a próxima fase, que é quando forem soltos ao mundo, se vão ter realmente estofo para levar na cabeça e continuar a lutar de igual para igual. Objectivos de 2012 para ti, estão definidos? O meu objectivo para 2012 é não quantificar o meu ano. Acho que tenho vindo a tentar estabelecer metas e objectivos e números todos os anos e não tenho conseguido cumprir isso. Mais um ano de WCT, é o meu quinto ano, sinto-me cada vez melhor como atleta não sinto que o meu rendimento está a baixar. Por isso o meu objectivo é continuar a subir no ranking, tentar subir o máximo possível. Já sabes o que vais fazer além dos WTs? Fazes tenções de correr alguns eventos Prime ou é uma coisa que vai decidir “em andamento”? Sim, vaise vendo em andamento, neste momento tenho poucos Primes no meu calendário. Mas se precisar de usar o ranking unificado para me manter, vou fazê-lo. Vou medindo as coisas e tomando decisões na altura.


o surf de backside é uma das suas maiores armas no tour mas a sua mestria nos tubos não lhe fica atrás! photo by Testmale/Quiksilver

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Tens feito poucas viagens de free surf, é algo que estás a pensar voltar a fazer em breve? Pois, realmente é uma coisa que tenho algumas saudades, no ano passado não fiz nenhuma. Estou a ver se este ano consigo encaixar uma viagem boa a meio do ano. Dá sempre para relaxar um bocado a cabeça e curtir umas ondas e se possível ir a um sítio onde nunca fui antes! Neste fase da tua carreira custa-te muito sair de Portugal ou é igual a sempre? Custa-me mais, para ser sincero... custa-me mais! Com a idade vais criando cada vez raízes mais fortes, tenho mais pessoas com quem partilho a minha vida e realmente custa-me um bocado estar longe. A prova disso foi no ano passado no fim do ano quando eu estive quase dois meses fora e realmente cheguei ao Havai e já estava com muita vontade de voltar para casa. E isso traduziu-se um bocado nos meus resultados. Mas chegas ao início do ano e já tens a picar de viajar de volta? Sim, é isso que acontece. Acho que um intervalo é sempre muito saudável, tu poderes fazer um interregno de um mês ou mês e meio. Foi como fiz este ano, estive um mês sem fazer surf praticamente. Depois do meu heat em Pipeline estive até ao fim de Janeiro sem fazer surf. Ou fiz duas vezes surf para fazer companhia a amigos. Um bocado sair daquilo que é a tua rotina. Férias para mim não é viajar, é simplesmente não ter de fazer a minha rotina. Soube bem mas depois começo a ficar fora de forma e passado umas semanas começo a ganhar outra vez a vontade de treinar duro e voltar ao surf. É a minha vida, passei a minha vida toda a fazer isto e começo a sentir saudades também. Saio sempre de Portugal para a primeira prova com muita vontade. Ao fim destes anos todos a passar tanto tempo fora do país, sentes que a tua vida fica um pouco em stand by enquanto estás focado no tour? Sim, eu acho que ficam coisas em stand by. É normal, não estás cá em Portugal, a menos que viajes com a tua companheira. É sempre complicado quando a outra pessoa também tem uma vida. Tem que gerir a vida dela e tu geres a tua e fica muita coisa em stand by. Também há muita coisa que se pode fazer, sei que não tenho a vida toda de competição pela frente, só mais alguns anos e por isso há coisas, objectivos e metas interiores, que eu gostava de alcançar a nível profissional. Coisas que a mim me deixariam bastante feliz, tipo ganhar um campeonato, entrar no top16 ou top10. Enquanto eu tiver força para lutar por isso vou andando aqui nestas voltas. No dia em que deixar de ter força e vir que realmente o meu surf está a começar a cair vou ser o primeiro a querer parar! Não vais lutar para voltar ao WT se “caíres”? Eu não vou querer acabar a minha carreira a correr o WQS a tentar qualificar-me. No ano passado quase saí a meio do ano. Se eu saísse a meio desse ano tinha boas hipóteses de voltar a entrar no fim do ano e claro que ia fazer os WQSs para entrar. Mas aí ia estar com um pé lá dentro. Agora sair e voltar a fazer o WQS acho que não faz parte de mim, acho que prefiro fazer viagens e dar outro tipo de retorno aos meus patrocinadores.

A maior arma de Tiago Pires, o seu backside! | photo by carlospintophoto.com

Com a nova geração a entrar com força, surfistas como Medina, Pupo, Andino e cia, que têm um surf diferente do que se viu até agora, achas que a ASP vai ter de adaptar os seus critérios? Acho que eles não estão a fazer um surf diferente do que faz, por exemplo, o Taj que é um surfista new school que já está no tour. Eles são realmente muito fortes nessa parte mas não tão fortes noutra parte. Por isso eles próprios vão ter de se adaptar àquilo que é o tour, àquilo que são as ondas do tour. Porque a realidade é que o WQS é um circuito muito propício a aéreos e é aí onde eles brilham mais. Agora vão ter de provar um bocado que são homens e que são capazes de mandar grandes tubos e grandes carves e isso não é para todos, como toda a gente sabe. É uma coisa que, para se ser mestre, para realmente se dominar esse estilo de surf, é preciso muito trabalho e acho que alguma idade também. A excepção é o John John que é um surfista que cresceu e teve Pipeline como quintal, e Backdoor. Ou seja, é um surfista especial e único nesse aspecto. De resto, os outros surfistas passam todos por aquilo que é a aprendizagem natural, começam todos por dominar o new school e depois vão fazendo viagens e ganhando mais corpo e maturidade, mais técnica nos tubos e aí vão aprimorar a técnica geral do seu surf. Está tudo muito entusiasmado com a entrada destes novos surfistas mas mesmo o Medina tendo ganho aqueles dois campeonatos, foram dois beach breaks, acho que eles ainda vão ter, como se diz em Portugal, muito milho para comer. OF


DESTINOS ................................ .A . . .Baía . . . . . . . . do . . . . . Escorpião .................. A Perfeição Efémera no Deserto da Namíbia photos by Pacotwo texto by Pacotwo/Aritz Aramburu intro by Hugo Valente

Lembram-se da esquerda perfeita descoberta por um informático californiano para o Google Earth Challenge promovido pela revista Surfing em 2008? Na altura o prémio foi viajar com uma equipa de surfistas e fotógrafos profissionais e experimentar “in loco” o que antes só podia ter imaginado através das imagens por satélite. Se não se lembram, então vejam vem as fotos desta viagem e perguntem a vocês mesmos porque andam a dormir! Se calhar está na hora de começarem a pensar em que altura podem tirar férias e a Namíbia pode muito bem ser o destino da vossa próxima viagem, principalmente se forem goofies e estiverem à procura do paraíso na Terra. Marc Lacomare e companhia passaram por lá e mostram-nos o que encontraram...



Falar sobre um termo tão filosófico quanto a perfeição numa revista de surf pode parecer um pouco pretensioso mas se há uma onda na terra que mereça esse título então é esta. Certamente que tudo é relativo e o que para uns é o cânone da excelência, para outros pode ser imperfeito por muitas outras razões mas, e aí não restam dúvidas, esta onda é o mais parecido com o que todos os surfistas desenhavam nos seus cadernos de escola enquanto os professores se esforçavam por dar uma aula. Estamos a meio de Agosto e, supostamente, os rapazes deveriam estar no calor de uma praia europeia lutando pelas pequenas ondas mas Aritz Aramburu, Alain Riou, Indar Unanue, Marc Lacomare e Palotes estão na África do Sul passando um frio do car#$%! Tudo por causa de uma mancha vermelha, seguida de outra fora do normal, que se deslocava imparável desde o

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Cabo de Hornos e atravessando todo o Atlântico, de Sul para Norte. Apostámos tudo numa só carta, Skeleton Bay! Se não sair bem a jogada, a viagem terá sido um verdadeiro fracasso porque, com o mar que se espera, todos os spots à volta estarão impraticáveis! Umas horas antes estávamos em frente ao computador na casa de Aritz a comprar os bilhetes e a gerir toda a logística que envolve uma viagem assim, e neste momento já estamos num aeroporto no meio do deserto da Namíbia. François e Lala recebem-nos de braços abertos. No quarto ao lado está hospedado Simon. Natural da cidade do Cabo, tem 36 anos e é o clássico surfista viajante. Na sua cara reflectem-se as muitas horas de Sol que tem debaixo da pele. Está agarrado a esta onda e desde o momento em que o conhecemos que se tornou nosso amigo e o guia perfeito. A hora que demorámos a chegar do Hostel onde ficámos hospedados até ao local onde quebra a famosa onda dá para muitas conversas e todos ouvimos de boca aberta enquanto nos Simon nos contava algumas das melhores sessões que lá teve. Esta onda, segundo parece, é relativamente recente e resultou da areia que lá se foi depositando nos últimos vinte a trinta anos graças a uma ligeira mudança dos ventos predominantes, o que aumenta ainda mais a lenda sobre a onda, porque assim como se formou, de igual modo poderá desaparecer. Tal como a vida, assim é também a perfeição, efémera. O momento em que chegámos à baía, mesmo quando estava a entrar um set, penso que foi algo que nenhum de nós alguma vez esquecerá na sua vida. Ondas que se dobram sobre si mesmas a uma velocidade endiabrada formando um tubo com muito mais largura do que altura. Instalou-se a loucura


generalizada! Uns subiram para as grades dos 4x4 para tirarem as pranchas, outros correram pela baía sem qualquer sentido aparente e houve mesmo quem não tenha conseguido evitar um mal estar intestinal. Fotograficamente encarava um dos maiores desafios que alguma vez tinha enfrentado. poder transmitir tudo o que se passa num line up destas dimensões é como querer agradar a um harém repleto de deusas. algo muito motivador mas verdadeiramente complicado. sentimo-nos impotentes e quase culpados por não estar à altura de semelhante maravilha da natureza. a partir daí começaram quatro dias de tubos intermináveis e sessões maratona de remadas e ondas antológicas. Um desafio físico superior às capacidades do nosso corpo e da nossa mente... só que a motivação de ver essas ondas era o melhor combustível para aguentar horas e mais horas dentro de água. nunca seria capaz de descrever o que eles sentiram mas como lhes disse a brincar no final de uma das melhores surfadas: “a partir de hoje tudo vos vai parecer mau, já que apanharam as melhores ondas das vossas vidas!”

sequência .............. “penso que passei mais tempo dentro do tubo numa sessão em skeleton bay do que em todas as surfadas dos últimos dois anos!” alain riou

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Skeleton bem é um tubo longo e quilométrico e todas as secções são difíceis mas há uma que é pesadíssima, esta onde Marc Lacomare está inserido!

A descrição de Aritz Aramburu ............................................. O Verão europeu pode chegar a ser um verdadeiro inferno para um surfista do WQS. Não quero que me interpretem mal, já que o que causa a agonia é não poder exercer o nosso trabalho de sonho por falta de ondas nos campeonatos. Acordas de manhã e ouves a chamada do meu grande amigo Nuno Jonet: “Good morning everybody, as the conditions are still uncontestable, we’ ve decided to call the competition off for the day…” E assim é, dia após dia, até que chega uma manhã com vento on shore e ondas de trinta centímetros. “The contest is ON! Heats 1,3,5... to the main podium. Heats 2,4,6... to the north podium” Nunca tinha tido um mês de Agosto com uma semana sem campeonatos. Tinha acabado de perder na ronda de 12 surfistas para o Kolohe Andino em Lacanau e, mal saí da água disse a mim mesmo que aproveitaria a semana seguinte para apanhar ondas de verdade em qualquer parte do mundo. Tirei o fato e convenci o Indar que precisávamos de encontrar um destino em meio minuto. Foi aí que Kiron Jabour nos leu o pensamento e passou por nós a perguntar se tínhamos visto o swell gigante que ia entrar na África do Sul dentro de dois dias. Com a minha melhor cara de Poker respondi-lhe que sim e Indar, a rir-se, confirmou com a cabeça. Já sabíamos qual seria o destino e quarenta e oito horas mais tarde já estávamos no puro deserto africano à espera do Swell que


chegaria no dia seguinte. Num tempo recorde conseguimos que Alain Riou, Marc Lacomare, Iñigo Idigoras, o camera man Jimmy Graham e o fotógrafo Pacotwo se juntassem a nós para tirar o máximo proveito da viagem e assegurar umas gargalhadas. Kiron também lá estava com o pai, lamentandose da dica que nos tinha dado! Durante os sete dias que ali estivemos, a esquerda com que todos os surfistas sonham funcionou durante quatro dias, com uma média de 50 a 60 ondas por dia por surfista, 100 a 150 tubos, 15 wipeouts, 25 quilómetros a surfar e outros 25 a correr pela areia de volta ao pico. Será possível pedir mais? Claro que sim! Alguns surfistas sul africanos, que já lá tinham estado antes, levavam condutores, ou mesmo as namoradas, para os trazerem de volta ao pico em 4x4! Enquanto o nosso grupo entrava em pleno Ironman diário, víamos como os “Saffas” nos ultrapassavam com as suas namoradas loiras ao volante com

cara de estarem a participar num autêntico Paris-Dakar! No terceiro dia deixámos lá a pele mas tivemos como recompensa as melhores ondas das nossas vidas. Surfámos oito, nove, dez e até mesmo onze horas sem parar, até ao pôr-do-sol. Esta onda tem um nível de dificuldade de 9 em 10, e isto é pura droga, cada vez queres meter-te mais fundo no tubo e lá ficar mais tempo separado do resto do mundo. O quarto dia também foi incrível apesar de apenas termos surfado seis horas! Para além das fotos que aqui viste, existe também um vídeo sobre a viagem. Vai à secção de vídeos em www.onfiresurfmag.com e delicia-te com algumas das ondas mais compridas e tubulares que alguma vez testemunhaste, ou passa com o QRRedader do teu smartphone por cima do código em forma de quadrado que está na página anterior. P2


. . . . . . . . . . . . . . . . . .A. . N. . .Á. . L. . .I . S. . E. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

7. . .Formas . . . . . . . . . . . . . de . . . . . Combater . . . . . . . . . . . . . . . . . .a. . .Crise ........ Para que os lineups não fiquem vazios! Texto e legendas by ONFIRE

O mundo atravessa uma mega-crise! Se esta é uma realidade tão grande como a que vendem ou se grande parte deste circo está na cabeça das pessoas, já é uma discussão completamente diferente! Não queremos é que a crise te afecte ao ponto de deixares de surfar, por isso apresentamos formas de combateres esta fase de (suposta) falência mundial, para que os lineups não comecem a ficar tão vazios como o teu porquinho-mealheiro!


photo by carlospintophoto.com


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01 Volta a Partilhar e a Pedalar! ................................................... Até já de táxi vimos um surfista chegar à praia e isso, quer queiram quer não, é sinal de abundância, não de crise devastadora de economias mundiais. Mas este episódio (extremo mesmo para uma altura de bolsos a abarrotar de euros) aconteceu em 2011 e o ano da tragédia é este, 2012. Até este ano, já ele catastrófico por muitos acreditarem que será o fim da Humanidade, era raro vermos um carro chegar à praia com cinco cabeças loiras lá dentro e um tejadilho carregado de pranchas, o que mais uma vez só podia ser sinónimo de bolsos pesados. Mas em 2012 se quiseres alargar o teu leque de praias surfadas, o que é sempre obrigatório se quiseres surfar o ano inteiro, só o conseguirás se voltares a encher o carro de amigos para conseguires dividir os custos do líquido mais caro do momento, “la encantada gasolina”! Para as surfadas do dia a dia na tua praia local, a melhor opção para combateres a crise só pode ser mesmo uma: deixar o carro em casa e usar qualquer meio de deslocação não motorizado! Pézinhos, skate, patins em linha (apesar desta ser a nossa última opção pois, quer queiramos quer não, tem uma forte componente gay), a velha bicicleta – a nossa preferida – ou mesmo um triciclo. No fundo, desde que seja movido a força humana, então sabes que estás a poupar!

Nuande Pekel, muito antes da crise, já era fã de poupar no gasóleo para surfar perto de casa | photo by Mauro Motty

Dica para enriquecer: Ao dividires o carro com os teus amigos, além de redescobrires um novo espírito de união e amizade há muito perdido, ainda vais conseguir enriquecer com as moedas dos seus bolsos que rolam para aquele precipício (ou mealheiro escondido se preferires) que existe na parte de trás dos bancos do teu carro.

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02 No Poupar Está o Ganho! .............................................. Hoje em dia todos têm fato de Verão, fato de Inverno (e sem referir que há quem tenha dois de Inverno e dois de Verão), prancha para 20cm, prancha para meio metro, para meio metrão, metrinho, metro, metrão, and so on! E não estamos a falar de prozada mas sim da maioria dos surfistas do dia-a-dia. Agora, em 2012, tens uma hipótese apenas de sobrevivência: poupar ao máximo todas as pranchas do teu quiver para garantires que não ficas sem “ferramenta”. Com certeza que sempre que tens algo novo te acontece o mesmo do que à maioria dos humanos: ao início és ridiculamente cuidadoso mas ao fim de uns tempos de uso desse objecto já és ridiculamente desleixado. Aplicando esta máxima a pranchas e fatos: quando os compras nunca os deixas ao sol e após cada surfada dás-lhes longos banhos de água doce (há até um surfista nacional famoso que supostamente tomava banhos de espuma com cheiro a rosas e propriedades relaxantes com a sua prancha após cada surfada - o qual não iremos, obviamente, revelar a identidade). Ao fim de uns meses de uso, devido à secagem a seco do sol, já tens os fatos mais ressequidos que a pele de um lagarto debaixo do sol do deserto do Sahara, e as pranchas mais amarelas que as agora tão na ribalta bananas não madeirenses (por supostamente estarem a propagar uma bactéria que come a carne humana podendo causar a morte...) Olha sempre para o lado positivo das coisas (uma dica que poderás ver mais desenvolvida em detalhe no ponto seguinte), e pensa nos anos anteriores como um investimento em material que agora, neste ano de miséria, irás usufruir a 100%, seja do teu gigantesco quiver de pranchas ou de fatos! Dica para quem não investiu no passado: pedinchar! Não é vergonha para ninguém fazê-lo, por isso não tens de ter vergonha em pedir uma prancha a um pró já que eles são os mais abastados neste campo. Pensa da seguinte forma: “um não está sempre garantido!”.

Se há alguém a quem podes pedinchar uma prancha nesta época de crise é a Filipe Jervis. Mas se neste departamento Jervis não está carenciado, parece que no que diz respeito à mecânica do portabagagens do seu carro a conversa é outra. | photo by Mauro Motty

Infelizmente, João Guedes é o surfista profissional português que mais sofreu com a crise a nível de patrocínios mas o surfista do Porto é um optimista extremo pelo que sabe que esta será uma fase passageira! photo by carlospintophoto.com 58 ONFIRESURFMAG.COM



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03 Transforma-te num optimista! ....................................................... Este deve ser sempre um lema de vida mas, numa altura como a que atravessamos, tem de passar a fazer parte do DNA de cada uma das tuas células! Treina yoga, feng shui, shop sui (de lulas e para a mesa do canto sff)! Faz uma introspecção da tua alma, isola-te na montanha, analisa todos os casos dramático que te rodeiam para perceberes que, afinal, não estás assim tão mal. Depois destas injecções zen/psicológicas, é suposto conseguires estar optimista e feliz sempre que “levares” com a história da crise directamente no lombo (para não dizer numa zona do corpo um pouco mais escondida, escura, peculiar e com odores nefastos), o que te irá fazer passar este ano nas calmas. Mais, poderás mesmo contagiar os outros com o teu optimismo e, quem sabe, não serás elevado a Guru da Anti-Crise pela sociedade do consumismo! Queres um exemplo concreto e da vida real em que o trabalho mental acima descrito te irá ajudar? Se fores ao balcão do teu banco levantar o TEU dinheiro da TUA conta, vais ter de pagar um estúpido imposto! Neste momento devastador sorri, e pensa que ao menos ainda tens dinheiro para guardar no banco! No fundo, estás a aplicar a velha máxima do optimismo: “Sempre que se fecha uma porta, abre-se uma janela!”. Está mais do que provado que um optimista em época de crise não só é quem mantém a sua sanidade mental como é aquele que terá melhor capacidade de ter uma daquelas ideias brilhantes, raras e milionárias que sempre aparecem nesta altura. Queres um exemplo? Enquanto todos choram pela falta de dinheiro na crise, há quem enriqueça a vender-lhes lenços de papel! No fundo é tudo uma questão de ver as coisas de outra forma e para tal tens de treinar o cérebro para isso. Como? Leste o início deste ponto certo? Dica para ser um melhor optimista: para muitos uma bebida espirituosa ajuda a abrir a mente mas, para nós, não há melhor forma de o fazer que a mais óbvia: surfar!

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04 Publicidade Enganosa... ............................................. Muito recentemente fizemos um estudo altamente complexo. Usámos, para divulgar esse estudo, os canais internos da nossa revista: emails do staff e amigos, telefones do staff e amigos, e colocámos publicidades sobre este inquérito nos secretárias de cada membro do staff assim como na caixa correio dos amigos da OF. O objectivo deste estudo cirúrgico era saber qual o melhor meio de comunicação surfístico, não nacional, mas mundial!!! Os resultados foram surpreendentes, com a ONFIRE a destacar-se em grande em relação a todos os outros meios. Qual Surfer, Surfing ou Transworld!!! Ganhámos com 98% dos votos enquanto as restantes revistas e sites de surf disputaram entre si as duas percentuais restantes migalhas! Somos os maiores, e iremos fazer tudo para publicar estes resultados altamente imparciais, agora sim, em todos os canais de comunicação possíveis, dentro e fora do surf claro! Esta pequena sátira é um exemplo de como em épocas de crise são vários os argumentos maliciosos que surgem como cogumelos usados para tentar ajudar a vender um produto! Queres mais um exemplo? Certamente já caíste no erro de ir atrás da possibilidade de ficares habilitado ao sorteio de um magnífico prémio, como um ipad ou iphone, pois recebeste um email com essa megaoportunidade! Seguiste todos os passos pois esse prémio é supostamente grátis, mas quando dás por ti estás a ser cobrado não sei quantos euros por semana na tua conta de telemóvel. Isto porque simplesmente aceitaste o que viste em letras tamanho garrafal no email, e não paraste para pensar! Ficaste tão cego com essa possibilidade que nem viste aquelas letras minúsculas no fim do email que dizem que ao subscreveres a esse passatempo irias ser cobrado um valor semanal. Ainda por cima, quando detectaste esse valor anómalo na tua factura, já quase que tinhas pago o valor do prémio. E claro que seres o vencedor do sorteio está quieto! O nosso objectivo ao falar deste ponto não é que a partir de agora comeces a pensar em esquemas manhosos como os acima mencionados, afinal onde iria parar o nosso desporto se nos vendêssemos desta forma, mas sim que estejas alerta a estas situações. Lembra-te, o que nos distingue dos animais é que somos seres pensantes, por isso, pára, pensa, analisa e tira as tuas conclusões quando vires algo que parece ser bom ou pomposo demais. Dica: aumentar a tua capacidade crítica e de análise ao que te rodeia, ou seja, “não emprenhes pelos olhos”, como dizia um amigo nosso!

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Justin Mujica é daqueles surfistas que sabe perfeitamente que não deve acreditar em tudo o que vê ou lê pois vem de um país onde a crise já existe à décadas, logo não é daqueles que “emprenha pelos olhos”. Se há um caso em que deves acreditar em tudo o que vês no que a qualidade de surf diz respeito - e aí sim “emprenhando pelos olhos” - é quando observas o Justin a surfar! | photos by Mauro Motty


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05 Não desperdices NADA! ............................................. Uma das melhores e maiores formas de economizar é não desperdiçar! E esta máxima aplicase a tudo o que quiseres no nosso mundo surfístico. Pranchas, fatos, gasóleo (já referidos atrás), mas não menos importante, comida, wax, roupa ou mesmo gás! Se no capítulo dos “morfes” é algo que não deverás ter grande dificuldade em fazê-lo afinal não conhecemos um único surfista que não rape os restos de comida do prato, da toalha e, muitas vezes, do chão depois de uma surfada, no campo da vestimenta e wax a coisa já muda de figura. Mas, se pensares bem, estes dois estão totalmente ligados! Gostas de mandar pausa, de estar quitado para a ocasião seja ela qual for e isso, como bem sabes, aplica-se também ao wax. Aliás, se pensares mesmo bem, mudas quase tantas vezes de wax, para que este fique sempre com aquele ar novo, fresco e, admite, igual ao dos teus ídolos surfísticos (como gostávamos um dia de ver o Slater com um wax preto de uso para ver a repercussão que isso iria ter na moda mundial...), como mudas de, vá, t-shirts (cuecas era forte demais, até para nós!). Pois fica sabendo que em 2012 se não gerires bem o teu budget para wax e roupa habilitaste é a andar todo nu, e a voltar a derreter velas para cima da tua prancha! Se fores um Adónis metamorfoseado com o homem com o maior pénis do mundo (não conseguimos saber o seu nome mas também só perdemos 0.2 segundos à procura no Google) poderá ser positivo essa ausência de roupa (vês, aqui está, novamente, o tal espírito optimista que atrás falámos a ser empregue!) pois elas cairão aos teus pés mas, tirando esta raridade, irás é acabar sem elas e com eles a mandarem-te apanhar sabonetes no frio e escorregadio chão dos chuveiros de uma qualquer prisão nacional (e aqui não há optimismo que te salve!). E o gás, como é que o vais economizar? A razão pela qual falámos do gás é porque nenhum outro ser humano toma mais banhos quentes que o surfista, logo as contas são sempre astronómicas. Assim, para poupares uns bons euros, principalmente no Inverno, nada melhor do que usar o (velho) truque - provavelmente inventado pelo surfista que tem de ir trabalhar logo a seguir à surfada -, deixar um garrafão de cinco litros com água doce ao sol enquanto vais surfar. Quando saíres da água terás o teu chuveiro de água bem quente grátis à tua disposição, diminuindo assim a conta do gás. Uma dica: esconde o garrafão pois há sempre um amigo abusador que sai primeiro que tu só para usufruir do teu chuveiro natural e sem custos!

O algarvio Miguel Mouzinho sabe perfeitamente como entrar em modo “Desperdício Zero” para passar pela crise. photo by Mauro Motty

Dica para Desperdício Zero: no fundo passa tudo por escolhas e é isto que tens de meter na cabeça! Como tens pouco, o teu dinheiro tem de ser aplicado nos coelhos certos pois só assim irás ter zero desperdício. Preferes ter uma prancha nova ou uma garrafa de whisky numa noite? Uma viagem à Indonésia ou uma noite no conceituado “Elefante Branco”?

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06 Adopta o lema: “Amor e uma cabana” .................................................................. Sabemos perfeitamente que este lema seria aplicado independentemente de estarmos a atravessar uma crise. Mas a realidade é que é só nestas alturas que tomamos atitudes que diferem das do nosso dia a dia. No fundo, muitas vezes são as crises que nos fazem ter acções que não temos coragem pois estamos enformados numa vida onde tudo é seguro (ou parece). Porquê morares longe do surf ao mesmo tempo que pagas um empréstimo astronómico? Esta é a altura certa para venderes a casa e construíres uma modesta cabana de madeira o mais possível perto da praia. Investe também nuns painéis solares e voilá, electricidade grátis. Com as tecnologias de hoje, facilmente terás net, televisão e outras mordomias que consideres importantes. Se possível cultiva também uma horta, e certifica-te que os teus naturalistas e surfistas vizinhos (no fundo pessoas que tomaram a mesma opção que tu) criam galinhas, porcos, vacas e outros animais comestíveis! Quando deres por ti voltaste à época da troca directa, e vives agora numa comunidade surfística com todas as suas casas magníficas, ordenadas e misturadas no meio ambiente na perfeição. O melhor de tudo, a seguir a nem te lembrares que o mundo atravessa uma crise financeira medonha, é que tens ondas perfeitas literalmente à porta de casa! Desta forma, o Amor rapidamente entrará pela tua “cabana”! Dica para a Comunidade Perfeita: a ONFIRE irá também ter o seu escritório nesta comunidade e assumirá a árdua tarefa de “cultivar” na sua modesta mansão de madeira as mais simpáticas e corporalmente perfeitas surfistas, mas que, obviamente, não estarão disponíveis para troca directa. Mas quem sabes não tenhas sorte com alguma delas!

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07 Vai SURFAR! ........................... Já falámos um pouco de como o acto de correr ondas é a melhor forma de combater a crise que atravessamos pois deixa-nos num estado de alegria como poucos outros desportos o fazem. Isto é muito bonito mas será mesmo verdade? Qual o suporte científico por trás desta divagação? Pois, parece mesmo que alguns cientistas decidiram ir ao pormenor deste tema e, segundo parece, ao fazermos surf todas as hormonas responsáveis pelo prazer e excitação são segregadas em grandes quantidades, hormonas essas que pessoas em estados de tristeza e depressivos têm em défice no organismo! Pelos vistos a melhor forma de combater a crise é mesmo uma, e a melhor de todas, surfar! Dica: não leste o título deste ponto? Vai surfar!!! OF 62 ONFIRESURFMAG.COM

O início da comunidade da poupança, pela nossa lógica, o sonho de qualquer surfista? photo by Mauro Motty


A crise deixa qualque um de cabelos em pé, no entanto, Alex Botelho sabe perfeitamente que a melhor forma para combater esta recessão económica mundial, e de acordo com os cientistas, é a surfar! | photo by Mauro Motty


Os seus treinadores sabem. Os seus patrocinadores sabem. os seus amigos sabem. até os seus adversários sabem. agora só falta o público em geral saber que Miguel Blanco é um dos surfistas com mais potencial do nosso país!!! ainda é cedo para dizer, ou perceber, até onde pode chegar e ainda lhe faltam resultados expressivos fora de portugal. mas, aos 16 anos, este surfista já viajou mais do que a média, e com a sua determinação, disciplina, talento e grande apoio familiar é provável que ainda venha a dar muito que falar! Fica a conhecer Miguel Blanco, Rising Star!!! ..................................................... texto by onfire photos surf by Hugo valente




miguel, já sei que estás determinado em fazer do surf uma carreira, qual é o plano? neste momento estou mesmo focado em acabar o 12º! está a ser difícil ver os meus amigos todos que já só andam viajar, uns até deixaram de estudar, só para surfar, e eu ainda na escola! custa-me um bocado mas ainda me dá mais força para acabar a escola e quando acabar é treinar ao máximo. então assim que acabares o 12º vais de cabeça para o surf profissional! foi um objectivo delineado mais por ti ou os teus treinadores e/ou família tiveram uma influência grande nisto? os treinadores acreditam sempre em nós, e dão-nos força mas isto é um plano que cada um tem que traçar por si próprio. em casa até tive umas pequenas “guerras” com a minha família. perguntavam-me se eu ia para a universidade depois do 12º e eu sempre a dizer que não queria. até que houve um dia que me passei, levantei-me do jantar e disse, “eu vou ser surfista profissional, vou-vos mostrar que é possível e não vou para universidade nenhuma” e acho que foi aí que marquei a minha posição. até porque eles depois foram ter comigo e disseram que isso é que era o espírito de atleta, que assim é que ia longe e aí apoiaram-me 100%. sentes-te preparado para a vida difícil que é o tour? estar longe da família e amigos? preparado? estou mortinho por acabar a escola e fazer isso! É para isso que eu ando a trabalhar! eu vou estar prontíssimo para isso, é uma vida em que se passa muito tempo fora de casa, tem que se ter muita independência e eu oDeio ficar por casa! neste momento ainda estás a estudar mas já passas muito tempo fora de casa, conta-nos por onde vais andar nestes primeiros meses de 2012. vou para a austrália um mês já em Janeiro/Fevereiro. vamos estar ao pé de snapper (rocks) e primeiro vamos ver o World Junior championships, onde o Kikas e o vasco vão entrar. vai ser “animal”, muitas vezes quando estou a competir estou a ver altas ondas e só penso “quem me dera não ter de competir e só ir surfar ali para o lado” mas tenho que descansar e concentrar-me. agora vou poder estar a ver os outros todos concentrados e a partir a loiça e eu cheio de pica a ir surfar ao lado e treinar aéreos. vamos estar lá algum tempo, ainda devo fazer um pro-Junior mas, como é de 5 estrelas, há uma lista gigante e não sei se tenho seeding para entrar. mas se não, também não é grande problema e vou treinar todos os dias. e depois? segues para Bells Beach? não, ainda venho a portugal para quase dois meses de aulas e depois volto para a austrália para ir bells. como ganhei o Grom search europeu recebi uma viagem para lá para competir no Grom search internacional e assistir ao Wt. Depois acho que vou directo à ilha reunião, e de seguida para as canárias... mas neste momento como fazes para não ficar para trás na escola estando tanto tempo fora? vou estudar online. Há um centro de explicações em que o director é amigo da minha família e a minha mãe e o meu padrasto apresentaram-lhe a ideia de explicações online. Já havia alguma investigação à volta disto pois eles estão muito à procura de inovações. basicamente eu vou estar no skype, faço uma partilha de ecrã e cria-se um quadro interactivo para cada um dos lados. eu vou ter uma caneta digital com uma tinta especial. Depois escrevo numa folha e aquilo projecta o que estiver a escrever no ecrã. isto será ao fim do dia na austrália e logo de manhã em portugal. e achas que vais conseguir manter a concentração depois de surfares o dia todo? vai ser meia hora, ou quarenta minutos ou uma hora no máximo, dia sim, dia não. vai ter de ser, é um esforço mas é bem melhor do que andar a perder anos. os seus treinadores dizem que miguel Blanco não arrisca muito no seu surf e que é algo a trabalhar. blanco a fazer os trabalhos de “casa” nos mentawai.

no ano passado já andavas neste ritmo de viagens? sim, nem sei quanto tempo estive fora de casa em 2011. estive um mês em França, mais um mês a viajar de um sítio para o outro. Foi um pro-Junior em espanha, depois directo para as canárias, daí fui para o peru. Depois mais duas semanas na ilha reunião e logo antes do início


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do ano tinha estado no Havai. Foi chato foi na escola, fiz o primeiro período já a faltar um bocadinho, no segundo faltei mais e no terceiro só fui uma semana às aulas! Mas tens algum estatuto como atleta que te permita faltar? Temos o estatuto de alta competição que me facilita um bocado mas ao mesmo tempo na escola vêem-me como um aluno qualquer. Conta que outras viagens já fizeste! Indonésia várias vezes, Maldivas várias vezes, Brasil, Cabo Verde, Ilha Reunião, Marrocos cinco vezes, Havai, Canárias, Peru, Nova Zelândia e França! E agora Austrália. Tudo com os teus treinadores ou selecção nacional? Não, já fui à Indonésia com o meu pai. Foi bom porque ia só eu e o meu pai e a minha família, o meu irmão mais novo e o meu pai também fazem surf. Foi bom apanhar aquelas ondas perfeitas e não ter aquela rotina do David (Raimundo) de acordar todos os dias às 5.30, esteja nojento ou esteja perfeito. Com o David fazemos sessões de hora e meia, saímos, entramos outra hora e meia e eu gosto de ficar muito tempo a surfar. Ainda por cima agora passo pouco tempo de férias com os meus pais. No máximo três dias, todas as férias que tenho são direccionadas para o surf e mais algum tempo que não faz parte das férias. Achas que os treinadores são muito rígidos? Acho que não, é o que nós precisamos, se eles puxam por nos é porque faz sentido, para irmos a algum lado! Disseste que o teu pai faz surf, foi ele que te puxou para começares a surfar? Não, começámos juntos! A minha mãe sempre adorou o mar e meteu-me a surfar numa escola em S. Pedro. O meu pai achou piada e também experimentou e a partir daí também começou a surfar, tinha eu uns 7 anos. Curti imenso e queria cada vez mais. Andei à procura de treinador um bom tempo. Depois falei com o Alvinho, shaper da ET, que me ajudou imenso e me direccionou ao Pedrinho Soares e fiz ainda um ou dois treinos com ele na escola de Carcavelos. Até que ele viu que era mesmo aquilo que eu queria mas como não tinha grupos para mais novos disse para eu ir falar com o David Raimundo. Por acaso ele estava lá em Carcavelos a dar um treino, na areia. Eu e o meu pai fomos lá falar e ele disse para eu entrar e ir fazer umas ondas e acabei por me juntar ao grupo. E assim foste parar à Surftechnique! Sim, eu fui mais ou menos a segunda geração da Surftechnique, fui ter o primeiro treino com eles na Poça num sábado de manhã e não fazia a mínima ideia que existia a Poça sequer. Cheguei atrasado ao treino, para começar logo bem, mas foi tranquilo, éramos muita pequenos e ainda ia o Telmo connosco para dentro de água empurrarmo-nos para as ondas. E logo nesse ano, comecei a fazer o Esperanças. E quando começaste a ter algum sucesso? Nos sub14 uns tempos mais tarde. Depois ganhei no meu último ano nessa categoria e fui campeão nacional pela primeira vez. Aí comecei a ver que podia ir a algum lado se me esforçasse.

O campo de treinos mais próximo de casa, S. João do Estoril, garante que Miguel Blanco não tenha um surf inferior para nenhum dos lados. Explosão de backside em Macaronis.

No ano a seguir foste logo top16 do nacional, estavas à espera de te dar bem entre os mais velhos? Não sei, eu também não pensava muito, ia competir como se fosse outro campeonato qualquer e por acaso acabei em 12º. Cheguei a ir a uma final na Figueira da Foz, mas também foi o campeonato com menos nível pois imensa gente estava fora a viajar. O nacional é um campeonato óptimo já que estou a competir com pessoas que têm quase o dobro da minha idade, mas não é a prioridade, nem de longe.


O que poderá dar mais prazer do que arrancar atrás do pico em Bintangs com os teus amigos todos a ver, para sair vitorioso do tubo uns metros à frente?

Já em 2011 caíste quatro lugares, mesmo tendo quase chegado a outra final na etapa de Santa Cruz! No nacional foi um ano muita fraquinho para mim. Eu tive aí uma fase muita difícil que foi a partir mais ou menos do ISA World Games. Parece que em todos os campeonatos que perdi foi por muito pouco, muitas vezes porque os outros viravam na última onda. Em Santa Cruz, foi mais um para juntar à festa, perdi nos últimos minutos. Eu estava em segundo e o Justin partiu uma onda toda mesmo no fim e fui para terceiro. Como têm sido as tuas prestações nos campeonatos da ISA? Fui três vezes ao ISA World Games e foi um fiasco, ando há 3 anos a perder no round 3! Já me dei bem no Pro-Junior mas no ISA não sei. No ano passado perdi no


round principal por 0.01 e fui para as repescagens e aí não mostrei surf suficiente e perdi. Acabaste fora do top16 Pro-Junior (18º), o que faltou para ficares dentro? E o top16 era importante para ti? Não sei, eu queria ficar top15, fiquei 18º, faltoume um bom resultado em Neuqway que era 4 estrelas. Lá perdi logo no round 2, tinha tido o King of the Groms e estava um bocado cansado e até chateado por ter perdido no KOTG. Fiquei em terceiro na final e se ficasse em segundo ou primeiro qualificava-me para França. Isso afectou-me um bocado, já estava um bocado cansado de competir e só pensava em ir aos Mentawai (viagem da ONFIRE 54) que era logo a seguir!

Os teus treinadores dizem que a tua motivação oscila muito, sendo que há alturas em que estás mais “disperso”... Sim, acho que isso faz parte de toda a gente, nunca estamos a 100%! Ou porque estamos mais cansados, ou porque estou mais concentrado na escola, ou nos treinos que quase me deixam sem tempo para o free surf e eu preciso disso e sinto-me um bocado insatisfeito. Outra coisa que apontam, e que dizem ter começado a trabalhar contigo agora, é a parte de arriscar mais nas manobras pois não sais muito da tua zona de segurança! Concordas? É verdade, eu não arriscava nem por nada mas era inconscientemente, ainda nem tinha noção do surf, hoje em dia é completamente diferente.

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E já fazes surfadas inteiras a tentar manobras mais arriscadas? Sim, então não? Uma pessoa só evolui a tentar muito. O Kikas é um exemplo, está muito melhor a dar aéreos porque andou imenso tempo a treinar. Meteu quase o outro surf de parte e era só aéreos. E hoje em dia está a surfar “nas horas”. Surfámos ontem na Poça e deu tipo oito aéreos. E mar grande, tens treinado? Adoro mar maior, ainda não surfei ondas muito grandes, mas surfar esse mar dá-me imensa pica. Às vezes está meio metro e tanto me divirto imenso, como odeio, mais depois está maior e eu adoro. O que gosto mesmo de ondas maiores é que o mar pode estar nojento mas uma pessoa dá uma manobra boa e sai da água já com outra pica. Até pode ser um close out mas se tu o conseguires apanhar e deres uma manobra boa ficas satisfeito! Adaptaste-te bem ao Havai? Por acaso acho que sim, fui só uma temporada e adorei Sunset. Só surfámos lá um dia mas foi o meu melhor. Estavam uns dois metros e meio e é muita bom porque está lá tanta gente que é impossível uma pessoa ter medo! Aquela cena de surfar mar grande, com prancha grande, adoro. E superar-me a mim próprio. Acho que se tiver um mar difícil e estiver maior acho que me safo melhor do que se estiver meio metro mole! Qual é o papel da tua família na tua carreira? A minha família tem um papel importantíssimo, a minha mãe organiza-me as viagens todas, trata dos meus contratos e digo-te mesmo que se não fosse ela eu não estava aqui, nem perto. Mas os teus treinadores não fazem essa parte das negociações com alguns atletas da Surftechnique? Fazem mas a minha mãe é daquela área, também percebe do que está a falar, está habituada a fazer contratos e apresentações. E por acaso a Quiksilver foi logo falar com os meus pais naquele início. Falámos todos, tivemos reuniões lá em casa, e fui para a Quiksilver. A Lightning Bolt patrocinavame antes e também tinha uma proposta boa para eu continuar mas senti que a Quiksilver ia-me abrir mais portas. Nos Pro-Juniores tenho casa onde ficar, e outras regalias por isso fiquei Quiksilver. Entretanto renegociámos e já confirmei até pelo menos 2013! Como é estar na mesma equipa que o Vasco (Ribeiro) que atrai muita atenção neste momento, como te sentes nesta posição em que todos são um pouco ofuscado por ele? Sinto um bocado isso, mas isso faz parte, acontece em tudo na vida. Mas a Quiksilver lida muito bem com isso. Não dá mais privilégios a uns do que a outros. Estar nessa posição, um bocado abaixo do radar, achas que te dá pica e espaço para crescer ou tira apoio e desmotiva? Eu acho que estou na minha posição, dá para eu crescer enquanto surfista e enquanto pessoa. Acho que não me tira espaço, hoje em dia há tantos na Europa que se as marcas olhassem só mesmo para os melhores o surf ia-se perder um bocado. Para terminar, quem são os teus surfistas preferidos? Tenho muitos, da geração do Parkinson adoro o surf do Dane e do Jordy, para mim são os dois melhores de sempre. Também curto um que passa muito despercebido, que é o Kai Otton que acho que tem um estilo lindo, Andy Irons era dos meus preferidos de longe. Da nova geração o Medina é surreal. Também curto o Even Geiselman e o Connor Coffin, que têm estilos um bocado diferentes mas que eu gosto bastante! OF

Mais uma oportunidade de aprimorar o surf progressivo, sem esquecer o estilo. Air time em Roxys!


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Tal como, quero acreditar, a grande maioria de vocês, quando pensava em Itália, não pensava, de todo, em ondas. Tão pouco pensava em “Il Canzoniere”, em “Il Principe”, na “Mona Lisa” ou na “Nascita de Venere”. Por muito que falar de Petrarca, Maquiavel, Leonardo Da Vinci ou Miguel Ângelo pudessem fazer parecer-me uma pessoa mais interessante do que realmente sou, a verdade é que a primeira imagem que me vinha à cabeça, quando me falavam de Itália, era tão só a forma arredondada das suas famosas pizzas. ....................................................... texto by Gony Zubizarreta intro by Hugo Valente photos by carlospintophoto.com



Não terá sido certamente esta a principal razão para nunca ter conhecido o país das Vespas e dos Ferraris mas, por muito que goste, Pizzas nunca foi coisa que me motivasse a fazer grandes viagens. E, em função disso, parece que andei a perder outros encantos da terra de Júlio César. Não estou tão pouco a falar de Bruni, Belucci ou Loren, que certamente a Carla, a Mónica e a Sofia, cada uma delas por si só, mereceria mais do que uma visita, falo-vos sim das ondas, daquilo que nunca pensamos encontrar em Itália mas que, por sinal, também por lá existe, e com uma qualidade de fazer inveja a outras bem mais famosas. Se Margherita, Peperoni e Mozzarella são termos mais familiares também para os vossos ouvidos, certamente que as imagens da viagem relâmpago a Varazze vão acrescentar o nome da pequena cidade italiana, próxima de Génova, ao vosso vocabulário. Como o comprovam as imagens de Carlos “il fotografo” Pinto e “su ragazzi” Frederico Morais, Marlon Lipke e Gonzalo Zubizarreta, Itália tem mais para oferecer do que as famosas pizzas e pastas e pode ser mesmo um excelente destino para umas férias curtas e em boa companhia. Acredito que boas ondas e boa comida possam parecer um cenário perfeito para qualquer surftrip mas, já que o surf em Itália, habitualmente, pouco mais dura que um par de dias, porque não aproveitar a viagem e partir à descoberta da vizinha e famosa Toscana? Se vos disser que a capital da região é Florença não será preciso acrescentar muito mais sobre o potencial cultural em oferta. Levem convosco a namorada, a mulher, a amante, ou apaixonem-se por uma local, que segundo soube, de fonte segura, são bem mais interessantes que os exemplares masculinos. Convençam-na a mostrarvos os encantos da terra que os do mar vocês já bem conhecem, e deixem-se levar pela “enganosa euforia” de um dos melhores vinhos do Mundo, percam-se nas ruas que viram crescer Dante Alighieri e talvez um dia se encontrem entre o inferno e o paraíso, como se a vossa vida nada mais fosse que uma Divina Comédia. Gony Zubizarreta conta-nos como foi a sua primeira experiência e porque espera voltar um dia. HV

Gony Zubizarreta, autor deste artigo, ainda está a recuperar de uma lesão que o deixou fora de água durante alguns meses. Nada que se note no seu surf!


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Adoro estas viagens relâmpago que se planeiam de um dia para o outro, são muito mais emocionantes do que aquelas que se planeiam com meses de antecedência. Estava com o Marlon em casa do “Jony” Gonzalez em Tenerife Sul e as ondas estavam perfeitas. Na verdade, o calor, a tranquilidade e a companhia faziam desta semana uma das melhores do ano mas Marlon tinha em mente outro destino. Embora pareça estranho, esse destino era Itália. “Hey Gony!!! Vai estar perfeito em Itália no Sábado e Domingo! Vem aí uma ondulação enorme!” Gritava Marlon desde o seu quarto analisando as previsões na internet. “Que dizes? A sério? Vamos? Eu nunca fui a Itália, temos de ir dê por onde der.” Dito e feito. Logo de seguida comprámos os bilhetes e no dia seguinte estávamos a voar para o país das Massas e das Pizzas! Tenerife Sul - Milão vôo directo por 68 Euros! Chegámos a Milão à meia noite e fomos para o hotel onde nos esperavam o clamoroso Carlos Pinto e o novo Andy, Frederico “Kikas” Morais. Dormimos duas horas e fizemo-nos à estrada que nos levaria até Génova, a duas horas de Milão, se conduzires tão rápido e seguro como o nosso Marlon “Schumacher” Lipke! Vimos umas espumas ao chegar a Verazze. Havia ondas. Não conseguíamos ver muito bem porque estava escuro, ainda era de noite, cinco e meia ou seis da manhã. Aproximamo-nos do paredão e podíamos ouvir, e mais ou menos ver, um pico perfeito de esquerda e direita, tínhamos acertado. Estávamos no Pico de Varazze! Corremos até ao carro, arrastámos os sacos até ao paredão e trocámos de roupa mesmo ali, passados com as ondas e com o frio italiano, dois graus centígrados! Começaram a chegar alguns locais e, a pouco a pouco já se ia vendo melhor, a claridade já estava connosco. Lembro-me de ver o Marlon dar três tubos na direita enquanto eu ainda passava parafina na prancha, que louco, estava super excitado. Um local aproximou-se assim de repente e disse-me que estávamos com muita sorte, que era, seguramente, o melhor dia do ano... Eu sorri para ele e desatei a correr em direcção à água. Kikas foi o último a entrar, sabia que ia ser um longo dia de surf e não tinha pressa. As suas primeiras ondas deixaram-me chocado, tinha melhorado muito desde a última vez que tinha surfado com ele. Colocava o rail na água como um Joel Parkinson e um Andy Irons juntos e voava ao melhor estilo Taj Burrow... Naquele momento era o protagonista da sessão... Os locais italianos não entendiam nada, que fazíamos nós ali às seis da madrugada, os primeiros dentro de água!?! Felizmente trataram-nos muito bem, suponho que sermos amigos do famoso local Ettore Burdesse, que agora vive em Vigo, e do conhecido Quirin Rohleder que viveu ali uns anos possa, de alguma forma, ter ajudado.

Marlon Lipke é um viajante nato e enquadra-se bem em qualquer viagem. O seu surf também!


Depois de quatro horas de surf e de arranhões no pescoço e nas axilas estava na hora de sair e comer um pouco de Focaccia num qualquer lugar típico da cidade e seguir viagem para Sul, onde nos tinham dito que as ondas estariam maiores. E a verdade é que em Lepanto as ondas quase tinham mais força que no Havai... O que pareciam dois metros vistos da praia, transformaram-se em três quando chegámos ao pico. Não me lembrava de levar assim tanta porrada desde a última vez que surfei em Sunset ou Haleiwa. Essa praia estava uma verdadeira loucura, havia umas esquerdas mesmo pesadas e com as nossas 6’1” estávamos um pouco curtos de pranchas, dava sempre para apanhar umas mas quem estava bem era o alemão Michy Mohr, que já conhecia o local e penso que tinha uma 7’1”, muito técnico o big wave rider de Munique! Jantámos em Lepanto, um sítio muito acolhedor, onde bebemos umas Peroni, também em muito boa companhia, mas estava a ficar tarde e tínhamos de dormir, estávamos mortos de tantos quilómetros e tantas horas dentro de água. No dia seguinte madrugámos outra vez e ás cinco já estávamos a descer mais para sul em busca de uns pontões com umas ondas muito divertidas

onde, supostamente, Kelly Slater tinha surfado um dia. Depois de duas horas às voltas lá encontramos o lugar a quebrar com vários picos dos dois lados do pontão. Repetimos a dose de trocar de roupa e deixar os sacos na praia, algo que nunca tinha feito mas que até pode dar jeito se fores um bruto como o Marlon. Na primeira meia hora partiu uma quilha e de seguida uma prancha em dois pedaços... por sorte estava tudo ali bem perto para trocar e não demorava nada a estar de volta à água e aos tubos e curvas com nível de World Tour que tão bem sabe fazer mas não teve oportunidade de demonstrar no ano em que lá esteve. Pinto estava fora, com um gorro de couro e lã a protegê-lo do frio, via-se neve nas montanhas ao fundo, enquanto filmava e fotografava com duas câmaras diferentes apoiadas no mesmo tripé, um fora de série. Surfámos até não poder mais mas estava na hora de voltar à auto-estrada cheia de Autogrills onde nos alimentámos entre cada sessão. A nossa viagem de fim de semana estava a chegar ao fim, foram dois dias a fundo sem parar para quase nada. Ainda tínhamos de conduzir até Milão e, no entanto, não tínhamos forças nem para falar. Fecharam-se-nos os olhos aos três assim que o Carlos Pinto se sentou ao volante. Em menos de


Quando em Roma dropina um local e dá o tubo do dia? Frederico Morais adapta os “ditos” às suas necessidades!

duas horas estávamos no aeroporto, parecia que a condução portuguesa de A1 encaixava bem nas auto-estradas italianas. Foi uma pena não termos tido tempo para fazer um pouco de turismo, Génova parecia muito bonito visto da estrada. Espero voltar um dia, gostei muito das pessoas e da cultura italiana e as ondas também me surpreenderam tal como ao Marlon, que não acredito que imaginasse que íamos apanhar ondas assim no momento em que ainda via as previsões em Tenerife Sul... A sorte procura-se e nós desta vez encontrámola. Muito obrigado a todos os que nos ajudaram a desfrutar destes dias intensos, cheios de adrenalina e pura diversão, ao melhor estilo Road Trip! GZ



Ant贸nio Silva, Mentawai | photo by Mauro Motty


Ruben Gonzalez, Santa Cruz. | photos by carlospintophoto.com




Tomรกs Valente, Praia Grande. | photo by carlospintophoto.com



Somewhere... | photos by carlospintophoto.com



Miguel Mouzinho, Arrifana. | photos by Mauro Motty



Alexandre Ferreira, Praia da Poรงa. | photo by Mauro Motty



Kalu Oliveira, S. Torpes. photos by Mauro Motty



Edgar Nozes, Mentawai. | photo by Mauro Motty


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.................................................................. texto by Zaca Soveral

............................................................................................................................................ Muito se tem falado sobre o treino funcional. A quantidade de livros, cursos e equipamentos relacionados com esta modalidade de treino equivale a um mercado de muitos milhões em dinheiro. No universo do surf, tanto de competição como de lazer, ocorreu uma inevitável influência que o dito treino funcional teve nas mais diversas modalidades desportivas. Mas o que é o treino funcional propriamente dito? Boa pergunta. Diz a sabedoria ancestral que só se chega à verdade através da pergunta certa e parece-me que este conceito de treino requer uma certa clarificação: No contexto do fitness/wellness (ginásios/healthclubs) o treino funcional é considerado por muitos como uma mímica dos nossos gestos quotidianos, ou seja, os movimentos por nós realizados em todas as dimensões da nossa vida. Desde o esforço que fazemos ao subir escadas com sacos das compras, ou o retirar de um litro de sumo da prateleira acima do balcão, ou mesmo quando estamos a lavar o carro. De acordo com esta perspectiva o objectivo é preparar o nosso sistema músculoesquelético para tais actividades. Neste mesmo enquadramento, mas no contexto desportivo, o treino funcional assume a necessidade de preparar o atleta para a realização de gestos desportivos executados com potência e velocidade. Uma das características do treino funcional é a execução de exercícios em plataformas de instabilidade ou com bolas (fitball ou bola suíça). Por vezes dá a entender que o treino sem estes equipamentos está ultrapassado ou que se tornou rudimentar. Quanto maior a instabilidade, melhor o rendimento. No outro dia vi um panfleto para um curso de treino funcional com uma fotografia com um sujeito sentado numa

bola suíça com os pés assentes numa plataforma de instabilidade e com um aparelho entre as coxas enquanto rodava o tronco com um peso nas mãos! mais parecia um flyer publicitário do circo du solei! o treino funcional neste paradigma pode tornarse extremamente disfuncional. o problema reside como sempre nas más aplicações. É óbvio que nenhum exercício por si só deve ser considerado perigoso da mesma maneira que nenhum medicamento em si só é obrigatoriamente nocivo. o perigo surge na prescrição errada para este ou aquele indivíduo, e na ingestão de doses inadequadas de acordo com os sintomas/ necessidades. Deste ponto de vista há muito que dizer em relação ao treino verdadeiramente funcional. será que exercícios simples com pesos livres poderão ser considerados funcionais? e as flexões ou elevações? posso melhorar o meu surf a treinar com máquinas sem recorrer a bolas suíças ou plataformas de instabilidade, ou mesmo sem qualquer equipamento? Zs

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