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Ricardo Madureira

Ricardo Madureira CEO da CanaVialis e da Alellyx Applied Genomics Tecnologias que revolucionarão o uso da cana

Vivemos em uma época de rápi- da transformação na forma com que a biomassa no mundo será utilizada. A demanda por fontes renováveis de energia e o crescimento populacional têm aumentado a pressão por uma melhor utilização da biomassa co- mo fonte de energia. Por outro lado, a disponibilidade de terra é cada vez mais escassa e a competição por terra agricultável é cada vez mais preocu- pante. Neste cenário, a solução está no desenvolvimento de tecnologias que possam mudar radicalmente o re- sultado do processo.

Para efeito deste artigo, gostaria de dividir o grande processo de transfor- mação da biomassa em três blocos: 1. Produção de biomassa, 2. Quebra de biomassa em açúcares e, 3. Conversão de açúcares em produtos finais

Biomassa, tecnicamente, significa qualquer substância proveniente de um ser vivo. Em escala comercial ela é produzida pelo agronegócio, seja na produção animal ou vegetal. Para efeito de geração de energia, focarei a biomassa vegetal.

A maior proporção desta bio- massa é composta por carboidratos complexos e sua quebra leva à libe- ração de açúcares simples. Na canade-açúcar, a sacarose, que é uma for- ma simples de açúcar, já se encontra dissolvida no caldo e sua liberação é feita fisicamente, pela operação de moagem. Já o milho exige a quebra enzimática adicional do amido con- tido no grão em glicose. A conversão destes açúcares em etanol é feita pela fermentação promovida por micror- ganismos, denominados de fermen- to. Tecnicamente, o fermento é uma levedura chamada Saccharomyces e vem sendo utilizado, há milênios, na produção de vinho e cerveja.

Iniciando pelo último bloco, a con- versão de açúcares será revolucionada pelo desenvolvimento de microrganis- mos que fermentem açúcares e produ- zam não apenas etanol, mas também outras moléculas. Um caso prático é a empresa Amyris, que desenvolveu microrganismos e processos para pro- duzir biocombustíveis, que podem substituir a gasolina, o diesel e o com- bustível de aviação a jato.

Na quebra da biomassa, a maior revolução virá com a liberação dos açúcares contidos na celulose, um polímero de glicose que pode ser que- brado por tecnologias químicas ou enzimáticas. Pessoalmente, acredito que a rota enzimática possua maior probabilidade de sucesso, pois o pro- cesso industrial, que envolve enzimas chamadas celulases, tem tido grandes avanços. Ele assemelha-se ao da que- bra do amido, sendo que a complexi- dade está no pré-tratamento da bio- massa e na fermentação dos açúcares liberados. Porém, o maior desafio será a integração de todas as fases, para a produção de biocombustível em esca- la industrial, a um custo razoável.

A produção agrícola da biomas- sa representa a maior parte do custo total da produção de etanol de cana e continuará tendo uma im- portância fundamental, seja qual forem as tecnologias de conversão. Além disso, outros desafios, como a re- dução constante de água disponível, competição por terra agricultável com ou- tras atividades humanas e a competição pelo uso da ter- ra entre alimento e energia deverão ser abordados ade- quadamente. A CanaVialis e a Alellyx acreditam que a cana é a cultura mais adequada pa- ra se produzir biomassa. Isso porque ela é uma das plantas mais eficientes na conversão da energia solar em carboidratos, que, por sua vez, são transformados pelo homem em muitos produtos úteis. A sua efi- ciência de transformação energética traduz-se, portanto, em dupla utilidade: além do alimento, o açúcar oferece também a energia, que pode ser extraída tanto do pró- prio açúcar, quando o transformamos em etanol, como também das suas fibras. Mesmo já sendo uma planta fenomenal, acreditamos que estamos em uma revolução tecnológica, que transformará a forma como utiliza- mos a cana. A variabilidade genética da cana permite-nos sonhar com va- riedades adaptadas a diversos ambien- tes. Assim, a regionalização é um dos pilares estratégicos do nosso programa de melhoramento, desde o início.

Atualmente, os nossos clones em seleção mostram resultados expressi- vamente superiores às melhores varie- dades, em novas fronteiras agrícolas. Além da sacarose, temos um progra- ma focado no aumento da biomassa. Chamamos estas variedades de canafibra, com altos teores de celulose e lignina e que serão, a longo prazo, a matéria-prima ideal para a tecnologia de etanol celulósico.

Para levar a cabo esta estratégia, investimos grandes esforços na cons- trução de uma quarentena de cana, para o enriquecimento do nosso ban- co de germoplasma, aumentando a diversidade genética e possibilitando a introdução, no programa de cruzamen- tos, de novos materiais ricos em fibra.

Na Alellyx, nossos cientistas es- tão descobrindo genes de alto valor, relacionados à produção. Os princi- pais focos são os aumentos de açú- cares fermentáveis, biomassa total e resistência à seca. Atualmente, temos 13 experimentos de campo aprova- dos pela CTNBio e que envolvem materiais transgênicos com maior teor de açúcares e resistentes à seca. Outros materiais em desenvolvimen- to e que trarão ganhos significativos no processo de produção de etanol celulósico terão, incorporados ao seu genoma, enzimas que degradam a ce- lulose, as celulases.

No segundo semestre de 2008, ex- perimentos de campo serão instalados para testar variedades com os genes Bt/RR e que conferem à cana resis- tência à broca e ao herbicida glifosa- to. Como no milho, soja e algodão, estas tecnologias trarão resultados significativos para o produtor, além de reduzir impactos ambientais.

O desenvolvimento de tecnolo- gias de ponta permitirá darmos saltos de produção nunca antes imaginados. Nós, da CanaVialis e da Alellyx, te- mos confiança que as novas tecno- logias e variedades, que estamos desenvolvendo, trarão resultados im- pactantes para consolidar a posição de liderança do nosso país.

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