3 minute read

10. Empresas Competem por Pessoas. E por Diversidade

Organizações contemporâneas estão competindo pelo único recurso que realmente importa: pessoas. Gente qualificada para resolver problemas, no mercado e na competição entre empresas. Em verdade, um pouco mais do que isso: competem por pessoas capazes de identificar e criar novos problemas nos quais os negócios vão competir. É preciso capturar o problema para o negócio e trazer, junto com ele, um universo de empresas e outras organizações e suas compatências. E isso tem implicações não triviais, que nos levarão a competir por qualificação e diversidade, nossas bases futuras para entender o mercado e competir, nele ou noutro.

Competir por diversidade não é competir por brancos, negros ou índios. Asiáticos ou latinos. Engenheiros, administradores, designers, economistas, artistas, advogados, sociólogos, educadores e tudo mais. É competir por sapiens. Competir por pessoas que tiveram uma educação acima da média e que querem aprender ainda mais. E que querem se engajar e se comprometer com nossa organização. Competimos por energia criativa e capacidade de entendimento, planejamento e execução. E alegria, satisfação, no fazer, no dia-a-dia.

Advertisement

Vivemos na sociedade do conhecimento. Os produtos, serviços e plataformas das empresas são criados a partir de conhecimento. São o resultado de conhecimento tornado execução por quem dedica seu espaço-tempo a criar artefatos. Em 1992, Peter Drucker escreveu um artigo 73 na Harvard Business Review dizendo que a cada alguns séculos as sociedades passam por transformações radicais. Mais ou menos de repente, se instala uma nova forma de pensar, criar, de gerar e capturar valor. Segundo Drucker, décadas depois dessa nova forma se instalar, sociedades inteiras começam a mudar. Mais ou menos de repente, mudam de vez, de tal forma que a maioria das pessoas não percebe. Mas a mudança vinha se instalando, se preparando, há décadas.

Cinco décadas é o tempo dessa mudança para Drucker e, de 1992 ele via que entre 2010 e 2020 nós estaríamos entrando na verdadeira sociedade de conhecimento. Esta, ao mesmo tempo, seria a sociedade das organizações, todas elas, de todos tipos e tamanhos, dedicadas a conhecimento, com propósito e função, cada uma, de integrar conhecimento nas tarefas em que realizam, por mais simples que possam ser. Seja nas organizações de negócios, terceiro setor, governo ou, simplesmente, grupos no Facebook.

Drucker, em 1959 74 , já identificava mudanças dramáticas na economia. A produção baseada na força física já havia perdido centralidade para cérebros, que desenhavam artefatos cada vez mais complexos para o mercado e sistemas cada vez mais sofisticados para sua produção. A partir do fim da segunda guerra mundial, Drucker aponta um agente de mudança, o trabalhador do conhecimento, que seria um sinalizador para a sociedade do conhecimento. Uma faísca que, de súbito, conecta o universo ao se redor e cria uma nova forma de fazer as coisas. De fazer tudo, agora baseado em dados, informação, conhecimento e aprendizado, todos contínuos.

73 The New Society of Organizations, Drucker, na HBR, bit.ly/2fjnxNB. 74 The Landmarks of Tomorrow, Drucker, 204pp., 1959.

Este trabalhador do conhecimento já surgia predestinado a criar uma tensão gigantesca no nosso tempo. Porque as comunidades humanas, seja de trabalhadores, políticos e reguladores, ou professores, foram organizadas, até aqui, para manter o status quo. As organizações, historicamente, sempre foram [e a maioria ainda é] criadas para manter a estabilidade [d]e um certo sistema. E elas sempre deram conta, de muitas formas, da demanda por estabilidade do ambiente ao seu redor. Isso só muda, sob certos aspectos, nas grandes transições.

É por isso, aliás, que se fala tanto de direitos adquiridos no Brasil. Como estamos, quase sempre, correndo atrás do que acontece no resto do mundo, tendemos a querer tudo fique como está [como foi criado na evolução anterior...] enquanto a gente chega lá. Queremos que o tal direito adquirido, benefícios criados dentro de um sistema que já deixou ou está deixando de existir, seja mantido. A grande tensão é que, quase nunca, dá pra trazer o futuro para o presente usando as regras do passado.

Até porque, na sociedade de conhecimento, organizações atendem à necessidade de desestabilizar o ambiente. Elas são desenhadas e estão preparadas para inovar. E inovação é mudança, quase sempre numa escala muito mais ampla e de maior impacto que o produto ou o serviço que nos é entregue como consumidor ou usuário. Criar novos entendimentos e atendimentos para as demandas existentes e criar novas demandas, simultaneamente,

This article is from: