pragas e nematoides
quando inovar é voltar atrás Inovar significa introduzir algo novo, renovar, e, por conseguinte, inovação é o ato de inovar. Uma inovação pode ser uma nova ideia, uma nova prática ou um novo material que facilite ou agilize ou aprimore determinado processo. Em termos de manejo de áreas infestadas por pragas ou nematoides, a inovação mais esperada é aquela que reduza ou, até mesmo, elimine as amostragens ou levantamentos populacionais. O manejo integrado de pragas e de nematoides (MIP) está baseado em um tripé que engloba: a) a amostragem, que fornece as informações sobre as populações de pragas nas diferentes áreas; b) o nível de dano econômico e o nível de controle, que definem quando adotar uma medida de controle e; c) medidas de controle, adotadas onde e quando necessárias (para facilitar a redação, neste texto, o termo “praga” será usado tanto em referência a insetos-pragas como a nematoides fitoparasitos, embora esses últimos não sejam pragas, e sim agentes causadores de doenças). O nível de dano econômico e o nível de controle são determinados para cada praga, considerando dados experimentais de campo e os custos de produção envolvidos no processo, ou seja, custos de insumos, aplicações, da cana, do açúcar, do álcool, do corte, carregamento, transporte, etc. Dada a complexidade desses estudos, o nível de dano econômico e o nível de controle são determinados de forma empírica, mas auxiliam o administrador na árdua tarefa de decidir se vale a pena, economicamente, controlar ou não uma determinada população de praga. Outra base do tripé para implantação de um programa de MIP está estabelecida nos estudos sobre eficiência de métodos de controle e seus impactos sobre o ambiente. De maneira geral, esses dados são os mais abundantes na literatura sobre qualquer praga em qualquer cultura. Finalmente, a decisão sobre onde adotar medidas de controle é fundamentada em levantamentos populacionais da praga e, de preferência, também de seus inimigos naturais, devido à interferência na mortalidade natural no agroecossistema. Em razão disso, para adoção de um programa de manejo de pragas, é imprescindível uma equipe de amostragem. Não há manejo de pragas sem amostragem, pois ela é parte fundamental desse processo.
Até o final da década de 1990 ou início dos anos 2000, a quase totalidade das usinas e até mesmo fornecedores possuíam uma equipe de pragas, composta geralmente por um coordenador de campo e número variável de rurícolas. Durante o ano todo, essa equipe se dedicava às amostragens de broca comum e, na estação chuvosa, às amostragens de cigarrinha-das-raízes e de nematoides; durante a época seca do ano, a equipe fazia os levantamentos de intensidade de infestação final de broca, amostragens de pragas de solo e, algumas vezes, até mesmo as estimativas de perdas na colheita. Essa mesma equipe era a responsável pelas liberações de Cotesia flavipes, pelo controle de formigas e, ainda, auxiliava a condução dos experimentos na área de manejo de pragas, conduzidos em parceria com instituições de pesquisas, como o IAC. Em condições ideais, a proporção era de 1 funcionário de campo para cada 1.000 hectares de lavoura, o que implicava equipes relativamente numerosas. Com o passar do tempo e sucessivas crises econômicas, as equipes foram sendo reduzidas e, em alguns casos, desapareceram. Em função da diminuição das equipes de amostragem, os levantamentos populacionais também foram reduzidos e passaram a ser feitos em somente parte da área da usina ou fornecedor e não mais em toda a área cultivada. Além da redução da área amostrada, o número de pontos de amostragem em cada área também se tornou significativamente menor. Esses dois fatores, redução da área amostrada e redução dos pontos de amostragem por área, elevaram os erros das estimativas populacionais de pragas, e, atualmente, são comuns os casos nos quais a amostragem é tão malfeita (quando é feita), que a população estimada não representa, de fato, a área. É importante frisar que a decisão sobre controlar ou não uma praga envolve uma
Não há qualquer possibilidade de se desenvolver um método de manejo de pragas que elimine a amostragem. "
Leila Luci Dinardo-Miranda
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Pesquisadora do Centro de Cana-de-açúcar do IAC