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ISSN: 2177-6504
FLORESTAL: celulose, papel, carvĂŁo, siderurgia, painĂŠis e madeira set-nov 2010
a sustentabilidade no sistema florestal
a sustentabilidade do sistema
florestal
índice
brasileiro
06
Editorial de abertura da Edição: André Trigueiro
Jornalista especializado em Gestão Ambiental
Governo:
08 10 12 14 16 18 20 22 42
Claudia Azevedo-Ramos
Carvão e Siderurgia:
24 26
André Loubet Guimarães
Diretor-presidente da Brasil Florestas
Ricardo Berger
28 30
Professor de Economia Florestal da UF do Paraná
Eliezer Martins Diniz
Professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP
Celulose e Papel: Sabrina de Freitas Bicca
Coordenadora de Sustentabilidade Stora Enso Florestal RS
Augusto Praxedes Neto Gerente de Relações Institucionais do Grupo Orsa Francisco Borges Alves Bueno
Gerente de Comunicação e Relacionamento da CMPC Celulose RS
Eliane Sampaio dos Anjos
Gerente de Sustentabilidade da Veracel Celulose
Ensaio Especial: Isac Chami Zugman
Diretor da Lavrasul - Compensados e Laminados
Gerente de Pesquisa e Meio Ambiente da ArcelorMittal BioEnergia
Guilherme Dias de Freitas
Gestor de Meio Ambiente da V & M Florestal
Painéis:
Diretora do Serviço Florestal Brasileiro
Visão Econômica:
Roosevelt de Paula Almado
32
José Luiz da Silva Maia
Coordenador da Divisão de Meio Ambiente da Duratex
Fábio Túlio Lima Cró
Coordenador de Tecnologia e Meio Ambiente da Eucatex
Tecnologia: Pedro de Toledo Piza Consultor de MA e Sustentabilidade da Pöyry Tecnologia
Consultoria:
34 36 38 39 40
Marco Antonio Fujihara Diretor do Instituto Totum de Sustentabilidade
Centro de P&D: Luiz Fernando Schettino
Professor do Dpto Oceanografia e Ecologia da UF do ES
Cláudio Senna Venzke Coordenador de Graduação em Gestão Ambiental da Unisinos José Goldemberg Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP Walter Batista Junior Doutorando em Meteorologia Agrícola na UF-Viçosa
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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Tomaz Caetano Cannazam Rípoli • Xico Graziano
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SAÚDE E BEM-ESTAR
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COMUNHÃO COM A NATUREZA • Otimizamos os benefícios sustentáveis dos nossos produtos, reduzindo nossas emissões de carbono e ampliando a gestão ambiental. PESSOAS E PARCERIAS
• Comprometemo-nos a desenvolver as pessoas e os parceiros em benefício da sociedade.
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editorial editorial
Opiniões
sustentável
para quem
?
Não basta seguir à risca a legislação ambiental para ser sustentável. Ser ecoeficiente nos meios de produção atenua impactos, mas não resolve a questão. A obtenção de selos e certificações confirma o compromisso de fazer o melhor possível, mas fazer o melhor possível nem sempre é o suficiente. É dura a constatação de que a sustentabilidade – entendida como conceito central de um modelo econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça às necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades – ainda é uma utopia. Estamos à procura de um novo modelo econômico que assegure ao mesmo tempo a produção de riqueza bem como a geração de emprego e renda, uma alternativa ao sistema hegemônico no mundo, descrito há quase 18 anos no relatório final da Rio-92 como um modelo de desenvolvimento "ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto". Mas, enquanto as ciências econômicas não perceberem o óbvio – os limites estabelecidos pela capacidade de suporte do planeta e os riscos inerentes ao colapso dos ecossistemas, amplamente denunciados pelas comunidades científica e acadêmica –, continuaremos privilegiando o
"
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crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa "
Opiniões velho e surrado mantra do capitalismo que elege o melhor negócio como sendo aquele que promove a maximização dos lucros no menor intervalo de tempo possível. Evidentemente que isso não é sustentável. O business as usual preconiza horizontes sombrios no longo prazo em detrimento de uma pretensa altíssima taxa de retorno do capital investido no curtíssimo prazo. É preciso fazer uma escolha, como adverte o economista Eduardo Giannetti da Fonseca no excelente livro O Valor do Amanhã (Companhia das Letras, 2005). Trata-se de uma escolha ética, capaz de inspirar novos modelos de planejamento, onde a justa pretensão do lucro se adapte aos novos tempos. Como nos adverte o professor Ladislau Dowbor, da PUC/SP, "crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa". As críticas consistentes ao produtivismo abrem espaço para novos rumos de investigação científica na direção de expressões bastante sugestivas como "decrescimento" ou "retirada sustentável". Qual a civilização que queremos? A que reforça as expectativas de que, para sermos felizes, precisamos consumir, um dia, o que um americano médio possui (mesmo sabendo de antemão que não há planeta suficiente para isso)? Ou podemos almejar outro modelo civilizatório, em que todos tenham direito a uma vida digna e plena, com a satisfação de suas necessidades básicas – alimentação, saúde, moradia, educação, lazer, etc – e a chance de cada um poder desenvolver suas potencialidades? Nessa civilização, os meios de produção seriam capazes de satisfazer necessidades demarcadas por uma realidade inexorável: ou a economia se ajusta aos limites do planeta, ou não haverá planeta para suportar a economia. Os impressionantes recordes do PIB chinês, incensados por quem insiste em perceber a situação econômica de um país a partir de um indicador estreito de percepção da realidade, não embutem externalidades que começaram a preocupar o próprio governo daquele país. A péssima qualidade do ar, a exaustão dos nutrientes do solo, a escassez de recursos hídricos e um regime de trabalho que suprime direitos assegurados na maioria dos países desenvolvidos configuram um mosaico que levou o Congresso do Partido Comunista chinês a reconhecer, em 2007, a importância da “Perspectiva Científica para o Desenvolvimento” e da proposta de desenvolver uma civilização “ecológica”. Como resumiu Fei Yunliang, delegado do PC chinês na ocasião : “O crescimento à custa do meio ambiente e da ecologia violou as normas de desenvolvimento, prejudicou a produtividade e certamente
poderá gerar um retrocesso”. O gigante chinês é hoje o mais fiel retrato desse momento de transição entre dois modelos de desenvolvimento. Se a China já ultrapassou os Estados Unidos nas emissões globais de gases estufa (tal como os EUA, a principal fonte de energia dos chineses é o carvão mineral), também é verdade que o país lidera os investimentos em energia eólica, solar e no chamado “carvão limpo” (clean coal). O que está por trás de toda essa nova cadeia de investimentos na China é o risco de o país perder mercado num futuro próximo, no qual a economia de baixo carbono ganha prestígio e escala, e também o desejo de " A energi. " reduzir o desperdício e a dilapidação do capital natural, já expressos numa conta feita em 2004 pelo regime: naquele ano, a poluição custou à China mais de 3% de seu PIB, algo em torno de US$ 64,3 bilhões. Como se vê, mudar a cultura gerencial, o jeito de fazer negócios e de se planejar os rumos de uma empresa não são uma opção, uma alternativa ou Ferno um capricho. EsFormer sa nova dimensão ética já é realidade onde exista a compreensão de que aquilo que não for bom para todos não será bom para ninguém.
André Trigueiro
Jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News, e comentarista da rádio CBN
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governo
Opiniões
a sustentabilidade da
madeira tropical
Em 2006, o Congresso aprovou a lei 11.284, a lei de Gestão de Florestas Públicas, cujo aspecto mais relevante foi estabelecer que as florestas públicas (FP) devem permanecer florestas e públicas. Até 2009, o Cadastro Nacional de Florestas Públicas cadastrou 211 milhões de ha. Destas, 93% encontram-se na Amazônia. Isso trouxe ao Estado enorme responsabilidade em relação à gestão e ao papel estratégico das FP na economia e no bem-estar socioambiental do País. Embora negado pelo modelo de desenvolvimento aplicado à Amazônia, é preciso insistir em que a vocação da região é florestal e em que seus recursos podem ser os principais vetores do desenvolvimento. Ainda que o setor de base florestal no Brasil colabore com 3,5% do PIB do País, 5,2% das exportações (US$ 7 bilhões em 2006) e 12,6% do superavit comercial do País (fonte: IBGE), o potencial de 80,5% de estoque de biomassa acima do solo da Amazônia brasileira ainda não foi devidamente aproveitado. Entre essências, óleos, látex, fármacos, frutos e outros, a madeira é, ainda, a estrela principal. É fácil vislumbrar o papel estratégico da madeira tropical para o País. Estudo recente do Serviço Florestal Brasileiro e do Imazon indica que 79% da madeira processada na Amazônia, em 2009, foi destinada ao mercado interno, especialmente, São Paulo e Nordeste. A receita bruta foi de R$ 4,9 bilhões, com uma demanda em torno de 14 milhões de m3 de madeira em tora. Considerando que, em 2004, esses números eram bem maiores (R$ 6,7 bilhões; 24,5 milhões de m3), estamos bem abaixo do potencial. O acirramento da fiscalização e a proibição, em 2003, de autorização de novas explorações pelo Ibama, já que algumas aconteciam em FP, contribuíram para a queda na produção. Nesse cenário de estrangulamento da madeira ilegal e de empresas atuando majoritariamente de forma predatória e clandestina, o Estado foi obrigado a oferecer uma alternativa viável e sustentável. A mesma lei 11.284 buscou conciliar atividade econômica e sustentabilidade socioambiental ao permitir o uso de concessões florestais e de serviços em terras públicas. Por esse dispositivo, o direito ao manejo de recursos florestais é repassado – de forma onerosa e competitiva – a um ente privado por um período de até 40 anos, mantendo
as florestas e as terras sob domínio público. Os recursos financeiros advindos das concessões retornam, por lei, ao desenvolvimento e à conservação florestal. Atualmente, existem 145 mil ha de Florestas Nacionais (Flonas) em regime de concessão e 535 mil ha em editais de licitação. As transformações consequentes já são visíveis. Por exemplo, a melhoria da capacidade empresarial e operacional das empresas para atender aos contratos. Com o acúmulo de concessões, a consequência inexorável é a modernização do setor. As empresas precisam, entre outras coisas, usar técnicas de exploração de baixo impacto, agregar valor à matéria-prima, promover pesquisas, respeitar normas trabalhistas, gerar empregos locais e se submeter a auditorias independentes. Municípios abrangidos pelas concessões também demonstram mudanças ao se adaptarem para recepcionar uma atividade econômica estável, novas indústrias e novos postos de trabalho. Adicionalmente, concessionários que investirem em benefícios sociais e infraestrutura no município recebem abatimento no valor devido à concessão. Essa movimentação na economia pode alcançar repercussão relevante, pois as concessões florestais, em regra, ocorrem em regiões deprimidas economicamente. Nesse sentido, a produção florestal sustentável alimentaria um setor dinâmico, trazendo emprego, renda, indústrias, pesquisa e tecnologia para a região. Milhares de pequenos produtores florestais poderiam também se beneficiar desse mercado ativo. Atualmente, as Flonas com potencial para concessão na Amazônia somam 10,7 milhões de ha. Considerando uma demanda de madeira em tora de 14 milhões de ha/ano e uma produtividade de 18m3/ha, apenas 21% dessa demanda seria atendida. Para atingirmos 70% da demanda, é preciso mais que triplicar as áreas existentes. Embora outras FP estaduais e privadas possam ajudar a completar essa conta, é imperativa uma decisão estratégica em relação aos ativos florestais naturais e à convergência de políticas públicas nessa direção. A conversão de florestas em atividades econômicas predatórias manteve a região respondendo por apenas 8% do PIB e não beneficiou os mais de 10 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. O modelo de desenvolvimento alternativo deve ter a população e os ativos florestais como seu foco principal. Aqui, só falamos de madeira.
" embora negado pelo modelo de desenvolvimento aplicado à Amazônia, é preciso insistir em que a vocação da região é florestal e em que seus recursos podem ser os principais vetores do desenvolvimento " Claudia Azevedo-Ramos
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Diretora do Serviço Florestal Brasileiro
Produzir mais, conservar mais e ajudar a melhorar vidas. Esse ĂŠ nosso compromisso.
Produtos e tecnologias sustentĂĄveis
Responsabilidade ambiental
Projetos socioambientais integrados Ă s comunidades locais
visão econômica
Opiniões
Brasil, florestas, negócios e meio ambiente A humanidade não vai destruir o planeta Terra, por mais que tente. Vai, no máximo, destruir a si própria, levando consigo algumas espécies, mas jamais eliminará a vida neste cantinho azul do universo. Imaginarmo-nos como um fator determinante para a extinção de espécies e o fim da vida em nosso planeta é, no mínimo, presunção, para não dizer arrogância. Ou, como dizia Roberto Campos, “arrognância”, neologismo híbrido de arrogância com ignorância. Se a existência da Terra tivesse apenas 24 horas, a vida teria tido seu início às 5:15 da manhã. Ao meio dia, a primeira grande extinção de espécies ocorreu, causada por aumento súbito dos teores de oxigênio na atmosfera. Às 22:40, os dinossauros surgiram e, às 23:40, foram extintos. O homem moderno surgiu há 4 segundos e aprendeu a fazer agricultura há 0,1 segundos atrás. Há 1 centésimo de segundo, portugueses e espanhóis se lançavam ao mar para descobrir as Américas e rotas para a Ásia, sem ter a menor noção do que iriam encontrar. Apesar da ansiedade existente em muitos setores da sociedade, faz muito pouco tempo que percebemos os limites de nosso planeta. Foi só no pós Segunda Guerra Mundial (0,001s atrás), que a humanidade começou a se aperceber de que o planeta e seus recursos são limitados. Há 30 anos (0,0006s atrás), a humanidade cunhou o termo “desenvolvimento sustentável”, permitindo à espécie humana lançar as bases para o futuro da própria espécie.
Florestas são determinantes para o clima do planeta, por meio da produção de umidade e pela sua cor escura, que absorve os raios solares. Florestas formam o maior depósito de carbono na crosta da Terra, tendo, portanto, um papel fundamental no combate às mudanças climáticas. Ainda, matas naturais e plantadas protegem a fauna nativa e contribuem para a produção agropecuária, com os quebra-ventos, lenha e abrigos para animais contra o frio e a umidade. Porém, mesmo com uma função tão estratégica para a vida no planeta, em especial a humana, as florestas são ainda objeto de grandes preconceitos. “O eucalipto seca o solo”, “árvores exóticas agridem a flora nativa”, “florestas plantadas são um mal, pois não produzem alimentos”, “manejo sustentável de matas nativas é impossível” são algumas das injustiças lançadas sobre uma atividade produtiva rural como qualquer outra – soja, gado, frutas. O Brasil, apesar de ter nome de árvore e 5 de seus 6 biomas serem florestais, ainda não aprendeu a tratar florestas como um assunto estratégico para o País e sua sustentabilidade no longo prazo. Hoje temos uma base florestal forte, porém muito voltada para a produção de celulose e carvão. Um pequeno percentual é dedicado a serrados e à produção de painéis. Ainda assim, importamos parte dos painéis, e mais de 50% do carvão vegetal produzido são feitos de forma criminosa, por roubo de madeira de fazendas florestais e do desmatamento ilegal.
" florestas formam o maior depósito de carbono na crosta da Terra, tendo, portanto, um papel fundamental no combate às mudanças climáticas "
André Loubet Guimarães Diretor-presidente da Brasil Florestas
Pagamos um preço alto por tal aprendizado. Destruímos florestas, degradamos rios e lagos, desertificamos terras, poluímos oceanos e contaminamos a atmosfera. Algumas dessas “lições” causaram danos irreversíveis, como a perda de espécies da fauna e flora, muitas das quais sequer chegamos a conhecer. Mas, sem sombra de dúvida, a natureza encontrará novos caminhos e soluções para manter a vida. Nós, os seres humanos, é que temos que nos preocupar com nosso futuro. A atividade florestal, em sua acepção mais ampla – florestas plantadas, manejo florestal de matas nativas, recuperação florestal, dentre outras áreas –, possui um papel central na mitigação de grande parte dos problemas que a humanidade causou a si própria nos últimos milênios. Além dos negócios florestais e seus benefícios diretos, já amplamente conhecidos e estudados, uma floresta é o que mais se assemelha a uma fábrica de água. Florestas protegem os cursos d’água do assoreamento e ajudam a despoluir rios e lagos, contribuindo para a disponibilidade do recurso.
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O manejo sustentável de nativas na Amazônia praticamente inexiste, visto que mais de 80% da madeira produzida na região não possui qualquer tipo de controle. Tal contrassenso fica ainda mais evidente quando confrontamos os dados de nossa base florestal (6,5 milhões de ha de florestas plantadas) com a área degradada, por exemplo, no bioma Mata Atlântica (cerca de 30 a 40 milhões de ha). Se não equacionarmos esse problema/oportunidade, seguiremos perdendo mercados, divisas, biodiversidade, terras, água, clima e outros fatores fundamentais para a vida e a prosperidade de nosso País. Por que não criamos incentivos, financiamento adequado, assistência técnica e outras ferramentas para ampliar e tornar mais diversificada nossa base florestal? Por que não conseguimos entrar num consenso para estimular a restauração florestal voltada para a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade? Por que não chegamos a um acordo sobre manejo florestal na Amazônia? Com a palavra, 200 milhões de cidadãos e 120 milhões de eleitores.
visão econômica
desenvolvimento
sustentável
" Previsões incorretas sobre o futuro dos recursos naturais não foram um privilégio de Malthus. Frequentemente, ocorrem chuvas de previsões catastróficas sobre o fim da humanidade. "
Ricardo Berger Professor de Economia Florestal da Universidade Federal do Paraná Colaboração: Alexandre Nascimento
A natureza limitada dos recursos naturais associada às necessidades ilimitadas do ser humano tem levado muitos pesquisadores a se preocuparem com uma falta de bens e serviços para futuras gerações, trazendo à tona críticas aos atuais padrões de desenvolvimento. A preocupação com a escassez de recursos não é assunto de hoje. No fim do século XVIII, Thomas Malthus, verificando que o crescimento da população vinha ocorrendo a uma taxa maior que o crescimento de alimentos, já preconizava o caos social, caso não fossem adotadas medidas drásticas de controle de natalidade. Como se fala nos dias atuais, o colapso mundial seria inevitável. A população do planeta não cresceu conforme suas previsões. A produção de alimento superou as expectativas, levando as suas previsões a um fracasso. Apesar do insucesso das previsões de Malthus, as suas ideias continuaram fortes ao longo do tempo através do "neomalthusianismo" e "ecomalthusianismo" os quais, no seu âmago, defenderam e defendem a mesma ideia de Malthus, ou seja, um desenvolvimento sustentável. Previsões incorretas sobre o futuro dos recursos naturais não foram um privilégio de Malthus. Frequentemente, ocorrem chuvas de previsões catastróficas sobre o fim da humanidade. Na década de setenta, havia um claro consenso sobre o fim do petróleo já no início do século XX. No entanto o mundo vivencia, a cada dia, novas descobertas de petróleo. No Brasil, o Pré-Sal. Outro exemplo é a previsão, pelas Nações Unidas, de colapso de água já no ano de 2025. Na área florestal, a sociedade brasileira ficou abalada, na década dos sessenta, com o fim das florestas de pinheiro do Paraná. Não haveria mais madeira nem para se fazer uma cadeira. O País sobreviveu! Nos anos 2005/2006, todos falavam no “Apagão florestal”. Era eminente o fim das indústrias de madeiras processadas mecanicamente. Essas indústrias, hoje em dia, estão vivenciando problemas sim, mas não por falta de madeira.
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Apesar de passados 200 anos da teoria de Malthus, as previsões atuais seguem a mesma base de raciocínio, ou seja, são fundamentadas a partir de um descompasso entre crescimentos passados do consumo e da produção de um determinado recurso. Assim, caso o crescimento do consumo ocorra em uma magnitude maior que a produção, entende-se que se caminha para um colapso. Obviamente, o conhecimento do presente e do passado não confere o status de vidente a nenhum pesquisador, por mais sofisticado que sejam os métodos e modelos quantitativos utilizados. Qualquer previsão de um futuro distante não passa de adivinhação. Até então, as falhas ocorridas nas previsões referentes ao colapso ambiental ocorreram principalmente por uma subestimação do mercado, como regulador da atividade econômica, da falta de confiança na mão invisível de Adam Smith. Apesar de aparentemente simples, não é demais relembrar como o mercado trata escassez. Economicamente falando, escassez ou falta de sustentabilidade é quando a quantidade demandada é maior que a quantidade ofertada, levando a um aumento constante e temporal no preço do recurso ou do produto. Assim, em economia, a sustentabilidade está associada à escassez ou ao aumento do preço. Se isso não ocorre, é porque o bem não é escasso. É sustentável, pelo menos no curto prazo. No entanto, se os preços reais estão caindo, o recurso é abundante; a sua sustentabilidade está garantida por algum tempo. A sustentabilidade pode ser alcançada se os preços reais flutuam muito pouco dentro de um horizonte de tempo. É inegável a contribuição que o mercado teve para que a raça humana chegasse até os dias de hoje. Não há dúvidas de que a possível pressão de um aumento de preços dos alimentos na época de Malthus, bem como o alto preço que o monopólio da OPEP impôs ao petróleo na década de setenta, viabilizaram o desenvolvimento de novas tecnologias,
Opiniões proporcionando um aumento geométrico da produção desses recursos. Da mesma forma, a constante preocupação com a falta de água nos dias de hoje já deve estar levando muitos empreendedores a buscarem soluções e, quem sabe, uma nova técnica de dessalinização em larga escala. A escassez de madeira de pinheiro no Sul do Brasil foi eliminada com o uso de novas essências florestais. Da mesma forma, a criação de novos produtos, tais como chapas de MDF e OSB, está possibilitando a substituição de madeiras sólidas oriundas da Amazônia. Na verdade, o problema do mercado não está no seu mecanismo de regulação; este é muito eficiente. Certamente, um aumento de preço vai levar a uma redução do consumo ou a um aumento da produção ou os dois ao mesmo tempo. O problema está na falta de informações que levem a um julgamento tendencioso sobre o que está se tornando escasso e insustentável e o que não está. A contínua elevação dos preços permite que se abram espaços para a adoção de novas tecnologias, visando à substituição de recursos ou à obtenção de uma máxima eficiência no seu uso. Esta tem sido e será uma linha de trabalho para a sustentabilidade dos processos produtivos. O aumento de preços favorece a adoção de tecnologias e a redução ou mesmo a substituição parcial ou total de recursos. Não há dúvidas de que o mercado possui força suficiente para evitar o colapso de qualquer recurso. Isso pode ser alcançado através da expansão da oferta ou via consumo, pela redução brusca da demanda. Para manter a sustentabilidade dos recursos, ações estratégicas devem ser focadas não somente para com o lado da oferta, mas também, e
Tecnologia e inovação.
principalmente, com relação à demanda. Aqui, cabem duas considerações. A primeira diz respeito à renda da sociedade. Quanto maior a disponibilidade da capacidade financeira, maior o interesse em adquirir bens e serviços. Em sociedades menos desenvolvidas (elevada propensão marginal ao consumo), aumentos de renda se refletem em consumos maiores de recursos. Desenvolvimentos tecnológicos, ao criarem soluções para a redução e/ou substituição de recursos, também criam condições para a produção de novos bens e serviços. Gera-se um efeito virtuoso de crescimento e de pressão sobre os recursos. No entanto, existe outro efeito atuante sobre a demanda: o contínuo aumento e concentração do tamanho das sociedades. Os recursos são finitos, mas os desejos das sociedades continuam em crescente desenvolvimento. Essa pressão compromete de forma rápida a sustentabilidade dos recursos. Deixar para as forças do mercado (preços) e para o desenvolvimento tecnológico a adequação da sustentabilidade dos recursos, sem uma ação sobre o crescimento populacional, é uma aposta muito alta para as sociedades. Enfim, o mercado não é perfeito. Falhas na alocação de recursos ocorrerão, e, junto com elas, problemas ou crises ambientais sem proporções globais continuarão acontecendo, penalizando algumas pessoas e forçando a mudanças de atitudes de todos. O importante é buscar adquirir informações de forma a não permitir que interferências ambientais inconsistentes tirem a competitividade do País na geração de riqueza e, por outro lado, buscar aproveitar as novas oportunidades “verdes” existentes.
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visão econômica
Opiniões
Sustentabilidade:
a ótica do economista
Sustentabilidade é sinônimo de desenvolvimento sustentável, conceituado como aquele que “satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades” (World Commission on Environment and Development. Our Common Future. Oxford University Press, 1987). Essa definição clássica mostra o que diferencia o desenvolvimento sustentável: procurar levar consideração de forma equitativa às gerações presente e futura. Uma outra forma de expressar o mesmo ponto é dizer que o desenvolvimento sustentável combate a desigualdade entre gerações. Neste artigo, procuramos traçar a busca do combate às desigualdades e mostrar sua relação com a sustentabilidade.
Essa medida mais ampla leva em conta a desigualdade de renda e a longevidade dos indivíduos ou, em outros termos, a desigualdade na qualidade e na quantidade de vida. Levando em conta o período após a Segunda Guerra Mundial, os autores chegam à conclusão de que a saúde contribuiu para reduzir significativamente a desigualdade do bem-estar entre países, qualificando o resultado visto anteriormente. A sustentabilidade entra nesse ponto para conferir outra dimensão ao estudo da desigualdade: o combate à desigualdade entre gerações. Inicia-se, tal como seu precursor, em um contexto de um único país. Uma vez que o comportamento típico de um país ao longo do tempo é o crescimento da renda por trabalhador, não faz sentido pensarmos em uma igualdade
" A próxima etapa da sustentabilidade é a passagem para uma análise que considere a desigualdade entre gerações no plano mundial. Grandes barreiras deverão ser vencidas. "
Eliezer Martins Diniz Professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP
Até recentemente, os economistas preocupavam-se apenas com a desigualdade de renda em uma geração de um único país, medida que refletiria diferenças na qualidade de vida. Eram estudadas políticas para reduzir a desigualdade de renda, sem que isso tivesse impacto sobre o desenvolvimento econômico. Com isso, pretendia-se explicar o comportamento refletido pela hipótese de Kuznets, segundo a qual, após uma primeira fase de desenvolvimento com aumento da desigualdade, teríamos condições para que a desigualdade diminuísse, mesmo com a continuidade do desenvolvimento. Essa visão simplista da desigualdade referente a uma geração de um único país foi ampliada por Bourguignon e Morrison (Bourguignon, F.; Morrison, C. Inequality Among World Citizens: 1820-1992. American Economic Review v. 92, 2002), que analisam a desigualdade no mundo e a decompõem em desigualdade dentro dos países (a ótica da desigualdade vista até então) e desigualdade entre países. Constatam um aumento da desigualdade mundial no período 1870-1992 que se deve, basicamente, a um aumento da desigualdade entre países, uma vez que a desigualdade dentro dos países diminui ao longo do tempo. Em Becker, Philipson e Soares (Becker, G. S.; Philipson, T. J.; Soares, R. R. The Quantity and Quality of Life and the Evolution of World Inequality. American Economic Review v. 95, 2005), passa-se a considerar uma medida de desigualdade do bem-estar.
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de renda entre gerações. Mas a sustentabilidade procura assegurar que haja uma igualdade de condições para obtenção da renda pelas gerações futuras, o que se traduz em uma preservação do meio ambiente. Este é formado por recursos naturais finitos (petróleo, minérios) e um capital natural limitado, mas renovável (florestas). Além disso, os processos industriais produzem poluentes e resíduos que prejudicam o meio ambiente, o que se soma aos problemas decorrentes do uso da terra e da mudança no uso da terra. Por isso, temos que encontrar políticas ambientais que deem incentivos e, se necessário, obriguem os indivíduos a uma maior conservação do meio ambiente. Esse é o pano de fundo da discussão. A próxima etapa da sustentabilidade é a passagem para uma análise que considere a desigualdade entre gerações no plano mundial. Grandes barreiras deverão ser vencidas. Por exemplo, as discussões relativas à mitigação da mudança do clima são pautadas por argumentos de que os países responsáveis pelo atual estoque de gases de efeito estufa deveriam se responsabilizar pela mitigação, não impedindo os países em desenvolvimento de se desenvolverem tal como fizeram os países desenvolvidos no passado. Os que utilizam esse raciocínio deixam de enxergar dois pontos: primeiro, problemas globais são resolvidos com ações globais; segundo, é preciso pensar a sustentabilidade como um combate às desigualdades entre gerações do planeta como um todo. Chegar a essa consciência é o desafio que está diante de nós e do qual não podemos escapar.
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a essência da
sustentabilidade
A provocação para falar sobre sustentabilidade me faz pensar no início da minha carreira profissional. Como psicóloga, fui preparada para tratar de doenças psicossomáticas e, não sei por que combinações de caminhos, talvez puro acaso, fui trabalhar com educação ambiental em uma fábrica de celulose e papel. No lugar das neuroses e dos transtornos de personalidade, precisava entender o que era importante em um ecossistema, de modo a poder sensibilizar outras pessoas quanto à relevância da biodiversidade, dos riscos da degradação do solo, de nossas interferências sobre a disponibilidade hídrica. Foi difícil, no princípio, porque era um olhar diferente sobre o contexto em que vivia, mas, quando comecei a correlacionar os fatores envolvidos e sentir-me parte dele, percebi um processo apaixonante, complexo e de grande responsabilidade. Quando a certificação florestal começou a ganhar força no Brasil, com seus princípios e critérios focados nos alicerces da sustentabilidade – os aspectos sociais, ambientais e econômicos –, um número crescente de profissionais do ramo florestal foi obrigado a pensar sobre essas inter-relações no seu cotidiano. Finalmente se observava, na prática, algum reflexo das discussões tão badaladas pela mídia mundial na época da ECO 92, com holofotes voltados para o tema do desenvolvimento sustentável. O termo ”sustentabilidade“ passou a ser utilizado em todos os discursos, mas, em geral, de modo descolado de seus reais significados. A palavra hoje é instrumento de marketing, e poucos se detêm a aprofundar-se nos caminhos de sua busca, pois garantia de atingi-la nós não possuímos. É preciso ter em mente que sustentabilidade é um processo multidisciplinar, em que as nuances sociais – especialmente as culturais –, ambientais e econômicas se fundem. Devem-se definir ações baseadas em mudança de atitude, que possam se refletir em soluções concretas para assegurar a chance de as futuras gerações desfrutarem de recursos similares aos que estão disponíveis em nosso tempo. Atuar com vistas à sustentabilidade é um constante desafio, é estar no presente com olhos para o futuro, pois nossas ações geram, a todo momento, alterações no ambiente onde vivemos que podem perdurar. Pensando na sustentabilidade
como prática dos empreendimentos, a primeira necessidade é estabelecer um relacionamento efetivo com as partes interessadas potencialmente afetadas pelas atividades desenvolvidas. Não apenas com o intuito de melhorar a percepção das mesmas sobre o negócio, mas com a real preocupação de reduzir e solucionar conflitos, sejam eles provocados por aspectos socioeconômicos ou ambientais. Para consolidar esse relacionamento, precisamos conhecer as partes interessadas para que os recursos sejam planejados e organizados, e as pessoas da organização sejam preparadas para um diálogo que leve ao entendimento. Não basta prever ações no intuito de afetar suas opiniões se não se incorporar suas preocupações e se analisar o impacto real que as operações possam provocar em seu dia a dia. Existem hoje inúmeras iniciativas e ferramentas, como a NBR ISO 26000 (em elaboração), os indicadores ETHOS, modelo IBASE, que são preciosas diretrizes para o gerenciamento de empreendimentos com foco em sustentabilidade, pois são construídas com uma grande representação dos atores sociais e criam uma linguagem comum. Mas, se quisermos construir uma gestão que nos coloque no rumo da sustentabilidade, não adianta importarmos modelos ou aplicar indicadores sem antes termos analisado em profundidade o entorno do empreendimento, seja pela ótica do risco ou da oportunidade. O principal desafio é encontrar uma forma equilibrada para gerenciar os empreendimentos, não apenas atendendo à visão do resultado financeiro, mas também contemplando os aspectos que são relevantes para as partes interessadas mais críticas. Isso pode, muita vezes, depender mais de uma mudança de postura de que implicar em grandes investimentos. Atender algumas reivindicações da sociedade civil, transformando o discurso em práticas palpáveis e reconhecíveis, é o cerne da busca pela sustentabilidade. Implementar essa visão depende da conscientização das lideranças empresariais, no sentido de formar uma cultura organizacional em que a sustentabilidade seja um valor efetivo e em que a gestão socialmente responsável seja tarefa de todos os escalões da empresa, de forma permanente e estruturada. Por fim, deixo a citação de Paiva, que nos diz que “A sustentabilidade é, por essência, a arte de entender e considerar o outro”.
" atender algumas reivindicações da sociedade civil, transformando o discurso em práticas palpáveis e reconhecíveis, é o cerne da busca pela sustentabilidade " Sabrina de Freitas Bicca
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Coordenadora de Sustentabilidade Stora Enso Florestal RS
celulose e papel
Opiniões
compromisso
com a sustentabilidade
Pensar sustentabilidade no sistema florestal brasileiro é, antes de tudo, trocar o verbo possuir pelo verbo emprestar. Nos dicionários, um dos significados de possuir é ter em seu poder. Já o significado de emprestar é dar alguma coisa a outrem com a obrigatoriedade de restituição. E é nessa condição, de quem toma emprestado o planeta das futuras gerações, que devemos pautar nossas ações. Somos um país privilegiado. Abrigamos a maior biodiversidade do mundo e 12% de toda a água doce do planeta. Por outro lado, ainda enxergamos nossas florestas como algo distante, exótico, que só tem a ver com quem vive na Amazônia. Nossa outra floresta, a Mata Atlântica, da qual só restam 7% e é tão rica quanto a Amazônica, raramente é lembrada.
o negócio seja lucrativo, favoreça o uso racional dos recursos naturais e promova a inclusão das comunidades locais. Sua produção de celulose a partir de florestas plantadas de eucalipto também é uma das poucas no mundo a ter certificação FSC para 100% de sua produção ao longo da cadeia de custódia. O envolvimento das comunidades no plano estratégico também se dá a partir do desenvolvimento de extensos programas de fomento voltados para pequenos produtores agrícolas que utilizam parte de suas propriedades para o plantio de eucalipto. Realizado em áreas degradadas, previne o êxodo rural e gera renda para os pequenos agricultores da região, permitindo sua inclusão no mercado de madeira, ao mesmo tempo que evita a pressão sobre a floresta.
" um dos significados de "possuir" é "ter em seu poder". Já o significado de "emprestar" é "dar alguma coisa com a obrigatoriedade de restituição". E é nessa condição, de quem toma emprestado o planeta das futuras gerações, que devemos pautar nossas ações. " Augusto Praxedes Neto Gerente de Relações Institucionais do Grupo Orsa
Mudar essa percepção é urgente e extremamente necessário. As inter-relações entre o ambiental, social e econômico estão cada vez mais fortes. Não dá mais para se pensar em negócios e desenvolvimento sustentável sem esses três pilares. E é esse conceito de equilíbrio entre o ambiental, econômico e social que permeia a estratégia do Grupo Orsa, uma das mais importantes organizações brasileiras do setor de madeira, celulose, papel e embalagem. Sua principal fonte de aprendizado e aplicação desses pilares está nas suas operações no Vale do Jari, região entre o Pará e o Amapá. O conceito foi implantado no meio da floresta Amazônica, de forma épica, no fim dos anos 1960, pelo bilionário norte-americano Daniel Ludwig. Ao assumi-lo no ano 2000, o Grupo herdou uma dívida gigantesca e um enorme desafio ambiental e social. Dez anos depois, elevou a capacidade instalada de 291 mil para 410 mil toneladas/ano e gera cerca de 5 mil empregos diretos e indiretos. Aberta nas décadas de 1970 e 1980, a área de plantio até então subutilizada ocupa 60 mil hectares, de uma área autorizada de 120 mil. Para o Grupo, a transparência de suas operações é fundamental, por isso as submete a uma série de certificações, entre elas o FSC - Forest Stewardship Council. Esse selo verde garante à sociedade que o plano de manejo florestal desenvolvido pelo grupo, com meio milhão de hectares e um dos mais avançados do mundo, respeita a biodiversidade local, os recursos hídricos e segue métodos rígidos para que
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O fomento de curauá, espécie típica da Amazônia utilizada pela indústria automobilística na fabricação de peças internas de seus veículos, é outro exemplo. De fácil plantio, dispensa uso de fertilizantes químicos e pode ser cultivado consorciado com outras culturas. Atualmente, envolve cerca de 50 agricultores, de 15 comunidades do Vale do Jari, garantindo uma renda anual muito acima dos padrões locais. Responsabilidade social aliada ao comprometimento com a biodiversidade da floresta também é o foco da Ouro Verde Amazônia, empresa do Grupo que atua no beneficiamento de produtos florestais não madeireiros, entre eles a castanha-do-pará. Valoriza as comunidades extrativistas com justas práticas de comércio e de uma relação equitativa e harmônica com comunidades indígenas, agricultores familiares e seringueiros da Amazônia. O compromisso com a sustentabilidade requer apoio de pesquisa para gerar conhecimentos que levem ao uso racional da biodiversidade. Por isso, o Grupo mantém parcerias com instituições de ensino e científicas nacionais e internacionais, como a Universidade de São Paulo, a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias - Embrapa, a University of Freiburg (Alemanha), entre outras. O Grupo Orsa vê o desenvolvimento dos negócios como um agente para a construção de uma sociedade sustentável. E essas e outras experiências reforçam sua crença de que é possível ter lucro com a floresta em pé. Para, assim, restituir às futuras gerações o que tomou emprestado.
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as empresas florestais e a sustentabilidade
" gradativamente, a empresa privada brasileira, especialmente a florestal, toma consciência do poder transformador de que dispõe na construção de uma nova sociedade "
Francisco Borges Alves Bueno Gerente de Comunicação e Relacionamento da CMPC Celulose RS
Falando com uma amiga sobre o valor atribuído cinquenta anos atrás a produtos da natureza, lembrei a ela que perguntar o preço de lenha, verduras ou frutas produzidas em nossa casa, lá pela região das Missões, onde passei a infância, era quase uma ofensa. Isso tudo era generosamente doado, pois esses produtos praticamente não tinham valor econômico. Minha amiga lembrou, então, de uma observação que ouviu de seu avô, lá pelo final dos anos 50: “Do jeito que a coisa vai, ainda vamos acabar comprando água”. Esse comentário, pelo ridículo, provocou boas gargalhadas por parte das pessoas que participavam da conversa. O perfeito entendimento do termo sustentabilidade e da virtuosa relação entre os três eixos nos quais ela está apoiada – o econômico, o social e o ambiental –, carece de uma análise mais abrangente. A sustentabilidade é um novo valor da sociedade moderna que precisa ser incorporado pelas empresas como o principal, pois ele afeta o valor da companhia. Hoje, pensamos um sistema que considera a natureza um capital, um ativo a serviço da manutenção e da inclusão social das pessoas. Às empresas cabe desenvolver suas atividades e processos formadores da cadeia econômica do negócio de maneira sustentável, garantindo um desempenho economicamente competitivo, com o menor uso possível de recursos naturais, baixo impacto ambiental e máximo ganho social. As empresas procuram reduzir o impacto de seus processos na natureza, num modelo que atenda às necessidades do presente, sem comprometer a utilização pelas gerações futuras. Gradativamente, a empresa privada brasileira, especialmente a florestal, toma consciência do poder transformador de que dispõe na construção de uma nova sociedade. Poucas organizações têm um poder de transformação tão eficaz como o da empresa privada, especialmente se integrar os diversos atores da sua cadeia formadora de valor num esforço deliberado e dirigido para promover o crescimento das comunidades em que está inserida. Esse poder de transformação será ainda maior se trabalhar associada com entidades públicas e do terceiro setor. Essa orientação, que dia a dia vemos crescer, não pode ser pensada como uma prodigalidade, mas entendida como sincera preocupação social de nossos empresários. É também uma manifestação de inteligência.
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Ela leva em conta os ativos ambientais a que nos referimos anteriormente e, mais do que isso, o comportamento de uma nova geração de consumidores que tende a preferir empresas ecoeficientes. Isso leva os planejadores das companhias a fazerem algumas indagações: como lidar com os desafios mercadológicos em coerência com as necessidades de meio ambiente dos novos negócios? Como melhorar a performance de sustentabilidade, de modo a fazê-la percebida como quem procura avançar nesse aspecto? Quais são os fatores a serem profundamente explorados, no sentido de maximizar ganhos sociais e ambientais e, ao mesmo tempo, perpetuar a existência da organização? Por último, como fixar esses conceitos no público interno da empresa? Respondidas essas indagações, o foco será a meta de internalizar a sustentabilidade no processo gerencial como principal valor da companhia, trabalhando-a em cinco dimensões: governança, transparência, relacionamento com públicos estratégicos, aspectos sociais e aspectos ambientais. Algumas empresas brasileiras já têm criado seus conselhos de sustentabilidade, revisando sua missão, visão e princípios. Especialmente as empresas florestais – um dos setores que mais preserva no Brasil –, têm trabalhado suas políticas e códigos de conduta; no campo da comunicação e imagem, são transparentes e prestam informações à sociedade, não tendo medo de se posicionar sobre assuntos críticos, como mudanças climáticas e questões fundiárias. Têm dialogado com ONGs que estão abertas a uma discussão construtiva. É evidente que uma mudança profunda pode requerer algumas gerações, mas o importante é iniciar. E as empresas florestais já começaram esse trabalho. Isso posto, podemos dizer que, decorridos pouco mais de cinquenta anos da afirmação do avô de minha amiga, estamos acostumados a entender a cobrança por produtos da natureza, como a água. Ainda assim, talvez possamos rir do possível comentário de alguém que vaticine a cobrança pela utilização dos raios solares, tão necessários à fixação do cálcio em nossos organismos e insumo precioso para o bronzeado de verão. Um participante mais entusiasmado da conversa poderá sugerir a cobrança do ar respirado pelo cidadão, incluindo até um medidor para o consumo. Nesse momento, certamente, gargalharemos todos.
celulose e papel
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O ponto de equilíbrio
em que germina a sustentabilidade
O aquecimento global, a violência em grande escala, a globalização, o desenvolvimento tecnológico, a perda da biodiversidade e outras situações em nosso dia a dia são desafios que trazem em si oportunidades. A oportunidade de reflexão sobre as escolhas que a humanidade fez que nos conduziram a esses resultados. A oportunidade de não só fazer diferente como também de fazer melhor. A oportunidade de usar todos os recursos e aparatos tecnológicos para a coexistência de tantos interesses conflitantes que, apesar disso, possam ser harmonizados pelo bem comum.
de partidos de oposição ao governador do estado; quando as instituições públicas e privadas atendem a critérios dissonantes das prioridades das comunidades em que atuam; quando os orçamentos são restritos; quando impera a falta de gestão ou má gestão de recursos disponíveis... Enfim, um mosaico de premissas e interesses que nem sempre são sinérgicos e, nem necessariamente, conflitantes. Às vezes, é mais fácil e barato construir tudo sozinho, mas qual a legitimidade dessa atitude? Qual é a curva de aprendizado que se conquista? Como as instituições (empresas, poder
" Às vezes, é mais fácil e barato construir tudo sozinho, mas qual a legitimidade dessa atitude? Qual é a curva de aprendizado que se conquista? "
Eliane Sampaio dos Anjos Gerente de Sustentabilidade da Veracel Celulose
Onde está o ponto de equilíbrio? A sustentabilidade que foi pensada como o ponto de equilíbrio entre as ações ambientais, sociais e econômicas deixou de lado as ações políticas. Mas como ter equilíbrio de produção e consumo sem discutir comportamento político? Quanto maior a carência e o risco social, maior o desafio da articulação institucional, trabalhando para além dos impactos positivos do negócio e dos processos produtivos, sejam eles quais forem, e ser parte da construção de uma nova realidade. O natural é pensar que não é responsabilidade das empresas implantarem sistema de abastecimento de água, escolas, postos de saúde e estradas, mas como avançar em outras frentes quando as pessoas com quem interagimos não recebem esses serviços básicos. Bem, ao invés de dizer apenas “não é responsabilidade da empresa”, apresenta-se aqui uma reflexão: como participar da construção de um arranjo institucional que possibilite a conquista desses serviços? Como fazer isso e não concorrer com o governo ou não ser confundido no seu papel? Esse pode ser o viés saudável do fazer político. No entanto, também abriga fragilidades nas quais a percepção nem sempre favorece a empresa. Ser o catalisador da gestão de conflitos e quebrar as barreiras que isolam os atores sociais do processo de desenvolvimento são papéis possíveis para as empresas. Por exemplo, atuando quando os prefeitos de interface são
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público e comunidades) podem ser desafiadas a mudar se não são envolvidas e não encaram as dificuldades inclusive de dialogar? Como buscar protagonismo, quando não há espaço para o exercício do aprender-a-ser-e-fazer? Em alguns anos de estrada, já é possível afirmar que não há receita de bolo. Há mais perguntas do que respostas. A construção da sustentabilidade passa, antes de tudo, pelo exercício da inclusão. É importante aprender como levar conhecimento a quem não sabe ler; convidar a construir junto com quem está habituado ao isolamento; a colocar, na mesma mesa de diálogo, instituições que têm lógica de atuação antagônicas; a buscar entender os sistemas e processos legítimos que têm que ser obedecidos; a não desanimar; a ter foco no que mais pode ser tentado, ao invés de ficar preso ao mesmo jeito de fazer; a ouvir os outros; a tentar descobrir como deve ser feito de maneira legítima e obter reconhecimento como tal... A lista é grande, mas honesta! Dessa forma, pode ser que empresas, comunidades, sociedade, organizações governamentais e não governamentais construam uma realidade mais próxima do equilíbrio. Talvez porque o grande desafio da sustentabilidade não consista em desenvolver novas e mirabolantes tecnologias produtivas, mas sim desenvolver e aplicar novas tecnologias de relacionamento capazes de construir o tão desejado desenvolvimento sustentável.
carvão e siderurgia
Opiniões
dar certo, fazendo a coisa certa, do jeito certo Para aumentar sua importância e competitividade mundial no cenário florestal, o nosso setor deve executar o que esteja dentro de práticas de manejo sustentáveis. E o que é ser sustentável numa sociedade moderna, em que as preocupações ambientais muitas vezes são engolidas pelo consumo desenfreado, pelo desperdício e a consequente pressão sobre os recursos naturais? Partindo-se da premissa de que a essência de nossa atuação é sustentável e que sustentabilidade e responsabilidade são indissociáveis, qual é a nossa responsabilidade nessa questão? Quantos hotspots estão sob nossa proteção? Quantas comunidades são afetadas pelas atividades de manejo? Como enfrentar os desafios da silvicultura que, atualmente, é de alto risco, com o recente aparecimento de novas pragas e doenças, de agentes abióticos, como os ventos, e uma produtividade que, em alguns casos, já está próxima ao limite, sem comprometer a viabilidade econômica e o retorno mais rápido do investimento realizado? Fugindo da definição tradicional de sustentabilidade e considerando que as empresas vêm trabalhando em cima de valores, traduziria o termo sustentabilidade como uma frase que diz: “dar certo, fazendo a coisa certa, do jeito certo”. Hoje, distante da época em que os plantios florestais foram implantados, quando não tínhamos o conhecimento técnico do potencial e das limitações das espécies que estavam sendo implantadas, dos aspectos e impactos ambientais, dos processos e atividades e, tampouco, a legislação florestal/ ambiental, vemo-nos em uma situação em que a presença de produtos não madeireiros aumentam a complexidade do manejo florestal. A preocupação com a sustentabilidade e a estabilidade da produção florestal é acentuada quando trabalhamos com sucessivas rotações, na maioria das vezes em solos intemperizados e com sistemas intensivos de colheita. O “dar certo, fazendo a coisa certa, do jeito certo” passa pela imperiosa necessidade de se avaliar a atividade florestal em escala temporal e espacial e não apenas nas relações empíricas de crescimento (diâmetro x altura), agindo com precaução e responsabilidade ambiental na gestão dos recursos naturais e nas relações sociais que permeiam a prática de manejo florestal. O início da década de 1990 imprimiu à questão florestal uma nova ótica, centrada no desenvolvimento sustentável, valor que, ao longo dos últimos 50 anos, quando a maioria das plantações nas regiões tropicais se estabeleceu, não foi devidamente considerado. “Progressivamente, o significado de produtividade florestal e de qualidade de serviços está sendo redefinido para o conceito de produtividade associado à qualidade do ambiente” (Poggiani).
" Partindo-se da premissa de que a essência de nossa atuação é sustentável e que sustentabilidade e responsabilidade são indissociáveis, qual é a nossa responsabilidade nessa questão? " Roosevelt de Paula Almado Gerente de Pesquisa e Meio Ambiente da ArcelorMittal BioEnergia
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Sem dúvida, houve uma elevada melhoria nas atividades silviculturais, devido a um conjunto de práticas conservacionistas que tem como objetivos principais a restauração da biodiversidade através da formação de corredores ecológicos; recuperação de áreas degradadas; redistribuição das áreas de reserva florestal e APPs; levantamento e monitoramento de flora e fauna – com indicações de como potencializar os atributos positivos do manejo florestal aliada à conservação; melhoria das condições de desenvolvimento da floresta – através do conhecimento gerado por projetos de mapeamento de solos e monitoramento nutricional; redução da exposição do solo às intempéries climáticas – através da redução do uso de fogo; manutenção dos resíduos vegetais no solo e práticas de cultivo mínimo. A definição da base genética, preparo de solo, fertilização, tratos culturais, manejo e colheita devem ter um efetivo embasamento técnico para que se assegurem efeitos benéficos à sustentabilidade e à estabilidade dos sistemas florestais. Dessa forma, uma rede experimental de longo prazo, deve ser mantida para as situações bioedafoclimáticas, para possibilitar o estabelecimento, validação e difusão desses modelos. Os Sistemas de Certificação de Manejo Florestal adotados vêm contribuindo para fortalecer as boas práticas através do aperfeiçoamento e atendimento à legislação; da organização de processos; da maior visibilidade das obrigações; da minimização dos impactos ambientais e sociais; da comunicação; das práticas de avaliação, monitoramento e, principalmente, da transparência. O manejo florestal deve buscar a viabilidade econômica, levando em conta todos os custos de ordem ambiental, social e operacional da produção, bem como assegurar os investimentos necessários para a manutenção da produtividade ecológica. A sustentabilidade passa pela identificação de parâmetros quantitativos e qualitativos que descrevam, de forma objetiva e verificável, as características do ecossistema florestal e seu sistema social, assim como o manejo florestal e os processos produtivos nele conduzidos. “Dar certo, fazendo a coisa certa, do jeito certo” passa pelo apoio ao desenvolvimento de estudos voltados à avaliação das condições ambientais, econômicas e sociais da atividade. Tais estudos permitirão avaliar a sustentabilidade das práticas de manejo adotadas pelo setor, contribuindo para selecionar e hierarquizar prioridades de gestão, pesquisa e desenvolvimento, perpetuando o cultivo sustentável de plantações florestais, gerando riquezas, educando e suprindo o homem e conservando os recursos para o futuro.
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Opiniões
silvicultura sustentável já é São sólidas as iniciativas que podemos citar como boas práticas de sustentabilidade na atividade silvicultural destinadas à produção de biocombustíveis. Isso considerando o conceito sistêmico relacionado ao modelo de evolução integrada e equilibrada dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Na V & M Florestal - VMFL, temos exemplos de ações desenvolvidas tendo como fundamento a sustentabilidade. Entre eles, estão as iniciativas de: 1. Modelar a ocupação do solo com preservação de grandes áreas com vegetação nativa. Além de manter as áreas previstas nas leis ambientais, como as APPs e as de RLs, existem os chamados corredores de vegetação, que são dispostos de forma interligada, compondo verdadeira “rede” de cobertura vegetal nativa preservada. Esse “arranjo ecológico”, obtido pelo projeto de Gestão Ambiental da Vegetação Nativa da VMFL, desenvolvido em conjunto com o Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras, ultrapassa, em muito, o que é previsto no Código Florestal Brasileiro. O projeto preenche, também, uma lacuna histórica com relação à proteção da fauna silvestre brasileira, uma vez que não temos um “Código Animal”. Porém, por meio de práticas como essa, conseguimos manter a maior parte da diversidade animal presente nas áreas dos projetos silviculturais. Entre os exemplares da região, estão mamíferos de grande porte, que são muito exigentes em termos de território, disponibilidade de alimentos e condições de reprodução. Outro benefício do projeto é a proteção dos mananciais hídricos por meio da preservação da vegetação nativa do entorno. A proporção é de 1 hectare de área protegido para cada 1,4 hectare de área plantada. 2. Manejar racionalmente os terrenos produtivos e promover serviços ambientais que protejam o ambiente e as relações ecológicas, diminuindo impactos sobre as áreas protegidas. Nas práticas operacionais da empresa, são incorporados cuidados com a proteção ambiental, para evitar impactos das atividades sobre as áreas protegidas. Isso inclui utilização racional de agrotóxicos e coleta e destinação adequada de resíduos. Além desses cuidados, são desenvolvidas ações voltadas para proteção de áreas com vegetação nativa, como o cercamento para evitar a presença de gado e vigilância contra caça, desmatamento e coleta de exemplares da fauna e flora, além da prevenção e combate aos incêndios florestais. No contexto de sistematização dos cuidados ambientais, é relevante a adesão a programas voluntários de certificação para os Sistemas de Gestão Ambiental (ISO 14001) e Certificado de Manejo Florestal (Cerflor).
realidade
3. Contar com os serviços ecológicos providos pelas áreas verdes. As áreas protegidas também prestam serviços ecológicos ao empreendimento silvicultural. Entre eles, maior estabilidade ambiental e mais eficiência no controle biológico de pragas. Projetos florestais que contam com a preservação adicional da vegetação nativa – integrada por meio de faixas de vegetação (faixas ecológicas) – têm menor infestação de formigas cortadeiras, devido à presença e à ação de inimigos naturais. Além disso, a população de borboletas e mariposas tem até cinco vezes mais diversidade biológica (maior número de espécies e menor número de indivíduos). 4. Estar inserido no contexto de produção de energia renovável para a sociedade. O Brasil dispõe da melhor tecnologia mundial para o plantio de florestas renováveis, tem clima privilegiado e possui extensas áreas para exercer essa atividade em locais pouco aptos à agricultura. Tem, ainda, grandes reservas de minério de ferro. É estratégico conciliar o beneficiamento desse insumo, agregando valor, com o desenvolvimento de atividade florestal sustentável para a produção e utilização de carvão vegetal, em substituição ao carvão mineral. Esse arranjo produtivo representa uma grande oportunidade, considerando que o País já detém tecnologia e regulamentação para realizar esse processo de forma sustentável, beneficiando regiões que são carentes de oportunidades. 5. Entender que o caminho para a sustentabilidade passa, portanto, pela integração da atividade produtiva com as áreas de preservação, tendo como resultado dinâmico crescente interação e diminuição de impactos negativos. Ultimamente, tem sido feita uma analogia à marca que deixamos com as nossas “pegadas” com o impacto que causamos para obter o que necessitamos. Desde o início das atividades silviculturais, nas regiões norte e noroeste do estado de Minas Gerais, a produtividade de madeira por área foi multiplicada, ou seja, hoje, produzimos 11 vezes mais madeira na mesma área e estamos continuamente melhorando o rendimento. Essa racionalização também pode ser observada no consumo de água e de vários insumos, como fertilizantes e combustíveis, o que nos permite reduzir a nossa “pegada ambiental” de forma contínua. Essas são parte das ações sustentáveis que compõem o cenário da silvicultura destinada à produção de carvão vegetal renovável. O nosso futuro depende de um arranjo maior, de quebra de paradigmas a respeito dos atuais meios de produção e, principalmente, da mobilização de toda a sociedade: população e empresas, na contínua e crescente atuação em prol da sustentabilidade.
" o Brasil dispõe da melhor tecnologia mundial para o plantio de florestas renováveis, tem clima privilegiado e possui extensas áreas para exercer essa atividade em locais pouco aptos à agricultura " Guilherme Dias de Freitas
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Gestor de Meio Ambiente da V & M Florestal
painéis
Opiniões
madeira reconstituída e
plantações modelos
Ao conceituar que sustentável é o modelo de desenvolvimento que atende às gerações presentes sem comprometer as necessidades das gerações futuras, no qual se busca o equilíbrio entre a viabilidade econômica, a justiça social e a adequação ambiental, explicita-se um desafio da espécie humana. Isso posto, é possível colocar a questão em discussão sem enveredar para utopias que apenas se concretizariam se todas as pessoas se propusessem e conseguissem sobreviver em um estágio de vida primitivo, em momento anterior à descoberta da agricultura, há cerca de 10.000 anos. Portanto, sustentabilidade é um propósito em construção, com um histórico de acertos, erros e equívocos na busca da viabilidade.
volvimento sustentável, a produção da matéria-prima para esse processo industrial, a partir do manejo de plantações florestais, constitui o exemplo do qual podem ser extraídas lições valiosas para a construção da sustentabilidade em cadeias produtivas que têm início na utilização dos recursos naturais. Ao incorporar no manejo de plantações florestais os conhecimentos gerados nos estudos de ecologia aplicada e por outras ciências, a engenharia florestal está encontrando os meios para controlar, mitigar ou eliminar efeitos adversos da atividade no manejo do solo, proteção da biodiversidade, conservação dos recursos hídricos e a proteção das pessoas. A sustentabilidade das plantações florestais de espécies exó-
" no atual estágio de desenvolvimento, a variável econômica tem prevalecido sobre a ambiental e social, o que fica evidenciado na constatação de que, estendido para toda a população do mundo o padrão de vida dos países desenvolvidos, faltará planeta " José Luiz da Silva Maia Coordenador da Divisão de Meio Ambiente da Duratex
No atual estágio de desenvolvimento, a variável econômica tem prevalecido sobre a ambiental e social, o que fica evidenciado na constatação de que, estendido para toda a população do mundo o padrão de vida dos países desenvolvidos, faltará planeta. Mas se justifica a expectativa otimista de que a sustentabilidade é viável quando, por exemplo, constatam-se os progressos nos meios de utilização dos recursos florestais mediante a possibilidade de manejar florestas nativas e plantar florestas quando estas já foram extintas. A produção do mobiliário, que permite o ordenamento dos espaços construídos e é indispensável na organização do cotidiano das pessoas em seus lares, no trabalho e no lazer, tem sido uma das causas do grande consumo de madeira, com as consequentes reduções da cobertura florestal e ameaça de extinção de espécies arbóreas. No entanto foi possível desenvolver no século XX a tecnologia dos painéis de madeira reconstituída, tornando possível larga substituição do uso de madeira maciça na fabricação de móveis, divisórias e revestimentos. Essa tecnologia trouxe vantagens e pode ser tomada como uma das soluções do desenvolvimento sustentável. Painéis de madeira reconstituída podem ser feitos com espécies florestais de rápido crescimento; dispensando o uso de toras de árvores nobres, permitem redução significativa de perda da matéria-prima e viabilizam a reutilização da madeira maciça reciclada após outros usos. Se a tecnologia da madeira reconstituída representa uma solução em desen-
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ticas de rápido crescimento, manejadas para o abastecimento industrial em larga escala pelo componente ambiental, requer: a ocupação de áreas anteriormente desmatadas para outros fins; conservação e recuperação da vegetação nativa para manutenção da biodiversidade; estabelecimento de um mosaico no qual se integrem, harmonicamente, espaços com cultivos, vegetação nativa, edificações e sistemas viários; compatibilidade ecofisiológica das espécies cultivadas, de acordo com estratégias de longo prazo para assegurar a conservação do solo e dos recursos hídricos. Em relação aos aspectos sociais, a gestão dos empreendimentos florestais tem que ir além do atendimento das normas de segurança do trabalho e dos direitos dos trabalhadores, com diagnósticos e medidas para o estabelecimento de justas e construtivas relações com a comunidade. Dentro do agronegócio, o setor das plantações florestais vinculado aos empreendimentos verticalizados é o que mais rapidamente tem incorporado métodos e posturas para equacionar questões ambientais e sociais, mantendo a competitividade econômica em nível internacional. Para se avançar na construção da sustentabilidade, o desafio está em abreviar o intervalo de tempo entre a identificação de um procedimento mais adequado e sua internalização na gestão das plantações e indústrias de base florestal. A resposta aos desafios está na ciência, no desenvolvimento tecnológico consolidado em função dos valores mais nobres alcançados pela espécie humana.
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painéis
Opiniões
para ser sustentável,
tem que ser divertido!
Muito tem se falado nas últimas décadas sobre a crise ambiental e o papel do ser humano como elemento gerador desse desequilíbrio. Dentre esses problemas, questões como desmatamento, manejo sustentável, conservação das florestas e respeito à legislação ambiental passaram a ocupar um grande espaço no cotidiano. O crescimento natural da população e o surgimento de uma massa consumidora geraram um aumento da demanda por bens, levando a sociedade a impactar cada vez mais de forma desequilibrada os ambientes naturais, afetando seus mecanismos de renovação, tornando-o cada vez mais vulnerável e incapaz de manter seu equilíbrio. Um exemplo real é a produção de alimentos versus a preservação de ecossistemas vulneráveis. A sociedade pede por um crescimento sustentável que ofereça alternativas de uso mais eficiente dos recursos naturais e que permita um processo de produção menos danoso.
diferentes ideologias, valores e modelos, que podem ser ou não conflitantes. A visão de sustentabilidade para o setor ainda não foi desenvolvida em consenso por esse campo e, provavelmente, devem existir diferentes visões, que parecem ser igualmente legítimas e necessárias para que o setor se adapte e sobreviva no longo prazo. Para melhoria efetiva de desempenho ambiental das empresas florestais, é fundamental identificar como os fatores sociais influenciam as ações ambientais empresariais, de que maneira e por que as organizações adotam determinadas estratégias para atingir seus objetivos. Quais seriam, então, as ações de sustentabilidade que garantam a satisfação de todos os fatores envolvidos? Quais os mecanismos que garantem que as ações que estão sendo implementadas são suficientes ou de fato efetivas? Qual a motivação para garantir todas essas salvaguardas para os ambientes naturais e as comunidades que as compõem?
" a sustentabilidade só vai ser alcançada, e ela mesma ser sustentável, a partir do momento em que as ações façam parte da vida de uma maneira natural, rica e marcante " Fábio Túlio Lima Cró Coordenador de Tecnologia e Meio Ambiente da Eucatex
O conceito de "sustentabilidade" reúne diversos grupos sociais que buscam alternativas viáveis de ações para responder efetivamente à crise ambiental. Tais ações vão requerer uma mudança fundamental na percepção de que o meio ambiente não se limita aos ecossistemas brasileiros, mas inclui uma rede de interações entre consciência humana, os sistemas sociais e o meio natural. Segundo o Relatório de Brundtland (1987), sustentabilidade é "suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas". Qualquer empresa que se intitule “sustentável” necessita passar por quatro requisitos básicos em seus processos, que são: ser ecologicamente adequado; economicamente viável; socialmente justo e culturalmente aceito. Diante desse cenário, o setor florestal tem procurado diferentes ações para garantir sua eficiência e, principalmente, estar em conformidade com as expectativas dos acionistas, da legislação ambiental e principalmente do mercado consumidor. As ações de sustentabilidade do setor florestal brasileiro são pluralísticas, nas quais os membros seguem
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As partes interessadas, internas e externas, defendem diferentes critérios e graus de importância no que se refere aos elementos que compõem uma visão de sustentabilidade para o setor florestal. Apesar da aceitação dos padrões para as certificações florestais, existem ainda conflitos culturais entre os grupos que representam os interesses sociais, econômicos e ambientais. Para que possamos minimizar os conflitos culturais, é que somos dotados de estratégias e ações que visam colocar esses fatores em contato permanente e em constante diálogo, que possa ser traduzido em mais ações e maiores conquistas juntos, fazendo mais com menos esforço, mantendo a sustentabilidade tão almejada não somente nos ecossistemas, mas, também, nas relações humanas. É preciso buscar fazer esse contato saudável e lúdico. As crianças e seus educadores têm que ser os protagonistas dessa história, pois a sustentabilidade só vai ser alcançada, e ela mesma ser sustentável, a partir do momento em que as ações façam parte da vida de uma maneira natural, rica e marcante. Por isso dizemos sempre: “Para ser sustentável, tem que ser divertido!”
tecnologia
Opiniões
crescer
com sustentabilidade
Quando se fala em sustentabilidade, alguns ainda pensam apenas em sustentabilidade ambiental e viabilidade econômica, em que o aspecto ambiental é a possibilidade de mitigação dos impactos ambientais, e a viabilidade econômica está representada por ganhos econômicos de TIR vantajosa, recuperação tributária, rápido pay back, etc. Em artigo já publicado nesta revista, utilizamos a definição de sustentabilidade do Dicionário Aurélio: sustentar é: “1. Segurar para que não caia, suster, suportar. (...) 8. Impedir a ruína ou queda de. (...) 11. Defender com argumentos ou razões (...)”. A discussão inicial do conceito da sustentabilidade baseou-se nos pilares econômico, social e ambiental, oriunda de lenta evolução para escapar do antigo sistema “comando e controle” da legislação, e, assim, incorporou a variável econômica e social. Foram, então, adotadas boas práticas ambientais no setor industrial, reciclagem e reuso, reaproveitamento e redução, utilização de fontes renováveis, utilização de instrumentos contábeis para valorar investimentos ambientais etc. Todavia, isso não foi o suficiente para acompanhar a evolução, e, por questões econômicas e de sobrevivência das empresas, o discurso mudou. O conceito de sustentabilidade pautou-se (por enquanto) em cinco pilares: econômico, social, ambiental, cultural e espiritual, estes dois últimos ultrapassam o conceito anterior. O conceito atual de sustentabilidade fundamenta-se na aceitação cultural e na compreensão espiritual das populações afetadas pelos novos empreendimentos. Ora, projetos de celulose e papel em novas fronteiras, como exemplo Tocantins, Maranhão, Piauí, demandam novos modelos de licenciamento [socio]ambiental dos greenfields. Esses empreendimentos são suficientes para impactar modos de vida de comunidades, suas manifestações culturais, raízes culturais e religiosas, comportamentos sociais, morais e éticos. A aceitação cultural reflete-se na necessidade de atender e executar profundos estudos antropológicos, tais como inventários e registros de manifestações culturais, estudos e trabalhos de campo para compreensão de festejos religiosos, formas de organização social, formas de expressão e até crenças religiosas.
A questão espiritual não diz respeito, em nossa singela definição, ao aspecto meramente religioso, mas sim emocional, de entendimento das demandas e expectativas reais de uma comunidade face ao projeto a ser implantado. Ora, há diferentes visões sobre a sustentabilidade, mas todas revelam uma nota distintiva da História e de evolução das civilizações, desde as otimistas visões unitárias até interpretações pessimistas que lhe negam qualquer linha de continuidade. Mais perto de uma solução razoável nos parecem os pensadores que falam em corsi e ricorsi (idas e vindas) da História, como o fez Giambattista Vico, o que corresponde às surgências e insurgências lembradas por Gilberto Freyre; ou, então, sob outro prisma, aqueles que se referem à astúcia da razão na História, à moda de Hegel, ou, então, aos fatores da sorte ou fortuna, como pensava Nicolò Machiavelli, ponto de vista em parte coincidente com a ideia do acaso no pensamento de Jacques Monod. A nosso ver, a sustentabilidade é cada vez mais compreendida como pressuposto de crescimento econômico, tornando possível e factível a produção sustentável de celulose e papel: a atuação ecoeficiente de recursos hídricos, energia por fontes renováveis, taxas sustentáveis de efetivo plantio conservando e recuperando ecossistemas sensíveis, programas sociais de alto nível para qualificação e aprimoramento de mão de obra, inclusão social, entre outras ações. As novas oportunidades se baseiam na busca por cadeias produtivas certificadas, estímulo à responsabilidade pós-consumo, inventários de gases de efeito estufa, adoção de planos de gestão de carbono. A sustentabilidade está além da conformidade legal. Ter postura pró-ativa permite a relação direta de sustentabilidade e lucros econômicos; o engajamento cria parcerias e institui novo paradigma. Os novos greenfields de celulose e papel estão atendendo às expectativas desses desafios e cultivando parceiros na sociedade e perante órgãos de governo. Os futuros greenfields deverão repousar seu olhar no caminho da preservação cultural e entendimento dos valores locais.
" A sustentabilidade está além da conformidade legal. Ter postura pró-ativa permite a relação direta de sustentabilidade e lucros econômicos; o engajamento cria parcerias e institui novo paradigma. " Pedro de Toledo Piza
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Consultor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Pöyry Tecnologia
consultoria
Opiniões
a busca da sustentabilidade " As ideias de Carlowitz inspiraram os europeus a manejar suas florestas durante muito tempo. Foram, porém, relegadas a segundo plano, com o advento da Revolução Industrial, que buscava o desenvolvimento a qualquer preço, mesmo com o sacrifício dos recursos naturais. " Marco Antonio Fujihara Diretor do Instituto Totum de Sustentabilidade
O conceito de sustentabilidade florestal não é novo. Em 1713, o alemão Hannss Carl von Carlowitz (1645-1714), capitão-mor de minas do Eleitorado da Saxônia, empregou pela primeira vez o termo Nachhaltigkeit, para defini-lo. No seu tratado Sylvicultura Œconomica, considerada a publicação pioneira totalmente dedicada ao manejo das florestas no continente europeu, mostrava-se preocupado com a escassez de madeira consumida como lenha ou nas minas de carvão. E alertava que o volume de exploração não poderia ser superior ao potencial de renovação da mata, para garantir o seu “uso continuado e sustentado”. Dessa forma, o manual recomendava que só devesse ser retirado a cada ano, o volume de madeira correspondente ao produzido em período equivalente. As ideias expressas por Carlowitz inspiraram os europeus a manejar suas florestas durante muito tempo. Foram, porém, relegadas a segundo plano, com o advento da Revolução Industrial, que buscava o desenvolvimento a qualquer preço, mesmo com o sacrifício dos recursos naturais. A preocupação com sua conservação ressurgiria com força somente no século XX, assumindo um caráter mais amplo. Em 1983, foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, com o objetivo de reexaminar os principais problemas ambientais e formular propostas realistas para solucioná-los. O documento final elaborado por essa Comissão, publicado em 1987, ficou conhecido como Relatório Brundtland (referindo-se à primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que presidia os trabalhos na ocasião). Apresentava um diagnóstico da situação global e consagrou o uso da expressão “desenvolvimento sustentável”. Manejo florestal sustentável: Observa-se que, ao longo do tempo, o conceito de sustentabilidade evoluiu, chegando aos dias atuais de forma mais ampla. No caso específico das florestas, inclui a ideia de que é preciso manter indefinidamente o fluxo contínuo de bens e serviços fornecidos para que as gerações sucessivas possam deles usufruir, em igual quantidade e qualidade. Engloba, também, o uso múltiplo e integrado de seus inúmeros recursos. Além da madeira, outros bens e serviços passaram a ser considera-
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dos no seu manejo, como os recursos hídricos, a fauna e a própria flora, oferecendo inúmeras possibilidades de utilização. Em artigo sobre o assunto, professores da Universidade Federal de Santa Maria, RS, explicam que, inicialmente, o termo manejo considerava somente a produção contínua de madeira. Com o tempo, evoluiu, envolvendo hoje o planejamento ecológico e econômico, em médio e longo prazo, condicionados à capacidade do sítio, à manutenção da qualidade ambiental e às leis do mercado. Dessa forma, uma das funções primordiais da exploração comercial das florestas é a preservação dos recursos naturais como um todo. Para tanto, é preciso criar uma cadeia produtiva da madeira, que abasteça as indústrias e, ao mesmo tempo, crie empregos e renda, dentro dos rígidos princípios da sustentabilidade. Garantida a perpetuidade da floresta, pode-se pensar no seu manejo, otimizando a produção, ou seja, o volume do corte final, somado aos desbastes. É preciso considerar a dimensão e a qualidade das árvores a serem abatidas, pois as de maior diâmetro alcançam maior valor de mercado. Dificulta também sua implantação a grande diversidade de espécies existentes nos vários biomas brasileiros, das quais apenas uma pequena parcela apresenta uso comercial conhecido, até o momento. Apesar de o aproveitamento econômico de inúmeros produtos da floresta ser prática corrente há séculos no País, ainda existe muita dificuldade para assegurar a sua sustentabilidade. A maior parte dos projetos de manejo florestal aprovados pelo Ibama visa somente à produção madeireira de forma sustentada, não contemplando ainda outros ativos das florestas, como a obtenção dos produtos não madeireiros em escala econômica, que pode trazer grandes benefícios sociais. Considera-se que o chamado manejo florestal de impacto reduzido favoreça a qualidade dos serviços. Além de retirar uma menor quantidade de madeira da mata, a derrubada das árvores é orientada de forma a não prejudicar os espécimes vizinhos. As operações de transporte são consideradas menos impactantes, principalmente, quando se é feito também um trabalho de monitoramento após a colheita, visando à regeneração da vegetação da área objeto de extração.
centros de P&D
Opiniões
avanços em tecnologia da madeira: paradigma de sustentabilidade
A percepção dos impactos socioambientais pela sociedade brasileira teve notável avanço a partir dos anos 80 do século passado, quando a economia passou a ocupar lugar de destaque entre as nações industrializadas. Viu-se, então, que o custo socioambiental do modelo não sustentável era muito elevado – desmatamento acentuado de várias regiões; uso inadequado dos solos; ausência de controles eficazes nos níveis de poluição (os EIA/RIMA’s se tornaram obrigatórios no Brasil a partir de 1986); e inchaço dos grandes centros urbanos, com o crescimento das favelas, que ocuparam os morros e os mangues das periferias das cidades dos estados mais industrializados do País. A partir da “Rio 92”, porém, começa a existir entendimento do que seja sustentabilidade e da complexidade do processo de transformação da sociedade moderna, que a torna cada vez mais vulnerável aos impactos socioambientais, exigindo que práticas cotidianas sejam repensadas e novos elementos incluídos, diante da degradação ambiental. Com isso, questões que não tinham o seu grau de relevância efetivamente percebido passaram a tê-lo, como é o caso do uso de mais inovações tecnológicas no setor madeireiro. A maior eficiência trazida pela tecnologia pode ampliar os usos das madeiras, evitar desperdícios e, com isso, diminuir os desmatamentos e, de modo particular, os impactos negativos sobre algumas espécies mais demandadas, que acabam correndo o risco de extinção. A adoção de inovações no setor madeireiro do País é de extrema importância, tendo em vista que a atividade florestal no Brasil, além dos reconhecidos aspectos ambientais, tem relevância para a esfera socioeconômica, pelo fato de o País possuir uma das maiores extensões florestais naturais do mundo e uma considerável área de plantios florestais, o que garante ao setor florestal brasileiro lugar de destaque no mercado mundial de madeiras, cuja importância tende a crescer ao longo do tempo, pelas características de solo, clima e disponibilidade de terras no País aptas à produção de madeira. Um dos maiores desafios nesse cenário é a conservação das florestas nativas, de forma a evitar o desmatamento irracional, visando atender às demandas por madeiras de forma certificada, via manejo florestal sustentável nas florestas naturais e/ou por meio de plantios florestais, legalmente possíveis.
" a globalização da economia também levou ao acirramento da concorrência. Com isso, a “sobrevivência” passou a ser o objetivo maior de muitas empresas "
Luiz Fernando Schettino Professor do Dpto Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do ES
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Outro aspecto importante nesse contexto é levar em conta que, no mercado madeireiro, a globalização da economia também levou ao acirramento da concorrência. Com isso, a “sobrevivência” passou a ser o objetivo maior de muitas empresas, muitas vezes em detrimento da qualidade e durabilidade dos produtos e das enormes perdas de matéria-prima pela não aplicação das melhores tecnologias. Permanecer no mercado a qualquer custo parece ainda ser a meta de muitos empreendedores da área florestal madeireira, em detrimento do que se perde nos aspectos socioambientais e mesmo econômicos em longo prazo, em vez de criarem condições de sustentabilidade e de fazerem evoluir tecnologicamente seus processos produtivos, possivelmente, por não terem uma visão adequada dos retornos que podem ter com investimentos em “tecnologias verdes”, que quase sempre levam a menores custos, mais competitividade e, consequentemente, maiores lucros. Inclusive pelas razões citadas é que extração, comercialização e industrialização da madeira, historicamente no País, têm mantido o ritmo predatório de suas ações e migrando sempre em busca de novas fronteiras madeireiras. Esse processo precisa ser devidamente discutido pelas instituições que buscam construir um modelo sustentável e inteligente de desenvolvimento, o que certamente promoveria mudanças nas políticas ambiental e florestal exigidas pela sociedade, visando à reversão desse processo cultural, para que promova a sustentabilidade no setor madeireiro, e os ecossistemas sejam conservados onde estejam sendo extraídas as madeiras a serem industrializadas para a sociedade. Discutir e viabilizar formas de avançar o uso de tecnologias para a industrialização da madeira significa criar condições para que as demandas madeireiras sejam atendidas, os desmatamentos se reduzam e a geração de empregos e renda cresça no setor florestal brasileiro. Dessa forma, teríamos uma ilustração de como superar um grande e histórico desafio na matéria em questão: sair do discurso ambientalista puro para uma prática sustentável cotidiana da sociedade em suas necessárias atividades socioeconômicas, a se compatibilizarem com qualidade de vida e proteção dos ecossistemas – um novo paradigma, então, se consolidará: o da sustentabilidade com aproveitamento inteligente dos recursos naturais.
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educação para a sustentabilidade Cada vez mais nos deparamos com novas técnicas, estudos e ferramentas para tornar as organizações mais sustentáveis, em termos econômicos, sociais e ambientais. Essa busca da sustentabilidade é motivada, internamente, pela eficiência no uso dos recursos – que gera redução de custos e de riscos e, externamente, pela sociedade civil – que desafia as organizações a atuarem de uma maneira mais transparente e responsável. Porém, um ponto merece extrema atenção nessa busca, que é a formação e a qualificação de pessoas para atuarem nesse novo cenário. Para atender essa questão, devemos reconhecer a educação como um dos principais agentes de transformação para o desenvolvimento sustentá-
de todas as formas de aprendizagem e de sensibilização dos cidadãos, incentivando a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Essa proposta já começa a dar frutos, principalmente nos congressos científicos atuais que já apontam para a necessidade de uma mudança de perfil dos novos profissionais, principalmente os gestores. Como exemplo, pode ser citada a reunião anual da Academia de Gestão (Academy of Management), ocorrida em agosto de 2010, em Montreal, no Canadá, com o tema “Paixão e Compaixão na Gestão”, que focou o papel do gestor em produzir bem-estar na sociedade em que vivemos e trabalhamos, integrando o interesse de todas as partes envolvidas.
" convido meus colegas acadêmicos a avaliar que profissionais estamos formando e repensar, caso necessário, os conceitos e as práticas para torná-los mais ajustados a essa nova realidade " Cláudio Senna Venzke Coordenador de Graduação em Gestão Ambiental da Unisinos
vel, pois aumenta a capacidade das pessoas de transformarem conceitos em ações, incentivando os valores, comportamentos e estilos de vida necessários para um futuro mais sustentável. Até a década passada, o tema sustentabilidade era pouco abordado na formação profissional nas diferentes áreas do conhecimento no meio acadêmico, limitando-se às áreas como ciências naturais e correlatas. Hoje, porém, já podemos perceber a inserção do tema nos novos currículos, mesmo que de forma pontual e isolada, ou a criação de novos cursos, como Gestão Ambiental, que focam a formação de profissionais engajados com as práticas sustentáveis. Mas essa formação não deve limitar-se somente ao nível superior de educação, deve estar presente também na formação básica, na formação técnica e até mesmo na educação corporativa, desenvolvida dentro das organizações. Seguindo essa linha, a ONU, por meio da Unesco, lançou, em 2005, a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, com o objetivo de valorizar o papel fundamental que a educação e a aprendizagem desempenham na busca comum do desenvolvimento sustentável e facilitar os contatos, a criação de redes, o intercâmbio e a interação entre as partes envolvidas em programas de educação para o desenvolvimento sustentável. Esse programa estimula ainda a criação de espaços e oportunidades para aperfeiçoar e promover o conceito de desenvolvimento sustentável, por meio
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Esse novo perfil de profissional de que necessitamos para dar suporte à sustentabilidade tem características próprias, aliadas às características já consolidadas ao longo dos anos. A principal característica desse novo profissional é a visão sistêmica, para que consiga ler e interpretar os diferentes cenários sociais e suas relações com o meio ambiente, assumindo os princípios éticos de respeito ambiental e às pessoas, bem como os princípios relacionados à responsabilidade social, aplicando-os à sua atuação profissional. Esse novo modo de agir profissionalmente nos remete a uma nova ética, menos antropocêntrica, nas relações com o meio ambiente. Essa nova ética propõe atuarmos de forma que nossas ações sejam avaliadas a cada momento, tanto nas atividades cotidianas como na análise do ciclo de vida de um produto complexo, buscando promover a vida na sua plenitude. Aliado a isso, é necessário que exista uma ligação direta entre a sustentabilidade e a criação de valor para as organizações, trazendo retorno econômico para elas. O grande desafio que temos é preparar as instituições de ensino para a formação desse novo perfil. Assim, convido meus colegas acadêmicos a avaliar que profissionais estamos formando e repensar, caso necessário, os conceitos e as práticas para torná-los mais ajustados a essa nova realidade, pois não teremos um futuro sustentável sem profissionais que pensem e atuem sustentavelmente.
Opiniões
o que é desenvolvimento sustentável O conceito de desenvolvimento sustentável que tomou corpo na década dos 80 do século XX com o Relatório Brundtland, foi uma reação às previsões catastróficas feitas pelo Clube de Roma na década dos 70. Essas previsões repetiram, em parte, o que havia ocorrido com Thomas Malthus, economista inglês do século XIX. Preocupado com o crescimento populacional acelerado, que havia dobrado entre 1650 e 1850, Malthus publicou, em 1798, uma série de ideias alertando para a importância do controle da natalidade, afirmando que o bem-estar da população está intimamente relacionado com o crescimento demográfico do planeta.
Na realidade, o problema na época não era a exaustão das reservas de petróleo – o que confirmaria as previsões do Clube de Roma –, mas as manobras altistas do cartel de produtores de petróleo. A reação a essa tese pessimista se originou na Assembleia Geral das Nações Unidas, que, em 1983, criou uma Comissão presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Brunstland, com a missão de “propor estratégias ambientais de longo prazo, para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 e daí em diante”. A primeira tarefa da Comissão foi a de definir o que se entende por desenvolvimento sustentável como “aquele que atende
" Malthus estava errado! O Clube de Roma também estava errado, e o que podemos fazer não é apenas prever um futuro sustentável, mas também construí-lo. "
José Goldemberg Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP
Malthus alertava que o crescimento desordenado acarretaria falta de recursos alimentícios para a população, gerando, como consequência, a fome e argumentou que o crescimento populacional funcionava conforme uma progressão geométrica 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128... enquanto a produção de alimentos, mesmo nas melhores condições de produção dos setores agrícolas, só poderia alcançar o crescimento em forma de uma progressão aritmética. As previsões de Malthus não se concretizaram porque a produção de alimentos – graças ao aumento de produtividade – compensou amplamente o crescimento populacional. O Clube de Roma reviveu as previsões de Malthus não só no que se referia à produção de alimentos como em relação a outros problemas que se tornaram sérios na década dos 70: energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia, além do crescimento populacional, dentre outros. Utilizando modelos matemáticos, o relatório chegou à conclusão de que o planeta Terra não suportaria mais o crescimento populacional devido à pressão sobre os recursos naturais e energéticos e o aumento da poluição, mesmo considerando o avanço das tecnologias. A crise de petróleo de meados da década dos anos 70 pareceu confirmar essas previsões pessimistas: os preços do petróleo subiram brutalmente, o que foi interpretado como sinal do esgotamento das reservas, levando ao pânico as economias dependentes de importações (inclusive o Brasil).
às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. O Relatório completo foi publicado em 1986, sob o título O nosso futuro comum. A definição anterior é bastante vaga, exceto no que se refere à energia. De fato, as reservas provadas de combustíveis fósseis nas quais se baseia a economia mundial atual não devem durar mais do que uma geração (40 anos para o petróleo e 60 para o gás natural). O desafio, portanto, é usar energia de forma mais racional ou encontrar substitutos para eles até meados do século XXI. Nos países industrializados, onde o consumo per capita é de cerca de 4 toneladas equivalentes de petróleo por ano, o grande problema é aumentar a eficiência com que a energia é usada. Nos demais países, é preciso aumentar o consumo de energias renováveis, entre as quais o etanol da cana-de-açúcar. Isso não só parece possível como está ocorrendo: o consumo de combustíveis fósseis continua crescendo a uma taxa de aproximadamente 2% ao ano. Entretanto energias renováveis estão crescendo mais rapidamente (com uma taxa ponderada de 5%) e, portanto, sua contribuição hoje é de cerca de 10%; a matriz mundial deverá alcançar cerca de 50% até o ano 2050. Malthus estava errado! O Clube de Roma também estava errado, e o que podemos fazer não é apenas prever um futuro sustentável, mas também construí-lo.
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centros de P&D
Opiniões
degradação ambiental e
desertificação
A desertificação começou a ser discutida pela comunidade científica nos anos 1930, em decorrência de um fenômeno ocorrido no meio oeste americano conhecido como Dust Bowl. Esse fenômeno durou cerca de 10 anos, e a área atingida ficou conhecida como a grande Bacia do Pó, a qual era caracterizada por solos de pouca profundidade, pequena precipitação anual (em torno de 380 mm) e incidência de fortes ventos. Os desmatamentos e a intensificação da exploração dos solos por meio da agricultura e pecuária, agravados por forte seca entre os anos de 1929 e 1932, foram as principais causas do Dust Bowl. Dezenas de milhares de agricultores nos estados de Oklahoma, Texas, Kansas, Novo México e Colorado ficaram arruinados. Uma superfície de 388.500 km2 de solo seco foi arrastada pelo vento em enormes tempestades de pó. O Sol ficou totalmente encoberto, e cidades como Washington e Nova York mergulharam na escuridão. Milhares de pessoas morreram de fome ou de doenças pulmonares. A seca decorrente obrigou mais de 350 mil pessoas a abandonarem a região e a mudarem-se para outras zonas dos Estados Unidos. Desde essa época, os pesquisadores vêm dando atenção aos fenômenos que ocorrem nas regiões semiáridas de todo o mundo, ou àquelas sujeitas a secas periódicas. A constatação mais evidente é a de que essas áreas, por suas características físicas e limitações naturais, concentram as populações mais pobres e estão sujeitas a maiores níveis de degradação. No início da década de 1970, na região localizada abaixo do deserto do Sahara, conhecida como Sahel (que liga o Oceano Atlântico ao Mar Vermelho através de um corredor quase ininterrupto, com largura que varia de 500 e 700 km), ocorreu um período de quatro anos consecutivos de seca intensa, na qual morreram de fome e enfermidades de 250.000 a 500.000 pessoas. Esse fenômeno climático ainda perdurou por toda a década e comprometeu seriamente a base agrícola de Niger, Mali, Alto Volta, Senegal e Mauritânia. A partir da ocorrência desses dois fenômenos, a comunidade internacional reconheceu o impacto econômico, social e ambiental do problema, definindo
tal processo como sendo desertificação, isto é, a formação de condições de tipo desértico em áreas de clima semiárido. Esse fenômeno serviu de estímulo para a convocação da Assembléia das Nações Unidas, em 1974, quando se discutiu pela primeira vez sobre a desertificação. Muitos estudiosos atribuíram a desertificação ora a processos naturais, principalmente de ordem climatológica, ora a processos induzidos pelos seres humanos. Essas abordagens, longe de se constituírem simples polêmicas de ordem acadêmica, tiveram, e ainda têm, desdobramentos concretos, pois influenciam na formulação de políticas públicas e na consequente destinação dos recursos para implementá-las. Como processo de degradação das condições ambientais, a desertificação consiste na perda da produtividade biológica e econômica das terras agrícolas de sequeiro; das terras de cultivo irrigado, das pastagens e das áreas de matas nativas devido às variabilidades climáticas e/ou através de sistemas de utilização da terra ou por um processo ou uma combinação de processos, incluídos os resultantes de atividades humanas e padrões de povoamento, tais como: 1. a erosão do solo causada pelo vento ou pela água; 2. a deterioração das propriedades físicas, químicas e biológicas ou das propriedades econômicas do solo, e 3. a perda duradoura da vegetação natural. Como visto anteriormente, a ausência de políticas públicas voltadas a evitar a degradação dos solos por um sistema ultrapassado de agricultura predatória pode, em curto intervalo de tempo, provocar impactos sociais, econômicos, culturais, políticos e ambientais, os quais se relacionam entre si e, ao longo dos anos, vão se intensificando e aumentando a vulnerabilidade da população, produzindo e amplificando as perdas sociais e econômicas para a região das áreas afetadas. Infelizmente, o modelo agrário brasileiro, no qual o sistema pecuária e grandes monoculturas têm substituído as florestas existentes, expulsando famílias de pequenos agricultores para as cidades, degradando solos e contaminando rios, tem acarretado a perda do potencial produtivo de grandes áreas no País. Esse não é o paradigma de produção sustentável que procuramos para evitar que, no Brasil, repitam-se os exemplos do início deste artigo.
" muitos estudiosos atribuíram a desertificação ora a processos naturais, principalmente de ordem climatológica, ora a processos induzidos pelos seres humanos " Walter Batista Junior
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Doutorando em Meteorologia Agrícola pela UF-Viçosa
ensaio especial
Opiniões
sustentabilidade:
modismo ou possibilidade? " para que todas as formas de vida sejam sustentáveis, há que se mudar a estrutura de todos os seres que as consomem, o que é impossível. Pensemos, então, no que será o mundo num futuro próximo " Isac Chami Zugman Diretor da Lavrasul - Compensados e Laminados
Sustentabilidade trabalha sobre o tripé formado pelos valores ambientais, econômicos e sociais. É, hoje, uma das palavras mais usadas por todas as empresas, pelo menos publicamente. Se cruzarmos os fatores de produção com esse tripé, perceberemos que, ser sustentável nada mais é do que preservar esses fatores de produção. Por que, então, sustentabilidade é um tema considerado como novo se o conceito dos fatores de produção é tão antigo? Na chamada Era do Artesanato, sem produção em massa e indústrias, não se pensava em qualquer assunto pertinente à preservação ambiental, pois a escassez não era perceptível. Em meados do século XVIII, com a Revolução Industrial, os homens sedentos por lucros buscavam com suas máquinas a vapor a alta produtividade. No século XX, a era tecnológica, o índice de produtividade vai às alturas, sem a menor preocupação do que se fazia à Terra. Hoje, no século XXI, notamos a fraqueza do planeta diante da nossa falta de cuidados, até chegar ao ponto de vivermos uma possível falta de água. Justo no chamado "planeta água"… A que ponto chegamos? A partir daí, empresas no mundo todo começaram a trabalhar na conscientização e educação ambiental. Hoje sustentabilidade é moda – já que a maioria abraçou a ideia; é necessidade – já que, sem a combinação dos três fatores que a compõem, não sobreviveremos; e é também modernidade – porque, infelizmente, trata-se de um conceito novo. Assim, vejamos, pragmaticamente: pretende-se explorar um recurso de forma contínua e regular, mantendo-o em regeneração e ampliação. Eliminamos tudo que não é possível renovar, regenerar e ampliar, como minérios e outros recursos finitos. Esses materiais não são sustentáveis e sobra pouca coisa, das quais, a principal é a árvore; a floresta. Não quero discutir o conceito de sustentabilidade, nem as teorias que possam sustentar a sustentabilidade, como o passaporte do planeta para uma nova era. O uso irracional de palavras da moda tem consequências muito sérias. Quando pronunciadas, alcançam dimensões e influências muito maiores. E é aqui que eu gostaria de fixar um pouco do meu pensamento: na encruzilhada entre a ética e a preocupação ambiental. Quero deixar claro que acredito na sustentabilidade como importante conceito no nosso atual momento global.
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A sustentabilidade merece atenção por ser estratégica para uma reconfiguração das sociedades contemporâneas; porque é complexa e precisa ser bem explicada; porque se encaixa numa rede de outros conceitos que devem ajudar a redefinir novas formas de se ver o mundo, de se compreender a realidade e de se habitar o planeta. Para que todas as formas de vida sejam sustentáveis, há que se mudar a estrutura de todos os seres que as consomem, o que é impossível. Pensemos, então, no que será o mundo num futuro próximo: florestas cuidadas sob conceitos de sustentabilidade ou a ausência delas, a desertificação da Terra e o fim da vida nela. Contesta-se o plantio de florestas, por razões certas e erradas, mas certo é que sem elas não poderemos ficar. Isso é definitivo. Então, como usar uma floresta nativa ou plantada com perenidade? A resposta é simples: a execução real da complexa e difícil sustentabilidade! Ela envolve técnicas e tecnologias, pesquisa, biologia, zoobotânica, cartografia, geografia, eletrônica, química, física, ou seja, todo o conhecimento humano e sorte. Muita sorte. Há inúmeras questões por serem respondidas. Há países que já entenderam que a sustentabilidade é a solução e a incentivam, apoiam, financiam, alavancam e cuidam bem do assunto. Há outros, como o Brasil, que burocratizam, não financiam, não investem, não atraem cientistas nem a academia e não criam condições para a vida das próximas gerações. Há um paradoxo que se coloca aos pensadores e críticos do século XXI a respeito dos modos de vida consubstanciados no capitalismo, em detrimento das políticas de cunho ecológico e ambientalista presentes no contexto atual do desenvolvimento, pois, enquanto a ONU discute estratégias para o desenvolvimento sustentável, o espetáculo midiático, o marketing e a economia provocam o indivíduo a consumir cada vez mais, associando capacidade de consumo a garantia de prazer e conquista de felicidade. Entrei pelo caminho não técnico-científico neste artigo para demonstrar que, se não cuidarmos em dar sustentabilidade aos recursos renováveis, a vida na Terra acabará por falta de alimentos e, especialmente, de água. Não se trata Fexas de uma profecia apocalíptica, até porque, é, se desejarmos, Pralq-USP possível fazer com que o futuro seja bom e receba bem as próximas gerações.
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