O desenvolvimento do conhecimento florestal - OpCP43

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Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br

ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 13 • número 43 • Divisão F • mar-mai 2016

o desenvolvimento do conhecimento florestal


QUEM ESCREVE NA REVISTA OPINIÕES:

Em 12 anos de operação, a Revista Opiniões publicou 2.102 artigos exclusivos, escritos pelos mais respeitados especialistas do Brasil e do mundo, sobre 93 diferentes pautas, tornando-se uma das mais respeitadas mídias dos sistemas sucroenergética e florestal do País. Governo e países estrangeiros: 3 Presidentes da República, 2 Candidatos à Presidência, 29 Ministros de Estado, 20 Senadores e Deputados, 18 Governadores, 59 Secretários de Estado, 9 Promotores, 80 Diretores de Autarquias, e 21 Embaixadores estrangeiros

11% 18% 12%

Usinas, Destilarias e empresas florestais: 113 Presidentes, 159 Diretores, 111 Gerentes e 44 Técnicos

20%

Entidades: 197 Presidentes e 74 Diretores

13% 26%

Universidades e Centros de P&D: 221 Professores, 120 Pesquisadores, 93 Lideres de projetos, e 112 Chefes-gerais, Diretores e Presidentes de Centros de P&D

Fornecedores: 368 desenvolvedores de tecnologia Consultores: 249 desenvolvedores de tecnologia

QUEM RECEBE A REVISTA OPINIÕES:

A Revista Opiniões é enviada nominal e gratuitamente para todos os níveis de comando de 100% das unidades produtoras – incluindo as em projeto ou em construção; universidades e centros de P&D; entidades e órgãos governamentais interessados nas áreas industrial, agrícola e silvicultural; empresas fornecedoras envolvidas na produção de Cana, Açúcar, Etanol e Bioeletricidade, Celulose, Papel, Carvão, Siderurgia, Painéis e Madeira Sólida.

Sucroenergético:

Florestal:

Fornecedores: 16% Articulistas: 11% Entidades, Universidades, Centro de P&D e Governo: 5%

Fornecedores: 16%

16% 11%

Articulistas: 18%

68%

5%

Produtores: 37%: Diretores 22%: Gerentes 41%: Todos os níveis de Supervisão

Entidades, Universidades, Centro de P&D e Governo: 12%

16% 18% 54% 12%

Produtores: 19%: Diretores 32%: Gerentes 49%: Todos os níveis de Supervisão

GARANTIA REAL DE IMPRESSÃO E VEICULAÇÃO:

Como prova efetiva da tiragem e distribuição realizada, disponibilizamos ao anunciante, cópias das notas fiscais e dos documentos de cobrança e de pagamento da impressão da Gráfica e do despacho dos Correios, além de relatórios quantitativo e percentual da distribuição por tipo de empresa, estados e regiões geográficas do país. Disponibilizamos ao Anunciante visitas de auditoria, sem prévio aviso ou agendamento, para comprovação física dos sistemas operacionais e de distribuição das Revistas Opiniões. Sucroenergético: 63%: Sudeste 8%: Sul 1%: Norte 12%: Nordeste 13%: Centro-Oeste 3%: DF

Florestal:

13%

3%

12% 1% 8%

63%

46%: Sudeste 34%: Sul 5%: Norte 5%: Nordeste 6%: Centro-Oeste 4%: DF

4% 6% 5% 5%

Sudeste

46%

Sul Norte Nordeste Centro-Oeste

34%

DF


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Opiniões


índice

o desenvolvimento do conhecimento florestal

Editorial de abertura:

5

Luiz Ernesto George Barrichelo Diretor Executivo do IPEF

Estoque de carbono no solo:

16

45

Diretor-geral da MCA Medrado e Consultores

Pesquisadora da Embrapa Cerrados

Certificação florestal:

32

Inventário florestal:

Ensaio especial: Moacir José Sales Medrado

Karina Pulrolnik

18

Helio Garcia Leite

Professor de Manejo Florestal da UF-Viçosa

Mecanização florestal:

8

Germano Aguiar Vieira Diretor Florestal da Eldorado

34

10

Diretor da Malha Viária Logística de Estradas

24

13

Diretor da Assistech

37

Walter de Paula Lima

Professor do Dpto de Ciências Florestais da Esalq-USP

26

José Leonardo de Moraes Gonçalves Professor de Ciências Florestais da Esalq-USP

Professor de Colheita e Transporte do Unicentro

Itamar Antonio Bognola e Shizuo Maeda Pesquisadores da Embrapa Florestas

Pragas florestais:

40

Nutrição e fertilização:

Material de plantio: Teotônio Francisco de Assis

Professor do Dpto de Fitopatologia da UF-Viçosa

Eduardo da Silva Lopes

Silvicultura de precisão:

Hidrologia florestal:

Estradas florestais: Luiz Antonio de Carvalho

Acelino Couto Alfenas

Doutoranda e Professor de Eng Florestal da UF-Viçosa

Colheita de madeira:

Doenças florestais:

21

Crismeire Isbaex e Sebastião Valverde

Carlos Frederico Wilcken

Professor de Entomologia Florestal da UNESP-Botucatu

Mudas clonais:

42

Gilmar Pires de Moraes

Diretor da Angico's Mudas Florestais

Incêndios florestais:

29

Marcos Giongo

Professor de Engenharia Florestal da UF-Tocantis

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br n Diretor Geral de Operações e Editor Chefe: William Domingues de Souza - 16 3965-4606 - WDS@RevistaOpinioes.com.br nCoordenadora Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Souza - Fone: 16 3965-4660 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br nVendas: Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br • Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@ globo.com • Francine da Mata Silva - 16 3441-0343 - FM@RevistaOpinioes. com.br n Assistente do Editor Chefe: Fernanda Aparecida da Silva e Silva - 16 3965-4661 - FS@RevistaOpinioes. com.br nJornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@RevistaOpinioes.com.br nEdição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 boniceli@globo.com nProjetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - LuisaBR@RevistaOpinioes.com. br nConsultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha nCorrespondente na Europa (Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai - Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de nDesenvolvimento de Mercados na Ásia: Marcelo Gonçalez - MG@RevistaOpinioes.com.br nExpedição: Donizete Souza Mendonça - DSM@RevistaOpinioes.com.br nCopydesk: Roseli Aparecida de Sousa - RAS@ RevistaOpinioes.com.br nTratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) nFinalização: Douglas José de Almeida nImpressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP nArtigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões pessoais de seus próprios autores nFoto da Capa: Banco de Fotos da Revista Opiniões nFoto do Índice: Banco de Fotos da Revista Opiniões nFotos das Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 8111-8887 - paulo@pauloaltafin.com.br• Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244 - ad@arydiesendruck.com.br • Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com • Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas nFotos dos Articulistas: Acervo Pessoal dos Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos nVeiculação Comprovada: Através da apresentação dos documentos fiscais de pagamento dos serviços de Gráfica e de Postagem dos Correios nTiragem Revista Impressa: 4.000 exemplares nRevista eletrônica: Cadastre-se no Site da Revista Opiniões e receba diretamente em seu computador a edição eletrônica, imagemn fiel da revista impressa n Portal: Estão disponíveis em nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos n Home-Page: www.RevistaOpinioes.com.br

Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano

4


editorial

Opiniões

o desenvolvimento do

conhecimento florestal

no Brasil

Segundo informações na literatura especializada, a liderança da sistematização do conhecimento florestal pertence às universidades alemãs no fim do século XIX. O ensino formal só chegou ao Brasil na década de 1960, através da Escola Nacional de Florestas, inicialmente em Viçosa-MG e posteriormente transferida para Curitiba-PR. Constituiu-se um esforço conjunto do Governo Federal da época com a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Porém a coleta de informações sobre a realidade florestal brasileira iniciou-se décadas antes.

Estamos ingressando na terceira fase, quando, nas competências estabelecidas para os engenheiros florestais, as demandas futuras do conhecimento exigem uma adequada formação em gestão florestal "

Luiz Ernesto George Barrichelo Diretor Executivo do IPEF

Os primeiros estudos divulgados sobre as florestas nativas se iniciaram através das expedições naturalistas à Amazônia, ainda no século XIX, de pesquisadores europeus (alemães, italianos, franceses, ingleses e russos) e estadunidenses. Data de 1866 a primeira entidade, cujos objetivos incluíam estudos florestais e era denominada Associação Philomatica.

5


editorial Anos depois, em 1871, era criado o museu Paraense, que, a partir de 1893, passou a ser dirigido pelo zoólogo suíço Emílio Goeldi. Mercê de seu trabalho notável à frente da instituição, esta passou a denominar-se Museu Goeldi, em sua homenagem. No início de século XX, outra frente de pesquisas surgiu na região Sudeste, mais especificamente no bioma compreendido pela Mata Atlântica. O agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, da equipe técnica da então Companhia Paulista de Estradas de Ferro, foi incumbido de pesquisas em torno de espécies nativas de rápido crescimento, visando ao reflorestamento e, com isso, procurando minimizar a derrubada de matas virgens para fornecimento de lenha, mourões e postes para as linhas férreas. Dotado de notável criatividade e tendo viajado para outros países, introduziu, a título comparativo, algumas espécies exóticas e, entre elas, diversas espécies do gênero Eucalyptus. Após alguns anos de intensa pesquisa nos hortos de Jundiaí-SP e Rio Claro-SP, passou a divulgar, através de publicações técnicas e científicas, os primeiros resultados, mostrando a superioridade do eucalipto. Com isso, nascia a outra vertente da realidade florestal brasileira, apoiada nas florestas plantadas com espécies exóticas. A gênese do conhecimento florestal esteve apoiada, durante décadas, nas ciências agronômicas, e os profissionais pioneiros eram denominados “engenheiros agrônomos-silvicultores”. Com os conceitos básicos da agronomia, os primeiros passos foram dados através de tentativas e erros. Resultados positivos e negativos eram divulgados, conhecimentos, compartilhados pelos primeiros “plantadores de florestas” no Brasil. Fazem parte dessa primeira fase inventário e manejo de florestas nativas, utilização de seus produtos florestais para serraria e energia; incipientes plantios de espécies exóticas, incialmente o eucalipto e posteriormente o pinus; primeiros estudos de genética visando à seleção de sementes melhoradas e práticas de plantio e manejo, procurando utilizar as técnicas agronômicas correntes à época. A segunda fase ocorreu a partir dos anos 60 do século passado em que, além da instalação formal das escolas de engenharia florestal, editava-se, em 1965, um novo Código Florestal em substituição ao de 1934; criava-se o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, autarquia vinculada ao Ministério da Agricultura, encarregado dos assuntos pertinentes às florestas, tanto nativas como implantadas, e do qual foram lançados os incentivos fiscais a partir de 1966. Essa segunda fase foi a base para as décadas seguintes, com grandes programas de reflorestamento, muitos dos quais fadados ao fracasso, quer pela imprudência dos investidores frente ao “dinheiro fácil”, quer pela ausência de conhecimentos

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Opiniões suficientes para os desafios de empreendimentos em áreas sem respaldos em pesquisas locais. As empresas que venceram essa segunda fase o fizeram investindo em pesquisas de escolas, institutos, sociedades e centros, além de pesquisas próprias. Há que se ressaltar que foi decisiva a intensa colaboração entre as empresas florestais da época e investimentos dentro do binômio universidade-empresa. Nesse particular, quando se procura justificar o sucesso da silvicultura nacional no concerto das demais nações, há que se reconhecer a qualidade dos profissionais das empresas florestais, grande parte com nível pós-graduado. Dessa maneira, conseguem interagir eficazmente com as competências docentes das escolas e com os pesquisadores das entidades de pesquisas. Daquela primeira escola dos idos de 1960 até nossos dias, houve um grande salto em quantidade e qualidade do conhecimento florestal. O Ministério de Educação e Cultura tem credenciado 66 cursos de graduação oferecidos por 60 instituições espalhadas por praticamente todos os estados brasileiros. Ao lado deles, os cursos de pós-graduação totalizam 27 no nível de mestrado e 18 no nível de doutorado, oferecidos por 22 instituições de ensino e pesquisa. Além do conhecimento difundido por essa notável força de trabalho, são publicadas 15 revistas científicas dedicadas às ciências florestais no Brasil. As entidades de ensino e pesquisa que patrocinam as citadas revistas contribuem para um valioso Banco de Teses e Dissertações defendidas nos seus programas de pós-graduação: 5 da região Norte, 4 da região Nordeste, 7 da Região Sudeste e 5 da região Sul. Outro fator importante na disseminação do conhecimento florestal para a formação de aperfeiçoamento na área tem sido o aprendizado não formal. Com raras exceções, os cursos existentes oferecem estágios nos diferentes departamentos e em empresas e instituições de pesquisas com os quais mantêm convênios ou simples parcerias. Fato relevante é a imensa quantidade de eventos oferecidos para graduandos e graduados em engenharia florestal (seminários, congressos, simpósios, workshops, etc.), com uma participação expressiva de palestrantes ligados às empresas florestais. Estamos ingressando na terceira fase, quando, nas competências estabelecidas para os engenheiros florestais, as demandas futuras do conhecimento exigem uma adequada formação em gestão florestal, principalmente no aprofundamento dos conceitos administrativos e financeiros para entender melhor o negócio florestal além de desenvolver habilidades para trabalhar com equipes. Será uma garantia para a procurada e desejada sustentabilidade dos empreendimentos florestais nos aspectos econômico, social e ambiental.


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mecanização florestal

os desafios na nova era tecnológica enxergamos uma grande lacuna de empresas fabricantes de máquinas florestais na capacidade de apresentar soluções atrativas para o setor florestal "

Germano Aguiar Vieira Diretor Florestal da Eldorado

A mecanização florestal sempre foi um desafio das empresas de base florestal e principalmente do setor de celulose e papel. A busca contínua por otimização da mão de obra, melhoria das condições de trabalho no campo e aumento da produtividade do trabalho florestal sempre estiveram em pauta nas grandes decisões de expansão do setor. Nesse contexto e sendo considerada uma das maiores alavancas de melhoria do desempenho, a mecanização é, hoje, a grande aposta para superar os desafios impostos ao setor e contribuir para a melhoria da competitividade do produto florestal. A variabilidade de situações operacionais encontradas nas diversas empresas brasileiras do setor florestal requer um esforço contínuo de pensamento para a escolha de novas tecnologias aplicáveis às operações florestais para se ter os melhores resultados que irão garantir a sustentabilidade dessas empresas. O olhar para um futuro, não tão distante, mostra algumas preocupações e oportunidades de nos reinventarmos em termos de mecanização das atividades de silvicultura, colheita e transporte florestal. A expansão da fronteira dos novos projetos de plantios de eucalipto, onde encontraremos condições adversas, apontam para problemas de falta de mão de obra rural, redução de produtividade das florestas, infraestrutura de estradas inadequadas e mudanças climáticas substanciais. Esse novo cenário cria, de imediato, demanda de novas tecnologias de plantio, com máquinas e implementos mais eficientes e que reduzirão os custos operacionais, descoberta de material genético que enfrentará o maior déficit hídrico, sistemas de colheita mais adequados a florestas de menor porte e sistema logístico capaz de compensar deficiências de estradas de acesso comuns nesse ambiente. Retratando o atual cenário de desenvolvimento de máquinas e equipamentos para o atendimento das operações florestais, enxergamos uma grande lacuna de empresas fabricantes de máquinas florestais na capacidade de apresentar soluções atrativas para o setor florestal. Contrariamente a esse retrato, podemos citar os desenvolvimentos tecnológicos no campo agrícola,

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onde as superações são notadas anualmente, com os lançamentos de inúmeras inovações. Quando consideramos os maiores investimentos de mecanização no setor florestal, geralmente eles se referem, na sua grande maioria, à colheita florestal e muito pouco à silvicultura. Mesmo que o setor florestal brasileiro seja expressivo, cerca de 8 milhões de hectares plantados, o desenvolvimento de equipamentos para a silvicultura ainda é marginal e inexistente nas grandes empresas fabricantes de máquinas. Isso provoca uma maior dedicação das empresas plantadoras na criação de soluções caseiras de implementos que atendam a suas necessidades. Isso tudo, no entanto, ocorre através de adaptações grosseiras de implementos agrícolas, porém sem o suporte de engenharia e tecnologia mais adequado, normalmente encontrados nos grandes fabricantes de máquinas. Dessa forma, podemos observar, nos últimos anos, uma grande evolução dos índices de tratorização na agricultura quando comparado aos das empresas de base florestal. Hoje o número de hectares plantados por trator, na agricultura, é 14 vezes menor do que no setor florestal, onde o normal seria de apenas 6 vezes. Atualmente, o percentual médio de área mecanizada das empresas de base florestal é de, aproximadamente, 58%, sendo o índice de tratorização em torno de 1,4 mil ha/trator. Nesse sentido, algumas empresas vêm se destacando com investimentos volumosos em mecanização florestal, superando grandes desafios nas áreas de desenvolvimento operacional, buscando um processo de produção altamente tecnológico. O plantio mecanizado de eucalipto já é uma realidade em várias empresas


Opiniões

2015

2010

2005

2000

1995

1990

8 1,4

ÁREA EM HECTARE / TRATOR

12 10 8 6 4 2

Florestal 2015

Área em hectare

1985

1980

1975

1970

1965

1960

1950

1940

1920

66 70 11,2 59 63 60 53 48 50 48 50 50 42 6,7 40 32 35 26 26 30 19 22 20 3,1 0,4 0,4 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 10

Área/Trator (ha x 1000)

Índice de Tratorização na Agricultura versus ATIVIDADE FLORESTAL EM 2015 Área em Milhões de ha

de ponta que já conseguem ter cerca de 80% de suas atividades mecanizadas. Além do plantio mecanizado, também se destacam a irrigação mecanizada com alto nível de automação, subsolagem com adubações controladas, ou seja, altera-se a dosagem de acordo com a demanda indicada para cada talhão da fazenda. Sistemas de piloto automático já implantados nos tratores eliminam a necessidade da interferência dos operadores no alinhamento do plantio e no uso de drones para planejamento de todas as estradas e saídas d’água da fazenda. Adaptações no setor florestal ainda são necessárias para o pleno atendimento das necessidades do processo de produção florestal. Na maioria dos casos, as adaptações são importadas da agricultura, com a esperança de dar velocidade às mudanças tecnológicas no suprimento das operações de campo. Equipamentos como autopropelido, que, antes, era exclusivo para combate a plantas invasoras na agricultura, hoje, são utilizados em larga escala pelas empresas florestais. Num futuro de curto prazo, podemos considerar a possibilidade do aumento da capacidade produtiva das máquinas com a introdução das operações em multilinhas e multitarefas e, com isso, poderemos reduzir ainda mais a dependência de mão de obra. Para as áreas de reforma, a expectativa é a introdução de operações combinadas de trituração de resíduos e subsolagem, eliminando, assim, uma operação de limpeza prévia que facilita a operação de preparo de solo. Essa combinação de operações irá possibilitar maior rendimento no preparo de solo e redução no número de máquinas necessárias à execução das suas atividades. No longo prazo, há uma previsão de um maior nível de automação e mais eletrônica embarcada, tirando cada vez mais a intervenção humana na realização de atividades florestais e, como já visto em testes, operações de colheita realizadas remotamente (sem operador na máquina), propiciando o aumento na segurança e a velocidade da máquina. A mecanização florestal exerce grande importância em processos de produção de empresas de base florestal, uma vez que, sem ela, perderíamos nossa competitividade diante do cenário de queda de preços das commodities.

comparação dos níveis de mecanização florestal 3,09

HOMEM DIA POR HECTARE MÁQUINA DIA POR HECTARE VEÍCULO DE APOIO DIA POR HECTARE IMPLEMENTO DIA POR HECTARE

1,42 1,05

0,28

0,40 0,11

baixa mecanização

0,33

0,12

0,25

mecanização atual

0,26

0,14

0,30

alta mecanização

Operação de Irrigação Mecanizada sem a necessidade de uso de mão de obra com maior economia na operação

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estradas florestais

Opiniões

o planejamento das estradas Uma estrada pode ser conceituada como sendo uma faixa de terreno com características geométricas específicas, sistematizada e com piso preparado, que serve para circulação de veículos. Cada estrada apresenta características que dependem da localização, condições do terreno, recursos financeiros, nível de desenvolvimento da região e finalidade a que se destina. Hoje, já não bastam apenas os estudos de engenharia para o planejamento das estradas, existe também a condicionante ambiental, que tem exigido um cuidado ainda maior. A participação do setor rodoviário nesse processo é detectada por ocasião da abertura de novas estradas, com alterações decorrentes das obras de terraplenagem, exploração de jazidas, caixas de empréstimos e má drenagem. Porém percebemos que a maioria das empresas adotaram o sistema de transporte pesado e semipesado, ou estão se programando para tal. Com isso, é notório que seus plantios não foram devidamente planejados focando as formas de colheita e transporte modernos. A preocupação é que, na maioria das empresas, não se percebem atitudes objetivas de visão em longo prazo, para o planejamento adequado de suas vias. A construção de estradas perfeitas, que atendam a todos os interesses e que melhorem a administração, não é atividade fácil. Quando se dispõe de estradas adequadas, obtém-se ganhos consideráveis, como um melhor equacionamento da frota de caminhões e máquinas, melhor aproveitamento do pessoal, redução de estoques mínimos, menores investimentos, ampliação das áreas produtivas e redução de estradas, dentre outros. Para o estabelecimento de um perfeito planejamento viário visando a uma floresta economicamente viável, é necessário considerar premissas, como: a. Iniciar o planejamento e a construção das estradas durante o plantio, levando-se em conta restrições financeiras e investimentos escalonados; b. Obrigatoriamente, as estradas devem atender às atividades

A preocupação é que, na maioria das empresas, não se percebem atitudes objetivas de visão em longo prazo, para o planejamento adequado de suas vias. "

Luiz Antonio de Carvalho

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Diretor da Malha Viária Logística de Estradas

de silvicultura, proteção florestal, pequenas atividades, vizinhos, terceiros, colheita e transporte; c. Recomenda-se uma equipe técnica especializada na preparação do planejamento, permitindo a realização sincronizada dos serviços e com acompanhamento técnico e financeiro dos trabalhos. d. Os projetos viários para plantio ou reforma devem ser conduzidos, evitando-se agressões na floresta por ocasião da colheita, garantindo a não recolocação das estradas e possibilitando a implantação em etapas, ou seja, parte construída atendendo ao plantio, parte construída atendendo à proteção florestal e parte atendendo à colheita, conforme se mostra na planta em destaque. Analisando as operações, vemos várias etapas com objetivos convergentes num resultado final comum. Assim, o custo final da operação vai depender dos custos parciais das atividades convergentes e de fatores que interagem entre os custos parciais, merecendo os seguintes comentários: • Custo da construção da estrada: varia dependendo das características de relevo, tipo de solo, padrões adotados, etc.; • Custo da manutenção de estrada: depende da sua qualidade, grau de utilização, tipo de pavimento existente, entre outros; • Custo da derrubada, baldeio ou arraste: depende principalmente das distâncias de mobilização da madeira e localização das pilhas, tipo de solo, relevo e equipamentos empregados; • Custo do transporte: relacionado diretamente com o volume de madeira, distância de transporte, tipo de caminhão, relevo e qualidade da estrada; • Custo da manutenção mecânica: depende principalmente da qualidade da estrada, tipo e desempenho dos veículos e relevo da região. Como visto, as interferências não são poucas, reforçando ainda mais a necessidade de uma perfeita rede viária, sem a qual não se obtém sustentação para as demais atividades. O gráfico em detaque ilustra os custos demonstrados e o momento que uma estrada passa a ser economicamente viável, em que os custos com estradas se encontram com os custos de extração, gerando, assim, a densidade ótima de estradas. Tomando como referência resultados obtidos, sugere-se que uma rede viária tenha a seguinte classificação: • Tipo A - Estrada principal asfaltada - externa ou interna: de uso geral da população, atendendo às atividades do empreendimento e a terceiros, desempenhando papel de importância no conjunto viário,


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estradas florestais

PLANEJAMENTO DE ÁREA FLORESTAL OTIMIZANDO A CONSTRUÇÃO EM ETAPAS Estradas principais implantadas na fase de plantio e construção definitiva na fase de colheita

Estradas principais existentes conservadas na fase de plantio Aceiros implantados no início da fase de proteção florestal

Bueiros implantados na colheita florestal

Estradas secundárias implantadas na fase de plantio

12

Divisoras implantadas na fase de plantio

Contornos implantados na fase de colheita

Viabilidade econômica através da densidade ótima de estradas Custos Totais estradas + extração

Custos de estradas

Custo

sendo responsável pelo escoamento rápido e seguro da produção. Sua construção e manutenção ocorrem com recursos dos órgãos públicos ou do empreendimento. A largura varia entre 9 e 12 m, com rampas máximas de 9% e declividade lateral dupla de 3%. • Tipo B - estrada principal, cascalhada ou não - externa: de uso geral da população, atendendo às atividades do empreendimento e a terceiros, promovendo a conexão rápida e segura da produção, entre as estradas asfaltadas e plantios, onde estão as demais estradas. É construída e mantida por órgãos públicos, ou, na falta, com recursos do empreendimento. Se construída conforme padrões, sua conservação é feita, em média, três vezes ao ano, ou mais, havendo concentração maior de veículos ou intempéries graves. Sua largura varia de 6 a 12 m e apresenta rampas máximas de 9%, com declividade lateral dupla variando de 2 a 5%. • Tipo C - estrada principal, cascalhada ou não - interna: por se localizar internamente às propriedades, é construída e mantida com recursos do empreendimento e atende às atividades do empreendimento e a terceiros, promovendo a conexão rápida e segura da produção, entre as estradas tipos A e B até os plantios, onde estão os demais tipos. Na implantação da floresta, recomendam-se operações menos agressivas, mantendo o enraizamento da vegetação. A manutenção pode ser feita com laminadas leves. Já a largura varia de 6 a 10 m, com rampas máximas de 9% e declividade lateral dupla de 3%. Seu posicionamento, preferencialmente, deve passar pelo centro da fazenda, atendendo ao máximo da área plantada, com o traçado mais suave, evitando curvas e declividades acentuadas. • Tipo D - estrada secundária, cascalhada ou não - interna: responsável por grande parte do escoamento da colheita, por promover a interligação entre os demais tipos de estradas. Sua construção, manutenção e posicionamento são idênticos às do tipo C. Possui largura de 6 m, rampas máximas de 9% e declividade lateral dupla de 3%. Recomenda-se observar o ângulo máximo de 45º para inserção entre estradas, facilitando a mobilidade dos caminhões. • Tipo E - aceiro: protege as áreas plantadas, separando-as das áreas de preservação ou de terceiros e contribui em pequena proporção para a colheita. Chama-se aceiro quando, de um lado, existir floresta, do outro, mata, e divisa com terceiro, ou, então, separa plantio direto de área de terceiro. Sua construção normalmente ocorre com trator de esteira e motoniveladora, tendo

Custos de extração Custos de manutenção Custos com perdas de áreas Densidade ótima de estrada (DOE)

Densidade de estradas (m/ha)

como princípio a simples raspagem superficial. Deve ser conservada uma vez por ano, após o segundo ano de plantio. A largura recomendada é de 6 m, as rampas podem chegar a 15%, com declividade lateral em único sentido de 3%. • Tipo F - contorno: auxilia na colheita e serve para separar os plantios das áreas de preservação internas, apresentando talhão de um lado e mata do outro. Sua construção pode ser com máquinas de lâmina, e o mais recomendado são as roçadeiras ou herbicidas. Já a conservação ocorre na colheita, e o recomendado também são as roçadeiras ou herbicidas. A largura dos contornos é de 4 m, rampas de até 15% e declividade lateral em um único sentido de 3%. • Tipo G - divisora: separa os talhões e escoa a colheita por baldeio ou transporte direto. A construção e a manutenção são idênticas às do Tipo F. A largura varia de 4 a 6 m, com rampas que chegam a 5% e declividade lateral de duplo sentido de 3%, quando posicionada perpendicularmente às curvas de níveis e quando, em sentido transversal, tem declividade lateral de 3% num único sentido. Recomenda-se observar o ângulo máximo de 45º para inserção entre estradas, facilitando a mobilidade dos caminhões. A disposição de uma rede viária deve buscar o formato em “espinha de peixe”, permitindo que uma via de menor importância dirija seu fluxo para outra de maior importância mais rapidamente. Quanto maior for a propriedade, mais importante será a sobreposição a esse formato em “espinha de peixe” por um segundo formato “anelar”, composto pelas estradas secundárias. O modelo em “espinha de peixe” possibilita melhor direcionamento do transporte, maior conservação do solo, através das declividades menores das estradas, diminui a densidade de estradas, reduzindo áreas perdidas, amplia as áreas plantadas e diminui os custos de implantação da área. O dimensionamento e a geometria conferida aos talhões devem ser a resultante entre as produtividades ótimas dos equipamentos de plantio, colheita e baldeio ou arraste.


material de plantio

Opiniões

planejamento do

material de plantio

Um dos principais fatores envolvidos no planejamento e na escolha dos materiais genéticos para plantios florestais é a utilização que se quer dar à plantação, ou seja, que tipo de indústria vai consumir a madeira produzida. Há espécies e clones, cujas características da madeira são mais aptas a certos tipos de produtos. Pode haver antagonismo quanto às propriedades valorizadas para usos distintos, como madeira para celulose e carvão vegetal. Para a fabricação de celulose, há uma faixa específica de densidade, normalmente mais baixa do que seria ideal para a fabricação de carvão e para a produção de energia de biomassa. Da mesma forma, altos teores de lignina são valorizados na produção de energia de biomassa e na fabricação de carvão vegetal, mas podem ser indesejáveis na fabricação de celulose. Na produção de madeira serrada, dependendo do tipo de segmento de mercado que vai ser atendido (móveis, pisos, móveis para exteriores, etc.), pode não haver antagonismo com a produção de celulose, carvão e madeira para energia, ou seja, a madeira adequada a essas utilizações pode, ao mesmo tempo, ser adequada para serraria. Dessa forma, se nota que a adequação da matéria-prima florestal aos distintos usos deve ser olhada com cuidado para não se desvalorizar sua qualidade perante os mercados consumidores. A utilização da madeira, com qualidade, deve ter em consideração suas características exigidas para cada uso final. O ambiente de plantio é outro fator importante no planejamento e na escolha dos materiais genéticos para os plantios florestais. É no ambiente de plantio que se vão evidenciar os fatores que podem impulsionar a produtividade e os que podem funcionar como fatores redutores.

Embora uma grande área plantada possa ser indicativa do bom crescimento, qualidade da madeira e adaptação, a base genética reduzida é um risco que pode, a qualquer momento, acionar o gatilho de algum problema biótico. "

Teotônio Francisco de Assis Diretor da Assistech

Há que se levar em conta as características regionais no tocante ao clima, aos fatores bióticos e abióticos predominantes e o que o manejo pode contribuir para atenuar certas situações de campo. Nesse sentido, é importante saber quais fatores podem comprometer o desempenho dos distintos materiais genéticos, para que a escolha seja a mais adequada possível. O ideal é estabelecer testes clonais para guiar essa escolha, mas nem sempre isso é possível para os pequenos e médios produtores. Nesses casos, é importante conhecer o comportamento dos distintos materiais genéticos disponíveis. O mais simples é verificar quais materiais genéticos se adaptam a esses ambientes, sobretudo para os produtores que não desenvolvem programas de melhoramento. Nesse caso, funciona bem copiar o que está dando certo. Para novos materiais, sem tradição no ambiente foco, comparações climáticas entre locais onde esses materiais já são plantados com sucesso e os ambientes das novas fronteiras florestais podem ser úteis na indicação dos materiais genéticos mais adequados aos novos locais de plantio. É importante salientar que a utilização de clones tem que ser muito bem planejada para não ocorrer problemas decorrentes da especificidade ambiental de alguns materiais genéticos. Em locais de expansão florestal, os governos estaduais deveriam estabelecer redes de testes clonais para orientar pequenos e médios produtores na escolha adequada do que plantar.


material de plantio Há grande quantidade de clones de alto potencial de crescimento em algumas empresas, os quais não atendem a especificações de qualidade da madeira, mas que podem ser úteis para pequenos e médios produtores e até mesmo para empresas com outros tipos de uso. As empresas que produzem carvão vegetal, por exemplo, descartam clones com densidade intermediária, que podem atender ao segmento de celulose e madeira para serraria. Há clones descartados nas empresas de celulose com densidade acima dos seus limites ótimos, que podem ser adequados para quem busca maior densidade da madeira, como carvão vegetal e energia de biomassa. Normalmente, esses clones podem ser disponibilizados mediante venda ou pagamento de royalty. Dessa forma, a quantidade de clones com potencial de adaptação pode aumentar consideravelmente com o acesso a esses clones. Os novos projetos florestais estão sendo direcionados para áreas ambientalmente mais críticas, com maior déficit hídrico. Em razão disso e do recrudescimento das situações de estresse hídrico ocorridas nos últimos anos, a Sociedade de Investigações Florestais, em parceria com o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais e várias empresas associadas às duas instituições, iniciou o desenvolvimento de um programa cooperativo para a produção de clones tolerantes ao déficit hídrico. Esse programa vai aproveitar a complementaridade existente entre as empresas, no sentido de que sejam desenvolvidos novos materiais tolerantes à seca. A maioria dos clones tolerantes à seca existentes no Brasil é proveniente de cruzamentos envolvendo espécies tolerantes, com E. camaldulensis, E. tereticornis e E. brassiana. Portanto, além dos clones com alguma tolerância à seca, essas espécies serão de grande importância dentro desse projeto. É importante considerar que, nesse cenário de mudanças climáticas, situações mais limitantes podem ocorrer e que o desenvolvimento de materiais tolerantes é estratégico ao aumento, ou até mesmo à manutenção da produtividade. Há uma série de novos desafios, que podem dificultar na escolha dos materiais de plantio, como os insetos introduzidos nos últimos anos no País. Entre eles, se destacam o psilídeo de concha (Glycaspis brimblecombei), a vespa da galha (Leptocybe invasa) e o percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus). A rápida adaptação desses insetos a materiais genéticos, inicialmente não preferenciais, indica que eles podem representar riscos mais sérios à produtividade das florestas de eucalipto no Brasil. Há também doenças recentes, como as causadas pelo fungo Ceratocystis e bactérias dos gêneros Ralstonia e Erwinia que, juntamente com doenças antigas, como ferrugem, cancro e Cylindrocladium, também dificultam as recomendações de materiais de plantios em certos locais. Apesar de os clones serem biologicamente mais vulneráveis, devido à não existência de variabilidade genética entre as plantas do mesmo clone, por essa mesma razão

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Opiniões clones testados e comprovados, em relação à sua resistência e adaptação, são mais confiáveis. Outros fenômenos, como o “distúrbio fisiológico”, um problema identificado como sendo causado por fatores abióticos, também têm afetado a produtividade dos plantios em áreas de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Há clones e espécies com potencial de tolerância ao “distúrbio fisiológico”. Certamente, o plantio de clones tolerantes é a melhor alternativa para suplantar esse problema. Nesse sentido, clones híbridos entre espécies de Corymbia estão se constituindo mais uma opção para áreas com “distúrbio fisiológico”, sobretudo quando esses cruzamentos têm a espécie C. torelliana na sua constituição. Essa espécie ocorre em áreas com altos índices pluviométricos, seguidos de períodos secos, e se adapta muito bem às situações predisponentes do “distúrbio fisiológico”, que são a combinação de alternâncias de muita chuva e períodos secos, em solos pesados e de difícil drenagem. Outra situação, que representa dificuldades na escolha dos materiais de plantio, decorre de áreas muito extensas plantadas com alguns clones em determinada região. Há situações onde um clone já possui mais de 70 mil hectares plantados em uma mesma região. Embora uma grande área plantada possa ser indicativa do bom crescimento, qualidade da madeira e adaptação, a base genética reduzida é um risco que pode, a qualquer momento, acionar o gatilho de algum problema biótico. Dessa forma, é preferível evitar o plantio de clones que ocupam grandes extensões de áreas, desde que haja alternativas adequadas em termos de qualidade da madeira e adaptação. Ao se planejar o material de plantio, há a possibilidade de a escolha recair sobre plantios clonais, ou plantios seminais. Do ponto de vista dos processos industriais, nos seus distintos segmentos, a clonagem apresenta contribuições potencialmente importantes. A clonagem possibilita a produção de matéria-prima mais uniforme, o que, do ponto de vista industrial, apresenta significativos benefícios, tanto na redução dos custos do processo industrial quanto na qualidade dos produtos. Embora possa ser uma fragilidade do ponto de vista biológico, os clones podem ser o caminho mais adequado para solucionar problemas de incidência de doenças. Historicamente, o uso de clones resistentes tem sido uma medida eficiente para possibilitar o plantio de florestas produtivas em locais com incidência de doenças. Entretanto isso não pode ser assumido como regra, pois algumas espécies são recalcitrantes aos processos de clonagem, e, se a escolha recair sobre essas espécies, utilizar sementes é obrigatório. Além disso, para áreas com ocorrência de geadas, às vezes, sementes ainda são a opção mais adequada para pequenos e médios produtores, com é o exemplo de E. benthamii. Fica como mensagem final que a escolha certa pode determinar o sucesso das plantações, assim como escolher os materiais errados pode representar um desastre.



estoque de carbono no solo

o estoque de carbono no solo em

floresta de eucalipto e ilpf Coautores: Lourival Vilela e Cintia Carla Niva, Pesquisadores da Embrapa Cerrados

é de fundamental importância que os povoamentos florestais sejam manejados de forma a garantir a preservação dos estoques de carbono, contribuindo para a mitigação de gases de efeito estufa e para a sustentabilidade do sistema "

Karina Pulrolnik Pesquisadora da Embrapa Cerrados

O cultivo de florestas é apontado como meio eficiente no sequestro de carbono em razão do acúmulo deste na madeira e aumento do estoque no solo. No Brasil, a maior área de florestas plantadas é constituída pelo eucalipto, e as condições que favorecem o seu rápido crescimento também contribuem para a mais rápida decomposição dos resíduos depositados e da matéria orgânica do solo. Os atributos químicos, físicos e biológicos do solo são influenciados pela matéria orgânica, sendo esta, portanto, a principal indicadora da qualidade do solo. A dinâmica da matéria orgânica do solo, por sua vez, é influenciada pelo clima, temperatura, cobertura florestal, tipo de solo, seu uso e manejo. Ela pode ser considerada como dreno ou fonte de carbono atmosférico. Para que o carbono seja acumulado no solo, deverá ocorrer a adição de resíduos vegetais, sua transformação para matéria orgânica do solo e humificação por meio de processos físicos, químicos e ações biológicas de microrganismos, fungos e fauna. Assim, o carbono orgânico do solo pode se encontrar em frações lábeis ou estáveis, o que pode ter implicações na durabilidade do seu efeito quanto à retenção de carbono atmosférico. A fração lábil ou ativa é constituída pela serapilheira das plantas, fração leve, biomassa microbiana e substâncias não húmicas. A porção estável é constituída das substâncias húmicas, que têm a função de reserva de nutrientes para as plantas e são de grande importância a longo prazo para o solo.

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Opiniões A adoção, por exemplo, do sistema de cultivo mínimo, favorece o acúmulo de maior quantidade de biomassa e nutrientes no solo, garantindo o aumento da produtividade e a sustentabilidade do sistema. Nesse sistema, o processo de implantação florestal se baseia no menor revolvimento possível do solo, no descascamento do tronco das árvores na própria área de plantio e na manutenção dos resíduos da colheita sobre o solo. Estudos apontam que um hectare de eucalipto com 1.666 plantas apresenta, em média, o estoque de 140 t ha-1 de carbono no solo, na camada de até 1 metro de profundidade e de 70 t ha-1 de carbono na parte aérea, nas raízes e na serapilheira, ao final de um período de sete anos. A serapilheira protege o solo, beneficia a manutenção da umidade, atua como barreira física das plantas invasoras e pode influenciar a biodiversidade, abundância e atividade da biota do solo. A serapilheira pode acumular de 10 a 30 t ha-1, com alta relação C/N, altas relações C/P e C/S que favorecem uma lenta decomposição, o que pode aumentar os estoques de carbono mais estáveis a longo prazo, ajudando na mitigação dos gases de efeito estufa (GEEs). O sistema integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) também tem grande potencial de acumular carbono. Esse sistema utiliza práticas agrícolas mais conservacionistas, como o plantio direto, implantação de grãos consorciados com pastagem e a implantação de linhas de árvores. Em experimento de iLPF implantado em uma área anteriormente ocupada por pastagem degradada na Embrapa Cerrados, resultados preliminares indicam aumento de cerca de 6 t ha-1 de carbono no solo, na camada de 0-100 cm, após dois anos da implantação da pastagem entre as linhas de eucalipto. Esse aumento no estoque de carbono se deve, principalmente, às raízes da pastagem e às raízes e à serapilheira do eucalipto. Nesse estudo, são avaliados o crescimento anual das plantas, a dinâmica do carbono e as emissões de óxido nitroso do solo e as emissões de metano dos animais, com intuito de conciliar todas essas medidas para fazer o balanço final de carbono do sistema. No primeiro desbaste florestal, aos cinco anos de idade das plantas, a estimativa do carbono mobilizado na madeira proveniente de um hectare foi suficiente para compensar a emissão de carbono – na forma de metano – de 27 bovinos de 450 kg de peso vivo. Tal resultado demonstra o grande potencial mitigador das emissões de CO2 provenientes da atividade agropecuária. No Brasil, existem iniciativas de intensificação da mitigação GEEs, como o plano ABC do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Esse plano tem como objetivo reduzir emissões de GEEs adotando tecnologias agrícolas sustentáveis, dentre as quais estão a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), Sistemas Agroflorestais (SAFs) e as Florestas Plantadas (http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/plano-abc).

Estima-se que 0,4-1,2 gigatoneladas (Gt) de carbono podem ser estocadas no solo sob áreas de cultivo de todo o mundo. Na França, em 2015, o Consórcio Internacional de Pesquisa Agrícola (CGIAR) e os institutos franceses INRA, CIRAD e IRD assinaram um memorando de entendimento para colaborar na implantação da iniciativa denominada 4 por 1.000. Essa iniciativa visa atingir a taxa de crescimento anual do estoque de carbono nos solos de 0,4%, que permitiria frear o aumento da concentração de CO2 na atmosfera. Esse pequeno aumento do estoque de carbono dos solos agrícolas (inclusive as pradarias e pastagens) e florestais poderá melhorar a fertilidade dos solos e a produção agrícola. Além disso, poderá contribuir para o cumprimento do objetivo, a longo prazo, de limitar o aumento das temperaturas a +1,5/2°C, limite para além do qual as consequências induzidas pelas mudanças climáticas trariam impactos significativos. O acúmulo de 3,5 Gt por ano seria a quantidade necessária para atingir a meta de 0,4%. (http://agriculture.gouv.fr/sites/minagri/ files/1509-climat-4pour1000-port_nov2015.pdf). Diante do exposto, é de fundamental importância que os povoamentos florestais sejam manejados de forma a garantir a preservação dos estoques de carbono, contribuindo para a mitigação de gases de efeito estufa e para a sustentabilidade do sistema.


inventário florestal

Opiniões

o inventário florestal e a

sustentabilidade o Brasil é um dos países que mais investem no uso de ferramentas de inteligência artificial, em inventário e em manejo de eucalipto "

Helio Garcia Leite

Professor de Manejo Florestal da UF-Viçosa

O termo “sustentabilidade” sempre esteve presente nos planos de manejo publicados pelas empresas florestais e em publicações científicas. Ao longo dos anos, muito se fala em sustentabilidade, porém a comprovação prática das ações nem sempre ocorre. O “bom manejo” deve ser economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo. Porém, no caso dos plantios de eucalipto, é certo que, enquanto os componentes ambiental e social não estiverem presentes nos modelos econômicos utilizados pelas empresas do setor privado, haverá dúvidas sobre os reais benefícios à sociedade. Quando uma empresa florestal retira uma quantidade de madeira não mais que o necessário para manter suas fábricas funcionando, com garantia de suprimento nos anos subsequentes, há constatação de uma falsa sustentabilidade. Isso porque, nesse caso, o que se garante é apenas um possível sucesso econômico da empresa. O caminho para garantir sustentabilidade é a inclusão de restrições econômicas, ambientais e sociais nos modelos matemáticos utilizados no planejamento hierárquico. Algumas empresas mantêm ações de cunho social, como escolas, cursos de educação ambiental, fomentos, fruticultura e apicultura, parcerias com programas de interesse social e de saúde pública e monitoramento de emissões de carbono. Tudo isso é desejável, mas não é garantia de sustentabilidade. Fundos de investimentos internacionais apresentam ainda diversos

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agravantes com relação à obtenção da sustentabilidade, pois o fim único fica bem longe de projetos realmente sustentáveis. A elaboração de um plano de manejo hierárquico, visando à sustentabilidade, requer informações sobre estoques de madeira, atuais e futuros, com exatidão. Para esse propósito, a maioria das empresas florestais conduzem o inventário florestal contínuo (IFC) e utilizam os dados e resultados para modelar o crescimento e estimar a produção em diferentes idades (prognose). Portanto um misto de inventário e mensuração florestal é necessário para elaboração do referido plano. O objetivo geral de um IFC é obter informações quantitativas e qualitativas dos povoamentos e avaliar mudanças na população. Sua condução requer conhecimentos de cartografia, amostragem, estatística, sistemas de informação e métodos computacionais, além de outros, específicos da mensuração florestal. Existem diferentes tipos de inventário, sendo mais comum os de pré-corte, sobrevivência e contínuo. Para fins de modelagem do crescimento e de gerar subsídios para o manejo florestal, visando à sustentabilidade do empreendimento, este último é o mais importante. A razão que justifica as parcelas permanentes no IFC é o fato de ser possível parear as medições. Em plantações de Eucalyptus, de Tectona e de Pinus, no Brasil, intervalos de um ano são recomendáveis.



inventário florestal A coleta de dados é responsável pela maior parte dos custos do IFC, sendo diretamente ligada à escolha do método de amostragem. Esse inventário consiste basicamente de três fases: mapeamento da área, amostragem e obtenção e análise dos dados, para subsidiar decisões de manejo. Embora a amostragem mais indicada para modelagem seja a seletiva, a aleatória predomina. Isso ocorre devido à necessidade de estimar a produção média com exatidão, para cada compartimento da floresta, em cada ano. Mas o uso principal dos dados é para prognose. Nesse caso, o IFC às vezes resulta em superabundância de dados irrelevantes para modelagem, o que pode ser demonstrado por meio de metaheurísticas como algoritmos genéticos. A produção é determinada em parcelas permanentes, lançadas nos povoamentos ao longo dos anos. Nessas parcelas, é comum a medição do diâmetro de todas as árvores e da altura de algumas (geralmente 10 árvores). A altura das demais árvores sempre foi estimada por regressão. De modo paralelo, são abatidas e cubadas árvores-amostra na população, visando ao ajuste de modelos volumétricos. As equações de altura e de volume são ajustadas por estrato, definidos pelo regime de corte, classe de idade, genótipo e espaçamento, dentre outras características. Isso resulta em muito tempo de medição e custo relativamente alto no IFC. A necessidade de obter exatidão no volume médio implica usar grandes amostras. Nos últimos anos, com base em pesquisas desenvolvidas nas universidades, muitas empresas têm substituído as equações por procedimentos de inteligência artificial (IA), principalmente redes neurais artificiais (RNA). Um exemplo é o projeto Neuroforest (http://neuroforest.ucoz.com/), resultado de uma parceria entre a UFV e a DAPFlorestal, que foi desenvolvido para difundir o conhecimento em Inventário, Mensuração e Manejo Florestal, através da divulgação de softwares, que são distribuídos gratuitamente a estudantes, pesquisadores e empresas. O projeto visa auxiliar os gestores florestais, acadêmicos e extensionistas, na implementação de técnicas de mensuração e manejo desenvolvidas pelas universidades e que, devido à falta de ferramentas, nem sempre estão acessíveis a quem elas se destinam. Com o emprego de IA, a exatidão das estimativas de produção tem sido garantida ou aumentada, com redução de tempo e custo de execução do IFC. O uso das RNA é cada vez mais comum nas empresas e tem se estendido para outras aplicações, como estimação da densidade da madeira, avaliação da biodiversidade e modelagem de crescimento, incluindo efeitos de variáveis edáficas, climáticas e fisiográficas. Pesquisadores de diferentes universidades têm publicado avanços científicos importantes, e a inclusão dessas variáveis permite avaliar diferentes cenários, contribuindo para estudos sobre sustentabilidade do empreendimento florestal.

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O uso de RNA, juntamente com metaheurísticas, tem modificado o jeito de pensar de alguns especialistas em mensuração florestal. Isso tem evoluído também para o uso de imagens, de drones ou sensores, terrestres ou aerotransportados. Porém o uso correto dessas técnicas requer investimento em treinamento dos engenheiros florestais, uma vez que eles foram treinados para o uso da estatística, ao invés da inteligência artificial e computacional. Um bom planejamento do IFC está diretamente relacionado à sustentabilidade do empreendimento e, a coleta dos dados deve ser feita de modo que haja eficiência, baixo custo, qualidade das informações e prognose, com exatidão e sem excesso de informações irrelevantes. Assim, ao usar as projeções nos modelos de planejamento, haverá certa garantia de sustentabilidade econômica. Acrescido a isso, o uso de metaheurísticas tem permitido a inclusão de componentes sociais e ambientais nos modelos hierárquicos, fechando, assim, o trinômio econômico, ambiental e social. Cabe lembrar que projeções ruins implicam incertezas e grande chance de plantar em excesso ou déficit, resultando em não garantia de sustentabilidade econômica. Portanto o planejamento do IFC é fundamental para uma boa prognose e segurança ao elaborar o plano de manejo. A possibilidade de incertezas e riscos, devido a variantes ambientais e pragas, induz ao uso de inteligência artificial. Nesse sentido, nos últimos anos, foram muitas as teses e artigos científicos desenvolvidos em algumas universidades. Podemos dizer que o Brasil é um dos países que mais investem no uso de ferramentas de IA, em inventário e em manejo de eucalipto. Há muitos especialistas nas universidades, cada um colaborando com desenvolvimentos pontuais. Finalizamos dizendo que muitos pesquisadores previam e ainda estão prevendo grandes ganhos de produtividade do eucalipto no Brasil, mas, em média, isso não tem ocorrido. A produtividade está estabilizada em torno de 40 m3⁄ha-1⁄ano-1, numa idade entre 6 e 7 anos, e, em certos casos, com leve ritmo de queda. Isso não deve mudar nos próximos anos. As causas são diversas, com destaque para o efeito das mudanças climáticas, ocorrência de pragas, baixa produtividade em extensas áreas de talhadia e presença de genótipos com altas taxas de crescimento inicial e não adaptados aos espaçamentos e arranjos espaciais utilizados. As altas taxas de crescimento iniciais, em certos ambientes, fazem com que a produtividade média no momento do corte seja relativamente reduzida. Novamente, o uso de ferramentas de inteligência artificial ajuda na prognose, diante das incertezas e variações climáticas, contribuindo para maior acerto nas projeções e maior garantia de sustentabilidade do empreendimento florestal.


doenças florestais

Opiniões

estratégias de manejo integrado de doenças florestais Há, atualmente, no Brasil, entre 7,7 (IBÁ, 2015) e 9,3 (IBGE, 2015) milhões de hectares de plantações florestais, envolvendo principalmente eucalipto, pinus, seringueira, cacau, acácia, paricá, teca, araucária, mogno, mogno-africano, cedro e cedro-australiano. As plantações florestais têm expandido mundialmente, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, para a produção de matéria-prima para suprir a crescente demanda de produtos de base florestal. Simultaneamente com a expansão florestal, surgem doenças. Até o início da década de 1970, por exemplo, praticamente não havia relatos de doenças nas plantações florestais no Brasil. Todavia a expansão das culturas para regiões com pouca tradição florestal, o plantio de materiais sem o conhecimento prévio de sua adaptabilidade e resistência genética a doenças, as incertezas climáticas e as mudanças das técnicas de manejo, bem como os ciclos sucessivos da cultura numa mesma área, têm favorecido o aparecimento de várias enfermidades, quase sempre resultando em perdas de alto impacto econômico. Portanto a possibilidade de incidência de doenças e seu controle devem ser considerados em todo empreendimento florestal. As doenças são causadas por patógenos nativos ou acidentalmente introduzidos. Nas últimas décadas, a movimentação global de pessoas e produtos tem facilitado muito a introdução e a disseminação de doenças, as quais, quando plenamente estabelecidas na nova área, causam grandes prejuízos econômicos e constituem um dos fatores limitantes ao sucesso das plantações florestais.

somente com investimentos contínuos na área de pesquisa poderemos ficar preparados para as atuais e outras novas doenças que provavelmente surgirão, a médio e longo prazos "

Acelino Couto Alfenas

Professor de Fitopatologia da UF-Viçosa Coautor: Lúcio Mauro da Silva Guimarães, UF-Viçosa

Nos últimos anos, tem sido crescente o número de novas doenças estabelecidas em diferentes regiões intercontinentais, como é o caso da murcha-de-ceratocystis (Ceratocystis fimbriata) no Brasil, no Havaí, no Uruguai, no Paquistão, em Omã, na Indonésia e no Vietnã; da mancha-de-teratosphaeria (Teratosphaeria nubilosa) na África do Sul, no Brasil e no Uruguai; da ferrugem (Puccinia psidii) nos Estados Unidos (Flórida, Califórnia e Havaí), no Japão, na Austrália, na Nova Caledônia, na China, na África do Sul e, mais recentemente, na Indonésia. Embora os riscos de introdução de doenças sejam iminentes, a adoção de novas técnicas biotecnológicas para diagnose e a implementação de programas de melhoramento genético sólidos e bem estruturados podem mitigar os riscos de perdas por doenças. Dentre os métodos e as técnicas disponíveis, merecem destaque: a) a PCR (Polymerase Chain Reaction), a PCR em Tempo Real e o sequenciamento de regiões específicas do genoma para identificação correta dos patógenos em plantas; b) as análises filogenéticas e os marcadores moleculares para identificação e monitoramento da variabilidade genética do patógeno em determinada região; c) os métodos específicos de inoculação e avaliação da resistência a doenças, visando à seleção de clones e


doenças florestais progênies resistentes; d) o mapeamento de QTLs e genes de resistência a doenças, visando à introgressão desses genes em genótipos superiores suscetíveis, por cruzamento ou por transgenia; e) a seleção genômica ampla como forma de maximizar a seleção de plantas resistentes com o auxílio de marcadores moleculares, entre outras. Essas novas tecnologias associadas a técnicas já estabelecidas, como os cruzamentos interespecíficos e a propagação vegetativa de clones geneticamente superiores, possuem grande potencial para enfrentarmos os novos desafios das doenças neste século. No entanto, é fundamental que os profissionais da área de patologia florestal se atualizem continuamente e se associem a especialistas de outras áreas do conhecimento, como melhoramento genético, solos, nutrição mineral, silvicultura, entomologia florestal e biotecnologia. No início do século passado, o Prof. Herbert Hice Whetzel, da Universidade de Cornel, nos EUA, estabeleceu os seguintes princípios básicos de controle de doenças em plantas: exclusão, que visa prevenir a entrada do patógeno numa área, onde ele ainda não exista; erradicação, que consiste na eliminação total ou parcial do patógeno; proteção, que visa proteger as plantas suscetíveis contra patógenos; imunização, que é plantio de plantas resistentes; terapia, que visa à cura de uma planta doente. Com o desenvolvimento de novos métodos de controle, foram incluídas mais tarde a regulação, que consiste em adotar medidas de controle de manejo do ambiente, e a evasão ou escape, que visa prevenir a doença mediante o estabelecimento da cultura em épocas desfavoráveis ao patógeno ou em áreas onde o inóculo é raro ou inexistente. Esses princípios devem ser aplicados para o controle eficiente de doenças florestais. Em viveiros de mudas florestais, o controle de doenças é realizado primordialmente por técnicas de manejo que visam erradicar, parcial ou totalmente, as fontes de inóculo fitopatogênico, reduzir as condições favoráveis à infecção e favorecer o crescimento das mudas, tornando-as escapes a doenças. No entanto, em caso de incidência de doença, aplicações curativas de fungicidas registrados para a cultura podem fazer parte do manejo integrado, a fim de evitar prejuízos de importância econômica. Já em condições de campo, à exceção da seringueira onde o controle químico é mais usual, as medidas de proteção são menos empregadas na área florestal em função das extensas áreas plantadas e, principalmente, em virtude das dificuldades de aplicação de fungicidas.

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Opiniões Atualmente, para eucalipto, encontram-se disponíveis produtos fitossanitários para o controle de Calonectria spp. (= Cylindrocladium spp.), do oídio (Podosphaera pannosa), de bacterioses e da ferrugem (Puccinia psidii). Dentre esses, apenas os produtos registrados para o controle da ferrugem são recomendados para uso em campo, enquanto os demais são utilizados usualmente em viveiros. No caso específico da ferrugem, a aplicação de fungicidas no campo é facilitada uma vez que o patógeno infecta somente plantas jovens, geralmente com menos de 3 m de altura, ou as brotações após o corte raso. Convém ressaltar que, nos últimos anos, as pesquisas nessa área evoluíram bastante, havendo produtos menos tóxicos, de menor impacto ao meio ambiente, mais seletivos e com tecnologias de aplicação mais eficientes. Atualmente, o controle de doenças florestais em condições de campo é feito primordialmente por meio do plantio de materiais resistentes, selecionados a partir de inoculações sob condições controladas, de forma integrada nos programas de melhoramento genético. A chave do sucesso do uso da resistência genética no controle de doenças na eucaliptocultura, por exemplo, se deve à ampla variabilidade genética para resistência encontrada nas diferentes espécies aliada à multiplicação clonal dos genótipos resistentes. Além disso, a resistência genética pode ser utilizada como forma de controle para praticamente todas as doenças descritas em eucalipto até o momento. Entretanto, para que essa resistência seja efetiva e durável, pesquisas devem ser conduzidas com o objetivo de se identificarem novos genes R, conhecer a herança da resistência e também entender a variabilidade genética das populações do patógeno. Tendo em vista os riscos crescentes de perdas por doenças nas diferentes culturas e diante dos avanços da ciência, somente com investimentos contínuos nessa área de pesquisa poderemos ficar preparados para as atuais e outras novas doenças que provavelmente surgirão, a médio e longo prazos.

A

B

R

S

C

R

S

Avaliação de resistência a doenças em condições controladas: A: Mudas no ponto de inoculação; B: Planta resistente (R) e suscetível (S) à murcha-de-ceratocystis; C: Planta resistente (R) e suscetível (S) à ferrugem.


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hidrologia florestal

hidrologia florestal no planejamento do

manejo florestal Aceitei o convite para escrever este artigo porque achei muito interessante o tema escolhido para esta edição da Revista Opiniões. De fato, é, sem dúvida, importante a preocupação para com o resgate da história, ou do desenvolvimento do conhecimento florestal, principalmente para não cometermos os erros do passado. E esse aspecto é particularmente importante na área de hidrologia florestal, que é a ciência que fornece a base teórica para o entendimento das relações entre a floresta e a água, embasada no conceito de manejo de bacias hidrográficas. Em 1968, último ano do meu curso de Agronomia na Esalq, fui perguntado se teria interesse em estudar manejo de bacias hidrográficas, que seria uma das disciplinas do futuro Curso de Engenharia Florestal da Esalq, previsto para iniciar a primeira turma em 1972. Não pude responder de imediato, pois precisei de tempo para tentar descobrir o que seria esse tal de manejo de bacias hidrográficas. A única coisa concreta, então, era que tinha a ver com a água, mais precisamente, com a relação entre a floresta e o manejo florestal e a água. Em dezembro de 1969, fui para os Estados Unidos fazer pós-graduação em manejo de bacias hidrográficas. Voltei em dezembro de 1971 e fui contratado pela Esalq em abril do ano seguinte, ainda em tempo de oferecer a disciplina Manejo de Bacias Hidrográficas aos alunos da primeira turma do Curso de Engenharia Florestal da Esalq-USP. Conforme tive oportunidade de observar, já naquela época, manejo de bacias hidrográficas era uma área temática bastante forte da ciência florestal, assim como era uma disciplina já bastante consolidada nos cursos de engenharia florestal em muitos países. A base teórica da disciplina trata das relações entre a floresta e a água na natureza.

Uma geração que ignora a história não tem passado – nem futuro (Robert A. Heinlein)

Walter de Paula Lima

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Professor de Ciências Florestais da Esalq-USP

A aplicação prática dessa teoria, visando contribuir para a busca de práticas hidrologicamente sustentáveis de manejo florestal, é o que constitui o conceito mesmo de manejo de bacias hidrográficas. Assim, manejo de bacias hidrográficas não deve ser entendido apenas em sua conotação estática de conservação da natureza, ou de floresta de proteção de mananciais. Ao contrário, e muito mais importante, implica algo mais dinâmico, pois seu objetivo principal é desenvolver estratégias de manejo florestal que atendem ao objetivo principal de produção florestal, mas que também se preocupam com a conservação da água. Ou seja, é um conceito fundamental para o manejo florestal, principalmente nos dias atuais, em que a chamada crise hídrica começa a se manifestar mais claramente. Mas, no nosso país, esses conceitos somente começaram a ganhar força a partir de meados da década de 1980. Ou seja, a partir de seu início acadêmico em 1972, em termos de ensino e pesquisa, a hidrologia florestal e o manejo de bacias hidrográficas permaneceram como “perfumaria” por mais de 10 anos, não apenas na sala de aula, mas principalmente no setor florestal produtivo, assim como em termos de políticas públicas. Por outro lado, era preciso iniciar trabalhos de pesquisa nessa área, que são, por natureza, de campo e de longa duração, já que envolve a análise de dados hidrológicos, cuja variabilidade é muito grande, e da rotação florestal, que é de longo prazo. O método mais usado para esse tipo de estudo é a microbacia experimental, como unidade geomorfológica da paisagem, a qual permite a quantificação do balanço hídrico, que é o indicador mais adequado para a avaliação das relações entre o manejo florestal e a água. Depois de muitos esforços, conseguimos instalar o primeiro par de microbacias experimentais no Vale do Paraíba, São Paulo, em 1987, numa área de plantações florestais de eucalipto. A polêmica sobre plantações de eucalipto era forte naquela época, assim como o é ainda hoje. Só que, naquela época, não tínhamos nenhum resultado experimental obtido nas condições do País. Esses estudos cresceram e deram origem ao Promab (www.ipef.br/promab), um dos programas cooperativos do IPEF, que conta, atualmente, com série histórica de dados hidrológicos de mais de 18 anos consecutivos em algumas das microbacias experimentais do programa.


Opiniões Sem dúvida, esses estudos foram, de alguma forma, importantes para a melhoria do aspecto ambiental do setor florestal, principalmente no que diz respeito ao melhor conhecimento que temos hoje dos impactos hidrológicos, ao esclarecimento de pelo menos a parte principal da controvérsia sobre o eucalipto e à inserção da preocupação para com a conservação da água como parte integrante do plano de manejo de plantações florestais. Mas também é preciso lembrar que os resultados do Promab jamais resolveram, definitivamente, a questão da água no manejo de plantações florestais com espécies de rápido crescimento. Muito pelo contrário, o que esses resultados vêm mostrando é que os impactos hidrológicos do manejo de plantações florestais existem e podem ocorrer em maior ou menor intensidade, dependendo das condições locais, principalmente em termos de solos e de disponibilidade natural de água, assim como das estratégias e do bom planejamento do manejo florestal. Ou seja, esse conhecimento atual da hidrologia de plantações florestais está disponível e pode nos orientar no estabelecimento de estratégias hidrossolidárias de manejo. Se essa história é perdida, ou negligenciada no planejamento florestal, então pode haver problemas e questionamentos por parte da sociedade. Sem dúvida que o setor florestal produtivo já avançou um pouco nesse aspecto, mas, infelizmente, a preocupação para

com a inserção definitiva da questão da água no planejamento florestal ainda é vista como secundária e, frequentemente, desnecessária ou não pertinente. E quanto ao futuro, o que se pode dizer é que o que conseguimos até agora é apenas a parte que nos cabia. As evidências acumuladas até o momento mostram, primeiro, que a controvérsia relacionada com a água não é apenas uma opinião popular, mas pode realmente ocorrer, manifestada pela diminuição, e às vezes interrupção, da vazão de riachos, ou seja, na escala de microbacias. Mostram, também, que isso ocorre sempre e quando o planejamento do manejo florestal ignorou as condições locais, principalmente em termos da disponibilidade climática de água. Esses efeitos têm, também, a ver com a hidrologia peculiar das plantações florestais com espécies de rápido crescimento, de alta produtividade e de rotação curta. Mais importante, as experiências acumuladas mostram, também, que esses possíveis efeitos hidrológicos podem ser perfeitamente controlados pelo manejo. Por fim, é preciso entender que o manejo hidrologicamente sustentável de plantações florestais não deve ser considerado como um livro que já ficou pronto, mas sim um livro em constante elaboração, na medida em que o conhecimento avança. O próprio manejo de plantações florestais também não é estático, mas se aprimora continuamente, na busca incessante da melhoria da produtividade. E isso tem muito a ver com a água, o que reforça a necessidade de tê-la como fator chave para o estabelecimento de estratégias hidrossolidárias de manejo. Em outras palavras, em termos da pesquisa em hidrologia florestal, avançamos um pouco durante esses quarenta e tantos anos, mas tudo ainda está para ser desvendado.

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nutrição e fertilização

Opiniões

avanços científicos e práticos nas áreas de

nutrição e fertilização florestal Neste artigo, abordo dois temas atuais na pauta de discussão em diversos fóruns de P&D no País. Retratam constatações recentes de pesquisas e de suas aplicações, que têm se difundido em várias regiões de produção florestal, com importantes repercussões para o aprimoramento dos sistemas de manejo silvicultural. Época de aplicação dos fertilizantes: Diante do vigente cenário de escassez de mão de obra rural e da necessidade de diminuição dos custos de produção, a mecanização e a automação das operações silviculturais estão entre as temáticas mais estratégicas da atualidade para o setor florestal. Entre os tratos culturais, a fertilização tem especial destaque, pois equivale entre 25% e 30% dos custos de implantação e manutenção. Faz-se necessário otimizar a eficiência de uso dos fertilizantes, por meio do equilíbrio da suplementação nutricional e da melhor precisão de aplicação, diminuindo os desperdícios e as desuniformidades de distribuição desses insumos. Concomitantemente à aplicação de recursos da silvicultura de precisão para regular a dose e a uniformidade de distribuição dos fertilizantes, ao surgimento de novos fertilizantes que não empastam dentro das adubadeiras, estão em consolidação métodos que possibilitam modificações na época de aplicação dos fertilizantes, baseados em resultados consistentes de pesquisa.

Estudos coordenados por Jean-Paul Laclau (Cirad/França), por mim e outros colaboradores na Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga, Esalq-USP, em Latossolo Vermelho-Amarelo de textura média (20% de argila), e no projeto Eucflux (www.ipef. br/eucflux), em Latossolo Vermelho argiloso (40% de argila), comprovaram que as perdas de nutrientes por lixiviação profunda durante uma rotação de cultivo de eucalipto foram pequenas, menores do que as deposições atmosféricas, e que as perdas são menores nos solos mais argilosos. Entre as formas de nutriente pesquisadas, estava o nitrato (NO3-), considerada a forma mais móvel em solos muito intemperizados. Essas perdas foram baixas devido ao rápido crescimento lateral e em profundidade do sistema radicular, o qual atingiu três metros em apenas um ano de idade, ao rápido desenvolvimento da parte aérea e aos complexos de cargas negativas e positivas do solo que retém os nutrientes. Se o sistema radicular do eucalipto fosse predominantemente superficial, como os das culturas anuais, o potencial de lixiviação de nutrientes seria bem maior. Esses resultados subsidiam a aplicação de todos os fertilizantes em até um ou dois meses após o plantio de eucalipto. Alguns cuidados devem ser tomados para que haja alta eficiência de aproveitamento dos nutrientes.

Diante do vigente cenário de escassez de mão de obra rural e da necessidade de diminuição dos custos de produção, a mecanização e a automação das operações silviculturais estão entre as temáticas mais estratégicas da atualidade para o setor florestal. "

José Leonardo de Moraes Gonçalves Professor de Ciências Florestais da Esalq-USP

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Integração Lucrativa

entre florestas, culturas agrícolas e animais

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Sistemas Agroflorestais (Agrosilvipastoris) Florestas como investimento Florestas energéticas Eucalipto: poupança florestal Viabilidade de negócios florestais Análise de mercado Florestas para central térmica a eucalipto Unidade de Tratamento de Madeira Perícia técnica Cinturão verde Recuperação de áreas degradadas RESUMO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES Silvipastoril com Mogno Africano Eucalipto Irrigado gado de corte Convencional 1 ciclo de 20 1 ciclo de 10 3 ciclos de 7 anos anos anos (5 m x 5 m) (8 m x 3,5 m) (3,6 m x 2,5 m)

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nutrição e fertilização Os fertilizantes contendo nutrientes pouco solúveis e pouco móveis (P, Cu, Zn) devem ser aplicados em filete contínuo no sulco de subsolagem ou em coveta lateral, na linha de plantio, próximo às raízes das mudas. Os fertilizantes contendo nutrientes solúveis e móveis (N, K e B) podem ser distribuídos em uma única aplicação, na projeção da copa das mudas, quando elas tiveram entre 40 e 60 cm de diâmetro. Portanto bem estabelecidas e em uma fase de rápido crescimento e de demanda nutricional. Adaptação à deficiência hídrica: Vários polos florestais estão localizados em regiões com forte sazonalidade climática, caracterizada por chuvas concentradas em poucos meses e longa estação seca. A magnitude desse efeito e a extensão dessas regiões tendem a se ampliar com as mudanças climáticas. Além disso, a maior parte das novas fronteiras florestais estão expandindo-se para condições climáticas semelhantes a essas. A deficiência hídrica, comumente associada à baixa disponibilidade de B nos solos dessas regiões, levam a intensas deformações das árvores. A aplicação de fertilizantes sólidos no solo e a pulverização de B orgânico no fim da estação chuvosa, nos dois primeiros anos de crescimento, têm mitigado, em grande parte, a deficiência de B e o estresse hídrico das plantas, contribuindo para o aumento ou a manutenção da produtividade e para a melhoria da qualidade da madeira. São bem conhecidos e consistentes os efeitos dessa prática silvicultural, e precariamente compreendidas suas causas genéticas e fisiológicas. A seca de ponteiros em plantas de eucalipto é um dos sintomas típicos da deficiência de B e ocorre, principalmente, nos períodos de longo estresse hídrico. Em períodos ou em locais extremamente secos, as árvores de eucalipto podem morrer por desidratação, a exemplo do que tem sido observado em extensas áreas de Minas Gerais, Bahia e Maranhão. Estudos recentes realizados por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa – UFV, e da Universidade Estadual Paulista – Unesp, conduzidos sob condições ambientais controladas de casa de vegetação, com clones de eucalipto tolerantes e pouco tolerantes à seca, relataram descobertas que aclaram os mecanismos de interação da deficiência hídrica e da nutrição borratada. Os métodos de pesquisa e os resultados são inéditos no Brasil para a cultura do eucalipto e têm estreita correlação com os fenômenos observados em condições de campo. São José, Silva, Barros e outros (R. Bras. Ci. Solo, 2009) avaliaram a mobilidade de B em três clones de Eucalyptus grandis. O clone menos sensível à deficiência de B foi o que, aparentemente, possuía maior habilidade de translocar B, previamente absorvido via raiz, para tecidos jovens da parte aérea. O B aplicado de maneira localizada e numa única vez em uma folha madura foi retranslocado para os demais componentes das plantas (raízes, hastes e folhas novas). A mobilidade foi maior quando o B aplicado via foliar foi fornecido complexado com manitol, em vez de sozinho.

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Em um estudo com dezesseis clones de Eucalyptus grandis e de E. grandis x urophylla, Leite, Marino e Bonine (Scientia Forestalis, 2010) verificaram que as plantas bem supridas em B via solução nutritiva sintetizavam em grande quantidade os polióis Manitol e Sorbitol, conferindo alta mobilidade desse nutriente dentro da planta, consequentemente, bom crescimento e ausência de sintomas de deficiência de B. Os polióis, também chamados de álcool-açúcares, são formas comuns de açúcares em muitas plantas e outros organismos. Eles são solutos ativos osmoticamente, notadamente em resposta a estresses abióticos, de forma a compensar a redução no potencial hídrico aumentando, assim, a tolerância ao déficit hídrico. Hodecker, Barros, Silva e outros (Plant Soil, 2014) verificaram que, sob condições de restrição hídrica, a aplicação de B em folhas maduras de um clone de Eucalyptus urophylla (AES 144) tolerante à deficiência hídrica causou aumento da translocação de B e de fotoassimilados da parte aérea para brotações laterais e raízes, estimulando seu crescimento e retardando a desidratação das plantas. Constataram também aumento da expressão de genes associados aos transportadores de B (BOR5 e BORc16871) e ao metabolismo da pectina (polissacarídeo constituinte da parede celular). Nunes, Barros e Novais (Tese de doutorado, UFV, 2010), trabalhando com dois clones de E. urophylla, observaram que a adição de B, sob condições hídricas limitantes, propiciou maior taxa fotossintética e condutância estomática em ambos os clones. Os genes relacionados ao transporte de B e polióis e às rotas metabólicas de síntese de componentes da parede celular apresentaram maior expressão relativa nos tecidos radiculares do clone tolerante à deficiência hídrica, quando cultivados sob limitação hídrica e na presença de B. Houve evidência de que esses genes atuam sinergicamente. A maior expressão desses genes na raiz indica estímulo ao crescimento do sistema radicular, essencial à maior absorção de água e nutrientes. Enfim, esses estudos indicam que o B é relativamente móvel em clones de eucalipto, devido à síntese de polióis, que complexam o B para sua translocação. Esses mecanismos estão relacionados com a maior ou menor tolerância à deficiência de B em algumas espécies, o que pode ser usado como uma característica para seleção de genótipos superiores. Também foram confirmadas as expressões de vários genes, sob condição de deficiência hídrica e suprimento de B, que poderão servir como Genes Candidatos em programas de melhoramento genético com uso de métodos de seleção genômica precoce, pois estão relacionados com rotas metabólicas das sínteses dos polióis e da pectina, compostos essenciais produzidos em maior quantidade por genótipos tolerantes à seca. Isso contribuirá, por exemplo, para a redução do tempo de seleção de clones de eucalipto. Poderá ser útil também para a seleção de genótipos de outros gêneros florestais, como em andamento em alguns países.


incêndios florestais

Opiniões

instrumentos para a gestão de

incêndios florestais nem todos os incêndios florestais são prejudiciais e nem todo fogo deve ser evitado ou extinto "

Marcos Giongo

Professor de Engenharia Florestal da UF-Tocantis e Coordenador do Centro de Monitoramento Ambiental -TO

As florestas e demais formações vegetacionais desempenham importante papel para a sociedade, fornecendo inúmeros produtos e serviços. Essas áreas impactam diretamente na economia brasileira, promovendo crescimento do PIB, e na geração de bens e serviços. No entanto a utilização dos recursos naturais, bem como a conversão da cobertura vegetal para outros fins, deve respeitar a legislação e os aspectos ambientais e sociais, de forma que as atividades antrópicas adquiram caráter prioritariamente sustentável. Os incêndios florestais, sejam de origem natural ou antrópica, contribuem para a redução das áreas florestais culminando para a perda da biodiversidade dos diferentes ecossistemas, consequentemente, advindo do uso ancestral do fogo por caçadores e coletores e, posteriormente, para abertura de áreas e atividades agrícolas.

Outrossim, recentemente, a crescente demanda por bens e alimentos têm proporcionado a expansão das áreas destinadas para essas finalidades, o que resulta em uma grande conversão de áreas naturais para áreas de produção. No Brasil, o uso do fogo está entrelaçado com o processo de conversão da cobertura vegetal e com o desmatamento, sendo, ainda, utilizado nas atividades agropecuárias, principalmente na manutenção de pastagem para alimentação do gado. Em muitas regiões, os problemas relacionados aos incêndios florestais vêm aumentando nas últimas três décadas, comprometendo as dinâmicas dos ecossistemas e, indubitavelmente, elevando o aporte de recurso financeiro para as ações de prevenção e combate. Todavia, em que pese aos esforços existentes, é nítido que as políticas e estratégias adotadas para amenizar os problemas relacionados aos incêndios florestais não vêm apresentando resultados satisfatórios.

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incêndios florestais A situação é agravada pelo fato de que, na maioria dos casos, as decisões dos gestores públicos e privados são baseadas quase exclusivamente na premissa de execução de ações para a extinção dos incêndios. Dessa forma, é necessário que a percepção dos gestores sobre o uso e a gestão do fogo seja menos simplista, convergindo para uma visão holística, observando que nem todos os incêndios florestais são prejudiciais e que nem todo fogo deve ser evitado ou extinto. Laudável que sejam os esforços do poder público, deve-se reconhecer as limitações quanto à sua estrutura organizacional e sua capacidade técnica na geração de dados e informações, utilizados nas avaliações dos resultados e como subsídio na reformulação ou na implementação de novas ações. O sucesso na implementação de políticas e ações para mitigar os efeitos advindos dos incêndios florestais depende significativamente do apoio voluntário de todos os setores da sociedade, especialmente da integração das ações de instituições privadas, instituições de pesquisa, organizações civis, órgãos públicos e grupos de trabalho em conjunto com as autoridades que lidam diretamente com a temática, apoiados em leis sobre aspectos relacionados ao manejo do fogo, controle, prevenção e combate. Imperioso destacar que, no Brasil, há ações, programas e instituições que trabalham direta e indiretamente com os incêndios florestais, principalmente relacionadas às atividades de combate. No entanto faz-se necessário o aprofundamento das discussões, maior envolvimento do setor público e privado, aumento dos investimentos para se colocar em prática muitos dos planos de ações existentes. De igual importância, essas ações devem ser reavaliadas, com a definição de objetivos e atores claramente definidos. Apesar de a abordagem conhecida como Manejo Integrado do Fogo (MIF) não ser nova, recentemente, sua utilização vem sendo defendida por muitos gestores, especialistas e pesquisadores. O MIF pode ser definido como uma abordagem para mitigar os problemas relacionados aos incêndios florestais, caracterizado como uma forma de equilibrar os danos e riscos causados pelos incêndios e seus benefícios econômicos e ecológicos. Implica uma abordagem holística para tratar das questões relacionadas aos incêndios florestais, considerando as interações biológicas, ambientais, culturais, sociais, econômicas e políticas.

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Opiniões Devido a isso, torna-se emergente reconhecer o papel ambivalente do fogo, que promove tanto efeitos positivos quanto negativos, sendo, portanto, o foco do Manejo Integrado do Fogo (MIF). A correta definição das ações a serem desenvolvidas, bem como suas dimensões, é ponto chave para a efetividade do MIF, com propósito de mitigar as ocorrências dos incêndios florestais. É estratégico e essencial que essa abordagem esteja adaptada às condições e características locais (ambientais, sociais, econômicas e políticas), apresentando uma fundamentação técnica originada prioritariamente de estudos e experiências passadas. Ainda, há de ser reconhecida a importância do envolvimento e participação de todas as partes interessadas, especialmente da comunidade, na formulação, no planejamento e na implementação das ações. Nesse contexto, os planos de ações de prevenção e combate devem ser elaborados considerando os múltiplos objetivos quanto ao manejo da terra, preconizado em uma ferramenta de suporte, qual seja, os planos operativos de prevenção e combate a incêndios florestais, que devem ser elaborados com base no levantamento de dados e na análise das dinâmicas do uso do fogo e seu papel ecológico e socioeconômico, para, então, serem definidas as decisões, adaptadas a cada situação e integradas ao MIF. Além disso, é importante a disponibilização e a utilização de equipamentos adequados com o aprimoramento do uso de tecnologias, em especial, o sensoriamento remoto, como fonte de dados para a obtenção de informações, dedicadas a melhorar o apoio nas tomadas de decisão, bem como incluir as tecnologias na detecção de incêndios, suporte no manejo do material combustível e estimativa das emissões dos gases do efeito estufa. O desenvolvimento de metodologia para a quantificação dessas emissões é de grande importância, pois, futuramente, poderá se tornar um mecanismo de incentivo e apoio para ações do Manejo Integrado do Fogo. Decorrente da carência de informações para subsidiar as ações do poder público e privado, no final de 2015, a Universidade Federal do Tocantins – UFT, por meio do Núcleo de Pesquisas Florestais do Tocantins – PFT, e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – Semarh, firmaram parceria para a construção de um Centro especializado (www.florestas.org). O objetivo principal é o monitoramento ambiental focado no desenvolvimento de pesquisas e tecnologias para dar suporte às ações de prevenção, combate e manejo do fogo. Ante o exposto, torna-se evidente a necessidade do desenvolvimento de pesquisas objetivando melhor compreender como os incêndios afetam as mais diversas condições locais e como o uso e o manejo do fogo podem auxiliar na redução dos impactos existentes. Dessa forma, é preciso identificar quais técnicas de manejo do fogo mais se assemelham aos regimes naturais para que possam ser prioritariamente utilizadas, concomitantemente com aquelas já estabelecidas.


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certificação florestal

as duas faces da

certificação florestal Além disso, essas imposições esdrúxulas da CF podem sair como um 'tiro pela culatra', gerando uma debandada das empresas certificadas, ao perceberem que a CF já não é mais um diferencial de mercado "

Crismeire Isbaex e Sebastião Renato Valverde

Doutoranda e Professor de Engenharia Florestal da UF-Viçosa

Os avanços tecnológicos da silvicultura e o manejo florestal sustentável fizeram com que o País se tornasse referência no mercado florestal internacional, exigente por produtos que não procedam de desmatamento ilegal e, de preferência, que venham de processos certificados. A certificação florestal (CF) é um processo voluntário em que o produtor se dispõe a seguir princípios e critérios (P&C) estabelecidos pelas certificadoras. Além disso, ela é uma excelente ferramenta gerencial, principalmente para planejamento e controle, um guia que possibilita maior competitividade, facilitando conquista de novos mercados. A CF também é um instrumento de marketing, que garante um diferencial no mercado, provendo eficiência e conformidade com as expectativas do campo organizacional. Dificuldades à parte e independente da certificação, a busca da consolidação no mercado faz com que as empresas invistam em práticas mais sustentáveis, fazendo também com que elas se destaquem ao informar que seus produtos possuem origem sustentável. Como todo processo de certificação, a CF veio para dar transparência e cristalinidade à procedência do produto florestal. A diferença entre a CF e demais processos de certificação é que estes nascem no elo inicial da cadeia produtiva – dos produtores –, como forma de ordenar um mercado desorganizado, ou seja, de separar o “joio do trigo” (por exemplo, os segmentos da produção de café, cachaça, etc.), enquanto aquela, dos elos finais – o segmento comercial das grandes redes atacadista e varejistas florestais. Logicamente, toda cadeia participa do processo de construção e revisão dos padrões da certificação junto às suas câmaras. No entanto os precursores desse processo são os representantes comerciais. Nesse aspecto, a CF passou a ser também uma commodity lucrativa para as certificadoras.

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Em que pese às vantagens acima da CF, ela não deixa de ter seu lado negativo. A obtenção do selo tem sido morosos e onerosos processos de conformidade. Obviamente, o custo dela é inversamente proporcional à performance organizacional de uma empresa. De qualquer forma, não é um processo barato. A alternativa para as empresas de menor porte driblarem esses altos custos seria a união por meio de associações. Mesmo assim, ainda enfrentariam o viés burocrático da CF, sobretudo quando ele se sobrepõe ao processo de licenciamento ambiental, algo que poderia ser dispensado quando o empreendimento for certificado, dado que as exigências da certificação ultrapassam as da legislação. No entanto ressalta-se que a certificação é um processo voluntário da esfera privada (entidades normatizadoras), e o licenciamento, uma exigência legal (normas de caráter obrigatório). A CF foi muito estratégica até deflagrar a crise de 2008, quando os principais mercados consumidores de produtos florestais, norte-americano, japonês e europeu, valorizavam produtos de origem certificada. Mas, como a crise financeira global pegou em cheio esses países, restou o emergente mercado menos exigente dos países asiáticos e do BRIC. Praticamente, não há diferença nos preços dos produtos florestais entre o “bom” e o “mal” mercado. Nenhum deles está disposto a pagar mais por um produto diferenciado social e ambientalmente. O que vale é o menor preço. Daí, vende mais quem colocar o produto no mercado ao menor custo.


Opiniões Talvez para a celulose, a CF ainda possa estar fazendo alguma diferença porque, como ela, não é obstáculo financeiro. Para esse segmento, só não se certifica quem não quiser. Sendo assim, também não há mais o diferencial em termos de marketing. Entretanto, para produtos sólidos da madeira, como serrados e laminados, pode ser que a CF esteja prejudicando as empresas certificadas. Haja vista que o que importa é o menor preço, há uma concorrência desleal a favor das empresas não certificadas por adquirirem matéria-prima mais barata, dado que pode vir de desmatamento, sendo que isso é uma “não conformidade” maior perante os P&C da certificação. Talvez seja essa a razão pela qual quase todas as indústrias madeireiras da região Norte, outrora certificadas, ou faliram ou perderam o selo. Outro problema da CF são os excessos de zelo, preciosismo ambiental, tratado em alguns P&C, que podem comprometer a competitividade das indústrias florestais, inclusive da de celulose. Um exemplo é o da proibição da sulfluramida: embora se tenham cobrado alternativas para o uso dela, ainda não apareceu substituto. Outros exemplos são sobre plantios de eucalipto transgênico e uso de determinados defensivos. Essas perturbações criam obstáculos para o produtor e intensificam as inconformidades. Nesse aspecto, a CF é muito mais uma moeda de negociação das ONGs do que, de fato, um instrumento de gestão e marketing. Dado o sofisma ambientalista, é inaceitável que o setor florestal fique refém de exigências surreais fundamentadas em preconceitos ideológicos

etno-ambientalistas. Além disso, essas imposições esdrúxulas da CF podem sair como um “tiro pela culatra”, gerando uma debandada das empresas certificadas, a partir do momento que perceberem que a CF já não é mais um diferencial de mercado e que tais imposições mais atrapalham que ajudam. Outro ponto importante é que, apesar da CF não garantir o sobrepreço no produto, grandes grupos industriais podem usá-la para dificultar a entrada de novos concorrentes. Por exemplo, pode haver a formação de um mercado oligopolizado para alguns segmentos, como o de papel para impressão, que é constituído de médias e grandes empresas. A exigência da certificação, morosa e onerosa, fecha as portas para empresas de menor porte, que são forçadas a ir para mercados periféricos, reservando para as grandes os melhores mercados. Dessa forma, atentar intensamente para esse âmbito não traz desenvolvimento nenhum, tudo é uma questão de equilíbrio e de discernimento de cada limitação. Além do propósito de desenvolvimento sustentável – ambientalmente correto e socialmente justo –, a CF deveria ser um instrumento que facilitasse o acesso de qualquer produtor, independente da escala. Nesse aspecto, merece destaque o trabalho que vem sendo feito para inserir na certificação os produtores dos programas de fomento, pois de nada adianta uma grande empresa ter a certificação, se seus fomentados possuírem irregularidades em questões trabalhistas e ambientais, no uso de EPIs, na falha de descartes corretamente das embalagens, etc.


colheita de madeira

Opiniões

planejamento estratégico na

colheita de madeira em função da complexidade da colheita de madeira, o planejamento e o controle tornam-se de fundamental importância para a otimização das operações e a redução dos custos de produção "

Eduardo da Silva Lopes

Professor de Colheita e Transporte do Unicentro e Coordenador do Cenfor

Dentro do setor de florestas plantadas, discutir a importância da colheita de madeira em relação à sua complexidade e os elevados custos envolvidos pode parecer redundância, porém é necessário termos em mente que muitos dos problemas passam pela necessidade de maior atenção dos gestores em relação aos aspectos: treinamento, manutenção e planejamento. Quanto ao treinamento, com os atuais avanços tecnológicos das máquinas de colheita da madeira, que são cada vez mais automatizadas, produtivas e de elevados custos de aquisição, torna-se muito importante que elas sejam manuseadas por operadores capacitados e com perfil adequado ao cargo. Com isso, será possível aproveitar o potencial máximo de produção das máquinas e evitar abandonos do cargo, situação muito comum nas empresas e que pode comprometer todo o planejamento e acarretar elevados custos. Em seguida, temos a necessidade da implantação de um eficiente programa de manutenção mecânica, com uma infraestrutura adequada e mecânicos capacitados, possibilitando, assim, o atendimento imediato e evitando que as máquinas permaneçam paradas por longos períodos, obtendo-se, consequentemente, ganhos na disponibilidade mecânica, maior produtividade e redução dos custos de produção.

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Por fim, nos deparamos com a necessidade de melhorias nos atuais modelos de planejamento e controle aplicados na colheita da madeira, de forma a alcançar o uso racional dos recursos e melhorias na execução das operações do ponto de vista técnico, econômico, ambiental, de segurança e ergonômico. Nesse aspecto, deve-se ressaltar que, muitas vezes, os problemas observados nas operações florestais estão relacionados às falhas de gestão, seja por problemas de relacionamentos entre as pessoas envolvidas no processo ou por falta de conhecimento ou aplicação inadequada dos aspectos que necessitam ser considerados nos diferentes níveis de planejamento. O planejamento pode ser definido como a elaboração por etapas, com base técnica, de planos e programas com objetivos bem definidos, ou seja, visa ao desenvolvimento de processos, técnicas e ações a serem executadas no futuro, de forma rápida, coerente, eficiente e com riscos aceitáveis.


ANOS DE APRENDIZADO Este ano a Ponsse Brasil completa 10 anos de atuação no mercado, uma data para ser comemorada. E nada melhor do que celebrar com amigos e parceiros. Pensando na idade nova, gostaríamos de compartilhar um pouco dos nossos valores – aquilo que guia nossos negócios e que nos trouxe até aqui, como uma forma de reflexão sobre tudo o que já vivemos. Na Ponsse tudo foi inspirado em nosso fundador – Einari Vidgrén. Os pilares nos quais a empresa se apoia hoje, são os mesmos em que ele viveu durante toda a sua vida, nos quais ele educou os seus filhos, e traçou o futuro para a sua companhia. Entre eles a honestidade sempre foi essencial para o nosso trabalho. Ser verdadeiro, confiável, e transparente são os fatores que acompanham o sucesso da Ponsse todos os dias.

Einari Vidgrén, nas florestas do interior da Finlândia – 1996

Nosso fundador, Einari Vidgrén, nos ensinou “Que devemos manter aquilo que prometemos e nunca fazer falsas promessas”, pois a vantagem da honestidade é que a concorrência é pequena.

PONSSE BRAZIL - R: Joaquim Nabuco, 115 – Vila Nancy – Mogi das Cruzes/ SP – CEP: 08735-120 Tel: (11) 4795-4600 • www.ponsse.com/pt • www.facebook.com/ponssebrasil


colheita de madeira O planejamento é muito peculiar dentro de uma empresa florestal, pois existem muitas variáveis envolvidas no processo que podem atuar de forma isolada ou simultânea, em que cada empresa possui suas características próprias, remetendo, portanto, à necessidade de uma maior atenção por parte dos gestores florestais. O planejamento florestal pode ser subdividido basicamente em três níveis hierárquicos: estratégico, gerencial e operacional. O planejamento estratégico, considerado de longo prazo, envolve ações que ocorrerão em um futuro mais distante, com período de abrangência acima de 3 anos e contemplando decisões que envolvem grandes investimentos, como a aquisição de terras, construção ou expansão de indústria e alterações nos planos de manejo, silvicultural ou de infraestrutura. Na sequência, temos o planejamento gerencial, considerado de médio prazo e com período de abrangência de até 12 meses, podendo ser usadas ferramentas computacionais no apoio à tomada de decisão. O objetivo principal desse nível de planejamento é o desenvolvimento de um plano de colheita e transporte da madeira, a partir de informações dos projetos e dos talhões disponíveis para corte, que são repassados pela equipe de planejamento florestal. Os principais aspectos considerados são: definição dos projetos e talhões a serem cortados e como a madeira será distribuída para a indústria e/ou demais consumidores; dimensionamento dos recursos físicos e distribuição dos módulos de colheita da madeira em função das distâncias de transporte; definição da capacidade produtiva e custos das operações de colheita e transporte; levantamento das condições atuais e melhorias nas estradas e obras de arte; informações do regime de manejo; definição de projetos e talhões estratégicos; sazonalidade do mercado e fretes; elaboração de orçamentos; levantamento dos impactos e ações mitigadoras para as questões ambientais e sociais; etc. É importante ressaltar ainda que, como o planejamento gerencial envolve uma grande variedade de dados e informações a serem consideradas de forma simultânea, é fundamental que esse trabalho seja realizado por uma equipe multidisciplinar, com a participação efetiva dos gestores e suas equipes das áreas de colheita da madeira, logística, estradas, silvicultura e planejamento. Por fim, temos o planejamento operacional, considerado de curto prazo, com período de abrangência de 30 dias e podendo ser subdividido em macro e microplanejamento.

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O primeiro envolve ações que ocorrem ao nível de fazenda ou projeto, contemplando aspectos como definição da sequência das operações de colheita e transporte, posicionamento dos módulos de colheita da madeira, dimensionamento dos recursos físicos, levantamento das condições topográficas, definição de talhões estratégicos, pátios intermediários, melhorias nas estradas, rotas de transporte, etc. Já o segundo envolve ações que ocorrem no interior do talhão, contemplando aspectos como estimativa da eficiência, capacidade produtiva e custos das máquinas; volume a ser colhido; identificação de restrições operacionais; sentido de corte; sentido e distância ótima de extração; disposição dos feixes de árvores ou pilhas de toras dentro do talhão; necessidade de abertura de ramais; compartimentalização dos talhões em função das distâncias de extração e dos pontos de pilhas; localização dos estaleiros; disposição das pilhas de madeira nas margens das estradas, dentre outros. Entretanto, para que todos esses aspectos previstos no planejamento operacional sejam levantados e aplicados na prática, torna-se necessária também a participação das pessoas envolvidas na colheita de madeira, com realização de trabalhos simultâneos de escritório e campo e com apoio das equipes de geoprocessamento e planejamento florestal da empresa. Nesse momento, é fundamental a elaboração de mapas dos projetos e mapas individuais de cada talhão interligados às suas respectivas planilhas com informações complementares, podendo esse material compor o Book Operacional, que auxiliará os supervisores de campo e os operadores das máquinas na tomada de decisões nas frentes operacionais durante a execução do trabalho. Além disso, para que o planejamento seja executado de forma eficiente, é fundamental que a empresa disponha dos Manuais ou Cartilhas de Operação, com descrição detalhada de todos os procedimentos a serem executados nas diversas atividades envolvidas na colheita da madeira. Tais manuais poderão contemplar os seguintes aspectos: descrição dos procedimentos operacionais nas diversas situações de trabalho, de manutenção e abastecimento, aspectos de segurança do trabalho, trabalhos em áreas de riscos, aspectos da qualidade do produto e do serviço, procedimentos para minimização de impactos ambientais, checklist das máquinas, etc. Por fim, para que todas essas ações previstas no planejamento florestal sejam alcançadas, é fundamental o controle diário de todas as atividades da colheita de madeira, permitindo maior eficiência na execução do trabalho; garantia do abastecimento da indústria; fornecimento de informações para fins operacionais e industriais; fornecimento de informações para uso no sistema de controle, custos e orçamentos; pagamento de pessoal; e garantia do cumprimento das metas estabelecidas no planejamento estratégico. Portanto, em função da complexidade da colheita de madeira, que possui um grande número de variáveis que interferem diretamente na forma de execução do trabalho, o planejamento e o controle tornam-se de fundamental importância para a otimização das operações e a redução dos custos de produção, sendo uma tarefa desafiadora para os gestores florestais.


silvicultura de precisão

Opiniões

tecnologias de precisão

na silvicultura As plantações florestais no Brasil, em 2013, totalizaram 7,6 milhões de hectares e 4,4 milhões de empregos gerados, correspondendo a, aproximadamente, 4,5% da população economicamente ativa do País. "

Itamar Antonio Bognola e Shizuo Maeda Pesquisadores da Embrapa Florestas

O potencial de impacto econômico e ambiental da silvicultura de precisão (SP) no Brasil é proporcional à área de florestas plantadas passíveis de manejo. As plantações florestais no Brasil, em 2013, totalizaram 7,6 milhões de hectares e 4,4 milhões de empregos gerados, correspondendo a, aproximadamente, 4,5% da população economicamente ativa do País. O aumento da demanda por produtos florestais, associados com os aumentos dos custos de produção e a exigência do mercado por produtos de origem certificada, tem requerido dos produtores maior eficiência no gerenciamento dos fatores de produção e no uso de insumos, para tornar a produção florestal sustentável. Para atendimento das exigências desse novo mercado, a SP vem sendo preconizada como alternativa à silvicultura tradicional. Esse novo enfoque de manejo sucede e complementa o enfoque de produção sustentável racionalizando a gestão dos fatores de produção em novos patamares. Práticas silviculturais como o preparo do solo, controle da erosão, desbaste, desrama, adubação, controle de pragas, doenças e plantas invasoras e o plantio de materiais melhorados geneticamente têm sido responsáveis por elevados ganhos na produtividade florestal.

É no contexto de produção sustentável e com rastreabilidade que a SP é inserida, e ela almeja o aumento na produtividade e/ou redução no custo de produção florestal. Apesar das altas produtividades das florestas plantadas para fins madeireiros no Brasil, na maioria dos plantios florestais, as operações silviculturais são realizadas com equipamentos adaptados, não eficientes ou adequados às necessidades operacionais, resultando em baixa precisão do trabalho realizado. A exceção ocorre nas operações de colheita florestal, que tem disponíveis equipamentos altamente eficientes. Entende-se que o manejo florestal, nos preceitos da SP, deve ser precedido por grande acurácia nos controles dos processos envolvidos, ou seja, todas as intervenções executadas devem ser realizadas com precisão. Essa abordagem enfoca a necessidade de fazer a “lição de casa”, ou seja, executar com boa acurácia as práticas recomendadas para alta produtividade florestal,

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silvicultura de precisão antes de adotar tecnologias sofisticadas de produção florestal ainda em desenvolvimento para as condições brasileiras. Para o controle da qualidade das operações florestais, encontram-se em desenvolvimento equipamentos embarcados nas máquinas para o controle eletrônico de atividades de manejo, como a de aplicação de insumos, os quais permitem o controle contínuo das quantidades de insumos aplicadas e que devem permitir a aplicação de insumos a taxas variáveis para a viabilização da silvicultura de precisão. Em muitas empresas florestais, a maioria das operações silviculturais é realizada manualmente ou de forma parcialmente mecanizada, muito distante ainda da possibilidade de manejar a floresta nos preceitos da silvicultura de precisão. Embora isso ocorra, essa forma de manejo silvicultural se ajusta às necessidades e à capacidade técnico-financeira das empresas florestais que a adotam. As práticas de manejo de precisão são recomendadas em situações em que existam variabilidade dos fatores de produção no talhão florestal (fertilidade do solo, ervas invasoras, pragas e doenças, água, etc.) e os rendimentos variam em função deles, numa dimensão em que a razão da relação custo/benefício seja favorável. Nessas condições, seriam aplicados manejos diferenciados em termos de adubação, controle de invasoras, pragas e doenças, etc., em lugar do tradicional manejo baseado na média. Para a adoção do manejo florestal nos preceitos da SP, a coleta de dados, o gerenciamento da informação, a intervenção localizada e a avaliação dos resultados são fases sequenciais a serem observadas. O mapa de colheita contém informações que permitem visualizar a variabilidade espacial na resposta da cultura aos fatores de produção e ao manejo aplicado no talhão ou entre talhões florestais. Dessa forma, na fase de coleta de dados, procura-se avaliar o terreno para identificar a variabilidade por ventura existente no talhão tanto na produtividade quanto nos fatores de produção envolvidos no crescimento das árvores. A obtenção de dados pode ser realizada por meio de sensoriamento remoto, fotogrametria aérea ou amostragem direta no campo. No caso de dados de produtividade, as colhedoras, conhecidas como harvester, são capazes de avaliar a produtividade de madeira bem como de georreferenciar esses dados, sendo possível elaborar mapas de colheita. Dependente de uma estrutura computacional, com o processamento dos dados coletados, se corrigem eventuais erros de coleta e de posicionamento e se segue pela quantificação da variabilidade e sua relevância com o uso da geoestatística. A partir de mapas obtidos para cada variável (volume de madeira, características químicas e físicas do solo, incidência de pragas, doenças, ervas invasoras e outras), relaciona-se a variabilidade do volume de madeira, por exemplo, quando esse for o produto final do empreendimento florestal, com os fatores de produção, buscando relações de causa e efeito para se proporem estratégias de manejo que considerem a variabilidade encontrada.

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Opiniões Finaliza-se essa etapa gerando mapas de aplicação de insumos, os quais são transferidos para máquinas que realizem a operação programada. A terceira etapa trata da implementação da prática para a aplicação localizada de insumos com o uso de equipamentos capazes de realizar essa operação a taxas variáveis no talhão florestal. A etapa final é a avaliação dos resultados, que está distribuída ao longo da rotação, sendo dinâmica, permanecendo em constante realimentação, o que permite que se avalie a adequação da estratégia utilizada e se promovam ajustes em todo o processo. Para implementar essa nova forma de manejo, há necessidade de mão de obra especializada por estar envolvido o uso de equipamentos de informática e de programas computacionais com algum nível de complexidade. O desenvolvimento de equipamentos que possibilitem a aplicação de insumos a taxas variáveis com acurácia é uma necessidade a ser superada. A obtenção de mapas de produtividade e dos fatores de produção envolvidos que permitam obter as relações de causa e efeito da variabilidade da produtividade é dispendiosa, porém indispensável para o manejo florestal em sítio específico. A opção pelo manejo florestal com base em unidade de manejo operacional, considerando a homogeneidade de características do meio físico, é uma alternativa de baixo custo, para manejo num nível de talhão florestal, os quais, normalmente são estabelecidos com base em características topográficas do terreno. Além de contribuir para o melhor uso de insumos, a adoção de técnicas de SP também possibilita aos proprietários e possuidores rurais o atendimento à legislação pertinente ao uso de suas terras. O estabelecimento e o manejo de florestas plantadas que incorporem técnicas de SP são contemplados em auditorias com vistas à Certificação Florestal. No Brasil, dois programas voluntários de Certificação Florestal encontram-se implementados: o Conselho de Gestão Florestal (FSC Brasil) e o Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor). Um conceito expandido de SP deve considerar também os limites espaciais ao longo do terreno ou território a ser utilizado para o estabelecimento de um plantio florestal. Nesse sentido, a delimitação georreferenciada das Áreas de Proteção Permanente e da Reserva Legal, conforme as métricas estabelecidas em lei, e o efetivo respeito a tais limites em campo constituem providências fundamentais para que a produção florestal seja realizada conforme a legislação vigente.



pragas florestais

controle biológico de pragas florestais

o controle biológico só será bem-sucedido se a fundamentação científica for rigorosamente mantida durante seu desenvolvimento e implementação "

Carlos Frederico Wilcken

Professor de Entomologia Florestal da UNESP de Botucatu e Coordenador do Protef/Ipef

O Brasil possui 7,7 milhões de hectares de florestas plantadas (FAO, 2015), sendo o oitavo maior país com plantações florestais, muito atrás da China, com 79 milhões de hectares e dos EUA, com 26,3 milhões de hectares (primeiro e segundo lugares). Das plantações florestais brasileiras, 72% são formados com eucalipto (IBÁ, 2015). A alta produtividade das plantações florestais brasileiras é afetada pela ocorrência de pragas e doenças. Desde 2003, as plantações de eucalipto têm sido atacadas por pragas exóticas ou invasoras, que têm causado perdas entre 10% e 30% no volume de madeira produzida, incluindo mortalidade de árvores quando associada ao déficit hídrico. Quanto às opções de manejo, apesar dos inseticidas químicos serem eficientes e de rápida ação curativa, ainda não há produtos registrados oficialmente pelo MAPA, além das exigências impostas pela certificação ambiental, que restringem o uso desse método de controle. Nesse contexto, a principal alternativa é o controle biológico. O Brasil é reconhecido globalmente pelos programas de controle biológico bem-sucedidos na agricultura e na silvicultura.

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As principais pragas exóticas do eucalipto são o gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis), o psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), o percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus) e a vespa-da-galha (Leptocybe invasa). Para essas pragas, a principal estratégia é o controle biológico clássico, que envolve a importação de inimigos naturais da região de origem da praga e posterior liberação no campo, após passar por quarentena oficial. Nas florestas plantadas de eucalipto, atualmente o principal problema é o percevejo bronzeado, inseto de 3 mm que suga as folhas, causando o bronzeamento da copa das árvores e subsequente desfolhamento. Essa praga, presente em 14 estados brasileiros, tem atacado quase todos os clones híbridos comerciais, além das espécies mais comuns de eucalipto no Brasil. Em 2012, foi introduzido o parasitoide de ovos Cleruchoides noackae, da Austrália. Esse parasitoide vem sendo produzido nos laboratórios da Unesp-Botucatu e Embrapa Florestas, e já foram realizadas liberações em vários estados. Os resultados em MG demonstram redução de até 90% da área atacada pela praga após três anos de liberações periódicas. A vespa-da-galha, praga de viveiros florestais e em plantios a campo, também está sendo controlada com o parasitoide Selitrichodes neseri, introduzido a partir da África do Sul, em 2015. A eficiência do parasitismo ainda está em avaliação. Outro exemplo interessante foi a ocorrência do gorgulho do eucalipto nas florestas de eucalipto do ES, em 2004. Essa praga causa desfolha dos ponteiros, levando ao atraso no crescimento das árvores.


Opiniões A introdução do parasitoide de ovos (Anaphes nitens), trazido do RS, juntamente com a aplicação do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, controlou a praga em nove meses, enquanto, em outros países, o controle foi obtido entre 2 a 3 anos após a liberação do parasitoide. Entretanto essa praga ressurgiu em SP e PR desde 2013, e um novo programa de controle biológico baseado nesse parasitoide e em outras opções de controle biológico está em andamento. Entre 2014 e 2015, ocorreu um grande surto da lagarta-parda Thyrinteina arnobia nas plantações de eucalipto na Bahia, e, novamente, a opção foi pelo controle biológico. Nesse caso, foi utilizado o controle microbiano, com aplicações aéreas da bactéria Bacillus thuringiensis, associada à liberação de parasitoides de pupas das espécies Palmistichus elaiesis e Trichospilus diatraeae. O controle biológico vem sendo discutido seriamente pelas empresas florestais como opção principal para o manejo de pragas florestais. Atualmente, há quatro empresas florestais que montaram laboratórios próprios para atender a suas demandas no controle das principais pragas. Além disso, há, no Brasil, empresas privadas, nacionais e multinacionais, de produção comercial de inimigos naturais para controle de pragas agrícolas e que vêm atendendo pontualmente a alguns produtores florestais. O mercado do controle biológico vem crescendo substancialmente no mundo.

Em fevereiro de 2016, a Fapesp realizou um workshop sobre desafios da pesquisa em controle biológico no estado de São Paulo, onde foram apresentados dados de crescimento nesse mercado na ordem de 15% ao ano. Esse crescimento é devido à pressão da sociedade e dos mercados consumidores de produtos agrícolas e florestais por sistemas de produção mais sustentáveis. No setor florestal, essa pressão é sentida pelos produtores certificados pelo selo FSC. A principal questão para a implementação efetiva do controle biológico é o custo. Considerado de alto custo no passado, atualmente a relação custo-benefício é vantajosa, pois há mais empresas produtoras de inimigos naturais no mercado, o que reduz preços pela competição, e, por outro lado, os inseticidas químicos modernos são mais caros que antes, devido às exigências das agências reguladoras quanto aos testes toxicológicos e de segurança ambiental. Pelo exposto, o controle biológico de pragas florestais tende a crescer nos próximos anos. Entretanto lembramos que há vários casos de fracassos no controle biológico no mundo. Portanto o controle biológico só será bem-sucedido se a fundamentação científica for rigorosamente mantida durante seu desenvolvimento e implementação. Parcerias bem estabelecidas entre instituições de pesquisa e empresas e produtores florestais continuarão sendo fundamentais para o sucesso do controle biológico no Brasil.

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mudas clonais

Opiniões

planejamento de viveiros para a produção de

mudas clonais

Quando falamos da produção de mudas clonais de eucalipto, podemos dizer que se trata de uma atividade sujeita a fatores únicos e restritos à produção dessas mudas, o que a diferencia bastante das outras atividades que ocorrem na silvicultura. Um desses fatores é o clima, que pode afetar todo o processo de produção, pois não está sob o controle do gestor do viveiro; daí a necessidade de se construir um viveiro com teto retrátil, pois, se ele assim o for, diminuirá, em muito, o reflexo das intempéries em todos os setores de produção do viveiro. Como “fator clima”, podemos citar: • chuva de granizo; • geadas; • longos períodos de chuvas, que causam umidade excessiva no viveiro, criando um ambiente propício à proliferação de fungos e bactérias; • longos períodos de baixas temperaturas, porém não há muito o que fazer, a não ser planejar ações no viveiro que visem mitigar seus efeitos. Há que se deixar claro que baixas temperaturas não têm que necessariamente vir acompanhadas de geadas. Para elas, sim, há que se ter um plano de ação que deve ser implantado quando da sua ocorrência. Um outro fator que pode concorrer para a qualidade da muda é a mudança no cronograma de entregas. Quando se diminui o ritmo de retirada de mudas do viveiro, considerando que, por sua natureza, é uma atividade que deve ser contínua, fica toda comprometida, pois o acúmulo de mudas no viveiro atrapalha as mudas que vêm na sequência de produção, até que os gargalos vão aumentando, refletindo em todas as etapas de produção, e ainda influenciando diretamente na qualidade da muda que deveria ser entregue no prazo combinado. A situação inversa seria a necessidade brusca de mais mudas do que foi planejado para a produção. Tendo o viveiro infraestrutura para atender a essa demanda, basta que se dê a ele o tempo que for necessário para se

aumentar a produção; desde a contratação e treinamento da mão de obra, caso seja necessário fazê-lo, até a eventual expansão das áreas de produção. Portanto a área onde deverá ser instalado o viveiro deve sempre ser maior do que o que se pretende, pois pode haver a necessidade de expansão. O que nos remete a avaliar a disponibilidade de água para a irrigação, e esse recurso não pode ser fator limitante à atividade. A consciência da existência dessas variáveis torna mais fácil o planejamento de um viveiro de mudas de eucalipto, pois minimiza sustos que fatalmente ocorrerão no futuro se tais fatores não forem levados em conta. É fato que existem outras, mas uma atividade que nos obriga a trabalhar em equipe é a produção de mudas de eucalipto. Daí a necessidade de se ter, na organização, um alto grau de conhecimento sobre o assunto, envolvimento e troca de informações entre departamentos que, de alguma forma, têm ligação entre si, tornando os indivíduos desses departamentos pessoas extremamente comprometidas com o sucesso do empreendimento. Informações absolutamente imparciais sobre a qualidade da muda enviada para o campo promovem a perenização do processo de melhoria contínua, refletindo diretamente na qualidade da muda expedida. E tudo começa com a integração do viveiro com os outros departamentos da empresa, caso as mudas sejam produzidas para consumo próprio. O mesmo vale para os viveiros comerciais, visto que o seu sucesso depende da satisfação do cliente. Afinal, todas as pessoas envolvidas no processo devem ser consideradas pessoas que ali estão para acertar. Raramente alguém tem a intenção explicita de cometer um erro, e esta é uma figura facilmente identificável, principalmente em nosso setor. Devido à rapidez da evolução tecnológica que ocorre atualmente em todos os setores de nossa economia, os viveiros de produção de mudas não poderiam ficar de fora desse evento. Vale ressaltar que as respostas positivas, em termos de evolução nos métodos de produção, em todas as suas fases, desde que foram surgindo ao longo do tempo, foram prontamente implantadas.

“Senhores, prestem atenção ao que vou dizer, a muda representa 50% da celulose, portanto pensem na qualidade do produto que vocês fazem aqui”. Disse o professor Marchesi nos idos de 1990. Achei que ele exagerava. "

Gilmar Pires de Moraes

Diretor da Angico's Mudas Florestais e Ornamentais



mudas clonais O que significa que, para esse setor, a aplicação de novas tecnologias não é um daqueles paradigmas difíceis de serem quebrados. Como exemplo, podemos citar a evolução dos substratos, a evolução dos sistemas de irrigação, da forma de se lidar com a nutrição e os defensivos. Enfim, são inúmeros os exemplos de rapidez nas respostas às necessidades de aplicação de novas tecnologias com suas respectivas inovações. E podemos dizer com convicção que, atualmente, estamos vivendo uma nova fase, em que se buscam melhorias no sistema de produção de mudas. Há algum tempo, se vem falando muito sobre utilização de tubetes biodegradáveis, mecanização e consequente automação no sistema de produção de mudas, enfim, a necessidade eterna de se baixar custos de produção nos obriga a buscar novas formas de produzir essas mudas. O que há poucos anos era apenas uma miragem, hoje está se tornando uma realidade da qual não teremos como escapar. O fator limitante é o valor do investimento a ser feito, que ainda é muito alto. Mesmo baixando custo de produção, o investimento necessário atualmente é proibitivo. Podemos dizer que hoje, com algumas exceções fora do setor de celulose, porém do ramo de produção de madeira, somente a indústria de celulose tem condições de implantar um viveiro que tenha como base esse novo conceito. Vale lembrar que, para comercialização, os preços praticados no mercado de mudas atualmente tornam inviável qualquer investimento na atividade; o que dizer, então, da implantação de um viveiro com base nesse novo conceito tão sofisticado. Mesmo assim, insisto, não haverá retrocesso, o caminho é a automação dos viveiros, principalmente em função da falta de mão de obra para o setor e seus respectivos custos. O que deve acontecer com o passar do tempo é que o valor do investimento deve cair um pouco, o valor da muda deve subir um pouco, e o mercado irá se acomodar. Outro fator muito importante no contexto de produção de mudas é o seu custo de produção e a qualidade. Essa é uma seara que se nos apresenta como algo fácil de trabalhar, porém é exatamente o contrário, é o ponto nevrálgico de todo viveiro. Quando tratamos do item qualidade, vale o trinômio: conhecimento/envolvimento/comprometimento de cada indivíduo mais o trabalho em equipe. Não basta o viveiro se esforçar para produzir uma boa muda se ele não “conversar” com seu cliente – o pessoal de plantio; pode ser que o que ele considera como sendo uma boa muda não atende às exigências e às necessidades do seu cliente. Também não basta receber feedbacks se não for tomada nenhuma ação. Daí a necessidade das pessoas envolvidas no processo de produção de mudas visitarem o campo com frequência. E eu diria mais, o pessoal de campo também deveria visitar o viveiro. Com certeza, muitos problemas deixariam de existir por causa dessa integração. A meu ver, os dois setores são como irmãos siameses, pelo fato de que um não faz sucesso sem o outro. De posse dos parâmetros de qualidade que forem combinados com o pessoal do plantio, tais como tamanho, pares de folhas, diâmetro de colo, sanidade, sistema radicular e, principalmente, o peso de cada um desses itens no processo de avaliação, mais a quantidade e o

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cronograma de retirada, o viveiro deve trabalhar na elaboração de sua programação de produção dessas mudas. E será durante o processo de produção que uma das ferramentas mais importantes que ele vai lançar mão é o controle de qualidade. Existem ferramentas da qualidade disponíveis para todo tipo de orçamento. Consultores, pessoas dos próprios setores que cuidam desse assunto na empresa, enfim, as formas de se fazer o controle de qualidade existem. O importante é haver a consciência de que há a necessidade de se implantar tal processo, pois, além de facilitar muito a produção, evita que ocorram fatos desagradáveis e desgastantes junto ao cliente, ou à equipe de campo, e principalmente porque um controle de qualidade bem aplicado e que tenha um acompanhamento bem rígido promove a redução nos custos de produção, visto que age no sentido de corrigir deficiências antes que problemas possam ocorrer. Vale lembrar que a produção de mudas é uma atividade muito técnica, exige muita atenção, dedicação e conhecimento do seu responsável, e o controle de qualidade é uma importante ferramenta a ser utilizada por esse gestor. Não dá para pensar em produzir mudas sem o uso dessa ferramenta, pois ela ajuda a promover a sustentabilidade do empreendimento. Ao mencionarmos a palavra “sustentabilidade”, para que esta ocorra de fato, podemos dizer que as certificações, tanto as ISO’s como o FSC, são ferramentas valiosas para que se atenda tanto à legislação que regula essa atividade como ao atendimento das exigências do cliente da madeira ou celulose que serão produzidas a partir do momento em que se essas mudas sejam plantadas. O gestor de um viveiro, teoricamente, deveria saber fazer mudas e ponto final. Não é bem assim, existem outros conhecimentos necessários ao bom desempenho da função. Além do controle de qualidade, há que se fazer um acompanhamento minucioso dos custos. Insumos e mão de obra são itens que têm um peso significativo na formação dos custos. Portanto esse é um item que compõe uma das qualificações que o responsável pelo viveiro deve ter. O treinamento também é uma das ferramentas essenciais que temos à nossa disposição e que nos pode trazer ganhos significativos em termos de melhorias na qualidade e quantidade de mudas produzidas. Este texto não tem a pretensão de ensinar ao público tão seleto que o lê como planejar um viveiro de produção de mudas clonais; para essa função, temos profissionais extremamente qualificados, tanto nas empresas como consultores que atuam há muitos anos no mercado. Por isso tive a intenção apenas de lembrar alguns itens que considero importantes e que devem ser levados em consideração no planejamento de um viveiro, tendo como base o aprendizado que nunca se encerrou nesses anos em que estou inserido nessa atividade. Só para ilustrar, não posso deixar de contar o que o professor Marchesi, hoje aposentado da Unesp de Botucatu, falou para nossa equipe numa de suas visitas regulares que nos fazia, lá pelos anos 1990: “Senhores, prestem atenção ao que vou dizer, a muda representa 50% da celulose, portanto pensem na qualidade do produto que vocês fazem aqui”. Sinceramente, na época achei um exagero, hoje vejo que ele estava coberto de razão.


Opiniões

ensaio especial

a importância do

planejamento

Em um mundo globalizado onde o “humor” da economia global, com reflexos na local, muda com grande frequência, o planejamento é decisivo. Propósitos, rumos, direções e controle são palavras imprescindíveis para empresas de qualquer porte. Ao contrário do que muitos imaginam, sem planejamento, quanto menor for a empresa, menor será sua capacidade de enfrentar as pressões do cotidiano. Empresas sem metas, objetivos e estratégias consistentemente estabelecidos são punidas mais severamente que os corredores de 100 m. Elas não têm uma segunda chance. Montar uma empresa exige do empreendedor a certeza de que o futuro é o presente lá na frente. É hoje, na hora de pensar a empresa florestal, que se desenha o futuro dela.

Por isso o planejamento deve vir antes das funções de organização, direção e controle. O planejamento tem a hierarquia como princípio. As ações de organização, direção e controle só funcionarão nos casos em que o empreendedor estabeleça, de início, o seu guia para ação futura. O setor florestal possui algumas características peculiares. Ele tem um grande número de produtos, sofre interferência do ambiente, exige um longo prazo para a produção de madeira e apresenta dificuldade de transporte da madeira a longas distâncias.

Propósitos, rumos, direções e controle são palavras imprescindíveis para empresas de qualquer porte. "

Moacir José Sales Medrado

Diretor-geral da MCA Medrado e Consultores Agroflorestais Associados

Tais características requerem um tratamento diferenciado para os projetos florestais. Além disso, as operações florestais ocorrem em ambiente aberto, sob ação direta do clima e do tempo, sujeitas a secas, chuvas, incêndios, enchentes, ventos fortes. Isso gera um número maior de incertezas que pode comprometer a performance do empreendimento.

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ensaio especial Definir a área para instalar uma empresa florestal não é uma tarefa simples, pois se devem considerar os fatores locais, a logística, as dificuldades de exploração e o valor da madeira. Ou seja, um projeto florestal não é algo simples e, por isso, o planejamento é uma ferramenta importante para se evitarem problemas operacionais. Ele não elimina os riscos, isso é evidente, mas ajuda os gestores a identificarem os problemas organizacionais e a lidarem com eles antes de causarem sérios danos à empresa. Assistindo aos casos de insucesso de empreendedores no mundo florestal e lendo sobre eles, sinto que grande parte deles pecaram porque desconheceram a importância do que significam essas duas palavrinhas: planejamento estratégico; ou porque não acreditaram que a desconsideração delas fosse tão demolidora. Por isso não analisaram, detidamente, o ambiente do negócio e, pior, tentaram construir uma empresa sem missão. Criaram apenas um sonho de ganhar dinheiro com a madeira, sem definir de uma forma clara quais produtos produziriam e quais clientes e mercados supririam. Na prática, não definiram bem o negócio, a vocação de sua empresa ou a propriedade. Levantamentos realizados pelo Sebrae, em empresas ativas e naquelas fechadas por alguma causa, indicaram que o planejamento foi considerado o ponto mais importante. Um planejamento bem elaborado proporciona aos gestores uma ajuda para que se orientem para o futuro, antecipando-se aos problemas, fortalece o processo de tomada de decisões e enfatiza os objetivos organizacionais, fazendo com que o produtor/empresário não se esqueça de para que sua empresa foi estabelecida. Com tamanha importância reconhecida ao processo de planejamento, é inconcebível que um empreendedor florestal, por menor que seja, desconheça as ferramentas mínimas de orientação para o seu negócio. Hoje, existem inúmeras delas disponíveis para que, sozinhos ou com a ajuda de um técnico, possam usá-las como auxiliar na avaliação do potencial de seu negócio. Vejamos as principais: a. o Sistema IBGE de recuperação automática (Sidra) traz informações preciosas sobre a silvicultura e sobre a extração florestal, permitindo ao potencial empreendedor construir uma visão clara de onde estão concentradas as principais áreas produtoras florestais do País, em carvão vegetal, lenha e madeira em tora; b. o Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento – MDIC, dispõe de informações sobre os Arranjos Produtivos Locais – APLs, que estimulam os processos locais de desenvolvimento, através da promoção da competitividade e da sustentabilidade dos empreendimentos em territórios definidos pelos estados;

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Opiniões c. o sistema Alice, também do MDIC, é um sistema de consultas on-line disponibilizado pela Secretaria de Comércio Exterior – Secex, que modernizou as formas de acesso e a sistemática de disseminação dos dados estatísticos das exportações e importações brasileiras; d. as secretarias de planejamento e de indústria e comércio dos estados agem como faróis dos governos a enxergarem, no mar escuro da escassez de recursos financeiros, as fontes para investimentos no setor; e e. as associações de empresas florestais podem dar ao potencial investidor um panorama atualizado sobre o setor na sua área de abrangência. Com todas as ferramentas disponíveis, ainda é muito grande o número de novos empreendedores que saem do negócio florestal por não fazerem uma análise inicial adequada de seu negócio. Existem outros que, apesar de terem começado com uma razoável preocupação nessa área, se perderam ao longo do caminho. Compraram a cobertura, mas esta desmoronou porque o andar de baixo ruiu. Esse andar de baixo a que me refiro é a simples figura de um plano de manejo florestal. Por vários motivos, infelizmente, excluindo-se o ambiente das grandes empresas, a falta de um simples plano de manejo é algo quase generalizado. Isso acontece, em grande parte, pelos seguintes modelos mentais estabelecidos: 1. a experiência é suficiente para ir ajustando as coisas ao longo do percurso, no processo de tentativa e erro; 2. a figura do plano de manejo é ferramenta específica para a exploração de florestas naturais ou para a gestão de Unidades de Conservação, e não para plantações florestais comerciais; 3. as atividades de planejamento, como o plano de manejo, o inventário florestal, o plano de implantação de estradas e o plano de colheita, são caras, “são perfumarias” e inviabilizam o projeto. Os potenciais investidores no setor florestal precisam entender que a atividade de manejo florestal é complexa, em qualquer caso, mas, principalmente, para aqueles que optam por regiões novas, onde a silvicultura está sendo adaptada e que, além disso, direcionam o seu investimento para a plantação de espécies novas, muitas vezes sem um conjunto de informações técnicas seguras sobre elas. Região de fronteira silvicultural e espécie nova exigem experiência para a entrada no negócio florestal “com os pés no chão”. O aconselhamento com profissionais experientes, preparados para observar e entender essas questões, capazes de tomar decisões a partir da circunstância encontrada, é ingrediente fundamental para a sobrevivência e o crescimento do negócio.


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