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8.1 Apostas Digitais
ser feito no curto prazo, enquanto a organização também planeja e executa para o médio e longo prazos. E vale para organizações que já são digitais hoje a para quem está em processo de transformação digital.
É uma corrida, tentando implementar o alfa e o beta do futuro ao mesmo tempo em que se garante que as tecnologias e as capacidades nucleares do negócio -as core business capabilities- continuam sendo executadas com a performance, qualidade e segurança que sempre tiveram. Como assim? Imagine um grande banco: é possível ir para o futuro desligando o passado de súbito? Não. É impossível evaporar agências, agora, sem causar impactos negativos muito grandes aos correntistas atuais. Há um tempo de transição entre passado e futuro. E pode ser um looongo tempo. Isso quer dizer que o futuro evolui para o presente paulatinamente, ao mesmo tempo em que o passado continua sendo executado. Passado e futuro juntos, ao mesmo tempo, no presente. Tudo ao mesmo tempo agora. Não é moleza não.
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É preciso começar experimentos digitais em iniciativas que cubram parte da organização e tenham impacto real -senão significativo- nos negócios. Depois, os pequenos experimentos que começaram em alguns silos organizacionais [e periféricos?], justamente para serem protegidos da realidade da corporação, têm que ser tirados de suas caixas de areia e transformados em inovações que afetam toda a organização, elevando seu nível de maturidade digital, mudando disciplinas e sua execução, atendimento, interação... quase tudo. Aí, nós estaremos mudando o negócio de vez. Seja ele físico ou digital.
Os três vetores de culturas de mudança permanente -mudanças sistêmicas, ações de longo prazo e inovação digital- quase sempre terão um começo tímido na maioria das organizações. Quando se tornarem visíveis e estruturais e começarem a mudar o negócio, vão se tornar mecanismos de atração e retenção de talentos. Aí farão com que agentes com visão, vontade e capacidade para liderar a transformação digital permaneçam na organização, investindo seu engajamento e capacidade para carregar visões e desejos, quase sempre correndo riscos de carreira e pessoais para fazer apostas -digitais- no futuro ou, por outro lado, as apostas no futuro digital do negócio. Isso não é só um jogo de palavras.
Apostas digitais no futuro do negócio são componentes [e não só código] do universo digital que deverão ser literalmente construídos sem que se saiba se irão impactar, como planejado, no futuro do negócio. Ao mesmo tempo, as apostas no futuro digital são escolhas estratégicas que irão mudar como a organização há de pensar para fazer negócios digitais no médio e longo prazo. Isso não quer dizer que deixaremos de produzir pão no forno da padaria e passar a produzir projeto digital de pães a serem materializados em impressoras 3D. Ou sair do negócio de pão para fazer fornos digitalmente controlados. Mas não se usa mais carvão para fazer pão, e sim gás ou eletricidade; a plataforma de energia da padaria mudou. A plataforma de informação, também.
Quando se vê digital como plataforma, é sobre ela que todos os negócios estão se reestruturando, agora. São novas performances, em cima de uma plataforma que depende de grandes volumes e variedade de dados e oferece um novo conjunto de funcionalidades, contextos e desenhos que nos habilitam a fazer até o que já fazemos -se for o caso- mas de uma forma radicalmente mais leve e com um impacto muito maior.
Pessoas e redes são a chave desse processo. Na medida em que se começa a montar redes para executar o negócio, que nunca mais será feito somente dentro da empresa, as ações para transformar a organização analógica em uma rede digital, analítica, lógica..., precisam ser contrabalançadas por níveis de frouxidão e leveza que permitam ao negócio e suas redes se tornarem mais criativas, genéricas e conceituais. Onde a organização vê muito mais a floresta, ao mesmo tempo em que cada pessoa vê cada árvore, em muito detalhe.
Associar caraterísticas digitais, analíticas, lógicas..., que cuidam da execução do negócio, baseada em dados, informação e conhecimento, às facetas criativas, genéricas e conceituais que apontam para possibilidades de redesenho de métodos e processos e dos próprios produtos e serviços oferecidos vai ser uma das chaves das portas do futuro. Para conectar os dois lados do que poderíamos chamar de cérebro da organização, o processo começa na seleção e recrutamento, quando se escolhe aqueles que serão os agentes individuais da mudança. Capital humano vai ser a chave da transformação digital, até porque a transformação é das [e nas] pessoas e seus hábitos, e não no digital. Que, de certa forma, tá pronto.
A figura abaixo 63 dá uma ideia de como a empresa digital deixa de ser regular e se torna irregular, tratando quem participa da criação de valor de forma heurística e, ao mesmo tempo, holística –cuidando de mais aspectos do que somente os diretamente ligados à execução [pura e simples] dos negócios [correntes].
O negócio cria mais empatia não só com a rede de fornecedores, mas com todos usuários, tudo para que todos percebam a organização como sendo mais criativa, conceitual e dotada de uma visão [de mercado, economia, sociedade e mundo] muito maior do que o próprio negócio. Visão que deveria estar embutida nos processos, serviços e produtos do negócio e que transcendem, em muito, os elementos constituintes da organização. As empresas que vão sobreviver serão formadoras de redes. É aí que elas -e nós- seremos muito mais, juntos.
Empresas como Tesla, Google, Amazon e Snap criam empatias -e redes- que correspondem quase a visões de mundo, filosofias de vida e trabalho, se conectando com seus usuários [e com muita gente fora de sua rede] através de mecanismos de imaginar o futuro, criar problemas, soluções e usos imprevistos. Acabam resolvendo problemas que não estavam explicitados, que ninguém viu, porque capturam um mundo muito maior do que o definido pelo conjunto de problemas e necessidades dos seus usuários. Ou da competição.
63 Fig. 6 de Harnessing Supplier Energy: The Next Frontier in Procurement, ATKearney, bit.ly/2wGDHHW, legendas em português.
Níveis superiores de formação de rede, alcançados por empatias relacionadas a aspectos que transcendem a vida de cada um e criam um universo comum entre quem provê soluções, quem as usa e para que a solução é usada serão essenciais na transformação de um negócio analógico num digital.
Negócios digitais têm -ou terão- níveis de transparência impensáveis, porque inatingíveis, nas empresas analógicas. Uma mentalidade prioritariamente digital é parte fundamental de um negócio digital e do conjunto de objetivos de uma transformação digital. Um digital mindset não se cria só com plataformas e ferramentas digitais; ele é resultado, principalmente, da transformação das pessoas na organização, é uma nova cultura.
Não se transforma empresas, porque empresas são abstrações. Na verdade, uma empresa é um conjunto de pessoas articuladas para executar performances demandadas por clientes. Sob tal ótica, a transformação se dará com e nas pessoas e suas redes e, através delas, nas empresas. Melhor assim. Mas...