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BIOENERGÉTICO: cana, milho, agave, açúcar, etanol, biogás, bioeletricidade e carbono
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René Sordi Enercana
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Capa: acervo BPBunge Bioenergia - Tropical Índice: acervo Atvos - Conquista
Ariel de Souza São Somingos
Luís Gustavo S.Martinho
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A situação é extremamente complexa
e os investimentos elevadíssimos
O crescimento acelerado da construção de plantas de etanol de milho no País tem trazido à tona esse questionamento, pelo fato que ambas as matérias-primas produzem o mesmo combustível e, portanto, estão do lado do aumento da oferta, mas que, em última análise, ambos concorrem diretamente mesmo é com a gasolina nas bombas. Portanto, a questão não é de concorrência, mas sim de complementariedade. Embora o produto final seja o mesmo, os sistemas produtivos são muito diferentes e seguem lógicas bastante distintas em sua viabilidade econômica. A indústria sucroalcooleira é centenária no País e a indústria de etanol de milho é relativamente recente, não tendo atingido uma década de crescimento consistente. O que impressiona na indústria de etanol de milho é a sua velocidade de crescimento.
Compartilhamos da mesma cadeia de suprimento e o potencial de demanda do etanol é muito grande e pode acomodar boa parte dos projetos anunciados para o etanol de milho.
O consumo de combustíveis do ciclo Otto no Brasil (veículos de passeio e comerciais leves) em 2023 foi de 62,0 milhões de m³, sendo 45,9 milhões de m³ de gasolina C e 16,0 milhões de m³ de etanol hidratado. Convertendo este volume em gasolina equivalente, temos uma demanda anual de 57,1 milhões de m³.
Hoje, a frota brasileira é composta de 80% de veículos flex, e, em uma situação limite, poderíamos ter toda essa frota utilizando etanol, gerando uma demanda potencial de 45,7 milhões de m³ de gasolina equivalente, que poderiam se transformar em um consumo de 65,2 milhões de m³ de etanol hidratado.
A produção brasileira de etanol da safra 2023/24 totalizou 35,8 milhões de m³, incluindo o etanol anidro e hidratado, de milho e de cana. Olhando por este ângulo poderíamos dizer que há espaço para dobrarmos a produção atual de etanol, e nenhuma das duas culturas agrícolas fará sombra à outra ou impedirá o seu crescimento. A questão central é a competividade do etanol hidratado. 92% da demanda de etanol do Brasil está na região Centro-Sul, e, dentro da região Centro-Sul, os Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás respondem por 93,2% do consumo da região.
O que estamos vendo é uma grande concentração da demanda em Estados produtores. Para expandirmos a demanda é necessário fomentar o consumo de etanol onde ele não é competitivo.
Em uma análise de curto prazo, há muito mais espaço para o crescimento da oferta de etanol de milho do que para o aumento da oferta de etanol de cana-de-açúcar.
Tarcilo Ricardo Rodrigues Diretor da Bioagência de Fomento de Energia de BiomassaRefinando os cálculos apresentados, o consumo de combustíveis do ciclo Otto (veículos de passeio e comerciais leves) em 2023 na região Centro-Sul foi de 47,7 milhões de m³, sendo 33,2 milhões de m³ de gasolina C e 14,5 milhões de m³ de etanol hidratado.
Convertendo esse volume em gasolina equivalente, temos uma demanda anual de 43,3 milhões de m³ e, partindo da premissa que até 80% da frota poderia utilizar etanol hidratado, teríamos um consumo potencial de 34,4 milhões de m³ de gasolina equivalente, que poderiam se transformar em um consumo de 49,5 milhões de m³ de etanol hidratado.
Refinando ainda mais os cálculos apresentados, o consumo de combustíveis do ciclo Otto (veículos de passeio e comerciais leves) em 2023 nos Estados Produtores, onde o etanol é mais competitivo, foi de 35,2 milhões de m³, sendo 21,7 milhões de m³ de gasolina C e 13,5 milhões de m³ de etanol hidratado.
Convertendo esse volume em gasolina equivalente, temos uma demanda anual de 31,2 milhões de m³ e, partindo da premissa que até 80% da frota poderia utilizar etanol hidratado, teríamos um consumo potencial de 25,0 milhões de m³ de gasolina equivalente, que poderiam se transformar em um consumo de 35,7 milhões de m³ de etanol hidratado.
A produção atual de etanol hidratado, na região Centro-Sul, na safra 2023/24 foi de 20,5 milhões de m³. Hoje, o consumo de etanol hidratado na região Centro-Sul é de 16,0 milhões de m³/ano.
Aparentemente, há um espaço para incrementar a produção, mas convencer 100% dos proprietários de veículos flex a utilizar etanol hidratado não parece ser uma tarefa tão trivial.
A participação atual do hidratado no consumo do ciclo Otto é de 23,5% na região Centro-Sul, e a paridade média de preços entre o etanol e a gasolina, na safra 2023/24, foi de 64%, extremamente favorável ao biocombustível.
O concorrente se chama gasolina e é com ela que o setor deve-se preocupar. E mesmo a despeito de ser um modelo de produção estatal, temos uma indústria petrolífera muito moderna e competitiva, com enorme capacidade de investimento.
Embora a decisão pelo combustível hoje se faça no posto de abastecimento, diversos fatores ainda influenciam a tomada de decisão do consumidor, mas em última análise é o fator preço relativo dos produtos que pesa na balança.
Na esfera federal, as políticas públicas de diferenciação tributária estão devidamente ajustadas a favor do biocombustível. Na esfera estadual, existe uma uniformização do imposto incidente sobre a gasolina em todos os estados (alíquota ad rem e monofásica).
Para o etanol hidratado, somente os estados produtores (São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás) têm alíquotas estaduais competitivas.
Os demais estados da Federação não têm políticas tributárias que incentivem o consumo de etanol hidratado, e a consequência direta é que o consumo é majoritariamente atendido pela gasolina, que tem uma relação custo/benefício mais favorável que o etanol.
Esta é a grande barreira para a cana e o para o milho. Se a produção de etanol continuar a crescer sem a adequação tributária nos demais estados, rapidamente chegaremos à saturação do consumo nos estados produtores e a consequência será uma queda substancial das margens do negócio.
O desenvolvimento da indústria é bastante complexo. Do lado da cana-de-açúcar, temos a competição com o açúcar, com uma demanda crescente, em que o Brasil é o protagonista principal, com boa parte de sua produção voltada para a exportação.
As limitações de preços impostas pelos preços do petróleo, pela taxa de câmbio e, principalmente, pelo controle de preços praticados pela Petrobras tornam muito difícil o crescimento sustentável da oferta de etanol.
Este fator afeta tanto a indústria de cana-de-açúcar quanto a indústria do milho. A grande diferença é que o etanol de milho leva uma vantagem dos baixos preços da matéria-prima neste momento.
O preço da cana-de-açúcar sofre as consequências dos elevados preços do açúcar e onera os custos de produção de etanol, e, por outro lado, os preços do etanol são limitados aos preços controlados da gasolina.
Em uma análise de curto prazo, há muito mais espaço para o crescimento da oferta de etanol de milho do que para o aumento da oferta de etanol de cana-de-açúcar.
A situação é extremamente complexa e os investimentos são elevadíssimos. Diferentemente do mercado de açúcar, a presença do governo é muito pesada no mercado de etanol, seja pela política tributária, seja pela determinação do nível de mistura de etanol anidro na mistura de gasolina, seja na política de definição das metas do Renovabio. Tudo interfere e dificulta a visualização dos horizontes de investimentos para a indústria do etanol de milho e de cana-de-açúcar. n
cana e milho: parceiros ou concorrentes
O promissor futuro do etanol e a
simbiose entre cana e milho
Muito se tem falado sobre as possíveis implicações da ascensão do etanol de milho no Brasil para os produtores do biocombustível a partir da cana-de-açúcar. Os preços baixos do etanol na safra 2023/24 foram parcialmente creditados ao aumento do produto originado do milho, tendo como consequência uma disparidade crescente na remuneração entre o açúcar e o combustível. Mas, antes de sentenciar a cana a um futuro 100% doce, é preciso analisar de perto alguns fatores que podem equilibrar essa balança.
As últimas décadas foram marcadas por debates incessantes em escala global a respeito do desenvolvimento sustentável, que tem como um de seus pilares a substituição de fontes de energia tradicionais por renováveis. Seja por meio do desenvolvimento de biocombustíveis, seja pela eletrificação das frotas, o projeto global de descarbonização se apoia em metas cada vez mais ambiciosas, e uma das formas mais promissoras de adesão é a mistura de etanol na gasolina. Hoje, mais de 60 países já possuem mandatos de mistura em vigor e metas crescentes ao longo dos anos, sendo o Brasil o principal exemplo, com seus atuais 27% de anidro na gasolina e 14% de biodiesel no diesel. Isso sem contar o aumento da utilização dos biocombustíveis em outros setores também, como o da aviação.
Nesse contexto, existe um potencial de crescimento da demanda por etanol não apenas no cenário doméstico, como também global, e o Brasil, como segundo maior produtor mundial, deve desempenhar um papel determinante na oferta do biocombustível nas próximas décadas, com espaço garantido para aumento na produção, tanto a partir da cana, quanto de milho.
Além desse pano de fundo global, no âmbito local a demanda por biocombustíveis deve continuar crescendo. Podemos exemplificar o caso do etanol ao traçar um cenário conservador para a próxima década. Assumindo crescimento anual do consumo Ciclo Otto brasileiro de 1% e aumento de 1 ponto percentual ao ano na participação do hidratado nas vendas, temos um incremento de quase 10 bilhões de litros na demanda total por hidratado combustível ao longo de 10 anos.
Para fins de comparação, isso significaria uma média de vendas mensais no mercado interno pelas usinas do Centro-Sul perto de 2 bi L ao longo dos próximos 10 anos – versus 1,5 bi L nos últimos cinco anos. Além disso, não podemos ignorar o potencial aumento na mistura do anidro na gasolina, saindo dos atuais 27% para 30%, o que pode trazer um adicional de 1 bi L no consumo de anidro, bem como possibilidade de que a mistura cresça mais no futuro.
antes de sentenciar a cana a um futuro 100% doce, é preciso analisar de perto alguns fatores que podem equilibrar essa balança "
O aumento da participação do etanol hidratado no consumo de combustíveis no Brasil pode se justificar pelo avanço do Renovabio. Apesar de falhas no programa, as metas continuam aumentando ano a ano, com o objetivo de melhorar a competitividade do etanol frente à gasolina, por meio do repasse do custo das distribuidoras com a aquisição dos CBIOs para o preço do combustível fóssil.
Considerando que não existem planos de investimento suficientes para se esperar um grande potencial de crescimento na oferta de cana nos próximos anos, tem-se também um cenário de oferta limitada de ATR, cujo direcionamento para o açúcar ou etanol recairá, como sempre, sobre a arbitragem de preços entre os dois produtos. Mesmo com os investimentos recentes em aumento da capacidade de cristalização, o contexto promissor de demanda pelo biocombustível pode pesar do outro lado da balança.
Ao desenharmos um cenário de oferta pautado em moagem de 600 MMT, ATR médio de 140 kg/t e mix de 50%, teríamos uma oferta de etanol de cana orbitando ao redor de 24 bi L no Centro-Sul. Somando-se ao cenário de demanda descrito anteriormente e considerando a produção de etanol de milho da safra atual em cerca de 8,0 bi L, estamos falando de uma necessidade de produção adicional de etanol ao redor de 12 bi L, o que será um grande desafio, diante dos elevados preços do açúcar no mercado internacional atualmente.
Entendendo que o contexto global é favorável ao etanol no futuro, nos resta avaliar quais são as condições de oferta, isto é, se o produto originado do milho poderá, de fato, preencher esse espaço. O principal ponto a ser avaliado é a eficiência energética das usinas. A biomassa oriunda da cana torna as indústrias autossuficientes, além de possibilitar a muitas delas venderem a energia excedente, gerando uma relevante fonte extra de receita. O mesmo não pode ser afirmado para uma usina de etanol de milho, que necessita de uma fonte complementar de energia, tornando o processo menos eficiente nesse sentido. Essa característica (ou falta dela) das usinas movidas a milho se coloca hoje como a maior limitação no que toca à viabilidade de uma expansão exponencial destas plantas.
É claro que as usinas de etanol de milho têm também outras fontes de receita que contribuem com a margem de suas operações, como o DDG e o óleo de milho. Porém as margens podem ser comprimidas por redução do valor agregado do DDG conforme a oferta do mesmo cresce e pelo aumento de custo das fontes de energia utilizadas. E aí está o grande gargalo.
SAF: Novo mercado para o etanol a longo prazo: Pensando no longo prazo, destacamos também o crescente debate ao redor do SAF (sigla em inglês para Combustível Sustentável de Aviação), alternativa ao tradicional Querosene de Aviação (QAV). São diversos os tipos de SAF que podem substituir o QAV e eles se distinguem pela matéria-prima utilizada. Atualmente, a principal fonte de produção em escala do SAF é a partir do Hidrotratamento de Ésteres e Ácidos Graxos (HEFA), porém a limitação dessa matéria-prima diante da crescente demanda deve levar à utilização de novas fontes nos próximos anos, sendo uma das mais promissoras delas o ATJ (Alcohol-to-Jet) – o nosso etanol –, podendo chegar a uma taxa de mistura de até 50% no QAV.
Mesmo o Brasil sendo o principal potencial de oferta de ATJ, o projeto anda a passos lentos. Mas a intenção de desenvolver o setor já é discutida, inclusive mencionada no projeto de lei “Combustível do Futuro”. Apesar de ser uma tecnologia relativamente recente, que representa apenas cerca de 0,2% do consumo total de combustíveis aéreos no mundo, o SAF tem sido um dos principais focos nas discussões globais mais recentes sobre a descarbonização do setor aéreo e representa um enorme potencial para a acomodação da oferta de etanol brasileira.
O que esperar no futuro? Os cenários de demanda no longo prazo apontam para um contexto capaz de absorver uma oferta crescente de etanol de milho. Por outro lado, é preciso ponderar a capacidade do setor em proporcionar de fato esse crescimento, dada a limitação imposta pela falta de uma fonte própria de geração de energia, que pode oferecer um teto para o crescimento de novas plantas de etanol de milho.
Essa limitação pode ser contornada por investimentos em usinas flex, que associam a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar e do milho. Isso contribuiria para resolver não apenas a questão energética, como também permitiria uma maior eficiência em geral das usinas de cana, com melhor aproveitamento de tempo, possível integração de processos, compartilhamento de infraestrutura e redução de custos. Isso ainda sem entrar na discussão do potencial do etanol 2G.
De toda forma, pode-se afirmar que o etanol de milho pode ser encarado como uma oportunidade para o setor e que esse cenário cada vez mais doce que vem se desenhando nos últimos anos deve oscilar no longo prazo, já que o contexto global de descarbonização pode voltar a colocar o etanol nos holofotes do mercado no futuro. n
cana e milho: parceiros ou concorrentes
A filosofia aplicada ao etanol brasileiro
Aristóteles dizia que “devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade”. Será com esta abordagem que governos e consumidores buscarão formas de descarbonizar matrizes energéticas e setores econômicos, garantindo segurança energética e justiça social.
No Brasil, o aristotelismo também é o fundamento base do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988, o qual dispõe sobre o princípio constitucional da igualdade perante a lei, entretanto diferentemente da abordagem constitucional o qual trata sobre pessoas.
No que tange a este artigo, abordarei os aspectos das igualdades e desigualdades do que até há pouco tempo era visto como uma commodity, ou seja, sem diferenciação sobre seu local de produção ou produtor.
Enquanto o preço do etanol no Brasil e no mundo ainda é majoritariamente orientado pela premissa econômica de oferta e demanda, já é possível afirmar que, perante os compromissos públicos e privados de redução das emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa, as políticas públicas dos principais países já ponderam não apenas um prêmio ambiental (financeiro) para o etanol com uma menor intensidade de carbono, como também no caso da Europa, já delimita a origem da matéria-prima.
não é sobre o milho versus a cana-de-açúcar, mas sim sobre usufruir do melhor que as opções podem entregar "
No Brasil, a política nacional dos biocombustíveis (Renovabio) já exerce o papel de atribuir um prêmio de mercado para os produtores que certificam a sua produção e se tornam elegíveis a gerar CBios no momento da venda do etanol.
Aspectos ambientais: Ao considerarmos que um dos objetivos das políticas públicas de produção e uso de biocombustíveis é o de reduzir as emissões de GEE, a rastreabilidade e elegibilidade das matérias-primas utilizadas para produção dos combustíveis renováveis têm sido temática de discussões globais.
No caso do Brasil, o modelo de contratação da cana-de-açúcar fornecida por terceiros às usinas produtoras de etanol possui usualmente um prazo superior a cinco anos, bem como uma maior concentração de compra com produtores próximos às usinas, facilitando a rastreabilidade e elegibilidade do etanol produzido via cana.
O melhor rastreamento dos fornecedores de cana também possibilita que a indústria incentive, via o compartilhamento de tecnologias e recursos financeiros, uma produção de matéria-prima com menor intensidade de carbono, impactando diretamente no volume total de etanol elegível e na nota de eficiência energética, portanto na quantidade de CBios gerados por litros vendidos.
Nicolle Alves Monteiro de Castro Especialista em Agronegócio da S&P Global Commodity Insights
Em oposto, as plantas de etanol de milho possuem uma maior dificuldade em mapear as emissões atribuídas à produção da matéria-prima, uma vez que existe uma maior pulverização no número de produtores envolvidos na cadeia de suprimentos e, também, uma maior distância das plantas de processamento.
Para efeitos de comparação, de acordo com os dados publicados pelo Observatório da Cana, do total de etanol hidratado produzido no estado de São Paulo, 91,99% é elegível ao programa e possui uma intensidade de carbono média de 27,7gCO2eq/MJ, ao passo que no Mato Grosso, estado que lidera a produção de etanol de milho com 11 plantas em funcionamento, sendo seis exclusivas de etanol de milho e cereais, estes números são de respectivamente 55% e 32,5gCO2eq/MJ. Ainda como efeito de exemplo, de todo o hidratado produzido por uma das principais produtoras de etanol de milho do Mato Grosso, apenas 24% é elegível ao programa Renovabio, com uma intensidade de carbono de 42,9gCO2eq/MJ.
Visando reduzir as emissões totais atribuídas ao processo de produção, alguns produtores de etanol de milho no Brasil e nos Estados Unidos já investem em projetos de CCS, captura e armazenamento de carbono, o qual no Brasil está sendo discutido no PL 1425/2022.
Os fatos acima destacam que, embora os etanóis provenientes do milho e da cana possuam uma mesma característica de molécula, para alguns mercados dispostos a pagar um prêmio para biocombustíveis com uma menor emissão de GEE durante toda a análise de ciclo de vida, o etanol de cana tenderá a gerar um maior valor de mercado.
Garantia de abastecimento via renováveis: O mercado brasileiro de combustíveis possui um grande diferencial perante o resto do mundo, com atualmente 85% da frota de veículos leves como flex fuel. Isso permite que o consumidor exerça um papel fundamental na curva de demanda do etanol, sendo tal decisão de consumo ainda amplamente pautada na diferença entre o preço da gasolina C, a qual possui 27% de etanol anidro, e do etanol hidratado, ou E100.
Este fato nos leva a pensar sobre dois aspectos: a relevância da política de preço da gasolina e o apetite do consumidor brasileiro em pagar um prêmio para abastecer com um combustível de menor impacto ambiental.
É sabido (por poucos) que a agenda de descarbonização vai muito além de uma pauta exclusivamente ambiental, porém menor ainda
é o número de pessoas que podem financeiramente optar por produtos com uma menor intensidade de carbono, ou seja, que gerem um menor impacto ao meio ambiente.
Ao analisarmos o volume total de etanol vendido pelos produtores brasileiros em 2019, era possível notar a alta dependência da produção originada no estado de São Paulo, a qual correspondia a 43,7% (14,2 bilhões de litros) do total nacional, sendo o estado majoritariamente dependente de cana-de-açúcar. Neste mesmo ano, a participação do estado do Mato Grosso do Sul era de 7,4% (2,4 bilhões de litros), Goiás tinha 3% (977 milhões de litros) e Mato Grosso abarcava apenas 2,1% (696 milhões de litros).
Neste cenário de centralização regional da oferta de etanol, os estados do Sudeste, mesmo com a sua demanda total de combustíveis de Ciclo Otto representando quase 50% da demanda nacional, eram beneficiados com preços de etanol mais competitivos do que as regiões Norte, Nordeste e Sul.
No período analisado entre 2019 e 2023, a paridade do Centro-Oeste se demonstrou mais favorável ao etanol do que nos estados do Sudeste. Entretanto, a demanda total do Ciclo Otto na região foi em média equivalente a 10% da demanda nacional. Observe na próxima página o gráfico de Paridade Regional. Pulamos para 2023, e a expansão da indústria de etanol de milho, majoritariamente baseada entre os estados do Centro-Oeste, já gerou um deslocamento da curva regional de oferta e demanda.
Do volume total de etanol vendido pelos produtores em 2023, a originação no estado de Mato Grosso representou 15,7% (4,5 bilhões de litros); Goiás, 15,2% (4,3 bilhões de litros); e Mato Grosso do Sul, 11,5% (3,3 bilhões de litros). São Paulo, por sua vez, reduziu a proporção para 34,2% (9,8 bilhões de litros).
Com o cenário de oferta regionalmente descentralizado e com um menor efeito sazonal de disponibilidade de produto, a cadeia do etanol de milho favoreceu um novo cenário de paridades positivas ao etanol hidratado nas regiões Sul, Norte e Nordeste, como demonstrado no citado gráfico. A maior oferta de etanol de milho já se demonstrou eficiente para aumentar nacionalmente a atratividade econômica do biocombustível.
O gráfico com a Paridade Média Brasil, na página seguinte, demonstra a paridade nacional média entre etanol hidratado e gasolina no período entre janeiro de 2015 e março de 2024. Ao longo desses quase nove anos, o etanol
cana e milho: parceiros ou concorrentes
hidratado ofereceu uma vantagem financeira mais competitiva perante a gasolina entre junho e novembro de 2018, pico da safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil.
De fato, o advento do etanol de milho proporciou aos consumidores nacionais uma oferta regular, ou seja, sem os efeitos de sazonalidade de preços, novos alcances geográficos de abastecimento de um combustível renovável e a oportunidade de mais consumidores terem a percepção dos benefícios atribuídos ao uso do etanol.
Com base nessas premissas, é possível concluir que o aumento da oferta total de etanol, seja de cana-de-açúcar ou de milho, tenderá a favorecer a sociedade por múltiplas vias:
ampliação da disponibilidade de biocombustíveis no país, preços potencialmente mais competitivos perante o substituto direto fóssil, redução das curvas de sazonalidades de preço, menor exposição aos preços globais de açúcar, geração de uma nova cadeia de valor ao produtor agrícola e, por fim, mas não menos importante, redução das emissões totais de GEEs do setor de transportes do Brasil.
Resolver problemas climáticos e ambientais, ponderando os aspectos sociais e de justiça energética, demandará uma soma de tecnologias e matérias-primas. Logo concluo dizendo: não é sobre o milho versus a cana-de-açúcar, mas sim sobre usufruir do melhor que as opções podem entregar. n
A importância na consolidação no
mercado de combustíveis renováveis
O Brasil tem-se destacado globalmente na produção e uso de biocombustíveis, particularmente do etanol, como parte de seus esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover a sustentabilidade energética. Nesse contexto, o etanol tem-se destacado como uma fonte de energia renovável promissora, com o potencial de substituir, pelo menos parcialmente, os combustíveis derivados do petróleo. Enquanto o etanol de cana-de-açúcar tem sido o principal protagonista dessa indústria, o surgimento do etanol de milho no país representa uma oportunidade significativa para complementar essa matriz energética, garantindo a consolidação do combustível renovável não apenas no mercado automotivo, mas também na aviação e no setor marítimo.
No entanto, é essencial reconhecer a complementaridade entre essas duas fontes para consolidar ainda mais o mercado de combustíveis renováveis, especialmente para ampliação dos mercados atuais e abertura de novos mercados, como nos setores de aviação e marítimo.
Em regiões onde o cultivo de cana não é viável, o etanol de milho pode preencher essa lacuna e vice-versa. Nas regiões em que ambas as culturas são viáveis, viabiliza as chamadas indústrias flex, que produzem etanol com cana e milho. "
Paulo Andrés Trucco da Cunha Diretor Comercial de Etanol e Energia da FSO etanol de milho passa a ser um aliado crucial ao etanol de cana para consolidação do mercado atual e na transição para uma economia de baixo carbono, fornecendo maior segurança de suprimento para descarbonizar os setores de aviação e marítimo.
O contexto atual do mercado de combustíveis renováveis:
O setor de transporte é responsável por uma parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa. Diante disso, reduzir a pegada de carbono dessas indústrias é uma prioridade urgente. O etanol tem sido reconhecido como uma alternativa viável, pois sua queima produz menos emissões de gases poluentes em comparação com os combustíveis fósseis. O Brasil, em particular, é um dos líderes na produção de etanol, principalmente a partir da cana-de-açúcar, e tem desempenhado um papel crucial na promoção de combustíveis renováveis.
O Brasil tem uma longa história na produção e uso de biocombustíveis, com o etanol desempenhando um papel central nesse cenário. A vasta extensão de terras agricultáveis e o clima favorável proporcionaram ao país condições ideais para o cultivo de cana-de-açúcar e de milho. Recentemente, o etanol de milho começou a ganhar espaço no mercado brasileiro de biocombustíveis, aproveitando a infraestrutura existente e as oportunidades de diversificação.
No mercado automotivo, a diversificação da oferta de biocombustíveis é essencial para garantir a disponibilidade do produto em qualquer época do ano, em diferentes regiões do país. O etanol de milho pode desempenhar um papel complementar ao etanol de cana-de-açúcar, fornecendo uma fonte adicional de combustível renovável para veículos flex fuel, que são amplamente utilizados no Brasil. As características do etanol de milho e de cana são as mesmas e obedecem aos padrões de especificação regulamentados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Além disso, a disponibilidade de etanol de milho pode ajudar a reduzir a dependência do país em relação aos combustíveis fósseis, contribuindo para a segurança energética e a resiliência do setor de transporte.
Esta indústria vem crescendo consistentemente nos últimos anos. Segundo a União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), até 2030 a produção de etanol de milho deve atingir 10 bilhões de litros produzidos no Brasil e representar 20% do mercado brasileiro. Nesta conjuntura, o milho se configura como mais uma matéria-prima para a produção de etanol, diversificando o suprimento e proporcionando mais garantia de oferta do combustível ao consumidor, mitigando possíveis temores, como já visto no passado, de falta de abastecimento.
Isso também é um fator que impulsiona o investimento em infraestrutura logística, como, por exemplo: construção de dutos, mais ferrovias e duplicação das rodovias, além de terminais e armazéns, sendo um grande propulsor para a economia nacional.
Do lado da demanda, o mercado interno de combustíveis já chegou a consumir mais de 35 bilhões de litros de etanol em 2019. Em 2023, o país consumiu apenas 31 bilhões de litros, com o hidratado representando apenas 19,6% da matriz de consumo de ciclo Otto.
Em 2019, esse percentual ficou 10 pontos acima, em 29,3%. No mercado nacional, a grande frota flex fuel, que hoje representa cerca de 85% dos veículos leves no Brasil, garante potencial de crescimento praticamente ilimitado para os próximos anos. Ou seja, o mercado de etanol ainda pode expandir muito no mercado automotivo do Brasil.
No âmbito internacional, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), mais de 70 países já possuem mandatos de algum nível de mistura na gasolina, e discussões sobre aumentos na mistura têm-se tornado cada vez mais frequentes. Além do segmento automobilístico, as ambiciosas metas ambientais, especialmente no setor da aviação e marítimo, devem garantir um crescimento estável na demanda por biocombustíveis nas próximas décadas. Em ambos os casos, quanto maior a diversificação de matérias-primas e origens, maior a resiliência a fatores climáticos, econômicos e mais estável o suprimento das matérias-primas.
O papel do etanol de milho no mercado de combustíveis renováveis:
Enquanto o etanol de cana-de-açúcar tem sido amplamente adotado em várias partes do mundo, o etanol de milho também possui vantagens distintas que o tornam uma opção atraente. A produção de etanol de milho é bem estabelecida em países como os Estados Unidos, onde o milho é uma cultura agrícola predominante. Além disso, o processo de produção de etanol de milho é mais simples e requer menos investimento inicial em comparação com o de cana-de-açúcar.
O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo e produziu 129 milhões de toneladas na última safra, sendo que 12% desta produção foi utilizada para produção de etanol. A conversão de uma pequena parte desta produção em etanol oferece uma oportunidade adicional de aproveitar os excedentes de produção e diversificar a matriz energética do país.
As características ambientais e de clima do Brasil permitiram que a produção de etanol de milho brasileira tivesse duas importantes características que diferem esta indústria da de outros países. No Brasil, o milho utilizado para produção de etanol é o chamado milho de segunda safra, ou seja, seu plantio e colheita são realizados logo após a colheita da soja, dentro do mesmo ano-safra. ;
planos do etanol de milho
Esse processo permite que o milho aproveite de todos os nutrientes do solo deixados pelo plantio de soja, evitando assim a adição de insumos agrícolas que emitam CO2 na atmosfera. A segunda característica é o fato de a planta de etanol de milho brasileira utilizar biomassa renovável para geração de vapor e energia necessária para funcionamento da sua operação. Essas duas características fazem do etanol de milho brasileiro um biocombustível com baixa emissão de carbono.
Complementaridade entre etanol de milho e etanol de cana-de-açúcar:
A complementaridade entre o etanol de milho e o de cana-de-açúcar reside em suas características distintas. Enquanto a indústria do etanol de cana-de-açúcar tem a flexibilidade de produzir açúcar a partir do caldo da cana, ao invés do etanol, o etanol de milho tem sua versatilidade em termos de clima e solo. Isso significa que, em regiões onde o cultivo de cana-de-açúcar não é viável, o etanol de milho pode preencher essa lacuna e vice-versa. Além disso, no Brasil existem regiões inclusive em que ambas as culturas são viáveis, e, nesses casos, a complementariedade está também nas chamadas indústrias flex, que produzem etanol tanto a partir da cana-de-açúcar, quanto do milho. Esses posicionamentos ampliam as opções de produção de biocombustíveis em todo o território nacional.
Potencial nos setores de aviação e marítimo:
A descarbonização dos setores de aviação e marítimo é um desafio global devido à alta demanda por combustíveis de alta densidade energética e à disponibilidade limitada de alternativas. A tecnologia "Alcohol to Jet" tem sido reconhecida como uma das opções mais viáveis para descarbonizar a aviação, com o etanol sendo transformado em biocombustível de aviação. Isso atende a um compromisso firmado pela ICAO (International Civil Aviation Organization; em português, Organização da Aviação Civil Internacional), que determina a mistura obrigatória de combustível sustentável ao setor de aviação a partir de 2027, abrindo grandes oportunidades ao etanol brasileiro.
Os Estados Unidos, por exemplo, já estabeleceram o uso de 5 bilhões de litros de SAF até 2030. Para o Japão, a meta é alcançar 10% de uso de SAF até 2030.
Esses são sinais de alta demanda para um futuro próximo e com o qual o Brasil vislumbra uma grande oportunidade, por ser um dos principais produtores globais de etanol, riquíssimo nas suas duas principais matérias-primas: a cana-de-açúcar e o milho.
O etanol de milho e de cana-de-açúcar podem desempenhar papéis complementares nesses setores, fornecendo uma alternativa renovável aos combustíveis fósseis. Por exemplo, o etanol pode ser mais facilmente integrado à infraestrutura existente de aviação e marítima devido à sua produção, tecnologia e distribuição já estabelecidas. A utilização de etanol na aviação e no setor marítimo pode reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo assim para os esforços de combate às mudanças climáticas e promovendo a transição para uma economia de baixo carbono.
Conclusão:
O surgimento do etanol de milho no Brasil representa uma oportunidade única para diversificar e fortalecer ainda mais o setor de biocombustíveis do país. Sua complementaridade ao etanol de cana-de-açúcar oferece vantagens significativas em termos de segurança de suprimento, resiliência e sustentabilidade ambiental. Além disso, o etanol de milho tem o potencial de desempenhar um papel crucial na descarbonização dos setores de aviação e marítimo, contribuindo assim para os esforços globais de combate às mudanças climáticas.
A consolidação do mercado de combustíveis renováveis depende da cooperação e complementaridade entre diferentes fontes de energia, incluindo o etanol de milho e o de cana-de-açúcar. O setor de biocombustíveis precisa atuar em conjunto em prol do desenvolvimento desses mercados e deixar a relação de concorrência de lado para estas agendas, que são comuns, de interesse mútuo e com potencial até maior que o mercado existente. Nos setores de aviação e marítimo, onde as demandas por combustíveis alternativos são mais prementes, essa complementaridade pode desempenhar um papel crucial na redução das emissões de carbono e na promoção de um futuro mais sustentável. No entanto, é essencial abordar os desafios e aproveitar as oportunidades de forma colaborativa para alcançar esse objetivo com sucesso. n
Rotação de cultura e compostagem
Na cultura canavieira, o manejo regenerativo vem conquistando cada vez mais espaço na produção em larga escala, em função dos seus benefícios relacionados ao aumento do rendimento agrícola, à redução de custos e à capacidade de potencializar a economia circular dentro de um sistema produtivo.
Diferentemente do manejo convencional, que condiciona o solo apenas em suas características físicas e químicas, no manejo regenerativo, além de se considerar todos esses fatores, as características biológicas ganham protagonismo através da utilização de fertilizantes organominerais, biológicos nutricionais, biodefensivos e bioestimulantes naturais.
A utilização destes bioinsumos vem aumentando a biodiversidade e, por consequência, trazendo impactos notórios no que se refere ao aumento da saúde e resiliência do sistema solo-planta. Dentro das práticas realizadas no manejo regenerativo, algumas são de fato disruptivas no setor sucroenergético, como os biológicos fixadores de nitrogênio, os solubilizadores de fósforo, as cepas de bactérias e os fungos que controlam pragas e doenças. Outras, no entanto, são práticas antigas que vinham sendo deixadas de lado, mas que voltaram à tona e hoje acontecem de forma atualizada, em meio a novidades que incluem a utilização de compostagem e a rotação de culturas. Do lado da compostagem, temos uma utilização forte de subprodutos industriais, como torta de filtro e fuligem, que são enriquecidas com esterco, fosfatos naturais, entre outras fontes voltadas ao complemento nutricional, além de produtos biológicos que auxiliam no processo de preparo da compostagem e atuam como inoculantes.
além de caminharmos firmes para zerar as dependências de fertilizantes químicos nos próximos três anos, vamos continuar priorizando fortemente a utilização de biológicos no controle de pragas e doenças. "
Mário Dias da Costa Filho Gerente Corporativo de Desenvolvimento Agronômico da BP Bunge Bioenergia
Esta prática, além de fornecer nutrientes, também é uma excelente fonte de carbono natural, fazendo com que ele se torne fértil para aumento da microbiota do solo. Na BP Bunge Bioenergia, já aumentamos em 800% a utilização de compostagem no plantio e, para próxima safra, estamos posicionados para fechar 100% de nossas lavouras com o uso desse recurso. Além de reduzir em 7% o custo de insumos na formação das plantações, essa prática proporciona acréscimos de, aproximadamente, 15 a 20 toneladas na produtividade de cana-planta, gerando ainda efeitos residuais bem positivos nos demais cortes.
Já o conceito da rotação de cultura – que é uma outra antiga prática utilizada para cobertura e proteção dos solos, formação de vazios sanitários e aporte nutricional, principalmente com uso de leguminosas com habilidade nodular -, vem-se expandindo atualmente. Além dos benefícios já mencionados, a rotação de culturas com mix de sementes, com foco em aumento da biodiversidade do microbioma e utilização de gramíneas como Brachiaria ruziziensis, vem ganhando espaço por conta do volume de massa verde incorporada ao solo, além do aumento expressivo da quantidade de carbono na forma de ácidos orgânicos, que é um excelente insumo para proliferação de microrganismos. Os resultados são tão positivos que já projetamos um aumento de 150% das áreas em que utilizamos essa prática para o próximo ano, além do investimento em inovações, como a utilização de inoculantes nas sementes de rotação. Também estamos explorando todas as modalidades ao tema sempre com foco em aumento de biodiversidade e fornecimento de matéria orgânica. ;
Desde a sua fundação, a BP Bunge já investiu mais de R$ 300 milhões em soluções de manejo regenerativo, gerando ganhos expressivos em seu rendimento agrícola, além de reduções de custos. A agricultura regenerativa, tema em que a empresa é hoje reconhecida como referência no setor bioenergético brasileiro, consolidou-se como nossa principal estratégica agronômica, sendo um manejo facilitador para alavancarmos a produtividade de forma sustentável e com baixo custo. Dessa forma, a companhia segue investindo em aquisição de conhecimento técnico, gerado através de pesquisas internas sobre o assunto, sempre em busca de novas soluções agronômicas.
Além disso, o processo de experimentação relacionado a essa temática também tem desempenhado um papel importante no avanço da agricultura sustentável na companhia. Todas as nossas experimentações são feitas em larga escala, para que haja uma boa representatividade, uma vez que temos uma ampla estrutura que abrange 11 unidades, em cinco estados diferentes.
Além disso, os campos experimentais são sempre acompanhados por consultores e pesquisadores de universidades, visando garantir respaldo e segurança na implementação de processos. Hoje, contamos com uma equipe dedicada para este trabalho que acompanha desde a ideação até o resultado, a partir do qual definimos a possibilidade de entrada de novos procedimentos no nosso protocolo técnico.
O sucesso que estamos tendo neste processo de experimentação está relacionado a dois pontos específicos: seleção dos protocolos a serem estudados e capacidade de implementação em larga escala.
A seleção dos protocolos tem início no processo de ideação, que obrigatoriamente precisa estar diretamente ligado à nossa estratégia de negócio.
A motivação para iniciar uma experimentação não pode ser exclusivamente técnica, mas parte de uma análise criteriosa de custos, pois, afinal, nosso objetivo é garantir o maior rendimento de açúcar por hectare com o menor custo, sempre respeitando o nosso principal valor, que é a segurança das pessoas.
Após o término de todo o processo de experimentação e confirmados os ganhos, partimos para a rápida implementação, pois temos como premissa não negligenciar os resultados. Para isso, contamos uma estrutura técnica que hoje é centralizada para garantir a padronização e a velocidade do processo.
Opiniões
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Além disso, destaca-se como um dos diferenciais da empresa nossa capacidade de execução, fator sem o qual não seria possível a expansão destas práticas da forma significativa com a qual temos atuado e que nos coloca na posição de maior referência de manejo regenerativo do setor.
Mesmo com todo esse avanço dos últimos anos e dos excelentes resultados que colhemos na empresa, penso que o setor sucroenergético como um todo ainda tem questões a evoluir quando o assunto é o manejo regenerativo. O desafio de aumento de produtividade e custos, em meio à nossa longa cadeia de valor e ao alto número de variáveis que interferem no nosso negócio, continua muito grande, além da necessidade de ampliar investimentos em questões como os estudos para controle de doenças de rizoma e folha, por exemplo, que hoje ainda são baixos.
Sobre esses temas mencionados, há hoje na agricultura regenerativa muitas coisas que já estão em estágio experimental, outras em fase de construção de ideia e escopo. Na BP Bunge, além de caminharmos firmes para zerar as dependências de fertilizantes químicos nos próximos três anos, vamos continuar priorizando fortemente a utilização de biológicos no controle de pragas e doenças.
Para o manejo de pragas, a nossa ambição é fazer o controle das principais delas com 100% de produtos biológicos nos próximos cinco anos. Neste ano, especialmente, as nossas intervenções com bioinseticidas são maiores do que com produtos químicos; além disso, 100% do nosso canavial já está sendo tratado com fungicidas que são 50% químicos e 50% biológicos.
Hoje, a disponibilidade de soluções biológicas para esse controle aumentou significativamente e estamos testando várias opções com resultados preliminares que se mostram muito promissores, levando-me inclusive a projetar que, em breve, teremos quase 100% de controle biológico para fungos para folha e raiz.
Diante de tudo isso, é notório que vivemos um momento pujante na agricultura bioenergética, com inúmeras possibilidades e inovações que contribuem para que nossas operações estejam cada vez mais alinhadas com os compromissos de sustentabilidade, que hoje são prioritários em todo o mundo. Na BP Bunge Bioenergia essa é uma questão central do negócio, por isso, seguiremos firmes no avanço do manejo regenerativo, buscando novas tecnologias para melhorar cada vez mais a performance de nossas operações. n
A importância da rotação de culturas
A agricultura regenerativa, conceitualmente, busca reunir valores que tornem a agricultura mais sustentável na ótica ambiental e, consequentemente, econômica numa abordagem que visa criar sistemas agrícolas mais produtivos e resilientes, buscando a conservação dos recursos naturais para gerações futuras como premissa básica.
Um dos principais pilares para este modelo é a conservação de solo, partindo de menor revolvimento, passando por manutenção de cobertura e chegando ao aumento da biodiversidade nele presente.
A rotação de culturas tem seus benefícios amplificados como melhoria de componentes físicos, químicos e biológicos do solo com as plantas de cobertura que, também, promovem o controle da erosão através da redução do impacto da chuva, redução da enxurrada e erosões laminares e aumento da resistência do solo à desagregação.
Como método conservacionista de trabalho, o SPD (Sistema de Plantio Direto) ou PM (Preparo Mínimo) busca a redução do revolvimento de solo visando a manutenção das características químicas, físicas e biológicas do solo e, consequentemente, menor taxa de oxidação e mineralização da matéria orgânica, contribuindo para manutenção da fertilidade e consequente rentabilidade do
sistema agrícola, proporcionando a possibilidade de ativação da máxima expressão do potencial genético sobre o pilar da conservação ambiental.
Considerada um dos princípios básicos da agricultura, essa prática garante que os microrganismos presentes no solo desempenhem um papel vital na fertilidade e na qualidade, pois afeta diretamente o crescimento das plantas e a produção agrícola por meio de práticas que visam a identificar intensidades de manejo que sustentam ou melhoram o solo de forma sustentável.
A ativação do microbioma do solo por meio da rotação de culturas nos apresenta algumas constatações que devem ser consideradas:
1. Solos quimicamente semelhantes não, obrigatoriamente, são idênticos biologicamente. A aplicação de técnicas como a rotação pode torná-los distintos nessa característica.
2. Todo solo saudável é produtivo, mas nem todo solo produtivo é saudável.
3. Solo saudável armazena mais água, e o microbioma é o que garante a estabilização dos agregados.
Aliado ao contínuo aporte de biomassa oriundo das plantas de cobertura, a rotação permite a diversidade da macrofauna bem como o aumento dessa biomassa microbiana.
Esse ambiente é também cenário de muitas reações bioquímicas através da liberação de enzimas por bactérias e fungos micorrízicos arbusculares, além de seus metabólitos que ;
Todo solo saudável é produtivo, mas nem todo solo produtivo é saudável. Solo saudável armazena mais água, e o microbioma é o que garante a estabilização dos agregados."
Thiago Aristides Quintino
Gerente de Desenvolvimento Agronômico da Raízen
agricultura regenerativa
são benéficos ao solo, pois favorecem a decomposição de resíduos vegetais, fixação biológica e ciclagem de nutrientes com posterior disponibilização, na forma inorgânica, para o crescimento das plantas, além da supressão de pragas, como, por exemplo, fitonematóides patogênicos.
Especificamente na cultura da cana-de-açúcar, os benefícios são ampliados com a melhoria da qualidade do vegetal, que é um primordial aliado do setor de bioenergia e, portanto, essencial para a redução da dependência de fontes não renováveis.
A prática de plantar outra cultura na reforma dos canaviais já se mostrou muito importante, tanto no quesito de conservação do solo, quanto com a possiblidade de um retorno financeiro através do cultivo de culturas com produção de grãos ou popularmente conhecido Sistema GRANA – Grãos em Rotação com Cana. Dentre todas as vantagens, podemos citar:
• cobertura do solo, reduzindo perdas por erosão;
• aproveitamento da capacidade de produção dos solos;
• melhoria das capacidades física, químicas e biológicas;
• diminuição incidência de pragas, doenças e ervas daninhas;
• diversificação receitas;
• fixação e ciclagem de nutrientes;
• melhoria do aproveitamento e eficiência dos fertilizantes e corretivos;
• intensificação da atividade biológica do solo. No entanto, alguns cuidados também são necessários: planejamento estruturado e disciplina operacional (“timing” entre operações).
Outro forte aliado à conservação ambiental do solo é o uso do controle de nematóides que se alojam nas raízes e dificultam a absorção de água e nutrientes. A mudança ambiental da combinação entre plantas de cobertura e rotação permite uma forma eficaz e sustentável de manter afastados esses nocivos parasitas.
Como afirmado anteriormente, a rotação de culturas no setor agrícola é primordial quando se trata de garantir a conservação e a diminuição da exaustão do solo, pois a técnica existe com o objetivo de alternar diferentes culturas em uma mesma área que é utilizada ao longo dos anos.
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Dessa forma, tem-se a melhoria qualitativa do solo e do ecossistema em geral, uma vez que a matéria orgânica presente no local auxilia na melhoria da saúde do solo e promove a biodiversidade e o controle de pragas provenientes da cultura ali desenvolvida.
Além disso, o aumento na entrada de biomassa vegetal por meio de plantas de cobertura no sistema de produção incrementa os teores de matéria orgânica no solo e, consequentemente, o estoque de carbono, que, além do efeito na ciclagem de nutrientes, também contribui para a adaptação e mitigação de mudanças climáticas causadas pelo aumento da emissão de gases de efeito estufa.
A atividade microbiológica também tem sido usada como indicador da qualidade do solo, pois, geralmente, mais de 90% do fluxo de energia do solo passa por decompositores microbianos. Atualmente, com avanço tecnológico, temos as análises metagenômicas, em que é possível acessar o DNA de comunidades microbianas e inferir informações identificando quais espécies de microrganismos estão presentes no solo, suas funções e nível populacional.
Além dos benefícios diretos para a saúde do solo e a produtividade agrícola, a agricultura regenerativa é um essencial parceiro da mitigação de C02 e, portanto, na diminuição das mudanças climáticas, pois, ao promover uma atividade de enriquecimento do solo utilizado, garante também que haja o sequestro de carbono.
A agricultura regenerativa tem sido proposta como um meio alternativo de produção de alimentos com menores impactos ambientais e/ou sociais, ou mesmo positivos, já que a prática tende a aumentar a sustentabilidade na produção de alimentos, inclusive, fazendo parte de estratégias para mitigar as mudanças climáticas.
Pode-se dizer que o objetivo da agricultura regenerativa não é restaurar a ecologia e a função biológica pré-agrícola nativa, mas sim alavancar os processos ecológicos na natureza dentro de um sistema agrícola para melhorar a saúde desse mesmo sistema.
Nesse contexto, a rotação de culturas com a alternância de espécies de vegetais em áreas agrícolas destaca-se como ferramenta de melhoria da saúde do solo e constitui-se na melhor alternativa para uma agricultura sustentável e regenerativa. n
Bioinsumos para controle de insetos-praga
Temos testemunhado nos últimos anos, uma grande evolução na produção e utilização de bioinsumos no Brasil, principalmente no setor sucroalcooleiro.
Primeiramente, precisamos entender o que são os bioinsumos ou insumos biológicos. São “produtos ou processos agroindustriais desenvolvidos a partir de enzimas, extratos (de plantas ou de microrganismos), microrganismos, macrorganismos (invertebrados), metabólitos secundários e feromônios, destinados ao controle biológico de pragas, e também os ativos voltados à nutrição, os promotores de crescimento de plantas, os mitigadores de estresses bióticos e abióticos e os substitutivos de antibióticos” (Embrapa, 2023).
A utilização de bioinsumos para controle de insetos-praga de diferentes culturas tem aumentado bastante, e na cultura da cana-de-açúcar tem-se ótimos exemplos. Com a expansão de um cultivo, como o da própria cana, faz com que as barreiras naturais diminuam como a vegetação nativa, permitindo o aparecimento ou o aumento de diferentes insetos-praga.
O ideal é que sempre se faça o manejo integrado dessas pragas. E o controle biológico é um dos métodos que fazem parte desse manejo integrado. Ele consiste no controle de pragas por meio de inimigos naturais (bioinsumos), para manter os níveis de população dessas pragas em equilíbrio, sem dar prejuízos econômicos ao produtor rural.
O Programa Nacional de Bioinsumos, bem como o Conselho Estratégico do Programa Nacional de Bioinsumos, foram instituídos através do Decreto Nº 10.375, de maio de 2020. O objetivo do referido programa é, sobretudo, reduzir a dependência de insumos importados e alavancar, de forma sustentável, o uso do potencial da nossa biodiversidade, e isso é bastante positivo para o nosso país.
Os dados de mercado de bioinsumos são periodicamente coletados em grandes empresas do setor pela Croplife. Em 2023, foi divulgado um estudo (CropLife e S&P Global) projetando um valor de R$ 17 bilhões para o mercado de bioinsumos até 2030, com taxa de crescimento entre 2022 e 2023 de 23%.
A cultura da cana-de-açúcar no Brasil é uma das que mais utiliza o controle biológico, sendo que emprega esse tipo de controle em 4,5 milhões de hectares de cana, que correspondem a um pouco mais da metade da área total de cana no Brasil. Isto também se deve ao alto nível de conscientização dos dirigentes do setor sucroalcooleiro. Existem vários insetos-praga que atacam a cana-de-açúcar. Dentre eles, se destacam as cigarrinhas da raiz-da-cana Mahanarva spp, o bicudo-da-cana Sphenophorus levis e a broca-da-cana Diatraea saccharalis. Tanto as ninfas (forma jovem) quanto os adultos das cigarrinhas-da-raiz da cana sugam a seiva da planta, sendo que o adulto, além de sugar, injeta uma toxina nas folhas, causando um amarelecimento e secamento das pontas, diminuindo a produtividade da cana entre 15 e 80% por hectare, dependendo da intensidade do ataque.
as cigarrinhas-da-raiz da cana sugam a seiva da planta e injeta uma toxina nas folhas, causando um amarelecimento e secamento das pontas, diminuindo a produtividade entre 15 e 80% "
O bioinsumo mais utilizado para o controle de cigarrinhas é o produzido à base do fungo Metarhizium anisopliae. Esse fungo já vem sendo utilizado no Brasil desde a década de 1970. Com o passar do tempo, novas cepas mais eficientes foram selecionadas e produzidas em maior escala, além de uma evolução na formulação desse bioinsumo e nas técnicas de aplicação no campo.
A formulação mais antiga desse fungo é a granulada, com o fungo desenvolvido nos grãos de arroz. Outra formulação é a do tipo pó molhável, que é composta por esporos puros misturados com algum inerte para dar maior volume. E há a formulação que utiliza óleo adjuvante emulsionável, que é a chamada dispersão oleosa ou até de suspensão emulsionável ou concentrada. Esta formulação apresenta diversas vantagens como: maior eficiência para matar o inseto-praga; maior adesividade na folhagem e no corpo do inseto; maior proteção dos esporos contra a radiação ultravioleta; menor evaporação da calda aplicada; maior espalhamento na folhagem e no corpo do inseto, o que aumenta a área de contato com a praga; maior tempo de armazenamento em temperatura ambiente; e facilidade no transporte e na aplicação. É também aplicada através de pulverizadores tratorizados ou de aviões agrícolas.
O bicudo-da-cana Sphenophorus levis talvez seja a principal praga da cana, especialmente no estado de São Paulo. Ele age da seguinte forma: após acasalamento, as fêmeas perfuram com as mandíbulas os tecidos sadios do rizoma da cana, na base das brotações, abaixo do nível do solo. Inserem os ovos individualmente a até 4 mm no interior dos colmos. Isso causa perdas de 20-30 toneladas de cana por hectare/ano e redução da longevidade do canavial. O nível de dano econômico é de, no máximo, 3% de tocos atacados. Canaviais com mais de 30% de tocos atacados vão para a reforma imediatamente. O bioinsumo mais utilizado para controle dessa praga é o fungo Beauveria bassiana que pode
ser adquirido nas diferentes formulações já citadas e aplicado com o equipamento tratorizado chamado de cortador de soqueira ou com barras pulverizadoras com bicos hidráulicos em pingentes ao longo da linha de cana.
Outra praga importante na cultura da cana é a broca-da-cana, Diatraea saccharalis. Essa praga pode causar danos no cultivo de cana como interferência no crescimento de brotos e perfilhos, morte das gemas, tombamento das plantas, secamento dos ponteiros (coração morto), formação de brotações laterais e enraizamento aéreo. Os bioinsumos mais indicados para o controle da broca-da-cana são à base de vespinhas parasitas da broca ou parasitas de ovos da mariposa de Diatraea saccharalis. A vespinha Cotesia flavipes é utilizada em mais de 4 milhões de hectares de canaviais, onde parasita a fase de lagarta. Já a vespinha Trichogramma galloi é parasita de ovos da mariposa de Diatraea saccharalis. Atualmente a liberação dessas duas vespinhas no canavial é feita através de drones, que fazem uma distribuição mais eficiente desse tipo de bioinsumo no campo.
A produção de bioinsumos on farm tem crescido muito em nosso país, mas, para que seja de boa qualidade, é necessário que o produtor invista bem em equipamentos e treinamentos de pessoal e que tenha um ambiente asséptico para evitar contaminações no produto desejado. Atualmente, existem 617 bioinsumos registrados para controle de pragas, que podem ser encontrados no aplicativo do Mapa/ Embrapa chamado de Bioinsumos, disponibilizado de forma gratuita nas plataformas Play Store e Apple Store.
O que se pretende, com a maior utilização de bioinsumos, é evitarmos as aplicações de produtos químicos ou minimizá-las, proporcionando uma proteção maior do meio ambiente, menos resíduos nos alimentos e menos intoxicações de seres humanos e animais. A busca por um mundo melhor tem de ser constante em nossos pensamentos. n
bioinsumos em cana-de-açúcar Opiniões
O Brasil continuará a dar ao mundo
soluções tecnológicas
O interesse por ativos biológicos para auxiliar a planta na aquisição de nutrientes vem aumentando exponencialmente no Brasil. Microrganismos, especialmente bactérias como as fixadoras de N (diazotróficas), solubilizadoras de fosfatos, biocontroladoras de doenças e pragas, fazem parte de um conjunto de ativos mantidos em bancos de germoplasma que podem compor novos produtos para diferentes culturas, como a cana-de-açúcar.
Esses produtos chamados de bioinsumos estão hoje envolvidos em duas importantes políticas públicas: o Programa Nacional de Bioinsumos e o Plano Nacional de Fertilizantes. Ambas convergem para ampliação do uso de biológicos na agricultura.
Pesquisas visando reduzir a dependência de fertilizantes sintéticos remontam décadas atrás. Exemplo marcante é a cultura da soja, em que bactérias diazotróficas substituem completamente o uso de nitrogênio (N) fertilizante, mantendo elevados rendimentos de grãos. Entre os três principais macronutrientes utilizados no país, o nitrogênio corresponde a 29% do total, seguido do potássio (38%) e do fósforo (33%).
Se a soja fosse dependente de N sintético, seria necessário o dobro de fertilizante para manter o atual rendimento dessa cultura, em que esse elemento não é aplicado e sim um inoculante capaz de suprir 100% da demanda de N.
Independentemente da planta hospedeira, as bactérias diazotróficas possuem o complexo enzimático denominado nitrogenase, crucial na redução do N2 (molécula estável que compõe 78% da atmosfera) em amônia. No entanto, enquanto as leguminosas, como a soja, formam nódulos para a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), as gramíneas, como a cana-de-açúcar, têm um padrão distinto. Sem nódulos, a eficiência da “fábrica” de fixar nitrogênio é reduzida.
Para que a FBN opere eficientemente, é essencial proteger a nitrogenase do oxigênio, fator limitante, o que parece paradoxal, já que o ar que respiramos contém tanto N2 quanto O2. Os nódulos presentes nas leguminosas dão essa proteção, aumentando a eficiência da nitrogenase. Nas gramíneas, a FBN fica reduzida pela maior exposição ao O2. Além disso, a quebra da ligação do N2 para formar amônia requer alto gasto energético, favorecendo a utilização preferencial de nitrato e amônio do solo, se disponíveis. É crucial lembrar aos agricultores que, embora a cana possa aproveitar boa parte do nitrogênio fornecido por microrganismos, a FBN não satisfaz completamente as necessidades da planta, como na soja.
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Estratégias como rotação com leguminosas na renovação do canavial e o uso de fontes de N de liberação lenta podem aumentar a eficiência do uso de nitrogênio nesta cultura. "
Em 2019, os cultivos brasileiros receberam o primeiro produto contendo uma estirpe de bactéria diazotrófica para a cana. A ausência de nódulos radiculares exigiu um longo período de pesquisa para compreender como as bactérias poderiam contribuir para reduzir o uso de N-fertilizante. Para os agricultores, principal alvo desta pesquisa, quais são os benefícios diretos?
Desde a década de 1950, quando a primeira bactéria diazotrófica foi isolada das raízes de cana-de-açúcar pela pesquisadora Johanna Döbereiner no km 47 em Seropédica (RJ), houve avanços significativos no entendimento da microbiota radicular e na utilização desse processo biológico para aumentar a eficiência do uso de N.
Atualmente, a tecnologia permite o uso de inoculantes com populações selecionadas de bactérias, visando melhorar a eficiência do N em diversos cultivos, incluindo a cana-de-açúcar.
Vamos falar da aplicação de bactérias diazotróficas na cana-planta usando um fertilizante enriquecido com átomos de 15N (10% átomos) para rastreamento do N absorvido pelas plantas. Foram realizados dois experimentos em Quatá-SP, plantados em latossolo, utilizando o inoculante contendo bactérias diazotróficas, e aplicada uma dose de 40 kg/ha de N na cana-planta. Foram avaliadas as cultivares RB966928 (precoce) e RB92579 (média-tardia). O fertilizante foi aplicado aos 3 meses após plantio, e amostras de folhas foram coletadas e avaliadas aos 10 meses, quanto à eficiência do uso do N (EUF-%). Como observado por diferentes estudos, a EUN foi inferior a 50% nas duas cultivares, porém, na cultivar RB92579, a EUN foi maior nas plantas inoculadas nos dois locais de plantio, mostrando contribuição das bactérias para melhor aproveitamento do fertilizante.
De fato, estudos vêm revelando que menos de 40% do N fertilizante é aproveitado pela cana-de-açúcar. O restante é fornecido via matéria orgânica do solo mineralizada. Uma parte do N aplicado é imobilizada na microbiota associada à matéria orgânica do solo, liberando-se ao longo do ciclo. Estratégias como rotação com leguminosas na renovação do canavial e o uso de fontes de N de liberação lenta podem aumentar a eficiência do uso de nitrogênio nesta cultura.
Sendo a cana-de-açúcar uma planta que armazena muito carbono nos colmos e que exsuda parte deste carbono fixado pelas raízes, é de se esperar que o pool de microrganismos associados se beneficie em diversos processos biológicos relacionados ao crescimento e aquisição de N, incluindo a FBN. Neste processo, as estimativas feitas com cultivares nacionais mostraram que até 40 kg/ha de N podem vir de uma associação benéfica com bactérias diazotróficas.
Uma outra importante contribuição das bactérias diazotróficas em diversos cultivos é a produção de reguladores de crescimento que são exsudados pelas bactérias. Esses estimulam desenvolvimento de raízes que absorvem mais água e nutrientes e podem produzir mais substâncias como ácidos orgânicos que melhoram a liberação de fósforo do solo.
No mercado nacional, diversos produtos contêm espécies de bactérias diazotróficas ou não, impulsionando o crescimento das plantas, inclusive a cana-de-açúcar.
Esses produtos apresentam microrganismos não patogênicos para plantas, humanos ou animais, com pureza garantida e concentrações bacterianas elevadas. Geralmente disponíveis em formas líquidas ou com polímeros miscíveis em água, podem ser aplicados por pulverização em conjunto com outras operações.
Temos no Brasil uma legislação que permitiu o desenvolvimento de pesquisas, indústria e mercado de bioinsumos, em sua grande maioria para a redução do uso do N-fertilizante.
Estes produtos reduzem os custos de produção e a emissão de GEEs – Gases de Efeito Estufa. Melhorias no arcabouço legal são bem-vindas, mas é preciso que as discussões dos projetos de lei atentem para os bons frutos colhidos hoje e evitem retrocessos.
Aliado a um programa de melhoramento de cana-de-açúcar, com a constante seleção de cultivares de maior rendimento, o Brasil continuará a dar ao mundo soluções tecnológicas que o tornaram o maior produtor mundial de açúcar de cana e de energia verde e agora lança mais um subproduto, o biogás. Um cenário de eficiência energética e renda ao produtor rural. n
bioinsumos em cana-de-açúcar
As contribuições dos bioinsumos
para a sustentabilidade
O setor bioenergético, assim como o agronegócio brasileiro, viveu uma verdadeira transformação nos últimos anos. E a agricultura regenerativa está no centro deste processo, uma vez que esta prática concilia a possibilidade de imprimir alta performance às operações agrícolas ao mesmo tempo em que apresenta uma abordagem promissora para o enfrentamento dos desafios de sustentabilidade que hoje preocupam e mobilizam o mundo inteiro.
As práticas do manejo regenerativo são utilizadas com o objetivo de ampliar a produtividade a partir de processos que, de forma concomitante, restabelecem os sistemas naturais, favorecendo assim a recuperação da saúde e resiliência do solo e aumentando a biodiversidade, assim como a preservação do meio ambiente.
Na BP Bunge Bioenergia trabalhamos em torno deste tema desde a fundação da empresa, em 2019, tratando como prioridade o desenvolvimento e aplicação de soluções e boas práticas de gestão do campo voltadas à qualidade e à produtividade dos canaviais, com uma abordagem alinhada aos compromissos de sustentabilidade que compõem nossa agenda ESG.
Com isso, em quatro anos, investimos mais de R$ 300 milhões em iniciativas relacionadas ao assunto, com perspectivas de evolução para os próximos anos, e nos tornamos referência em agricultura regenerativa em nosso setor. Os ganhos já contabilizados são inúmeros, incluindo redução nas emissões de carbono, menor dependência de importação de insumos agrícolas, além do aumento de produtividade, que deve avançar 20% até 2025.
Neste universo, uma questão que vem se destacando de forma especial, no mercado de um modo geral e nas nossas estratégias em particular, é a utilização dos bioinsumos. Estes produtos baseados em componentes biológicos, incluindo microrganismos e extratos vegetais, ajudam a potencializar os ganhos ambientais nas operações agrícolas com geração de resultados significativos, como o combate de pragas e doenças, avanços em termos de nutrição, fertilidade e preservação da biodiversidade do solo, trazendo ainda impactos positivos na redução da emissão de carbono, entre outros benefícios.
Além do avanço dos bioinsumos utilizados na nutrição, temos feito alterações relevantes na utilização de bioprotetores para controle de pragas e doenças, prática com a qual alcançamos nesta safra a redução de aproximadamente 40% do uso de inseticidas químicos. Para o controle de doenças fúngicas, estamos caminhando para 100% de utilização de biofungicidas no próximo ano.
o registro de bioinsumos no MAPA voltados ao controle de pragas e doenças, passou de 107 em 2013 para 617 em 2024. "
Rogério Augusto Bremm Soares
Diretor Agrícola da BP Bunge Bioenergia
Dados de mercado mostram que a indústria de bioinsumos vem alcançando um crescimento importante no país. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, em 2013, o registro de bioinsumos voltados ao controle de pragas e doenças no órgão era de 107 produtos, contra 617 produtos atualmente. Já a CropLife Brasil, entidade que representa esse segmento, indica que as vendas de produtos biológicos cresceram 30% em 2023, com expectativa de fechar este ano com avanço de 35%.
Os indicadores da BP Bunge mostram que a empresa se manteve na vanguarda deste movimento de mercado nos últimos anos, tendo alcançado uma evolução representativa no uso de tais produtos, que passou de quatro variedades em 2019, para perspectivas de utilização de 14 diferentes tipos na safra 2023/24.
Como resultado, a ampliação do uso de bioinsumos a partir de fungos, bactérias e de matéria orgânica tem-nos levado a avançar no objetivo de substituir os fertilizantes minerais por alternativas biológicas.
No quesito fertilizantes nitrogenados, na safra 2022/23, por exemplo, a substituição já aconteceu em 100% da área de plantio a partir do uso da bactéria Nitrospirillum amazonense , uma solução desenvolvida pela Embrapa cuja bactéria atua na fixação de nitrogênio, promovendo o crescimento e desenvolvimento da planta e resultando na ampliação da produtividade nas lavouras.
Com essa estratégia, a empresa registrou um ganho de cerca de sete toneladas de açúcar por hectare. Já para as áreas de soqueira, a companhia utiliza em 100% de sua extensão a bactéria Azospirillum brasilense, que, além de aumentar a produtividade entre 5% e 10%, já gerou redução de 50% das doses de nitrogênio.
No que se refere aos fertilizantes fosfatados, as bactérias que auxiliam na solubilização do fósforo, como Bacillus sp. e Pseudomonas sp, têm sido, desde a safra 2022/23, as principais responsáveis pela redução de 15% da dose do aporte de fosfato aplicado em sulco de plantio em 100% das áreas plantadas.
Evolução dos bioinsumos
21/22
• Cotesia
20/21
• Cotesia
• Bionematicida
• Metarhiziium
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• Cotesia
• Bionematicida
• Metarhiziium
• Beauveria
• Beauveria
• Nep's
• Bionematicida
• Metarhiziium
• Beauveria
• Nep's
• Feromônio Migdolus
• Nitrospirillum
• Azospirillum
22/23
• Cotesia
• Bionematicida
• Metarhizium
• Beauveria
• Nep's Feromônio Migdolus
• Nitrospirillim
• Azospirilllum
• Trichogramma
• Trichoderma
• lsaria
• Tetrastichus
• Solubilizador de "P"
23/24
• Cotesia
• Bionematicida
• Metarhizium
• Beauveria
• Nep's Feromônio Migdolus
• Nitrospirillim
• Azospirillum
• Trichogramma
• Trichoderma
• lsaria
• Tetrastichus
• Solubilizador de "P" (5 grupos de Bacillus e Pseudomonas)
• Bacillus aryabhattai
• Expansão das operações em soqueira ;
bioinsumos em cana-se-açúcar
Com isso, junto com a utilização da compostagem e de fosfatos naturais de origem de rochas, reduzimos em 70% o uso de MAP em toda produção.
Além disso, nossa equipe trabalha em diferentes linhas de pesquisa a campo buscando alternativas que sejam ainda mais eficientes e que, combinadas à utilização da vinhaça, tragam mais opções para otimizar a aplicação de fertilizantes.
Essa substituição dos fertilizantes minerais por biológicos é um processo que gera excelentes resultados, uma vez que eles têm um alto impacto sobre a pegada de carbono. Sendo assim, deixar de usar os produtos de origem mineral, além de reduzir o custo, contribui com o cumprimento dos objetivos de descarbonização. Somada a outras iniciativas, essa prática favoreceu, por exemplo, que alcançássemos uma redução de 34% nas emissões do escopo 1 na última safra, colaborando com nossas metas de combate a mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.
Vale mencionar ainda que estamos implementando na BP Bunge processos voltados à estruturação da empresa para a produção própria desses bioinsumos em nossas 11 unidades instaladas em cinco estados brasileiros.
Nesse sentido, estamos evoluindo na construção de pátios para produção de fertilizantes organominerais em todas as usinas, nos quais são concentrados subprodutos provenientes do processo industrial de processamento da cana, como a torta de filtro e as cinzas, e os enriquecemos com outras matérias orgânicas, como esterco animal e fosfatos naturais reativos. Com este insumo, substituímos os fertilizantes minerais comprados externamente, gerando ganhos financeiros, de qualidade e produtividade.
Por fim, é importante dizer que acreditamos na companhia que a agricultura regenerativa precisa acontecer em grande escala e, como líderes no uso de insumos biológicos em nosso setor, buscamos desempenhar mais um papel que consideramos fundamental, que é o de compartilhar os conhecimentos gerados e as tecnologias que utilizamos em nossa cadeia de produção, incentivando nossos fornecedores de matéria-prima a adotar cada vez mais o manejo biológico e regenerativo no cultivo de cana-de-açúcar, contribuindo assim para que as operações do nosso setor sejam cada vez mais eficientes e sustentáveis. n
O setor agropecuário precisa de
visibilidade e atenção
O agronegócio está sendo redescoberto pela sociedade. É interessante notar que um setor que emprega, apenas em São Paulo, mais de 700 mil pessoas diretamente, ainda precise trabalhar a visibilidade no país. Ainda são necessárias campanhas e ações que mostrem o quanto a agropecuária é importante para a segurança alimentar da nossa população, combatendo históricas distorções que ainda hoje se encontram em livros didáticos. O setor, em que a tecnologia transformou o Brasil em uma referência de produção para o mundo e que responde por parte significativa do Produto Interno Bruto (PIB) – só São Paulo, 40% – e do superávit da balança comercial brasileira, ainda é estudado como retrógrado, atrasado.
Sabemos que a agropecuária brasileira é uma das mais fortes do mundo, com reconhecimento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). As pesquisas, os avanços tecnológicos e a instrumentalização dos produtores, através de cursos e consultorias, transformaram o Brasil em um grande celeiro. Esses avanços deixaram longe a insegurança alimentar que afetava o país na década de 1950 e trouxeram uma diversificação de culturas. Os estudos ajudaram a identificar regiões mais favoráveis a determinados cultivos e as melhores técnicas para cada produção. Hoje, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é maior por conta do setor agropecuário.
A pujança do setor, entretanto, nem sempre se traduz em resposta àqueles que produzem. Faltam propostas de logística que envolvem investimentos mais robustos e um programa de Estado, de longo prazo, que possa atender às necessidades do dia a dia das cadeias produtivas. Um exemplo prático é a abertura à importação de leite em pó do Uruguai e da Argentina, que deixou a cadeia produtiva do leite em situação crítica. Os produtores já vinham sofrendo com a redução do preço pago pelo litro do leite, ao mesmo tempo que amargavam o aumento dos custos de produção.
O agronegócio está sendo redescoberto pela sociedade (...) um setor que emprega, apenas em São Paulo, mais de 700 mil pessoas diretamente, ainda precisa trabalhar a visibilidade no país. "
Tirso de Salles Meirelles
Presidente do sistema Faesp/Senar-SP
Outro exemplo: as quebras de safra, por questões climáticas, que levam os produtores a dependerem de recursos para a manutenção na terra, sem uma ampla cobertura de seguro. Muitos dos recursos anunciados demoram para chegar à ponta. Meses que podem significar o não pagamento de empréstimos tomados para melhorar a qualidade do plantio ou a modernização da cultura. Essa insegurança do produtor rural, que vive sempre na expectativa do Plano Safra, precisa ter fim.
Acredito que, pela importância do setor, esse é um momento em que precisamos unir forças em prol de algo novo. Dentro dessa esteira da redescoberta do agro, torna-se fundamental trabalhar para a construção de um Plano Nacional que atenda aos agropecuaristas não apenas de forma pontual, mas com metas, programas e desembolsos. A Lei Agrícola dos Estados Unidos, Farm Bill, é votada no Congresso a cada cinco anos e envolve programas de seguro e financiamento para produtores, além de medidas envolvendo investimentos em nutrição e outros programas governamentais voltados a famílias de baixa renda.
Precisamos aqui, no Brasil, de políticas e ações que fortaleçam a infraestrutura e logística, com destaque para transporte e o armazenamento; investimento em pesquisa, tecnologia e inovação; defesa agropecuária; conectividade no campo; disponibilidade de instrumentos financeiros (crédito) e de gestão de riscos (seguro); maior acesso a mercados com a prospecção de novos destinos e consumidores; segurança no campo com combate às invasões de propriedades particulares e com concessão de títulos de posse aos produtores; sustentabilidade com equilíbrio entre a produção e a conservação dos biomas; diversificação e integração da produção, além de agregação de valor; e a melhoria do âmbito de negócios. Hoje, o ambiente ainda é burocrático, não privilegia a iniciativa privada nem oferece legislações trabalhista, tributária e ambiental simples e objetivas.
Mas a construção desse Plano será a muitas mãos. Esse clamor demanda o encontro de confederações, federações, sindicatos, cooperativas, setores comercial e industrial, serviços e um terreno fértil para o debate e a formulação de políticas que consigam expandir os horizontes do produtor rural. É necessário que ele possa programar os investimentos na melhoria de sua performance, principalmente desenvolvendo os arranjos produtivos para
tornar as pequenas e médias agroindústrias sustentáveis, adquirir máquinas, quando for o caso, e apostar na tecnologia para aumentar a produtividade. Isso, entretanto, só acontecerá se ele perceber que há segurança para mudar o futuro.
Trabalhamos para que o setor se modernize com as ferramentas disponíveis. No estado de São Paulo, temos a percepção do governador para as urgências, e, sempre que levamos uma demanda do campo, representado pelos 237 sindicatos rurais, há uma atenção especial. Fomos chamados a participar do Grupo de Trabalho para a liberação de créditos acumulados do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para o setor. O resultado foi, na última semana, o anúncio de R$ 600 milhões para os produtores de proteína animal e produção de máquinas e equipamentos agrícolas. E, pela promessa do governador Tarcísio de Freitas, novos recursos chegarão para estimular o investimento em infraestrutura e logística, bem como segurança sanitária.
E, para contribuir com a seguridade que o produtor merece, nós, do sistema Faesp, Senar-SP e Sindicatos Rurais, estamos trabalhando no levantamento de dados diretamente com os proprietários rurais em suas propriedades.
Queremos, em breve, ter uma real radiografia do setor paulista e, na posse dessa informação, ajudar na formulação de ferramentas que estimulem o desenvolvimento das culturas e da agropecuária de São Paulo e na orientação de pesquisas, fortalecendo a capacitação técnica, a eficiência e a pujança do agro, inclusive nacional. Há dois projetos em construção que destaco: o centro de excelência da cana-de-açúcar, em Ribeirão Preto, e o centro de tecnologia, big data e inteligência artificial, em São Roque, que serão oferecidos para aproveitamento de todos os produtores em âmbito nacional.
Sobre a campanha para tornar o agronegócio um patrimônio do Brasil, tão conhecido como o futebol, vejo como um passo importante. Não apenas para derrubar aquelas distorções históricas, mas também para mostrar que o setor tem rostos, histórias, conquistas, prêmios. Não somos reconhecidos mundialmente pela nossa capacidade de produção e pela qualidade de nossos produtos por casuísmo. A história de milhões de famílias mistura-se com a da construção de um país autossuficiente e a de brasileiros e imigrantes, que fizeram daqui a sua pátria e com seu trabalho contribuem diariamente para o sucesso do campo. n
A importância do Brasil para a
transição energética global
Um evento mundial de relevo, como a COP, é sempre um acontecimento importante. Afinal, a Conferência ajuda a traçar as linhas mestras balizadoras daquilo que a sociedade deverá buscar em termos de equilíbrio socioambiental. Nesse sentido, queremos valorizar cada vez mais o protagonismo dos biocombustíveis na agenda climática e o potencial de liderança do Brasil em palcos internacionais desse porte.
O grande desafio global, que já está dado, é a necessidade de impedir que o aumento da temperatura média mundial ultrapasse, nas próximas décadas, o patamar de 1,5 grau Celsius em relação aos níveis pré-Revolução Industrial. É justamente por isso que as maiores potências e as principais empresas do mundo estão estabelecendo metas de redução nas suas emissões de carbono. O que fica cada vez mais claro é que o uso dos biocombustíveis, em larga escala, terá papel primordial na transição da matriz energética global, como forma de reduzir a dependência e a utilização dos combustíveis fósseis.
O etanol é responsável por uma emissão de CO2 de 107,2 g/km rodado, enquanto o carro 100% elétrico europeu emite 126 gramas de CO2 por km rodado. "
Durante a COP 28, o Brasil deu mostras concretas de que pode ser um grande protagonista nesse movimento, em função das suas inegáveis potencialidades na produção de biocombustíveis. Os representantes do poder público nacional, em diferentes oportunidades, deixaram claro que a disposição do país é pavimentar essa rota, e os representantes empresariais também trataram de demonstrar a solidez dos grandes produtores brasileiros, capazes de entregar qualidade, competitividade e volume na medida de que o planeta precisa.
Há poucos países no mundo com tamanha expertise e programas tão sólidos para fomentar esse tipo de produção, que, no caso do Brasil, tem no etanol de cana-de-açúcar um de seus principais protagonistas. Ainda em 1931, o país saiu na frente ao implementar a obrigatoriedade do uso de 5% de etanol na gasolina, passando a 25% já em 1975, há quase cinquenta anos. E, desde 2003, passou a adotar o conceito dos automóveis flex fuel, com utilização possível de etanol e gasolina.
Foram ações como essa que ajudaram a consolidar uma estrutura de produção de biocombustíveis que é praticamente única no mundo, em qualidade e escala de fornecimento para diferentes mercados e locais do planeta, e que será uma plataforma poderosa para a revolução energética que o planeta busca.
Bruno Serapião CEO da AtvosEssa mudança não será tarefa trivial. Para se tornar uma solução efetiva, a adoção da bioenergia deve respeitar uma tríade: ser sustentável, confiável e economicamente viável. Reunir essas três qualidades não é simples, mas a boa notícia é que o Brasil já possui boa parte das soluções.
A saída para a descarbonização dos transportes precisa ser sustentável do início ao fim, e, nesse aspecto, o etanol se destaca. Estudo feito pela Stellantis e divulgado em março de 2023 mostrou que automóveis movidos a etanol brasileiro são mais benéficos ao meio ambiente do que modelos elétricos, que usam fontes de energia disponíveis na Europa, quando levado em conta todo o ciclo de geração da energia, no conceito conhecido como "do poço à roda".
O etanol é responsável por uma emissão de CO2 de 107,2 g/km rodado, enquanto o carro 100% elétrico europeu emite 126 gramas de CO2 a cada quilometro percorrido.
A solução brasileira também é confiável, com a adoção de programas que possibilitaram o fortalecimento da mais robusta frota de automóveis flex fuel do mundo, com utilização em escala e qualidade comprovadas e com o etanol se apresentando como uma solução economicamente viável.
Criar uma infraestrutura capaz de garantir o abastecimento de um grande contingente de carros elétricos envolveria uma aplicação gigantesca de recursos, dificilmente aplicável em países do hemisfério Sul global. Essas nações, porém, já possuem uma rede completa de postos de combustíveis, cuja adaptação para o biocombustível seria muito mais simples e economicamente factível.
Outra demanda urgente é desenhar uma proposta possível para a descarbonização dos transportes aéreos. Para tanto, a implementação do SAF (combustível de aviação sustentável) deve ser uma prioridade. A Europa impôs recentemente a exigência de que as empresas de energia e companhias aéreas atinjam metas de 6% de uso do SAF até 2030, aumentando para 70% até 2050. Ou seja, todas as soluções possíveis para essa produção devem ser incentivadas, e a alternativa baseada em etanol de cana-de-açúcar, que já se mostrou uma valorosa possibilidade, deve ser acelerada, a partir de um marco regulatório nacional impulsionador.
Para garantir a tração necessária para a descarbonização dos transportes, também se faz necessária a consolidação do modelo Book & Claim, que permite que uma empresa se
aproprie dos créditos de carbono gerados por outra organização que já utiliza a energia renovável, por meio de pagamento. É uma solução econômica para incentivar a descarbonização, e há um grande mercado para empresas nacionais aderirem a esse formato, uma vez que a matriz energética brasileira tem posição bastante adiantada em relação ao mundo.
Nesse sentido, o Brasil também foi pioneiro com a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). Considerada como o maior programa de descarbonização do planeta, a iniciativa já evitou a emissão de mais de 100 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera e premia a produção eficiente de etanol com a geração de Créditos de Descarbonização, os CBios.
Esses papéis são comercializados na B3 e são um passo adiante na consolidação da matriz energética sustentável brasileira. Somente para este ano, a estimativa do governo é emitir 38,78 milhões de títulos.
Ainda no aspecto da sustentabilidade, mas com foco no âmbito social, não podemos deixar de destacar a inclusão social que a cadeia da cana-de-açúcar proporciona sobretudo no interior do Brasil. Ao se estabelecerem em pequenas cidades, as empresas de bioenergia geram riquezas e movimentação econômica em regiões que muitas vezes carecem de investimentos.
Além de gerarem emprego e renda para as comunidades do entorno, pequenos negócios e comércios se fortalecem e ajudam a girar a economia local, contribuindo para evitar a migração dessa população para grandes centros urbanos em busca de melhores condições de vida.
O protagonismo que o Brasil vem conquistando tende a se solidificar até novembro de 2025, quando está prevista a realização da COP 30, em Belém (PA), que também será primeira capital da Amazônia a sediar essa tão relevante conferência da ONU.
Será a oportunidade perfeita para que governo, sociedade civil e empresas se engajem para transformar políticas públicas em ações, demonstrando que o país tem importância central para a segurança energética global, por meio da utilização da bioenergia. Como CEO da Atvos, uma das principais produtoras de biocombustíveis da América Latina, atuarei de forma cada vez mais presente em eventos globais para destacar a evolução da descarbonização dos transportes e a importância da matriz energética brasileira para a mitigação do aquecimento global. n
Segundo os registros do Google Analytics, a imensa leitores da Revista Opiniões depois que passamos
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Fonte: Google Analytics
Bisar ou não: decisões a serem tomadas
Este artigo explora a complexa relação da produção de cana-de-açúcar e a necessidade de bisar a matéria-prima. Oferecendo insights valiosos para produtores e pesquisadores interessados em compreender os desafios da produção de cana bisada, visa-se explicações sobre o tema de sanidade e as consequências na indústria. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e tem uma história de produção crescente ao longo dos últimos anos, impulsionada principalmente pela demanda interna por etanol e açúcar, bem como pelo aumento das exportações. Dentre as diversas estratégias necessárias para produção canavieira, uma que vem tomando a atenção de produção é o processo de bisar cana-de-açúcar.
Essa atenção vem do fato que, em 2023, por conta do avanço do manejo e alto volume de chuvas, a produtividade das usinas e fornecedores foi, em grande maioria, superior ao histórico, o que gerou um processo de planejar o processo de bisar cana-de-açúcar. Um ponto de atenção é que o último grande momento, em volume de toneladas pelas usinas de canaviais bisados foi em 2009, no qual foram observados volumes de mais de 2.000 mm de precipitação na safra por exemplo em Frutal/MG (historicamente se tem um volume de aproximadamente 1.150 mm).
Assim, este artigo está organizado em descrever de fato o que seria uma cana bisada e quando é mais comumente utilizada essa estratégia. Posteriormente, explanados o como e as consequências agronômicas de se realizar esse processo e como tratá-lo. Por fim, os reflexos dessa decisão em questão de produção industrial e qualidade tecnológica.
Fator crítico: bisada “pane seca” vs bisada estratégica: A cana bisada tem ganhado destaque devido aos acontecimentos que culminaram em um grande volume dessa categoria de canavial na safra 2023/24. Devido a uma safra considerada recorde por diversas processadoras, algumas não obtiveram a capacidade técnica ou operacional de moer toda a matéria-prima durante o ano safra, sendo forçadas a optar pela estratégia de bisar. Existem usinas que utilizam bem dessa técnica para ganhar produtividade em canaviais menos produtivos, porém, essa não é uma prática muito utilizada em termos gerais por conta da complexidade em torná-la rentável.
De maneira simplificada, um canavial bisado é aquele que, por estratégias ou necessidades da usina, atravessa uma safra sem a colheita realizada, sendo então processado pela indústria em um período maior de campo, porém fora do convencional da planta. Esse evento acarreta uma série de impactos, como o maior período de maturação da cana-de-açúcar, o qual designa em maior teor de fibra, a criação de um ambiente propício à proliferação de fungos, alterações na composição químico-tecnológica do caldo de cana, como elevadas concentrações de compostos fenólicos e amido, entre outras. No entanto, pontos positivos também são observados, sendo um deles um aumento de produtividade em planos bem traçados e executados. ;
O manejo correto pode garantir uma qualidade positiva para a colheita no ano seguinte e assegurar uma corrida produtiva com caminhos limpos e claros para o grupo e produtores. "
Michel da Silva Fernandes Diretor da MS Fernandes Consultoria AgrícolaCanaviais bisados de maneira consciente e com parâmetros para realização são chamados de bisadas estratégicas. Essas são as lavouras nas quais itens são avaliados e calculados para que os canaviais se tornem os mais rentáveis possíveis. De maneira técnica, um canavial pode chegar a ser mais produtivo em níveis de 30% em TCH (tonelada de cana por hectare) se comparado com uma colheita no ano safra atual versus ano safra seguinte, quando todos os pontos são bem avaliados. Assim, considerar esses fatores é realmente importante para se tomar uma decisão que culmine no sucesso do grupo.
De maneira oposta, quando as estratégias não são bem claras e a decisão é tomada de maneira compulsiva, chamamos de bisada pane seca. Essas são lavouras nas quais a decisão foi tomada já tarde, sem a total avaliação dos fatores condicionantes do sucesso produtivo e que culminam em diversos problemas para a safra seguinte. Um canavial bisado sem tomar as devidas precauções pode apresentar uma perda em TAH (tonelada de açúcar por hectare) na casa de 60%, trazendo prejuízos econômicos, agrícola e industriais, fazendo com que mais produtos sejam necessários para o processo industrial.
Todas as consequências devem ser avaliadas quando se tornar necessária a condição de bisar. Assim, para se bisar uma lavoura, deve-se realizar uma classificação bem dimensionada considerando diversos aspectos. No que tange à organização agronômica da produção sucroenergética, os pontos cruciais para classificar o canavial a ser bisado são:
• Produtividade: Para se bisar um canavial, o melhor seria aquele de menor produtividade na safra atual e com menor porte. Esses pontos garantem um não tombamento, entre outros.
• Aplicação de tecnologias: Outro fator é já manejar o canavial a ser bisado com produtos que tratem as grandes dificuldades de canas bisadas, doenças e pragas.
• Maturação e Qualidade do canavial: De fato, avaliar como está o canavial já nos aspectos tecnológicos pode garantir uma maior qualidade no momento de colheita posterior.
Tomada a decisão de bisar, temos então possíveis consequências sobre o canavial. O maior período de cultivo pode ter reflexos negativos sobre a qualidade da matéria-prima, devido à maior exposição a pragas, doenças e intempéries climáticas, e a condição de criação de microclimas propícios ao desenvolvimento de patógenos.
Esses pontos podem causar a depreciação da matéria-prima, favorecendo a podridão do material e a elevação do custo industrial para produção dos produtos finais.
Outro ponto é o fato de o alongamento do período de campo propiciar a presença de tecidos mais velhos e fibrosos. A presença de fibra na cana bisada pode impactar significativamente a produção de açúcar. A fibra extra pode dificultar a extração do suco de cana durante o processo de moagem, afetando a eficiência e o rendimento da produção de açúcar.
No contexto da produção de etanol, a fibra na cana bisada também desempenha um papel crucial. A maior quantidade de fibra pode influenciar a eficiência da fermentação, afetando a taxa de conversão de açúcares em etanol. Além de consequências industriais, a estratégia de bisar motiva a atenção agrícola para diversos pontos.
Assim, para os consultores da MS Fernandes, é necessário compreender a necessidade principalmente de colheitas de canaviais bisados. Para isso, uma classificação precisa das lavouras bisadas deve ser feita, no qual os itens primordiais para avaliar são, em ordem de importância:
1. Florescimento,
2. Tombamento com favorecimento a pragas e doenças,
3. Variedades,
4. Pragas e doenças,
5. Daninhas (C4), e
6. Risco de incêndio ou restrição.
Ou seja, em nível de importância, a colheita deve seguir tais fatores para diminuir os prejuízos desse processo. Fechando então essa passagem, temos que canaviais bisados merecem uma atenção especial antes do fato e posterior à decisão.
O manejo correto pode garantir uma qualidade positiva para a colheita no ano seguinte e assegurar uma corrida produtiva com caminhos limpos e claros para o grupo e produtores. n
Desafios agronômicos
Sempre e em qualquer cultura, o produtor rural busca, através de conhecimento e técnicas aprimoradas, conseguir máxima produtividade dentro dos limites do potencial genético da planta.
O potencial de produção de um canavial depende das condições edafoclimáticas, da escolha da variedade de cana conforme características do local, da correção do solo de acordo com as análises, do uso de fertilizantes macro e micro conforme necessidade da cultura no período, do uso de defensivos para prevenção ou controle de pragas e doenças, dos herbicidas para manter a lavoura no “limpo” ou eliminação de ervas invasoras, também do uso de agentes biológicos e outros insumos direcionados conforme necessidades para manter a lavoura dentro do padrão economicamente viável.
O conhecimento e a interpretação das condições edafoclimáticas direcionam, entre muitos itens, as técnicas agronômicas que serão aplicadas no ciclo da cultura da cana.
O conhecimento e a interpretação das condições edafoclimáticas direcionam, entre muitos itens, as técnicas agronômicas que serão aplicadas no ciclo da cultura da cana. "
Dentro deste contexto está o planejamento a curto e médio prazos e, também, a formação técnica dos profissionais para aplicação correta das tecnologias.
Nesta diversidade de itens que compõem os desafios para melhoria de produtividade e longevidade, irei discorrer sobre a atividade ainda não mencionada que é a mecanização agrícola.
Sem dúvida nenhuma, a mecanização trouxe um avanço decisivo à agricultura e à produção de cana-de-açúcar. Conseguimos através dela aumentar o rendimento, produtividade e qualidade no amplo sentido da palavra. Viabilizamos questões trabalhistas e ambientais e demos “conforto” à mão de obra operacional.
Vale lembrar que mais de 70% dos custos de produção de cana-de-açúcar estão ligados à mecanização e manutenção dos equipamentos. ;
Luiz Carlos Dalben Presidente da Agrícola Rio ClaroNo avanço alcançado pela mecanização nas atividades operacionais da condução e formação da lavoura, desde o preparo de solo até a colheita, temos de destacar que o uso correto desses equipamentos proporciona uma melhor produtividade e longevidade da lavoura.
Atualmente, as grandes preocupações nas operações mecanizadas estão direcionadas também à adequação técnica dos tratores, buscando equilíbrio em potência, lastreamento dos rodados, modelos, compatibilização com implementos e equipamentos agrícolas, ajustes das bitolas em concordância com espaçamentos de plantio para evitar ou minimizar o efeito do pisoteio e compactação dos solos e socas sem prejuízos no desenvolvimento radicular e na produtividade. Um grande cuidado devemos ter na regulagem das doses dos insumos, na observância da condição climática para aplicação visando o máximo de aproveitamento e no direcionamento desses no “alvo”.
A cultura da cana, desde o plantio até sua finalização, tem um ciclo médio de 6 anos, com colheitas anuais. Nesse período com colheita, os equipamentos de tratos culturais trafegam aproximadamente 20 a 23 vezes na lavoura antes de sua renovação. Isso mostra o quanto temos que usar das tecnologias disponíveis e capacitação de pessoas para que o tráfego seja direcionado e o nível de compactação seja minimizado para melhor desenvolvimento de raízes e conservação da lavoura.
O grande desafio proposto pelo tema desta edição passa pela mecanização como solução tecnológica para melhorar todo sistema produtivo do canavial. A mecanização, em algumas de suas atividades, passou também a ser mais uma vilã do sistema quando não entregou o trabalho vislumbrado. Com isso, alguns equipamentos foram marginalizados e ficaram estagnados por anos a fio enfrentando dificuldades de avanços.
Exemplos não muito recentes foram os rastelos rotativos nos anos 90 e início de 2000 que foram rejeitados pelo mau uso e não por seu bom desempenho. Muitas unidades produtoras venderam seus equipamentos ainda com a tinta de fábrica.
Mais recentemente e não muito diferente foram as plantadoras de cana que mesmo
recém adquiridas ficaram “encostadas” em algumas usinas pela falta de empenho, e muitas foram vendidas por peso.
O que isso tem a ver com o tema desta edição? Tudo, pois o avanço em produtividade e qualidade está ligado não só ao aperfeiçoamento e uso correto dos equipamentos, mas também às atitudes que levam a melhorias constantes. Vejam nas fotos apresentadas uso diferente para um mesmo equipamento e atividade com resultados completamente distintos, sendo um que mantém condições de produtividade e qualidade, enquanto o outro não.
As imagens acima mostram aplicação de inseticida para sphenophorus levis em tratos de soca: acerto e erro no “alvo” indicando falha operacional na segunda foto com prejuízos em produtividade e longevidade de lavoura.
Esta foto mostra diferentes dimensões de bitolas entre trator e transbordo provocando pisoteio em soca com possível compactação e injurias na soca.
Esta imagem apresenta o tráfego perfeito tanto da colhedora como da operação transbordo, livrando a soca de pisoteio e dando condições de maior longevidade e produtividades para safras posteriores.
Esta foto apresenta erros no corte de base da colhedora com número alto de arranquio de soca, diminuindo produtividade e longevidade.
Esta foto mostra a soca com brotação muito boa e sem efeito de arranquio com grande oportunidade de boa produção.
A mecanização está presente em todas as atividades de preparo da colheita, e seu uso com técnicas e metodologia corretas sempre irão proporcionar oportunidades de ganhos em qualidade, produtividade e longevidade.
Iniciativas em relação a novas variedades
A cana-de-açúcar é uma cultura semi-perene, de clima quente e úmido e que possui manejos específicos para atingir o seu pleno desenvolvimento e, consequentemente, o retorno esperado. Dessa forma, entende-se que práticas fora dos padrões adequados fatalmente irão refletir em sua performance, principalmente produtividade e maturação.
Com exceção da última safra (2023/24), tem-se convivido com uma acentuada queda nas produtividades das usinas. Excluindo-se uma minoria, as demais apresentaram uma redução de TCH (toneladas de colmos por hectare) nas safras anteriores. Tal queda pode ter sido ocasionada por diversos motivos, a saber:
1) expansão da área de cana em áreas até então não cultivadas com cana-de-açúcar (pastagens, eucaliptos, citros) em áreas menos férteis etc;
2) problemas com nutrição e manejo (agravado com as últimas crises interna e externa);
3) diminuição das áreas de reforma e consequente aumento do número médio de corte (historicamente a taxa média de renovação do canavial era de 17%; houve uma queda para 13,5% e, atualmente, 15,8%);
4) idade média de corte;
5) plantio de cana de inverno, cana de ano e/ou plantio o ano inteiro;
6) crescente expansão de áreas com colheita mecanizada.
Enfim, mudanças importantes que ocorreram no manejo tradicional até então aplicado e que, certamente, impactaram/contribuíram para a redução da produtividade das últimas safras. É evidente que, devido aos diferentes “anos agrícolas” que atravessaram esses canaviais, houve também influências de clima, temperatura, chuvas etc.
Obviamente, existem muitas variáveis que influenciam nas alterações constantes de produtividade das safras, de modo que, indubitavelmente, o elenco varietal é fundamental. "
Fábio Vidal Mina Jr. Diretor de Agronegócios e Logística da ConsulcanaObviamente, existem muitas variáveis que influenciam nas alterações constantes de produtividade das safras, de modo que, indubitavelmente, o elenco varietal é fundamental. Se não fossem esse dinamismo no desenvolvimento e liberação de novos materiais promissores e/ou variedades com características superiores às já existentes, o cenário seguramente estaria ainda pior e muito mais preocupante.
Na imagem em destaque é possível notar claramente as sucessivas quedas de produtividade, assim como as variações de uma safra para outra, exceção à safra 2023/24, em que vários fatores convergiram e contribuíram para uma das mais espetaculares safras dos últimos tempos em produtividade.
Desafio: Sabemos que já existem tecnologias disponíveis no mercado, inclusive com usinas utilizando a matriz tridimensional, conhecida também como “terceiro eixo”, modelos de irrigação permanente, foco na melhoria de alguns importantes pilares que buscam a produtividade de três dígitos, entre outros.
Com exceção de algumas usinas que possuem a condição de ter sua área totalmente irrigada, foi possível perceber que as boas produtividades agrícolas de outras unidades estão mais ligadas aos pilares e manejo de novas variedades do que a mudanças radicais ou disruptivas no sistema de produção da cana.
Identificamos em comum, em algumas usinas, que elas trabalham bem os oito pilares da alta produtividade agrícola: 1) estande varietal
sem falhas; 2) redução de perdas na colheita; 3) estratégias adequadas de plantio; 4) caminhamento coerente de safra; 5) nutrição arrojada da cana; 6) fatores redutores de produtividade agrícola sob controle (pragas, ervas daninhas e doenças); 7) ciclo produtivo ótimo; 8) irrigação econômica. Novas variedades: Sabe-se que a cana-de-açúcar é uma cultura altamente responsiva à água, fazendo com que esse insumo por si só já traga um enorme resultado positivo na busca pela produtividade, aliado ao clima quente e a horas de luz adequada. Esses elementos (água, temperatura e luz) talvez expliquem ou justifiquem por que o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo.
Estudo realizado pelo fisiologista Paul H. Moore (2009), Hawaii Agricultural Research Center (Centro de Pesquisa Agrícola do Havaí), aponta potencial teórico máximo da cana-de-açúcar em 472 t/ha. Logo, não é possível falar nas principais iniciativas em relação a novas variedades de cana sem ressaltarmos a base fundamental onde se inicia todo o processo de novos materiais, ou seja, as variedades de cana são de crucial importância no processo da busca por altas produtividades e maturação, sendo, pois, os órgãos de pesquisa e desenvolvimento de variedades (como IAC, CTC, Ridesa) os principais provedores e de maior relevância no processo de desenvolvimento e liberação de novas variedades de cana, juntamente com a colaboração de algumas universidades, onde há uma labuta permanente em busca de novos clones superiores e futuras variedades que satisfaçam a insaciável necessidade do setor.
Nota-se, nos últimos anos, uma troca significativa no plantel de variedades, onde materiais que ocupavam e/ou eram cultivados comercialmente em grandes áreas foram cedendo espaço para novos materiais promissores e com alto potencial de produtividade, riqueza, sanidade, ecléticos quanto ao ambiente de produção (solo), “colheitabilidade” e longevidade. Não obstante isso seja o objetivo desejado, tivemos através dos excelentes trabalhos dos órgãos de pesquisa e liberação varietal uma grande
contribuição ao setor sucroenergético com ótimas opções de variedades: IACs, CTCs, CVs, RBs. Todavia, salientamos que não basta termos excelentes variedades disponíveis no mercado e não sabermos tirar o máximo de retorno delas. É importante ressaltar que a alocação correta das variedades não traz nenhum custo adicional, pois o custo fazendo da forma certa ou errada será o mesmo. Sendo assim, se fizermos a escolha da variedade de forma assertiva, equalizando épocas de plantio, colheita (materiais para início, meio e fim de safra) e ambiente de produção adequado, sem dúvida alguma já daríamos um grande salto na performance e retorno econômico, onde consequentemente, não haverá necessidade de esperar 5 ou 6 cortes para tentar corrigir um erro eventualmente cometido na formação do canavial.
Com base na importância das variedades de cana na cadeia produtiva de uma usina, há no setor várias alternativas de atualização, abastecimento de informações e trocas de experiências em relação aos manejos varietais utilizados, tais como benchmarkings específicos de variedades por empresas especializadas do setor, em que essa troca de experiência e informações geram conhecimentos a serem aplicados, eventuais ajustes e/ou correções.
As ferramentas citadas anteriormente, sendo bem utilizadas, exploradas e implementadas corretamente, certamente oferecem um ótimo norte em relação ao manejo ideal a ser aplicado às variedades cultivadas comercialmente, ou seja, o compartilhamento dessas experiências e aprendizado tem agregado muito ao setor.
A meu ver, estamos no caminho certo e em um momento de altas expectativas no que diz respeito aos próximos anos, contando com um elenco diversificado de excelentes variedades e clones promissores que atenderão às usinas e aos produtores de cana nos mais diversos ambientes de produção, inclusive no “Ambiente E”, o qual, até há pouco tempo, era um dos gargalos a serem resolvidos e/ou melhorados com novas opções de materiais que atendessem a esse nicho, e agora, felizmente, já existem variedades surgindo para ocupar essa lacuna. n
100 t/ha
Como atingir e manter a produtividade acima de produtividade acima das
100 toneladas por hectare
A partir de 1990, uma nova demanda se impôs à canavicultura brasileira: a colheita mecânica crua. Essa nova prática alterou drasticamente o ambiente de produção, acrescendo significativo volume de material orgânico nos talhões de cana.
Em um primeiro momento, a mecanização dos processos de colheita e plantio foi muito negativa para a produtividade agrícola, ampliando os riscos para a sustentabilidade econômica do negócio “cana”. Discussões e exercícios se seguiram tentando responder a como tornar viável o plantio e também a colheita dos canaviais. A primeira resposta veio com a conclusão: precisamos aumentar o TCH (Tonelada de Cana por Hectare) dos canaviais.
Nas nossas análises, identificamos uma redução expressiva da produtividade da cana-planta (primeiro ciclo). Produtividades de 125 t/ha em cana-planta na época do plantio manual foram substituídas por TCH de 90 a 110 t/ha de uma maneira geral em áreas de plantio mecanizado. Isso acontecendo apesar do esforço dos programas de melhoramento genético da Ridesa, CTC e IAC, que apresentavam quase todos os anos novas opções varietais de maior potencial biológico para os produtores.
Foi nesse momento que nos debruçamos nessa análise para identificar as causas dessa baixa produtividade e fomos estabelecendo estratégias para mitigação dos efeitos deletérios.
Componentes da produtividade agrícola: A produtividade de cana é construída a partir dos componentes de TCH e expresso em massa (toneladas de colmos). O componente TCH pode ser estimado pelo número de colmos por hectare multiplicado pelo peso médio dos colmos.
O que é “Cana de três dígitos”? São os canaviais que atingem produtividade (TCH) superior a 100 toneladas por hectare na média dos cinco primeiros cortes. A produtividade de cana pode ser denominada “Patrimônio biológico”.
Como construir um elevado patrimônio biológico? Como existe uma alta correlação da “população de colmos” com o TCH, temos de dar grande destaque no momento da formação de um novo canavial, escolhendo variedades que tenham como uma das principais características uma boa população de colmos. Essas variedades deverão ser plantadas em uma área onde todas as práticas de nutrição dos solos e da proteção de plantas deverão ser praticadas com excelência.
Dessa forma, devemos buscar de maneira obcecada a excelência no planejamento e na execução do plantio. Assim sendo, dentre os passos para os ganhos transversais, podemos citar a manutenção ou até ganhos na população de colmos ao longo dos cortes.
destaca-se no setor sucroenergético a Matriz do Terceiro Eixo, modelo de mitigação de déficit hídrico desenvolvido pelo IAC-APTA, que amplia em cerca de 30% a produtividade agroindustrial. "
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d2 x C x h (0,007854) TCH = E
Onde:
h = altura média dos colmos (cm)
d = diâmetro médio dos colmos (cm)
C = perfilamento, nº de colmos/metro
E = espaçamento entre sulcos (metro)
A estratégia da Matriz do Terceiro Eixo, que preconiza a antecipação dos cortes nos ciclos mais novos (primeiro, segundo e terceiro cortes), tem auxiliado muito nesse objetivo. Outro fator relevante é a utilização de variedades com boa adaptação ao plantio mecânico (denominamos de variedades facilitadoras) e que tenham “habilidade” de um bom perfilhamento. Isso invariavelmente estabelece populações acima de 75.000 colmos/hectare para quase todas as variedades.
Existem, no entanto, variedades que atingem população em cana-planta acima de 90.000 colmos. O Programa Cana IAC tem-se esmerado há 30 anos para obter variedades que tenham um número elevado de colmos. Nesses últimos sete anos, o IAC lançou duas variedades que têm esse perfil: IACCTC07-8008 e IACCTC07-7207. Elas chegam a atingir populações de 110 a 130 mil colmos/ha. Em áreas comerciais, elas têm alcançado produtividades altas tipo 140 até 230 t/ha no sequeiro.
A redução do déficit hídrico com uso da matriz tridimensional (3º eixo): A partir de 1997, o Programa Cana IAC estabeleceu uma rede experimental com apoio de inúmeras empresas em forma de network, para avaliar genótipos da fase final do programa de melhoramento genético de cana do IAC e, assim, identificar as novas variedades para a área comercial das empresas.
Essa rede foi estabelecida com base no conhecimento dos solos/ambientes de produção e época/terço de colheita (1º terço, 2º terço e 3º terço), que, nas condições do Estado de São Paulo, coincidia com o Outono (1), Inverno (2) e Primavera (3). Assim sendo, definimos uma matriz de ambientes com dois fatores (Ambiente e Época de Colheita) e três níveis. Essa matriz, que chamamos de Bi-dimensional, acabou sendo adotada por muitos produtores que assim evitavam coincidir os ambientes edafoclimáticos mais restritivos (solos piores) com a época de menor disponibilidade de água nos solos (no caso, na primavera).
A partir do conhecimento gerado, Antônio Carlos M. de Vasconcelos, em sua tese de doutorado (2002),
na qual detalhava a dinâmica do sistema radicular de um cultivar híbrido de cana-de-açúcar, deixou claro que as raízes se aprofundavam no perfil do solo a cada ano de cultivo e, assim, canaviais mais antigos apresentavam uma maior tolerância em relação ao déficit hídrico (DH). Dessa maneira, sentimos a necessidade de incluir na nossa Matriz um terceiro fator que foi o Ciclo do canavial, correlacionando os canaviais mais antigos a uma proteção maior do DH para a planta em cultivo. A esse terceiro fator denominamos Terceiro Eixo, gerando assim uma Matriz Tridimensional (três fatores com três níveis). A aplicação do conceito do Terceiro Eixo na prática fez com que ocorresse uma mitigação do DH.
A redução do DH tem relação com a produtividade agrícola, e, assim, podemos considerar que uma redução de DH de 100mm ao longo de um ciclo de produção de um canavial poderá redundar em aumentos de TCH (tonelada de colmos por hectare) na ordem de 8 a 13 t/ha, com a resposta dependendo do ambiente de produção e do potencial biológico da variedade cultivada.
O esforço na ciência agronômica é direcionado à geração e transferência de tecnologias que auxiliem as culturas agrícolas a aproveitarem da melhor maneira a água disponível no solo e a se adaptarem às condições adversas. Nesse cenário, destaca-se, no setor sucroenergético, a Matriz do Terceiro Eixo, modelo de mitigação de déficit hídrico desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que amplia em cerca de 30% a produtividade agroindustrial. Este salto representa um aumento de 23 toneladas por hectare, rendimento que deverá levar a um acréscimo de 46 milhões de toneladas de cana somente na canavicultura paulista em breve. O incremento na renda do produtor é de R$ 6 bilhões por ano.
Entendemos assim que, com essas estratégias, podemos construir uma elevada produtividade de cana no seu primeiro ciclo (cana planta) e que a mitigação do déficit hídrico resultará em uma menor desconstrução do TCH ao longos dos cortes, permitindo que venhamos a atingir uma produtividade de três dígitos ao longo dos cinco primeiros cortes. n
Como atingir
100
Nos últimos anos o setor sucroenergético como um todo vem passando por muitas mudanças tecnológicas e estruturais. Com isso, o custo de produção vem crescendo substancialmente, pelo que o aumento da produtividade e a longevidade dos canaviais se tornaram uma peça fundamental para a permanência das atividades das unidades industriais e fornecedores de cana-de-açúcar do País.
O caminho para este aumento de produtividade depende de planejamento e esmero nas atividades de implantação e condução da cultura ao longo do ciclo.
Antes da tomada da decisão para a renovação do canavial, é importante que a manutenção da fertilidade e qualidade do solo sejam preservadas, com manejos fitotécnicos adequados para que as atividades de correção e preparo de solo sejam minimizadas no momento da reforma, contribuindo com a redução do custo de implantação, bem como a manutenção dos níveis de matéria orgânica e microbiota deste ambiente.
O contato estreito com as instituições de pesquisa e o acesso às novas tecnologias auxiliam de forma decisiva quanto ao caminho a ser trilhado. Não existe sucesso sem tecnologia e informação. "
Todos os ambientes de produção apresentam características próprias. Portanto, a classificação pedológica deste solo é fundamental para que o material genético (variedade de cana-de-açúcar) a ser implantado tenha adaptabilidade a tais condições, podendo assim expressar seu potencial genético com plenitude. A maioria das propriedades apresentam diferentes ambientes de produção, logo a introdução de vários materiais genéticos é uma alternativa eficaz e protetiva à exploração econômica da cana-de-açúcar.
O plantel varietal deve ser distribuído de forma que contemple em torno de 15% da área com cada um dos materiais genéticos. Portanto, pensando nesta distribuição, a propriedade terá pelo menos 6 variedades de cana-de-açúcar com características próprias e diferentes formas de adaptação às condições ambientais.
Os programas de melhoramento genético do Brasil têm apresentado para o setor ótimos materiais genéticos adaptados às diversas condições, cabendo aos produtores alocarem variedades adaptadas às condições de cada ambiente de produção, escolhendo preferencialmente genótipos eretos, com alta população de colmos, estáveis na rebrota, tolerantes às principais doenças e ricas em açúcares.
Para que estes materiais consigam expressar seu potencial, é preciso monitorar vários aspectos importantes para o bom desenvolvimento da cultura, tais como:
Acidez do solo: A construção do perfil na camada arável sem a presença de toxidez, principalmente por alumínio, promove o aumento do volume do sistema radicular, elevando a absorção de água e nutrientes, sendo convertidos em acúmulo de fitomassa.
A aplicação de corretivos e condicionadores de solo como o calcário e o gesso agrícola promovem esses benefícios para o ambiente. Essas práticas devem ser incorporadas ao manejo se necessárias, no momento da reforma do canavial e nas socarias ao longo do ciclo da cultura.
A utilização de óxidos de cálcio e de magnésio, pois, sendo mais solúveis e reativos, também são uma boa alternativa para a adição desses minerais como fonte nutricional, podendo ser adicionados ao solo no momento do plantio, aproveitando a operação de sulcação.
Plantio direto de cana em palhada de mucuna-cinza com adição de óxidos de cálcio e magnésio.
Balanceamento Nutricional: A nutrição equilibrada com todos os macros e micronutrientes essenciais não pode ser negligenciada, sendo fornecidos de acordo com o patamar produtivo esperado. O parcelamento das doses dos nutrientes ou o uso de adubos inteligentes com liberação gradativa dos minerais tem-se mostrado uma condição favorável à produtividade.
O uso de micronutrientes aplicados de forma parcelada em vários momentos, adicionados às fontes de adubos, na calda dos herbicidas, no controle das principais pragas otimiza as operações e a absorção desses nutrientes pela planta.
Déficit Hídrico: Quando não se tem à disposição o uso de sistemas de irrigação, um método muito eficiente para mitigar esse déficit é a implantação da matriz tridimensional do terceiro eixo. Esse manejo desenvolvido pelo Instituto Agronômico, IAC, através do pesquisador Marcos Landell e equipe, consiste em colher os canaviais de ciclos mais jovens, até o 3° corte entre maio e 10 de junho, e os canaviais mais velhos acima do 4° corte após o mês de julho, no Centro-Sul do Brasil.
Os canaviais mais jovens, por apresentarem volume menor de raízes, são colhidos em um momento cujo solo apresenta maior reserva de água residual, e os canaviais mais velhos, com sistema radicular mais robusto, são colhidos em um momento em que o solo apresenta disponibilidade menor de água. ;
Essa prática mantém a população de colmos estável ao longo do ciclo, além de proteger as plantas e não gerar aumento monetário no custo de produção, bastando apenas planejamento estratégico de colheita.
Compactação: A sistematização e o tráfego de colheita inteligente com uso de agricultura de precisão, ou seja, pisoteio mínimo na linha da cana-de-açúcar, promovem maior liberdade para que o sistema radicular consiga se aprofundar.
Quando não é possível o uso de agricultura de precisão em todos os equipamentos de colheita, pelo menos a abertura da bitola dos tratores já promove grandes melhorias quanto ao pisoteio da soqueira de cana-de-açúcar.
Trator com bitola aberta: 3,0 metros
Material de Propagação (Mudas): A procedência do material de propagação deve ser rastreada com máximo critério, uma vez que o desempenho produtivo do canavial depende totalmente da sanidade e qualidade deste.
A implantação e monitoramento de viveiros de mudas dentro da propriedade ou a aquisição de mudas de viveiristas que apresentem certificados de sanidade e procedência dos materiais de propagação são uma garantia de uma boa instalação e futuro produtivo do canavial.
O 1° Corte: O planejamento e a execução dos manejos referentes à implantação do novo canavial devem ser executados com máxima atenção, pois é nesse momento que se apresenta a maior oportunidade para grandes saltos em produtividade.
Alternância de Cultura antes da renovação: Para que altas produtividades sejam alcançadas, a qualidade do sistema de produção deve ser preservada e, nesse quesito, o aumento e a manutenção da matéria orgânica do solo devem sempre ser buscadas. A alternância de culturas contribui muito para tal. Esse incremento ao sistema, além de trazer nutrientes para o solo, mantém uma microbiota mais ativa e resiliente, trazendo inúmeros benefícios e contribuindo para o aumento da produtividade.
A informação: O contato estreito com as instituições de pesquisa e o acesso às novas tecnologias auxiliam de forma decisiva quanto ao caminho a ser trilhado. Não existe sucesso sem tecnologia e informação.
A cultura da cana-de-açúcar apresenta aspectos multidisciplinares. O constante estudo e entendimento dos fatores de produção, particularidades de cada material genético e mudanças no ambiente de produção são decisivos para o sucesso desta atividade. n
Colheita da IACSP95 5094, que produziu 193 t ha-1 no 1o corte
A efetiva ruptura dos limites
Imaginar em atingir e manter a produção da cana-de-açúcar em 100 toneladas por hectare, o que hoje até parece simples, não poderia ser sem que toda a inovação e evolução, nos últimos 50 anos, do setor sucroenergética não tivesse sido trilhada por grandes nomes, que construíram a melhor e maior produção do agronegócio em todo mundo.
Destes nomes, com certeza, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) é um exemplo emblemático de pioneirismo e inovação na cultura da cana-de-açúcar. Criado originalmente em 1969 como parte do Instituto do Açúcar e do Álcool, o CTC tornou-se uma referência em pesquisa e tecnologia, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento de novas tecnologias e variedades de cana mais produtivas e resistentes. O CTC também tem um papel como modelo de governança. Tudo somado garantiu a evolução da produtividade das 100 toneladas por hectare.
Esta maior produção por unidade de área é historicamente um indicador-chave avaliado em qualquer tipo de cultivo uma vez que afeta diretamente o fluxo de caixa, aumentando receita e diluindo custos fixos.
Nos últimos 15 anos, a média móvel da produtividade dos principais cultivos no agronegócio brasileiro tem apresentado diferentes tendências, uma vez que essa simples relação é derivada de uma complexa combinação entre manejo, velocidade na adoção de novas tecnologias, questões conjunturais específicas, movimentos expansionistas, dentre outros fatores intrínsecos em cada mercado.
De modo geral, as culturas de milho e soja têm apresentado ganhos médios em produtividade de aproximadamente 40% e 20% respectivamente. Em contrapartida, para o cultivo de cana-de-açúcar verifica-se uma tendência diferente, que reflete, dentro desse contexto histórico, o impacto da ocorrência de uma série de fatores detratores de produção como a intensificação da mecanização da colheita e do plantio, endividamento setorial, consolidação de grupos empresariais e aumento de escala produtiva, a expansão do cultivo em ambientes de produção mais restritivos e pouco adaptados às variedades até então disponíveis, aumento exponencial da intensidade de pragas e plantas daninhas, etc, que impuseram o grande desafio de romper o patamar de produtividade setorial.
A efetiva ruptura de produtividade se dá na celeridade de adoção de novas tecnologias atreladas aos ganhos da pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos. Nesse sentido, o CTC – Centro de Tecnologia Canavieira tem a visão de dobrar a produtividade dos canaviais brasileiros em 20 anos.
A efetiva ruptura de produtividade se dá na celeridade de adoção de novas tecnologias atreladas aos ganhos da pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos.
SENAR-SP. EDUCAÇÃO
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Essa visão é embasada em quatro pilares estratégicos:
1. Mais potencial: endereçado pelo melhoramento genético e pela seleção de variedades de cana com maior potencial produtivo. Nesse sentido, esse pilar é suportado por uma série de diferenciais e investimentos que visam dar continuidade aos ganhos genéticos consistentes de, pelo menos, 3% a.a em toneladas de açúcar por hectare. Dentre esses diferenciais destacam-se: 1. A manutenção do maior banco de germoplasma do mundo, localizado no sul da Bahia, com mais de 5.500 variedades; 2. Mais de 1.500 cruzamentos realizados anualmente atendendo aos diferentes objetivos regionais; 3. Programa de melhoramento ocorrendo simultaneamente em 7 regiões produtoras do Brasil, buscando a seleção de materiais regionais, adaptados às condições de solo e clima específicos; 4. Pipeline ágil e robusto que encurta o processo clássico de 15 para 8 anos, permitindo uma entrega mais rápida e assertiva de variedades para o setor canavieiro; 5. Mais de 200 ensaios plantados por ano buscando desenvolver e avaliar a interação genótipo – ambiente dos materiais promissores; 6. Ênfase na sanidade e resistência a doenças com novas estratégias e metodologia de avalição, promovendo a seleção de um maior número de clones com alta sanidade; 7. Incorporação de genitores mais jovens, capturando maiores níveis de ganhos genéticos; e 8. Otimização da gestão de dados digitais e uso de inteligência artificial, permitindo a geração do maior banco de variedades genotipadas no mundo possibilitando aprofundamento na compreensão genética da cana-de-açúcar, refletindo, por consequência, na seleção mais assertiva de variedades.
2. Mais proteção: com o emprego da biotecnologia blindando os canaviais contra o ataque de pragas-chave e resistência a herbicidas.
Em 2017, o CTC lançou a primeira variedade resistente à broca da cana-de-açúcar, uma praga que gera anualmente prejuízos superiores a R$ 5 bilhões em virtude das perdas industriais de açúcar e etanol causadas pelos danos diretos e indiretos, custo de manejo e abrangência setorial dessa lagarta. Atualmente, o portfólio de variedades Bt é composto por quatro produtos que atendem às principais demandas em posicionamento técnico e agronômico do setor. No pipeline futuro de produtos em biotecnologia, nas próximas safras espera-se o lançamento da segunda geração de produtos com biotecnologia, resistentes a broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) e bicudo (Sphenophorus levis) e tolerantes ao glifosato.
3. Mais adaptado: vinculado ao manejo agronômico que permita a expressão de todo o potencial produtivo das variedades. Nessa frente, atua-se desde o posicionamento correto das variedades até o uso de equipamento menos agressivos aos canaviais, agricultura digital, novas formulações etc.
4. Mais rápido: por meio do desenvolvimento de um sistema de plantio via sementes artificiais de cana-de-açúcar, reduzindo a complexidade do plantio, os custos e, principalmente, acelerando a adoção de novas tecnologias.
Em síntese, a visão do CTC de dobrar a produtividade da cana-de-açúcar até 2040 é baseada em uma abordagem holística que combina inovação genética, biotecnologia, manejo agronômico avançado e práticas de plantio mais eficientes e aceleradoras de inovação. Essas estratégias têm o potencial não apenas de aumentar a produção e a eficiência, mas também de gerar impactos econômicos positivos, e rompem, de fato, os patamares de produtividade, reduzindo custos operacionais e impulsionando a competitividade do Brasil como líder mundial na produção de açúcar e etanol.
O Centro de Tecnologia Canavieira não é apenas um exemplo de sucesso em pesquisa e inovação no agronegócio, mas também um modelo de como a governança e o envolvimento estratégico do setor privado podem impulsionar o desenvolvimento sustentável.
A história do CTC e sua contribuição para a evolução da agricultura no Estado de São Paulo são indicativos de como a pesquisa aplicada e uma gestão eficaz podem resultar em avanços significativos para o agronegócio brasileiro como um todo. Seu legado serve como um valioso paradigma para outros setores em busca de modernização e sustentabilidade. n
A instabilidade da produção canavieira
O termo sustentabilidade tem sido muito usado em, praticamente, todos os setores produtivos e da sociedade. Quase sempre voltado ao meio ambiente e recursos naturais, ele encerra um amplo conceito, passando pelas questões sociais, energéticas e econômicas. Na agricultura tem um forte sentido e uma importância ainda maior, notadamente no nosso setor sucrobioenergético.
Gostaria de dar um foco especial agora num aspecto que não é menos importante que os outros, ou seja, a sustentabilidade da produção, prerrogativa das demais.
Não oportunamente, estamos passando por um exemplo dessa instabilidade da produção. Na safra passada, impulsionado por um clima favorável com volumes e distribuição de chuvas adequados, tivemos recordes de produção e produtividades. Regiões desafiadoras como Araçatuba e São José do Rio Preto chegaram a produzir mais de 90 de TCH, algumas unidades até mesmo com mais de três dígitos. O Centro-Sul produziu um volume total de 646,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no acumulado da safra 2023/24 (abril de 2023 até a primeira metade de fevereiro de 2024), em comparação com os 543,2 milhões de toneladas em igual período da temporada 2022/23, representando um avanço de 19,03%. Pois bem, infelizmente essa produção não deve se confirmar para a safra 2024/25, com previsões iniciais de 580 a 590 milhões de toneladas.
Em qualquer setor produtivo, essa instabilidade gera, além de incertezas de comercialização, de investimentos e planejamento, um aumento inevitável dos custos. Mas o que tem causado essa instabilidade? "
René de Assis
Sordi Consultor em Tecnologia Agronômica na EnercanaEm qualquer setor produtivo, essa instabilidade gera, além de incertezas de comercialização, de investimentos e planejamento, um aumento inevitável dos custos. Mas o que tem causado essa instabilidade, tanto na produção de cana quanto no teor de sacarose?
Já pontuamos com mais detalhes em artigo anterior alguns desses principais motivos, como o clima instável e desfavorável com veranicos mais intensos e secas prolongadas, o aumento das perdas e das impurezas vegetais na colheita e falhas e elevado consumo de mudas no plantio, a expansão para ambientes edafoclimáticos desfavoráveis, o envelhecimento do canavial, aumentando a idade média, com redução da porcentagem de renovação e plantio, a pequena renovação do plantel varietal e o aumento de pragas e doenças, entre outros.
Já discutimos anteriormente também que os manejos adequados e corretos podem colaborar para o aumento da produtividade. Mas como mitigar diretamente os deflatores de nossa produção?
Sem dúvida o clima, mais especificamente o estresse hídrico, é o principal e o mais difícil desafio a ser mitigado. A irrigação voltou a ser então uma das ferramentas mais discutidas que podemos lançar mão para garantir a sustentabilidade da produção, assim como a longevidade dos canaviais.
Pouco tempo atrás associávamos a irrigação somente a regiões com déficit hídrico muito acentuado, ou regime de chuvas muito concentrado, como o do Nordeste brasileiro ou norte de Goiás, e até mesmo condições de semiárido. Muitos de nós fomos visitar a irrigação no deserto peruano para nos sensibilizarmos em adotá-la em nossas condições.
Esse paradigma tem sido quebrado, felizmente. Em recentes pesquisas e áreas semicomerciais, pudemos constatar as respostas econômicas em produtividade da irrigação de salvamento, até mesmo em regiões tradicionais como a de Ribeirão Preto. O salvamento por aspersão de lâminas de água de 40 a 60mm, no lead time correto, garantem não somente a brotação de soqueira e produção do próximo corte, mas sobretudo uma maior longevidade do canavial e melhor manejo de colheita.
A irrigação plena ou deficitária, por gotejamento ou pivôs, também tem trazido resultados econômicos surpreendentes valorizando o uso racional da água, sem dúvida um dos nossos recursos mais preciosos.
Muitos grupos do nosso setor têm dedicado cada vez mais atenção para a irrigação, implementando grandes projetos em algumas regiões, visando assim estabilizar sua produção, mesmo em anos desfavoráveis.
Dentre a mitigação do efeito deletério do clima também podemos citar o uso de inibidores de florescimento em anos de maior indução e o uso intensivo de maturadores químicos, fisiológicos e nutricionais para melhorar teores de ATR no início e meio de safra.
No setor de variedades, é necessário se intensificar o uso daquelas que tenham uma boa brotação de soqueira, assim como um enraizamento abundante e profundo e uma alta população de colmos por área.
O porte ereto e a colheitabilidade são características fundamentais para diminuir as perdas e impurezas vegetais e minerais na colheita. Não se pode pensar em sustentabilidade da produção se não adotarmos medidas urgentes e eficientes de controle de pragas, como, por exemplo, o Sphenophorus levis, que se tem expandido e prejudicado o desenvolvimento de nossos canaviais.
No setor de nutrição e fisiologia, precisamos cada vez mais melhorar as condições de enraizamento para as touceiras, quer seja na parte física, pela melhoria de preparo e descompactação do solo, quer na parte química e fisiológica, pelo uso de insumos que melhorem a emissão de raízes e aprofundamento das mesmas. O uso de ácidos úmicos e fúlvicos, promotores de crescimento e de enraizamento, fungos e bactérias solubilizadores de N e de P, e uma grande gama de novos agentes que atuam na fisiologia e processos metabólicos da planta, podem proporcionar uma mitigação de efeitos de estresses hídrico e nutricional.
Para garantir e mensurar essa sustentabilidade de produção, proponho que as unidades produtoras passem a ter a produção ou emissão de CBios como um dos parâmetros a serem usados. Não só no preenchimento da RenovaCalc, mas também na construção da quantidade de CBios gerados, talhão por talhão, ano a ano.
Não podemos esquecer de fomentar todas essas medidas e considerações também junto aos produtores independentes ou, como alguns ainda chamam, os fornecedores de cana, parte responsável por quase 30% da nossa produção.
Concluindo nossa opinião, sugerimos também uma contínua atenção para uma série de procedimentos, atitudes e processos que fazem parte da sustentabilidade como um todo e nos quais órgãos governamentais e financiadores têm esperado de nosso setor, tais como: manutenção de APPs e reflorestamento; preservação do ativo biológico e melhorias no combate a incêndios; uso reduzido da água nos processos industriais; preparo reduzido e conservação do solo; uso racional de insumos e aumento da aplicação de resíduos; aumento do uso de bioinsumos e controle biológico; rotação de culturas; diminuição do tráfego no canavial; racionalização do uso de pneus; diminuição do consumo de diesel.
Nesse último item, vale uma observação especial, já que o considero ainda um grande “calcanhar de Aquiles” do nosso setor. Precisamos urgentemente diminuir o consumo de diesel, quer pela melhoria dos rendimentos e processos agrícolas, quer pela sua substituição por biometano na frota de caminhões, tratores e até mesmo colhedoras.
Não soa como integralmente coerente um setor que consome em média de 5 a 6 litros de diesel para produzir uma tonelada de cana e, consequentemente, o etanol, nosso combustível da matriz energética mais limpa e sustentável do planeta. n
O uso eficiente da água irrigação da cana-de-açúcar
e do sistema de irrigação
Como CEO da Bevap – Bioenergética Vale do Paracatu, é um prazer compartilhar com vocês nosso aprendizado e práticas sobre a agricultura bioenergética na cana-de-açúcar irrigada. O objetivo com estas práticas é de maximizar o uso das áreas de cultivo de forma sustentável. Nossa jornada é motivada pela convicção de que a sustentabilidade e eficiência não são apenas metas aspiracionais, mas fundamentos críticos para forjar o caminho em direção a um futuro promissor no setor de energia renovável.
A ciência e as tecnologias disponíveis têm sido aliadas essenciais a esta proposta. Elas nos permitiram aumentar significativamente a produtividade e eficiência em nossos campos.
Nossos sistemas de irrigação avançados, como gotejamento e pivôs, têm sido fundamentais nessa transformação, permitindo não apenas um uso mais eficiente da água, mas também a integração da fertirrigação, que leva nutrientes diretamente às raízes das plantas de forma mais eficiente. Isto viabiliza nossa estratégia para uma crescente demanda por energia sem sacrificar terras preciosas que poderiam ser usadas para a produção de alimentos ou para conservação.
Nosso aprendizado tem ido além do fato de lidarmos com uma edafoclimática onde a combinação de solo/clima preconizam o uso artificial de irrigação. A partir do plantio, mas também no trato cultural, nutrientes orgânicos e minerais combinados, defensivos com timing de aplicação e acompanhamento que fogem um pouco ao tradicional em nosso setor produzem resultados expressivos de aumento de produtividade. Na Bevap, que nasceu sob a necessidade de irrigação desde o início, a busca é por produtividade média na ordem de 120 t/ha. Na nossa última Safra, alcançamos 101 de TCH.
Tipicamente, a necessidade de áreas para o cultivo de cana está diretamente associada ao fator de produtividade, motivo de preocupação e altos custos em nosso setor nas regiões mais ocupadas com a cultura. Na média Brasil da Safra que se encerrou (23/24), próximo de 80 de TCH, quando atingirmos nossas metas que buscamos (média de 120 de TCH), para uma mesma necessidade de moagem podemos chegar a cerca de 50% de redução na área necessária.
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A integração de dados com modelos preditivos e de aprendizado de máquina proporciona uma agricultura mais inteligente e preditiva, antecipando problemas e otimizando soluções. "
Newton Cesar Retamero Santana CEO da Bevapirrigação da cana-de-açúcar
O manejo em busca de um maior ATR, tradicionalmente, é um desafio em nosso setor, outra oportunidade que estamos desenvolvendo em sistemas irrigados para maximizar este fator na melhor hora do nosso plano de colheita. O início de Safra já atinge valores acima de 100kg/t. Nossa média na última Safra foi 143 kg/t. A combinação da tecnologia, inteligência artificial e experiência de nosso time técnico é um fator fundamental para alcançarmos o maior TAH (14,7 TAH na Safra 23/24).
Nesse avanço e com os nossos resultados, estamos explorando áreas menos férteis, onde culturas tradicionais lutam para prosperar, abrindo oportunidade para as demais culturas energéticas. Isso, juntamente com o desenvolvimento de variedades mais resistentes e produtivas através do melhoramento genético, amplia nosso arsenal na luta contra os desafios ambientais e econômicos de hoje.
Para atingir nosso objetivo de excelência em agricultura bioenergética, é crucial que mantenhamos um olhar atento às tendências e avanços no setor.
O uso de drones, por exemplo, revolucionou a maneira como monitoramos e gerenciamos grandes extensões de culturas de cana-de-açúcar. Estes dispositivos aéreos não só permitem uma visão detalhada e abrangente das plantações, mas também ajudam a detectar precocemente pragas, doenças e áreas com estresse hídrico, garantindo uma resposta rápida e eficaz.
A implementação de sistemas inteligentes de análise de dados com a coleta de grandes volumes de informações nos torna capazes de entender melhor os padrões climáticos, o comportamento das plantas e as variáveis de solo, o que nos permite adaptar nossas práticas agrícolas para alcançar os melhores resultados possíveis. A integração destes dados com modelos preditivos e de aprendizado de máquina proporciona uma agricultura mais inteligente e preditiva, antecipando problemas e otimizando soluções.
A preocupação com o impacto ambiental também é um aspecto crucial em nossas operações. Investimos continuamente em práticas que promovam a conservação do solo e da água, como o uso de coberturas vegetais e técnicas de mínimo revolvimento do solo. Essas práticas não só preservam o ambiente natural, mas também melhoram a saúde e a fertilidade do solo, o que é essencial para a sustentabilidade a longo prazo de nossa atividade agrícola.
A meta de irrigação considerada na Bevap é anualmente uma lâmina de 1600 mm, combinando cerca de 1100 mm pelas chuvas e 500mm pelos sistemas de irrigação. Em uma área total de cana de aproximadamente 32 mil hectares, temos a irrigação distribuída da seguinte forma: 76,5% de Pivôs, 5,6% de Gotejamento, 4,6% de HidroRoll/Aspersão e, em áreas úmidas sem necessidade de sistemas de irrigação, os restantes 13,3%.
Na Bevap, nosso engajamento com a inovação e a sustentabilidade vai além das palavras. É refletido em cada escolha que fazemos, em cada campo que irrigamos e em cada planta que cultivamos. Acreditamos que, com a tecnologia certa e uma dose saudável de inovação, podemos caminhar em direção ao futuro em que a energia renovável e a agricultura sustentável andam de mãos dadas.
A colaboração com instituições de pesquisa e universidades é outro pilar de nosso sucesso. Por meio de parcerias estratégicas, conseguimos acessar o que há de mais avançado em termos de pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos. Estas colaborações permitem que façamos parte de uma comunidade científica mais ampla, trocando conhecimentos e experiências que nos ajudam a aprimorar nossas técnicas e a desenvolver novas variedades de cana que sejam mais resilientes às mudanças climáticas e eficientes na produção de bioenergia.
Por fim, o compromisso com a responsabilidade social corporativa é um valor inegociável para a Bevap. Entendemos que nosso trabalho vai além do campo e deve contribuir de forma positiva para as comunidades locais. Isso se traduz em programas de capacitação, apoio ao desenvolvimento local e práticas de emprego que respeitam a dignidade e promovem o crescimento dos nossos colaboradores e de suas famílias.
Estas práticas refletem não apenas uma estratégia empresarial, mas um compromisso com a criação de um futuro mais verde e próspero. Através de uma gestão inovadora e sustentável, a Bevap está pavimentando o caminho para que a bioenergia seja um vetor de transformação ambiental, econômica e social. Com essas ações, reafirmamos nosso papel como líderes no setor de energia renovável e na promoção de uma agricultura que respeita tanto o planeta quanto as pessoas que nele habitam. A Bevap tem o orgulho de liderar esse esforço, mostrando que é possível harmonizar as demandas energéticas com o respeito profundo pela terra que nos sustenta. n
irrigação da cana-de-açúcar
A irrigação na verticalização da produtividade
Quando criada, há aproximadamente 4.000 anos, a irrigação era feita nos cultivos através da transposição das águas dos rios, o que hoje conhecemos como irrigação por sulcos. No entanto, quando os antigos agricultores migraram para as regiões mais úmidas, a agricultura e a irrigação seguiram caminhos diferentes.
Trazida pelos portugueses em 1533, a cana-de-açúcar teve o seu maior desenvolvimento no estado de São Paulo, estado que até hoje ocupa o primeiro lugar no ranking nacional dessa cultura. Localiza-se principalmente nas mesorregiões de Ribeirão Preto e Piracicaba, que são caracterizadas por solos com alta fertilidade, retenção de água e boa distribuição pluviométrica.
Com a crescente demanda por etanol e açúcar, o setor foi obrigado a desbravar novas regiões como o Oeste Paulista, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, onde há mudanças no cenário, pois essas regiões, além de apresentarem solos com menor retenção de água, ainda possuem climas mais agressivos, caracterizados por chuvas mais concentradas. Com isso, observou-se que a produtividade agrícola dos canaviais obteve uma queda expressiva, saindo das 82,0 toneladas/ha para 70,0 toneladas/ha em questão de anos.
Deste modo, o setor chegou a um pensamento lógico: “Se eu preciso de uma
Se você precisa produzir 100.000 ton e tem uma produtividade de 80 t/ha, usará 1.250 ha. Se adotar a irrigação e aumentar a produtividade para 150 t/ha, usará apenas 667 hectares. "
Daniel Botelho Pedroso Especialista Agronômico da Netafimdeterminada quantidade de cana-de-açúcar para atender à minha indústria e o cálculo de produção é produtividade vezes a área colhida (TCH x ha), podemos concluir que o melhor método para aumentar a minha produção é adquirir mais terras”. E foi assim que a cultura de cana-de-açúcar passou a ser uma cultura extensionista.
Mas essa solução foi temporária, pois, com a valorização das terras, aumento dos custos de produção e as anomalias climáticas, não foi possível garantir a estabilidade da produção anual, deixando, por muitas vezes, a indústria ociosa.
Se analisarmos os principais fatores que levam à produtividade, observamos que 50% é de responsabilidade do clima, em que o volume e a distribuição das chuvas são as variáveis de maior impacto.
Contudo, não estou falando das anomalias climáticas, mas sim de uma estação chuvosa normal, em que, dos 12 meses do ano, chove 6 meses e nos outros 6 meses temos estiagem.
E como o canavial é cultivado, no mínimo, por 12 meses, concluímos que pelo menos 46% do ciclo do canavial é desenvolvido sob estiagem. E, caso resolvamos incluir as anomalias, esse número pode ficar ainda pior.
Para mitigar a má distribuição “normal” das chuvas, o setor viu a necessidade de retornar a um passado antigo e iniciou a adoção de sistemas de irrigação em grande escala.
Há no mercado vários sistemas de irrigação, cada um com suas características, sendo essenciais para cada tipo de situação. Mas gostaria de destacar a irrigação por gotejamento, uma vez que é considerada a irrigação mais nova (criada em 1965) e a mais eficiente no conceito de utilização da água para produção.
A irrigação por gotejamento aplica água diretamente na região radicular, em alta frequência e baixa intensidade de aplicação, através de emissores conhecidos como gotejadores, visando suprir a deficiência hídrica da planta. Com esse sistema, forma-se uma zona úmida dentro do solo conhecida como bulbo úmido, e, à medida que há a sobreposição desses bulbos úmidos, há a formação da faixa úmida ao longo da linha de gotejadores – daí o nome irrigação localizada. E, pelo fato de os tubos gotejadores estarem enterrados (SDI), os efeitos de perda como evaporação da água, efeito guarda-chuva e deriva da água pela força do vento são praticamente nulos.
Devido a essas características, as usinas e produtores de cana-de-açúcar que adotam esse sistema de irrigação por gotejamento começaram a observar vários benefícios, com redução dos custos de produção, ganhos ambientais (CBios) e a verticalização da produção.
A verticalização da produção, ou melhor, o incremento de produção na mesma unidade de área (hectare), leva os produtores a reduzirem suas áreas plantadas e, mesmo assim, manterem sua produção. Vamos a alguns cálculos para exemplificar. Se você necessita produzir, por exemplo, 100.000 toneladas e tem uma produtividade de 80 toneladas/ha, terá de possuir (adquirir ou arrendar) 1.250 ha. No entanto, se adotar a irrigação e aumentar a produtividade para 150 toneladas/ha, serão necessários apenas 667 hectares. E, apenas lembrando, não é só a área, mas também o custo para se produzir que importa. Continuando com os mesmos cálculos, sem a necessidade de arrendamento
(estimado em R$ 2.431,97/ha para 2024), o custo de produção de cana-de-açúcar é de aproximadamente R$ 13.000,00 por hectare por ano. Ou seja, ao reduzir a área plantada, sem perder produção, no caso simulado, economizamos mais de R$ 8 milhões por ano para produzirmos as mesmas 100.000 toneladas.
Como um exemplo prático, no estado do Mato Grosso, um produtor adquiriu 450 hectares de irrigação por gotejamento, com o intuito de aumentar sua produtividade, cumprir seu contrato com a usina e sobrar mais área para produzir grãos, sua principal cultura.
Além disso, o sistema de gotejamento evoluiu para outras finalidades, não somente para fornecer água e nutrientes (fertirrigação) às plantas, mas também como uma ferramenta ambiental de produção e redução de custos. Novas técnicas para aplicação de vinhaça estão sendo utilizadas, e, entre elas, destaco o uso da vinhaça como fertilizante, aplicada através do sistema de irrigação por gotejamento. Pelo fato de os tubos gotejadores estarem enterrados a uma profundidade aproximada de 0,30 m, quando há aplicação de vinhaça, esse produto também é aplicado em profundidade, evitando assim contato com seres humanos, disseminação de odor desagradável e proliferação de moscas, como a mosca-do-estábulo (Stomoxys calcitrans), atendendo a todas as exigências dos órgãos ambientais fiscalizadores.
Em um recente trabalho, compararam-se as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) no sistema de irrigação por gotejamento e no sistema de sequeiro. Nesse estudo, provou-se que, com o uso do gotejamento, foi possível reduzir em 52% as emissões de CO2 para a atmosfera, onde se nota que as principais reduções impactantes estão na mudança no uso da terra (MUT), óleo diesel e corretivos.
Devido à sua alta uniformidade de aplicação, vários trabalhos sobre a aplicação de produtos químicos e biológicos para as mais variadas necessidades da cultura vêm sendo testados para aplicação via gotejamento. Além dos ótimos resultados agronômicos, pelo fato de os gotejadores estarem em subsuperfície, não há contato dos produtos químicos com a biota benéfica, como, por exemplo, polinizadores ou inimigos naturais das principais pragas. Recentemente, o Ibama emitiu parecer técnico sobre a aplicação do Tiametoxam através da pulverização aérea (Parecer Técnico Final – SEI Ibama Nº 17732614), devido ao risco de agressão aos polinizadores, algo que não ocorre quando o meio de aplicação está enterrado. n
O plantio mecanizado versus a
mão de obra
A agricultura atual vive uma etapa já além da automação. O monitoramento de dados de todas as operações agrícolas visando não só repetibilidade, que sempre foi uma função básica da automação, porém agora se autoajustando, identificando alteração do ambiente, o modo de operar e as variáveis diversas que servem para tomada de decisão trazem cada vez mais rendimento, redução de desperdício e controle do tempo real de trabalho versus tempos ociosos, tornando o ambiente agrícola um dos mais tecnológicos.
Toda essa mudança benéfica hoje já vemos sendo aplicada na cultura da cana-de-açúcar, porém num ritmo ainda mais lento que em outras culturas como grãos, por exemplo. Vem também ao encontro dos desafios da disponibilidade de pessoas (mão de obra).
Uma frase que já ouvimos bastante no meio é “a mecanização na cana é um caminho sem volta”. Pessoalmente concordo. Hoje, diferentemente de uns 8 ou 10 anos atrás, vejo um envolvimento muito grande dos usuários da tecnologia (máquinas, implementos, softwares, etc.) com os fabricantes. Essa junção tem feito acelerar os desenvolvimentos dos equipamentos que suprem essa lacuna antes utilizada fortemente por mão de obra braçal.
Uma frase que já ouvimos bastante no meio é que 'a mecanização na cana é um caminho sem volta' "
Merquisson Sanches
Gerente de Operações Brasil da TT do Brasil
Os relatos em qualquer parte do país, seja no Centro-Oeste, no Centro, ou Nordeste, em sua maioria, são os mesmos – está muito difícil ampliar o número de funcionários ou ainda repor os que se aposentam. Tive oportunidade de falar sobre isso com muitas usinas em locais diferentes do mundo, e o problema é o mesmo. Em uma conversa com uma usina da Guatemala, por exemplo, dias atrás, citou-se que o problema imigratório é gigante, além das dificuldades com a legislação local.
Quando olhamos para cana-de-açúcar e dividimos as operações agrícolas basicamente em 4 fatias (preparo de solo, plantio, tratos e colheita), três delas já são implícitas que serão feitas de forma mecanizada, porém uma delas, o plantio, é a que vemos viver em ondas. Ora aumentando seu percentual mecanizado ou semimecanizado, ora retraindo se utilizando de mão de obra para essa tarefa. Hoje, existem diversos fabricantes de implementos para essa função que podem ajudar o setor a mitigar esse receio de plantar mecanicamente, porém as pessoas que vão operar esses equipamentos, bem como
todos que rodeiam essa atividade, devem estar sempre buscando uma melhor qualificação, seja ela formação interna, treinamento ou até uso de formação externa, seja nível técnico ou superior para operar equipamentos que têm um valor econômico importante.
Um ponto de destaque a ser analisado é a viabilidade econômica de uma plantadora frente ao tamanho da área da propriedade. Muitos pequenos produtores somente realizam parte de sua operação agrícola, deixando a colheita principalmente sob responsabilidade da usina para a qual entregam a cana produzida. Dessa forma, a introdução de plantio mecanizado nessas áreas trafega por três caminhos: a própria usina planta para eles, utilização de prestadores de serviço ou uso de máquinas de pequeno porte que demandam tratores menores para essa operação. Existem opções de máquinas mais compactas que ainda necessitam de pessoas operando e máquinas de uma linha totalmente automatizada que necessitam de tratores em média de 140cv.
Tenho visto uma grande quantidade de produtores que têm buscado plantadoras no mercado para atender à sua demanda, porém atuando fortemente em prestação de serviço, com isso gerando um negócio paralelo que facilita muito viabilizar o custo de introdução dessa tecnologia.
Fazendo um paralelo entre o passado e a atualidade e olhando um pouco a frente, a mecanização no plantio de cana vai chegar a todos. Seja como hoje com plantio de tolete, seja algum dia com plantio de semente, o que vai diferir os resultados do passado e dos hoje alcançados é o usuário entender o sistema.
Para o plantio de cana de forma mecanizada não basta simplesmente ter uma plantadora.
Os projetos passam por sistematização da área de forma adequada ao plantio, preparo de solo adequado, utilização de canterizadores onde é tecnicamente favorável e assim por diante. Uma das atividades mais importantes para sucesso é a colheita de muda, e ainda hoje vemos baixa qualidade nessa atividade com índices elevados de danos em gemas. E um dos pontos principais é a não existência de colhedora específica para muda. Todas são adequadas internamente com alguns artifícios para melhorar a operação.
Mas e a tão falada plantadora? Como ela pode nos ajudar?
Existem alguns fabricantes no mercado, com diferentes conceitos de projeto de máquina
e naturalmente modelos distintos, que entregam um bom trabalho quando se cuida dos pontos mencionados acima do artigo, porém alguns quesitos são sempre muito questionados como:
• alto consumo de mudas;
• pelas falhas durante a plantação e sobretudo pela falta de uniformidade na distribuição;
• falta de paralelismo na plantação – as plantadoras muitas vezes não circulam por onde o trator está circulando.
Esses pontos oscilam seu nível de importância ao longo do tempo.
Esses problemas vêm sendo cada vez mais minimizados com os avanços das plantadoras que estão constantemente em evolução, através do uso de novas tecnologias.
Mas aqui faço uma ressalva: tecnologia não é somente a utilização de eletrônica e software, a mecânica necessita acompanhar toda essa evolução. Imaginemos pegar um veículo antigo e querer colocar recursos eletrônicos e ferramentas de software. Efetivamente não funcionaria. Todos os dispositivos mecânicos, hidráulicos, etc. devem estar alinhados com as funcionalidades que se deseja. Aonde quero chegar? Dificilmente, pegar um equipamento antigo e dar um “banho” de eletrônica nele transformará significativamente o resultado.
Quem entendeu esse caminho, hoje pode se beneficiar dos avanços tecnológicos, obtendo acesso em tempo real a informações, registros de todas as operações, registros de alarmes, poder interpolar essas informações e relacioná-las para melhoria dos processos. A Internet das Coisas é uma realidade, a conectividade gerada por algumas plataformas de dados, como John Deere com o Operantion Center ou Solinfitec, já possuem interface com plantadoras do mercado.
Para finalizar, deixo como mensagem a seguinte opinião: as oportunidades de melhoria tanto em equipamentos ou processos são enormes, seja para expandir os limites operacionais das plantadoras (exemplo: áreas de declives), seja para melhorar o plantio em bordaduras ou ainda se pudéssemos começar a pensar em micro renovação planificada com máquinas que pudessem realizar em larga escala replantio eficiente de áreas com falhas após operação de colheita, gerando maior longevidade de canavial. Mas só esse ponto daria uma nova matéria para ser discorrida.
Nos vemos nos canaviais Brasil a fora. n
O futuro da agricultura sustentável:
tecnologia e mão de obra
O setor sucroenergético desempenha um papel crucial na economia global, fornecendo alimento e energia. No entanto, um dos principais desafios enfrentados pelos produtores e fornecedores de cana tem sido a mão de obra nas propriedades. As etapas de manejo dos canaviais, em grande parte, são historicamente intensivas em mão de obra. Em todo processo produtivo, as questões relacionadas à qualidade do trabalho são o objeto de atenção plena dos produtores.
Desde o plantio, manejo de pragas ou mesmo gestão administrativa, todas essas etapas dependem de pessoas. Neste contexto, o desenvolvimento de tecnologias para melhoria do trabalho no campo deve ser foco do setor e de investimentos do governo. Há vários anos, a colheita mecanizada mostrou esse caminho, entretanto, temos muito a fazer em outras atividades relacionadas à cultura. O plantio mecanizado, por exemplo, após regressão em 2017/2018 por problemas operacionais e desempenhos ruins, tem voltado a ser adotado largamente pelos produtores e melhorado a cada dia. Entretanto, muitos desafios persistem para impulsionar a atividade.
A dificuldade operacional, o alto uso de mudas, os impactos na brotação e a baixa qualidade nas operações têm sido barreiras técnicas para avançarmos nessa transformação. Uma atividade incorreta ou com baixa qualidade atinge diretamente a produtividade e estabelecimento de todo o canavial para os próximos 5 anos. Se não bastasse isso, áreas com relevo acidentado têm sido também um grande desafio para a atividade.
Ao investir em inovação e capacitação, os produtores podem aumentar a eficiência e promover o desenvolvimento econômico e social das áreas rurais. "
100%
100% de sucesso em mais de 200 projetos em tratamento de água para caldeiras e cogeração
caldeiras e cogeração
• Projetos customizados junto ao cliente
• Mais de 2 mil projetos implementados em todo Brasil
• Controle de qualidade em todas as etapas do projeto
• Estações pré fabricadas para montagem in loco
• Fábrica própria em local estratégico
• Parceiros e fornecedores nacionais e internacionais
• Equipamentos confiáveis e duráveis, com o melhor custo benefício comprovado no mercado.
Máquinas plantadeiras automatizadas poderiam aumentar significativamente a eficiência do plantio, reduzindo a necessidade de mão de obra manual e aumentando a precisão e uniformidade da semeadura.
Entretanto, para caminharmos em um mundo robotizado e substituir tarefas repetitivas por máquinas, precisamos de um ambiente de desenvolvimento de tecnologia no Brasil, para isso acontecer.
É necessário investir em diversas áreas. Uma delas é o desenvolvimento de programas de robotização no campo, veículos autônomos e tecnologia de ponta. Após isso, capacitação e treinamento que abordem não apenas as técnicas agrícolas, mas também aspectos como segurança no trabalho, uso adequado de equipamentos e boas práticas agrícolas. Não somente o setor sucroenergético, mas todos os setores da agricultura sofrem com isso.
Tem-se avançado muito em tecnologias digitais para controle de operações e gestão de dados, mas em hardware, as pesquisas de tecnologia no campo, são realizadas diretamente dentro das empresas e muitas vezes demoram a chegar ao campo ou, quando chegam, necessitam de muitos ajustes.
Essas tecnologias podem ajudar os produtores a otimizar o uso de insumos, reduzir o desperdício e aumentar a produtividade, ao mesmo tempo em que proporcionam uma melhor qualidade de vida para os trabalhadores. Não somente no plantio de cana, mas em toda atividade. Sem uma diretriz e investimentos vultuosos nesse sentido, certamente adotaremos o que for realizado em pesquisas em outros países de clima temperado, como EUA, Alemanha, Japão ou mesmo Itália, pagando mais e necessitando dos mesmos ajustes.
O desenvolvimento de tecnologias para melhoria no plantio mecanizado e a utilização de mão de obra são fundamentais para impulsionar a sustentabilidade e competitividade do setor sucroenergético. Ao investir em inovação e capacitação, os produtores podem não apenas reduzir os custos operacionais e aumentar a eficiência, mas também promover o desenvolvimento econômico e social das áreas rurais. Assim, a agricultura do futuro será mais sustentável, eficiente e inclusiva, beneficiando tanto os produtores quanto a sociedade como um todo. n
Tradição e tecnologia:
uma combinação de alta performance
Ao longo de sua história, a São Martinho se destaca não apenas pela sua longevidade, tradição e solidez, mas também pelo pioneirismo na adoção de um modelo de produção sustentável baseado em tecnologia e inovação, viabilizado pelos seus constantes investimentos nestes temas, que a tornam referência em excelência operacional.
A Companhia está atenta às tecnologias que potencializem seus resultados, adotando-as de maneira rápida e antecipada. Alguns exemplos são a produção de Mudas Pré-brotadas (MPB), o preparo de solo com o canteirão localizado, a utilização de bioinsumos, a aplicação de vinhaça localizada e a otimização da nutrição do canavial pelo uso eficiente de coprodutos industriais, reforçando a economia circular e promovendo reciclagem de nutrientes.
A São Martinho é um grande caso de sucesso na adoção de manejos sustentáveis, em favor da agricultura regenerativa.
A São Martinho é um grande caso de sucesso na adoção de manejos sustentáveis, em favor da agricultura regenerativa. "
Luís Gustavo Teixeira
Diretor Agrícola e de Tecnologia da São Martinho
A utilização de bioinsumos para o controle de pragas ocorre há mais de quatro décadas, por meio de biofábricas internas que produzem inimigos naturais liberados no campo via drones, tendo como base o Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Em parceria com a FAPESP e UNESP, a São Martinho criou o Centro de Pesquisa em Engenharia Fitossanidade em Cana-de-Açúcar (CEPENFITO), que visa desenvolver pessoas e manejos por meio de pesquisas e tecnologias, sempre avaliando modelos sustentáveis, uma vez que 85% do controle de pragas da Companhia é biológico. A São Martinho possui uma vasta linha de trabalhos que visam o aumento do resultado financeiro de maneira sustentável.
Dentre eles, se destaca o desenvolvimento de variedades, por meio das quais a Companhia usufrui de novos patamares produtivos.
Com mais de 200 mil genótipos em avaliação na rede de ensaios da empresa, são selecionadas variedades de potencial biológico superior em relação aos padrões atuais do setor bioenergético, além de identificar como potencializar o resultado das mesmas na lavoura pelo seu posicionamento preciso.
Reforçando o seu pioneirismo, a São Martinho foi uma das primeiras empresas do setor a adotar a mecanização na colheita e no plantio, atuando, com parcerias estratégicas, no desenvolvimento e aprimoramento das máquinas agrícolas, assim como foi pioneira na adoção do uso de piloto automático, que traz vantagens como o paralelismo das linhas de cana-de-açúcar e o controle de tráfego das máquinas em todas as operações agrícolas. Tudo isso somado aos diversos benefícios que o piloto automático propiciou ao longo do tempo, como o avanço no uso das colhedoras de duas linhas, que já é uma realidade para a São Martinho.
A São Martinho sempre realizou o controle operacional de dados. No início, os registros eram feitos de maneira manual e, depois, via computadores de bordo, com recursos tecnológicos disponíveis na época. A atuação da São Martinho se baseia em dados e informações, porém estava-se lendo o “jornal de ontem”. Faltava um ponto de virada para que informações em tempo real e na palma da mão permitissem as tomadas de decisão de manejo no momento ideal para a lavoura. Este ponto de virada veio com a internet no campo.
Em 2015, iniciou-se o desenvolvimento de uma rede de internet inovadora, com boa cobertura e longo alcance, conectando toda a área agrícola. A rede entrou em operação em 2019 com a inauguração do COA (Centro de Operações Agrícolas) da Unidade São Martinho, em Pradópolis-SP. Em 2020, passou a funcionar nas Unidades Iracema e Santa Cruz (ambas em SP) e Boa Vista-GO.
Com três grandes linhas de atuação (planejamento e controle, geotecnologias e
controle operacional), o COA foi inspirado em centros de monitoramento avançado de segurança pública e de espaço aéreo e funciona de maneira ininterrupta, contando com salas projetadas com redundância de internet, de energia e com um moderno videowall que permite que os operadores tenham uma visão panorâmica, integrada e em tempo real de diversas fontes de informação, facilitando a análise de situações, tomadas de decisão e coordenação de ações em tempo hábil.
Assim, o COA gera vantagens e benefícios em toda cadeia de produção, desde a automação das casas de bombas de vinhaça até o uso de sensoriamento remoto, tanto por satélites quanto por drones, na análise de biomassa do canavial, avaliação de falhas e monitoramento fitossanitário nas lavouras, por meio de Inteligência Artificial, identificando avarias e direcionando as equipes para uma atuação localizada e precisa.
O caderno digital de mapas, que cada colaborador pode utilizar em dispositivos móveis com informações na palma da mão, guia os profissionais pelas fazendas, possibilitando apontamentos em campo.
Aliando as inteligências geográfica e artificial, o COA possui um sistema de monitoramento de incêndio, com câmeras de longo alcance e alta resolução, que reconhece e localiza com exatidão os focos, alertando os controladores. O sistema utiliza localização em tempo real dos caminhões de combate a incêndio, direcionando-os para o controle da ocorrência, reduzindo o tempo médio de resposta e o impacto do incêndio nas lavouras.
Com soluções baseadas em um computador de bordo inteligente e conectado, o COA da São Martinho acessa a telemetria das máquinas agrícolas, por exemplo, para monitorar rotação do motor, garantindo o trabalho na faixa de rotação ideal.
A Alocação Dinâmica de Transbordos (ADT) otimiza a logística interna das frentes de colheita, e a Rastreabilidade da Matéria-Prima (RMT) registra todo o processo a partir do corte da cana-de-açúcar até a moenda. Tudo contribuindo para o rendimento e qualidade das operações agrícolas. ;
O uso de tecnologia também é aplicado no cuidado com as pessoas, graças a um sistema que funciona como um anjo da guarda de cada motorista. Câmeras nas cabines dos caminhões utilizam a telemetria e monitoram os comportamentos de direção segura e econômica dos condutores.
Com o uso da Inteligência Artificial, elas identificam fadigas e distrações em tempo real e geram alertas tanto dentro da cabine para o motorista, quanto no COA.
Todas as tecnologias citadas compõem a primeira onda do COA. Os dados são armazenados em um Data Lake para realização de análises avançadas e geração de algoritmos que otimizam os fatores de produção, estabelecendo a segunda onda de desenvolvimento do COA da São Martinho.
O Centro de Tecnologia e Inovação, inaugurado em 2022, gera um ambiente que potencializa a transformação digital na Companhia, sendo um local para que os colaboradores da São Martinho e de empresas parceiras interajam e tenham acesso seguro aos bancos de dados, com cobertura de internet 5G, tecnologia que foi primeiramente explorada, dentro do agronegócio brasileiro, pela São Martinho.
A Companhia possui parcerias com hubs de inovação internacionais como o israelense IBITech e o europeu ENRICH ( European Network of Research and Innovation Centres ) e ainda, em 2021, foi uma das fundadoras do Cubo Agro, uma vertical do Cubo Itaú, que busca impulsionar o empreendedorismo tecnológico por meio da inovação no setor do agronegócio no Brasil e na América Latina.
Na São Martinho, a agricultura se desenvolve baseada em dados e ciência para potencializar o resultado financeiro. Tem como pilares pessoas, gestão e tecnologias, garantindo que todas as práticas e manejos sejam executados com excelência.
Dessa forma, a maturidade dos processos é resultado de uma sólida base, construída desde 1941, e a sofisticação tecnológica vem adicionando continuamente, de maneira pioneira, ferramentas modernas. Assim, a São Martinho usufrui de sustentabilidade em seu negócio e pavimenta seus caminhos futuros. n
da empresa, são selecionadas variedades de potencial biológico superior em relação aos padrões atuais do setor bioenergético.
A realidade digital do
setor bioenergético
Condicionado pelo preço das commodities, o mercado bioenergético sabe muito bem que custos – cerca de 70% ou mais do orçamento de uma empresa do setor – são a principal variável para gestão e condução de suas atividades.
Otimizar custos sem afetar o nível operacional é sempre um desafio para qualquer empreendedor. A busca é incessante por reduzir desperdícios, ser mais preciso, rápido e eficiente e operar de forma sincronizada e antecipada.
Combinar tudo isso não é fácil e envolve obrigatoriamente a articulação do uso de tecnologias, informações e pessoas. Tecnologias aplicadas no controle de operações, altamente dependentes de dados confiáveis, e que são a base para exploração e obtenção de ganhos em cada possível oportunidade.
Procuro, neste artigo, expor um pouco sobre essas inovações e como elas têm contribuído para a redução dos custos agrícolas.
Partimos do básico, que é a mecanização das operações de campo. Algo que dispensa detalhes ante o crescente rendimento e confiabilidade das máquinas e implementos desenvolvidos e lançados a cada nova geração. Contudo, é vital entendermos que a mecanização sozinha não faz milagres. Ela precisa estar aliada ao trinômio “tecnologia, dados e pessoas” para gerar o esperado ganho com sua adoção.
Assim, a primeira alavanca tecnológica essencial para essa missão é uma infraestrutura de sistemas de controle e planejamento para coleta e processamento dos dados referentes a cada etapa do processo produtivo.
Esses sistemas precisam estar totalmente integrados e, idealmente, com seus dados compartilhados em nuvem para suportar o volume cada vez maior de informações e prover uma capacidade escalável de processamento com alta disponibilidade. A gestão baseada em relatórios não é mais capaz de atender à necessidade crescente dos gestores por
para as empresas não basta mais apenas ter cada máquina executando suas atividades com precisão e de forma quase automática.
As operações em campo também precisam ser sincronizadas entre si "
Alexandre Fernandes de Alencar Diretor de Tecnologia da Hexagondados móveis e em tempo real e que permitam uma atuação ativa e mais próxima do campo. Modelos de simulação, com ferramentas de análise e mineração de dados, são utilizados para gerar e otimizar cenários, calculando rotas e sequências ideais para as atividades. Isso os transformou em um elemento central na condução dos planos de safra. Além de ser a principal ferramenta na reatividade a problemas e para a minimização de riscos, ainda na fase de planejamento.
Depois disso, seguimos para a execução das atividades em campo, onde a ligação entre planejamento e mecanização ocorre com a automação de processos. Aqui o controle de máquinas e a agricultura de precisão são os principais agentes atuantes para tornar realidade os ganhos otimizados e simulados em escritório. Ou seja, fazer com que máquinas e drones executem com precisão o plano ideal de movimentos nas operações de plantio, colheita e tratos, aplicando insumos e controlando implementos enquanto monitoram a operação para garantir a redução no consumo de combustíveis e a maximização de tempos operantes.
A tecnologia que propicia isso é a dos computadores de bordo embarcados, instalados para capturar dados de sensores e controlar o posicionamento dos equipamentos por meio de sistemas de navegação que conduzem suas operações com precisão sobre as linhas de plantio.
Ator por vezes invisível, a infraestrutura de campo vem, também, evoluindo de forma significativa em nosso país, trazendo finalmente a realidade do mundo digital para o setor. Nesse ponto, os elementos fundamentais para garantir que a automação das máquinas seja bem-sucedida são o posicionamento e a comunicação. O primeiro, com o uso de antenas baseadas na tecnologia de GNSS (sistema global de determinação de posição e tempo) e apoiadas por sistemas de correção para garantir que a precisão no posicionamento das máquinas chegue à casa de meros centímetros de erro. E o segundo sendo impulsionado pela crescente presença no campo das empresas de telefonia, instalando suas antenas de transmissão e disponibilizando sinal 5G para comunicação de volumes gigantescos de dados em banda larga e em alta velocidade. ;
Muito em breve, transmissão e processamento de vídeos online a partir do campo serão decisivos para a automação, com aplicações de virtualização e percepção de contexto trabalhando integradas tanto localmente nas máquinas, como remotamente nas centrais de controle.
Essas centrais são outra área de forte contribuição da tecnologia para a agricultura bioenergética. As chamadas Salas de Controle têm seu funcionamento totalmente baseado no processamento dos dados de IoT (Internet das Coisas), que são enviados pelos equipamentos e máquinas, e possibilitam que operadores monitorem remotamente, em regime 24x7, tudo o que ocorre em campo, com particular preocupação para a sincronização das operações. Ou seja, para as empresas não basta mais apenas ter cada máquina executando suas atividades com precisão e de forma quase automática. As operações em campo também precisam ser sincronizadas entre si, garantindo, por exemplo, que tratores operem alocados dinamicamente com os movimentos de colhedoras e tendo a matéria-prima transportada por um fluxo de caminhões que garanta o abastecimento contínuo da indústria. Estoque sobre rodas, sem filas, sem esperas, sem máquinas paradas. Reduzindo custos, aumentando eficiência e garantindo um maior retorno sobre o investimento (ROI) feito com a mecanização. As centrais de controle atuam também na gestão de incidentes e segurança operacional. Por meio de sistemas de monitoramento, é possível configurar alarmes que detectam e notificam ocorrências tanto de atividades fora de um padrão esperado, como também violando normas de segurança. Tudo acompanhado sobre mapas digitais, com a localização de cada recurso, e interpolado com dados climatológicos, estatísticos e desenhados para cada processo. Mais além, essa infraestrutura toda já se integra hoje instantaneamente ao celular do gestor, que pode receber notificações imediatas de ocorrências críticas ou que demandem algum tipo de intervenção de sua parte. Garante-se, assim, que máquinas paradas sejam o mais rapidamente possível recolocadas em operação e que problemas não sejam postergados por atraso em sua identificação.
Tendo os processos planejados, automatizados e monitorados, a tecnologia avança, então, para o processamento massivo dos enormes volumes de dados de telemetria e informações coletados das operações em campo.
Nesse ponto, a fronteira da pesquisa ocorre com a aplicação de Inteligência Artificial (IA) e Aprendizado de Máquina no uso desses dados para gerar conhecimento e contribuir ainda mais para ganhos de eficiência nos processos. Surgem aplicações de toda natureza, dentre as quais podemos mencionar a análise de imagens para detecção de doenças e falhas de produção, uso de modelos de previsão de produção e estimativa de safra e a análise preditiva de falhas em equipamentos que permitem antecipar manutenções preventivas. Isso sem contar o uso de todo esse arsenal de ferramentas inteligentes em apoio a ações ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa), em constatação ao papel de vanguarda de nosso setor no cuidado com a natureza, aplicando essas tecnologias também no combate a incêndios, preservação de áreas e biodiversidade e na constante redução de impactos ambientais das operações.
Vemos que a tecnologia de IA também está cada vez mais se integrando diretamente com a automação e o controle de máquinas. Já temos sistemas de monitoramento de fadiga acompanhando as atividades e comportamento de operadores, prezando pela saúde e segurança deles na prevenção de acidentes. O próximo passo está vindo com a implantação de sistemas de percepção nas máquinas, com câmeras e sensores alimentando computadores de bordo com a identificação de elementos no campo. O movimento dos equipamentos passará a ser "vigiado" por essa inteligência embarcada de forma a se evitar colisões e acidentes, além de corrigir posicionamento e rotas ante as situações reais de operação do terreno. Assim, a atual automação de apoio por navegação caminhará rapidamente para uma nova fase em que o controle das máquinas será assistido por esses sistemas, atingindo, possivelmente num médio prazo, a prevista automação plena, com máquinas robotizadas sendo utilizadas, inicialmente, em processos isolados e controlados em que o risco aos operadores justifique sua substituição. Daí para o uso mais generalizado de veículos autônomos será um passo natural e decorrente da evolução da tecnologia e de suas regulamentações.
Mesmo iniciada há muito tempo, essa jornada tecnológica no campo parece estar muito longe de acabar. Cada vez mais poderemos observar inovações sendo introduzidas em nosso setor, sendo animador e desafiante projetar e assistir a como operaremos num futuro não tão distante assim. n
Um futuro possível para
tecnologias agrícolas
Este artigo tem como objetivo apresentar alguns detalhes sobre as tecnologias da Internet das Coisas, o uso de satélites de baixa órbita e apresentação de uso prático dessas tecnologias.
Quando pensamos em tecnologia agrícola, ficam implícitos alguns desafios: prover comunicação de dados em um país com dimensões continentais, interligar diversas tecnologias de fabricantes, atuar em regiões até mesmo sem energia elétrica.
Quanto à comunicação, temos atualmente máquinas e implementos com diversas soluções tecnológicas, mas seus dados não podem ser corretamente tratados ou transformados em inteligência. A principal limitação é a leitura destes dados em tempo real.
Estejamos preparados para criar, reinventar e repensar. Este é o desafio de todos nós do setor. "
Estamos há anos vivendo a ansiedade de uma solução, a muito sonhada, o “campo conectado”, efetivamente funcional e disponível como um produto de fácil acesso.
Seria o 4G, agora somos encantados com o 5G, mas não temos ainda solução efetiva e financeiramente viável sendo ofertada pelas concessionárias de telefonia para prover o campo com comunicações eficientes.
Após anos refém destes cenários, surge a tecnologia que apresenta um cenário bem mais favorável.
A implantação de novos satélites de menor tamanho, menor custo e mais fáceis de serem transportados está revolucionando a comunicação: satélites de baixa órbita ou LEO (Low Earth Orbit), entre eles o mais conhecido comercialmente é o projeto Starlink.
Ariel de Souza Junior
Gerente de Tecnologia da Informação da Usina São Domingos
É um projeto que desenvolveu uma constelação própria e é comercialmente vendida em boa parte do mundo, possui um custo-benefício atraente, e pode ser utilizada em conjunto com outras soluções de comunicações, Wi-fi e Lora Wan.
O mercado está desenvolvendo, e logo teremos outras soluções, entre elas a OneWeb, que é uma operadora controlada pelo governo britânico e pelo grupo Barthi Global, da Índia.
Uma evolução já foi desenvolvida pela Starlink e é chamada “Direct to Cell ”, tecnologia que irá prover a celulares específicos comunicação em tempo real diretamente conectada ao satélite. Com as soluções atuais, fica claro que já temos agora opções comerciais disponíveis para a comunicação em áreas remotas.
Agora vamos mergulhar nas questões das leituras dos dados. Para isto, algumas questões técnicas são pré-requisitos, como a padronização, que é extremamente importante. Independentemente do sistema fornecedor ou produto, o dado tem que ser tratado de igual forma.
A padronização ainda não é uma realidade no setor. A norma ISO 11783, mais conhecida como ISOBUS, especifica o padrão de comunicação para comunicação de máquinas agrícolas. Ela foi iniciada em 1991 e oficializada em 2007.
O protocolo CAN Bus ( Controller Area Network ) é um protocolo baseado em mensagem projetado para permitir que as unidades de controle eletrônico (ECUs) encontradas nas máquinas agrícolas façam registros de variáveis operacionais. Ambos têm como objetivo a definição de um padrão de registros, e assim seria possível a comunicação e interação de maneira confiável e assertiva.
Um exemplo é a evolução da internet. Em 1983, já tínhamos a internet em algumas faculdades e campus, e em cada uma delas era utilizado um protocolo diferente de comunicação. Isso tornava inviável a comunicação entre redes distantes e diferentes.
Uma decisão crucial foi tomada: definiu-se um padrão global de comunicação, hoje conhecido como Protocolo TCP/IP ou simplesmente “Internet Protocol”.
A partir daí foram desenvolvidos hardwares em diferentes países de diferentes marcas, mas com uma única forma de interrelacionamento.
Recentemente, surgiram padrões de troca de informações como XML e APIs, que têm como foco padronizar a troca de informações entre diversos sistemas. Está aí a solução para nosso segundo ponto: temos como fazer uso de APIs para definirmos padrões de dados, para armazenamento e troca entre as tecnologias.
Alguns fabricantes já reconheceram estas limitações e criaram a disponibilização dos dados via APIs como um serviço, o que agrega valor ao produto e ao consumidor.
Vamos falar agora da Internet das Coisas ou The Internet of Things (IoT). Para os usuários, é entendida como uma solução única, mas na verdade é um conjunto de soluções que compreendem sensores, rede de comunicação e historiadores.
A funcionalidade do sensor é capturar dados de uma variável ou até mesmo o seu comportamento. A comunicação, por sua vez, pode ser um merge de tecnologias, redes de curta, média e longa distância, tais como bluetooth, Wi-fi e LoRaWan.
Para completar a solução é necessário o registro de todas as informações capturadas, utilizando para isso o protocolo padrão MQTT, que, na maioria das vezes, é utilizado como um serviço contratado por provedores específicos em nuvem. Logo, é uma solução capaz de registrar e transmitir informações em tempo real a grandes distâncias e das mais diversas origens com apoio de APIs.
Citando alguns exemplos, sensores de solo, capturando temperatura, umidade, pressão barométrica, sensores ultrassônicos para verificar composição dos solos.
O principal poder da internet das coisas está em reunir todas essas informações e formar uma rede de modo que leituras parametrizadas possam gerar análises em tempo real de diversas fontes na agricultura.
A evolução natural dos sensores tem levado a um novo conceito, e surge uma nova sigla M2M (Machine to Machine), ou comunicação entre máquinas, além de sensores, telemetrias e sistemas, e aqui se inclui atuação inteligente, sem necessidade de intervenção humana. ;
Temos atualmente em uso pivôs de irrigação que são capazes de dosar um produto diante das análises de imagem que uma isca artificial identificou e classificou o inseto, bem como o tratamento.
Outro exemplo, uma colheitadeira de cana identificando uma falha mecânica com determinado código de erro, por exemplo, filtro de óleo, efetua a compra do item de forma automática, pois checou que não havia o item no estoque, verificou o contrato de compra parametrizado no ERP e enviou o pedido ao fornecedor.
Tudo isso se conectando com antenas satelitais, trabalhando efetivamente como uma rede única em tempo real, fornecendo informações e recebendo comandos em um ciclo que se retroalimenta para otimizar decisões de forma automática.
Logo, temos uma gigantesca base de dados, dados padronizados e disponíveis, rede para comunicação em tempo real, e sistemas que podem definir qualquer regra para tomada de decisão.
E por que não estamos evoluindo mais rapidamente?
Sistemas atuais estão aptos a tomar decisões sem intervenção humana. Voltando ao exemplo acima, quando apresento a solução de uma máquina fazendo uma aquisição, sou imediatamente questionado, mas ninguém vai aprovar a requisição? Não seria melhor incluir uma “condição” seguindo a lógica do aprovador no sistema?
Estamos discutindo sistemas de computação quântica, enquanto nossos processos seguem uma lógica binária, sem ninguém aprovar “Pare!”.
Já temos tecnologias disponíveis; é necessário rever os processos, repensar a forma como podemos otimizar e reduzir custos.
Temos, então, uma tendência tecnológica que vai gerar oportunidades. Transformações devem ocorrer na alta gestão. Ao reimaginar seus negócios que agora são baseados em novos cenários, podemos testar o novo a custos muito atraentes, validar as hipóteses e implantar o que efetivamente validamos com os resultados efetivos.
Estejamos preparados para criar, reinventar e repensar. Este é o desafio de todos nós do setor. n
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apenas imagine
Imagine se você descobrisse que o médico com o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na manhã seguinte se formou há 20 anos como o melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade de medicina do País. Muito bom, hein?!
Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não leu nenhum livro, nem participou de nenhum congresso, nem teve por costume ler regularmente revistas especializadas da sua área médica. Você faria a cirurgia em paz?
imagine
No que se refere a nossa área, quantas tecnologias foram desenvolvidas e implantadas nessas duas décadas como o estado da arte e, depois de algum tempo, substituídas por uma nova opção, muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar da anterior, até ser igualmente substituída por uma mais nova ainda.
Quantas pragas e doenças apareceram, desapareceram, e algumas até voltaram? Quantas técnicas foram substituídas nesses últimos 20 anos?
Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. A faculdade está sempre atualizada, mas tão somente até o dia da sua formatura. Os livros, igualmente, até o dia da sua publicação. As opções que são continuadamente atualizadas são os congressos e as publicações regulares das áreas.
Conhecendo esse cenário e o que passou a representar nesses 21 anos de operação para as universidades, centros de pesquisa e empresas do sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões decidiu abrir inscrições gratuitas para que todos os estudantes de todos os cursos de agroconhecimento, de qualquer parte do Brasil e do mundo, passem a receber gratuitamente todas as suas publicações.
O objetivo é fazer com que o estudante, desde o primeiro dia de aula, passe a participar da vida empresarial na qual se integrará, em alguns anos, já com atualizado conhecimento do que está sendo discutido, avaliado e implantado nas empresas. Muitos dos executivos e cientistas que hoje escrevem na Revista Opiniões declararam que liam nossas edições desde quando ainda eram estudantes nas universidades.
Ampliando o projeto de educação continuada, decidimos também abrir as inscrições gratuitas para todos os funcionários das áreas técnicas, agrícolas, industriais e administrativas das empresas produtoras e fornecedoras dos sistemas florestal e bioenergético de qualquer parte do Brasil e do mundo.
Todos os artigos da Revista Opiniões têm textos traduzidos para 4 idiomas, quais sejam: português, espanhol, inglês e francês.
O acesso à informação dirigida é a mais eficiente forma de unificar e atualizar o conhecimento entre todos os funcionários em cargos de comando, bem como preparar os funcionários em ascensão para assumi-los. Esta é a mais agradável forma de gerar a educação continuada.
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