7 minute read
Pedro Luiz Fernandes
discussões já não há mais tempo para
There is no more time for discussions
Desde a expansão da Revolução Industrial pelo mundo, a partir do século XIX, não paramos de produ- zir cada vez mais e, até certo momento, pensamos que os recursos naturais não chegariam perto da sua escas- sez e que o petróleo, até então abundante, era infinito. Em resposta a esse pensamento equivocado, temos as alterações climáticas cada vez mais perto de nós.
Pedro Luiz Fernandes Presidente da Novozymes Latin America
President of Novozymes Latin America
Nosso país, sempre tido como abençoado por Deus, tem passado por acontecimentos climáticos nunca an- tes experimentados. As alterações climáticas devem ser tratadas como um enorme risco para a nossa economia e sem falar nos prejuízos sociais que isso tem causado. Diante dessas evidências, muitos países começaram a pensar no futuro desenvolvimento de suas economias com baixas emissões de carbono e, na sua maioria, pas- saram a olhar com mais atenção para as fontes de ener- gias renováveis.
E o Brasil não é exceção, pois está olhando agora para outras fontes de energias renováveis, para impul- sionar o seu desenvolvimento econômico a longo prazo e garantir a sua matriz energética nacional, acreditando que essas fontes poderão contribuir para a mitigação dos efeitos devastadores das evidentes alterações climáticas.
Embora muitas ações tenham sido tomadas para mi- tigar esses efeitos, não devemos esquecer que o cresci- mento da população mundial é contínuo e deverá atingir cerca de 9 bilhões em 2050. As escolhas que se fizerem ao longo dos próximos cinco anos, em termos de energias renováveis, terão um profundo impacto nas próximas décadas para a sobrevivência da humanidade.
Ever since the Industrial Revolution expanded throughout the world, beginning in the 19th century, we have not stopped producing increasingly more, and, up to a given point in time, we even believed natural resources would never become rare, and that oil, until then abundant, was infinite. In response to this mistaken way of thinking, we now have climate change increasingly closer to us.
Our country, always viewed as blessed by God, has been faced with climate events that we never before experienced. Climate change must be handled as an enormous risk to our economy, not to mention the social damage it has brought about.
In light of these facts, many countries have begun to think about the future development of their econo- mies with low levels of carbon emissions, and, for the most part, started paying attention to renewable ener- gy sources. Brazil is no exception, since the country is now looking at other sources of renewable energy, to foster its long-term economic development and secure its national energy matrix, in the belief that these sources may contribute to mitigating the devastating effects of evident climate change.
As ações que serão tomadas de agora em diante hão de ser conjuntas, já que pouco representarão se forem isoladas, como acontece hoje. As nações precisam se unir em torno de um objetivo comum, num trabalho conjunto, para que obtenham resultados. É quando repensamos o amanhã que surgem alternativas para a energia do futuro. O Brasil é, indiscutivelmente, o líder mundial na produção e no consumo de biocombustíveis de fontes renováveis, utilizando, além das tecnologias já existentes, outras que estão em desenvolvimento.
O melhor exemplo é o uso da cana-de-açúcar na produção de biocombustíveis, que cada vez mais terá sua importância aumentada devido à demanda mundial para combustíveis de origem não fóssil, e a produção de biocombustível de segunda geração, aquele produzido através do bagaço da cana, será uma excelente opção.
Esse será um diferencial para o Brasil como futuro exportador. Além do etanol de segunda geração, do bagaço ainda se produz energia que pode ser convertida em bioeletricidade, pois, assim como o mundo necessita cada vez mais de combustíveis, o mesmo acontece com a eletricidade. Os biocombustíveis estão sendo taxados como poluidores tanto quanto o são os combustíveis fósseis. Para afirmações equivocadas como essa, os combustíveis fósseis, os biocombustíveis e a bioeletricidade devem ser avaliados e julgados pelo mesmo parâmetro. Caso contrário, será como uma brincadeira de cabo de guerra.
O uso indireto de terras agricultáveis é outro tema que vem à tona quando se fala da produção de biocombustíveis - afinal, a terra existe para produzir alimentos ou biocombustíveis? A resposta é simples: as duas alternativas estão corretas.
Uma excelente iniciativa do governo federal foi o recente lançamento do Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar - ZAE, ainda que necessite de certo aperfeiçoamento. O ZAE proíbe a expansão dos canaviais no Pantanal, na Amazônia e na Bacia do Alto Paraguai. Dessa forma, ficará patente que os canaviais não colocam em risco a produção de alimentos, embora não tenhamos esse debate no Brasil.
São muitos os hectares de terras abandonadas no Brasil e no mundo. Já existem estudos que comprovam que, se um mapeamento dessas terras fosse feito, teríamos terra suficiente para a produção de alimentos e de matéria-prima para produção de biocombustíveis. Entretanto esse mapeamento deve fazer parte do conjunto de iniciativas do governo, assim como a participação das partes interessadas nesse tema, que deve assegurar que as iniciativas sejam exequíveis. Já não há mais tempo para discussões. Resta, agora, pensar o que fazer para que as futuras gerações não sofram os impactos negativos advindos dos equívocos até hoje cometidos e esperar que as nossas atitudes, de agora em diante, sejam sustentáveis.
Que a Conferência das Partes (COP 15) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCC), que será realizada em Copenhague, Dinamarca, em dezembro próximo, não seja apenas mais um Protocolo de Kyoto, que mais 12 anos se passem e que pouco se faça. Espero ainda que os países mais industrializados discutam e encontrem uma maneira de transferir suas tecnologias para aqueles que estão em desenvolvimento.
Although many initiatives were undertaken to mitigate these effects, one should not forget that the world population’s growth is continuous and expected to reach 9 billion by 2050. The choices made over the next five years, in terms of renewable energy, will have a far-reaching impact, in the next few decades, on humanity’s survival.
Actions taken from now on will have to be undertaken jointly, since they will accomplish very little if undertaken individually as is the case nowadays. Nations must congregate around a common objective, in joint efforts, to achieve results.
It is when we rethink tomorrow that alternatives for the energy of the future arise. Brazil is unquestionably the world leader in the production and consumption of biofuel from renewable sources, using not only existing technologies, but also developing new ones. The best example is the use of sugarcane in the production of biofuel, which increasingly will become more important due to the world demand for non-fossil fuel, and the production of second generation biofuel, the one produced from sugarcane bagasse, will be an excellent option. This will be a distinguishing factor for Brazil as a future exporter. Apart from second generation ethanol, from bagasse one can also produce energy convertible to bioelectricity, given that like fuel, the world is increasingly in demand of electricity.
Biofuel is being rated as a pollutant just as fossil fuel is. For equivocal assessments such as this, fossil fuel, biofuel and bioelectricity must be assessed and measured by the same parameter. Otherwise, this will amount to playing tug-of-war.
The indirect use of land for agriculture is another theme that comes up when talking about biofuel – after all, does the earth exist to produce food or biofuel? The answer is simple: both alternatives are correct.
An excellent initiative of the federal government was the recent launching of the agro-ecological sugarcane zoning (“ZAE”), although it will need some improve- ment. “ZAE” prohibits expanding sugarcane plantations to the Pantanal region, Amazonia, and the Upper Paraguay River Basin. In that way, it will become evi- dent that sugarcane plantations do not endanger the production of food, notwithstanding the fact that this de- bate in ongoing in Brazil.
There is much abandoned land – in Brazil and in the world. Studies show that if this land were mapped, one would have enough land for the production of food and biofuel. However, this mapping must be a part of the set of initiatives undertaken by the government, along with the stakeholders’ participation in this subject matter, which must make sure that such initiatives are feasible.
There is no more time for debating. What needs to be done now is to think about what to do so that future generations do not suffer adverse impacts resulting from equivocal decisions made until the present time and hope that our actions, from now on, will be sustainable.
May the Conference of the Parties (COP 15) of the United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCC), to be held in Copenhagen, Denmark, next December, be not only another Kyoto Protocol, with another 12 years going by without much being accom- plished. I also hope that the more industrialized coun- tries will debate the matter and find a way to transfer their technologies to the developing countries.