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O Humano do Futuro ou o Futuro do Humano?

Domênico Massareto

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“Se eu fosse um estudante francês e tivesse 10 anos de idade, seria mais importante para mim aprender a programar do que aprender o inglês”, disse Tim Cook ao jornal de notícias francês Konbini enquanto visitava o país para se encontrar com o presidente Emmanuel Macron. O bom dessa vida é que para cada noção que assumimos como verdadeira, muitas vezes, o contrário também é verdade. Arrisco dizer que o conselho do Tim possuía uma intenção de amparar o amanhã profissional dos alunos franceses e, por isso, soa como uma previsão de futuro tecnológico equivocada, pois parece se basear em progresso linear.

Comecemos a discordar do Tim pelo presente. Seja inglês, francês, Python ou C++, a língua falada por uma nação ou compreendida pela máquina, estamos discutindo comunicação. E num presente onde Xi Jinping é considerado o homem mais poderoso do globo [a] , omitir o mandarim de qualquer discussão idiomática já me cheira a viés, para dizer o mínimo. Foquemos, entretanto, na tecnologia voltando um pouco no tempo.

Em outubro de 2011, a empresa já comandada por Tim Cook mostrou ao mundo a Siri: uma assistente pessoal movida a uma versão ainda rudimentar de inteligência artificial. Embora fosse divertido ver a “moça” se embananando com nossas requisições, ficava clara a sua limitação no papel de receptor de uma conversa. E para os mais técnicos, a causa era relativamente clara: pessoas com noções básicas de programação eram capazes de entender que para que a Siri pudesse responder tudo o que lhe fosse perguntado com perfeição, seria preciso que seus engenheiros a pré-programassem para, bem, praticamente tudo; magnitude que tenderia à infinitas linhas de código e, logo, humanamente impossível.

Porém, três anos depois, um pequeno grupo de engenheiros da Siri deixou a Apple para fundar em silêncio a Viv Labs [b] , um startup cuja missão era parir uma nova geração de assistente virtual chamada Viv, baseada numa variante mais avançada de inteligência artificial. E por essa o Tim não esperava: ao contrário da Siri, a Viv lidava com suas restrições gerando o seu próprio código. Sim, a Viv se programa sozinha.

Hoje já é possível, com ajuda tecnológica, se comunicar num país em que se desconhece a língua local, então aceito que aprender inglês já não seja questão de sobrevivência como foi até a década passada. Nem mandarim. Será que num futuro onde máquinas se programam sozinhas, o número de programadores tende a zero? Ou explode? É difícil dizer se o mercado profissional será abundante ou escasso para quem escreve código a longo prazo. Isso não significa que nós, ou os estudantes franceses devam ficar alheios à indústria de software, mas num paralelo grosseiro, se estivéssemos falando do futuro dos alimentos, Tim Cook talvez esteja orando sobre a importância de saber plantar uma cenoura com as suas próprias mãos num mundo onde fazendas já metrópoles [c] . são altamente robotizadas, semiautônomas e algumas até localizadas em grandes

Agora sim, ao futuro.

Numa lógica exponencial, acredito que o futuro trará abundância. De tudo. Assim como não precisamos mais caçar o nosso próprio alimento por necessidade, um dia não precisaremos mais aprender idiomas, linguagens de programação ou qualquer outra disciplina por necessidade. Repito: por necessidade. Portanto, o que caberá a nós numa realidade de responsabilidades reduzidas e em que o trabalho certamente terá outra definição? Caberá ao humano substantivo explorar o pleno do humano adjetivo. A contribuição desta espécie frágil que representa ínfimos centésimos na história de vida do planeta Terra será a capacidade de avistar poesia mesmo onde há apenas rocha, frio e escuridão. Dedicaremos nossa vitalidade à busca de significado, traçando paralelos alegóricos, procurando, projetando e vivendo experiências emocionais.

O artista americano Father John Misty disse, numa entrevista recente, que [d] ...

Há uma diferença entre arte e entretenimento. Entretenimento é sobre esquecer sua vida e arte é sobre lembrar sua vida.

Veja, toda comparação requer uma base. Quando olhamos para o que vem pela frente, na melhor das hipóteses, temos o agora como suporte. E se tentar decifrar o futuro com sabedoria do presente é uma barreira cognitiva intrincada até para o Tim Cook, o que dizer de nós, meros terrenos?

Este paper da MuchMore, escrito por Silvio Meira, é um desses trabalhos que se propõe a espiar o mundo que temos e teremos pela frente e ele o faz de forma isenta, apontando para todas as possibilidades e caminhos, e vai te ajudar com evidências de como a transformação digital já impacta pessoas e negócios: desmistificando jargões, contrapondo o avanço linear ao exponencial, te apontando no caminho da eficiência organizacional rumo à abundância, e caçando mitos de Silício com pragmatismo e objetividade.

Espero que aproveitem a leitura e que o paper traga iluminação e dúvidas na mesma proporção. Afinal, o futuro do humano é sobre continuarmos curiosos e nos mantendo mais absorvidos pelas perguntas do que pelas respostas.

Domênico Massareto, Chief Creative Officer da Publicis.

Notas:

[a] Xi Jinping has more clout than Donald Trump. The world should be wary, The Economist, econ.st/2xHMGdd; [b] viv.ai; [c] boweryfarming.com; [d] Father John Misty Was on LSD During This Interview, Rolling Stone, rol.st/2yqrnw2.

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