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Entrevista: Jorge Dot Saldanha

Entrevista / Interview

Jorge Dot Saldanha

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Business Angel

Jorge Dot Saldanha nasceu em Tudela, Navarra, em 1963. Engenheiro industrial com mais de 32 anos de experiência profissional, gosta de conceber projetos e trabalhar em vários deles ao mesmo tempo. Criativo e multidisciplinar, o que lhe permite ter uma visão ampla das coisas, das atividades humanas e das consequências destas na sociedade e na natureza, entende que é preciso ser criativo e estar atento às mudanças e às oportunidades e desafios que enfrentamos todos os dias. Nunca deixa de ficar surpreendido sobre como as coisas mudam e como os desafios surgem, sendo este ano de 2020 um exemplo claro disso.

Jorge Dot Saldanha was born in Tudela, Navarra, in 1963. An industrial engineer with over 32 years of professional experience, he likes to design projects and work on several of them at the same time. Creative and multidisciplinary, which allows him to have a broad view of things, human activities, and their consequences on society and nature, he understands that it is necessary to be creative and be aware of the changes and opportunities and challenges we face every day. He never ceases to be surprised at how things change and how challenges arise, with this year 2020 being a clear example of that.

Como começou a sua carreira e jornada no empreendedorismo e como investidor?

Depois de 17 anos a trabalhar em empresas industriais e multinacionais e principalmente fazendo consultoria industrial, decidi criar minha própria empresa e começar a desenvolver meus próprios projetos, a partir daí não parei de fazer. Investir os benefícios dos projetos em novos projetos é algo natural.

Há sempre alguém que nos marca e inspira durante o nosso percurso. Que empreendedor é a sua maior inspiração e modelo?

Como consultor industrial, conheci muitos empresários com projetos pequenos e grandes. Todos eles me surpreenderam, todos eles.

Não é segredo algum que o mundo de negócios acarreta muitos desafios. Qual foi o momento mais duro que já experienciou durante a sua prática de negócios? Como conseguiu ultrapassar esse mesmo problema?

O momento mais complicado foi em 2013, em plena crise, quando não tive capacidade para desenvolver mais projectos em Espanha e fui obrigada a mudar-me com a minha família para Inglaterra para continuar a minha actividade. Foi difícil no início, mas depois foi uma grande experiência. A migração me permitiu resolver o problema. Isso me diz que às vezes uma mudança fundamental é necessária para resolver os problemas mais complicados. Agora, não é fácil aplicar mudanças fundamentais em sua vida ou em seus negócios.

O crescimento é o desejo de qualquer investidor ou empreendedor. O que faz no seu dia-a-dia para crescer como investidor?

Uma das principais tarefas que permitem crescer é a criação de redes de trabalho e valor com os diferentes stakeholders dos seus projetos e atividades empresariais. Isso é o que eu faço, e é o dia-a-dia que te permite crescer.

Provavelmente alguns dos nossos leitores ponderam, neste momento, a sua entrada no mundo dos investimentos. Que conselho daria a alguém que está a considerar tornar-se num Business Angel?

Que reflita sobre o que conseguiu até agora, sobre as suas realizações e os seus erros, e tente tirar conclusões que primeiro o sirvam, e depois as ofereça aos outros. O principal valor que um Business Angel traz para os outros não é o dinheiro.

Muito se fala sobre as competências que os Business Angels procuram nos promotores, mas também os próprios promotores devem avaliar os potenciais investidores. O que deve um empreendedor procurar num Business Angel?

O empreendedor deve buscar valor no Business Angel, e esse valor é financeiro e humano. Ambos são igualmente importantes.

Os empreendedores recebem frequentemente conselhos, quer dos seus conhecidos, amigos ou familiares. Que conselho popularmente dado aos empreendedores concorda/não concorda? Porquê?

O conselho usual é: não confie em ninguém. Acho que o conselho adequado é: Defina o problema e ele será resolvido. Portanto, confiar na definição do problema, e considerar que esta definição implica posteriormente o início de atividades, que em 99% dos casos são atividades humanas. Não deixe de confiar na atividade humana para resolver os seus problemas, e trabalhe para que essas atividades estejam alinhadas com os interesses dos seus projetos, com a definição do problema.

Muitas vezes, os empreendedores debatem-se com as seguintes questões: “E se eu desistir muito cedo desta ideia e for uma ideia milionária?” ou “E se eu insistir nesta ideia, gastar todos os meus recursos: tempo, energia e dinheiro, e não der certo?.” Quanto tempo o Jorge insiste numa ideia até desistir da mesma?

Eu acho que nunca se deve desistir das ideias. Como eu disse, a chave é definir adequadamente essas ideias. Devemos insistir até que sejam definidas corretamente, num nível de detalhe que permita a tomada de decisões. A decisão final pode ser parar e não continuar, mas a ideia, definida, concreta e detalhada, será sempre válida.

A realização de um bom Pitch é decisivo para os promotores dos projetos conseguirem captar investimento. O que recomenda aos empreendedores na elaboração e apresentação de um Pitch?

A melhor coisa é sempre a clareza. As coisas que ajudam a avançar, que resolvem desafios, são sempre simples e claras, compreensíveis.

Por vezes, a apresentação do Pitch não corre como esperado, quer por nervosismo, falta de preparação, ou outros motivos. O que devem os promotores fazer para tentar reparar a situação e manterem uma boa relação/negociação com os investidores?

Os promotores devem apresentar o projeto com uma explicação clara da ideia e das atividades necessárias e dos resultados esperados. Isso deve ser feito no máximo 15 minutos. Em 15 minutos não há nervos, o que há é conhecimento ou ignorância. A única forma de reparar a ignorância é com conhecimento. E isso pode ser sempre feito.

A captação e retenção de talento é um dos maiores desafios para as empresas. Como consegue “caçar” o talento e construir equipas de trabalho eficazes para atingir grandes resultados?

Isso não é nada fácil. A melhor forma de o fazer é dando liberdade às pessoas, fazendo com que todos sintam que a equipa é importante na medida em que os interesses e decisões pessoais são assumidos pela equipa e convertidos, em proporção suficiente, em objetivos da equipa. Uma vez conseguido isso, a equipe cresce junto com o indivíduo, e os objetivos são de todos, e é muito mais fácil alcançá-los.

Todos os dias, surgem novas startups em todo o globo, infelizmente, muitas delas acabam por fechar após algum tempo. Na sua opinião, quais são as principais causas de mortalidade das startups?

A principal causa do óbito é a não aceitação do mercado à novidade oferecida pela startup. Esta é a primeira coisa a identificar e avaliar: O mercado aceitará o meu produto ou serviço, a minha novidade?

O Jorge é investidor em diversas startups na área das energias renováveis. Que grandes desafios é que as empresas neste setor estão a tentar resolver?

O desafio fundamental é tecnológico. A energia é a base do desenvolvimento humano. Sem a habilidade de fazer fogo, o homem (Homo erectus inicialmente) não teria iniciado o seu desenvolvimento e evolução há 1,7 milhão de anos. Pois bem, hoje, há pessoas que morrem todos os dias por falta de capacidade de gerar a sua própria energia. O principal desafio é, portanto, tecnológico: desenvolver a tecnologia adequada para que seja possível a todos gerar a própria energia, economicamente e sem depender de ninguém.

Imaginemos um cenário distópico, no qual todas as fontes de energia conhecidas se tornassem inviáveis. Onde poderíamos ir buscar energia? Que fontes de energia renovável poderão estar por explorar?

O homem precisa de manter a sua temperatura corporal em 36,5 graus, e isso é conseguido por meio da alimentação. Esse cenário distópico sobre o qual você pergunta, manifesta-se hoje em muitos lugares da terra, onde as pessoas não têm meios para se alimentar e, portanto, não podem manter a energia do corpo e colapsam e morrem. É tão claro e dramático. A energia está, e sempre será, acumulada na terra, na água, no sol, no vento. Ainda não desenvolvemos a tecnologia que nos permite utilizar parte de toda essa energia, de forma individual, autónoma, móvel, direta e acessível, sem restrições, sem limites, e sem a necessidade de realizar grandes projetos de infraestrutura. Mas vamos conseguir, porque hoje temos uma base tecnológica suficiente que nos levará a isso. Mas, para isso, primeiro temos que proteger a natureza, o meio ambiente, para que a terra, a água, o sol e o vento continuem a fornecer-nos energia. É absolutamente crucial prevenir qualquer distopia, e isso requer proteger o meio ambiente e renunciar totalmente a muitos dos comportamentos humanos atuais que o prejudicam.

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