Um pacto nacional de longo prazo - OpAA50

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ensaio especial

Opiniões

etanol e gasolina:

um pacto para o abastecimento

Impulsionado pela inflação ascendente e descontrolada, o Governo Federal, em franca decadência, transformou o controle de preços dos derivados de petróleo em ferramenta de política macroeconômica. A manutenção dos preços dos combustíveis abaixo dos preços de referência do mercado por um longo período produziu distorções gravíssimas. A manobra não foi capaz de reduzir os índices de inflação e coloca o setor sucroalcooleiro em uma de suas maiores crises, com elevado grau de endividamento, redução de sua capacidade de produção e investimento e provoca uma crise de desabastecimento Em um momento em que as vendas de veículos movidos a biocombustível já superam em mais de 80% das vendas totais, a frota vai crescendo e se consolidando. Não há etanol suficiente para atender à demanda, e, para evitar o desabastecimento, o setor sucroalcooleiro é obrigado a importar grandes quantidades de etanol para complementar a demanda. A falta de produto é eminente na entressafra, e a confiança do consumidor vai se reduzindo a passos largos. Não resta outra alternativa a não ser fazer a escolha de qual produto terá a sua produção reduzida, pois a manutenção de preços artificiais dos combustíveis força a indústria a reduzir a sua produção e a aumentar seus custos, com a queda da produtividade.

Como consequência direta, o consumidor deixa de comprar os veículos novos movidos ao combustível vegetal, e a demanda reduz-se drasticamente. Dezenas de destilarias que foram construídas para atender a essa demanda crescente convertem-se em fábricas de açúcar e a produção de etanol desacelera drasticamente. Bons preços do açúcar fazem crer que a decisão correta foi tomada, afinal o mercado de hidratado é secundário, importante é atender à demanda de açúcar, que está longe do alcance das medidas intervencionistas do governo, investir em infraestrutura e aproveitar os bons preços. O mercado se encarrega de ajustar as demandas. Após esse intenso movimento, o mercado de açúcar começa a dar sinais de saturação, e, ao final de uma década, os preços não cobrem mais os custos de produção. A frota movida a etanol está sucateada depois de uma década de vendas marginais. A gasolina segue soberana, fortalecendo a Petrobras, até chegamos ao ápice dessa história com o mercado de açúcar em depressão, e uma produção de etanol que não encontra mais compradores, formando um dos maiores estoques de etanol até então já vistos. Essa história não é ficção, ela é uma fotografia recente do setor sucroalcooleiro, que começou no final da década de 1980, atravessou os anos 1990 e terminou em 2.000, com um estoque de etanol suficiente para 5 meses de abastecimento na entrada de uma nova safra. ;

Heloisa

Um país com vocação para ciologia da Esalq-USP o agronegócio, que investiu em uma matriz de energia sustentável, não pode ser refém de uma política de combustíveis desnorteada (...) responsável peloIsaias fe- de o Energético da Unicamp chamento de dezenas de unidades de produção de açúcar e etanol no País "

Tarcilo Ricardo Rodrigues Diretor da Bioagência

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