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Elizabeth de Carvalhaes
é hora de decidir o futuro que queremos
It’s time to think about the future we want
Elizabeth de Carvalhaes Presidente Executiva da Bracelpa Executive President of Bracelpa (The Brazilian Pulp and Paper Association)
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Uma grande reviravolta no consumo e no consumi- dor. A maior negociação climática da atualidade tratará a fundo dessa temática ao traçar o futuro do século XXI e fazer o primeiro esboço de como será o planeta nas próximas gerações. Menor avidez por consumo e maior preocupação com qualidade e procedência dos produtos, opção por menores espaços, porém mais qualificados e utilitários, além de outras mudanças em padrões de comportamento, deverão moldar um novo ser humano e, também, guiar novas políticas e mercados daqui por diante.
O Brasil é um dos principais focos de atenção do mundo na 15ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - COP-15, negociação multilateral que tratará de políticas climáticas globais e definirá, para cada país, os limites para a emissão de gases causadores do efeito estufa - GEEs. O fórum é uma grande oportunidade para o Brasil reforçar seu modelo econômico de baixo carbono, e, nesse contexto, o tripé florestas plantadas, agricultura e bionergia oferece importantes soluções para a mitigação do aquecimento global.
Esse argumento tem sido reforçado constantemente pela Associação Brasileira de Celulose e Papel - Bracelpa, em todos os fóruns recentes, nacionais e internacionais, dos quais participa. Também tem sido abordado pelas 15 entidades setoriais que compõem a Aliança Brasileira pelo Clima - Agricultura - Bionergia - Florestas Plantadas, cuja finalidade é propor ações concretas para as negociações da COP-15, com base na agenda do governo brasileiro.
No debate climático, a principal questão para o setor de celulose e papel é mostrar ao mundo a colaboração das florestas na redução dos efeitos do aquecimento global. Com dois milhões de hectares de florestas plantadas, as mais produtivas e sustentáveis do mundo, esses
A major turnaround in consumption and in terms of the consumer. The most important climate negotiation of our time will cover this subject matter in depth, when it will lay out the future of the 21 st Century and do a sketch of how the planet might be for the generations to come. Less eagerness to consume and more concern with the quality and origin of products, the option for less space, albeit better qualified and useful, in addition to other changes in behavioral standards, are expected to design a new human being and also to orient policies and markets from now on.
Brazil will be one of the main focal points at the 15th Convention of the Parties at the United Nations Framework Convention on Climate Change (COP-15), a multilateral negotiation that will discuss global climate policies and will define, for each country, limits for greenhouse gas (GHG) emissions.
This forum will be a great opportunity for Brazil to reinforce its low carbon economic model and, in this context, the tripod comprising planted forests, agriculture, and bioenergy, offers important solutions in mitigating global warming.
This argument has constantly been reinforced by Bracelpa - The Brazilian Pulp and Paper Association in all recently attended fora, both local and international. It has also been brought up by the 15 sectoral entities that comprise the Brazilian Climate Alliance – Agriculture – Bioenergy – Planted Forests -, whose objective is to propose concrete actions for the COP-15 negotiations, based on the Brazilian government’s agenda.
In the climate debate, the main issue concerning the pulp and paper industry is to show the world how forests contribute to reducing the effects of global warming. With two million hectares of planted forests – the most productive and sustainable in the world – these biomes absorb and store some 64 million tons of
42 biomas absorvem e estocam cerca de 64 milhões de toneladas de carbono por ano, ou seja, compensam emissões de GEEs na atmosfera. O número é ainda maior se considerarmos toda a base de florestas plantadas do país, que soma 6,6 milhões de hectares. Trata-se de uma contribuição impressionante ao clima que as atuais políticas climáticas não valorizam. Porém a COP-15 abrirá oportunidades para o setor mudar esse conceito.
Esse é o ponto em que a negociação ganha um viés econômico de impactos globais. Se for favorável às florestas plantadas, os créditos de carbono florestal poderão ser comercializados a empresas para compensar o excesso de emissão de GEEs. Atualmente, o principal mercado de carbono do mundo, a União Europeia, não considera a absorção de CO 2 das florestas como válidos para compensar emissões.
O desenvolvimento sustentável com vistas à criação de uma indústria de baixo carbono é algo que o setor de celulose e papel busca há décadas. Dados de 30 anos atrás já confirmam o interesse do setor em melhorar seus processos com a substituição do uso de combustíveis fósseis por renováveis.
A reestruturação da matriz energética reduziu dramaticamente o uso de combustíveis fósseis, que passou de 49%, em 1970, para apenas 6% de sua base, em 2008. Isso quer dizer que, hoje, 94% das fontes energéticas empregadas pelo setor provêm de energia limpa e renovável. Vale acrescentar que os novos projetos, ainda em estudo, devem melhorar o aproveitamento de biomassa em processos como cogeração de energia, aumento da capacidade de queima do licor negro nas caldeiras de recuperação, tratamento de efluentes - evitando a emissão de metano - e projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo - MDL, para resíduos compostáveis e para reaproveitamento de calor.
Outras iniciativas do setor em prol da mitigação das alterações climáticas envolvem altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, publicação e levantamento de um inventário de carbono setorial, venda de créditos de carbono em mercados voluntários, além da criação de uma política eficaz para se reduzirem as emissões de carbono na manufatura dos produtos.
Nos últimos anos, projetos de MDL - sobretudo relacionados à substituição de combustível fóssil por combustíveis provenientes de fontes renováveis, reduziram emissões, geraram créditos de carbono em todo o mundo e permitiram também que os países desenvolvidos compensassem suas emissões comprando créditos do setor de celulose e papel. O interesse de todo o setor produtivo do Brasil nessa temática é tão grande, que, atualmente, o país ocupa o terceiro lugar em número de projetos de MDL no mundo, com outros 295 em fase de análise. O número só não é maior que o da China e o da Índia, os líderes em projetos registrados, porque a matriz energética brasileira já é, hoje, uma das mais limpas que existe: mais de 40% de seu conteúdo é originado de fontes renováveis.
O Brasil entra na COP-15 com o desafio de vencer a questão do desmatamento ilegal. Porém o patrimônio natural incomparável que coloca o país em posição de soberania para as negociações mostra um saldo ambiental e energético sem precedentes. Ao setor de celulose e papel, que lida diretamente com o principal ativo da economia do futuro - recursos naturais renováveis, que absorvem e reciclam o carbono - cabe assegurar uma posição de destaque nesse novo cenário.
carbon per year, i.e., they offset GHG emissions to the atmosphere. The number is even larger if one considers the entire forest base planted in the country, which adds up to 6.6 million hectares.
This is an impressive contribution to the climate, which current climate policies do not value. However, COP-15 will provide the industry with opportunities to change this concept.
At this point the negotiation is afforded an economic perspective of global impacts. If it turns out to be favorable to planted forests, carbon credits may be sold to companies to offset excessive GHG emissions. Currently, the main carbon market in the world, the European Union, does not view CO 2 absorption by forests as a legitimate offsetting of emissions.
Sustainable development in light of the creation of a low carbon industry is something the pulp and paper industry has been seeking to achieve for decades. Thirtyyear old data already shows the industry’s interest in improving its processes by replacing the use of fossil fuel with renewable fuel.
The restructuring of the energy matrix greatly reduced the use of fossil fuel, which decreased from 49%, in 1970, to only 6% of its base, in 2008. This means that nowadays 94% of the energy used by the industry comes from clean and renewable sources.
One should further mention that new projects, still under consideration, are expected to improve the use of biomass in processes such as energy cogeneration, increase in the burning capacity of black liquor in re- covery boilers, the treatment of effluents (avoiding the emission of methane) and Clean Development Mechanisms (CDMs) — for compostable residues and the reutilization of heat.
Other industry mitigation initiatives involving climate change imply high investments in research and development, the surveying and publicizing of a sectoral carbon inventory, the sale of carbon credits into voluntary markets, in addition to the creation of a policy capable of reducing carbon emissions in the manufacturing of products.
In recent years, CDM projects – particularly as related to the substitution of fossil fuel by fuel obtained from renewable sources – reduced emissions, generated carbon credits around the world and also allowed developed countries to offset their emissions by purchasing credits from the pulp and paper industry.
The interest of Brazil’s productive sectors in this subject matter is big, given that the country currently ranks third in the number of CDM projects in the world, with other 295 under analysis. The number is only not larger than that of China or India, the countries leading the ranking in registered projects, because the Brazilian energy matrix currently already is one of the cleanest of all: more than 40% of its content is originated in renewable sources.
Brazil will attend COP-15 with the challenge of resolving the issue of illegal deforestation. On the other hand, the incomparable natural patrimony that places the country in a sovereign position for the negotiations shows an unprecedented environmental and energy balance. For the pulp and paper industry, that directly handles the main asset of the economy of the future – renewable natural resources, that absorb and recycle carbon – it is imperative that it secure for itself a distinguished position in this scenario.