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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 13 • número 48 • Divisão C • Abr-Jun 2016
o cotidiano da produção da cana-de-açúcar
QUEM ESCREVE NA REVISTA OPINIÕES:
Em 13 anos de operação, a Revista Opiniões publicou 2.120 artigos exclusivos, escritos pelos mais respeitados especialistas do Brasil e do mundo, sobre 94 diferentes pautas, tornando-se uma das mais respeitadas mídias dos sistemas sucroenergética e florestal do País. Governo e países estrangeiros: 3 Presidentes da República, 2 Candidatos à Presidência, 29 Ministros de Estado, 20 Senadores e Deputados, 18 Governadores, 59 Secretários de Estado, 9 Promotores, 80 Diretores de Autarquias, e 21 Embaixadores estrangeiros
11% 18% 12%
Usinas, Destilarias e empresas florestais: 113 Presidentes, 160 Diretores, 112 Gerentes e 44 Técnicos
20%
Entidades: 197 Presidentes e 75 Diretores
13% 26%
Universidades e Centros de P&D: 221 Professores, 123 Pesquisadores, 93 Lideres de projetos, e 113 Chefes-gerais, Diretores e Presidentes de Centros de P&D
Fornecedores: 369 desenvolvedores de tecnologia Consultores: 259 desenvolvedores de tecnologia
QUEM RECEBE A REVISTA OPINIÕES:
A Revista Opiniões é enviada nominal e gratuitamente para todos os níveis de comando de 100% das unidades produtoras – incluindo as em projeto ou em construção; universidades e centros de P&D; entidades e órgãos governamentais interessados nas áreas industrial, agrícola e silvicultural; empresas fornecedoras envolvidas na produção de Cana, Açúcar, Etanol e Bioeletricidade, Celulose, Papel, Carvão, Siderurgia, Painéis e Madeira Sólida.
Sucroenergético:
Florestal:
Fornecedores: 16% Articulistas: 11% Entidades, Universidades, Centro de P&D e Governo: 5%
Fornecedores: 16%
16% 11%
Articulistas: 18%
68%
5%
Produtores: 37%: Diretores 22%: Gerentes 41%: Todos os níveis de Supervisão
Entidades, Universidades, Centro de P&D e Governo: 12%
16% 18% 54% 12%
Produtores: 19%: Diretores 32%: Gerentes 49%: Todos os níveis de Supervisão
GARANTIA REAL DE IMPRESSÃO E VEICULAÇÃO:
Como prova efetiva da tiragem e distribuição realizada, disponibilizamos ao anunciante, cópias das notas fiscais e dos documentos de cobrança e de pagamento da impressão da Gráfica e do despacho dos Correios, além de relatórios quantitativo e percentual da distribuição por tipo de empresa, estados e regiões geográficas do país. Disponibilizamos ao Anunciante visitas de auditoria, sem prévio aviso ou agendamento, para comprovação física dos sistemas operacionais e de distribuição das Revistas Opiniões. Sucroenergético: 63%: Sudeste 8%: Sul 1%: Norte 12%: Nordeste 13%: Centro-Oeste 3%: DF
Florestal:
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46%: Sudeste 34%: Sul 5%: Norte 5%: Nordeste 6%: Centro-Oeste 4%: DF
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Sudeste
46%
Sul Norte Nordeste Centro-Oeste
34%
DF
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Opiniões
índice
o cotidiano da produção de cana-de-açúcar Editorial de abertura:
5
44
7 10
Dib Nunes Junior
Presidente do Grupo Idea
Manejo de cana crua:
15
Ensaio especial: Raffaella Rossetto e André Vitti Pesquisadores da APTA do IAC
Consultor da CMA - Capacitação Manejo Agronômico
Nutrição e Ervas daninhas:
31
Implantação de tecnologias:
18
Luciano Rodrigues Menegasso
Consultor da AgroExcel Consultoria Tecng e Estratégica
20
Jorge Luis Donzelli
Consultor da DZLL - Consultoria&Manejo Agronômico
34
Produtores: José Bressiani
23 26
Leila Luci Dinardo-Miranda
Diretor Executivo da Usina São João
José Guilherme Perticarrari Consultor da Perti Agri Consultoria
Pesquisadora do Centro de Cana-de-açúcar do IAC
Guilherme Rossi Machado Junior
Consultor da G. Rossi Consultoria e Representações
Consultor da CSolos Mapeamento e Consultoria
Marcelo Pierossi
39
Adriano Thiele
Consultor da AgroPerforma Consultoria Agrícola
Logística: Diretor Executivo de Operações e Serviços da JSL
Treinamento de mão de obra:
40
Variedades:
28
Fernando Cesar Bertolani
36
Pragas e nematoides:
Diretor de Tecnologia Agrícola da GranBio
Humberto César Carrara Neto
Consultor da Entomol Consultoria
Diretor da Assoc Bras de Tecnologia de Nutrição Vegetal
Recolhimento de palha:
Pragas: Luiz Carlos de Almeida
Gean Carlos Silva Matias
Agricultura de precisão:
Manejo agronômico:
Plantio mecanizado:
12
Celio Manechini
Tadeu Andrade
Diretor da Universidade Canavieira
Colheita mecânica:
42
Ângelo Domingos Banchi
Diretor da Assiste - Assessoria em sistemas Técnicos
Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br n Diretor Geral de Operações e Editor Chefe: William Domingues de Souza - 16 3965-4660 - WDS@RevistaOpinioes.com.br nCoordenadora Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Souza - Fone: 16 3965-4606 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br nVendas: Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br • Francine da Mata Silva - 16 3441-0343 - FM@RevistaOpinioes. com.br • Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com n Assistente do Editor Chefe: Fernanda Aparecida da Silva e Silva - 16 3965-4616 - FS@RevistaOpinioes. com.br nJornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@RevistaOpinioes.com.br nEdição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 boniceli@globo.com nProjetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - LuisaBR@RevistaOpinioes.com. br nConsultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha nCorrespondente na Europa (Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai - Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de nDesenvolvimento de Mercados na Ásia: Marcelo Gonçalez - MG@RevistaOpinioes.com.br nExpedição: Donizete Souza Mendonça - DSM@RevistaOpinioes.com.br nCopydesk: Roseli Aparecida de Sousa - RAS@ RevistaOpinioes.com.br nTratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) nFinalização: Douglas José de Almeida nImpressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP nArtigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões pessoais de seus próprios autores nFoto da Capa: Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com nFoto do Índice: Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com nFotos das Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 8111-8887 - paulo@pauloaltafin. com.br • Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244 - ad@arydiesendruck.com.br • Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com • Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas nFotos dos Articulistas: Acervo Pessoal dos Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos nVeiculação Comprovada: Através da apresentação dos documentos fiscais de pagamento dos serviços de Gráfica e de Postagem dos Correios nTiragem Revista Impressa: 7.000 exemplares nRevista eletrônica: Cadastre-se no Site da Revista Opiniões e receba diretamente em seu computador a edição eletrônica, imagemn fiel da revista impressa nPortal: Estão disponíveis em nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos nHome-Page: www.RevistaOpinioes.com.br
Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano
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editorial
Opiniões
como podemos atingir médias de
100 toneladas/hectare
?
A falta de gestão na supervisão de serviços, de treinamento, de planejamento e de controles é consequência do caos financeiro que tomou conta das empresas nos anos de governo de Dilma Rousseff, que, com sua política bolivariana, submeteu as empresas a perdas irreparáveis "
Dib Nunes Junior Presidente do Grupo Idea
Você, produtor de cana, seja um fornecedor ou usina, já parou para pensar por que a produtividade da cana-de-açúcar estagnou? Quando chove bem, atinge 82 t/ha. Quando falta chuva, cai para algo em torno de 72 t/ha. Isso está ocorrendo há mais de vinte anos. Por que outras culturas, como a soja, a beterraba açucareira e o milho, conseguiram melhorar suas produtividades médias e mantê-las em patamares elevados, e a cana-de-açúcar continua marchando no mesmo lugar? Numa análise rápida e objetiva, podemos apontar alguns problemas que, se forem mitigados, certamente contribuirão para atingirmos as tão desejadas médias de produtividade de três dígitos, ou seja, de 100 t/ha ou mais. Reflitam comigo sobre as perdas que ocorrem com frequência: falhas em canaviais oriundas de plantio mecanizado malfeito, arranquio de touceiras na colheita, que vai aumentando à medida que os cortes avançam; compactação
5
editorial de solos, que aumentaram com o número de colheitas; variedades em declínio, com produtividades muito ruins; cortes na adubação, calagem, gessagem e fosfatagem; matocompetição crescente, devido a novas espécies mais agressivas ou devido à redução dos tratos culturais; ataques de pragas de solo, que aumentam geometricamente quando não combatidas; perdas visíveis e invisíveis na colheita mecanizada; variedades mal alocadas em ambientes incompatíveis com as suas exigências; colheita antecipada de canaviais; plantio em época inadequada, etc. Somente nesses itens, se somarmos as perdas mínimas como sendo recuperáveis, teremos um aumento de produção de 70%, o que elevaria a média brasileira de 72 t/ha para mais de 115 t/ha. Isso tudo sem citar que temos novas variedades produzindo 10% a mais, ou, se usarmos produtos estimulantes de crescimento, micronutrientes e ativadores de enraizamento, teremos, certamente, mais algum ganho. Viveiros de mudas sadias também poderão contribuir com até 10%, e, se irrigarmos parte da lavoura, poderemos ganhar até 20% nas médias de produtividade, dependendo do total da área irrigada. É evidente que cada caso é um caso, mas várias empresas podem conseguir os ganhos totais atribuídos nessa tabela, embora, muitas vezes, gradativamente, pois alguns desses itens demandam investimentos significativos. Entretanto, muitos deles dependem apenas de mudanças de procedimentos, com pouco ou nenhum investimento. Os ganhos mínimos nas médias gerais foram estimados e considerados possíveis, com base na nossa experiência e em diversos trabalhos técnicos de pesquisa, já amplamente divulgados. Sabe-se que alguns desses itens podem proporcionar ganhos ainda maiores, mas isso depende da realização de um completo diagnóstico feito por especialistas, antes de se decidir quais itens devem atacar primeiro. Ainda não estamos computando as significativas perdas que ocorrem em procedimentos operacionais, em má administração de recursos humanos e materiais, na baixa qualidade de serviços, nos desperdícios que ocorrem no preparo do solo, nos tratos culturais e na colheita, na distribuição de resíduos industriais na lavoura, no excesso de impurezas na matéria-prima e na manutenção da frota. Há perdas de todo tipo, por todo lado, é só procurar. Com o tempo, as empresas que entraram em crise, pararam de adubar, reduziram a aplicação de herbicidas e, sobretudo, encolheram as reformas de canaviais depauperados, contribuindo para a baixa produtividade.
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A falta de gestão no que se refere à supervisão de serviços, de treinamento de pessoas, de planejamento e de controles é consequência do caos financeiro que tomou conta das empresas nos anos de governo de Dilma Rousseff, que, com sua política bolivariana de controle da inflação, congelou os preços do etanol e submeteu as empresas a perdas irreparáveis. Nesses anos de congelamento de preços, ocorreu um significativo aumento do endividamento das empresas, e o foco da gestão saiu da produção de cana e se localizou em planilhas financeiras. Notamos também que ainda há falta de critérios e estratégias na gestão das grandes lavouras. Tudo é voltado para não deixar faltar cana na fábrica. Se a usina não parar e moer dentro de sua máxima capacidade, ninguém cobra mais nada, fica tudo do jeito que está, e os problemas vão se somando. Tudo é deixado para trás, numa atividade que virou extrativista. Se as empresas não refletirem sobre os problemas atuais da área agrícola e não investirem na produção de cana usando as modernas tecnologias, as perdas aumentarão e a recuperação se tornará cada vez mais difícil. Consideramos como perdas todos os recursos que são desperdiçados ou tecnologias disponíveis que agregam valor à produção que não estão sendo utilizadas. Para ganhar produtividade, é necessário, primeiro de tudo, analisar onde é possível recuperar perdas e quais são as técnicas que, se forem implantadas ou mesmo voltarem a ser aplicadas, podem melhorar muito a produtividade da cana-de-açúcar. Hoje, se gastam mais de R$ 7 mil para formar um canavial, e, depois, não o tratam como se deveria. O resultado é a queda acentuada na produtividade. O canavial é um organismo vivo, que vai produzir de acordo com os cuidados recebidos. Não adianta só confiar no clima. É preciso produzir com racionalidade, para evitar as enormes perdas que ocorrem hoje em dia nas empresas canavieiras. Ao mitigarmos as diversas perdas, certamente teremos um volume altamente significativo de ganhos, que estão fazendo falta ao endividado setor sucroenergético nacional. Agora, pergunto: será que dá para chegar a 100 t/ha? Estimativas de ganhos possíveis de produtividade com uso de tecnologia Descrição
Ganhos Mínimos
Redução de falhas nos canaviais
8%
Compactação dos solos
5%
Substituição de variedades em declínio
10%
Manejo varietal
5%
Adubação e correção do solo
5%
Controle do mato
5%
Controle de pragas
5%
Redução de perdas na colheita
2%
Colheita na idade correta
5%
Concentração de plantio na melhor época
5%
Viveiro de mudas sadias
5%
Micronutrientes e produtos estimulantes
5%
Irrigação de parte da lavoura
5%
Ganhos nas médias de produtividade
70%
produtores
Opiniões
2g: podemos triplicar a
produtividade por hectare vimos a produtividade de etanol por hectare passar de 3.500 litros na década de 1970 para 8.000 litros nesta década, agora podemos vê-la saltar para 20.000 litros de imediato, podendo chegar a 30.000 litros ou mais até o final da próxima década "
José Bressiani
Diretor de Tecnologia Agrícola da GranBio
O setor de combustíveis líquidos no Brasil experimentou mudanças significativas na última década. O aumento da frota de veículos leves ocasionou crescimento significativo do consumo de combustíveis, cujo atendimento, até 2008-2009, foi feito majoritariamente por meio do aumento da produção interna de etanol. Entretanto, a redução da competitividade do produto resultou em estagnação do investimento em novas usinas. Nesse cenário, a frota crescente de veículos passou a consumir mais gasolina, o que implicou o incremento do volume de importações, haja vista a capacidade limitada de refino no Brasil. Ademais, como as novas refinarias em construção no Brasil concentram-se mais na produção de diesel e de outros derivados de maior valor agregado, a manutenção do atual patamar de venda de veículos leves implicará a importação de volumes crescentes de gasolina. Desse modo, é indispensável a busca por novas formas de resgatar a atratividade econômica do etanol, cuja competitividade se reduziu nos últimos anos, entre outros motivos, pelo amadurecimento de seu atual paradigma tecnológico, tanto agrícola quanto industrial. O etanol de segunda geração, também conhecido como etanol celulósico ou etanol 2G, certamente será o responsável por resgatar a competitividade do etanol brasileiro, trazendo novamente o País ao patamar de liderança global.
O combustível é produzido a partir de material lignocelulósico proveniente da biomassa, mais especificamente a celulose e a hemicelulose. Diversas fontes lignocelulósicas vêm sendo estudadas para a produção de E2G, como palha de milho, de trigo e de arroz, resíduos de cana-de-açúcar, bagaço de sorgo sacarino, gramíneas, resíduos florestais. No Brasil, pelo fato de ser a matéria-prima predominante na produção de E1G, a cana-de-açúcar tem sido o foco dos principais projetos para a produção de E2G. No ano de 2011, com o lançamento pelo Bndes e Finep do Paiss, foi fomentada a construção de três plantas de E2G no Brasil, das quais duas entraram em comissionamento no segundo semestre de 2014, sendo uma delas da Granbio. O Bndes juntamente com o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) realizaram, com base em premissas discutidas com diversas empresas e especialistas, simulações sobre o potencial de melhoria de eficiência do E2G em diferentes cenários tecnológicos. O diagnóstico concluiu que, em razão de avanços nas etapas de produção e conversão de biomassa e da redução no custo de enzimas e equipamentos, o E2G pode ser mais competitivo que o etanol convencional e próximo do patamar de preço de barril de petróleo a US$ 44.00.
7
produtores Com esse nível de competitividade, o E2G não seria apenas uma solução para reduzir o volume de gasolina importada pelo Brasil, mas também uma alavanca poderosa de exportações, haja vista o fato de o consumo de combustíveis avançados ser valorizado por políticas públicas nos EUA e na Europa. Além disso, o E2G competitivo também poderia determinar um ciclo intenso de investimentos na química renovável, atraídos pelo açúcar de custo baixo proveniente da biomassa, a qual, num primeiro momento, poderia ser constituída por parte dos resíduos deixados no campo após a colheita dos colmos da cana-de-açúcar e, num segundo momento, certamente será composta por variedades de cana-de-açúcar muito mais robustas, produtivas e com elevado teor de fibras, especialmente desenvolvidas para esse fim. Há de se considerar, porém, que, durante mais de um século, grande esforço foi realizado no melhoramento genético de cana-de-açúcar, buscando aumentar a produtividade de sacarose, através de sucessivos retrocruzamentos para essa característica, de forma a manter o teor de fibra entre 10 e 14%, dadas as necessidades industriais de processamento da matéria-prima e foco na utilização de açúcares como base para a produção de energia.
8
Opiniões Dessa forma, mesmo os híbridos modernos apresentando alto potencial de produção, acredita-se estarmos muito próximos de um patamar de produção difícil de ser suplantado, se consideradas as atuais condições de manejo agronômico. Assim, uma mudança de paradigma está em curso, e o novo caminho está indicando que, se a via contrária for tomada, ou seja, aumento de fibra ao invés de sacarose, os benefícios serão maiores, porque, então, o aumento em produtividade de biomassa será bem maior e com dispêndio menor em esforço e em recursos. O melhoramento genético da cana-de-açúcar está, portanto, num novo divisor de águas neste início de século, uma vez que a vantagem de se priorizar a produção de fibra é que as plantas serão mais rústicas, menos exigentes em solo, clima, água e nutrientes e mais resistentes a pragas e doenças, resultando em maior eficiência energética no seu cultivo, ou seja, maior unidade de energia produzida por energia gasta, se considerada toda a cadeia (output/input), e menor competição com a produção de alimentos, considerando a viabilidade de plantio desses cultivares em áreas agrícolas marginais. Esse é um parâmetro essencial e finalista que determinará as opções energéticas a serem consideradas, se o objetivo final for a preservação ambiental e a sustentabilidade. Com esse novo enfoque, o da bioenergia, a GranBio iniciou, em 2012, através de convênios com a Ridesa/UF-AL e com o IAC, o desenvolvimento de um novo tipo varietal de cana-de-açúcar, a cana-energia, que tem como foco principal maximizar a produtividade da biomassa total, oriunda das fibras presentes nos colmos, ponteiros e folhas secas. Após 4 anos de pesquisa, a GranBio destacou dois clones promissores de cana-energia para se tornarem produtos comerciais, cujo principal destaque é o elevado potencial produtivo por vários cortes. Além da maior produtividade, a cana-energia possui alto teor de fibras e elevada resistência a estresses bióticos e abióticos, de forma que é possível produzir em áreas marginais, de menor valor agronômico, como as áreas de pastagens degradadas, oferecendo menor competição com a produção de alimentos, reduzindo os custos produtivos e promovendo desenvolvimento social. Com a utilização do etanol de segunda geração e a cana-energia, o setor sucroenergético, que viu a produtividade de etanol por hectare passar de 3.500 litros na década de 1970 para 8.000 litros nesta década, agora pode ver essa mesma produtividade saltar para 20.000 litros de imediato, podendo chegar a 30.000 litros ou mais até o final da próxima década. E o nosso setor sucroenergético reúne todos os requisitos necessários para voltar a ser o líder mundial na produção de etanol, maior e melhor exemplo de combustível renovável em todo o mundo.
produtores
as pequenas coisas que fazem O tema desta edição da revista Opiniões exige um exercício de memória ou um passeio pelo passado, pois, pressionados como somos por novas tecnologias, pela busca incessante por reduções de custos e por incremento de produtividade, não raro perdemos o contato com a simplicidade de ações e de atitudes que resultam em grandes feitos. Ainda mais se elas são criadas e adotadas pela estrutura que executa o processo e acabam se tornando “moto contínuo”, entrando na corrente sanguínea da cadeia operacional, de tal forma e sem alarde que, caindo em esquecimento, dispensa a cobrança constante, pois se torna prática comum, e, naturalmente, partimos para outra tarefa. Ações, atitudes ou práticas assim introduzidas não necessitam de vigilância para sua aplicação, são elas que ditam o modus operandi de sucesso e que edificam o cotidiano na cadeia de produção de cana-de-açúcar. Em um ambiente sadio de gestão de produção, é imperativo para a aplicação de boas práticas que dirigentes com experiência e forte perfil de delegação se complementem com equipe de gestores comprometidos e excitados com a solução de problemas com criatividade. Nesse ambiente, o problema é apresentado, avaliado, e sua solução “brota” das estruturas executivas (down/top), gerando novas práticas que, aceitas facilmente por quem as criou, passam a incorporar o cotidiano e a integrar o DNA gerencial. Um movimento antagônico e muito comum é o do profissional detentor absoluto de toda a verdade, senhor de todas as soluções, que determina o “como fazer” e implementa ações top/down, e “obedeça quem tem juízo”. Pessoalmente, não preconizo a polarização entre as duas formas, mas, sem dúvida, os casos de sucesso têm a primeira como precursora e a pratica mais intensamente.
diferença
Para melhor exemplificar, proponho discorrer sobre um tema que, repetitivamente e com mais intensidade, vem aparecendo em reuniões técnicas, seminários e é assunto comum nas empresas preocupadas com excelência de performance: a gestão eficaz de seus processos e de seus ativos. Por muitos anos, lideranças operacionais insistiram, e até hoje insistem, junto a fabricantes, projetistas e instituições de pesquisa em melhorias e desenvolvimentos de equipamentos, especificamente os aplicados no processo de colheita (CCT/CTT). Não sem razão, uma vez que estamos diante de equipamentos modernos, porém com conceitos de aplicação de meio século atrás. Mas é inegável que melhorias foram implementadas, novas tecnologias, incorporadas, ou seja, houve investimentos e desenvolvimento que gerou modernização. Recentemente, coordenei uma mesa de debates em um evento de tecnologia de mecanização no setor, onde se confrontaram os principais fabricantes de colhedoras de cana, cujo foco é a apresentação dos desenvolvimentos e novidades que cada marca colocará no mercado em breve. Por confrontar fabricantes, diante de inflamada plateia de usuários com temário incandescente, a temperatura tornou o clima bastante “intenso”. Para minha surpresa, e sem prévio conhecimento das abordagens de cada um, todos, em uníssono, teceram uma linha de congruência entre seus temas que resumo em um parágrafo: “Ok, não obstante os esforços investidos no desenvolvimento e melhoria do meu
Não desejo transmitir uma mensagem de que estou satisfeito com o nível de tecnologia e de desenvolvimento que nossos equipamentos nos apresentam. Sabemos que precisamos modernizar e repensar conceitos quase seculares. "
Humberto César Carrara Neto Diretor Executivo da Usina São João
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Opiniões
TC/DIA
produto, concordo que ainda temos o que evoluir E novamente me apanho falando de “recursos físie melhorar. Porém a forma de operar e de gerir o cos”, sistemas, sensores, transmissores, softwares, etc., processo em que meu equipamento está incluso quando abordamos os fabricantes clamando por melhonão permite que se recolha dele muito mais do rias e pelo desenvolvimento de suas máquinas. Tivesque 50% de sua capacidade hoje oferecida”. se eu tudo isso prontamente disponível à minha mão, E isso é a mais pura verdade, já que podemos será que estaria minha equipe, gestores, mantenedores, ver, nos gráficos em destaque, resultados médios operadores, controladores preparados para extrair, sem de desempenho obtidos no setor. Atribuindo-se exaurir, o máximo de meus ativos? uma capacidade operacional de 85 t/h e admitinE neste ponto chamo atenção para, talvez, o componente do-se, hipoteticamente, que a máquina poderia mais importante de toda e qualquer tecnologia inovadora, as operar 24 horas seguidas, obtemos o potencial pessoas que irão recebê-la, implementá-la, utilizá-la, e, creiam, de produção de 2.040 t/dia. Percebam que 870 t serão o elemento responsável por perpetuar o sucesso, transforsão perdidas com os tempos auxiliares, ou seja, mando-o em rotina, ou relegá-la ao fracasso e ao ostracismo, inerentes à operação/manutenção, restando, enlevando consigo uma parcela de nossos resultados. tão 1.170 t/dia, de capacidade operacional, dos Certamente, não nos faltam exemplos de tecnologias piquais só conseguimos realizar, efetivamente, 588 rotécnicas que primam muito pela “apresentação” e deixam t/dia, 50% do potencial hipotético (Esalq/Deere). a desejar no quesito “entregas”, mas é fundamental uma Podemos ver que as 588 t/dia de produção efetiautoanálise para que respondamos, primeiramente, se escova situam-se nas empresas com bom desempenho lhemos a tecnologia correta e, em seguida, se preparamos operacional (400 a 600 t/dia). devidamente nossa gente para recebê-la de forma que se No gráfico seguinte, podemos ver que empretorne cotidiana, rotineira, algo realmente essencial, de mosas com ótimo desempenho apresentam 49,5% do a fazer parte do DNA de nossas organizações. de aproveitamento potencial, e a média situa-se Querem um teste cabal de funcionalidade cotidiana e rona casa dos 36,5% (Assiste). Ou seja, a gestão tineira? Desligue-a, ou deixe de pedir demonstrativos por cotidiana desse ativo, o meio em que ele está inalgum tempo. serido, a forma como ele é operado, em média Se tudo continuar funcionando “como dantes no quartel levantada no setor, não permite que ele produza d’ Abrantes”..., chame Houston: ”you” have a problem! efetivamente mais do que 50% de sua capacidade instalada durante uma safra. QUAIS SÃO OS FATORES QUE AFETAM A EFICIÊNCIA? Muito mais do que máquinas modernas, com alta tecnologia, precisamos de ferra300 350 400 450 500 550 600 650 700 mentas e de pessoal com programação menÓTIMO tal que nos permitam usá-las mais e melhor. BOM Precisamos de profissionais que enxerguem 2000 REGULAR 340 1800 não só o equipamento, mas todo o contexto, RUIM 163 1600 ambiente, meio e homens em que ele está 184 1400 inserido. Evidentemente, no citado caso, 184 1200 foram enaltecidas as qualidades de seus 1000 2040 produtos, mas todos, sem prévia combina581 800 ção, enfatizaram as ferramentas que seus 600 produtos possuem para que possam ser mais 400 bem geridos e utilizados. E, para esse fim, 588 200 felizmente, o mercado também já nos ofe8% 9% 8% 29% 0 rece uma infinidade de recursos, sistemas, softwares que nos permitem saber, com a rapidez da telemetria, o que estou fazendo e onde, com que intensidade (produção), se não estou produzindo, qual o motivo, se estou parado, de que preciso, de forma % DAS HORAS TRABALHADAS DAS COLHEDORAS DE CANA que todos os ativos envolvidos na cadeia, EM RELAÇÃO ÀS HORAS DE SAFRA num ambiente de gestão compartilhada po90,0 EXCELENTE BOM MÉDIO BAIXO dem ser conectados a uma demanda gerada 80,0 > 44,8 35,3 A 44,7 32,5 A 35,2 < 32,4 pela indústria, e seu ritmo ser gerido por um 70,0 software de logística, de modo a maximizar 60,0 sua produtividade. Não desejo transmitir 50,0 uma mensagem de que estou satisfeito com 40,0 MÉDIA 30,0 o nível de tecnologia e de desenvolvimento 20,0 que nossos equipamentos nos apresentam. 10,0 Sabemos que precisamos modernizar e, tal0,0 vez, antes de tudo, repensar conceitos quase C O B X M U Z V Q J L T W R H AA N E S P MÉDIA G D A F I seculares, e não acredito que os fabricantes USINAS se furtem a essa responsabilidade. 37,9
25,7
26,5
27,1
28,2
30,8
32,5
MÉDIA DE COLHEITA/DIA
TEMPOS PERDIDOS
32,5
33,0
33,7
34,5
MANUTENÇÃO CORRETIVA
34,8
35,2
36,4
TEMPOS AUXILIARES (PREVENTIVA)
36,9
37,0
37,3
TEMPOS ACESSÓRIOS (MANOBRA)
41,5
41,7
44,3
44,5
45,0
46,4
50,2
53,0
58,2
% DE HORAS TRABALHADAS
CAPACIDADE DE COLHEITA EFETIVA
LIMITAÇÃO DE VELOCIDADE
Adaptado de Pesquisa do IDEA, safra 15/16
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plantio mecanizado
Opiniões
o desafio
que está sendo vencido Se existe uma operação agrícola dentro da cadeia produtiva da cana-de-açúcar que vem sendo aprimorada e reinventada todos os dias na última década, essa operação é o plantio. "
José Guilherme Perticarrari Consultor da Perti Agri Consultoria
O foco principal deste artigo é mostrar a evolução do sistema de plantio mecanizado no Brasil e a constatação de que, apesar dos desafios tecnológicos que o setor ainda precisa vencer para obter resultados de produtividade similares ou superiores ao sistema de plantio manual, com as tecnologias já existentes, uso do bom senso e de uma boa estratégia logística e operacional, podem obter-se níveis satisfatórios de qualidade de plantio, com baixos custos e alta produtividade. Se existe uma operação agrícola dentro da cadeia produtiva da cana-de-açúcar que vem sendo aprimorada e reinventada todos os dias na última década, essa operação é o plantio. Tudo começou, vale relembrar, num passado não muito distante, no início da década de 1990, depois de viagens feitas à Austrália, na época, a detentora das mais avançadas tecnologias de plantio mecanizado. Foi importada uma plantadora de fabricação australiana, para se encurtar o tempo de desenvolvimento da tecnologia. Nas duas primeiras áreas de ensaios feitas com a plantadora, os resultados foram desanimadores. A primeira área foi totalmente prejudicada pela podridão abacaxi, e a segunda teve um grave problema de assoreamento quase total dos sulcos de plantio, resultando em uma brotação próxima de zero. Teria sido isso azar? Não. Descobrimos rapidamente que não se podia achar que o Brasil era a mesma coisa que a Austrália.
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Lá, o plantio mecanizado recebia um cuidado especial com as gemas e os toletes em relação aos danos mecânicos na colheita da muda, com o uso de colhedora adequada para essa função, e ainda utilizavam, no tratamento químico dos toletes, um fungicida mercurial de alta eficácia, proibido no Brasil, assim não tinham o problema com fungos que causavam a podridão abacaxi. No caso do assoreamento, constatou-se que o sulcador da plantadora era para plantio em áreas irrigadas na Austrália, que fazia um sulco muito raso para as condições brasileiras, o que facilitou o assoreamento e a perda da área. A partir daí, a maioria já conhece a história da evolução do plantio mecanizado no Brasil até chegar aos dias atuais. Por mais que se tenham feito desenvolvimentos pelas instituições de pesquisa, empresas fabricantes de equipamentos e agroquímicas, sempre houve um gap tecnológico entre as necessidades do plantio mecanizado e a dura realidade. Isso porque o desenvolvimento do plantio mecanizado não obedeceu a um cronograma planejado estrategicamente. Ele foi fruto da necessidade legal da implantação do sistema de colheita mecanizada de cana crua no Brasil,
plantio mecanizado que arrastou com ele o plantio mecanizado, por inúmeros motivos, técnicos, trabalhistas (como a NR-31), legais e econômicos. Ainda estamos pagando um ônus por essa defasagem, pois o plantio não aceita desaforos, como dizem os mais antigos no setor. Mas, como nós brasileiros temos uma capacidade muito grande de sobreviver às dificuldades e de aprender com os nossos erros, partiu-se para uma escalada tecnológica de evolução do sistema de plantio mecanizado sem precedentes. Foram abordadas todas as etapas do processo: desenvolvimento de máquinas e equipamentos agrícolas, técnicas agronômicas, de fitossanidade, variedades adequadas, qualidade da muda, logística, entre outras. Dentro desse contexto, a evolução na área de desenvolvimento de equipamentos foi uma das mais acentuadas. Atualmente, o setor produtivo conta com, pelo menos, quatro grandes empresas fabricantes de plantadoras de cana-de-açúcar, sendo que as novidades mais atuais estão relacionadas ao controle das operações do plantio, como utilização de câmeras em diversos pontos da plantadora, sensores dosadores de insumos, controladores de dispositivos hidráulicos, aferidores de velocidade e georreferenciamento por GPS. As câmeras, inicialmente, foram utilizadas para auxiliar o operador da plantadora durante o trabalho noturno, porém, atualmente, estão sendo empregadas em maior quantidade, com objetivo de substituir o operador da plantadora, restando ao operador do trator controlar essas funções. Nos equipamentos mais modernos, essas funções já estão totalmente automatizadas. Trata-se de uma tecnologia de ponta, que reduz custo de mão de obra e teve sua eficácia comprovada nas avaliações de plantios. Na prática, costumamos dizer que o melhor plantio mecanizado é aquele que utiliza torta de filtro ou outros compostos orgânicos e sistema de preparo do solo localizado/reduzido. A torta, porque é uma excelente fonte de fósforo e nitrogênio, além de melhorar muito as propriedades físicas do solo, retendo melhor a água e os nutrientes para a planta. O preparo localizado, porque um dos grandes problemas do plantio mecanizado é o assoreamento dos sulcos de plantio, e esse sistema é muito positivo quanto a esse aspecto. As mudas são o ponto crucial do plantio mecanizado. Além das questões básicas quanto à sua qualidade, sanidade, vigor, etc., o ponto mais importante é que a muda tenha em torno de 8 meses de idade, no máximo 9. Não se deve passar dessa idade, sob pena de até se perder o plantio. Um outro aspecto importante é com relação às condições físicas dessas mudas para a colheita mecânica e o plantio mecanizado comercial. Estamos priorizando o vigor e a massa vegetal, mas é importante que elas permaneçam eretas e não tombem facilmente com qualquer vento.
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A localização dos viveiros influencia bastante os rendimentos operacionais dos equipamentos envolvidos no plantio e diretamente nos custos. Lembrando que, além da colheita e do transporte da muda, existe toda uma retaguarda de suporte técnico, vários insumos, etc. O ideal é que se consiga planejar a localização do viveiro diretamente nas áreas de plantio ou o mais próximo possível delas. Um dos assuntos que estão em evidência no momento é o mapeamento e o restabelecimento das falhas de plantio, além da perspectiva de se poder replantar as falhas do canavial no último corte, ao invés de se fazer a reforma do canavial. Com relação à segunda opção (substituir a reforma), não vou abordar o assunto, porque, atualmente, existem empresas trabalhando nessa alternativa, e não seria muito ético da minha parte. Já o monitoramento e a correção das falhas de plantio são assuntos que trabalhamos nos últimos três anos e com o qual tivemos um excelente aprendizado. Apesar de todos os pontos positivos do trabalho e do grande potencial do uso de VANTs para o monitoramento e a correção de falhas, ainda continuamos falando e provando que o melhor custo de plantio é o “plantio sem falha”. Daí priorizarmos a evolução do sistema de plantio mecanizado. Já a melhor época para se fazer o plantio mecanizado é um paradoxo. O que é bom para o plantio, que é o solo úmido, não é para a colheita das mudas, que é o solo seco. Dessa forma, o planejamento do plantio deve acrescentar às demais condições de contorno a limitação da colheita da muda em função de umidade e tipo de solo, como também no plantio, pois os equipamentos são pesados e de tráfego complicado, com excesso de umidade no solo. Estudos mais recentes de dados, aprofundados pela Perti Agri em 2015, mostram que as perdas médias de produtividade que ocorrem no sistema de plantio mecanizado, durante o ciclo de produção da cana-de-açúcar, mesmo em usinas bem administradas, variam de 2% a 12%, com média de 8%. Só a época de plantio não adequada, forçada pelas características do sistema de plantio mecanizado, e o aumento da duração do plantio, de três meses efetivos (cana de ano e meio) para cinco a sete meses de plantio, são responsáveis por perdas de produtividade que podem chegar até 10%. Dessa forma, o ideal é que pudéssemos, cada vez mais, superar os obstáculos técnicos e concentrar novamente o período de plantio só naquele favorável, como no plantio manual, mas, por enquanto, teremos que conviver com essa situação. Finalizando, a mecanização do plantio envolve diversas variáveis que influenciam no processo, como: topografia semelhante à colheita mecanizada; melhor qualidade de preparo e maior preservação do solo; redução do tráfego e menor pisoteio; layout do talhão; espaçamento entre linhas; logística de abastecimento e controle de dosagem de insumos agrícolas; dosagem de mudas; cobrição da linha de plantio; idade e qualidade da muda; potência dos tratores; treinamento e interação das equipes. Isso evidencia que todo o esforço em pesquisa e desenvolvimento para melhoria desse sistema deverá continuar abrangendo diversas disciplinas, como agronomia, engenharia agrícola, biotecnologia e fitossanidade. A sinergia entre essas áreas será o diferencial para o sucesso dessa tecnologia que vem crescendo de forma exponencial no Brasil.
manejo de cana crua
Opiniões
navegar
ou deixar o barco ir a pique
A cultura da cana-de-açúcar foi a primeira atividade de produção agrícola implantada no Brasil, apenas 32 anos após o descobrimento da nova terra. As mudas de cana, trazidas dos Açores e da Madeira por Martim Afonso de Souza e plantadas na Capitania de São Vicente, incentivaram esse donatário a construir ali o primeiro engenho de açúcar do Brasil, o “Senhor Governador”, conhecido, a partir de 1540, como “Engenho São Jorge dos Erasmos”. Ainda nas décadas de 1530 e 1540, a lavoura da cana se expandiu para as áreas costeiras ao norte da Baía de Santos e chegou até Olinda, na Capitania de Pernambuco. Na região Nordeste, as condições de clima propiciaram produzir açúcar de melhor qualidade que o mercado europeu exigia e remunerava melhor. A produtividade agrícola era menor do que a obtida em São Vicente, mas era compensada pela maior concentração de sacarose no colmo e pela melhor qualidade do açúcar. A hegemonia brasileira na produção de açúcar durou até o início do século XVII, quando a descoberta de ouro nas Minas Gerais redirecionou o foco da Coroa portuguesa, que passou a investir na interiorização.
A cultura da cana-de-açúcar foi a primeira atividade de produção agrícola implantada no Brasil, apenas 32 anos após o descobrimento da nova terra. "
Celio Manechini
Consultor da CMA - Capacitação em Manejo Agronômico
Além disso, a conquista por holandeses, ingleses e franceses de áreas antilhanas produtoras de cana alterou o panorama do domínio açucareiro na Europa. Esse histórico pode parecer descabido neste artigo, mas visa realçar que, desde o início da canavicultura no Brasil, a necessidade de se reinventar continuamente e transformar problemas em oportunidades vem fazendo a diferença entre continuar navegando ou deixar “o barco ir a pique”. O setor canavieiro brasileiro já passou por fases de bonança, mescladas com crises econômicas, períodos de clima atípico, surtos de pragas e doenças da cana, além das frequentes políticas governamentais equivocadas, que inviabilizaram empreendimentos açucareiros durante toda a sua história. É digno de nota um fato mais recente, que poderia ter sido o fim do cultivo da cana em grande extensão de áreas no estado de São Paulo, a proibição de queimadas nos perímetros urbanos. O Decreto Estadual 28.895, de 1988, proibia a queima dos canaviais situados a menos de 1 km de qualquer aglomerado urbano. A colheita manual sem a queima da cana implicaria maior risco de ataques de insetos e animais peçonhentos, ferimentos, incêndio acidental e outros riscos para os trabalhadores rurais. Além disso, o baixo rendimento na colheita da cana cortada manualmente, sem queimar, elevaria muito seu custo de produção. A tentativa de solução foi redirecionar as poucas colhedoras mecanizadas, então existentes nas usinas, para colher a cana crua nos perímetros urbanos.
manejo de cana crua Entretanto, era necessário definir como seriam executados, em seguida, os tratos culturais nas soqueiras, na presença da palha que permaneceria sobre o terreno após a colheita da cana sem queimar. Considerando a importância estratégica e econômica de continuar produzindo cana nos perímetros urbanos, o Centro de Tecnologia Copersucar investiu capital e esforço em pesquisa para, inicialmente, conhecer a nova situação e, a médio prazo, desenvolver práticas agronômicas para manejar o canavial sem queima. Canaviais colhidos sem queimar, em usinas no estado de São Paulo, vinham sendo acompanhados desde 1986 pelo CTC, para avaliar a evolução da lavoura nesse tipo de manejo. Essas avaliações subsidiaram as primeiras recomendações de adubação para a cana crua, feitas pela Seção de Manejo de Solos, e indicaram as mudanças que deveriam ser feitas pela Seção de Projetos Mecânicos Agrícolas nas colhedoras, para melhorar seu desempenho na colheita da cana crua. O “Projeto Cana Crua” do CTC foi instituído a partir de 1990, para criar conhecimento para manejar canaviais sem a despalha a fogo. Como objetivos de longo prazo, o Projeto visava avaliar os efeitos que a palha deixada no campo e a inclusão de mais palha na matéria-prima poderiam causar em todas as fases da cadeia de valor da agroindústria, no campo, no transporte e no processo industrial. Contando com equipes técnicas multidisciplinares do CTC, o Projeto conduziu centenas de experimentos em usinas cooperadas. Cada tipo de experimento era avaliado e reinstalado sobre as mesmas parcelas, após cada colheita, e visava comparar resultados, nas condições com e sem palha, para definir: a. fontes, doses e localização dos fertilizantes minerais em soqueiras; b. cultivo mecânico das soqueiras; necessidade e tipo de cultivo; c. fertirrigação e complementação nitrogenada do canavial; d. aptidão das variedades de cana-de-açúcar para manejo sem queima; e. efeito do manejo sem queima na qualidade da matéria-prima industrial; f. controle químico e cultural de plantas daninhas com diferentes quantidades de palha; g. efeito da eliminação da queima sobre a população de pragas da cana-de-açúcar; h. efeito da cobertura de palha sobre o manejo do solo e a dinâmica da água; i. efeito da colheita mecanizada sobre o solo e a lavoura; j. tipos de preparo do solo e plantio para o manejo da cana sem queimar. A avaliação dos resultados obtidos a cada ano, aliados à análise dos fatores climáticos e fenológicos, permitiram concluir que a eliminação da queima e o consequente aumento da quantidade de palha introduziram mudanças no sistema de produção da cana-de-açúcar. Parte dessas mudanças representam desvantagens da cana crua, ao comparar esse sistema de manejo com o anterior, com queima. Esses efeitos foram observados logo após a primeira colheita dos ensaios sem queima e podem ser citados, como: • maior dificuldade de colheita, pelo grande volume de massa vegetal; • risco de pisoteio nas soqueiras, pela maior dificuldade de visualização; • aumento no teor de perdas na colheita mecanizada; • maior conteúdo de impurezas vegetais na matéria-prima; • risco de compactação do solo quando colhido com umidade; • menor eficiência do transporte devido à menor densidade da carga; • perda de açúcar na moagem por arraste pela fibra; • risco de pragas, protegidas pela palha e não mais eliminadas pelo fogo; • menor maturação, pelo maior período de umidade no solo. Outras mudanças, as benéficas, foram notadas após alguns anos de colheita sem queima. Esses benefícios são devidos à maior quantidade de palha no campo, protegendo o solo contra
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Opiniões a ação deletéria do impacto das gotas de chuva, do vento e da radiação solar diretamente sobre sua superfície. Os maiores benefícios são devidos à: • eliminação da queimada e de suas consequências sobre o solo, a biosfera, o ambiente e a população; • reciclagem de nutrientes e da matéria orgânica do solo; • eliminação das perdas de água do solo por evaporação; • redução do risco de erosão, pela proteção da superfície do solo; • possibilidade de sistematizar a lavoura, ganhando eficiência operacional; • eliminação da deterioração da cana, que ocorria após a queima; • possibilidade de mudar frentes de colheita a qualquer momento, se necessário; • redução do uso de herbicidas no controle de aproximadamente 90% das espécies de plantas daninhas; • eliminação do cultivo mecânico das soqueiras; • favorecimento de macro e microrganismos úteis no solo (infiltração de água); • perenização dos agentes de controle biológico de pragas. Além desses fatos, a biomassa adicional, quando queimada nas caldeiras, produz vapor para movimentar turbogeradores, transformando as usinas em unidades termoelétricas, sem o consumo de combustíveis fósseis, produzindo energia elétrica limpa e renovável, situadas próximo aos centros consumidores e produzindo energia, na época, de menor disponibilidade de água nas hidrelétricas. Os resultados de longo prazo do projeto mostraram que existem variedades de cana com maior aptidão para o manejo sem queima ─ entenda-se colheita mecanizada. Essa aptidão varietal é resultado da soma das características agrotecnológicas dos colmos e morfológicas das suas touceiras. O ponto crítico do sistema de produção da cana crua é a alta intensidade de mecanização exigida, com aumento do tráfego de grandes máquinas nos talhões. Considerando apenas a colheita, a esteira da colhedora trafega duas vezes, e os pneus do conjunto trator-transbordo, no mínimo, mais seis vezes em cada entrelinha do canavial, a cada colheita. Isso aumenta muito o risco de pisoteio da soqueira e compactação do solo, tornando indispensável a adoção de tecnologias e práticas que minimizem esses riscos: • treinamento continuado em todos os níveis de gestão na usina; • padronização do espaçamento entre as linhas da cana; • ajuste das bitolas dos equipamentos agrícolas; • instalação de GPS e piloto automático nas máquinas agrícolas; • monitoramento local ou remoto das operações; • adequação da velocidade de operação ao grau de dificuldade local do canavial; • outras práticas que possam garantir a sustentabilidade do empreendimento, através do aumento da produtividade agrícola, da qualidade da matéria-prima e dos produtos finais e, em última análise, da redução do custo de produção do açúcar, do etanol, da energia elétrica e dos demais subprodutos.
implantação de tecnologias agrícolas
o poder da inovação incremental A inovação incremental tem sido a forma predominante de redução de custos ou melhoria de produtos, processos e serviços existentes. A razão de sua popularidade é em função de seu baixo risco e de baixa necessidade de recursos quando comparada à inovação radical (tecnologias que quebram paradigmas) e disruptiva (inovações transformacionais). O crescimento do setor sucroenergético brasileiro não decorre apenas de vantagens naturais, como localização geográfica, solo, clima e temperatura, mas sim como resultado de esforços cumulativos e da curva de aprendizado que se estendeu em toda a cadeia de valor. Nesse contexto, a inovação incremental teve, e continua tendo, papel fundamental no setor sucroenergético. A inovação incremental também faz parte da estratégia de inovação de grandes corporações que, apesar de reconhecidas pela sua trajetória de desenvolvimento de soluções radicalmente inovadoras, vêm se mostrando cada vez mais adeptas à inovação incremental, evidenciando que há muito espaço para pequenas melhorias com grande possibilidade de retorno (não é difícil notar que as novas gerações de celulares Apple não apresentam inovações radicais em sua tecnologia). Apesar disso, é evidente que os principais executivos nas empresas buscam tecnologias radicais e disruptivas que, além de inspirarem e motivarem seu pessoal, posicionam sua empresa como líder isolada no mercado, pelo menos durante o tempo necessário para que os concorrentes possam alcançá-los. Convencer que a inovação incremental é tão importante quanto a inovação radical é particularmente difícil em alguns casos, porém se trata de um processo contínuo de melhoria e otimização de produtos, processos e serviços que mantém a organização em condições favoráveis para financiar o desenvolvimento de tecnologias revolucionárias.
São ideias simples, pequenas modificações, ou mesmo grandes sacadas de 'como fazer melhor o que já estamos fazendo', que podem fazer a diferença no contexto global. "
Luciano Rodrigues Menegasso
Consultor da AgroExcel Consultoria Tecnologia e Estratégica
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Pequenas melhorias podem resultar em grandes mudanças ao longo do tempo e representam um aprendizado contínuo para a empresa e seus colaboradores. Mudanças incrementais são fundamentais para um crescimento organizacional de baixo risco, porém o balanceamento entre iniciativas incrementais, radicais e transformacionais (disruptivas) é fundamental para o crescimento e a sustentabilidade do negócio no curto e no longo prazo, principalmente para aqueles que buscam navegar em oceanos azuis (referência ao livro A estratégia do oceano azul, escrito por W. Chan Kim e Reneé Mauborgne). Um dos principais direcionadores do processo inovador no setor sucroenergético está relacionado ao ambiente externo, ou seja, o atual cenário político e econômico, criando um senso de urgência em torno de ações para melhoria da produtividade e redução de custos operacionais. Nesse contexto, inovações incrementais têm prioridade em relação às radicais e disruptivas, cujo menor risco e maior rapidez na quantificação dos resultados permitem fôlego extra, enquanto perdurar este cenário de incerteza e instabilidade. Conforme palavras do professor Peter F. Drucker, “a empresa que não inova inevitavelmente fica obsoleta e declina. E, num período dinâmico como o atual, o declínio será rápido”. Apesar de grandes oportunidades de redução de custo e melhorias incrementais, tanto na área agrícola quanto na industrial, o processo de inovação em um setor tão complexo como o sucroenergético é um desafio à parte. Entender as múltiplas dimensões do processo de inovação certamente ajudará a superar esse desafio. Uma das dimensões do processo de inovação diz respeito à origem, podendo ser top-down (de cima para baixo) ou bottom-up (de baixo para cima). A inovação top-down é desenhada pela alta administração, está alinhada à estratégia organizacional e traduz-se numa série de planos de ação que, também de forma top-down, são repassados às equipes gerenciais até chegar no operacional. Já a inovação bottom-up tem início nas equipes operacionais, e os resultados alcançados criam ainda mais valor à estratégia organizacional.
Opiniões São ideias simples, pequenas modificações, ou mesmo grandes sacadas de “como fazer melhor o que já estamos fazendo”, que podem fazer a diferença no contexto global. A inovação bottom-up tem, na área agrícola, um grande potencial de criar valor, principalmente devido à sua representatividade do custo total de produção de açúcar e etanol, às extensas áreas cultivadas, à grande quantidade de máquinas, à intensidade de operações e aos processos agrícolas, que se estendem por praticamente o ano todo. Esperar que a inovação bottom-up, tanto na área agrícola como industrial, aconteça de forma espontânea certamente terá resultados decepcionantes, necessitando que a empresa crie ambiente e condições que promovam e potencializem o processo de geração e comunicação das ideias e soluções. Enquanto na inovação top-down um bom gerenciamento de projetos e um eficaz sistema de gestão de indicadores de desempenho podem ser suficientes, a inovação bottom up precisa focar outros aspectos, principalmente relacionado ao indivíduo, quanto a forma que ele enxerga seu trabalho e à compreensão que possui sobre como seu esforço contribui para o todo. Estudos recentes mostram que a percepção de um ambiente dinâmico e aberto ao diálogo, com boa comunicação entre níveis horizontais e verticais, além da maior conectividade nas relações internas, potencializa o processo de geração de ideais bottom-up.
Representação de Portfólio de Inovação Balanceado
G1
G2
G3
G4
G5
G6
INOVAÇÃO INCREMENTAL INOVAÇÃO RADICAL INOVAÇÃO DISRUPTIVA
Por outro lado, pressão top-down para que os colaboradores inovem em seu dia a dia definitivamente não é o melhor caminho. É preciso criar um ambiente favorável, transparente e motivador a fim de alavancar a contribuição espontânea e efetiva das equipes operacionais. Conclui-se que manter e potencializar inovação incremental é uma excelente aposta para o setor sucroenergético, considerando o atual cenário político e econômico. As inciativas devem ser prioritariamente direcionadas à redução de custos e à melhoria dos processos, exigindo das corporações um ambiente favorável, motivador e estruturado para que as ideias, as atitudes e as grandes sacadas surjam e, cumulativamente, possam criar significativo valor para o negócio.
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manejo agronômico
Opiniões
manejo agronômico de
cana-de-açúcar
O que é manejo agronômico? A definição é simples. Manejo é o conjunto de práticas ou procedimentos que, aplicados aos fatores de produção, resultam na produção física. Em síntese, o manejo agrícola é a reunião de todas as tecnologias disponíveis que podem estar ou não a serviço do produtor. Esse conjunto deve ser aplicado em uma base, que é chamada de fatores básicos ou pilares da produção: o clima e o solo. Assim divididos, o elo que os une, o manejo agronômico, se transforma no terceiro e talvez o mais importante fator, pois carrega o conhecimento tecnológico. Assim, uma reflexão mais detalhada do assunto nos revela que esses fatores ou pilares da produção/produtividade podem ser divididos, então, em três: clima, solo e manejo (agronômico). Diversos profissionais encarregam-se de desenvolver inovações nas múltiplas áreas do conhecimento agronômico, e outros tantos, do outro lado na produção, a aplicá-las. Para que esse conjunto de regras possa ser adequadamente utilizado, é fundamental o conhecimento inicial dos pilares básicos – solo e clima. É neles e para eles que são desenvolvidas as máquinas, os fertilizantes e os cultivares. Dessa sequência derivam o controle das pragas, doenças e toda a base da indústria agroquímica; enfim, o manejo agronômico.
Pensando em conhecimento, o clima talvez seja, dos três fatores, o mais difícil de entender e de controlar. Diversos estudos são dedicados a entender os processos que governam o clima e o tempo, aqui representados pelo regime das chuvas, pela intensidade de radiação solar, pela temperatura (relevo), pela alternância e duração das estações e pela sua influência na fenologia da cana-de-açúcar. Nesse sentido, a definição e o estabelecimento das fronteiras das regiões climáticas (Figura 1) e o entendimento de como isso governa e afeta a produtividade têm valia para o produtor, pois estabelecem e definem tecnologias que vão ser utilizadas no outro pilar da produção, o manejo agronômico. A recomendação de variedades (manejo) e o estabelecimento da necessidade da irrigação é um exemplo de tecnologia, e talvez uma das poucas a nos ajudar a “controlar” (manejar) o clima. O solo, o segundo pilar da produção, é, em regra, influenciado pelo primeiro – clima
Diversos profissionais encarregam-se de desenvolver inovações nas múltiplas áreas do conhecimento agronômico, e outros tantos, do outro lado na produção, a aplicá-las. "
Jorge Luis Donzelli
Consultor da DZLL – Consultoria & Manejo Agronômico
– e intensamente modificado pelo terceiro pilar (manejo). É nele que residem também os fatores primordiais da sustentabilidade da produtividade. O produtor deve conhecer detalhadamente os tipos de solo presentes em sua propriedade, para, adequadamente, realizar intervenções para conservar, manter e/ou
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manejo agronômico 1. CLASSES CLIMÁTICAS DOS AMBIENTES EDAFOCLIMÁTICOS AMAZÔNIA TO
BA
MT
MG GO PANTANAL MS
SP RJ
LEGENDA ACIONISTAS UNIDADE PRODUTIVA PRINCIPAIS CIDADES OCEANOS RESTRIÇÃO AMBIENTAL AMAZÔNIA PANTANAL CLASSES: 0
1 2 3 4 5 6
PR SC
tcana/ha
2. PRODUTIVIDADE MÉDIA DE 5 CORTES, NO AMBIENTE D-II SAFRAS 06/07 A 10/11 105,0 100,0 95,0 90,0 85,0 80,0 75,0 70,0
US.2
US.3
US.5
US.7
US.4
US.8
US.6
US.9
USINAS
TCH
3. COMPARAÇÃO TCH est versus TCH real 250 200 - 11%
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TCH est TCH real
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NÚMERO DE CORTES
modificar temporariamente características que vão potencializar a produtividade. Cultivares, corretivos, adubações, adição de matéria orgânica e técnicas integradas de conservação são manejos que o produtor tem ao seu dispor para alcançar as produtividades desejadas. Avançando um pouco mais na questão do conhecimento, a junção de informações de clima e de solos nos ambientes de produção edafoclimáticos organiza a questão do desenvolvimento de variedades e sua recomendação de plantio e colheita.
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Diferentes unidades produtivas podem comparar-se e aplicar técnicas de manejo que vão desde a alocação do cultivar correto até a definição de frentes de colheita. Diferenças marcantes de produtividade podem ser observadas em unidades produtivas que se utilizam de manejos diferentes, dentro dos mesmos ambientes de produção (Figura 2). Diferenças de até 35% podem ser observadas em um conjunto de 6 safras. Dentro desse contexto da aplicação do manejo correto para obtenção da máxima produção, um levantamento de dados recente demonstrou que houve um decréscimo significativo na utilização de tecnologias no setor canavieiro nas últimas safras, e acrescenta: a execução inadequada de manejo agrícola agrava o problema, comprometendo o sucesso de novas variedades. Nesse sentido, a assistência técnica mais próxima dos produtores, cada vez mais afastados dos centros tradicionais, facilitaria o melhor aproveitamento das novas variedades. Diante desses argumentos, chega-se à seguinte situação: há novas variedades de cana lançadas a cada ano. Contudo o ritmo da difusão tecnológica vem diminuindo. E, como sugere Demattê, parte da explicação reside no desempenho desses produtos, que não se provaram consistentes o bastante e, portanto, capazes de compensar o risco de troca das variedades atualmente vencedoras. De fato, observa-se na Figura 3 que, em levantamento de produtividade de canavial em unidade produtora na região de Piracicaba, demonstrou-se a inadequação do manejo de colheita da unidade, com reflexo na produtividade do ano seguinte, mesmo utilizando uma variedade de última geração. Verifica-se que era esperada uma queda de 11% na produtividade do segundo para o terceiro corte. Entretanto introduziu-se a colheita mecânica no segundo corte e no ano seguinte (3º corte), quando a produtividade real teve uma queda de 29%. Esse estudo revela a necessidade de adequação do manejo mecanizado de colheita nessa unidade. Estudos já mostraram que o tráfego em solos argilosos com umidade elevada agrava a compactação e o pisoteio das linhas de cana-de-açúcar e contribui para perdas de até 30% na produtividade do ano seguinte. Verifica-se, portanto, que o manejo agronômico (gestão), de maneira geral, é o catalizador da almejada estabilidade da produção/ produtividade.
pragas
Opiniões
pragas na cultura da cana-de-açúcar O crescimento contínuo da população humana, bem como as demandas por recursos básicos de subsistência, sobretudo no que diz respeito à produção de alimentos, tem exigido cada vez mais o desenvolvimento de estratégias inovadoras ou a produção de novas informações, que venham a auxiliar na aplicação de técnicas sustentáveis de produção agrícola. O atendimento para a crescente necessidade de produção de alimentos tem levado à prática intensiva de sistemas de cultivo agrícola, e o uso de novas tecnologias tem permitido práticas agrícolas com capacidade de atender às necessidades de produção. Mas, ao mesmo tempo em que a produção aumenta, surgem diversos problemas, e, dentre eles, o aumento de pragas, que pode ter consequências sociais e ambientais indesejadas. A área de cana-de-açúcar plantada no Brasil e os níveis de produção alcançados tornam o Brasil o maior produtor mundial de açúcar e o segundo produtor mundial de etanol.
As pragas que ocorrem nas lavouras canavieiras causam danos aos colmos, aos perfilhos, às folhas, ao sistema radicular e à base de colmos, desde a implantação até a reforma do canavial, ocorrendo, em geral, maior infestação nos canaviais com maior número de cortes. O dano causado por elas reduz a produção agrícola e afeta a qualidade da matéria-prima a ser industrializada, reduzindo, também, o rendimento dos processos de produção de açúcar e álcool. A contenção dos prejuízos somente pode ser feita com planejamento estratégico do manejo de pragas, o qual se inicia com avaliação da ocorrência da praga para conhecer as medidas de controle, fundamentadas nos levantamentos de campo. Assim, abordagens multissistêmicas e multidisciplinares são extremamente importantes para a geração de novas informações e na produção de novas tecnologias que venham permitir a prática sustentável de uma agricultura moderna.
Existe cerca de 1 milhão de insetos no mundo, e, desses, 1.300 espécies adaptadas à cultura da cana-de-açúcar, 500 nas Américas, e 30 espécies catalogadas em cana no Brasil. "
Luiz Carlos de Almeida Consultor da Entomol Consultoria
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pragas No manejo de pragas da cultura da cana-de-açúcar, o monitoramento é o principal componente para o sucesso na redução populacional da praga, mantendo-a em níveis de equilíbrio e promovendo a racionalização dos métodos de controle. Para a elaboração de um programa de manejo sustentável de pragas, são levadas em consideração diversas etapas, que incluem o reconhecimento das pragas-chave com estudos taxonômicos e biológicos, o estudo dos fatores climáticos que afetam a dinâmica populacional da praga, a avaliação dos inimigos naturais, a determinação dos níveis de dano econômico, de controle ou de equilíbrio, a avaliação populacional por meio de amostragens e a avaliação dos métodos mais adequados para o controle da praga-alvo. Existe cerca de 1 milhão de insetos no mundo, e, desses, 1.300 espécies adaptadas à cultura da cana-de-açúcar, 500 nas Américas, e 30 espécies catalogadas em cana no Brasil. As principais pragas da cana podem ser listadas de acordo com a sua ocorrência, e, dentre elas, podemos citar a broca-da-cana, do gênero Diatraea, cigarrinha-das-raízes e das folhas, do gênero Mahanarva, bicudo-da-cana, do gênero Sphenophorus, cupins, broca-gigante, do gênero Telchin, broca-dos-rizomas, do gênero Migdolus, nematoides, formigas cortadeiras, do gênero Atta, e lagarta-elasmo. A broca da cana-de-açúcar, Diatraea spp, é uma das principais pragas dessa cultura e ocorre em todas as regiões canavieiras do Brasil. Nas usinas onde os níveis populacionais são elevados, o manejo da praga tem sido realizado com sucesso, utilizando-se o controle biológico com liberações dirigidas de parasitoides. Esses inimigos naturais da praga, além de proporcionarem resultados econômicos positivos, não provocam desequilíbrios ecológicos. A adoção da colheita mecanizada de cana crua equacionou a questão econômica relacionada aos custos de produção e proporcionou inúmeros benefícios agronômicos e ambientais. Em contrapartida, a eliminação da queima e a presença de palha no ambiente modificaram, dentre outros aspectos, o perfil de pragas da cultura, destacando-se o caso da cigarrinha-das-raízes da cana-de-açúcar, Mahanarva fimbriolata. Nesse novo ambiente, a cigarrinha encontrou condições mais favoráveis de sobrevivência, pois a destruição de formas biológicas pela ação de fogo, especialmente ovos em diapausa que estão presentes em maior quantidade na época da colheita na região Sudeste, deixou de ocorrer.
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Opiniões Além disso, o acúmulo de palha no ambiente contribuiu para um aumento significativo da quantidade de raízes superficiais e, portanto, dos locais de alimentação das ninfas, para a manutenção de temperaturas mais estáveis e para a elevação da umidade do solo, além de proporcionar maior proteção das formas imaturas contra o ressecamento. O principal parâmetro determinado no monitoramento e levado em consideração para a tomada de decisão sobre a necessidade da adoção ou não de medidas de controle é o número de ninfas por metro. Embora o nível de controle (NC) e a densidade populacional da praga em que se justifica a adoção de medidas de controle sejam variáveis, em função do valor econômico da cultura, variedade cultivada, método de controle utilizado e de uma série de outros fatores, tem-se recomendado a aplicação do fungo M. anisopliae quando forem encontradas populações superiores a 2 ninfas/m. Sphenophorus levis, conhecido como bicudo-da-cana, se destaca pela severidade dos danos e, principalmente, pelas dificuldades de controle relacionadas ao comportamento e habitat de adultos e larvas. Os prejuízos econômicos são decorrentes de perdas na produtividade agrícola, que variam de 20 a 30 toneladas de cana por hectare, perdas na qualidade da matéria-prima, redução da longevidade do canavial e elevação dos custos de produção, devido às ações de monitoramento e controle que se fazem necessárias. A importância de S. levis para a cultura da cana-de-açúcar foi reconhecida em 1977, com a descoberta de um foco no município de Santa Bárbara do Oeste-SP. Sua distribuição ficou restrita à região de Piracicaba por quase duas décadas, apresentando um ritmo de expansão relativamente lento nesse período. Entretanto a área de abrangência dessa praga em 30 municípios teve um crescimento significativo a partir do ano de 2000, sendo confirmada sua nova presença em mais de uma centena de municípios nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. As pragas de solo, de maneira geral, são responsáveis por elevados prejuízos econômicos à cultura da cana-de-açúcar. Dentro desse grupo, cupins, Telchin, Migdolus e nematoides se destacam pela severidade dos danos e, principalmente, pelas dificuldades de controle relacionadas ao comportamento e ao habitat. Os prejuízos econômicos são decorrentes de perdas na produtividade agrícola, que variam de 10 a 30 toneladas de cana por hectare, perdas na qualidade da matéria-prima, redução da longevidade do canavial e elevação dos custos de produção, devido às ações de monitoramento e controle que se fazem necessárias. Os prejuízos anuais com as pragas, que afetam a cultura da cana-de-açúcar no Brasil chegam a R$ 6,7 bilhões. Dessas pragas, as duas principais são a broca-da-cana Diatraea, que ocorre em 8 milhões de hectares, e a cigarrinha Mahanarva, em 3 milhões de hectares, respondendo, juntas, por perdas que somam R$ 4,73 bilhões do total. Para o controle dessas pragas, deve-se priorizar o controle biológico, sempre que for possível, adotando uma visão mais geral do problema e da interferência dos métodos de controle sobre outras pragas e principalmente sobre o ambiente, pensando sempre em um manejo sustentável.
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pragas e nematoides
quando inovar é voltar atrás Inovar significa introduzir algo novo, renovar, e, por conseguinte, inovação é o ato de inovar. Uma inovação pode ser uma nova ideia, uma nova prática ou um novo material que facilite ou agilize ou aprimore determinado processo. Em termos de manejo de áreas infestadas por pragas ou nematoides, a inovação mais esperada é aquela que reduza ou, até mesmo, elimine as amostragens ou levantamentos populacionais. O manejo integrado de pragas e de nematoides (MIP) está baseado em um tripé que engloba: a) a amostragem, que fornece as informações sobre as populações de pragas nas diferentes áreas; b) o nível de dano econômico e o nível de controle, que definem quando adotar uma medida de controle e; c) medidas de controle, adotadas onde e quando necessárias (para facilitar a redação, neste texto, o termo “praga” será usado tanto em referência a insetos-pragas como a nematoides fitoparasitos, embora esses últimos não sejam pragas, e sim agentes causadores de doenças). O nível de dano econômico e o nível de controle são determinados para cada praga, considerando dados experimentais de campo e os custos de produção envolvidos no processo, ou seja, custos de insumos, aplicações, da cana, do açúcar, do álcool, do corte, carregamento, transporte, etc. Dada a complexidade desses estudos, o nível de dano econômico e o nível de controle são determinados de forma empírica, mas auxiliam o administrador na árdua tarefa de decidir se vale a pena, economicamente, controlar ou não uma determinada população de praga. Outra base do tripé para implantação de um programa de MIP está estabelecida nos estudos sobre eficiência de métodos de controle e seus impactos sobre o ambiente. De maneira geral, esses dados são os mais abundantes na literatura sobre qualquer praga em qualquer cultura. Finalmente, a decisão sobre onde adotar medidas de controle é fundamentada em levantamentos populacionais da praga e, de preferência, também de seus inimigos naturais, devido à interferência na mortalidade natural no agroecossistema. Em razão disso, para adoção de um programa de manejo de pragas, é imprescindível uma equipe de amostragem. Não há manejo de pragas sem amostragem, pois ela é parte fundamental desse processo.
Até o final da década de 1990 ou início dos anos 2000, a quase totalidade das usinas e até mesmo fornecedores possuíam uma equipe de pragas, composta geralmente por um coordenador de campo e número variável de rurícolas. Durante o ano todo, essa equipe se dedicava às amostragens de broca comum e, na estação chuvosa, às amostragens de cigarrinha-das-raízes e de nematoides; durante a época seca do ano, a equipe fazia os levantamentos de intensidade de infestação final de broca, amostragens de pragas de solo e, algumas vezes, até mesmo as estimativas de perdas na colheita. Essa mesma equipe era a responsável pelas liberações de Cotesia flavipes, pelo controle de formigas e, ainda, auxiliava a condução dos experimentos na área de manejo de pragas, conduzidos em parceria com instituições de pesquisas, como o IAC. Em condições ideais, a proporção era de 1 funcionário de campo para cada 1.000 hectares de lavoura, o que implicava equipes relativamente numerosas. Com o passar do tempo e sucessivas crises econômicas, as equipes foram sendo reduzidas e, em alguns casos, desapareceram. Em função da diminuição das equipes de amostragem, os levantamentos populacionais também foram reduzidos e passaram a ser feitos em somente parte da área da usina ou fornecedor e não mais em toda a área cultivada. Além da redução da área amostrada, o número de pontos de amostragem em cada área também se tornou significativamente menor. Esses dois fatores, redução da área amostrada e redução dos pontos de amostragem por área, elevaram os erros das estimativas populacionais de pragas, e, atualmente, são comuns os casos nos quais a amostragem é tão malfeita (quando é feita), que a população estimada não representa, de fato, a área. É importante frisar que a decisão sobre controlar ou não uma praga envolve uma
Não há qualquer possibilidade de se desenvolver um método de manejo de pragas que elimine a amostragem. "
Leila Luci Dinardo-Miranda
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Pesquisadora do Centro de Cana-de-açúcar do IAC
Opiniões soma significativa de recursos financeiros, não só pelos custos das aplicações dos defensivos agrícolas (produto + aplicação), que, sem uma boa amostragem, podem ser aplicados onde são desnecessários, mas também pelos prejuízos causados pela praga, se ela não for controlada onde e quando deveria ter sido. Assim, como tomar uma decisão tecnicamente correta e economicamente viável sobre o controle de uma determinada praga, decisão essa que envolve muito dinheiro, sem ter em mãos informações confiáveis sobre as populações nas diferentes áreas? A resposta para essa pergunta é "não há como tomar essa decisão de forma segura". Sem uma amostragem bem-feita, os riscos de aplicar defensivos onde eles não seriam necessários, ou deixar de aplicar onde eles seriam relevantes, ou aplicar antes do necessário ou muito depois do indicado, são elevados. Para não se arriscar a grandes prejuízos devido à ocorrência de pragas, muitos produtores (usinas e fornecedores) passaram a fazer o controle, principalmente com inseticidas, de forma indiscriminada, incorrendo em todos os problemas que essa atitude possa acarretar, incluindo aí o desperdício de dinheiro. Vale ressaltar que os inseticidas são uma excelente ferramenta no manejo de pragas; algumas vezes, são a única opção eficiente
para o controle de pragas, e, justamente por isso, devem ser usados com parcimônia, somente (e sempre) onde e quando necessários, justamente para que tão valiosa ferramenta tenha uma vida longa. Cientes das dificuldades na manutenção de grandes equipes de amostragens, as instituições de pesquisa, especialmente o IAC, têm trabalhado para alterar os métodos de amostragem de pragas, tornando-os de mais fácil e rápida execução (o que possibilitaria a execução por equipes menores), sem, contudo, perder a qualidade da informação gerada. Há muito ainda a ser feito, e muito tempo será demandado para fechar todas as lacunas, principalmente devido ao reduzido número de pesquisadores que se dedicam às pragas em cana-de-açúcar, mas algumas alterações importantes nos métodos de amostragens de pragas já foram sugeridas. Reforçando, há diversos estudos em andamento, visando tornar os métodos de amostragem mais fácil e rapidamente executáveis, o que poderá reverter o quadro atual de "abandono" de amostragem que predomina. Muitas usinas e fornecedores simplesmente não fazem nenhuma amostragem de pragas. Não há, entretanto, qualquer possibilidade de se desenvolver um método de manejo de pragas que elimine a amostragem. Por isso, hoje, para reduzir os prejuízos causados por pragas em cana-de-açúcar, tornando a cultura mais sustentável do ponto de vista técnico, econômico e ambiental, inovador talvez seja voltar atrás e implementar um programa de manejo de pragas que inclua uma bem treinada equipe para amostragem. Inovador talvez seja considerar que amostragem não é custo; é investimento.
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variedades
Opiniões
a tecnologia provavelmente ajudará A indústria sucroenergética brasileira enfrenta uma crise de fundo político-financeiro oriunda de falsos incentivos, ganância, má gestão, falta de credibilidade e impunidade que se alastra pelo nosso país "
Guilherme Rossi Machado Junior
Consultor da G. Rossi Consultoria e Representações C
A indústria sucroenergética brasileira enfrenta uma crise de fundo político-financeiro oriunda de falsos incentivos, ganância, má gestão, falta de credibilidade e impunidade que se alastra pelo nosso país, mas, por outro lado, detém uma tecnologia que provavelmente a ajudará a superá-la. No final dos anos 1990, houve uma reestruturação do setor sucroenergético com o uso de tecnologia que trouxe melhorias e aumento no teor de açúcar recuperável e tonelagens acima de três dígitos, em algumas unidades, como vemos hoje. Nos anos 1970, não se atingiam essas produtividades, e, para um projeto ser viável, elas deveriam estar acima de 70 toneladas de cana por hectare e 95 kg de açúcar por tonelada. O emprego de vinhaça nos canaviais das Usinas Tamoio e Da Pedra era novidade tecnológica na época. As variedades IAC - Instituto Agronômico de Campinas, gerenciadas pelo Dr. Antonio Segalla, e as variedades CB (Campos-Brasil), desenvolvidas na região de Campos-RJ, pelo Dr. Frederico Menezes Veiga, predominavam na época, após um ciclo de variedades importadas da Índia e de outros centros produtores. No Nordeste, alguns programas de desenvolvimento de cultivares surgiram sem lograr resultados. Em Dumont-SP, a Copereste, tendo à frente o Dr. Franz Brieger, foi uma das primeiras instituições privadas de pesquisa canavieira, encampada, a partir de 1970, pelo Programa de Melhoramento Copersucar, gerenciado pelo Dr. Hermindo Antunes Filho, contando, na época, com 90 usinas filiadas. Foi uma escola de tecnologia da cana-de-açúcar que formou dezenas de consultores, técnicos e diretores de usinas e que, em 2004, converteu-se no atual Centro de Tecnologia Canavieira, com a adesão de novas usinas e cooperativas. O Programa Nacional de Melhoramento de Cana – Planalsucar, também dessa época e liderado pelo Dr. Gilberto Miller Azzi, desenvolveu muita tecnologia e encerrou-se em 1990, sendo encampado pela, hoje, Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro – Ridesa, integrada por 10 universidades federais que, atualmente, dominam o benchmarking através das variedades RB, no Brasil.
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O programa de pesquisa mais antigo de cana-de-açúcar, do Instituto Agronômico de Campinas – IAC, sobreviveu por muitos anos estático, mas renasceu e mantém-se em marcha acelerada na pesquisa canavieira. Na década de 1990, a empresa Canavialis-Allelyx, fundada por melhoristas egressos do ex-Planalsucar, com investimentos do Grupo Votorantim, desenvolveu as variedades CV e foi, depois, adquirida pela Monsanto de Tecnologia, tornando-se a Canavialis Monsanto, com tecnologia de ponta na área de biotecnologia e melhoramento de cana-de-açúcar. Porém não resistiu à falta de perspectivas futuras para ganhos imediatos e retirou seus investimentos do mercado de pesquisa de cana-de-açúcar no Brasil. No auge da entrada de multinacionais na área de pesquisa canavieira, outras empresas visaram à introdução de distintos genes oriundos da biotecnologia em variedades próprias. Assim, as empresas DuPont, Bayer, Syngenta, Basf e até a estatal Embrapa cogitaram criar seus próprios programas de melhoramento vegetal de cana-de-açúcar, mas, quando o boom de investimento de novas usinas e destilarias (de 2006 a 2008) desacelerou, elas se desestimularam. Além disso, com os novos requisitos da cana-de-açúcar, como o programa de etanol de segunda geração e cogeração para produção de energia elétrica através da biomassa, outras empresas, como GranBio, Vignis e AgnBio, surgiram com foco em novas tecnologias, por exemplo, para o desenvolvimento de variedades de biomassa. Os primeiros dez anos do Programa de Melhoramento da Copersucar foram marcados por constantes cobranças das usinas envolvidas e resultaram em 7 novas variedades SP70 e 5 variedades SP71.
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variedades Também o Planalsucar liberou 5 variedades no Nordeste, ainda naquela década. A variedade NA56-79, introduzida da Argentina pelos cientistas Dr. Paranhos e Dr. Azzi, havia superado as outras por sua precocidade e teor de sacarose, sendo a mais plantada no Brasil, com 45% de área comercial, apesar de suscetível ao carvão. As usinas resistiam em substituí-la, mas, quando saiu de seu ambiente de produção, o carvão aumentou e teve que ser trocada pela série de variedades SP e RB, após um período de divulgação e mostra de resultados. A recém-liberada SP70-1143, por sua agressividade em solos ácidos e menor fertilidade, começou a tomar lugar desse cultivar argentino nas áreas ocupadas pela cana-de-açúcar, com o Programa Nacional do Álcool – Proálcool, que possibilitou a implantação de mais de uma centena de novas destilarias para produção de álcool carburante. As variedades SP70-1005 e SP70-1078 a seguiram. Já nos solos mais férteis, a SP70-1284 encontrou seu nicho, assim como as da série 71, principalmente a SP71-1406 e SP71-6163, tendo essa última a vida encurtada pelo aparecimento da Síndrome do Amarelecimento, apesar de produções fantásticas e alto teor de sacarose quando sã. Algumas outras foram plantadas em locais específicos e produziram bem, como a SP703370, SP71-799, SP71-1081 e SP71-3146. O Planalsucar trouxe do Nordeste a RB72454, que se adaptou muito bem ao clima do Centro-Sul e expandiu-se rapidamente por falta de opções, chegando a ser a mais cultivada no Brasil. As do IAC, predominantes antes dos dois novos Programas de Melhoramento, foram a IAC48-65, IAC52-150, IAC51-205 e IAC 58-480, gradualmente substituídas. No Nordeste, por muitos anos, predominou a CB45-3 em áreas de encosta, sendo suplantada pela SP70-1011 e, depois, pela RB92579. Nos anos 1970, o panorama era bem distinto, com problemas diferentes. Alastrava-se a doença do mosaico da cana-de-açúcar, e as variedades, como a CB4647 e CB40-13, comerciais na época, eram altamente suscetíveis a essa doença, porém aceitas por falta de opção. A variedade CB41-76, resistente à doença, tornou-se predominante, apesar de sua maturação ocorrer somente no meio de safra (julho a setembro). Nessa década, os programas de Melhoramento Copersucar e Planalsucar iniciaram seus trabalhos e conseguiram, com o tempo, substituir as variedades predominantes, como a NA56-79, no Centro-Sul, e a CB45-3, no Norte-Nordeste. Nos anos 1980, com a abertura de novas fronteiras canavieiras, a variedade SP70-1143 tomou a liderança, por sua capacidade de adaptar-se a solos ácidos e pobres, nas novas áreas ocupadas pela cana-de-açúcar. Atualmente, o panorama varietal é mais voltado aos ambientes de produção, levando-se em conta o solo, o clima e a adaptação para a otimização de produtividade em seus respectivos nichos ecológicos. Embora as opções de variedades sejam amplas, o aumento e a diminuição de pragas e o surgimento de doenças requerem novas exigências do mercado. Exemplos concretos foram o de infestações de broca da cana-de-açúcar, controladas pela liberação do parasita Cotesia flavipes, que reapresentaram novas altas
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infestações quando descuidadas, e o da produção de mudas sadias isentas do raquitismo das soqueiras, por meio do tratamento térmico que, em muitos casos, foi abandonado, aumentando essa bactéria, principalmente com a contaminação pela mecanização de corte. Houve época em que as unidades produtoras montavam seus próprios laboratórios de cultura de tecidos, conhecidos como laboratórios de meristemas, para produção de viveiros mais sadios e vigorosos. Essa atividade, na maioria dos casos, foi delegada aos produtores particulares de mudas, e, atualmente, é mais utilizada a tecnologia de mudas pré-brotadas (MPB), adquiridas pelas usinas para execução de viveiros primários. Dado o bom resultado, já existem máquinas de plantio dessas mudas, facilitando a execução e condução desses viveiros. Embora a produtividade cresça, os custos também, por conta de novas leis trabalhistas, exigências do meio ambiente e mecanização de corte, fator implantado devido às leis de proibição de queima de canaviais. A colheita é quase totalmente mecanizada, mas o plantio mecanizado, por não ser uma exigência de lei, caminha lentamente nas melhorias e modificações dos equipamentos. Com a mecanização, há uma diminuição na produtividade pelo espaçamento inadequado e pisoteio das soqueiras, mas novas máquinas e técnicas vêm surgindo para adequar essa realidade. A adesão das usinas ao pagamento por teor de sacarose resultou na substituição de variedades pobres por outras com maior teor, e a implantação dos ambientes de produção, com o mapeamento de todas as usinas brasileiras, proporcionou aos Programas de Melhoramento da cana-de-açúcar recomendar os novos cultivares aos ambientes específicos. Tecnologias de agricultura de precisão, como o GPS e plant pilot, desenvolvidas para outras culturas (exemplo: milho e soja) e introduzidas na cana-de-açúcar, têm proporcionado bons resultados. O uso de imagens de satélites para medição da biomassa e previsão de produtividade possibilita correções durante o desenvolvimento do canavial. Algumas técnicas tornam-se moda, são abandonadas e ressurgem depois de algum tempo, como o preparo de solo (mais raso ou mais fundo), a sulcação (linhas duplas, base larga), espaçamento (desde 1,10m até 2,40m), conservação dos solos (com e sem terraços), etc. Na administração das unidades, a gestão de equipe possibilita resultados positivos, utilizando vários indicadores de desempenho que auxiliam nas diferentes atividades desse setor. O uso de softwares para a área agrícola simplifica e agiliza a correção de problemas. No panorama atual, custos altos e endividamento colocaram em risco dezenas de unidades com ativos em insolvência e regime pré-falimentar (recuperação judicial), e a cana plantada foi transferida para as unidades atuantes, o que fez com que não se diminuísse a produção total. Assim, em 2016, há novas esperanças na recuperação dos preços de mercado. No jargão do campo, ocorrem os anos açucareiros e os anos de produção agrícola, e, pelos prognósticos, a conjuntura atual de fatores é positiva para ambos os aspectos.
nutrição vegetal e ervas daninhas
Opiniões
aumento de produtividade Para viver num país com as dimensões geográficas como as do Brasil e conviver com a falta de infraestrutura em logística e armazenagens, pesquisa e desenvolvimento, política agrícola e regulamentações, a empresa precisa se reinventar a cada dia, lançando mão de toda nova tecnologia de que puder dispor para manter seus produtos e processos tão eficientes quanto possível, para conseguir superar todos esses desafios. Fertilizantes especiais: Um exemplo desse cenário está no segmento de empresas que investem no desenvolvimento de novas tecnologias (fertilizantes especiais), que criaram produtos e formas de aplicações mais eficientes, com um conceito ambiental mais adequado e melhor custo-benefício para o agricultor. Esse setor tem crescido continuamente em produção e representação: 30% dele é representado por empresas com menos de 5 anos de atividade. Cresceu 6% em 2015, superando os R$ 3,2 bilhões de faturamento do ano anterior, fruto de investimentos em pesquisas e conquista de inovações. O aumento da produtividade no campo se apoia na pesquisa de novas variedades, de inovações no manejo agrícola, em máquinas e implementos. Apesar do cenário desfavorável da nação, ainda pode ser considerada forte a mobilização de recursos em torno de pesquisas para a busca de novas tecnologias, em razão de um outro cenário, o global – na busca e na consolidação de um aumento da oferta de alimentos e de fontes renováveis de energia. O que antes era usual apenas de empresas estatais, hoje desperta interesse de empresas privadas especializadas que vislumbram, no setor do agronegócio, potencial de rentabilidade e liderança no mercado mundial. O agronegócio brasileiro é um beneficiário direto dessa ação. As pesquisas podem realmente impactar a vida no campo e geram, em consequência, benefícios para a sociedade pela transferência de tecnologias e informações, integrando os segmentos de diferentes cadeias produtivas.
Essas novas tecnologias e a pesquisa científica esbarram, na maioria das vezes, em uma questão crucial: a falta de planejamento e de políticas públicas para colocar em prática o que vem sendo desenvolvido nas universidades e nos centros de P&D. Historicamente, é baixo o volume de investimento público do País em ciência e em tecnologia, por isso a junção de recursos privados aos aportes do setor público destinados à pesquisa de inovações de interesse do agronegócio pode ser um atalho para superar essa dificuldade. As empresas destinam parte dos seus recursos financeiros (5%) ao financiamento de pesquisas, em estrutura própria ou em parceria com universidades, por meio de dissertações de mestrado e teses de doutorado. Essas pesquisas já comprovaram que os fertilizantes especiais apresentam ótimo desempenho em várias culturas, com resultados superiores a 10% no ganho de produtividade em relação a fertilizantes minerais, muitas vezes com doses menores de nutrientes. Esses resultados estão relacionados ao aumento de eficiência devido à redução dos processos de perdas dos nutrientes aplicados, principalmente pela redução da fixação do fósforo, da lixiviação do potássio e da volatilização do nitrogênio; como consequência, tem-se o aumento do aproveitamento dos nutrientes pelas plantas. Além disso, os fertilizantes especiais podem conter matéria orgânica e outros aditivos, como aminoácidos, extratos de algas, substâncias húmicas, o que não ocorre com a aplicação de fertilizantes minerais convencionais. Os fertilizantes especiais podem ser fornecidos nos estados líquido (solução e suspensão) e sólido (farelado, peletizado e granulado). Quando fornecidos em grânulos, apresentam uma menor área específica de contato com o solo, tornando a liberação do produto mais lenta e gradual, sendo uma vantagem, por preservar os nutrientes por mais tempo no produto, aumentando o seu efeito residual.
O aumento da produtividade no campo se apoia na pesquisa de novas variedades, de inovações no manejo agrícola, em máquinas e implementos. "
Gean Carlos Silva Matias
Diretor da Abisolo - Associação Brasileira de Nutrição Vegetal
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nutrição vegetal e ervas daninhas Além disso, resultados de pesquisas já comprovaram que o produto nesse formato reduziu drasticamente a fixação do fósforo, devido à presença da matéria orgânica humificada e à proteção dos nutrientes. O uso agrícola de fertilizantes especiais, como fertilizantes orgânicos, organominerais, condicionadores orgânicos, micronutrientes de solo e foliares, bem como estimuladores dos processos fisiológicos (como substâncias húmicas, extratos e algas e aminoácidos), vem crescendo muito nas últimas décadas em todo o mundo e, mais recentemente, no Brasil. Os fertilizantes especiais podem ser aplicados via solo, via água de irrigação ou diretamente sobre as plantas (foliar) ou sementes. A forma e a quantidade de aplicação desses fertilizantes vão depender da cultura, de seu manejo e de seu estágio de desenvolvimento. A maioria dos produtos disponíveis no mercado tem orientações de uso, mas recomenda-se que técnicos com experiência no uso dessas tecnologias sejam consultados antes de seu uso. Para cada cultura e condição de produção, há um momento ideal de aplicação, que dependerá do resultado que se espera. A pesquisa, nesse sentido, tem evoluído muito, e já há recomendações de épocas e doses para quase todas as culturas. O custo-benefício dos fertilizantes especiais dependerá da cultura em que se emprega a tecnologia e de qual é a fonte dessa tecnologia (substâncias húmicas, extratos de algas, aminoácidos, etc). Para as culturas de maior valor agregado (café, hortaliças e frutas), a relação custo-benefício é excelente. Já para culturas extensivas ou commodities, como cereais e cana-de-açúcar, por exemplo, o custo-benefício é certo, desde que a recomendação agronômica seja extremamente técnica e aliada a outras operações de manejo, fundamentais à produtividade (calagem, fosfatagem, adubação, etc.). Deve-se procurar por fertilizantes especiais, de alta qualidade e que tenham um preço competitivo no mercado. Eles melhoram o desenvolvimento vegetativo e a produtividade, mas não substituem o manejo tradicional das culturas, ou seja, não fazem milagres. Manejo de plantas daninhas: O manejo de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, nos sistemas de produção, está baseado na integração de medidas culturais, mecânicas, físicas e químicas. Dentre as medidas culturais, destacam-se manejo de variedades de alto perfilhamento e, consequentemente, sombreamento precoce do solo, redução de espaçamentos de plantio, condução de soqueiras para o rápido perfilhamento nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura. Como medidas físicas, destaca-se a operação de cultivo de soqueiras e de “quebra-lombo” em cana-planta, em cujas finalidades de execução está o manejo de plantas daninhas em pós-emergência. Como medidas físicas pode ser destacada a presença de resíduos da colheita da cana-de-açúcar sem queima deixada sobre a superfície do solo, que, além de outras implicações no sistema de produção, provoca a dormência e consequente supressão da infestação de algumas espécies de plantas daninhas, através de influências físicas, químicas e biológicas da palhada.
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Opiniões
No entanto o principal método de controle das plantas daninhas empregado pelos produtores de cana-de-açúcar é o uso de herbicidas, aplicado em condições de pré-emergência ou pós-emergência inicial ou, eventualmente, em condições de pós-emergência tardia. Os objetivos principais do controle químico de plantas daninhas é a obtenção de máxima eficácia de controle de plantas daninhas, com alta seletividade para a cultura, de forma econômica e com a minimização dos efeitos ambientais. No entanto os herbicidas atualmente em uso na cultura da cana-de-açúcar apresentam variações específicas de eficácia de controle das espécies que compõem a comunidade plantas daninhas infestantes das áreas onde são aplicados, como no grau de seletividade para a cultura em função da dose, época de aplicação, condições edáficas e climáticas e estádio fenológico e condições fisiológicas e bioquímicas da cultura e das plantas daninhas. Por outro lado, a gama de produtos disponíveis no mercado varia em suas características físico-químicas, que interagem com os aspectos climáticos, edáficos e culturais do sistema de produção. Essas interações permitem variabilidade de aplicação e usos de herbicidas, posicionando-os em diferentes nichos de aplicação na cultura, sendo que, para a correta seleção dessa estratégia, é necessário o conhecimento das interações mencionadas. Entre as medidas de manejo cultural, que objetivam tornar a cultura mais competitiva em relação às plantas daninhas, podem-se mencionar: escolha correta da variedade (perfilhamento, brotação, tempo de fechamento, suscetibilidade a herbicidas, etc.); controle de pragas e nematoides (evitar interações negativas); adubação equilibrada da cultura; espaçamentos reduzidos; entre outras. O controle mecanizado inclui operações de preparo do solo, cultivos, roçadas e operações de reforma. Contudo, atualmente, o principal método de controle das plantas daninhas é o químico, através da aplicação de herbicidas, tanto na condição de pré como de pós-emergência dessas plantas. O controle químico de plantas daninhas em áreas de cana-de-açúcar é uma prática bastante difundida em todo o País. A eficácia de um herbicida depende de diversos fatores, como as características físico-químicas e a dose do herbicida, a espécie a ser controlada (características estruturais próprias), o estágio de desenvolvimento e a biologia da planta daninha, o estágio de desenvolvimento da cultura, as técnicas de aplicação, os fatores ambientais no momento e após a aplicação dos herbicidas, além das características físico-químicas do solo para os herbicidas aplicados em pré-emergência. Esses fatores interagem constantemente, provocando diferenças nos resultados observados. Segundo alguns autores, quando um ou mais dos fatores citados não são satisfatórios, a eficácia de controle do herbicida aplicado pode ficar comprometida. Além disso, o balanço do efeito desses fatores é que irá determinar a disponibilidade do herbicida no solo e, consequentemente, sua eficácia no controle de plantas daninhas e seletividade para a cultura da cana-de-açúcar.
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®TM Marca registrada da The Dow Chemical Company (“Dow”) ou companhia aliada da Dow.
COACT®. EFICIÊNCIAS CONJUNTAS EM AÇÃO.
* Fonte: Guia de Herbicidas (6a edição, 2011).
Coact® controla as principais plantas invasoras, especialmente a corda-de-viola. Pode ser aplicado em cana planta, em pós-plantio e em pós-quebra-lombo, em soca semiúmida e úmida, com ou sem palha, inclusive em cana brotada. Oferece facilidade na colheita, com a cana mais limpa. Resultado: canavial sem matocompetição e mais produtivo.
agricultura de precisão
blocos de manejo
para a cultura da cana-de-açúcar
No decorrer das últimas décadas, o setor sucroenergético passou por importantes transformações tecnológicas, apresentando notáveis avanços, tanto no segmento industrial como no agrícola. Dentre os principais avanços agrícolas, ressaltamos, neste artigo, a evolução na recomendação de variedades de cana-de-açúcar, bem como algumas tecnologias associadas a ela, especialmente os ambientes de produção e os blocos de manejo. Os programas de melhoramento genético dentro desse setor buscaram, ao longo dos anos, variedades mais produtivas e com maiores teores de açúcar, visando à produção de mais açúcar por hectare. No entanto, em tais programas, os pesquisadores responsáveis pela coleta e análise de informações nos vários experimentos distribuídos no Centro-Sul do Brasil verificaram que as variedades de cana-de-açúcar apresentavam comportamentos diferentes, dependendo da região em que eram cultivadas. Nesse contexto, o CTC – Centro de Tecnologia Canavieira, iniciou um estudo relacionando o comportamento das variedades de cana-de-açúcar com diferentes tipos de solo. A partir desse estudo, foi desenvolvido o sistema de ambientes de produção, e, com isso, as variedades começaram a ser introduzidas no mercado com uma recomendação específica. Como resultado, as empresas que desenvolvem variedades passaram a indicar o tipo de solo e ambiente de produção em que elas deveriam ser plantadas. Essa evolução ocorreu na década de 1990, sendo reconhecida pelo setor sucroenergético como um dos principais saltos tecnológicos na área agrícola das usinas, permitindo que o potencial genético das novas variedades de cana-de-açúcar que eram oferecidas aos clientes fosse explorado ao máximo.
Para que as usinas atingissem esse novo patamar tecnológico, ficou ainda mais evidente a necessidade de que tivessem à sua disposição os mapas de solos e de ambientes de produção. Como consequência, aquelas que adotaram essa tecnologia adquiriram esses mapas para a grande maioria das suas propriedades rurais, o que possibilitou que a alocação de variedades fosse realizada utilizando o sistema de ambientes de produção. Com o uso dos mapas de solos e de ambientes de produção, os tomadores de decisão da área agrícola nas usinas passaram a perceber que esse material poderia ser utilizado também para o planejamento de outras atividades agrícolas, tendo como principais benefícios não só a redução de custo na área agrícola, mas também o aumento de produtividade de seus canaviais. Atenta à demanda por um uso mais amplo dessa tecnologia, em continuidade ao sistema de ambientes de produção, inicialmente projetado pelo CTC, desenvolvemos o projeto de Blocos de Manejo, aprimorando o sistema. Para tanto, utilizamos como base os mapas de solos e de ambientes de produção, agrupando solos que possuem manejo semelhante e gerando os mapas de blocos com informações específicas de solos para cada bloco. Atualmente, as usinas têm à sua disposição essa diferenciada ferramenta de planejamento, que possibilita a obtenção de informações não apenas para o planejamento de variedades,
dentro de um panorama de evolução tecnológica das usinas, na busca de redução de custos e aumento de produtividade, o sistema de blocos de manejo é uma ferramenta de planejamento geradora de grande diferencial "
Fernando Cesar Bertolani
Consultor da CSolos Mapeamento e Consultoria
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Opiniões CARTA DE SOLOS
AMBIENTES
BLOCOS DE MANEJO
BLOCO 1 BLOCO 2
BLOCO 3
Informações para: • Alocação variedades • Correção/Adubação • Preparo/plantio • Operações/colheita • Uso de subprodutos • Uso de herbicida • Sistematização
mas também para outras atividades agrícolas, tais como: a. adubação e correção do solo – indicação por bloco dos locais de amostragem, da necessidade de aplicação de gesso agrícola e do uso da fosfatagem; b. preparo do solo na reforma do canavial – indicação por bloco da erodibilidade do solo e da restrição quanto à profundidade para o uso de implementos; c. operações de colheita – indicação por bloco do risco de compactação, de arranquio de soqueira e de ocorrência de pedras ou cascalhos que possam danificar a colhedora; d. aplicação de herbicida – indicação por bloco da textura superficial do solo para utilizar a dosagem adequada; e. uso de subprodutos – indicação por bloco da prioridade de aplicação de torta de filtro e vinhaça; f. sistematização – indicação dos limites dos blocos para
adequação dos terraços e da disposição dos talhões. As potenciais aplicações dos mapas de blocos de manejo apresentadas nas imagens em destaque, permitem também o planejamento integrado das diversas atividades realizadas na área agrícola das usinas, otimizando ainda mais tal planejamento. Importante enfatizar que os mapas de blocos de manejo são georreferenciados, o que permite que sejam inseridos em computadores de bordo de máquinas agrícolas para serem utilizados em aplicações de taxas variáveis de defensivos, adubos e corretivos, ou seja, esses mapas podem ser utilizados como informação básica para a aplicação de uma agricultura de precisão específica para a cultura da cana-de-açúcar. Em resumo, podemos concluir que, dentro de um panorama de evolução tecnológica das usinas de cana-de-açúcar, alinhado à busca de redução de custos e aumento de produtividade, o sistema de blocos de manejo é uma ferramenta de planejamento geradora de grande diferencial, pois fornece informações para várias atividades agrícolas, possibilitando a adoção do manejo adequado para cada propriedade rural, deixando de lado os “achismos” e trabalhando com informações precisas por talhões.
recolhimento de palha
Opiniões
como aprender com os erros do passado Os problemas e soluções adotadas durante a introdução da colheita mecanizada podem ser aproveitados para a introdução da 'nova colheita' das operações agrícolas da cana-de-açúcar: o recolhimento da palha através de enfardamento. "
Marcelo Pierossi
Consultor da AgroPerforma Consultoria Agrícola
Nossos canaviais, nos últimos 20 anos, passaram por uma profunda transformação, devido ao grande incremento na produção de cana-de-açúcar e também à crescente utilização da mecanização em todas as operações agrícolas. As usinas ganharam escala, aumentaram seus períodos de safra, e a produção de cana no Brasil, segundo dados da Unica, passou de 240 milhões de toneladas, na safra 1994/1995, para 632 milhões, na safra 2014/2015, um aumento de 263% no período, com um crescimento médio anual de 4,9%. No cenário da mecanização agrícola, passamos da colheita manual de cana queimada inteira à colheita mecanizada de cana crua em poucos anos e também introduzimos, de forma significativa, a utilização do plantio mecanizado, praticamente eliminando o plantio manual em nossos canaviais. Essa conjunção de fatores, em um cenário de preços desfavoráveis, levou as usinas a conduzirem suas operações, tanto no campo quanto dentro da unidade industrial, com restrições, que impactaram diretamente na forma como as operações eram conduzidas. Dentre todas as operações agrícolas, a que mais sentiu essa situação foi a colheita. Podemos citar como exemplo das dificuldades enfrentadas pelos pioneiros na mecanização da colheita a falta inicial de equipamentos dimensionados para as nossas condições, visto que os primeiros foram importados de canaviais australianos, passando pelo aprendizado e pelo treinamento dos operadores, pela definição de parâmetros operacionais, pelo
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dimensionamento das bitolas dos equipamentos, pelo tipo de pneus a serem utilizados, entre outros problemas. O preço que pagamos por tudo isso foi uma queda da produtividade e da longevidade dos canaviais, que estão sendo retomadas graças às ações cotidianas das usinas, baseadas na observação e na experiência dos envolvidos na condução das operações. Todas essas dificuldades, problemas e soluções adotadas durante a introdução e a consolidação da colheita mecanizada podem e devem ser aproveitados para a introdução da “nova colheita” que aparece no contexto das operações agrícolas da cana-de-açúcar: o recolhimento da palha através de enfardamento. O aproveitamento da palha, seja através da colheita integral ou do enfardamento, vem sendo introduzido em ritmo lento, devido às condições econômicas e regulatórias que envolvem o setor elétrico, e será introduzido de forma maciça na rotina operacional das usinas, e devemos evitar todos os percalços que ocorreram na colheita descritos anteriormente. O momento atual é ideal para isso, pois possibilita a introdução gradual da tecnologia, analisando com cuidado cada etapa da operação, visando à solução dos problemas operacionais e a uma otimização dos recursos, resultando em menor custo de recolhimento, principal aspecto com relação à viabilidade econômica dos projetos de utilização da palha para a geração de energia elétrica. Muito foi feito nos últimos cinco anos por centros de pesquisa e fabricantes de equipamentos agrícolas com relação ao desenvolvimento dos sistemas de enfardamento, porém sempre existe espaço para a melhoria da operação, ainda mais quando temos uma cadeia de suprimento com diversas operações agrícolas e industriais, como é o caso do enfardamento. Com relação às operações agrícolas, muita atenção deve ser dada à operação inicial, o aleiramento, pois dela depende a qualidade do fardo com relação à quantidade de terra e o
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recolhimento de palha desempenho de enfardadora, em função do tamanho da leira produzida. A determinação da umidade adequada ao início do aleiramento, o tamanho da leira e a altura dos dedos recolhedores com relação ao solo são os principais pontos a serem monitorados. No enfardamento, operação de maior custo em toda a cadeia produtiva, devemos tomar um grande cuidado com relação à limpeza dos atadores, pois consiste no sistema da máquina que causa a maior quantidade de paradas durante a operação. Outro aspecto importante está relacionado à escolha do barbante, pois os de baixa qualidade impactam a densidade do fardo, a capacidade de trabalho da máquina e podem demandar muito retrabalho. Com relação ao recolhimento do fardo no campo e ao seu transporte para o carreador e seu carregamento em equipamentos rodoviários, a maior preocupação é relacionada ao manuseio adequado do fardo, evitando que os barbantes sejam rompidos e, consequentemente, que o fardo se desmanche durante o transporte. A solução para esse problema consiste na escolha do equipamento adequado e no cuidado do operador durante a operação. Além dos cuidados específicos para cada operação descritos acima, o enfardamento possui características operacionais singulares, devido à impossibilidade de aleirar e enfardar durante as 24 horas, em função da umidade da palha. Dessa forma, essas duas máquinas devem estar com total disponibilidade durante as horas de trabalho, necessitando um planejamento de manutenção e de lubrificação sintonizado com esses turnos de trabalho. Cuidado adicional deve ser tomado com relação ao clima, pois, caso ocorra uma chuva após a formação da leira, o tempo para o enfardamento é muito superior ao tempo exigido para uma área sem aleiramento. A ocorrência de chuvas também impacta o recolhimento dos fardos já produzidos, e devemos evitar que eles sejam umedecidos pela chuva e tenham seu poder calorífico reduzido. De forma geral, os cuidados diários necessários para a condução do enfardamento são ligeiramente diferentes dos cuidados durante a colheita, mas o acompanhamento próximo pelos gestores traz um aumento na eficiência e na qualidade. O controle e o monitoramento do cotidiano das operações agrícolas podem contar
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com ferramentas adicionais às utilizadas atualmente pelo setor, como levantamento das perdas, controles operacionais, entre outras, pois existem algumas ferramentas muito utilizadas na área de gestão da qualidade industrial que podem ser utilizadas na gestão da rotina das operações agrícolas, com algumas pequenas alterações. Podemos classificá-las em dois grupos distintos: o primeiro, de ferramentas de controle e monitoramento, que contempla: Histogramas – gráfico que tem como objetivo mostrar a distribuição de frequência de uma variável medida em campo – e Controle Estatístico de Processo (CEP) – técnica estatística que envolve a coleta, a organização e a interpretação de dados para o controle de um processo durante sua execução, com o objetivo de controlar e melhorar continuamente a qualidade do produto, por meio das Cartas de Controle, gráficos que estabelecem os limites de controle de cada processo. O segundo grupo consiste em ferramentas para identificação dos problemas e suas possíveis causas. As duas principais ferramentas são o Diagrama Ishikawa ou Espinha de Peixe, que tem como objetivo identificar as possíveis causas de um problema e seus efeitos, através da relação entre o efeito e todas as possibilidades de causa que podem contribuir para esse efeito, e o Diagrama de Pareto, que é um gráfico utilizado com ordenação das causas de perdas, mostrando as mais importantes. Outra ferramenta muito interessante utilizada na Gestão Enxuta, metodologia desenvolvida pela Toyota e que transformou a manufatura, é o Genba, que significa, em japonês, “local onde as coisas se passam” e designa o acompanhamento físico no local da operação, ao longo da cadeia de operações, com o objetivo de observar atentamente o que se passa e de detectar problemas e fontes de desperdício. Todo o difícil percurso percorrido durante o aprendizado na colheita mecanizada pode e deve ser utilizado para acelerar o processo de introdução do enfardamento da palha, e um olhar cuidadoso na gestão do cotidiano, sempre acompanhando de perto a operação e a utilização das ferramentas descritas acima, pode elevar a qualidade e o desempenho delas, através da identificação dos problemas e, consequentemente, a sua solução.
logística
Opiniões
das fazendas à esteira das usinas O cotidiano de uma operação logística de colheita e entrega de cana-de-açúcar nas unidades industriais do setor canavieiro, desde o corte e o transbordo, até o transporte entre os talhões das fazendas e as esteiras de moagem das usinas, pode ser mais simples do que aparenta ser em um primeiro momento, mas exige uma atenção especial em dois aspectos extremamente relevantes ao negócio. O avanço da mecanização nas frentes de colheita, somado à rápida evolução tecnológica dos equipamentos utilizados nesse sistema, desde as colhedoras, cada vez mais modernas e com mais tecnologia, passando pelos tratores, cada vez mais sofisticados, até os caminhões utilizados para o transporte da cana, pode passar a falsa impressão de aumento da complexidade na rotina do dia a dia dessa atividade, mas muito pelo contrário. Essa grande e rápida evolução dos equipamentos, desde que eles tenham uma boa disponibilidade mecânica e que sejam bem operados, com a utilização das melhores técnicas de operação, traz muito mais eficiência à logística, aumentando o desempenho e o rendimento das frentes de colheita no campo e no transporte. Para garantir mais simplicidade e eficiência na gestão da rotina diária de uma operação logística, é necessário focar e direcionar os esforços para aquilo que realmente é importante e que vai fazer toda a diferença no resultado: a disponibilidade mecânica das máquinas e equipamentos, além de, principalmente, uma boa operação dos mesmos, que se resume a uma manutenção preventiva eficaz, mão de obra motivada, preparada e treinada para extrair o máximo do equipamento. Há um ditado popular que diz que é no vestiário que se começa a vencer uma partida de futebol. Na logística canavieira, não é diferente. Não é no vestiário, mas grande parte do sucesso de uma safra de cana começa na entressafra. É fundamental preparar bem as máquinas, os equipamentos e os caminhões para iniciar a safra. Uma boa manutenção de entressafra pode gerar, aparentemente, um maior desembolso, mas, ao final, pode aumentar a disponibilidade dos equipamentos em mais de 20% durante a safra.
Precisamos reter gente boa. Precisamos cuidar das máquinas e das pessoas que as operam, o restante é reflexo. "
Adriano Thiele
Diretor Executivo de Operações e Serviços da JSL
Uma manutenção de entressafra bem-feita, somada a um plano de manutenção preventiva rigorosamente aplicado, garante uma produção contínua, sem interrupção e sem que se gaste energia com soluções alternativas contingenciais, que normalmente são caras e ineficientes. Além da boa manutenção, seja ela de entressafra, corretiva ou preventiva, é extremamente importante manter registro do histórico de falhas, que permitem identificar os componentes mais críticos e, assim, reforçar preventivamente os planos de manutenção e a necessidade de peças em estoque para a reposição desses componentes. É comum percebermos máquinas paradas por vários dias, aguardando peças ou componentes, que, muitas vezes, não estão disponíveis nas concessionárias. O registro de acontecimentos críticos decorrentes e a manutenção preventiva podem evitar dias de espera e máquinas paradas. Pense numa corrida de automóveis. Precisamos estar com o carro muito bem preparado para a largada, mas devemos também estar preparados para um pit stop, no caso de surgir algum problema inesperado. Em momentos difíceis como o que estamos vivendo, é comum muitos economizarem na manutenção e nos estoques de reposição. Essa não é a melhor alternativa. O segundo fator, talvez o mais importante, é a mão de obra. É um recurso que cria muito valor ao negócio. Nesse caso, a importância sobre a gestão de mão de obra é mais ampla e precisa ser vista sob vários aspectos. Capacitação e qualificação de mão de obra são fatores essenciais para que as máquinas e os caminhões sejam operados de forma contínua, produtiva e eficiente. Mão de obra qualificada e motivada impacta diretamente na produtividade, na segurança e na qualidade da operação. Perdas no campo, contaminação com impurezas minerais e vegetais, e principalmente danos à soqueira (comprometendo o canavial), são impactadas diretamente pela forma de se operarem as máquinas. Não basta produzir, é preciso produzir com qualidade, e isso só é possível com uma boa qualidade de mão de obra. O nível de qualificação da mão de obra disponível no mercado, principalmente em função da rápida evolução tecnológica dos equipamentos, ainda está defasado. Essa realidade exige investimento em treinamento e foco na retenção dessa mão de obra. Índices de turnover altos significam mais custos com recrutamento, treinamento e adaptação à cultura das empresas, custa caro e compromete a produtividade. Precisamos reter gente boa. Precisamos cuidar das máquinas e das pessoas que as operam, o restante é reflexo.
treinamento de mão de obra
o desafio
da formação profissional
Enfrentando e vencendo cíclicas crises, o setor sucroenergético sempre teve o suporte de evoluções tecnológicas disponibilizadas por centros de pesquisas públicos e privados. Hoje, ele se apresenta menos farto do que foi recentemente, fruto da desaceleração da economia, minguados recursos disponibilizados pelos órgãos financiadores de pesquisa e, principalmente, pouca ou nenhuma formação profissional dirigida ao setor. Na retomada de crescimento após a última crise, foi notória a falta de profissionais que pudessem atender à então promissora demanda. Esse fato expôs a inexistência de planejamento nas unidades produtoras quanto à capacitação de seus profissionais, faltando mão de obra minimamente preparada para atender ao crescimento das empresas. Na época, observamos que, pela primeira vez, o setor de canavieiro buscou profissionais em outras áreas da economia. Assim, a indústria de bebida e a alimentícia foram as grandes fornecedoras de uma nova geração de profissionais necessários para atender ao setor. Vivemos novamente uma já duradoura crise no setor. Entre todas as consequências que isso traz, uma, em especial, se repete: desemprego em massa da mão de obra qualificada.
Na retomada de crescimento após a última crise, foi notória a falta de profissionais que pudessem atender à então promissora demanda. Esse fato expôs a inexistência de planejamento nas unidades produtoras quanto à capacitação de seus profissionais "
Tadeu Andrade
Diretor da Universidade Canavieira
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Exceção a isso são as empresas que possuem área de gerenciamento de pessoas, com profissionais voltados à qualificação de seus funcionários. Essas são as empresas vencedoras de todas as crises e que, após cada período negativo, se recuperam mais rapidamente; no geral, são empresas compradoras daquelas que negligenciaram na capacitação de seu quadro de funcionários. Isso está levando o setor a uma grande consolidação com a formação dos megagrupos. Para eles, no que se refere à capacitação profissional, surge um grande desafio, que é a padronização da formação profissional. Como é impossível reunir profissionais das diferentes unidades em uma mesma equipe de treinamento, o que se consegue é treinar apenas uma pequena parte deles e, no geral, com instrutores diferentes. A consequência disso é uma total falta de padronização na capacitação. Isso fica claro quando se observa a variabilidade de manutenção de alguns itens em usinas e destilarias de um mesmo grupo. Outros setores da economia encontraram a saída para essa uniformização da capacitação profissional. Na área médica, já é possível treinamento à distância, inclusive na área cirúrgica. Cursos on-line de MBA são disponibilizados pelas melhores universidades. Vamos observar dois setores que são um bom exemplo de aprendizado para nossa área. Um deles é o da área da telefonia celular.
Opiniões O mesmo aparelho é vendido em milhares de pontos de venda, e a informação disponibilizada para o usuário deve ser rigorosamente a mesma, sob pena de caos nas centrais de atendimento. O mesmo acontece com as redes especializadas em eletrodomésticos. Imaginem esses dois setores sem a padronização de informação a seus funcionários. A ferramenta utilizada por eles é o treinamento on-line. Todos os profissionais fazem exatamente os mesmos cursos. Reciclam de acordo com a necessidade. O material está sempre disponível na internet. É rico em informação e de fácil acesso. Na área agrícola, essa é uma tecnologia que está apenas começando, e as empresas vencedoras, como sempre, estão saindo na frente. Hoje, todas as empresas são atendidas por uma forte área de informática, com profissionais muito bem qualificados. Essa é a estrutura básica para a adoção de uma capacitação profissional on-line. Ou seja, não necessita de investimento extra. A mão-de-obra a ser qualificada já está empregada. Então, qual é o problema? É perceptível que a área de desenvolvimento de pessoas nas unidades produtoras ainda está pouco preparada para a nova e revolucionária ferramenta de desenvolvimento profissional.
Tenho observado que, no geral, os responsáveis pelas áreas de treinamento raramente se utilizaram de treinamento pela internet e, dessa forma, se mostram indecisos frente ao novo, priorizando os chamados treinamentos presenciais, nos quais se “treinam” pessoas em pequenos grupos e em diferentes momentos, o que gera uma não padronização. Além disso, enfrentam problemas de disponibilidade de agenda dos treinadores nos momentos em que as empresas mais necessitam. O treinamento on-line tem flexibilidade para ser programado de acordo com a necessidade das empresas, não dependendo de agenda dos consultores. E aqueles momentos de paradas na área agrícola ou industrial, podem ser preenchidos com treinamentos e reciclagem dos profissionais. Para atendimento a essa nova forma de capacitação profissional, as empresas-escolas especializadas no setor disponibilizam cursos on-line para as áreas de desenvolvimento agrícola, industrial e laboratorial. Os cursos são, normalmente, ministrados por profissionais-referência em suas áreas de atuação. Como sempre, não existirá vida fácil na retomada do crescimento. É preciso que o alicerce esteja pronto para a hora da retomada, e não haverá reconstrução sem profissionais qualificados. Se pouca ação temos sobre as crises econômicas, temos toda a ação possível para que a crise de mão de obra especializada não se instale novamente nas empresas.
colheita mecânica
colheita mecânica
na cultura da cana-de-açúcar
A utilização de máquinas agrícolas é essencial no processo de colheita da cana-de-açúcar, tanto para a agilização dos serviços como para a redução das despesas. Contudo seu custo é expressivo, o que, por si só, induz à necessidade de gestão técnica e econômica, com planejamento e monitoramento operacional eficaz. Os índices de eficiência relacionada às horas planejadas na operação de colheita giram em torno de 40% a 60%. Embora sejam valores superiores aos apresentados em outras atividades agrícolas, possuem grande potencial de otimização. O desenvolvimento do processo de colheita mecânica de cana-de-açúcar e suas respectivas operações têm sido fatores estratégicos para essa exploração, proporcionando redução nos custos da cultura e possibilitando o cumprimento das exigências legais atualmente existentes, como no estado de São Paulo; entretanto, como em outras culturas, ainda necessita ser aprimorado. Não podemos desconsiderar que o trabalho de máquinas no campo apresenta, juntamente com os períodos produtivos, muitos problemas de paralisação, que, de forma variável, alteram-se por inúmeros motivos, influenciando o desempenho global. Apresentamos, neste artigo, de forma sintetizada, o resultado de uma pesquisa realizada recentemente através de sistema informatizado de gerenciamento de operações agrícolas, que teve como base 8 unidades sucroalcooleiras das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, abrangendo uma área total de produção e de colheita mecanizada de 215.081 hectares, utilizando 171 máquinas, somando 392.598 horas trabalhadas, ao longo do ano de 2015. Os índices de eficiência das horas planejadas na operação de colheita giram em torno de 40% a 60%. Embora sejam valores superiores aos de outras atividades agrícolas, possuem grande potencial de otimização. "
Ângelo Domingos Banchi
Diretor da Assiste - Assessoria em sistemas Técnicos
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Processo de gestão: A gestão das operações agrícolas tem início na coleta de informações das tarefas (processo e operações) a serem planejadas e continua na programação de suas atividades, isto é, determinação, para cada tarefa, da alocação dos respectivos conjuntos de equipamentos em suas devidas operações. Nessa sequência, teremos o monitoramento da realização, através da captação dos períodos efetivamente trabalhados (horas ou quilômetros), e, ainda, as horas paradas e suas causas. Também é fundamental a geração de um processo de intervenção no andamento das tarefas, efetuando a correção quando necessária, e um replanejamento e otimização no processo visando, desse modo, a melhorar os rendimentos. Equacionamento do problema: Para o gerenciamento das operações agrícolas e para a redução das horas paradas, há a necessidade de se trabalhar com as informações analisando o realizado e comparando-o com o planejado. O ideal é a utilização de uma ferramenta de gestão para captar, em tempo real, os dados referentes às atividades realizadas e os organizar segundo uma classificação preestabelecida. O quadro 1 destaca um levantamento preliminar de alguns dos motivos de períodos de paradas de frota em uma usina. Como grupos de motivos de paradas mais significantes, podem ser citados os fatores de manutenção, administrativos e climáticos. Desses motivos, podem ser identificados os que devem ser trabalhados para melhorar a eficiência do sistema de colheita. Efetuou-se uma análise global do período, conforme demonstrado no quadro Calendário Anual de Trabalho das Colhedoras de Cana-de-açúcar, que destaca, em dois grupos, os principais motivos das paradas. As horas paradas por motivos administrativos dão ênfase à falta de transbordo e de caminhões ou de seu conjunto. As horas paradas para manutenção apontam como principais motivos a realização da manutenção em si, bem como o tempo que o equipamento aguardava pela sua realização. O quadro Eficiência de Planejamento detalha a eficiência operacional das colhedoras de cana. Visto que a Eficiência de Planejamento se situa em 74,4% desse modo, temos: a cultura de cana-de-açúcar nos impõe, aproximadamente, 25%
Opiniões 1. CLASSIFICAÇÃO DE ALGUMAS PARADAS Responsáveis
Tempo eficiências
Motivos de Parada
Administração
Perda de horas produtivas/ trabalho
FILA de descarregamento AGUARDANDO programação TROCA DE TURNO Usina parada Falta de transbordo/caminhão
Manutenção
Manutenção
Manutenção/oficina/“Check-List” Abastecimento E lubrificação Lavagem e limpeza da máquina Troca de facas
Condição climática
Inaptidão
Chuva
Operacional
Auxiliar
Abastecimento de insumos Regulagem do Implemento
Equipamento
Perdido
Transporte Máquinas/Implementos
2. Calendário Anual de trabalho das Colhedoras de cana-de-açúcar PLANEJAMENTO: 74,2%: HORAS PLANEJADAS 25,8%: HORAS NÃO PLANEJADAS*1 HORAS DISPONÍVEIS: 45,0%: HORAS TRABALHADAS 55,0%: HORAS NÃO TRABALHADAS MOTIVO HORAS NÃO TRABALHADAS: 40,0%: ADMINISTRAÇÃO 35,0%: MANUTENÇÃO 20,6%: CLIMA 4,4%: OUTROS*2 *1: ENTRESSAFRA *2: EQUIPAMENTOS: 4,4% OPERACIONAL : 0,0%
HORAS PARADAS POR MOTIVO DE ADMINISTRAÇÃO %
0
10 20 30 40
50
AGUARDANDO TRANSBORDO 52,3 FALTA DE CONJUNTO VAZIO 21,6 7,4 PARADA PROGRAMADA 5,7 PARADA DA INDÚSTRIA 2,5 FALTA DE OPERADOR 2,2 TROCA DE TURNO 2,1 PARADA PARA REFEIÇÃO 2,0 AGUARDANDO PRANCHA 1,8 PARADA PARA REFEIÇÕES 0,9 AGUARDANDO COMBOIO 0,7 AGUARDANDO ORDENS
HORAS PARADAS POR MOTIVO DE MANUTENÇÃO %
0
5
10
15
20
MANUTENÇÃO AUTORIZADA (OPERADOR) 22,2 MANUTENÇÃO CORRETIVA NA USINA 15,3 MANUTENÇÃO CORRETIVA 12,9 PARADA PARA VERIFICAÇÃO MECÂNICA 8,4 AGUARDANDO MANUTENÇÃO CORRETIVA 5,5 ABASTECIMENTO/LUBRIFICAÇÃO 5,4 PARADA PARA LIMPEZA DE MÁQUINA 5,2 5,1 FALTA DE PEÇAS MANUTENÇÃO ELÉTRICA TROCA DE FAQUINHA/FACÃO
3,8 3,4
GLOBAL
UTILIZAÇÃO
PLANEJAMENTO
DISPONIBILIDADE
100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%
APTIDÃO
3. eficiência de planejamento
OPERACIONAL
das horas em período inapto (horas sem atividade). A eficiência de trabalho obtida pelas colhedoras com base nas horas planejadas é de 45%. Isso, entretanto, ainda se deve a uma grande estrutura montada especialmente para essa atividade (estrutura de apoio: comboios, oficina mecânica, bombeiros, etc.) e, embora superior às eficiências de outras máquinas agrícolas, ainda necessita de otimizações e de uma gestão de melhor qualidade. As horas paradas por manutenção, tanto corretiva como preventiva, representam o grande desafio para um equipamento que, apesar de trabalhar em condições severas e em ritmo acentuado, mostra deficiências desde a entrega pelos fabricantes – visto que há necessidade de adaptações mecânicas iniciais – e inúmeras falhas durante a operação. Para apresentar evolução nessa área, as máquinas precisam estar mais bem adaptadas às condições em que irão operar, e as áreas de cultivo da cana devem ser mais bem preparadas para receber a mecanização. A demora na substituição de matérias (peças), mesmo quando imediatamente encomendadas, tem sido um problema constante e relevante. Portanto, se houver um estoque racional para reposição, o tempo parado aguardando a manutenção diminuirá. Esse fato nos mostra a necessidade de estudos detalhados dos períodos entre falhas (MTBF) e da confiabilidade mecânica, para não só embasar esse estoque de materiais e dos componentes mecânicos reservas, como também para aprimorar o projeto desses elementos e das colhedoras. Algumas usinas aumentam a capacidade do tanque de combustível da colhedora para diminuir o tempo com abastecimento, já que a máquina irá trabalhar por mais tempo, até parar para a reposição de combustível. Também pode ser citado o aprimoramento das equipes de manutenção, que devem ser treinadas com compromisso operacional para melhoria contínua do processo. O dimensionamento adequado das frentes de serviço, bem como a relação adequada do número de transbordos às colhedoras (provável acréscimo na relação de dois transbordos para uma colhedora), pode diminuir os tempos parados, assim como a maior rapidez nas comunicações entre os equipamentos da frente de trabalho e de pontos de descargas; a substituição do processo de transbordo dedicado (escravo) para o alternativo (logística de utilização dos transbordos programada on-line) é item a ser trabalhado dentro dos motivos administrativos. Uma central de inteligência do sistema de colheita, seja na área operacional, conectada à manutenção e à indústria, deveria existir. Esse segmento de gestão que, por meio de indicadores, avaliasse o processo em tempo real, para a tomada de decisões, teria o objetivo de otimizar as operações de forma integrada. Concluímos que, nesse processo como em outros, ainda temos muito a aprimorar.
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ensaio especial
Opiniões
práticas de baixo custo para
aumentar a produtividade O olhar do dono, o carinho e o dia a dia com o canavial não têm preço. Para quem se apaixona pelo que faz, as operações bem-feitas, o cuidado e o capricho são questão de honra e geram também um grande prazer. "
Raffaella Rossetto e André César Vitti
Pesquisadores da APTA - Programa Cana-de-Açúcar do IAC
A cana-de-açúcar apresenta alto potencial de produtividade quando não existem fatores restritivos ao seu desenvolvimento. Relatos na literatura apontam produtividades potenciais acima de 300 t/ha de colmos. Porém a produtividade obtida comercialmente está muito longe desse valor devido a uma série de fatores, entre eles: manejo varietal, épocas de plantio e de colheita, correção e fertilidade do solo, ambientes de produção, clima com destaque para a distribuição de chuvas e temperatura, irrigação, controle de plantas daninhas, pragas e doenças, sanidade e qualidade das mudas, espaçamento, compactação e conservação do solo, etc. Alguns fatores podem ser facilmente manejados, com praticamente nenhum ou com baixíssimos investimentos, e, mesmo assim, ter canaviais produtivos: 1. elaboração de um cronograma e de um planejamento de todas as operações necessárias durante o ano agrícola, para realizá-las nos momentos mais favoráveis. Manter sempre um detalhado histórico da área, das operações e dos insumos utilizados; 2. definir bem os tipos de solo de cada região que irão compor os ambientes de produção e associar a escolha de variedade apropriada para o local. Ambientes de produção favoráveis apresentam melhores condições ao desenvolvimento das plantas. Nos ambientes de produção, existem diferenças quanto à capacidade de armazenamento de água (CAD). Assim, como exemplo, o Nitossolo e o Latossolo armazenam, respectivamente, de 125-150 mm e 60-80 mm. No estudo desenvolvido por Prado et al. (2011), em cana-planta, em dois solos semelhantes na textura e diferentes na química e na morfologia – Latossolo Vermelho distrófico, textura
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muito argilosa A, moderado (LVd) e o Nitossolo Vermelho eutrófico, textura muito argilosa A, moderado (NVe) –, constatou-se que houve um ganho de 15 t ha-1 na produtividade para o NVe, ou seja, 11% superior, principalmente pelo maior potencial de água armazenada que esse solo apresenta; 3. definir bem as épocas de plantio e de corte de acordo com os ambientes de produção. A safra agrícola na região Centro-Sul normalmente ocorre entre abril e novembro, e, nesse período, a cultura passa por deficiência hídrica, que pode prejudicar a brotação e seu desenvolvimento. A cana-de-açúcar colhida no outono (início da safra) apresenta pouca influência da deficiência hídrica (20 a 50 mm) se comparada com a colhida na primavera (final de safra), com deficiência hídrica variando de 450 a 550 mm. Dados do Projeto Caiana, Programa Cana – IAC, com 6.948 dados de produtividade de cana observados em diferentes regiões, mostraram que, ao colher a cana no início da safra, nos ambientes favoráveis, em relação ao final de safra, houve queda de 15% na produtividade. Já nos ambientes mais restritivos, essa queda passa a ser de aproximadamente 30%. Esses resultados mostram que é necessário priorizar a colheita mais cedo nos ambientes restritivos quanto à deficiência hídrica e à fertilidade do solo;
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ensaio especial 4. qualidade das mudas quanto à sua sanidade e reserva nutricional. Iniciar o canavial com mudas sadias e de procedência conhecida é um passo muito importante, para não comprometer a produtividade do canavial. 5. análise de solo, principalmente por ocasião da reforma do canavial, é uma ferramenta de baixo custo, fundamental no diagnóstico das características químicas, fornecendo subsídios para as possíveis correções do solo, tanto na superfície quanto em profundidade. O solo corrigido e bem adubado propicia o crescimento das raízes e é garantia de boa produtividade e longevidade; 6. atentar para a qualidade das operações de preparo do solo, da aplicação e da incorporação de corretivos, bem como dos resíduos da agroindústria, das operações do plantio, como a sulcação, mantendo o espaçamento equidistante, além de distribuição de mudas e cobrimento, apresentando, assim, boa uniformidade de plantio e evitando falhas; 7. manutenção dos implementos e calibração da dose recomendada dos insumos, proporcionando uma boa uniformidade de aplicação; 8. evitar o pisoteio da linha de cana e a compactação do solo, que funciona como barreira física no desenvolvimento do sistema radicular, tanto em superfície como em profundidade, bem como a infiltração de água no solo. A compactação está relacionada
Opiniões aos tipos de solo, ao teor de umidade, ao tráfego intenso, principalmente associado ao espaçamento e à umidade do solo; 9. parcelamento da adubação, principalmente do potássio no plantio, quando as doses recomendadas são elevadas, e em solos de baixa CTC (pouco tamponados), associado ao período chuvoso; 10. levantamento das plantas daninhas e escolha do produto com melhor relação custo-benefício. O controle químico de plantas daninhas custa, atualmente, entre 3% e 6% dos custos de produção e promovem efetivos ganhos de produtividade; 11. aplicação dos insumos próximos à linha de cana, onde se localiza a maior parte do sistema radicular; 12. atentar para a qualidade da operação de colheita, evitando perdas, arranquio de soqueiras que irão provocar falhas ao longo dos ciclos subsequentes, compactação e pisoteio da linha de cana. Outros fatores também podem elevar a produtividade, porém é necessário investimentos maiores. Nesse sentido, as operações básicas de baixo custo citadas deverão ser anteriormente priorizadas pelo produtor. O olhar do dono, o carinho e o dia a dia com o canavial não têm preço. Para quem se apaixona pelo que faz, as operações bem-feitas, o cuidado e o capricho são questão de honra e geram também um grande prazer.
Desenvolvimento do sistema radicular sem impedimento químico (CAD elevada - foto da esquerda) e com impedimento químico, proporcionando baixo desenvolvimento do sistema radicular (CAD menor – foto da direita).
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AAmecanização mecanizaçãoda dacolheita colheitamanual manual não nãoéémais maisum umdesao, desao, ééuma umarealidade realidade CONSUMO MÉDIO CONSUMO MÉDIO DIESEL / TONELADA DIESEL / TONELADA DEDE CANA CANA 0,29 litros * * 0,29 litros
MÉDIA DEDE MÉDIA PRODUTIVIDADE PRODUTIVIDADE (CORTE) (CORTE) 29,8 ton. / hora * * 29,8 ton. / hora
CUSTO MÉDIO CUSTO MÉDIO DODO CORTE COM CORTE COM CENTRACANA CENTRACANA R$ R$ 5,09 * * 5,09
TRABALHA EMEM TRABALHA TERRENOS DEDE ATÉATÉ TERRENOS 32% DEDE 32% DECLIVIDADE DECLIVIDADE LATERAL LATERAL
MÍNIMO MÍNIMO ABALO DEDE ABALO SOQUEIRAS SOQUEIRAS
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