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negociação
by ONG FASE
A experiência concreta dos trabalhadores é bem mais diversificada e, por isso mesmo, mais rica. Essa é a razão da impossibilidade de apreendê-la a partir de pressupostos que nada mais são que avatares da velha dicotomia bem/mal.
Demanda importante da classe trabalhadora no pós-78, a comissão de fábrica é a novidade que emerge da prática operária nos últimos anos, representativa dos movimentos moleculares que estão ocorrendo no interior das fábricas: defendem reivindicações igualitárias, maior liberdade para a mão-de-obra na produção e a democratização das relações de trabalho, podendo ser um elo importante na transformação da estrutura sindical no Brasil.
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A representação por local de trabalho é fundamental para o operariado: organismo de base que vive o dia-a-dia da fábrica, é importante veículo de dr nocratização no interior da empresa, atingindo um contingente operário que muitas vezes o sindicato não consegue se aproximar, à medida que_ a representação na unidade produtiva consegue dar conta da heterogeneidade da classe trabalhadora dentro da fábrica com a participação de sindicalizados e não-sindicalizados.
Há, por outro lado, a ambigüidade e tensão que estão presentes no dia-a-dia das çomissões de fábrica. Pois, ao mesmo tempo que funcionam, por vezes, como uma espécie de contrapoder na produção, elas são, antes de tudo, organismos que privilegiam a negociação.
A comissão de fábrica nasce junto com a luta dos trabalhadores por novos direitos no espaço da produção, digladiando-se com a supervisão intermediária: daf significar uma ampliação do espaço de liberdade, para os trabalhadores no estabelecimento fabril. Funciona ainda como importante fator de coesão e identidade coletivas. Por isso a diferenciação, em alguns momentos, com a prática sindical, ainda que participando das mesmas lutas e com os mesmos objetivos imediatos.
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tempo e presença
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Anos 70: a dor e a desesperança confundiam-se com o tempo que passava sem nada se passar. O cotidiano de trabalho, carestia, casebres e valas negras, sem poder falar e sem nada ouvir. Nas periferias das cidades surgiram focos de resistência que faziam da cidadania uma bandeira: iniciaram-se pequenas lutas pelo à vida e pelo diretto de reivindicar direitos. Associações de moradores, movimentos contra a carestia, lutas por moradia e contra despejos ou remoções, lutas por saúde, por educação, por participação na gestão da coisa pública. Eram pequenos movimentos, que ao se chocarem com a lógica autoritária e centralizadora do Estado, numa época de sindicatos amordaçados e de partidos sem raízes, distantes das massas, passaram a ser vistos como "renovadores" ou "alternativos". Mas a conjuntura mudou. As demandas "renovadoras" passaram a fazer parte do discurso oficial, ainda que isto não se traduza em investimentos públicos. A reprodução das condições de vida tornouse o eixo central das políticas públicas no espaço urbano. A organização de uma luta unificada das massas urbanas pelo à cidade configura-se como um desafio que não se resolve no plano formal das federações de associações, nem nas articulações polfticas entre lideranças de movimentos sem consciência de transformação da cidade e da vida urbana. Este número de Proposta encaminha esta reflexão, a partir de algumas experiências de articulação e/ou de mobilização no espaço urbano, tentando discutir a diversidade e a unidade objetivas dos movimentos populares urbanos em algumas ca.pitais brasileiras.
Próximo Número
·. ASSALARIADOS RURAIS: DESAFIOS À ORGANIZAÇÃO
Oaumento do trabalho assalariado no campo foi significativo nas últimas décadas. Extrapolando as· tradicionais áreas cafeeiras e canavieiras · dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e as plantações da cana-de-açúcar no Nordeste, expandem-se hoje em nosso país bolsões ou contingentes de trabalhadores que vendem sua força de trabalho nas plantações de cana-de-açúcar, café, soja, cacau, banana, nas áreas c1e reflorestamento, de coleta de coco, etc ... Neste processo não se ·evidenciaram apenas maiores índices de concentração fundiária, mas também-:_ e _ principalmente- uma nova dinâmica de inserção de capital na produção agrícola. O assalariamento torna-se, então, um denominador comum que aproxima relações dé trabalho em cultwas agrícolas diversas e em diferentes regiões do país, mas não podemos dizer-que o assalariamento automaticamente homogeneíze as condições de vida e de trabalho nas áreas onde se faz presente.
Sazonalidade, articulação e complementaridade entre culturas, configurações do mercado de trabalho rural e urbano, fluidez dos produtos no mercado nacional e internacional, padrões de modernização tecnológica, assim como estratégias patronais para garantir imobilidade e/ou rotatividade de mão-deobra resultam em diferenças significativas nas formas de produção e reprodução c1estes trabalhadores. \
Tais diferenças 'é as espe.cificidades relativas a cada situação devem necessariamente ser levadas em conta nas propostas de educa,ção popular.
O próximo número de Proposta encaminhará . · através de experiências concretas em diversas re- , giões - uma reflexão acerca do trabalho educativo entre assalariados do campo.