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9.1 Digital não é um Departamento
Inovação aberta exige engajamento, dedicação e a exposição de seu negócio como ele é, nas entranhas. De tal forma que seus parceiros possam tentar lhe entender em todas as dimensões. Quando isso acontecer, eles poderão se habilitar para participar da comunidade de longo prazo que, junto com o negócio e através de engajamento mútuo, vão tentar resolver seu problema de transformação digital, em rede. De pessoas.
Empresas são abstrações. São pessoas em rede, que resolvem problemas através de produtos e serviços. Quem dá suporte a essa rede [isto é, seu negócio] é remunerado pelo trabalho que faz e pelos resultados de produtos e serviços, no mercado. Na prática, qualquer negócio é remunerado pelo trabalho das suas pessoas -que talvez nem sejam suas, mais. Como se não bastasse, é cada vez menor o número de pessoas que quer trabalhar num mesmo negócio por toda vida e, em especial, é difícil atrair e manter talento digital para uma empresa normal.
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Até porque é difícil manter qualquer tipo de talento numa empresa que não motiva e inspira, que não oferece graus de liberdade de ação e mecanismos efetivos de cobrança, reconhecimento e remuneração a partir dessa liberdade. Talvez porque a empresa não seja animada ou ágil o suficiente para resolver seus problemas nas suas janelas de oportunidade. Ou talvez não haja motivo, nem recompensa, para gerar o envolvimento que atravessa noites e fins de semana criando problemas e soluções. Ainda menos para atrair gente disposta a correr o risco de tentar inovar, que demanda relações fortes e de longo prazo. Sem isso, não se cria as redes, ecossistemas, comunidades de usuários e conexões capazes de criar, manter e evoluir os mecanismos de colaboração e coordenação que levam à co-criação de idéias e co-desenvolvimento em qualquer negócio.
É possível que um grande erro seja atribuir a estratégia digital a um Chief Digital/Experience Officer, ou Digital Experience Officer 65 . Como se houvesse um pedaço digital, separado, do qual alguém tem que tomar conta, e responder por isso. Mas digital não é um departamento 66 . Digital já está distribuído em todo o negócio e alguma hora vai desaparecer, tornar-se infraestrutura. Se você pensar no espaço analógico, não existe um chefe do uso de eletricidade, mesmo quando se trata de um negócio intensivo em eletricidade. Digital é tão fundamental que todos os setores, todos os colaboradores deveriam ser competentes, especialistas mesmo, na utilização de ambientes e ferramentas digitais na sua parte do negócio. No futuro, e muito próximo, ninguém mais falará de estratégia digital; será somente, de novo, estratégia, sobre um substrato digital de execução do negócio.
Apesar da ideia [potencialmente verdadeira, agora] de que há um tipo de talento capaz de liderar [n]o digital, na prática, digital não é [e nunca deveria ser] um departamento. Uma verdadeira transformação digital exige transformar todas as pessoas do negócio em pessoas digitais. É preciso trazer para o digital as pessoas que têm
65 Se há um, melhor DEO que CXO, Chief eXperience Officer [bit.ly/2z1Rzdy] até pra se dizer... Gloria in Excelsis DEO. 66 The Role of Human Resources in Digital Transformation, em Innovation Enterprise, bit.ly/2k9Uo9Y. Veja nota 33, também.
conhecimento, habilidades e experiência prática de resolver os problemas dos nossos clientes de agora. Elas tentaram, erraram e aprenderam, no analógico. E é quase certo que possam fazer o mesmo, digitalmente. Há que se lembrar do trabalho que deu para aprender a fazer o negócio dar certo, no passado; [re]fazer, no espaço digital, também dará trabalho. E haverá erros. Como antes. E teremos que aprender com eles.
Mas vai rolar, mais rápido, se chegarmos a um entendimento de mundo perto do nativamente digital, sem estranhar as premissas do universo digital, conectado, em rede e tempo real. Nesse espaço, no negócio, é preciso licença para quem tem conhecimento e habilidades digitais liderar quem tem mais poder [e idade]. Gente que está há mais tempo na empresa e no mercado, mas ainda não entendeu o digital, suas plataformas, tampouco os mercados em rede que elas criam. Se os digitalmente mais competentes -em geral, mais novos- não fizeram uma espécie de mentoria reversa para carregar os mais experientes, que entendem muito mais do negócio do que do digital, é provável que a transformação não vá acontecer. Pelo menos não como poderia... nem a tempo.
Ninguém aprendeu a usar a internet num curso. Tornar-se um mestre, na rede, é um processo de tentativa, erro e [re]aprendizado que depende de tempo, autonomia e uma certa capacidade de saber o que não se sabe. Não dá para fazer um curso de estratégia digital para executivos e, depois de 20 horas de aula, sair de lá mestre no assunto, capaz de desenhar um planejamento para a criação de plataformas digitais para o negócio.