3 minute read
Necessidade de uma nova correlação de forças
by ONG FASE
que sua efetiva institucionalização seja capaz de criar uma correlação de forcas favorável aos interesses dos trabalhadores. Isso exigiria, por outro lado, uma mudança na postura de uma parte do empresariado que ainda vê as relações de trabalho como na época do autoritarismo, quando normalmente não negociavam com seus empregados e suas ordens não eram questionadas.
Com relação à ampliação da experiência de organização por local de trabalho não há uma tendência linear: possivelmente haverá recuos, impasses e derrotas dos trabalhadores na consecução de seus objetivos, mas, a médio e longo prazos, no entanto, como expressão da luta· da mão-de-obra nos locais de trabalho e as transformações que estão ocorrendo na sociedade, onde cada vez mais os trabalhadores tomam consciência de seus direitos, há uma tendência que poderá levar à proliferação da experiência das representações operárias nos locais de produção.
Advertisement
Esse processo pode ocorrer mais rapidamente na medida em que seja rompida a tutela dos sindicatos pelo Estado. Por outro lado, a dinâmica de generalização das comissões de empresa está associada à liberalização nas relações de trabalho e, a nível mais geral, à ampliação da democracia em nosso país.
t necessário ressaltar, porém, que a partir das experiências estudadas é impossível apontar a direção que tomarão as práticas dos organismos de representação que tenderão a surgir. Dependerá muito do grau de organização dos trabalhadores na empresa, bem como da correlação de forças fora da fábrica. Em regimes políticos autoritários ou ditatoriais, por exemplo, dificilmente prosperarão as representações dos trabalhadores nas unidades de produção. Numa situação desse tipo podem vicejar e mesmo se generalizar formas ilegais ou clandestinas de organizações operárias no local de trabalho, como grupos de fábrica, etc. Mas, comissões de empresa livremente eleitas pelos empregados e reconhecidas pelos patrões dificilmente poderão se desenvolver.
Da mesma forma que há sindicatos de trabalhadores com lideranças mais combativas na defesa dos interesses de seus associados e outros que privilegiam uma postura mais ideologicamente vinculada ao patronato; e que há aqueles que possuem um excessivo pragmatismo na negociação com os empregadores e alguns que são meros representantes dos interesses da empresa no seio do movimento operário, as comissões de fábrica, que têm surgido ultimamente, tanto podem seguir um desses caminhos quanto serem uma combinação dessas várias tendências. 3
De outra parte, há limites claramente delineados na ação dos organismos de representação dos trabalhadores no interior da empresa. Se, na relação cotidiana, implicitamente, a comissão de fábrica chega a questionar o poder de mando da gerência sobre aspectos da organização do trabalho, na. prática, no entanto: o poder real da representação operária é pequeno e parcial. Relaciona-se com a capacidade de vetar, por vezes, diretrizes que são prejudiciais ao trabalhador, controlar - sobre certas condições - alguns aspectos do trabalho fabril, além de possuir algum poder de fiscalização sobre as normas do contrato de trabalho.
4
Pensando a trajetória internacional da organização dos trabalhadores, poderíamos chegar à conclusão de que a experiência estudada não tem se mostrado tão significativa. O objetivo deste trabalho, no entanto, não era fazer uma comparação com a luta do movimento operário em outros parses, ainda que em vários momentos façamos referência à experiência internacional dos trabalhadores. Isso é feito com o objetivo de tentar apreender de forma mais ampla possível o fenômeno estudado naquilo que possui simultaneamente de especificidade e diversidade.
Nesse sentido, é importante relativizar uma visão unilateral da representação operária como sendo ou necessariamente combativa e revolucionária ou integrada aos interesses da empresa: ou anticapitalista ou pró-capitalista.
3 Para se ter uma idéia das diferenças entre as representações de trabalhadores surgidas nos último& anos ver: Comissões de Fábrica em São Paulo de. Operárias, São Paulo, Caderno 6, 1985; Comissão de Fábrica: Dossii, Centro Pastoral Vergueiro, São Paulo, mimeo., 1984; e Com1ssao de Fabr1ca: uma forma de organização operária, Oposição Sindical Metalúrgica (São Paulo)/FASE, Petrópolis, Vozes, 1981. 4 Para uma reflexão sobre essa questão ver : André Gorz, Adeus ao Proletariado, R i o de Janeiro, Forense-Universitária, 1982, especialmente pp, 57-67.