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A reação patrona I

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negociação

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Por outro lado, a organização por local de trabalho, se situa hoje dentro de um contexto mais amplo de mudanças significativas do capitalismo no qiJe se refere à gestão da mão-de-obra.

Contemporaneamente ocorre uma reorganização do trabalho nos países de capitalismo avançado que privilegia os grupos de trabalho semi-autônomos e as técnicas de job enrichment, * e que leva a um; certa integração de tarefas anteriormente fragmentadas ao extremo pelo taylorismo. * *

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Essa tendência decorre, em parte, da resistência dos trabalhadores ao processo de trabalho, o que conduz a uma profunda tensão entre trabalhadores e a gerência e, por outro lado, é expressão da atual revolução tecnológica que ocorre no mundo capitalista.

Como resultado mais palpável, essas mudanças levaram o patronato a adotar uma ncwa postura distinta no que tange à sua relação com os empregados nos aspectos, antes negligenciados, da adm inistração do conflito no interior da unidade de produção. Há, por exemplo, uma vasta elaboração no campo da administração e da teoria das organizações que considera importante a participação operária nas decisões da empresa, como forma de diminuição do impacto do conflito e na tentativa, por parte do capital, de canalizá-lo institucionalmente para poder antecipá-lo, controlando-o naqueles aspectos que lhe sejam mais danosos. 17

Essas novas formas de gestão da força de trabalho devem ser levadas em conta quando se analisa o novo contexto em que surgem as experiências de comissões de fábrica nesses últimos anos.

A reação patronal

É esse quadro mais geral, juntamente com o movimento grevista surgido a partir de 78 que leva os empresários, particularmente aqueles ligados à indústria automobilística, a procurarem entender o sentido mais amplo dessa onda de paralisações e, nesse aspecto, começa a ocorrer uma mudança na relação com seus empregados. São pequenas mudanças, quase imperceptíveis, que estão ocorrendo no espaço da produção, significativa de uma atitude um pouco mais flexível - comparada com o período anterior - de uma parte do empresariado no trato das questões trabalhistas.

Por outro lado, já no ano de 1977 começam a se ouvir as primeiras vozes de empresários, dissonantes da maioria de questão das relações de seus pares1 trabalho". 8 "a respeito da

Durante a campanha salarial dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em março/ abril de 1978, "intensificou-se o debate em torno da questão da 'modernização' das relações de trabalho e estreitaram-se os contatos entre empresários e lideranças sindicais". 19 Vale dizer, um setor do empresariado paulista, a chamada "ala liberal" da Fiesp -à época -se mostrava sensível ao tema de liberalização das relações de trabalho. É significativo, ainda, que uma parcela ponderável dos profissionais de recursos humanos dentro das empresas fosse favorável à organização de comissões de fábrica. Pesquisa realizada pelo boletim Tendêrv:ias do Trabalho (n9 68 de 27 /10/82) mostrava que mais de 80% dos profissionais de recursos humanos nas empresas eram favoráveis à organiza-' ção de comissões de fábrica.

É nesse quadro mais amplo que os trabalhadores da Ford de São Bernardo em julho de 1981 deflagram uma greve, com duração de seis dias, pela readmissão de 457 de seus companheiros demitidos. É o início do surgimento da comissão de empresa nesta fábrica e, de certo modo, um ponto de partida para grande parte das comissões de fábrica que começam a surgir a partir daí por toda a Grande São Paulo. Mesmo a comissão da Volkswagen que surge em 1980 como um intento patronal para controlar os trabalhadores posteriormente se modifica, passando por novas eleições, transformando-se, pois, em uma organização dos trabalhadores da empresa.

Se as comissões de fábrica que se formam no perfodo anterior a 1981 tendem a desaparecer,

• "Job enrichment" (enriquecimento das tarefas): uma das formas de reação "técnica" empresarial à resistência operária em relação ao caráter monótono e fragmentado do processo de trabalho. •• Taylorismo: o conjunto dos estudos desenvolvidos por Fraderick Winslow Taylor ( 1856-1915) aplicados na organização do processo de trabalho.

O taylorismo representa na definição de LuziaM. Rago e Eduardo F.P. Moreira, "enquanto método de organização 'cient(fica' da produção, mais do que uma técnica de produção é essencialmente uma técnica social de dominação. Ao organizar o processo de trabalho, dividir o trabalho de concepção e o de execução, estruturar as relações do trabalho, distribuir individualizadamente a força de trabalho no interior do espaço fabril, a classe dominante faz valer seu controle e poder sobre os trabalhadores para sujeitá-los de maneira mais eficaz e menos custosa à sua exploração económica."

17 Ver, por exemplo, Leonardo Tomasetta, Participación y Autogestión, Buenos Aires, Amorrortu Editores, 1972; ver também Fernando Prestes

Mota, P•ticipaçio e Co-Gestlo, São Paulo, Brasiliense, 1982. 18 Cf. Vilma Keller, op. cit., 1985. 19 Idem.

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