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A solidariedade entre os trabalhadores

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negociação

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"A democracia que existe hoje não é real, nem no movimento sindical. O sindicato convoca para uma assembléia mas os trabalhadores não têm o direito de usar a palavra, de dizer o que pensam, não têm direito a discordar dos encaminhamentos.

"Democracia para mim seria quando todo mundo pudesse fazer o que ele pensa, tivesse o direito de escolher onde morar; como pode um trabalhador com o atual salário m fnimo viver dignamente, onde ficam os direitos básicos do homem? Como podemos dar um estudo para os nossos filhos, uma condição melhor de vida?"

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Juruna - Frigor: "A relação com o sindicato tem de ser de trabalho conjunto, nas coisas gerais: numa campanha salarial, numa luta da categoria. Mas tem diretorias sindicais que querem acabar com as comissões. A autonomia das comissões tem que ser total, ela responde ao conjunto dos trabalhadores da fábrica que a elegeu. Tem que ficar claro qual o papel de cada um. A comissão de fábrica é o sindicato na categoria. A comissão presta contas e representa os companheiros daquela fábrica. Democracia no Brasil se confunde com o direito de votar. Democracia dentro da fábrica não existe. E democracia no meio sindical ainda não existe plenamente, com o imposto sindical, existem sindicatos que não precisam nem de sindicalizados. A Constituinte aprovou que a taxa assistencial seria definida em assembléia, e qual é o trabalhador que fala em assembléia? O movimento sindical ainda é muito autoritário, não se presta contas ao total da categoria, embora o dinheiro que se arrecada é de todo mundo, só se presta contas aos associados, não se criam canais de participação. Para mim o movimento sindical tinha que ser o exemplo de democracia. pouca gente que participa, e a gente se contenta com isso é muito restrito.

"A estrutura sindical, já existente, tem sido quebrada aos poucos e com muita luta, um exemplo são as greves de 1978/1979 para coisa recente, não podemos negar nem esquecer o papel que outros companheiros tiveram num tempo mais antigo; com essas greves recentes quebramos a lei de greve do ponto de vista real, também não era permitido criar central sin_dical e nós conseguimos a Central Unica dos Trabalhadores (CUT), ela é reconhecida hoje na sociedade pelos trabalhadores e até pelos empresários, necessitamos fazer as nossas regras de participação e de quebra da estrutura velha por dentro do sindicato oficial.

"Tendo uma política clara de participação dos trabalhadores, de organização no local de trabalho e de democracia é possível transformar a estrutura velha; não proponho nada paralelo, o nosso desafio está em fazer coisas novas a partir das velhas.

"Outro desafio a que nos propomos e que a central sindical tem que dar resposta é em coisas espec fficas, por exemplo, as categorias; que tipo de sindicalismo nós queremos para acabar com a divisão dos trabalhadores em categorias com datas-base muito diferenciadas, no ramo metalúrgico só pode ser a nível estadual, não pode ser um sindicato só na cidade, é a r que eu vejo muito positiva a proposta de organização por ramo de produção ao n fvel estadual, interestadual e nacional. Assim a central sindical poderá responder adequadamente às negociações coletivas dos metalúrgicos. Não estou propondo o corporativismo, proponho sim, a organização vertical e horizontal ao mesmo tempo, a força é localizada, édentro da fábrica química, é dentro do serviço público e por a r vai, e o rótulo nosso é a Central Única dos Trabalhadores . "

Alemão - Gazarra: "O nosso relacionamento era bom, qualquer problema levávamos para o sindicato e sempre éramos bem atendi. dos. Mas se você não reza na cartilha do sindicato, tem que sempre ficar alerta, se rezar tudo bem, nós sempre questionamos os diretores e a r você é visto como inimigo.

"Logo após as eleições sindicais porque a comissão fazia parte da Chapa 2, e tinha sido convidado para fazer parte da Chapa 1 e não aceitou, dançou, o relacionamento foi muito difícil."

Serginho Ford-lpiranga: "Penso que a solidariedade entre os trabalhadores é fundamental. Nós mantemos uma relação pol ítica com os companheiros, mas mantemos também um bom nível de amizade, nós da comissão, somos queridos e respeitados pelo resto dos trabalhadores, esse respeito vem do trabalho sério que temos realizado. Isso contrapõe com a relação que os trabalhadores têm dentro da fábrica, lá dentro é setorizado, você conhece os colegas da seção e só. Mas a competição, a disputa imposta pela organização capitalista do trabalho, prejudica as relações humanas, o bom relacionamento entre os companheiros.

"Sempre privilegiamos a amizade e o relacionamento geral entre companheiros, só assim entendemos que se constrói a unidade de classe trabalhadora."

Ortiz - Ford-lpiranga: "Existe grande solidariedade entre os trabalhadores dentro de uma mesma empresa, o mesmo não acontece tão freqüentemente entre companheiros de fábrica diferentes.

"Essa relação de solidariedade tem de se expandir, por vezes uma

empresa do lado da qual você trabalha entra em greve e os trabalhadores não sabem como fazer, estão preocupados e não sabem como agir, temos que avançar mais nessa relação de solidariedade de classe porque do patronato não esperamos nada."

Juruna -F rigor: "Sobre a solidariedade entre os trabalhadores ela deixa muito a desejar, temos a greve dos correios bem recente, e não houve um movimento de arrecadação de fundos para apoio dos companheiros. A CUT tinha lançado uma proposta de arrecadação, claro que apoiou politicamente, mas faltou aquele apoio material, a solidariedade tem de ser mostrada na prática."

Alemão - Gazarra: "A solidariedade existe de duas formas, entre os trabalhadores, que é a forma mais direta, e a das oposições, entidades e da CUT.

"A primeira forma entre os trabalhadores é complicada, a gente desanima. A qente luta, sacrifica a sua vida particular, a sua saúde, para ajudar os companheiros de trabalho, e quando precisamos eles falham. No caso da comissão de fábrica da Gazarra, conquistamos algumas regalias com tanto sacrifício, quantas vezes nos taxaram de pelegos, quando fazíamos greve, faltava a solidariedade dos companheiros. Cada um pensa só em si e salve-se quem puder. Foi o que aconteceu na última greve da Gazarra, faltou a solidariedade dos companheiros e aí acabou a comissão de fábrica.

"A segunda forma de solidariedade das instituições a coisa fica preta e diffcil, é uma barreira que a comissão de fábrica não conseguiu ultrapassar, para nós não teve diferença entre o sindicato dos metalúrgicos, a oposição, as entidades e a CUT, ninguém nos ajudou, não lembraram mais da Comissão de Fábrica da Gazarra.

"Esse é o problema das opo. sições, entidades e CUT, na hora que tem que dar total apoio desa-. parecem, e você fica entregue à própria sorte, nos faltou ajuda jurídica realmente interessada na nossa causa, ajuda moral e financeira,. assim não se forja ativista, só se desestimula a continuar a luta, é preciso urgentemente criar um departamento juddico que dê orientação, que fique de plantão diariamente para as comissões de fábrica; quando teremos um departamento de apoio às comissões de fábrica na nossa Central Sindical? Mas um departamento realmente interessado em apoiar, sem olhar a que facção elas pertencem, se foi das Chapas 1, 2 ou 3, o que interessa é o trabalhador, só assim seremos realmente os verdadeiros dirigentes da classe trabalhadora. "Para os companheiros que estão começando agora, que a minha experiência não sirva de desestrmulo; todas as lutas dos trabalhadores são válidas, tanto da vitória, como da derrota tiramos lições, eu continuo na luta na categoria metalúrgica, perdi uma batalha mas não perdi a guerra."

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