As expectativas do setor sucroenergético - OpAA55

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Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br

ISSN: 2177-6504

SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 15 • número 55 • Divisão C • Jan-Mar 2018

as expectativas

para o setor sucroenergético


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índice

as expectativas para o setor sucroenergético Editorial:

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Antonio Eduardo Tonielo Presidente da Irmãos Tonielo

Ensaio especial:

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Dario Costa Gaeta

Especialista do sistema sucroenergético

Produtores:

8 11 14 16 18 20 22 26 29

Jucelino Oliveira de Sousa

Membro do Conselho de Administração da Coruripe

Rui Chammas

Presidente da Biosev

Geovane Consul

32 34

Robert Carlos Lyra

37 40

Paulo de Araujo Rodrigues

42 44

Manoel Pereira de Queiroz

VP do Negócio de Açúcar e Bioenergia da Bunge

Sidney Samuel Meneguetti Diretor Jurídico da Santa Terezinha

Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo Diretor Comercial da Alta Mogiana

Jairo Menesis Balbo

Diretor do Grupo Alto Alegre

Maria Carolina Ometto Fontanari Presidente do Grupo USJ

Celso Luiz Tavares Ferreira

Luciano Sanches Fernandes

Presidente do Conselho da Cerradinho Bioenergia

Fornecedores de cana: Diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel

Luiz Carlos Dalben

Presidente da Agrícola Rio Claro

Sistema bancário:

Diretor Industrial da Santo Antônio e da São Francisco

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio

Presidente da Delta Sucroenergia

Gerente Sênior de Relacionamento do Rabobank

Pedro Barros Barreto Fernandes Diretor de Agronegócio do Itaú BBA

Vice-presidente de Operações e Engenharia da Atvos

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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano


Gerar mais energia com menos manutenção Usina Cerradão adota pela primeira vez tecnologia de alta eficiência que garante operação da planta sem manutenção anual O desafio era fornecer em apenas oito meses um turbo redutor de condensação de 40 MW, capaz de gerar até 350.000 MWh por ano. Para atender a demanda da Usina Cerradão, o atendimento especializado da Siemens propôs a solução que permite uma maior receita com a exportação de energia nos meses com melhores preços do MWh e com intervalo entre manutenções muito além do praticado no mercado. Uma prova que com inovação é possível superar demandas do setor sucroenergético, de forma rápida, eficiente e confiável. Consulte nossos especialistas.

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editorial de abertura

um gigante

ainda adormecido

O RenovaBio – Política Nacional de Biocombustíveis – foi criado para incentivar a participação de biocombustíveis na matriz energética nacional (dos atuais 6% para 18%) e cumprir uma das metas do Brasil no Acordo de Paris (COP21). As diretrizes do programa foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), em meados de 2017, e, desde então, se criou uma esperança enorme de retomada de crescimento do setor sucroenergético. Isso porque, na prática, o RenovaBio vai promover ganhos de eficiência energética, redução de emissão de gases causadores do efeito estufa e, acima de tudo, estabilidade e previsibilidade para toda a cadeia de produção e de consumo. É um programa estruturante, que deixa claro qual é o papel dos biocombustíveis na matriz de transportes e de energia. Para cumprir a meta de produzir 54 bilhões de litros de biocombustíveis (como contempla o programa), nos próximos anos, será preciso investir em mais usinas e lavouras, nas indústrias de máquinas agrícolas e implementos, sementes, equipamentos industriais, indústria automobilística, pesquisa e desenvolvimento, novos postos de combustíveis, isso sem falar da distribuição. A cadeia de cana-de-açúcar é imensa, gera emprego e renda, desenvolve setores e cidades, mas estava esquecida e fora das políticas públicas nacionais. Esperamos que, nos próximos anos, o nosso etanol de cana se torne uma das fontes energéticas diferenciadas mais valorizadas do mundo. O RenovaBio, com certeza, vai ajudar muito a conquistarmos esse valor. Temos a expertise que nenhum outro país tem. Temos disponibilidade de terra, clima favorável, tecnologia já desenvolvida e infraestrutura.

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Se tivermos segurança e demanda, não faltarão investidores. Mas é preciso colocarmos na mesa quais são as regras do jogo. A hora de atrairmos a atenção do resto do planeta é agora. Afinal, estamos falando de tecnologia com sustentabilidade. Esse é o lado brasileiro que empreende, trabalha, confia e cresce! A evolução deve começar pelo desenvolvimento da cana energia, do etanol de segunda geração e na continuidade das tentativas de solução de alguns impasses ainda existentes para a produção. O setor também vai continuar incrementando a inserção da bioeletricidade na matriz elétrica. Segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a capacidade instalada das plantas à biomassa que atendem ao Sistema Interligado Nacional alcançou 13 GW no ano passado. E o bagaço de cana foi o principal combustível utilizado na geração, correspondente a 85% do total. No caso do biodiesel, são esperados avanços importantes já em 2018, e estima-se uma produção superior a 5 bilhões de litros. O percentual obrigatório de 10% de adição de biodiesel ao diesel passará a vigorar a partir de 1º de março. O biogás e o bioquerosene também estão contemplados no RenovaBio e devem passar por grande desenvolvimento para atender às diretrizes do programa. Enfim, o RenovaBio está em total consonância com os programas globais de conservação do meio ambiente e da sustentabilidade. Se olharmos para o horizonte neste momento, o enxergaremos completamente favorável para a cadeia de produção de biocombustíveis. No entanto é preciso muita cautela em nossos próximos passos, já que o RenovaBio ainda é um gigante adormecido e deve ser colocado em prática apenas em 2020. O decreto de regulamentação do programa que vai estabelecer as suas metas ainda não saiu do papel. Existe a necessidade de definição das ações necessárias a serem desenvolvidas para a regulamentação da Lei nº 13.576 de 26 de dezembro de 2017. No que diz respeito à safra 2018/2019, podemos afirmar que ela será ainda menor do que aquela observada no ciclo 2017/2018 – com uma produção de cana em torno ; de 640 milhões de toneladas.


Opiniões É importante destacar que os canaviais estão envelhecidos, com falhas e sofreram com a seca no período de junho a novembro de 2017. Nessa época, praticamente não tivemos chuvas, e isso acabou comprometendo a brotação das soqueiras. Os produtores terão que cuidar muito bem dos seus canaviais para não comprometerem a renda no final da safra. Em relação à produção, o mix deve ser favorável ao etanol, em função, principalmente, da queda do preço do açúcar no mercado internacional e da alta nas cotações de preços do petróleo. Estamos com excesso de açúcar, e as usinas vão destinar os maiores percentuais possíveis da matéria-prima para a produção de etanol. Para se ter uma ideia, o etanol hidratado estava no início de fevereiro, com uma rentabilidade 40% superior na venda quando comparado aos preços do açúcar em Nova York e 20% superior à obtida pelas usinas nas vendas físicas da commodity. Isso vai contribuir para a recuperação dos preços do açúcar junto com a firme demanda por etanol no mercado interno, que, por sua vez, está se destacando. As novas relações de comercialização de etanol começaram a mudar no final de 2016, quando a Petrobras passou a adotar uma nova política de preços. De lá para cá, outros acontecimentos vêm surgindo.

Ainda em relação ao açúcar, em notícia recente divulgada pelo jornal Valor, a Organização Internacional do Açúcar (OIA) estima uma produção mundial, em 2017/2018, em 179,45 milhões de toneladas. O volume é 6,58% superior à temporada passada e é principalmente responsabilidade do crescimento na expectativa de colheita da Índia, União Europeia, Tailândia e China. O Brasil é o maior produtor de açúcar, com uma produção estimada em 39,46 milhões de toneladas em 2017/2018. Porém o que pode acontecer na safra 2018/2019 é o Brasil ter reduzida a sua disponibilidade de açúcar, já que existem incertezas em relação ao percentual de cana que será destinado para a sua produção. Isso também pode ajudar na recuperação dos preços. O fato é que não podemos olhar apenas para a cana quando falamos em projeções para 2018, já que, neste ano, enfrentaremos a batalha da reforma da Previdência (novamente) e o resultado das eleições presidenciais. Precisamos de grande engajamento de todos para eleger pessoas com ética, valores morais, como honestidade e espírito empreendedor, nas eleições de 2018. Não podemos retroceder novamente. Esse é o momento de os brasileiros se debruçarem sobre uma agenda positiva para o País. Temos que levar essas eleições muito a sério, porque o Brasil precisa crescer, e isso depende de todos os brasileiros, não apenas de um setor. n

Precisamos de grande engajamento de todos para eleger pessoas com ética, valores morais, como honestidade e espírito empreendedor, nas eleições de 2018. Não podemos retroceder novamente. "

Antonio Eduardo Tonielo Presidente da Irmãos Tonielo

Exemplos: em janeiro de 2017, houve o aumento de PIS/Cofins sobre o etanol; no mês de maio, atingiu-se o recorde de importação de gasolina; em agosto, foi criada a alíquota de 20% para a importação de etanol; em setembro, a demanda e os preços do etanol avançaram; e, em outubro, as usinas começaram a mudar seu mix para o etanol. Estamos em uma realidade positiva para o biocombustível, em um momento ímpar, em que o mercado está absorvendo toda essa mudança.

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produtores

Opiniões

repensando os compromissos Nesses cinco anos liderando um dos maiores grupos do segmento sucroalcooleiro, virei um apaixonado pelo agronegócio e um entusiasta da energia que vem do campo. Desembarcando no setor depois de mais de duas décadas no segmento de distribuição de combustíveis, pude, ao longo desse tempo, desfazer preconceitos, eliminar paradigmas e virar um grande admirador dos empresários, profissionais e consultores do segmento sucroalcooleiro, pessoas que, antes, não estavam no meu radar. Ganhei novos ídolos. Descobri, ao longo desses anos, um setor vibrante, sofisticado, resiliente, num processo eterno de melhoria contínua. Um setor enraizado nos mais diversos locais desse imenso País e que reflete, como poucos, a alma nacional e a capacidade de superação do povo brasileiro. Um setor plural, diversificado, multifacetado, polivalente, composto por agricultores, industriais, experts em logística, exímios operadores nos mercados de moeda e commodities, formando um sistema complexo e sofisticado. Desenvolvemos nossa atividade no Brasil, porém estamos 24 horas por dia antenados ao que acontece no mundo. Moendas esmagam cana nos mais longínquos rincões do País e, ao mesmo tempo, estamos sintonizados a Nova York ou a Londres. O que acontece na Índia, na Tailândia, na Austrália pode passar despercebido para a maioria da população, mas, para nós, é de extrema relevância. Poucos setores são tão globalizados e tão conectados como o nosso. Essa não é uma área para amadores. Aqueles que se sobressaem no agronegócio e, em particular, no setor de açúcar e etanol, podem, certamente, dar conta de qualquer outro desafio. O País deveria valorizar mais e aprender mais com a capacidade de superação e adaptação dos “agroempreendedores”. Aprendi muito nos últimos anos, mas, para algumas perguntas, não obtive respostas: por que,

apesar de sua relevância inquestionável e todo o conhecimento e competência que existem no setor, ele não consegue estabilizar-se? Por que persiste a impressão de que estamos sempre na defensiva, vulneráveis, sempre com o pires na mão em busca de algo, de uma solução definitiva que, finalmente, trará menos turbulências e mais previsibilidade? Talvez somente uma avaliação antropológica, um vasculhamento na gênese do segmento, uma grande terapia em grupo possam, enfim, trazer respostas a essas questões. Ano após ano, sucedem-se batalhas contra algum inimigo, real ou imaginário; a todo momento, temos algo ou alguém contra o quê ou quem lutar. A Petrobras, com seu congelamento de preços, e o Governo Federal, com sua irracionalidade no tocante ao tratamento tributário dos combustíveis, foram os malvados favoritos do setor por um longo tempo. O etanol importado, o carro elétrico e os detratores do açúcar juntaram-se mais recentemente à liga de vilões que assombram o segmento. As distribuidoras de combustíveis, o elo que comercializa nossos produtos, também, de tempos em tempos, viram os inimigos da vez, e, eventualmente, com menos ênfase, escolhemos um inimigo externo, algum país que subsidia e protege seu mercado e sua produção local. Lutar contra algo ou alguém, postar-se na defensiva tem sido a principal estratégia do setor. Por que não pensamos estrategicamente e, ao invés de buscarmos ad; versários, não buscamos aliados?

Lutar contra algo ou alguém, postar-se na defensiva tem sido a principal estratégia do setor. Por que não pensamos estrategicamente e, ao invés de buscarmos adversários, não buscamos aliados? "

Jucelino Oliveira de Sousa Membro dos Conselhos de Administração da Usina Coruripe, CTC e Alesat



produtores O ano que se encerrou trouxe aquela que considero a melhor iniciativa dos últimos tempos para o segmento, uma mudança completa de posicionamento, deixamos de reagir e fomos propositivos, deixamos de combater e atraímos aliados, assim surgiu o Renovabio. Confesso que fui cético quando ouvi falar desse programa no início de 2017. Não acreditei que o setor conseguiria se articular e se organizar para desenvolver algo tão sofisticado e muito menos transformá-lo em realidade em tão pouco tempo. Pessoas brilhantes, abnegadas, altruístas e despidas de vaidade encabeçaram o processo e conseguiram um feito que pode, enfatizo, pode vir a ser um divisor de águas para o setor. Digo pode, pois temos várias etapas ainda a serem superadas, bem como entendo que não serão apenas regras ou mandatos que garantirão a estabilidade que o setor tanto almeja. O Renovabio trilhou uma trajetória muito bem-sucedida devido, principalmente, às alianças que foram construídas; o programa não teve adversários. O Governo, a indústria automobilística, a Petrobras, o Sindicom, a ANP, o setor de grãos e o meio acadêmico, que ou ajudaram ou, pelo menos, não atrapalharam. Essa estratégia precisa ser preservada antes do desafio maior, que será trazer a sociedade para o nosso lado e, mais ainda, ser copiada em outras iniciativas. Alianças produzem mais bem-estar, progresso e riqueza do que batalhas. A felicidade de ter feito um foguete que chegasse à lua certamente foi muito maior de que ter lançado uma bomba que venceu uma guerra. É muito provável que, quando o programa estiver regulamentado, o setor tenha que se deparar com um ambiente competitivo muito mais difícil do que estamos acostumados. O Brasil é o 3º maior consumidor de combustíveis do mundo e, com a estagnação de sua capacidade de refino, tende a ser um dos maiores importadores de derivados de petróleo do mundo; o Renovabio pode atenuar esse movimento, mas não mudará a realidade. O Brasil será cada vez mais um mercado imenso e atrativo (uma vez mantida a atual política de preços da Petrobras) para todas as tradings e grandes empresas petrolíferas do mundo. Todas, e eu repito, todas, sem exceção, estão de olho no Brasil como destino certo para o fluxo intenso de derivados de petróleo que existe no planeta. O setor precisa se preparar para competir com a gasolina barata, que, dessa vez, não será da Petrobras, que virá de todos os cantos do mundo em busca dos tanques dos automóveis brasileiros; ao invés de nos preocuparmos apenas com o etanol importado, precisamos estar atentos a todo e qualquer combustível que virá para o País para competir com o etanol aqui produzido.

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Como se preparar para essa realidade? Além do Renovabio, que mais podemos fazer para estarmos prontos para essa nova etapa? É preciso repensar o produto, aprender a vender suas qualidades, buscar cativar as mentes e os corações do consumidor. É preciso se aproximar da cadeia de distribuição, do varejo, desenvolver parcerias, aprimorar a comercialização do produto. Não falo aqui da venda direta, o que considero um desatino e uma ideia que vai na contramão das alianças que o Renovabio desenvolveu. A venda direta parece um caminho tentador e atrativo apenas para aqueles que nunca militaram na distribuição, que não imaginam as dificuldades de se relacionar com mais de 40.000 postos em todo o Brasil. Ter acesso ao mercado bandeira branca parece uma boa ideia para quem não precisa disputar diariamente vendas com as dezenas de distribuidoras especialistas no assunto espalhadas no País. Brigar pela venda direta do etanol é abrir o flanco para que as refinarias e os importadores possam também vender diretamente para os postos e consumidores, ou seja, é abrir a caixa de pandora. A oportunidade na qual eu insisto diz respeito a uma melhor exploração da cadeia de valor e principalmente de um aprimoramento da comunicação com o consumidor. Somos produtores e nisso somos muito bons. Da usina para dentro, somos imbatíveis mundialmente; da usina para fora, temos muito o que aprender e, no tocante a vender combustíveis, a acessar os revendedores e os consumidores, somos amadores, apesar de que, de tempos em tempos, achamos que podemos jogar nesse mercado no mesmo nível dos profissionais. Ledo engano, que pode custar caro. Se queremos que o etanol conquiste seu espaço em definitivo, precisamos nos aliar à cadeia de distribuição e de varejo, não competir com eles; não lutar contra eles, mas sim buscar pontos em comum, sinergias que possam ser exploradas. Imaginemos que as bombas de combustíveis são como as prateleiras dos supermercados, onde vários produtos competem pelo melhor local e onde várias estratégias são desenvolvidas para se chamar a atenção do consumidor; se não temos acesso direto a essas prateleiras, e não será a venda direta que nos dará esse acesso, como, então, poderemos melhor aproveitar esses espaços? Esse é o debate que deveríamos estar travando previamente à chegada do Renovabio. Somente através de uma atuação conjunta, organizada e planejada em conjunto com as distribuidoras e os postos, visando valorizar o etanol no ponto de vendas, conseguiremos agregar valor ao produto e fidelizar o consumidor. O consumidor precisa se habituar a usar o produto, não podemos apenas atraí-lo quando precisamos baixar os estoques para depois força-lo a trocar de bomba, quando não há produção suficiente. O mesmo compromisso que desejamos ter com o consumidor também precisaremos assumir e manter com ele. Maneiras de organizar a produção, compartilhar sinergias e reduzir custos na cadeia de distribuição existem várias. Alguém precisa dar o primeiro passo, demolir esse chinese wall e trazer para o segmento os preceitos da economia colaborativa. O tremendo sucesso de empresas que facilitam o compartilhamento e a troca de serviços e objetos é uma prova de como a adesão a essa tendência global está longe de atingir um ápice. Uber, Airbnb e tantas outras que o digam. n


Opiniões

renovabio:

mudar sem subsídio, renúncia fiscal e novo imposto A reforma da política nacional de biocombustíveis, delineada no RenovaBio, soma uma série de virtudes e merece ser vista com bons olhos. A primeira delas resume-se a seu próprio objetivo contra o aquecimento global: reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O programa federal marca uma mudança relevante na forma como o etanol é avaliado, reconhecendo externalidades positivas do biocombustível, como o aspecto ambiental. Consequência natural, a demanda pelos combustíveis mais limpos favorece a sustentabilidade econômica do setor sucroenergético brasileiro. Trata-se de uma política de Estado de descarbonização do transporte, em linha com os compromissos assumidos pelo Brasil na 21ª Conferência das Partes – Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP21). Até 2030, a expectativa é de um corte de 43% das emissões nesse setor. Ao todo, com outras áreas além do transporte, se espera uma diminuição de 18%. o RenovaBio alinhou como objetivos valorizar os biocombustíveis nacionais, prever a segurança energética, garantir a previsibilidade de investimentos, melhorar a qualidade do ar, incentivar a inovação tecnológica e gerar emprego e renda "

Rui Chammas Presidente da Biosev

A participação da bioenergia na matriz energética nacional deve chegar a 18%, ampliando a segurança num setor estratégico para a economia do País. Não precisarão ser importados até 300 bilhões de litros de gasolina e de diesel, favorecendo a balança comercial. Formulado pelo Conselho Nacional de Política Energética, com mais de 50 manifestações de entidades setoriais e representativas da sociedade, o RenovaBio alinhou como objetivos valorizar os biocombustíveis nacionais, prever a segurança energética, garantir a previsibilidade de investimentos, melhorar a qualidade do ar nas metrópoles, incentivar a inovação tecnológica e gerar emprego e renda. Tudo isso sem nenhuma política de subsídios, renúncia fiscal ou novo imposto. O mecanismo é engenhoso ao delegar às distribuidoras de combustíveis o compromisso de redução de emissões por meio da aquisição de CBIOs (Créditos de Descarbonização por Biocombustíveis), ativo financeiro negociado na bolsa de valores emitido ainda no campo, a partir do momento de venda do produto. O RenovaBio fixa metas nacionais de redução de emissões para a matriz de combustíveis por um período de dez anos. ;


produtores

Opiniões

Com a demanda do etanol de cana em ascensão, outro efeito ganhará destaque: o • Regulação RenovaBio deve impulsionar MERCADO FÍSICO ANP • Fiscalização DISTRIBUIDORA também os preços do açúcar, DE COMBUSTÍVEIS pois vai encorajar as usinas a produzir mais etanol, tirando pressão do mercado açucaPRODUTOR E META INDIVIDUAL IMPORTADOR DE (Histórido de vendas de reiro, contribuindo para uma BIOCOMBUSTÍVEIS combustíveis fósseis) produção mais ajustada. Curto prazo: Como a regulamentação do RenovaBio BOLSA deve se estender por 2018 e EMISSÃO DE CDBIO META DE Certificados de 2019 e, somente em 2020, o DESCARBONIZAÇÃO Biocombustíveis (CNPE) programa estará em pleno de• Volume Função • Nota do ciclo de vida (individual) senvolvimento, a Biosev con• Fator Regional sidera que, no curto prazo, há espaço para um movimento de acomodação da produção de cana-de-açúcar. Esses objetivos serão desdobrados em metas individuais, A moagem em 2018/2019 deve ficar a cada ano, para as distribuidoras, conforme a particiem 586 milhões de toneladas no Centropação de cada uma delas no mercado de combustíveis -Sul do País, ante os 599 milhões do cifósseis. Na certificação da produção de biocombustíveis, clo anterior. Algumas usinas reduziram serão atribuídas notas diferentes para cada produtor em a renovação de canaviais e cortaram valor inversamente proporcional à intensidade de cardespesas com tratos culturais. Some-se a bono do biocombustível produzido. A nota vai refletir a esses fatores o desligamento de usinas em contribuição para a mitigação de uma quantidade especí2017/2018. fica de gases do efeito estufa em relação ao seu substituto Dentro de seu princípio de disciplina fóssil (em termos de toneladas de CO2e – equivalentes financeira, a Biosev, segunda maior proem gás carbônico). O sistema terá o mérito de premiar a cessadora de cana do mundo, optou por competência – será meritocrático. trabalhar na redução de custos mais cedo A ligação entre a meta na distribuição de combustíveis na safra passada, trazendo para si uma ree a certificação no campo se dará pelo CBIO. Os distrisiliência em casos de preços reduzidos. buidores cumprirão a meta quando demonstrarem a proPara baixar custos no que se refere à priedade dos CBIOs em sua carteira. manutenção, o caminho passou por interGradualmente, as distribuidoras serão levadas a aunalizar serviços, revisar estruturas e defimentar os volumes de biocombustíveis, em linha com nir novos padrões operacionais, além de o que o Brasil pactuou no Acordo do Clima de Paris. aperfeiçoar o uso de insumos e aumentar Abre-se espaço para um círculo virtuoso para o crescia eficiência dos processos. mento da produção de etanol. A princípio, a partir da caA empresa tem como principal objetipacidade já instalada, mas esse movimento pode exigir vo se tornar resiliente com foco também mais investimentos em processamento industrial, prono aumento de produtividade. A gestão da dutividade e área agrícola. companhia tem como pilares a eficiência Especialistas estimam que, em 2030, o volume prooperacional por meio da maximização do duzido no País possa crescer 50% em relação ao patamar uso dos ativos e a otimização operacional atual, alcançando 40 bilhões de litros anuais. Outros ese do portfólio de produtos. tudos indicam que a expansão da oferta de biocombustíA estratégia financeira foca disciplina, veis demandará R$ 1,4 trilhão de investimentos, com a redução da alavancagem e alongamento criação de 1,4 milhão de empregos para a produção de do perfil da dívida. Para alcançar esses etanol, biodiesel e biogás, além de outros segmentos das objetivos, continuaremos a atuar na prerespectivas cadeias produtivas. É importante ressaltar que servação da liquidez, na gestão do capital essas previsões otimistas só se confirmarão com o bom de giro, na diversificação das fontes de andamento do programa, que está em fase de regulamenfinanciamento, na utilização do fluxo de tação. Além da geração de vagas e respectiva multiplicaixa livre para redução do endividamencação de renda, haverá mais arrecadação de impostos e to e na redução do Capex, com eficiente desenvolvimento em várias regiões do País, no lugar da controle de despesas. n importação de derivados de petróleo. DESCARBONIZAÇÃO DA MATRIZ DE TRANSPORTE PROGRAMA DE EFICIÊNCIA

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produtores

perspectivas

otimistas em um cenário desafiador

O Brasil ocupa posição de destaque no cenário mundial quando o assunto é sustentabilidade energética. É uma das únicas grandes economias em que a participação de fontes renováveis atinge patamares elevados – cerca de 50% – há décadas. Isso foi alcançado com o aproveitamento de nossos recursos naturais, como a exploração do potencial hidrelétrico, mas também com o desenvolvimento de tecnologias e a abertura de novos mercados, como o do setor sucroalcooleiro.

O País aplicou ativamente recursos para criar seu mercado interno de etanol. Políticas públicas, como o antigo Proálcool, tiveram papel fundamental para o florescimento desse setor, criando um ecossistema de produtores altamente eficiente e competitivo, além de uma frota de carros bicombustível única no mundo. A Bunge, por exemplo, iniciou sua história no setor em 2006, negociando açúcar, e, desde então, construiu uma forte posição na comercialização e produção de açúcar, etanol e bioeletricidade. Durante todos esses anos, vimos o setor inteiro passar por uma grande evolução: aumento do uso da tecnologia no campo, maior qualidade de vida para colaboradores, melhorias logísticas e ampliação da produtividade. Tudo isso traz para o País grande competitividade no cenário mundial. O mercado brasileiro de etanol para transporte é único no mundo, pois atingiu uma maturidade que já pode tirar proveito das chamadas “economias de rede”, quando um produto se torna mais atrativo devido à sua presença massiva ; no mercado.

O mercado brasileiro de etanol para transporte é único no mundo, pois atingiu uma maturidade que já pode tirar proveito das chamadas 'economias de rede', quando um produto se torna mais atrativo devido à sua presença massiva no mercado. "

Geovane Consul VP do Negócio de Açúcar e Bioenergia da Bunge


Opiniões Isso garante, por exemplo, que seja vantajoso aos consumidores adquirir carros que possam utilizar álcool, pois eles têm a certeza de poder abastecer em qualquer ponto do País a preços competitivos. Por sua vez, os distribuidores e produtores de combustíveis, cientes do mercado consumidor crescente, investem e disponibilizam, de forma cada vez mais eficiente, o combustível. Tecnologias alternativas, como carros elétricos, mesmo evoluindo rapidamente no mercado mundial, não atingiram esse ponto de maturação. Ainda não há uma rede de recarregadores de baterias que proporcione segurança a potenciais compradores desses veículos, e isso é um dos principais entraves para a popularização desse produto. Montadoras que apostam nessa tecnologia têm investido pesadamente, por vezes por meio de consórcios, para estabelecerem redes de recarregadores suficientemente extensas, de maneira a aumentarem a atratividade por seus automóveis. Um ponto que ainda está indefinido e pode retardar a criação de uma rede local de recarga de carros elétricos é a chamada “guerra dos plugs”. Diferentemente do sistema de abastecimento de etanol, que já é universal, hoje existem três modelos de plugs predominantes em diferentes regiões do mundo: Estados Unidos, Europa e Japão, além da China. Cada grupo de fabricantes está redobrando suas apostas no seu próprio modelo, buscando estabelecer o padrão de mercado e, com isso, surfar nas economias de redes resultantes. O etanol também está no páreo dessa disputa. Recentemente, a Nissan apresentou seu programa de desenvolvimento de um sistema movido por uma Célula de Combustível de Óxido Sólido (SOFC, na sigla em inglês). Nesse sistema, o veículo é abastecido, basicamente, por uma solução de etanol e água que seria convertida em eletricidade por meio de uma reação química na célula, substituindo, assim, as baterias hoje utilizadas pelos veículos elétricos. Esse sistema tem três grandes vantagens: (1) o tempo de abastecimento seria o mesmo de um carro movido a etanol ou combustível fóssil, via combustão interna; (2) especialmente no Brasil, o sistema já poderia usufruir da ampla capilaridade da distribuição de etanol existente, e talvez a mais relevante, (3) não necessita de metais nobres para a confecção das baterias, barateando o custo do equipamento. O processo de popularização dos carros elétricos tende a durar anos, e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que, em 2026, o mercado brasileiro atinja a marca de 100 mil unidades elétricas emplacadas, o que representaria apenas 2,5% do total de veículos.

Contudo é nesse período que os novos padrões serão definidos, e os rumos do mercado serão traçados. Mais uma vez, as políticas públicas terão um papel importante na manutenção do Brasil na vanguarda do mercado de energia sustentável. Políticas mal elaboradas, como o recente controle artificial dos preços dos combustíveis fósseis, podem afetar severamente a sustentabilidade e a capacidade de investimento do setor de energias renováveis. Todavia há sinais que alimentam otimismo, como a nova Política Nacional de Biocombustíveis: a RenovaBio, sancionada pelo Governo Federal no final do ano passado. O programa implementa um inovador mercado de créditos de carbono para o negócio e tem o mérito de não ser um imposto e sim um incentivo para que as empresas migrem para fontes limpas, gradativamente. Essa iniciativa será especialmente benéfica se a regulamentação, ainda a ser criada, for eficiente. Mesmo no cenário adverso dos últimos anos, a Bunge e outras empresas do setor mantiveram seus investimentos em inovação, obtendo resultados significativos com iniciativas de mecanização e introdução de novas tecnologias no campo – utilização de GPS, drones, gestão de frotas e uso de informações coletadas por satélite, conservação e sistematização do preparo de solos. Na indústria, também registramos avanços de automação, introdução de novas cepas de leveduras, sistemas on-line de informação de produção, entre muitos outros. Ações que aumentam a rentabilidade e resiliência do negócio. Nossas perspectivas otimistas para o futuro da produção de etanol não podem nos deixar esquecer de que o caminho a percorrer ainda é longo. Teremos um período de definição de metas de descarbonização e de regulamentação de lei. Essa regulamentação, se mal-feita, pode impactar negativamente toda a iniciativa. Portanto precisaremos estar atentos para garantir a sustentabilidade do País e de nossos negócios. Já no mercado internacional, as novas tecnologias e padrões irão se estabelecer ao longo dos próximos anos, e devemos nos apresentar como mais uma fonte viável, eficiente e sustentável para a nova matriz energética. Reitero o nosso compromisso de continuar investindo para aumentar a eficiência do setor no Brasil. Sem dúvida, a produção de etanol, com uma plataforma nacional, tem contribuído há anos para a redução do consumo de combustíveis fósseis, além de ter impulsionado o desenvolvimento econômico e social no País, por meio da geração de empregos e da abertura de novas oportunidades de negócios. n

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o tempo urge! O ano de 2017 se encerrou com a alvissareira sanção presidencial da chamada Lei do RenovaBio, a comemoração setorial encheu os olhos do País. O Senado Federal, em seu site oficial, noticiou a aprovação da Lei Ordinária nº 13.576/2017 como causa de uma possível criação de 3 milhões de empregos no País. Alguns chegaram a mencionar o ressurgimento do Proálcool, que, a bem da verdade, foi um programa exitoso da década de 1970, uma vez que impulsionou investimentos, não só na produção, como também no consumo do etanol de cana-de-açúcar, biocombustível extremamente importante para o País, cuja eficiência da cadeia produtiva causa admiração até em países com economia em patamar de estabilidade mais avançado que o Brasil. Em suma, a chamada Lei do RenovaBio, traz, em seu bojo, 30 artigos, recarregando a esperança do setor sucroenergético brasileiro, que sofre redução de investimentos e endividamento jamais vistos na história. Como causa, poder-se-iam lançar inúmeros fatores, merecendo destaque reiteradas práticas desleais no preço do combustível fóssil havidas em um passado recente. Tal cenário força a concluir que o RenovaBio é um programa que não pode existir de forma isolada, ou seja, somente pelos seus artigos legislativos, uma Wagvez que o endividamento carregado pelo setor sucroenergético ações da Amata afasta a capacidade de investimento dos produtores. O endividamento é um fato notório, aliás bastando atentar-se ao número assombroso de unidades produtoras que encerraram suas atividades entre 2015 e 2017, sem que, ao menos, outros players dessem continuidade no escopo social das indústrias. Tal condição extirpa cruelmente a capacidade de investimento dos produtores na renovação dos canaviais, e cada hectare de cana que deixa de ser investido/plantado torna muito mais difícil a missão do RenovaBio, que está textualmente descrita no comando do artigo 1º, inciso I, da Lei Ordinária nº 13.576/2017, que dispõe: “Fica instituída a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), parte integrante da política energética nacional

de que trata o art. 1º da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, com os seguintes objetivos: I. contribuir para o atendimento aos compromissos do País no âmbito do Acordo de Paris sob a Convenção-Quadro da Nações Unidas sobre Mudança do Clima” . Isso porque, com toda a vênia devida às outras culturas e formas que estariam aptas à produção de biocombustíveis, as atuais não estão dotadas da mesma capacidade que a cana-de-açúcar comprovadamente detém, na função de sequestrar carbono, contribuindo positivamente para reduzir o chamado efeito estufa. Ademais, a geração dos 3 milhões de empregos noticiada pelo Senado Federal seria muito mais agilizada se o setor sucroenergético obtivesse viabilidade para simplesmente retomar o investimento no plantio de cana, ou seja, renovação de canaviais, sendo desnecessária qualquer invenção muito grande, daí a necessidade de ser criado um mecanismo de financiamento do plantio de cana, diferenciado das demais culturas, e que acompanhasse a relevância de se atingir, verdadeiramente, a finalidade instituída pelo RenovaBio. O BNDES, com seu papel fundamental, necessita, pois, rever seus limites para a retomada de financiamento de investimentos em plantio de cana, permitindo, inclusive, contratação direta e até mesmo reestruturando operações passadas, para que os produtores consigam avançar e fazer frente aos desafios lançados pelo programa legislativo. A cana-de-açúcar, por possuir a particularidade de atingir os objetivos ambientais do RenovaBio, necessita obter um impulso mais forte, para que se torne atrativo aos produtores renovar os canaviais, evitando-se a conversão para outras culturas, cuja eficiência ambiental não será a mesma da cana-de-açúcar, podendo até colocar em xeque a real finalidade do programa. O desafio será, com toda certeza, a obtenção de financiamento para que os canaviais continuem contribuindo para a melhoria da intensidade de carbono da matriz brasileira de combustíveis. Para tanto, produtores, governantes, setor financeiro, enfim, todos os envolvidos nessa cadeia precisam atentar para esse ponto sensível, e que, em 2018, o Brasil possa assistir ao setor sucroenergético retomar, ainda que parcialmente, o investimento no plantio de cana-de-açúcar. O tempo urge! n

o endividamento é um fato notório, aliás bastando atentar-se ao número assombroso de unidades produtoras que encerraram suas atividades entre 2015 e 2017 "

Sidney Samuel Meneguetti

Diretor Jurídico da Usina de Açúcar Santa Terezinha


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a surpreendente reviravolta do etanol Nos últimos anos, o Brasil se tornou um grande player no mercado internacional de açúcar, com volumes que chegam a representar até a metade de tudo que é transacionado no mundo. Essa dominância brasileira tem gerado reflexos nem sempre favoráveis em outros países produtores, que tentam, de todas as formas, se defender da alta competitividade que encontramos por aqui, com uma combinação perfeita de solo e clima que raramente encontra paralelo em outras regiões. Fatores exógenos ao ambiente de proteção, como políticas públicas e interesses comerciais, têm inibido a penetração da nossa commodity em destinos com alto potencial de consumo. Vou me concentrar nessas duas variáveis, por acreditar que elas são, hoje, um dos maiores desafios setoriais na nossa indústria. A China, um mercado extremamente promissor, subiu suas tarifas de importação no ano passado para 95%, ante o valor anterior de 50%, já extremamente elevado. A Índia, temendo uma queda de preço no seu mercado doméstico, recentemente adotou uma tarifa de 100%, o que torna as exportações do vizinho Paquistão inviáveis. Esse aumento no protecionismo ocorre em meio a um crescente desejo desses países em protegerem seus produtores rurais, na sua maioria pequenos lavradores que dependem da atividade para sobreviverem. Preços elevados de matéria-prima, fixados pelo governo, são amplamente utilizados para esse propósito. Apesar do fim nobre, o que temos presenciado é uma dicotomia entre preços livres e regulados, pois, à medida em que se protege demais um mercado, não são dados sinais claros para que haja uma diversificação de lavoura em anos de superoferta. Dessa forma, as indústrias desses países acabam, em algum momento, não conseguindo arcar com os pagamentos da matéria-prima, forçando o governo a subsidiar pesadamente a atividade,

Temos visto vários anúncios de ampliação de capacidade em usinas brasileiras, apesar de, surpreendentemente, essa expansão estar sendo atendida por plantas de milho. "

Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo

Diretor Comercial da Usina Alta Mogiana

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muitas vezes na forma de exportações com prejuízos aos cofres públicos. Não raro, o mercado doméstico desses países se torna alvo de importações via contrabando, mostrando claramente que excessos de proteção acabam incitando consequências indesejáveis. Também espanta a maneira como os produtores de açúcar europeus precificaram a beterraba para os próximos anos. Muitos contratos de fornecimento foram feitos a um preço fixo por duas ou até três safras, sendo que todos sabemos que o mercado mundial é notório em surpreender os agentes em grandes oscilações de preço. O resultado dessa política desastrosa é a manutenção da produção europeia em níveis elevados, a despeito de uma queda colossal de preços nos últimos meses. O mais curioso é observar como o mercado de etanol, por sua vez, vem atravessando um momento completamente oposto ao observado pelo açúcar. Desde que a política de preços dos derivados de petróleo no Brasil começou a seguir as cotações internacionais, tivemos um enorme interesse dos produtores em alocar um maior mix de produção a esse combustível. De uma hora para outra, tivemos um mercado livre, com efeitos imediatos na demanda, que respondeu favoravelmente aos preços praticados. O robusto crescimento econômico global, aliado a uma restrição de oferta de petróleo da OPEP e da Rússia, colocou os fundamentos e os preços em patamares bem melhores do que se imaginava anteriormente. Ao mesmo tempo, o componente dolarizado do mercado de petróleo acabou tornando o etanol sensível ao câmbio, algo que era único apenas ao açúcar. Como a maioria das usinas possui dívidas em dólar, ter um produto em estoque que se valoriza quando a cotação da moeda americana dispara é um grande alívio em ; momentos de estresse financeiro.


Aliado à grande liquidez, o etanol não deve nada hoje a commodities mais sofisticadas, sendo possível, inclusive, obter proteção de preço (hedge) de longo prazo, através de operações financeiras no mercado de gasolina internacional. Essa visibilidade de preços também está ajudando os contratos de derivativos de etanol na B3 (antiga BM&F) a aumentar a sua liquidez, criando um círculo virtuoso de novos entrantes. Nesse sentido, a recente aprovação do RenovaBio só fez aumentar ainda mais o interesse dos produtores em direcionar cada vez mais a sua produção e os seus investimentos no combustível renovável. Temos visto vários anúncios de ampliação de capacidade em usinas brasileiras, apesar de, surpreendentemente, essa expansão estar sendo atendida por plantas de milho. Como o Brasil se tornou um grande exportador desse cereal, essa abundância de oferta se traduz em custos de aquisição extremamente interessantes. Aliado ao fato de que muitos equipamentos são comuns aos dois produtos nas usinas de cana-de-açúcar, o investimento inicial é baixo, e a produção é complementar à cana, aumentando o faturamento com basicamente o mesmo número de funcionários. Essa competitividade do milho coloca em xeque qualquer pretensão dos fornecedores de cana tradicionais em aumentar o valor recebido pelas indústrias em seus contratos de fornecimento.

A melhora da rentabilidade terá que ser dada por mais eficiência e produtividade, e não através de mais receita. Ainda é cedo para quantificar os efeitos do RenovaBio nas decisões de ampliação, mas, certamente, a previsão de crescimento sustentado do PIB brasileiro nos próximos anos ajudará muito a criar um ambiente favorável a novos investimentos. Há percalços no caminho? Sim, e não podem ser desprezados. Os preços do petróleo podem sofrer uma forte correção caso a restrição de oferta não continue. Além disso, todos sabemos da crescente importância dos carros elétricos e híbridos na matriz de produção das grandes montadoras mundiais nos próximos anos. No curto prazo, porém, essas ameaças não parecem conter o entusiasmo com uma demanda aquecida e revigorada de combustíveis no Brasil pela frente. Dessa forma, podemos deduzir que a melhora nos fundamentos do etanol irá continuar trazendo um maior interesse dos produtores em explorar seus atrativos, enquanto o mercado de açúcar ficará refém dessas políticas danosas e ultrapassadas de artificialismos de precificação de matéria-prima, tornando mais lenta e mais dolorida a solução de sobreoferta mundial que enfrentaremos neste próximo ciclo de 2018/2019. n

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Opiniões

produtores

próximos passos Temos condições de alcançar tudo o que precisamos para modificar de vez o futuro do setor sucroalcooleiro, desde que a ingerência oficial seja proativa na atividade econômica do setor. A nós cabe mostrar que somos eficazes na nossa missão de plantar, colher, produzir, abastecer os mercados interno e externo e administrar, com produtos e subprodutos de qualidade, conquistada com a tecnologia desenvolvida pelas empresas e pelos centros de pesquisa que mantemos, isoladamente ou em colaboração, com os do Estado e as universidades. É impossível existir uma estrutura energética sem matriz definida. Saímos de um congelamento de preços administrado em Brasília, para, de julho a dezembro, mudar em 133 vezes, subindo 19,5%, ante uma inflação inferior a 3%, resultando numa política instável. O futuro impõe estratégias. Sem elas, como um empresário pode planejar o desempenho de sua empresa se, diariamente, seu custo de produção

O futuro impõe estratégias. Sem elas, como um empresário pode planejar o desempenho de sua empresa se, diariamente, seu custo de produção e o preço do seu produto são ameaçados por uma ordem dada ao sabor de interesses não se sabe de quem? "

Jairo Menesis Balbo

Diretor Industrial das Usinas Santo Antônio e São Francisco

e o preço do seu produto são ameaçados por uma ordem dada ao sabor de interesses não se sabe de quem? Assim, ele chega ao absurdo de saber só à noite quanto seu produto estará custando na manhã seguinte. Nosso maior desafio ainda é estarmos vivos. E como sobreviver? Com produtividade e baixo custo de produção, o que se consegue com pesquisa e desenvolvimento e investimento na qualificação profissional. O congelamento de preços para segurar a inflação nos causou grandes dificuldades, porque criou uma realidade artificial.

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Nossos desafios deixaram de ser a conquista de objetivos de produtividade agrícola e industrial, para se tornarem meios de sobrevivência. Sermos considerados “heróis” pelo ex-presidente Lula em nada melhorou nossa condição – foi sua sucessora e companheira política quem congelou os preços, levando mais de 50 usinas ao fim. Inapelavelmente, os combustíveis e demais fontes de origem fóssil não chegarão ao fim da próxima década com o mesmo espaço que ocupam hoje na matriz energética. Essa é uma boa oportunidade para ser aproveitada com esse espaço com uma das energias mais sustentáveis, percorrendo um dos melhores caminhos para preservar o ambiente, desde o preparo da terra, e não como apregoam, do posto ao veículo. Devemos traçar nós mesmos nossos próximos passos e, assim, os caminhos se alargarão numa infinidade de direções, principalmente subprodutos. Eles tornaram obsoleto o discurso da “monocultura canavieira”. Esse é outro dos nossos pontos fortes, e destacamos a energia da biomassa: em 30 anos, 17,5% da energia consumida no Brasil vem do bagaço da cana gerada nas usinas; ;


os derivados do etanol contidos na alcoolquímica, que compõem a outra certeza da sustentabilidade exigida e esperada. Atualmente, 70% da petroquímica já pode ser substituída pela alcoolquímica, a partir de uma matéria-prima brasileira, produzida com tecnologia 100% nacional. Em resumo: de um pé de cana, é possível extrair muito além do etanol, açúcar e cachaça, marca registrada do Brasil. Nossa maior dificuldade é a mesma: não há uma política clara, para o nosso e para todos os setores. Nessa eterna insegurança, não se pode pensar em investimentos. É cruel, mas a solução da maior parte dos nossos problemas independe da administração das empresas. Com essas diretrizes, teremos nas mãos a sustentabilidade que o Renovabio preconiza e promete. Sentimos que se abre uma economia de baixo carbono, demonstrando grande entendimento de que é uma política que promove o crescimento da economia, incentiva a inovação tecnológica e gera empregos e renda. Poucas formas de energia permitem essa sustentabilidade. Ele tem como principal objetivo descarbonizar o setor de transportes, em linha com os compromissos que o Brasil assumiu na Conferência do Clima, com sua política nacional de biocombustíveis.

O RenovaBio se sustenta numa política estratégica de Estado (e não de governo) para expandir a participação dos biocombustíveis na matriz energética, assegurando e regulando sua disponibilidade. É a combinação simultânea de eficiência energética e redução de emissão de gases – que se transformará em dinheiro. Daí a equilibrar os preços no mercado é a promissora e inevitável consequência. Mais vantagens: o RenovaBio dispensa subsídios, aumento de impostos, nem acena com renúncia fiscal ao setor de biocombustíveis. Tudo deriva do respeito às metas de descarbonização e de emissão de créditos de carbono, os CBios, pelos produtores de biocombustíveis. As distribuidoras compram CBios para honrar suas metas. Em vez de restringir, esse modelo incentiva a busca de eficiência na produção e a redução de emissões. O RenovaBio consolida a previsibilidade, a credibilidade e a diversidade da matriz energética, nos dando condições estáveis para a retomada do investimento privado e sustentado nessa área. A falta dessas garantias tira a possibilidade de planejamento e deixa o mercado sujeito às intempéries do momento, impedindo a segurança de qualquer investimento. O RenovaBio abrirá novas perspectivas para o setor sucroenergético, beneficiando quem produz e, principalmente, para quem consome e nele trabalha, com sustentabilidade. n

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produtores

a busca do

Opiniões

equilíbrio

No final da década de 1980, vivia-se uma fase de mudanças intensas para o setor sucroenergético brasileiro pós-Constituição de 1988. O País mudava de um governo com postura de produtor para uma nova Carta Magna, que caracterizava a atuação de governo como indicativa. Isso se traduzia em fechamento de antigos Institutos por Produtos, como o IAA, o IBC, a Sudhevea. Vivemos o início da década de 1990 com profundos impactos setoriais. Afinal, o setor produtivo canavieiro cresceu e amadureceu sob a égide do Estado (IAA), em legislações que definiam tudo ao empresário: cotas de produção e de exportação; características do produtor de cana-de-açúcar; preços; além de julgar e baixar sanções! Desde a década de 1970, houve questões muito positivas, como investimentos em P&D e programas importantes, como o Proalcool, que vieram na esteira disso. Nos governos Sarney e Collor, ainda demorou para se ter definições até a aprovação das políticas públicas ao etanol, em 2002. Foi o governo FHC que, de fato, desregulamentou o setor produtivo, dando início a um novo processo de mudanças, profundo e com respostas mais rápidas. A isso se somou, em seguida, um ambiente global todo favorável à energia renovável, com elevados preços, à inovação dos carros flexíveis lançados em 2004 e a uma segunda enorme onda de investimentos no setor, até 2010.

No período, o processo de consolidação, expansão e forte volume de capital internacional aconteceu ao mesmo tempo! Houve crescimento anual de dois dígitos na oferta de cana-de-açúcar. No auge dos investimentos, vieram a crise financeira global de 2008 e os desastres populistas do 2º Governo Lula mais todo o período da Dilma, que resultaram em fechamento de empresas setoriais e um crescimento assustador do endividamento das usinas e destilarias, além das dificuldades de manter-se a produção em alto nível. Essa introdução necessária ao tema deste texto busca caracterizar os momentos de longas dificuldades, com as condições extremamente insatisfatórias enfrentadas pelo setor produtivo em face de duas questões que merecem citação, pela importância que terão nos próximos anos: a) Ideologia: sem comprovar ideias, trata-se de forçar ações por um determinado grupo social; b) Ação do Estado: medidas voltadas, ou não, ao estímulo/desestímulo ou à valorização das externalidades positivas de produtos diferenciados. O sinal mais importante do ano de 2017 foi a aprovação pelo Congresso Nacional e a sanção pelo Presidente da República do RenovaBio. Como lei, terá até novembro de 2019 para estabelecer toda a sua regulamentação. E foi o RenovaBio o grande

o RenovaBio é instrumento essencial de política pública de Estado, não de g'overno. Trata-se, pois, de uma ação geopolítica, em que a energia renovável tropical insere o Brasil entre os grandes no planeta "

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Diretor do Grupo Alto Alegre

Luizpara Carlos Corrêa Carvalho, Caio esforço setorial definir o futuro, qualificando Diretorbrasileira. do Grupo AltoClaraAlegre a biomassa na matriz energética mente, o RenovaBio é instrumento essencial de política pública de Estado, não de governo. Trata-se, pois, de uma ação geopolítica, em que a energia renovável tropical insere o Brasil entre os grandes no ; planeta. E assim deve ser vista.


Cuidado, a isoporização pode ameaçar a solidez do seu investimento. A isoporização é um problema sério que independe do florescimento para colocar em risco a produtividade do canavial. Por isso, é preciso estar atento em todos os momentos. Ethrel é o regulador de crescimento com tecnologia Bayer que controla a isoporização e proporciona a qualidade da cana.

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produtores Em síntese, o RenovaBio visa estimular a produção de biocombustíveis (etanol, biodiesel) mais eficientes e que gerem maior conteúdo energético por partículas de gases poluentes emitidos (boa definição de Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, na edição anterior da Revista Opiniões). Além disso, permitirá previsibilidade em termos de mercado e regras estáveis. Como a agroindústria produtiva vê isso? Após a “guerra santa” pela sobrevivência, o setor produtivo encara 2018 e suas eleições gerais, esperando ambiente positivo para a regulamentação do RenovaBio, com esperanças sobre tudo isso. Há, globalmente, um ambiente favorável, enquanto, no Brasil, agora, uma Petrobras que não se posiciona contrariamente. Há um Ministério da Fazenda preocupado com mudanças nas regras de um lado, e um Ministério das Minas e Energia que as defende. Ou seja, a nova fase se inicia. Ao que tudo indica, deve ser criado, no governo Temer, um comitê para a regulação da lei, com maior representatividade pública e menor privada. O RenovaBio traz algumas mensagens fundamentais que valorizam muito essa lei para as metas abraçadas pelo Brasil na COP21. Em primeiro lugar, define o papel do etanol e do biodiesel na matriz energética brasileira; também, com igual importância, formaliza as ações de governo para atender à ratificação do Acordo de Paris (COP21) sobre o clima; cria, na lei, as condições para os ganhos de eficiência na produção, que levam a estímulos à produtividade; cria, também, mecanismos financeiros que valorizam menores emissões, certificadas do lado do produtor e papéis que tragam a segurança na comercialização dos combustíveis renováveis no setor da distribuição (CBIOs). Esses pontos não só valorizam a política pública RenovaBio ao nível do País, como trazem uma mensagem extraordinariamente positiva à busca da produtividade setorial. Esse, sem a menor dúvida, o toque essencial à visão do produtor e dos investimentos: a) Ter um norte, com metas (que serão acentuadas nos mandatos estabelecidos), que estimulam os investimentos; b) Ter a valorização das menores emissões, certificadas no produtor, estimulando a produtividade. O que se verá com a implantação do RenovaBio a partir de 2020 é a quebra do atual ciclo vicioso da baixa produtividade, para um ciclo virtuoso de melhoria efetiva das eficiências agroindustriais no setor sucroenergético, fundamental para a capacidade competitiva frente a um petróleo com preços girando entre US$ 50 e US$ 60/barril. A cultura canavieira, semiperene, tem características diferenciadas em relação aos grãos, como seu longo ciclo e intensa dependência do clima, com renovações anuais do canavial entre 10% a 15%, o que resulta em menores recuperações anuais, caso não se dê às soqueiras maior atenção. Afinal, elas representam cerca de 85% da área cultivada com a cana-de-açúcar. Como produtor de etanol, serão fundamentais os mecanismos de Certificação (eficiência), das emissões dos CBIOs (emissão da nota fiscal) nos volumes efetivados e a relação com os distribuidores de combustíveis (que terão metas) e com outros atores da área financeira, assegurando a previsibilidade necessária para uma participação competitiva.

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Opiniões As projeções, como desafio ao setor produtivo, representam a busca do equilíbrio necessário, e que não se mantenha a forte volatilidade observada, por exemplo, na participação do etanol no consumo nacional do Ciclo Otto (% do etanol no consumo de gasolina + etanol + gás natural): 1: Evolução do Etanol no Ciclo Otto Ano

Peso (%) do Etanol

1995

44,3%

2002

37,3%

2006

31,6%

2009

45,0%

2012

30,3%

2015

42,0%

2016

39,4%

Da mesma forma, a maior preocupação a ser corrigida, e que vem com a lei, é a “síndrome” da perda da produtividade, com o aumento da área no Brasil para a cana-de-açúcar: 2: Balanço de Produtividade e Área Safra

Produtividade Agrícola

2010/11*

Área Total

100,0

100,0

2011/12

86,7

103,7

2012/13

89,7

104,9

2013/14

96,6

108,6

2014/15

91,1

111,1

2015/16

99,4

107,4

2016/17

93,8

111,1

(*) Índice 100

É exatamente essa a reação essencial que caberá ao produtor brasileiro a partir do momento em que se valoriza a sua produção. Antes da sua aprovação como lei, o RenovaBio era a expectativa do produtor que se via às voltas de crescente volume de importações, sem serem levadas em consideração questões primordiais ao futuro que se espera na matriz energética brasileira: a) Perspectivas e metas, que levam ao investimento e à competitividade; b) Valorização das externalidades positivas dos combustíveis renováveis, via diferentes alíquotas dos novos impostos nos produtos; c) Previsibilidade! Junto com a regulação da lei, que será excepcionalmente importante no sentido da manutenção do seu conceito, vem a responsabilidade do setor privado em competir no mercado, sem amarras ou qualquer exceção. Será, pois, essencial uma boa regulação, com maior participação e responsabilidade do setor privado. n



Opiniões

produtores

um futuro

promissor

Vivemos, atualmente, um momento de expectativas positivas quanto ao futuro do setor sucroenergético no Brasil, porém o caminho a percorrer ainda é longo e com vários desafios a serem superados. O preço da gasolina no mercado interno, na última década, manteve-se abaixo da cotação internacional, penalizando os produtores de etanol brasileiros. Isso é particularmente penoso quando consideramos os vultosos investimentos do setor nos últimos 15 anos, elevando a produção de cana de 300 milhões de toneladas/ safra para 600 milhões de toneladas/safra no período. A construção de novas plantas – a maioria delas, pequenas destilarias autônomas – permitiu dobrar a produção de etanol, passando de 15 bilhões de litros em 1997 para 30 bilhões de litros em 2016.

Enquanto isso, os custos foram fortemente impactados pela inflação setorial, principalmente mão de obra, insumos, equipamentos agrícolas e industriais, além dos desafios inerentes à exploração de novas fronteiras de produção em estados como Goiás e Mato Grosso. Ao longo dos anos, o setor perdeu margens e competitividade graças a uma combinação nefasta: de um lado, uma política equivocada de congelamento de preços e, de outro, o aumento dos custos de produção e logística. Isso contribuiu também para que o endividamento das empresas alcançasse níveis bastante críticos. A crise econômica e política vivida no Brasil desde 2015, com a percepção negativa do chamado risco país, alta de juros e restrição ao crédito de forma geral, trouxe dificuldades adicionais para um setor que já vinha sofrendo com seus próprios fundamentos. Uma vez confirmado o espaço dos biocombustíveis renováveis na matriz energética brasileira, os investimentos necessários para suportar o crescimento da produção de etanol serão expressivos, e o setor deverá voltar a atrair investidores financeiros e estratégicos "

Maria Carolina Ometto Fontanari Presidente do Grupo USJ

Esse ambiente prejudicial, de preços artificialmente baixos e de interferência do governo no mercado de combustíveis, atingiu também a própria Petrobras, que viu seu fluxo de caixa piorar e o endividamento crescer, limitando sua capacidade de investimento. Entretanto, após bons anos enfrentando todo tipo de adversidade, começamos a enxergar um cenário mais promissor baseado nos seguintes pilares: • Metas para redução das emissões GEE (gases do efeito estufa) estabelecidas na COP21, em Paris • Crescimento econômico global forte, demandando commodities de maneira geral • Os preços do petróleo devem operar em patamares mais altos ;



produtores nos próximos anos • Demanda crescente por combustíveis para motores do ciclo Otto (motores a gasolina, etanol, flex ou convertidos para gás natural) no Brasil, acompanhando reação da economia nacional • Política de preços de mercado implantada na Petrobras • Programa RenovaBio, aprovado e em fase de regulamentação. O RenovaBio é uma política de Estado que tem como meta a descarbonização do transporte, com a substituição crescente de combustíveis fósseis (como a gasolina e o diesel) por combustíveis de origem renovável. Alinhado com os compromissos que o Brasil assumiu na Conferência do Clima (COP21) em 2015, o RenovaBio recompensa o produtor de biocombustíveis, estimulando-o ao engajamento nos compromissos ambientais, sem a busca de subsídios públicos. Dois pontos fundamentais guiam o programa: a meta de reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025 (ampliando para 43% em 2030) e ter 18% da matriz energética brasileira composta por energias renováveis. É importante observar que o RenovaBio conta com ampla plataforma já estruturada pela indústria do setor de etanol de cana-de-açúcar, mas abre espaço para o etanol de outras culturas, como milho e sorgo, além de diversas matérias-primas utilizadas na produção do biodiesel. Novos players já estão se posicionado em regiões produtoras de grãos, investindo na produção de etanol a partir de milho e sorgo, principalmente. Entre os pioneiros nessa iniciativa, está o Grupo USJ, por meio de suas operações em joint venture com a Cargill, na SJC Bioenergia, em Goiás. A Usina São Francisco, em Quirinópolis, foi pioneira ao conceber uma planta flex, que permite a utilização de cana e de grãos (milho e sorgo) para produzir etanol, fibra, proteína e óleo de milho. Para tanto, a SJC Bioenergia tem, na planta da Usina São Francisco, uma unidade de processamento de grãos operando desde 2016. Sua capacidade é de processar 1,6 mil toneladas de milho por dia, o que equivale ao faturamento anual de uma destilaria tradicional que processa 2 milhões de toneladas de cana por safra. Esse é apenas um exemplo de como é possível ganhar competitividade e melhorar a rentabilidade dos ativos, que passaram a operar praticamente o ano todo. Uma vez confirmado o espaço dos biocombustíveis renováveis na matriz energética brasileira, os investimentos necessários para suportar o crescimento da produção de etanol serão expressivos, e o setor deverá voltar a atrair investidores financeiros e estratégicos, abrindo espaço para consolidações, fusões e aquisições. Como referência da magnitude desse programa para aumentar a capacidade industrial para produzir todo o etanol previsto até 2030, seria necessário um investimento da ordem de R$ 100 bilhões.

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Gerar emprego e renda no campo, potencializar a indústria de máquinas e equipamentos para atender a novas plantas e fomentar novas tecnologias serão outros benefícios do RenovaBio, além dos ambientais. Ainda há necessidade de um decreto que determine as responsabilidades de ministérios, agências de fiscalização e outros agentes envolvidos no processo, especialmente no que diz respeito a regulamentações. Tendo essas definições, certamente o programa caminhará sob uma ótica mais técnica e comprometida, reduzindo a influência política e governamental. Uma das ferramentas que trará amadurecimento e dinamismo ao sistema é a adequada valorização dos Créditos de Descarbonização de Biocombustíveis (CBios). Isso vai elevar a sustentabilidade dos processos, estimulando a capacidade produtiva e a aplicação de novas tecnologias para ganhos de eficiência. Aí sim poderemos enxergar um cenário em que o setor retome sua competitividade de forma sustentável. Na visão de curto prazo, pode-se concluir que, para que o mercado volte a ser promissor para o setor sucroenergético, são fundamentais os preços sustentados de petróleo e a manutenção da política atual de preços da Petrobras. Em um momento em que o mercado internacional de açúcar está com intensa oferta, levando à redução de preços, as usinas devem destinar mais cana para a produção de etanol, ainda sem a necessidade de expansão do canavial. Olhando para o futuro, com o RenovaBio entrando em vigor em 2020, estamos novamente diante de uma perspectiva de demanda muito positiva para o etanol, e as empresas refletirão isso em seu planejamento estratégico para os próximos anos. Entraremos, então, na fase de expansão da capacidade produtiva, assim como no desenvolvimento de novas tecnologias, buscando os ganhos ambientais que serão valorizados através dos CBios. Vale lembrar que esse crescimento vem acompanhado também de maior oferta da energia elétrica gerada a partir da biomassa (bagaço + palha da cana). Com essa plataforma estabelecida, é possível considerar que o Brasil será capaz de acompanhar a evolução de novas tecnologias: inicialmente, com o ganho de eficiência dos motores a combustão flex, passando pelo híbrido flex e, posteriormente, quem sabe, à tão esperada célula de combustível movida a etanol. Por fim, é inegável que o setor vive um momento de reconhecimento das suas competências e contribuições, figurando como um importante player para que o País continue sendo referência na baixa emissão de CO2 por habitante e assegurando ao Brasil a posição de matriz energética mais limpa do mundo. n


Opiniões

fazendo a

lição de casa

O ano de 2017 terminou com uma boa notícia para o setor sucroenergético. A aprovação da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) no Congresso Nacional. O programa reforça não somente os atributos e diferenciais ambientais do etanol e da bioeletricidade, como chancela a importância que o Brasil dará nos próximos anos para a bioenergia, dentro da matriz energética nacional, em linha com os compromissos assumidos no Acordo de Paris (COP21) para a redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. Enquanto ainda são discutidos os próximos passos a serem dados para a implantação do programa, a indústria sucroenergética tem a obrigação de continuar fazendo a lição de casa. Que me perdoem o trocadilho, mas não podemos encarar o RenovaBio como a “salvação da nossa lavoura”. O setor sofreu demasiadamente nos últimos anos com a ausência de políticas públicas claras que culminaram no fechamento de dezenas de usinas e, consequentemente, de milhares de postos de trabalho.

o panorama positivo de crescente demanda mundial por combustíveis limpos e renováveis, para fazer frente aos combustíveis fósseis, abre a possibilidade de novos investimentos no setor "

Celso Luiz Tavares Ferreira

Vice-presidente de Operações e Engenharia da Atvos

É preciso manter os pés no chão para prosseguir a produção com total concentração na excelência e na sustentabilidade das operações, no controle dos custos e na segurança das equipes e instalações, além da qualidade dos produtos, já reconhecida mundo afora. Mesmo diante das adversidades impostas nos últimos anos,

provamos nossa capacidade de entrega e de superação. Avançamos muito no que diz respeito ao uso e à aplicação de novas tecnologias, e isso, sem sombra de dúvidas, está diretamente relacionado aos fatores mais importantes de um setor de commodities: produtividade, competitividade e equipes engajadas. A Atvos completou 10 anos de atuação em 2017. A empresa produz, por safra, cerca de 2 bilhões de litros de etanol, 600 mil toneladas de açúcar VHP e 3,1 mil MWh de energia elétrica a partir da biomassa. Como responsável pelas operações da empresa, posso dizer que tivemos que superar os mais diferentes desafios nesse período, até nos tornarmos uma das referências nas novas fronteiras agrícolas do Brasil. E isso só foi possível graças a uma gestão empresarial que visa à excelência de performance e tem visão de longo prazo no setor. A Atvos sempre acreditou na recuperação do setor e seguiu seu plano de investimentos, contando com o fortalecimento da disciplina operacional e a aplicação das avançadas tecnologias disponíveis em todo ; o processo produtivo.


produtores No meu entendimento, a palavra-chave para o êxito nas operações agrícolas, industriais e de manutenção é planejamento: buscamos sempre consolidar nosso planejamento como um pilar para sustentação das alavancas de produtividade. Produtividade no campo: Na área agrícola, temos um foco muito grande na busca incansável pela qualidade, nas mais diversas frentes de atuação. Planejamento agrícola, preparo adequado do solo, utilização de mudas sadias e adaptadas às regiões em que estamos presentes são alguns exemplos dos ganhos de produtividade no campo que corroboram para os resultados que perseguimos. Aliamos isso ao uso de tecnologias avançadas e mais eficientes, como piloto automático, Veículos Aéreos não Tripulados (Vants) e plantadoras automatizadas, que, associadas à formação das equipes, transformam a estratégia pensada em realização no campo e nos resultados. Com o manejo varietal, por exemplo, buscamos aprimorar e racionalizar a distribuição das variedades pelo canavial. Para isso, selecionamos variedades adaptadas à diversidade de clima e solos das nossas unidades e, assim, melhorar a qualidade e produção do canavial. Ter mudas sadias e com qualidade também é uma prioridade e uma condição sine qua non para sustentar uma lavoura produtiva e longeva. Nesse sentido, fornecer nutrientes em quantidades adequadas e no momento correto é fundamental, além do uso de micronutrientes e complementações nutricionais. O que buscamos é a gestão da qualidade e a perenidade de nossos canaviais, por meio de um sistema que garanta a execução das diretrizes técnicas. Posso mencionar ainda a correção de solos, que proporciona que a cultura seja estabelecida em um ambiente onde ela possa expressar seu potencial produtivo, e o manejo de pragas, para monitorar a lavoura e manejar as principais pragas, com ferramentas eficazes e sustentáveis. Tecnologia como aliada: Buscamos estar sempre em linha com o avanço tecnológico e com o que há de mais moderno para o aumento da eficiência do agronegócio. Mantemos permanentemente atenção à evolução tecnológica por meio de parcerias com universidades e empresas provedoras. Já os Vants, por exemplo, utilizados como um importante instrumento de análise para a agricultura de precisão, emprega como matéria-prima a fotogrametria, que apresenta análises topográficas e qualitativas das propriedades do terreno, como declividade, escoamento superficial de água e geração de curvas de nível. Os dados são utilizados no estudo de viabilidade de novos arrendamentos (expansões de terreno), quantificação de falhas de plantio ou colheita, presença de ervas daninhas na produção e anormalidades do ciclo pós-colheita.

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Opiniões Todos os arquivos captados são processados pelo sistema de inteligência, que geram materiais de apoio técnico e darão suporte na tomada de decisão local para a safra. Os satélites, outra ferramenta tecnológica importante, permitem uma precisão de alcance de 5 metros, suficiente para análise real do desenvolvimento da lavoura e condições da vegetação e do solo. A tecnologia também possibilita o acompanhamento de anormalidades climáticas, como geadas, e controle ambiental. As informações chegam até 48 horas após a captação e nos dão condições de comparar o antes e o depois, o que é muito valioso para nosso trabalho. Como complemento e para garantir os resultados positivos nas atividades que envolvem o plantio de cana, a Atvos utiliza um sistema de gestão da qualidade que monitora diariamente a operação para identificar eventuais desvios e corrigi-los rapidamente. Estratégias industriais: Um setor em constante transformação utiliza diferentes soluções para trazer ao mercado produtos competitivos e de qualidade . Na área industrial, podemos listar uma série de medidas adotadas para a otimização de nossos processos. Uma delas é o controle avançado de processos por meio da Lógica Fuzzy e de redes neurais, que já nos trouxeram ganhos significativos em eficiência energética nas nossas unidades. O conceito de inteligência artificial permite o autoajuste e a antecipação de desvios a partir do conhecimento do comportamento dos processos. Outro avanço é a adoção de camisas de moenda com sistema de alta drenagem. Todas as unidades agroindustriais da Atvos contam com essa melhoria tecnológica, que permite a redução da umidade do bagaço e o aumento do seu rendimento para a exportação de energia elétrica. Também em busca de uma maior otimização energética, estamos analisando a compressão de valor de baixa pressão. Esses são alguns exemplos que dão as condições necessárias para aumentarmos nossa competitividade e, assim, fazer frente aos desafios. Novos horizontes: A aprovação do RenovaBio deixou claro o protagonismo que a bioenergia terá nos próximos anos e, definitivamente, coloca o etanol na agenda global de sustentabilidade. Esse panorama positivo de crescente demanda mundial por combustíveis limpos e renováveis, para fazer frente aos combustíveis fósseis, abre a possibilidade de novos investimentos no setor. Cabe a cada player se preparar para esse novo momento dentro da estratégia mais adequada para seus planos de negócios, sem deixar de lado a busca incessante pela produtividade e pela redução de custos. O futuro começa agora. n



produtores

por um crescimento mais

sustentável

O setor sucroenergético é, essencialmente, fornecedor de commodities ao mercado, que tem, na homogeneidade do produto, sua característica principal. Por isso, há um risco associado, principalmente, pela variação de preços provocados pela condição de oferta e de demanda global ou pelos fluxos de capitais especulativos nos mercados financeiros onde esses preços são formados.

Uma boa condição de caixa propicia também um melhor planejamento do mix de produção e de vendas durante todo o ano, otimizando os resultados. Além disso, é importante utilizar a flexibilidade de produção que a cana-de-açúcar propicia, trabalhando com um maior portfólio de produtos, maximizando as oportunidades de cada mercado. Muitas usinas, mesmo durante a crise, se esforçaram com investimentos na diversificação da produção para produzirem os três produtos: açúcar, etanol e bioeletricidade, e hoje estão colhendo bons frutos.

A história do setor sucroenergético no Brasil é extensa, mostra a resiliência e a capacidade de adaptação aos novos desafios e as tendências da economia. "

Robert Carlos Lyra

Presidente da Delta Sucroenergia

Quando se fala em commodities de origem agrícola, há também um risco climático, que eleva ainda mais a imprevisibilidade do mercado. Assim, dentro desse cenário, a busca de excelência na gestão do negócio é de extrema importância para minimizar o efeito de variáveis, de certa forma, incontroláveis. Pensando no dia a dia do negócio do setor sucroenergético, é essencial, para um bom resultado, apresentar algumas condições básicas de gestão. Inicialmente, é preciso ter um caixa robusto e uma boa política de risco, para minimizar os efeitos das flutuações de preços. Muitas usinas entraram em colapso financeiro nos últimos anos por não trabalharem ou não conseguirem manter esses pilares na gestão.

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Mais recentemente, a necessidade de profissionalização do setor e a elevação do risco setorial, em função do alto nível de endividamento, levou à implantação de modelos adequados de governança, essenciais para redução da percepção de risco da empresa por parte do mercado. Os efeitos não são apenas externos, uma boa governança otimiza também o resultado operacional, com regras claras de gestão, liderança, metas e agilidade das informações, auxiliando na busca do melhor resultado. Outro ponto, também mais recente, refere-se à área de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). A cultura da inovação, apesar de ser ainda incipiente no setor, será essencial para levá-lo ao futuro, sendo necessário ter um olhar especial sobre as novas tecnologias e os seus usos. A atividade canavieira passou por uma intensa mecanização nos últimos anos, novos sistemas produtivos estão sendo desenvolvidos, e novas variedades prometem revolu; cionar a cana-de-açúcar nos próximos anos.


Opiniões Além disso, a nova revolução tecnológica, já realidade em toda a economia, traz excelentes oportunidades no campo da automação e da digitalização dos processos, gerando um universo de dados que podem auxiliar numa gestão mais eficiente. É preciso produzir com mais eficiência ao menor custo possível. Os desafios são imensos, cada empresa possui suas particularidades, mas não se pode mais pensar o futuro do setor sem uma produção eficiente e competitiva. Contudo, apesar de essencial, ser competitivo da porteira para dentro pode não trazer o resultado sustentável tão necessário à manutenção nesse mercado. Há uma série de desafios fora da indústria ou da área de atuação geográfica da unidade produtora, que precisa ser considerada estratégica ao negócio do setor para seguir em frente. São desafios de ordem institucional e de mercado que precisam continuar a fazer parte da agenda setorial. A diversificação da produção do setor possibilitou trabalhar em diversos mercados com peculiaridades bem distintas. O açúcar trouxe o segmento até aqui, é um produto que está enraizado na cultura do brasileiro, uma das mais diversificadas e saborosas culinárias do mundo. O País exerce e continuará exercendo a posição de liderança mundial, mas é preciso olhar os ganhos de competitividade de alguns países concorrentes, que servem como alerta e incentivo à nossa produção. Além disso, a diplomacia brasileira, em parceria com o setor privado, precisa continuar a fazer o trabalho de defesa e abertura de novos mercados. Em muitos países, há uma tendência forte à preferência do açúcar de cana em detrimento de outras formas de adoçantes. Não se pode esquecer que, praticamente, um terço do açúcar produzido é vendido no mercado doméstico. O Brasil é um dos poucos países que têm o preço do produto interno no mesmo patamar do mundial, um insumo importante e a baixo custo para a indústria alimentícia brasileira, além dos diversos outros usos. Por outro lado, não se pode negligenciar a crítica e a vilanização que ocorre hoje com o açúcar, sendo necessário enfrentar o problema e mostrar também seus benefícios e as incertezas acerca dos seus substitutos. A bioeletricidade recebeu um forte impulso a partir de 2001 e possui importância imensa na diversificação, planejamento, resultado financeiro e eficiência energética das empresas. Há ainda um grande potencial a ser explorado; muitos produtores não se conectaram ao sistema elétrico, e a grande dispersão dos índices de produção por tonelada de cana demonstra que há um potencial ainda muito grande a ser explorado pelas empresas.

O mecanismo de leilão se mostrou eficaz no planejamento de implantação ou repotenciação das plantas produtoras, mostrando que, quando é apresentado um preço justo, o setor responde rapidamente. O desenvolvimento da produção e do uso do etanol no País possibilitou o setor sucroenergético brasileiro ser mais competitivo perante os concorrentes no mundo, além do fator importante para a segurança energética brasileira. Com a acentuação das mudanças climáticas no planeta e o aumento da preocupação ambiental, os biocombustíveis ganharam importância em substituição ao petróleo como mecanismo de mitigação de emissão de gases de efeito estufa. Contudo, o histórico de comercialização do produto ainda impede que as empresas consigam transformar essa capacidade de descarbonização em receita adicional e em incentivo à sua produção. Nos últimos anos, diversos estados produtores, em reconhecimento ao forte desenvolvimento econômico trazido pelo setor às regiões produtoras, implantaram políticas públicas que possibilitaram o aumento do consumo de etanol no mercado interno, alavancadas pelo sucesso das vendas dos veículos flex. Contudo, o etanol que, na média dos últimos anos, representou mais da metade do mix de produção setorial, ainda padecia de uma política que trouxesse uma maior previsibilidade ao mercado. O recém-aprovado programa RenovaBio promete trazer maior previsibilidade, ancorado na capacidade dos biocombustíveis de descarbonizar a matriz de transporte do Brasil, ajudando o País a cumprir os compromissos assumidos no acordo climático de Paris. Esses são cenários que mexem com a expectativa dos players do setor. Os desafios são inúmeros e, por esse motivo, é preciso buscar, a cada dia mais, competitividade. O setor lida com concorrentes ágeis e de indústrias influenciadoras e definidoras de tendências. Não é fácil concorrer com a indústria do petróleo, ou mesmo trabalhar com mercados fechados e altamente protecionistas. Outras formas de produção têm ganhado relevância, o etanol de milho americano, ou mesmo o brasileiro, e o açúcar de beterraba europeu são exemplos. Na produção de energia, as fornecedoras de solar e eólica têm ganhado relevância no discurso e na concorrência nos leilões. A história do caro elétrico ganha força no mundo, mas é preciso torná-la transparente. A história do setor sucroenergético no Brasil é extensa, mostra a resiliência e a capacidade de adaptação aos novos desafios e as tendências da economia. Aumentar a competitividade e melhorar a gestão das empresas é condição necessária frente à nova realidade. O sucesso do RenovaBio pode dar um grande impulso nessa geração. n

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produtores

Opiniões

nosso solo é sagrado O Brasil continua sendo um lugar de oportunidades de negócios rentáveis. Mas, na contramão do desenvolvimento, velhos problemas, como insegurança jurídica, falta de infraestrutura, excesso de burocracia e tributação, volatilidade política, contas públicas com déficit estrutural, entre outros, continuam a fazer parte do nosso dia a dia. Faz-se necessário contextualizar esse ambiente para entender que risco baixo e vida fácil para o investidor que aceita investir no País não existem! Na atual conjuntura, o Brasil convive com turbulência no ambiente de negócios. São questões como o hating do País, o custo do capital, a indústria das ações trabalhistas e a carência de programação e de planejamento de médio e de longo prazo público institucional. O fato é que, infelizmente, a grande maioria das medidas aprovadas, capitaneadas pelo Estado, tem caráter imediatista, com ações corretivas, de baixa eficiência e que não focam na melhoria da competitividade. Da mesma forma, isso pode ser observado com o Congresso Nacional, cujo custo é altíssimo para a sociedade. É fundamental efetivar as reformas política e previdenciária, além de outras, para que o custo Brasil seja minimizado, no atual ou no próximo governo.

ocasião em que o RenovaBio foi apresentado ao mundo. O programa, elogiado pela vanguarda, estruturação e sistema baseado em eficiência energética, visa fomentar a redução dos efeitos das emissões de carbono. A iniciativa possui semelhanças com os fundamentos do programa americano que regulamenta o sistema de uso de etanol nos EUA. Este, por sinal, opera há mais de uma década com sucesso. Agora, iniciamos o desafio da regulamentação do RenovaBio. Para tanto, é imprescindível que seja assegurada a construção de metodologias que afiancem a valorização da “pegada de carbono” dos combustíveis renováveis em relação aos fósseis, com mecanismos de mercados eficientes para valorização econômica. E, ainda, seja criado um “modelo à prova de balas”, com regras para evitar fraudes e com punições severas para infratores, a fim de se instituir um ambiente de negócios ético. A cadeia sucroenergética brasileira é estratégica e economicamente importante para o Brasil; gera milhares de empregos, bilhões em faturamento, arrecadação de impostos, capilariza desenvolvimento para o interior do País e merece, sim, um ordenamento adequado. É um setor que carece de um tratamento justo, defi-

O fato é que, infelizmente, a grande maioria das medidas aprovadas, capitaneadas pelo Estado, tem caráter imediatista, com ações corretivas, de baixa eficiência e que não focam na melhoria da competitividade. "

Luciano Sanches Fernandes Presidente do Conselho Administrativo da Cerradinho Bioenergia

Ao observarmos esse cenário, traçamos um paralelo com as demais nações mundiais que têm políticas alicerçadas em ações sustentáveis e voltadas para a descarbonizarão do planeta. Nesse quesito, pelo menos, o Brasil tem se destacado pelos pactos em prol do meio ambiente: em Paris, em 2015, e, recentemente, em 2017, em Bonn, na Alemanha,

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nido em um conjunto de regras e obrigações para dar maior tranquilidade ao investidor, preservar a segurança energética do País e fornecer garantia de abastecimento ao consumidor. Resumindo: é essencial prover as condições básicas para a sustentabilidade, criar instrumentos de direcionamentos modernos e ; manter a eficácia da cadeia produtiva.



produtores Essas regulações do RenovaBio serão as regras do jogo que o investidor deverá conhecer. A partir daí, ele deverá definir se aceita investir o seu capital, sempre tendo em mente a que estágio o País quer chegar com a sua política energética, considerando as participações de cada combustível e biocombustível. Não podemos investir em empreendimentos que serão sucateados em futuro breve; isso custa muito caro à sociedade e ao País. Temos, sim, que construir parques de produção eficiente, longevos e alinhados com interesses comuns e que perpetuem geração de riqueza produtiva para esta nação. É preciso pontuar que as regras do RenovaBio não serão inflacionárias e deverão regular todos os combustíveis. São baseadas em aumento de eficiência de toda a cadeia produtiva e na redução de custos. Isso quer dizer que somente os eficientes receberão os diferenciais econômicos mais significativos na precificação de seus certificados de carbono. Será a partir da meta de descarbonização que o Brasil definirá os índices de emissões a serem atingidos. Dessa equação, sairá o racional econômico para calibrar e direcionar a atratividade financeira dos créditos de carbono, onde o mercado deve funcionar e se autoajustar. Pelo lado econômico, o mundo segue com crescimento de forma consistente, inflação baixa e com previsão de manutenção desse cenário. A consequência disso é o aumento da demanda para alimentos e energia. Ao somarmos a esse panorama uma previsão de preços de petróleo sustentados com médio viés de alta, o conjunto corrobora de forma positiva para o setor de bioenergia. Não é difícil visualizar o sucesso e a pujança da cadeia de etanol de milho integrada do meio oeste americano. Foi construída a partir de uma política bem estruturada e mantida com sustentabilidade, reconhecimento da sociedade local e de todos seus stakeholders. São bilhões de dólares girando ao redor da produção de milho nas fazendas e nas indústrias de etanol, com produção de óleo de milho bruto e uma logística das mercadorias, inclusive, com produção de ração animal (DDG) e, consequentemente, de equipamentos industriais e agrícolas. É sensacional a demonstração de capacidade de organização, produção e eficiência. Sem sombra de dúvida, um exemplo a ser seguido por qualquer país deste planeta. Em pouco mais de uma década, os EUA já ultrapassaram a capacidade de produção de etanol de cana em relação ao Brasil. Quem diria? Sem falar que contam também com capacidade instalada capaz de exportar significativos volumes. Hoje em dia, já existe certa escassez de investidores que querem empreender em economia real ou de produção. Isso deve ser levado em conta pelo Estado e pelas agências reguladoras, para que seja pavimentado um caminho atrativo para quem está disposto a segui-lo, o que, por sinal, não são muitos. Vale destacar a necessidade de evolução da produtividade agrícola da maioria dos canaviais brasileiros, assim

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como um avanço combinado nas unidades industriais com a maximização da cogeração de energia elétrica, aumento das eficiências energéticas e produtividade, tanto industrial como agrícola. A carência de variedades transgênicas capazes de alavancar os níveis de produtividade agrícola também tem contribuído para o atraso nesse processo de evolução. Temos visto unidades e grupos adotando manejos de solo inadequados para reduzir custos de implantação do canavial e facilitar a colheita mecanizada da cana. Essas práticas têm provocado erosões, arraste de solos e, inclusive, afetado Áreas de Preservação Permanente (APPs), nascentes, rios e córregos. Tais atitudes são contrárias ao grande viés de uma descarbonização ambientalmente correta. Dessa forma, urge que se tomem providências para que isso não mais ocorra, sob pena de essas unidades ficarem fora do RenovaBio. Na região de Catanduva, onde resido, tenho observado essas práticas e os consequentes desastres ambientais causados; realmente lamentável. Nosso solo é sagrado e assim deve ser tratado! Minha visão sobre o carro elétrico é a de que ele não é eficiente como vem sendo apresentado; sob o aspecto “pegada de carbono” (emissões), deve ser analisada toda a cadeia de produção da energia elétrica utilizada nos veículos e não somente a do sistema de funcionamento dos motores a partir do auto; além disso, é preciso considerar as externalidades negativas relativas à produção e descarte das baterias utilizadas. Imperativo saber que o carro elétrico tradicional não é mais eficiente que o atual carro flex a etanol nas emissões, quando analisada sua cadeia completa. Esse tipo de carro é eficaz em países que possuem uma infraestrutura robusta, dotada de pontos de abastecimento ou recarga elétrica, e também para aqueles que não detêm cadeia de extração e refino de combustíveis fósseis e/ou produção de biocombustíveis em escala competitiva. Excelente na redução das emissões, o carro híbrido a etanol parece fazer muito mais sentido econômico (custo do veículo) aos brasileiros. Esse modelo é o que deverá prevalecer em nosso país. A sinalização do Brasil para o mundo com a constituição do RenovaBio, a economia entrando em ciclo positivo, os juros mais baixos, a aprovação de medidas direcionadas às reformas necessárias para resolver parte dos problemas nacionais e o cenário geral otimista têm começado a atrair capital estrangeiro para o setor sucroenergético. De forma mais contundente, vemos também o anúncio de investimentos em novas unidades destinadas à produção de etanol de milho no Centro-Oeste, indicando um volume adicional importante e complementar ao etanol produzido a partir de cana. Enfim, parece claro que estamos em um ambiente de negócios melhor. Vamos torcer para que os futuros governo e titulares do Congresso Nacional se comprometam com a agenda de reformas para o País e que o RenovaBio seja regulamentado com a eficácia de que o Brasil necessita. n


fornecedores de cana

Opiniões

senso e equilíbrio:

passaporte para a sustentabilidade Nos últimos dez anos, nosso setor viveu problemas e dificuldades que vão desde o acesso ao crédito, a partir da crise de 2008, passando por políticas públicas equivocadas e inconstantes, problemas climáticos, como a grande seca de 2014 e geadas em diversas regiões, até a rápida transformação do sistema de produção, com a mecanização da colheita e plantio. Isso tudo sem falar na questão de infraestrutura e logística do País, aumento da carga tributária, legislação trabalhista e insegurança jurídica, que, apesar do Novo Código Florestal, ainda persistem em algumas instâncias.

Nosso modelo de valoração pode ser considerado um sucesso na sua implantação, mas passa da hora de modernizar e flexibilizar as regras para remuneração de cana do Consecana "

Paulo de Araujo Rodrigues

Diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel

A soma desses fatores afetou nossa capacidade de produção, investimento e inovação, aumentou o endividamento do setor e provocou o fechamento de dezenas de unidades industriais e a saída de muitos agricultores da atividade. Pior, com a redução da produtividade e o aumento de custos, perdemos nossa competitividade em relação a outros países produtores, a capacidade de atrair novos investidores, e, como consequência, a estagnação ; da oferta de ATR.


fornecedores de cana Tudo indica que a safra 2018/2019 deverá ser menor que a atual, com menor produtividade, canaviais mais velhos e falhados, castigados pelo longo período de déficit hídrico, que se estendeu de meados de fevereiro a novembro de 2017, nas principais regiões produtoras do País, e ainda mais dependentes das chuvas de março e abril. Por outro lado, não existem, no momento, sinais de recuperação significativa de preços para nossos principais produtos. Ou seja, teremos outro ano de margens apertadas, com baixo nível de investimento e sem conseguir reduzir o endividamento. Apesar de tudo, ao final de 2017, tivemos alguns pontos positivos, como a Reforma Trabalhista. Ela deverá melhorar as relações de trabalho e dar mais segurança jurídica à medida que o exercício trouxer pacificação para os pontos ainda polêmicos e possibilitar redução de custos para o setor, sem redução de remuneração dos trabalhadores, a aprovação do projeto para renegociação das dívidas e a redução da alíquota do Funrural. Os indicadores econômicos apontam para a retomada gradativa da atividade econômica, indicando aumento de consumo dos brasileiros, com efeito positivo para o setor nas vendas de etanol e, já quase nos acréscimos, o RenovaBio, que, nos próximos anos, deverá incentivar os produtores a serem mais eficientes, dar maior previsibilidade e credibilidade para o setor, viabilizando a retomada de investimentos e a atração de novos capitais. Isso, claro, se as regulamentações e normas forem devidamente discutidas, implantadas, e o programa for traduzido em ganhos para todos na cadeia produtiva, assim como para o Brasil. Esses pontos podem ser o início da retomada do crescimento sustentado do setor sucroenergético, aumentando ainda mais o protagonismo na economia brasileira e mundial e consolidar nossa liderança na produção de energia renovável e de alimentos, contribuindo para o País não só com a geração de emprego, renda e saldo na balança comercial, como também para atingir as metas de redução de emissões previstas no acordo de Paris. Mas, sem ilusões, muito ainda terá de ser feito! Dentro das fazendas, precisamos aumentar a produtividade dos nossos canaviais em quilogramas de ATR pela área total de produção e não somente pela área colhida. Isso significa mais toneladas por hectare, mais ATRs por tonelada e menor área de reforma, para sair, em pouco tempo, das 9 a 10 toneladas de ATR por hectare total para, pelo menos, as 15 toneladas de ATR que já estão sendo produzidas com beterraba na Europa. Para isso, precisamos consolidar os sistemas mecanizados de plantio e de colheita, incorporar agricultura de precisão, piloto automático e sistemas inteligentes na gestão da atividade agrícola,

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Opiniões intensificar os sistemas de rotação, sucessão e consórcio de culturas com a cana, rever nossos conceitos de nutrição e manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, aplicar insumos modernos e controle biológico de forma integrada e melhorar a qualidade da muda com MPB, meiosi e cantosi, multiplicando novas variedades desenvolvidas pelos programas de melhoramento. Tudo isso sem esquecer a renovação de frota motomecanizada envelhecida e, principalmente, treinar e capacitar pessoas envolvidas em todos os processos. Só assim conseguiremos reduzir custos unitários de produção e voltar para o jogo, de forma competitiva. Embora pareça simples e seja uma receita que todos conhecem, chamo a atenção para dois fatores fundamentais. O primeiro é o apoio e o financiamento à pesquisa. Alguns segmentos, como o melhoramento varietal, podem ser resolvidos com adequadas políticas de cobrança de royalties, baseados nos incrementos de produtividade e de renda. Para outras áreas, deveríamos desenvolver um sistema integrado de pesquisa, liderado por um fórum, composto por produtores de cana, indústrias, fornecedores de máquinas e de insumos e pesquisadores, responsável pelo levantamento e gestão de recursos públicos e privados que seriam aplicados de forma coordenada, atacando os principais gargalos da nossa atividade com foco em resultados. Uma verdadeira rede compartilhada que poderia maximizar o uso dos sempre escassos recursos financeiros, como tê'm defendido alguns especialistas e pensadores do setor. A pesquisa é a única maneira de continuar aprendendo, melhorar os processos e buscar técnicas e insumos inovadores, capazes de contribuir, de maneira continuada, para o aumento da produtividade. A outra questão é a remuneração da cana, pilar da relação entre produtores de cana e indústria, que, num setor moderno e sustentável, deve ser equilibrada e transparente. A Orplana tem apresentado estudos que mostram uma defasagem no cálculo do valor do ATR na ordem de 14,96%, mas a revisão do sistema não progride como programado. Nosso modelo de valoração pode ser considerado um sucesso na sua implantação, mas passa da hora de modernizar e flexibilizar as regras para remuneração de cana do Consecana, respeitando características regionais e individuais, reconhecendo as qualidades e a eficiência de cada produtor. Sem renda adequada, toda essa discussão é inútil, e não há futuro para o produtor de cana, cada vez mais pressionado pelo aumento de custos e da complexidade do sistema de produção. n


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fornecedores de cana

acreditar, raciocinar e participar da

evolução do sistema

O setor sucroenergético, mesmo antes da sua modernização, vem, há décadas, passando por alterações em um sobe e desce de preços, valorizações e técnicas como se vivêssemos em um sistema de ondas. Nesses tempos cíclicos, vivenciamos períodos de euforia e de crises, que, ultimamente, parecem apenas se alternar entre maiores e menores, resultando em grande volatilidade nacional e internacional, tanto dos preços da matéria-prima quanto dos bens industrializados. Essas variações, nos últimos tempos, têm representado muito mais ônus do que bônus, tendo levado no setor diversas unidades produtoras e grupos econômicos a uma frequente troca de “mãos”, fechamento, hibernação, recuperação judicial, entre outras consequências. Até o início da década de 1990, o setor canavieiro tinha o controle do Estado nas cotas de produção de açúcar e no preço da cana, que era pago apenas por tonelada. No governo Collor, houve o fechamento do IAA e a desregulamentação do setor, que, desde então, passou a experimentar as variações que o mercado trouxe com o novo sistema de remuneração da cana-de-açúcar, que, no momento, requer novas evoluções em função do modelo atual dessa produção. Ainda na criação do Proálcool, em 1975, esse programa se apresentou como um grande salto para o crescimento e a modernização do setor, levando à expansão dos canaviais para regiões de solos de baixa fertilidade, tendo como consequência natural a queda da produtividade por área. Também a chegada das chamadas “multinacionais” no setor, há duas décadas, parecia um avanço em todos os sentidos, mas, apesar dos novos produtos e das novas tecnologias, não houve um aumento expressivo da produtividade, que, por razões diversas, até retrocederam em várias unidades. a falta de experiência de novos grupos no setor, valorizando e priorizando o setor pela indústria e, em segundo plano, a lavoura, levou ao insucesso de alguns e à retração de outros "

Luiz Carlos Dalben

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Presidente da Agrícola Rio Claro

Dentre outras razões, em minha opinião, a falta de experiência de novos grupos no setor, valorizando e priorizando o setor pela indústria e, em segundo plano, a lavoura, levou ao insucesso de alguns e à retração de outros. É sabido, há muito tempo, que o maior custo e o mais problemático nesse segmento é produzir a cana-de-açúcar, sempre muito sujeita, entre outras dificuldades, às intempéries, o que a torna um farto campo de erros na aplicação correta das técnicas para implantação e condução dos canaviais. Quando olhamos para a lavoura canavieira pensando no produtor, vemos a grande dificuldade em absorver a crescente elevação dos custos, a própria modernização dos equipamentos para condução da lavoura, como, por exemplo, as colhedoras de cana e o cumprimento de legislações, como a ambiental, que eliminou a queima da cana. Esses fatores causaram uma forte redução no número de produtores e de fornecedores da matéria-prima, os quais, por não terem escala, não conseguiram viabilizar novas práticas obrigatórias, como a mecanização do plantio e da colheita. Parece um contrassenso afirmar, mas a tecnologia para não utilização de mão de obra foi um dos grandes entraves para os pequenos produtores de cana, que passaram a depender de uma “terceirização” ou de um novo sistema de comercialização com as usinas. Como consequência, muitos estão desistindo da atividade, e outros, partindo para arrendamentos de suas terras. ;


A produção de cana-de-açúcar, cada vez mais, mostra que a escala tem seus limites nas duas extremidades. O possível sucesso na produção de cana está alinhado, entre outros itens, com a qualidade dos serviços executados, os custos de produção e o acesso e o uso correto de novas tecnologias disponíveis, fundamentais para alcançar o aumento da produtividade por área. Lembramos que concorremos, atualmente, com países que não têm a mesma conduta que o Brasil em valor de impostos e legislação, seja ambiental, trabalhista ou outras, como as NRs. Não estamos dizendo que não devemos cumpri-las, mas sentimos haver um certo exagero. A concorrência nesses itens nos coloca em situação de desigualdade com outros países produtores para um mesmo produto exportado mundialmente. Estamos em um país com dimensões continentais, que tem aptidão para o agronegócio e a produção de cana-de-açúcar, principalmente no Centro-Sul. Produzimos, com todas as dificuldades estruturais, um combustível limpo e uma energia elétrica, também limpa, a partir da biomassa, que, com certeza, irão beneficiar futuras gerações. Geramos emprego, renda e desenvolvimento, tanto no campo agronômico como na indústria de máquinas e de equipamentos, de insumos, entre outras.

O Brasil firmou o acordo de Paris, a COP21, e, com esse compromisso, devemos diminuir a emissão de GEE em 37% até 2025, em relação às emissões de 2005. Somos reconhecidos pelo maior e mais completo programa de biocombustível do planeta através do etanol, isso sem interferir em expansão de áreas cultiváveis e na produção de alimentos. Nesse item, cabe aos órgãos governamentais, às montadoras de veículos automotores e à sociedade a real valorização dos combustíveis limpos e renováveis, através de suas atitudes proativas. A cana-de-açúcar, por ser uma planta C4, é uma das culturas que, em sua fase de crescimento, mais sequestra carbono da atmosfera de forma natural, contribuindo para minimizar o efeito dos GEE. Com a viabilização do RenovaBio, abriu-se a oportunidade de uma agenda de reedição de um Proálcool mais maduro, com muita experiência vivida pelo setor para traçar caminhos com menores obstáculos e com mais informações para superá-los. Nos resta dizer que o sucesso do setor vai depender do comprometimento em cada segmento produtivo dessa cadeia e, principalmente, de uma política de governo em todos os níveis, que compartilhem e participem ativamente desses resultados, para garantir a manutenção e a expansão sustentável, econômica e social. n

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sistema bancário

projeções Em 2030, para atender ao compromisso assumido no acordo de Paris (COP21), será necessário ao Brasil aumentar o consumo interno de etanol para cerca de 48 bilhões de litros por ano. Esse número é factível? Temos condições de atingi-lo? Quais são os principais estímulos e principais entraves para isso? Todos que mantêm vivos na memória o período de euforia com o setor sucroenergético na primeira metade da década passada e o período de profunda depressão no início dessa década sabem como é difícil fazer previsões sobre esse setor. Mesmo com essa ressalva, alguns fatores que analisaremos abaixo levam-nos a crer que, dificilmente, tal produção será atingida. Considerando que a demanda de açúcar deve continuar crescendo a uma taxa estável entre 1,5% e 2% ao ano, o estímulo ao crescimento do setor terá que vir do aumento da demanda por etanol. Por esse lado, a perspectiva é, sem dúvida nenhuma, muito boa. Prevemos maior crescimento econômico para os próximos anos, o que estimulará o aumento da frota de veículos e o aumento do consumo de combustíveis de ciclo Otto. Projeções da Bioagência estimam que, para um crescimento médio do PIB de 2,5%

ao ano, o consumo de combustíveis de ciclo Otto, em gasolina equivalente, aumentaria, em média, 3,94% ao ano. O fato de o Brasil não ter capacidade de refino para produção de gasolina na quantidade necessária para atender a tal demanda faz com que as únicas alternativas sejam a importação desse combustível ou o aumento da produção de etanol. Ponto para o setor! Pelo lado da oferta, para atingirmos a produção de 48 bilhões de litros por ano em 2030, o setor precisaria investir o suficiente para alcançar a moagem de 1,03 bilhão de toneladas de cana nesse ano. Para que isso ocorra, há quatro condições importantes: 1. existência de uma política clara para o setor de energia, com um marco regulatório bem definido; 2. reconhecimento das externalidades dos biocombustíveis; 3. tecnologias disruptivas que reduzam custos e aumentem a produtividade; 4. capacidade financeira para investir.

devido à situação financeira ainda precária de grande parte das empresas, o setor continuará o processo de consolidação, ao invés de expandir-se durante os próximos anos "

Manoel Pereira de Queiroz Gerente Sênior de Relacionamento do Rabobank

Em relação à primeira condição, a adoção de uma nova política de preços de combustíveis por parte da Petrobras foi um avanço, na medida em que sujeita o etanol às forças de mercado, permitindo maior previsibilidade aos investidores. Por outro lado, nada garante, no momento, que essa política irá se perpetuar. O RenovaBio, por sua vez, é uma iniciativa positiva, tanto no sentido de tentar estabelecer um marco regulatório para os biocombustíveis, ;


Opiniões como para reconhecer suas externalidades. Cabe, contudo, alertar que ainda há muito a ser feito para que o programa funcione na prática. O processo de montagem da estrutura de funcionamento é bastante complexo e não deve ser concluído em menos de dois anos. Quanto às tecnologias disruptivas, muita coisa interessante está em estudo, como, por exemplo, a “semente de cana” e o etanol 2G. O problema com essas tecnologias é saber quando realmente estarão disponíveis para operação em larga escala e de forma economicamente viável. Por fim, o principal e determinante fator para o crescimento da produção alcooleira no Brasil é a capacidade financeira para investir, e, infelizmente, a notícia nesse quesito não é boa. O setor é muito heterogêneo, e as empresas diferem muito entre si com relação aos seus perfis financeiros. Apenas para se ter uma ideia, a figura 1 mostra a dívida líquida de 32 clientes do Rabobank do setor sucroenergético, divididos em quartis. Note que, enquanto os grupos menos endividados têm dívida líquida entre 19 e 101 reais por tonelada de cana moída, há grupos no extremo oposto da amostra, cuja dívida fica entre 139 e 227 reais por tonelada moída. Há vários grupos que não constam dessa amostra, alguns consideravelmente grandes, com dívidas ainda mais elevadas e com baixíssima liquidez. Essa heterogeneidade na saúde financeira das empresas tem feito com que, nos últimos anos, as empresas saudáveis se expandam, enquanto as empresas em pior situação diminuam sua produção de forma drástica ou simplesmente paralisem suas atividades. Nos últimos anos, 76 unidades foram fechadas no País. No entanto, durante o mesmo período, a moagem total de cana na região Centro-Sul se manteve estável. A figura 2, usando a mesma amostra do Rabobank, demonstra que, enquanto

1

DÍVIDA POR TONELADA DE CANA MOÍDA Clientes do Rabobank • (Mar-17)

a moagem do Centro-Sul permaneceu por volta de 600 milhões de toneladas por ano entre a safra 2013/2014 e a safra 2016/2017, os grupos dessa amostra aumentaram a sua moagem em 16% no mesmo período, sendo que 3 deles se destacaram, tendo crescido 76,4%, 35,4% e 30%, respectivamente. Portanto, o que tem acontecido é que as empresas mais saudáveis têm absorvido a cana das empresas que perderam competitividade. Trata-se, na maioria das vezes, do que chamamos de uma consolidação silenciosa, uma vez que ela não vem ocorrendo através de fusão e aquisição de empresas, mas sim da consolidação do canavial. Em relação a possíveis aquisições de usinas por parte de investidores estrangeiros, há algum interesse de empresas europeias e asiáticas, mas vale destacar que, muito diferente do boom de fusões e aquisições ocorrido após a crise financeira de 2008, esses investidores são, hoje, em menor número e muito mais seletivos. Caso venham realmente a adquirir unidades ou participações acionárias, provavelmente comprarão operações ativas, ou seja, a entrada de um investidor mais capitalizado, no primeiro momento, não traria incremento significativo de moagem na unidade adquirida, dado que ela estaria apenas mudando de mãos. Sobre esse ponto, ainda é importante registrar que, ao menos até agora, diferente do que tem sido noticiado, não percebemos aumento de interesse por parte de potenciais novos investidores após a sanção da lei que instituiu o RenovaBio. Para concluir, podemos afirmar que, devido à situação financeira ainda precária de grande parte das empresas, o setor continuará o processo de consolidação, ao invés de expandir-se durante os próximos anos. Essa consolidação se dará, principalmente, como já vem ocorrendo, com as empresas mais capitalizadas e eficientes absorvendo a cana das empresas mais frágeis. n

2

VARIAÇÃO DE % DA MOAGEM ENTRE SAFRAS 2013/2014 e 2016/2017

REAIS POR TONELADA DE CANA

76,4% 227

240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0

101

117

139

35,4%

30,0%

16,0% 19 MIN

1,7% Q1-25%

Q2-50%

Q3-75%

MAX

CS TOTAL

AMOSTRA MÉDIA

EMPRESA A

EMPRESA B

EMPRESA C

EMPRESA D

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Opiniões

sistema bancário

expansão relevante ainda levará tempo O setor sucroenergético demonstrou, ao longo de 2017, um grau de articulação e alinhamento correspondente à importância que tem para a balança comercial brasileira, para a agricultura dos estados produtores e para a matriz energética. A criação do RenovaBio ataca uma das maiores incertezas da indústria e um forte inibidor de sua expansão: o papel do etanol na matriz de combustíveis líquidos nacional. Nesse sentido, acreditamos que uma eficiente implementação do RenovaBio poderia surgir como um dos direcionadores de demanda e, consequentemente, estimular a volta de investimentos mais substantivos. Entretanto temos preocupação que ventos contrários, no curto prazo, possam afetar a capacidade operacional, financeira e o tempo dedicado pelos grupos do setor à construção do RenovaBio. Utilizando uma imagem infelizmente comum ao setor, a limitação de recursos (tempo, esforços) nos leva a priorizar o trato (curto prazo, dia a dia) em detrimento do plantio (do futuro do setor). A criação do RenovaBio possui como principal pilar as metas de redução de emissões de carbono para o mercado de combustíveis, o que deverá trazer luz ao tamanho do mercado futuro de etanol. Para que isso se manifeste em investimentos, alguns obstáculos ainda precisam ser superados. O primeiro diz respeito à própria implementação do programa e à(s) mensuração/ estimativas de seus benefícios econômicos. Isso porque ainda levará algum tempo para que os players do setor observem os resultados do programa, dado que a meta de descarbonização deverá ser definida até junho (seis meses após a sanção da lei), e, a partir de então, ainda haverá 1,5 ano para que a implementação ocorra. Assim, espera-se que os primeiros impactos nos resultados sejam sentidos nas usinas apenas na safra 2020/2021. Outro fator que afeta as decisões de investimento é o cenário adverso que tem se descortinado para as cotações do açúcar. Após a elevação de preços observada entre o fim de 2015 e 2016, a cotação da commodity passou a apresentar trajetória de queda, atingindo níveis abaixo de USD 14,00/lp, abaixo do custo caixa dos produtores menos eficientes. A expectativa refletida nos preços dos contratos futuros de Nova Iorque, atualmente, tampouco oferece muito alento às usinas, reflexo de um superávit global no ano safra corrente (2017/2018 – O ano safra global corresponde ao período de outubro a setembro), na esteira da recuperação da produção Europa, Índia e Tailândia e da expectativa de mais um ano de produção volumosa em tais países, na safra seguinte (2018/2019).

A criação do RenovaBio ataca uma das maiores incertezas da indústria e um forte inibidor de sua expansão: o papel do etanol na matriz de combustíveis líquidos nacional. "

Pedro Barros Barreto Fernandes Diretor de Agronegócio do Itaú BBA Coautor: Guilherme Bellotti de Melo, Analista Sr Clientes Rurais do Itaú BBA

Nosso tom de cautela para investimentos mais relevantes vem da observação de que uma parcela significativa do setor apresenta, no início dessa safra 2018/2019, uma condição financeira bastante limitada para investimento de reposição. Esse grupo de usinas é caracterizado por apresentar uma menor liquidez e rentabilidade, que se traduzem em uma baixa capacidade de realizar a renovação de canavial, reposição da depreciação dos ativos industriais, máquinas e equipamentos agrícolas. Estimativas do Itaú BBA indicam que esse grupo possui uma moagem total de 140 milhões de toneladas (aproximadamente 25% da moagem do Centro-Sul). No outro extremo do setor, há um conjunto de grupos que goza de uma situação financeira bastante sólida – resultado de uma combinação da excelência operacional e do baixo nível de endividamento – e que está em plenas condições de voltar a investir (com cerca de 290 milhões de toneladas moídas na safra 2017/2018). Mas, mesmo para esse seleto grupo, a tendência é que, em um primeiro momento – que pode ser longo –, os investimentos se concentrem, no máximo, em uma modesta expansão de canaviais e na modernização dos próprios ativos industriais, com foco no aumento marginal da capacidade de moagem e na melhoria de eficiência. As oportunidades de aumento da área de cana tendem a ser impulsionadas pela fraqueza financeira de outras usinas vizinhas, o que não levaria a um aumento na moagem do setor como um todo. Entretanto nem esse cenário de desengargalamento e suave consolidação através da área agrícola parece certo. De acordo com nossas estimativas, metade dos grupos investiu bem abaixo da depreciação na safra 2016/2017, mesmo em um cenário de preço bastante mais remunerador que os atuais. Bem verdade que muitos desses grupos encontraram formas de serem mais eficientes com seus ativos (reorganização da colheita, redução de gastos com mudas, entre outros), porém a foto geral é de falta de um apetite expansionista. Assim, apesar de o programa RenovaBio endereçar um dos grandes entraves para o setor sucroenergético no Brasil – que é o papel do etanol na matriz de combustíveis líquidos –, a conjuntura de curto prazo pode afetar a capacidade financeira e de investimento da metade mais saudável do setor. Esses players podem também diminuir sua capacidade de alocação de tempo e de energia para a construção da implementação do RenovaBio, colocando em xeque o ritmo de crescimento que se pretende atingir com essa política. n


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ensaio especial

o melhor negócio do mundo Sempre defendi a máxima de que toda usina bem administrada é uma máquina de fazer dinheiro. Ainda sustento que o negócio sucroenergético tem uma excelente oportunidade de crescimento, além de ser sustentável. Vislumbrando o futuro, as oportunidades são ainda maiores. O setor sucroenergético tem nas mãos os melhores produtos da modernidade: energia limpa e alimento. Quem não conhece o setor acredita que todas as usinas obtêm excelentes resultados. A realidade, para grande parte delas, é totalmente diferente: possuem dívidas insustentáveis e gestão insuficiente para enfrentar os grandes desafios que o setor impõe. A complexidade é real. Uma usina que produz açúcar, etanol e energia elétrica é formada por vários negócios que exigem conhecimento, empenho e muito suor: agrícola, indústria química, logística, trading e manutenção. Quando o financeiro se torna a área mais crítica e importante da usina, todos os outros negócios são negligenciados. Não vou detalhar a origem do endividamento que afundou o setor no início deste milênio. Importante saber que, nos últimos dois decênios do século XX, o setor era mal-acostumado e sempre esperou, passivo, uma mão salvadora do governo, que nunca veio. Crédulo, ainda apostou no crescimento quando o governo apontou para o horizonte mostrando uma visão de futuro fantástico. A combinação desses eventos com a falta de gestão adequada levou para o abismo boa parte das usinas. Sem capacidade financeira, pagaram caro com as consequências da não renovação do canavial, dos juros maiores e dos custos mais altos. Para muitas, um caminho sem volta. Dessa forma, temos um exemplo clássico de um negócio Titanic: grande, forte, “infalível”, mas que, com gestão inadequada, consegue afundar. Todos já escutaram que “não existe uma safra igual à outra” e que “não dá para ter resultados diferentes fazendo da mesma maneira”. Gestão ainda é a única saída: O setor vai viver mais consolidações saudáveis e vai ver mais usinas fecharem nos próximos meses. Esse é um dos poucos setores de commodities no mundo que ainda não é consolidado. Basta comparar com o número de companhias de petróleo, papel e celulose, mineração, entre outras que cada segmento tem. O enxugamento no número de participantes do segmento vai trazer maior equilíbrio Mesmo entre oferta e demanda, melhorando margens e aumentando a sustentabilidade doada setor.para trás. "

Quem estava bem ficará melhor; quem estava mal será 'consolidado' e quem estava pior fechará as portas definitivamente. Simples assim. Esperança é um comprimido placebo que donos de usina em dificuldades tomam diariamente. "

Dario Costa Gaeta Especialista do sistema sucroenergético

Quem estava bem ficará melhor; quem estava mal será “consolidado” e quem estava pior fechará as portas definitivamente. Simples assim. Esperança é um comprimido placebo que donos de usina em dificuldades tomam diariamente. Escutam sobre programas governamentais para atingir produção anual de 50 bilhões de litros de etanol e ainda acreditam que isso será a salvação. O RenovaBio tampouco vai resgatar ninguém, mas será um dos catalisadores da consolidação do setor. Quem acha que ele resgatará usinas mal geridas está apostando mais uma vez na salvação externa. Açúcar a 30 cents por libra-peso. Não serei repetitivo sobre os eventos relacionados ao setor que faz muita gente pensar que pode ser a salvação. Para ser rápido quanto aos preços do açúcar: ele chegou a valer R$ 1.500,00 a tonelada dois anos atrás: isso salvou alguma usina que estava no precipício? Futurologia: O modelo já existente de companhias de petróleo unidas às usinas de açúcar e etanol é, na minha opinião, o modelo mais forte para ser o futuro do setor. Existem muitas sinergias entre ambos os negócios, além de margens agregadas da cadeia de valor. Acredito em duas ou três grandes empresas petrolíferas consolidando de 30% a 40% do mercado. O outro grande modelo são os vendedores de açúcar no varejo. Como possuem o mercado de consumo nas mãos, garantem preços superiores aos da commodity e maior estabilidade nas margens. Por fim, o modelo Trading-Usina está em xeque há algum tempo. O negócio de trading, apesar dos altos e baixos esperados, é excelente. Usinas, como afirmei, podem ser excelentes. Por que, então, os dois juntos parecem não ser tão bons quanto se esperava? A resposta parece simples: deve-se administrar a Trading como Trading e Usina como Usina. Conheço mais de uma empresa com esse modelo que tem obtido excelentes evoluções. Eles se reinventaram conquistando melhores resultados. Portanto, sim, é possível. Nesse modelo, assim como as companhias de petróleo, existem sinergias entre os negócios que devem ser capturados e divididos. No meu entendimento, um modelo de sucesso. Deve ser um dos ganhadores na batalha da consolidação. Os modelos acima devem ficar com 60% a 70% do volume de cana esmagado anualmente. O restante ficará com as boas usinas, de gestão familiar ou profissional, com boa administração e endividamento adequado. n


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