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Edgar Gomes Ferreira de Beauclair

Edgar de Beauclair

Edgar Gomes Ferreira de Beauclair Professor de Planejamento da Produção e do Cultivo da Cana da Esalq-USP Planejamento da produção e do cultivo

Atualmente, a produção de eta- nol a partir da cana-de-açúcar é uma importante opção para a sociedade moderna, não só sob o ponto de vista econômico, mas também ambiental, por se tratar de uma fonte renovável de energia. Este setor tem chamado a atenção de investidores de todo pla- neta, principalmente pelas enormes expectativas geradas em torno do as- sunto. Porém, para a instalação e con- dução de um novo empreendimento para produção de etanol, especial- mente por grupos sem tradição no se- tor, é fundamental um planejamento da produção agrícola, para posterior implementação e cultivo, elaborado em bases sólidas e profissionais.

O uso de modernas ferramentas de gestão e otimização é um recur- so que não pode ser desprezado, por quem deseja se firmar. Além disso, seu uso exige profissionais familiari- zados com os conceitos técnicos de gestão envolvidos, assim como um profundo conhecimento dos sistemas de produção.

O planejamento agrícola sempre deve começar pelo planejamento estratégico e suas análises mercado- lógicas, pois é a partir deles que são definidas as diretrizes gerais do empreendimento, capazes de realizar o

dimensionamento de recursos, que é parte integrante e inseparável do mesmo.

A partir da estratégia geral, podese desenvolver a elaboração de cená- rios diversos, considerando diferentes condições de produção. Para tanto, é necessário ter um conhecimento am- plo sobre as diferentes e complexas interações existentes entre o ambien- te de produção e a cultura, sob diver- sos tipos e condições de manejo.

Desta forma, torna-se um prérequisito fundamental e inicial, o co- nhecimento detalhado dos ambientes de produção disponíveis. Essa carac- terização deve contemplar todas as propriedades que influenciam a pro- dutividade agrícola, de forma positi- va ou não.

Assim, é preciso determinar o cli- ma predominante, com seus índices pluviométricos, parâmetros de tempe- ratura e radiação. Os diferentes tipos de solo também precisam ser caracte- rizados como ambientes de produção, especificando-se, primordialmente, algumas de suas propriedades físicas, como profundidade, textura, capa- cidade de armazenamento de água, declividade e topografia; e químicas, como fertilidade, teores de nutrientes, elementos tóxicos, salinidade, etc. Essas características serão determinantes para a definição dos sistemas de produção a serem adotados e para as estimativas de produtividade e de custos, necessárias para alimentar as ferramentas de otimização de plantio e de colheita.

Essas ferramentas devem formar um sistema perfeitamente integrado com a indústria e a comercialização, tanto na base física, como na financeira. Precisa ainda da definição e alocação da infra-estrutura e da logística das operações agrícolas, pois a trafegabilidade, o sistema viário e os acidentes geográficos são capazes de alterar completamente cada cenário, influindo nas épocas e nos rendimentos das operações agrícolas, especialmente de corte, carregamento e transporte. A incorporação de sistemas de otimização, capazes de determinar o melhor caminhamento das frentes de trabalho, é essencial nesta etapa.

A partir do conhecimento das épocas e dos locais de cada frente de trabalho, de cada operação agrícola, durante a safra, pode-se então propor a vocação técnica de cada área homogênea a ser cultivada com cana-deaçúcar. Vocação técnica é o sistema de produção próprio para cada con- dição, e inclui definições como quais características a variedade a ser plan- tada deve ter, como época de matura- ção, adaptabilidade, responsividade e rusticidade; qual o sistema de prepa- ro do solo; tipos e doses dos insumos adequados; ciclos e épocas; etc.

Portanto, é importante que em qualquer forma de realizar o plane- jamento de plantio, ele deve sempre ter em vista o que se espera que ocor- ra na colheita. Isso reafirma a essen- cialidade da integração dentro dos setores agrícolas, e destes, com todos setores industriais.

Isso é importante, porque um bom planejamento da produção agrícola considera diversas análises de deci- são, que vão envolver variáveis de manejo, produtividade, rendimentos, custos, margens de contribuição, taxa interna de retorno, etc, mas sempre fundamentadas no conhecimento utilizado na formação dos cenários.

Neste aspecto, a baixa confiabilidade de algumas estimativas, especialmente aquelas referentes ao processo de maturação das variedades sob manejo comercial, torna o processo crítico, pois é fundamental que se tenha exato conhecimento das limitações que cada estimativa pode ter. Conceitos de risco indicam que muitas das análises de decisão opera- cionais que compõem o planejamen- to dependem diretamente das estraté- gias adotadas pelo empreendedor, em sua análise inicial.

O planejamento só estará com- pleto após o dimensionamento de todos os recursos necessários para a realização de todas as operações, na época em que foram determinados. Esse dimensionamento envolve estu- dos sobre a estrutura organizacional da unidade de produção, o que pode gerar conflitos, caso não haja uma posição firme e decidida da direção, no sentido de profissionalizar a execução de todos os serviços previstos no planejamento da produção.

Finalmente, nenhum planejamento tem valor, caso não tenha um acompanhamento adequado, através, principalmente, de sistemas de controle eficientes, aliados a uma gestão com madura da distribuição de atribuições, com participação de todos os envolvidos diretamente ou não no sistema produtivo.

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