editorial
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Uma só família
Desde a concepção, antes mesmo do parto da primeira edição, dada à luz pelas entranhas de um prelo centenário há 90 anos, em operação absolutamente artesanal, o periódico mais longevo da cidade já tinha por objetivo maior exatamente “O Progresso de Tatuí”. “Zé Marinheiro”, o pai daquele pequeno recém-nascido, então com modestas quatro páginas, grafava-lhe no alto do canto esquerdo da testa, em editorial: “Adotando o título acima, teríamos publicado, em resumo, tudo quanto pretendemos: trabalhar pelo progresso de Tatuí, nosso berço, pelo qual temos feito tanto quanto as nossas forças têm permitido.” (...) “Trabalhar, com ardor, é, pois, o nosso programa, tanto quanto possa desejar todo tatuiano que se interesse pela paz, pela ordem, pela prosperidade deste município digno de um povo que conheça as suas riquezas naturais e se consagre a aperfeiçoá-las, para o conforto próprio e para a grandeza de São Paulo - Brasil.” E da incógnita, se sobreviveria ou não, dadas as inúmeras dificuldades de se sustentar aquele rebento que precisava - como ainda precisa - renascer a cada edição, adveio o alívio de que, sim, ele tinha saúde e, mais, de que poderia crescer, amadurecer e dar muito orgulho aos pais. Evidente, também deu – e tem dado - muito trabalho, tal como rendeu desavenças, incompreensões e polêmicas. Até atentado já sofreu, vítima de incêndio criminoso em 1999. Mas, como já previa o patriarca, as dificuldades são inerentes à prole. Ele mesmo, o Zé - que era “Marinheiro” por ter o hábito de cabular aula para nadar no rio Tatuí! - enfrentava o risco da prisão, a cada novo número do jornal, somente por, já naquele tempo,
debater-se contra um atentado ainda mais grave: a falta da liberdade de expressão, então imposta pela ditadura de Vargas. A tática do Marinheiro para escapar ao naufrágio da imprensa pela tirania da censura prévia, era acordar o delegado às três horas da madrugada, com as provas das notícias, para que fossem aprovadas, ou não. O sono fazia pesar o carimbo da autorização nas mãos do censor, e assim o velho l obo do rio Tatuí conseguia manter tremulando a bandeira do verdadeiro jornalismo em sua pequena nau da imprensa tatuiana. A consequência, recorrente, era a de que, após o delegado ser advertido por autorizar as publicações, Marinheiro avistava a real possibilidade de ter de abandonar o convés de O Progresso para ocupar um lugar no porão da cadeia. “Da próxima vez, eu prendo você!”, ameaçava o delegado. Mas não só ele teve de enfrentar a opressão do totalitarismo: o filho, Vicentinho, já sob outra ditadura, então a militar pós-64 - a qual, óbvio, também afogava a democracia -, chegou a buscar resguardo até no reino vegetal, nutrindo o que os Ortiz de Camargo nominaram de o “limoeiro intelectual”. Para evitar a manutenção de originais de textos e demais materiais que a encabrestada censura poderia considerar “subversivos” - ou seja, tudo cuja bússola apontasse para a liberdade democrática -, Vicentinho costumava reeditar no quintal de casa, sob um limoeiro, a “grande queima” de literatura pelos nazistas, porém, então, não por sectarismo, mas tão somente para proteger sua família da sanha repressora. E, não por acaso, a literatura perene fonte de inspiração e referência ao jornalismo - entremeiase na história do jornal e de suas
personagens mais importantes e pitorescas. Alexandre Dumas, em outro momento significativo, foi a inspiração para o cognome de José Nascimento, talvez a figura mais extraordinária da história de O Progresso, que passara a ostentar a alcunha de “O Conde de Monte Cristo” - não com franca satisfação, é justo reconhecer. Obstinado, meticuloso, impaciente na epiderme, mas terno e generoso por essência e excelência, Nascimento, pura e simplesmente, ficou por cerca de 20 anos sem por os pés fora do jornal - literalmente... “Trocava” o dia pela noite, melhor horário para cumprir suas variadas funções em O Progresso, e assim passaram-se duas décadas sem que visse a transformação da cidade, embora todas as mudanças e fatos estivesse registrandoos nas páginas do jornal. Muitas luas depois, já com o periódico plenamente adulto e tendo superado inúmeras tempestades, outra figura deveras particular encabeça a aquisição da empresa, que então deixava a família Ortiz de Camargo, após 58 anos. Em 1981, Ivan Gonçalves, que, criança, frequentava a redação de O Progresso e dissera a Vicentinho que um dia gostaria de comprar o jornal, quando adulto - embora mantendo a coragem inerente da adolescência, que empreende pelo querer sem se importar com o poder -, realmente veio a ser diretor e proprietário do jornal, adotando-o sob os cuidados da família Camargo Gonçalves. E se, antes, em sua tenra idade, O Progresso tinha um Marinheiro, há 32 anos ganhou Ana Camargo, seu lastro mais resistente e empertigado, capaz de vencer as mais altas marés de desafios, inúmeras vezes segurando o leme sozinha, sem nunca
esmorecer ou perder o norte. Muitos outros deste naipe pitoresco e empreendedor, ao longo de nove décadas, fazem parte da história de O Progresso. A partir do patriarca, o velho Marinheiro, o jornal deixou a infância para trás, amadureceu e gerou seus próprios filhos - entre os quais, Maurício Loureiro Gama foi o mais destacado, de uma importância facilmente notada ao longo desta publicação. O Progresso cresceu, tornouse maduro, porém, nem por isto deixou de impor desafios; muito menos perdeu, para aqueles que o fazem renascer a cada nova edição, o status de um filho, carente de cuidados e atenção. Mas, claro, os filhos não rendem apenas desafios. Muito mais que isto, eles nascem com o poder de inspirar o amor. E é por isto, por amor, que este filho chamado O Progresso acabou por tornar-se não só parte de mais de uma família, mas algo vivo dentro delas, feito um ser de fato, embora concebido e reconcebido, periodicamente, em tinta e papel. E quantas mais foram as dificuldades, mais o sentimento de carinho se faz crescer, como nos provém aquele de nosso próprio sangue que não “para de dar trabalho”, mas o amamos mesmo assim - ou, talvez, até mais por isto... Que esta edição, portanto, concebida para ser verdadeiramente especial, sirva de homenagem - a partir e em particular da família Ortiz de Camargo - a todos que contribuíram, de qualquer forma que seja hoje ou tenha sido no passado, com a saúde e vida desta velha criança. Afinal, O Progresso de Tatuí pode não ser uma empresa sustentada pela mesma dinastia ao longo de suas nove décadas, mas, certamente, é patrimônio de uma só família: a família tatuiana.
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90 Anos de Progresso Edição comemorativa de 90 anos de fundação do jornal O Progresso de Tatuí, em 30 de julho de 1922 Este tabloide especial é segmentado em cinco tomos, tendo à frente os primórdios da imprensa tatuiana e a fundação do jornal O Progresso. Segue-se a este, série de reportagens sob o título “Agentes do progresso”, nas quais são resgatadas as trajetórias daqueles que estiveram à frente da publicação em suas primeiras décadas. Na sequência, são registradas algumas das contribuições do jornal à comunidade, em “Legado de progresso”, como o título Capital da
Música”, entre outras. Em “Décadas de progresso”, dezenas de notícias são republicadas - tal como veiculadas na época -, selecionadas entre as mais significativas dos primeiros 50 anos da publicação, entre 1922 e 1972. Quando necessário, algumas trazem notas de rodapé, contextualizando-as. Outras notícias - as mais relevantes -, são reportadas em textos maiores, com a inserção de trechos publicados à época. Por sua vez, “Progresso em novas
mãos” marca a passagem do periódico para a administração atual, depois de 59 anos sob a responsabilidade da família Ortiz de Camargo. Finalmente, para a reprodução das notícias, esta edição optou por “atualizar” a gramática, de forma a facilitar a leitura. Ainda assim, alguns trechos - até pela peculiaridade e contraste com a linguagem atual -, foram mantidas como no original, no primeiro tomo, sendo grafadas em itálico.
expediente “90 ANOS DE PROGRESSO” é uma publicação da Empresa Jornalística “O Progresso de Tatuí Ltda.” Redação Praça Adelaide Guedes, 145 - Centro - Tatuí - SP - CEP 18270-020 PABX (15) 3251-3040 / 3251-4012 E-mail geral: oprogresso@oprogressodetatui.com.br Redação: redacao@oprogressodetatui.com.br Publicidade: publicidade@oprogressodetatui.com.br Edição e jornalista responsável: Ivan Camargo (MTb 25.104) Reportagens: Cristiano Mota (MTb 57.455), Deise Juliana de Oliveira Voigt (MTb 30.803) e Francis Jonas Limberger (MTb 62.646) Projeto gráfico / diagramação: Erivelton de Morais Arte-final: Altair Vieira de Camargo (Bisteka) Revisão: Ana Maria de Camargo Gerência de publicidade: Lívia Amara Rodrigues Edição de imagem: Thony Guedes (a partir do arquivo de Erasmo Peixoto) Contato publicitário: Ferrari Alcy e Maria Cristina Xavier da Silva (Kika) Impressão: Atlântica Gráfica e Editora Ltda.
agradecimentos O jornal O Progresso agradece a todos que contribuíram com a confecção deste especial comemorativo, em especial aos patrocinadores e à família Peixoto, cujo patriarca Erasmo legou ao município seu maior - senão único - acervo de imagens históricas, sem o qual, certamente, seria impossível a produção de um trabalho como este.
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O progresso e o pioneirismo Antônio Moreira da Silva inaugura a imprensa tatuiana defendendo a democracia e a liberdade
O
princípio da imprensa tatuiana está ligado ao trabalho de Antônio Moreira da Silva e à dedicação dele à causa abolicionista e republicana. O progresso visto em Tatuí a partir da segunda metade do século 19 determinou a escolha do lugar e o nome do instrumento que ele criaria para alcançar seus objetivos: o jornal
José Ortiz de Camargo
“Progresso de Tatuhy”, que mais de 30 anos depois, em 1922, seria inspiração para José Ortiz de Camargo e José Cândido Freire criarem “O Progresso de Tatuhy”. O fundador da imprensa local é dono de uma biografia marcada pelo pioneirismo e pela intensa participação na vida pública. Foi delegado de polícia, presidente da Intendência Municipal (cargo equivalente a prefeito) e deputado federal. Além da fundação do jornal “Progresso de Tatuhy” – o primeiro da cidade –, o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba atribui a Moreira da Silva a criação de um hospital e de
duas escolas. A educação, por sinal, teve papel fundamental na vida profissional e política de Moreira da Silva e encaminhou-o, ainda jovem, ao contato com a causa republicana e abolicionista. Nascido em 1851, na cidade de Sorocaba, ele iniciou cedo os estudos de latim, francês, história e filosofia. Já aos 16 anos, participou da fundação do Clube Palestra onde, no mesmo ano, apresentou o seu próprio “manifesto republicano”. No Recreio Instrutivo de Sorocaba, o jovem republicano discutia teses de história, filosofia e política com grandes personalidades brasileiras, como Cândido Barata Ribeiro, que, em 1892, se tornaria prefeito da capital nacional (Rio de Janeiro), e Ubaldino do Amaral Fontoura, que viria a ser embaixador do Brasil no Tribunal de Haia, na Holanda. Moreira da Silva exercia a profissão de advogado, mas o interesse pela política e pelo debate de ideias levou-o à imprensa. Ainda na cidade natal, escreveu textos para os jornais “Sorocabano”, “Araçoyaba” e
“Ypanema”. Aos 22 anos, a experiência jornalística levou-o a Itapetininga, onde criou o jornal “Município”, o primeiro daquela cidade, e o impresso humorístico “O Corisco”. Participou, ainda, da criação da Escola do Povo, oferecendo aulas gratuitas para cidadãos “livres e escravos”. Também durante a juventude, o advogado e jornalista ingressou na maçonaria. Em pouco tempo de participação na sociedade, alcançou o grau 33, o mais elevado. “Chegou a ser grão-mestre adjunto do Brasil, tal era o conhecimento e a cultura dele”, comenta o historiador e jornalista Renato Ferreira de Camargo, membro do IHGGS e autor da biografia de Antônio Moreira da Silva. A expansão da cultura algodoeira fez com que, em 1878, Moreira da Silva se mudasse para Tatuí. O prelo (máquina para impressão) trazido por ele é chamado de “canhão republicano” pelo historiador. Camargo refere-se à clara função política do jornal “Progresso de Tatuhy”,
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que Moreira da Silva fundou no mesmo ano. “Onde ele sabia que tinha alguém elitizado, da corte, ele enviava verdadeiros torpedos”, narra o historiador. Convicto das ideias que o levavam a “atacar” a monarquia, o novo morador de Tatuí tornou-se membro e, mais tarde, presidente do Clube Republicano local. O periódico semanal assinado por ele divulgava diversos comunicados defendendo a causa política. É o caso da edição de número 150, de 24 de abril de 1881, em que o redator do jornal convidava os republicanos para uma reunião. “Convido a todos os meus dignos correligionários a comparecerem, hoje, ás 6 horas da tarde, no salão da casa n. 90, á rua do Commercio, afim de se proceder á eleição da comissão directora do Club desta cidade”, consta nos raros arquivos de “Progresso de Tatuhy” da coleção de Camargo. A nota é assinada pelo próprio Moreira da Silva, secretário do Clube Republicano na época. Para Moreira da Silva, o fim da monarquia e a implantação do regime republicano era caminho certo e definitivo para o Brasil. Isso pode ser percebido em outro texto do noticiário, desta vez no dia 20 de março de 1881, edição de número 145. Anunciava-se o interesse de Urbano de
Pádua e Mello em integrar o Clube Republicano. “Si todos os republicanos procedessem por esta forma o partido já seria governo e o paiz já estaria salvo pela influencia das novas ideas do seu mau estado actual”, comentava o redator Moreira da Silva nas linhas seguintes do noticiário. “Ele dedicou o conhecimento que tinha, principalmente na área do direito, à vontade que tinha de acabar com a realeza”, explica o historiador tatuiano. No entanto, conforme Camargo, dedicação ainda mais intensa era dada ao trabalho pela abolição da escravatura. “Praticamente, tudo que se lia no jornal era dedicado à libertação de escravos”, afirma. Cartas de alforria dadas a escravos eram saudadas com entusiasmo no noticiário do primeiro veículo da imprensa local. Um exemplo disso está registrado
na edição de número 123, do dia 31 de outubro de 1880. Manoel Vieira de Camargo, em comemoração ao aniversário dele, havia concedido liberdade a uma escrava. Moreira da Silva comentou: “Não podia o sr. Vieira de Camargo praticar acção mais humanitária e nem mais digna da festa dos seus annos, do que a que praticou sorprehendendo a sua escrava Benedicta com a carta de liberdade, sem condicção alguma, que lhe offereceu. Registraremos sempre com prazer factos desta ordem”. De acordo com Camargo, o trabalho de Moreira da Silva pela abolição da escravatura colaborou para que a cidade alcançasse um título do qual se orgulha até hoje. “Diz a nossa história que, antes mesmo da Lei Áurea, assinada em
1888, já não existiam mais escravos em Tatuí”. A informação consta na página da Prefeitura Municipal na internet. O fato é citado como um dos mais significativos da história local. “Tatuí foi uma das primeiras cidades brasileiras a libertar todos os seus escravos”, afirma-se na publicação virtual. “Naquela época, era tudo muito precário, mas valeu a luta, a sagacidade do Moreira da Silva”, acrescenta o historiador. Nos textos, Moreira da Silva justificava o nome escolhido para o jornal, demonstrando estar a favor do progresso da cidade. Se o cultivo de algodão representava o pilar da economia e do desenvolvimento, uma fábrica para beneficiar a produção poderia elevar a cidade a um novo pa-
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tamar. “A vinda de uma fábrica de ‘teçumes’ era algo muito comentado naquela época”, relata Camargo. Na edição do “Progresso de Tatuhy” do dia 20 de março de 1881, Moreira da Silva noticiava que a tão aguardada fábrica de tecidos estava se tornando cada vez mais real. “Está nesta cidade o sr. dr. Otto Andersen, engenheiro contractado para presidir a construção do predio e assentamento das machinas de tecido que os irmãos Guedes vão estabelecer. O local escolhido para o predio é o terreno que fica na rua de Santa Cruz, esquina da rua da Palma”. Procedimento padrão no jornalismo da época, o redator não deixou de emitir opinião a respeito dos fatos noticiados: “Esta noticia alegrará os cultivadores de algodão e os que se interessam pelo futuro do município”. Garantir a prestação de serviços considerados essenciais para a população era outra preocupação do jornalista. De acordo com a biografia escrita por Camargo, em 1885, Moreira da Silva participou da fundação do Asilo da Caridade, a primeira instituição hospitalar do município, criada para os portadores de hanseníase. O Gabinete de Leitura Tatuhyense é outra conquista da qual ele teria participado. Na edição número 144, de 13 de março de 1881, Moreira da Silva anunciava a criação, por iniciativa própria, do Externato Tatuhyense. “Procurando satisfazer a diversos paes de família, que me falaram para fundar um estabelecimento
de ensino, resolvi para experiência abrir o Externato Tatuhyense, no qual, em uma só aula poderão se matricular indistinctamente meninas e meninos para a aprendizagem das primeiras letras e o estudo de alguns preparatórios”. Em outra ocasião, o único agente dos correios no município reclamava aumento de salário. Segundo a edição de 31 de outubro de 1880, este funcionário recebia 25$000 ao mês. Para comparação, na época, um exemplar de jornal custava 2$000. No editorial, Moreira da Silva fez críticas ao governo, afirmando que o funcionário seria obrigado a procurar outro emprego. “Quem que, reunindo em si a aptidão para o desempenho do cargo á honestidade necessária para se impor a confiança do povo e do governo, o virá substituir?”, questionou. Como possuía propósitos claros e definidos, em 1889, após a Proclamação da República, o jornal “Progresso de Tatuhy” deixou de existir. Dada a experi-
Antônio Moreira da Silva
ência adquirida no comando do Clube Republicano e nos cargos de delegado e intendente, Moreira da Silva foi eleito deputado geral (equivalente a deputado federal) e mudou-se para São Paulo. Considerado “o pai da imprensa tatuiana”, Moreira da Silva participou da elaboração da primeira Constituição Federal. Depois de quatro legislaturas consecutivas, perdeu as eleições em 1906. Mudouse para a casa de uma das filhas, em Curitiba, onde faleceu em março de 1920. “Morreu pobre de tantas cartas de alforria que distribuiu. Deixou apenas a exemplar história de vida”, finaliza Camargo.
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“Cidade” e “Comarca” Os acontecimentos que antecederam ao jornal O Progresso de Tatuí
A
abolição da escravatura (1888) e a proclamação da República (1889) fizeram com que o jornal “Progresso de Tatuhy” alcançasse seus principais objetivos. De forma assumida e explícita, a luta por estes ideais representava a principal razão da existência do veículo. A despeito do posicionamento – o qual não se assentava na unanimidade –, a primeira publicação da história da cidade era respeitada pela sociedade da época. O mesmo acontecia com o proprietário dela, Antônio Moreira da Silva. Depois de 1889, ele encerrou as atividades do jornal em Tatuí e mudou-se para
a capital, onde trabalhou na candidatura ao cargo de deputado geral (federal) por São Paulo. Elegeu-se em 1890. Nos periódicos que substituíram o “Progresso de Tatuhy”, Moreira da Silva era chamado de “mestre”. Em 1907, o jornal “Comarca de Tatuhy” noticiou a tentativa dele de reeleger-se, depois de ter perdido o pleito anterior: “Nós que, conhecemos Moreira da Silva, desde nossos verdes annos, pois foi nosso mestre, jamais o vimos, sinão preocupado com o seu ideal: a democracia, o que soube externar no artigo programma do Progresso de Tatuhy, primeiro jornal que aqui sahiu á luz, em 29 de Agosto de 1878. Batalhador
infatigavel, nos parece que a sua escolha não pode ser mais acertada, alem de ser homenagem ao merito de uma existencia inteira, dedicada aos serviços da republica”. Se até 1890 a cidade conhecera apenas uma publicação local, nos primeiros anos do século 20 surgiram os jornais “Cidade de Tatuhy” e “Comarca de Tatuhy”. Com ideologias opostas, eles estampavam uma intensa disputa política da época. Os dois veículos destacaram-se no período que separa o fechamento do jornal “Progresso de Tatuhy” e a fundação de “O Progresso de Tatuí” (o segundo, inspirado no primeiro). De acordo com o historiador e jornalista Renato
Ferreira de Camargo, o jornal “Cidade de Tatuhy” representava os interesses da família Guedes, que era voltada ao ramo algodoeiro e industrial. Já o “Comarca de Tatuhy”, de propriedade do senador Laurindo Dias Minhoto, alimentava as campanhas políticas dele e opunha-se aos “guedistas”. “Está estabelecida a famosa briga dos ‘carrapatos e gafanhotos’. O carrapato era o Manoel Guedes, porque falavam que ele tirava o sangue dos operários, e gafanhoto era o senador, que onde caia, diziam que devorava as plantações. Esta briga foi parar na imprensa da época”, explica o historiador. Embora se consolidassem nas duas primeiras décadas do século 20, “Cidade de Tatuhy” e “Comarca de Tatuhy” surgiram a partir de diversos outros veículos, alguns com existência bastante curta. Camargo afirma que, com o fechamento do “Progresso
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de Tatuhy”, ainda no século 19, a cidade ficou sem jornal por alguns anos. Como a experiência de Moreira da Silva havia sido exitosa e vista de forma positiva, por fatores externos, muitas pessoas passaram a interessarse pela ideia de manter um jornal na cidade. “Vai saindo o Antônio Moreira da Silva e vão aparecendo jornalecos, como ‘O Trovão’. Eram jornais que não tinham muito compromisso. Alguns deles eram mais voltados para a literatura; outros, para o humor. Nenhum deles circulava com periodicidade regular”, afirma Camargo. O historiador guarda uma coleção com diversos jornais daquela época, principalmente de 1890 até 1920. Além de “O Trovão, que surgiu em 1897, destacam-se
A tendência “O Martedos “jornalelo” (criado cos” existentes em 1894, na época pode pela seser verificada melhança, no editorial da possível primeira edição antecesdo “Cidade de sor de “O Tatuhy”. Ao se Trovão”), apresentar “na “O Pharol” arena do jorna(1906), “O Antônio Pereira de Almeida lismo”, os direPierrot” tores demons(1918), tram certo res“O Sorrisentimento de que a publicaso” (humorístico fundado ção poderia ter vida menor em 1921, tinha como lema do que realmente teve. a frase: “rindo castigam-se “Avaliamos que somos: os costumes”), “O Alfinete” inexperientes no manejo da (1923), “O Girassol” (1924), penna, completamente dese “Gazeta do Povo” (1921). pidos de presumpções; não Destes, “O Trovão” é conpromettemos nada, receiosiderado o mais importansos de nada podermos cumte, pois, em 1899, deu oriprir. Procuraremos, entregem ao jornal “Cidade de tanto, trabalhar corajosaTatuhy”, que circularia até mente em beneficio dos inte1926 e chegaria a mais de resses geraes do municipio; 1.500 edições publicadas.
O progresso, que determinou o lugar em que Antônio Moreira da Silva fundaria o seu mais importante jornal e também o nome que ele daria à publicação (“Progresso de Tatuhy”), tem uma ligação muito estreita com a história da imprensa local. Logo depois de Moreira da Silva, o fazer jornalístico na cidade passou a ser, em resumo, a interpretação que opositores políticos faziam em relação ao conceito de progresso. Independente das ideologias que se seguiram, o progresso que atraiu Moreira da Silva e promoveu os atritos entre “carrapatos e gafanhotos”, está direta-
mente relacionado à cultura algodoeira, introduzida no município pelo imigrante português Martinho Guedes Pinto de Melo. A história, publicada por Renato Ferreira de Camargo e Christian Pereira de Camargo no livro “Ilustres Cidadãos” (2006), conta que Martinho Guedes deixou Portugal por conta de conflito político. Sendo de família nobre, conseguiu levar consigo “boa soma em dinheiro”, que lhe permitiu adquirir tropa de muares no Brasil e iniciar a atividade de mascate. No porto de Santos, onde adquiria produtos da Europa para revendê-los no interior do Estado, Martinho obteve informações sobre a cultura algodoeira, já introduzida com sucesso em outras regiões e países. A partir disso, o plano
e, enquanto nossas forças não baquearem, seremos fieis na luta em que nos empenhamos; no momento, porém, em que o desalento de nós se apoderar entregaremos a outros mais competentes a missão que, expontaneamente, advogamos agora. É preciso que a imprensa rasgue a cortina em que se encobrem os vilões e os cobardes que temem – perante a sociedade – responsabilisar se por seus actos”, consta na publicação. No texto, também há uma passagem que explica o surgimento daquele jornal: “Pequeno e jovial, como todas as creanças, nasceu ‘O Trovão’, mais para a galhofa do que para as lutas, mais para a literatura do que para enfrentar os males sociaes. É que existia ‘A Ordem’, que cumpria
Martinho Guedes Pinto de Melo
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tal função. Como os meninos brincam enquanto seus maiores cuidam do futuro, brincava também ‘O Trovão’. Desapareceu ‘A Ordem’ e ‘O Trovão’ ganhou maiores responsabilidades, como o jovem que assume o dever e o peso da família, cujo chefe deixou de existir. E deu conta de sua missão. Não desaparece ‘O Trovão’, apenas muda de nome e passa a chamar-se ‘Cidade de Tatuhy’”. Segundo Camargo, nos anos iniciais, o “Cidade de Tatuhy” adotou linha editorial neutra. “Ele começou sem muita conotação política, mas, depois, mudou a direção e assumiu uma forte oposição ao senador (Minhoto)”, afirma o historiador. A situação modificouse a partir de 1907, com a fundação do “Comarca de
Tatuhy”. Na ocaPor ser sião, houligado a ve aupessoas mento de da área 7,8% na do direceita reito, o do mujornal nicípio do senaprevista dor, que para o ano também seguinte. era advoNo entanto, Laurindo Dias Minhoto gado, recea arrecadação beu o nome de com impostos “Comarca”. Além continuaria sendo a da denominação, a inmesma do ano de 1907. fluência da advocacia sobre A Câmara Municipal (apoiao jornal pode ser percebida pelos guedistas) justifida no estilo textual adotacou a diferença na cobrança do, bem como nos assuntos da taxa de água, na diminuipautados, principalmente ção “razoável” do salário nos editoriais. Na edição de servidores públicos e no inaugural, uma análise procorte de auxílios “que não se funda e muita crítica sobre justificam mais”. o orçamento do município e O editorial de inauguração os projetos da administração do “Comarca de Tatuhy” para o próximo ano. critica a política adotada
dele passou a ser cultivar algodão, e, depois, instalar uma fábrica para beneficiar o produto. De acordo com o “Ilustres Cidadãos”, o casamento do português com Maria Alves de Almeida e Lima proporcionou o recurso para a compra da primeira fazenda e o início do cultivo em Tatuí, cidade escolhida pelo casal para residir. Com a adesão de outros produtores locais – incentivados por Martinho –, o cultivo do algodão passou a ser o pilar da economia tatuiana, fazendo a cidade destacar-se pela produção no Estado de São Paulo. O pioneiro no cultivo importava sementes de melhor qualidade dos Estados Unidos e distribuía-as aos pequenos produtores. Depois da
colheita, ele encarregava-se, também, de comprar a produção e encaminhar a exportação, pois ainda não havia beneficiamento no país. Persistia, mais do que nunca, o plano de instalar uma fábrica de fiação e tecelagem no município. Porém, o plano industrial do imigrante, que chegou a definir um projeto de execução, não pôde ser concretizado. Aos 43 anos de idade (em 1872), quando a cultura do algodão em Tatuí já era símbolo definitivo de progresso, ele morreu, vítima de um surto de febre tifóide. Um dos filhos dele, que na época estava com 16 anos e estudava no Rio de Janeiro, voltou a Tatuí para substituir o pai. O propósito
pelos administradores. O jornal lembrava que, para que a taxa de fornecimento de água pudesse ser cobrada, era preciso comprar os canos e instalar a canalização. “Ora, comprar cannos não augmenta a renda mas a despesa, alem disso, não se creou verba para assentamento dos mesmos”, publicaram os apoiadores e Minhoto. Outra crítica na primeira edição do jornal diz respeito ao fato de que a canalização de água foi imposta aos habitantes mais pobres, que, antes disso, utilizavam água de chafarizes. Para que eles instalassem a canalização, e passassem a pagar a taxa, os mais pobres foram proibidos de coletar água em locais públicos. Segundo o jornal, a medida atingiu dois terços da população.
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“Foi, portanto, duro demais e injusto o procedimento da nossa Câmara, arrancando o pão á bocca dos desprotegidos, para cobrir um desfalque no deficit consequente”, concluíram os redatores. A diminuição na pagamento de servidores municipais também foi criticada. “Não é assim que se fazem economias, nem se protegem os seus”, publicou o “Comarca de Tatuhy”. A oposição demonstrada no editorial de inauguração foi mantida em todas as edições do “Comarca de Tatuhy”. A consequência disso, de acordo com Camargo, é uma mudança na linha editorial do concorrente, o “Cidade de Tatuhy”, considerado moderado até então. Para concretizar o “endurecimento” da linha editorial e contra-atacar, a família Guedes contratou o coronel Abílio Nascimento, que veio da cidade de São Paulo para assumir a direção do “Cidade de Tatuhy”. Ele substituiu o fundador e até então diretor do jornal, Antonio Pereira Almeida. “Foi então que o ‘Cidade’ passou a ter uma forte conotação política”, afirma o historiador. Embora tenha sido marcada pela disputa política e por conflitos, a época da existência dos jornais “Cidade de Tatuhy” e “Comarca de Tatuhy” é considerada uma das mais importantes na história do município. Época de importantes figuras, como o industrial Manoel Guedes e o senador Laurindo Dias Minhoto, os dois mais relevantes, em função das disputas e das diferenças ideológicas. Além de testemunhar os atritos (em alguns casos, conflitos
armados), mas também os avanços conquistados naquela época, os jornais mais importantes tiveram
envolvimento direto e responsabilidade sobre os acontecimentos. “Os jornais daquele período representam
de Manoel Guedes Pinto de Melo não era apenas dar continuidade aos negócios da família: ele queria continuar o projeto do pai, construindo uma fábrica de tecelagem na cidade. “Em vez de vender o algodão, ele queria vender o tecido”, afirma Renato Ferreira de Camargo. As instalações da “Companhia Têxtil São Martinho” terminaram de ser construídas em 1881, e a inauguração aconteceu um ano depois. “Os teares trouxeram uma verdadeira revolução para a cidade”, comenta o autor. Junto com a fábrica de tecidos, cujos prédios possuíam mais de 9.000 metros quadrados, vieram diversos outros investimentos. A iluminação por energia elétrica (compartilhada com algumas ruas e casas da cidade) era um dos mais importantes. No alto da torre de 35 metros de altura (construída em frente à fábrica), havia um relógio com mais de um metro de diâmetro. Operários passaram a morar nos arredores, constituindo uma verdadeira vila industrial. Uma farmácia e uma escola foram construídas exclusivamente para atender aos funcionários.
um manancial da história local, um retrato de como era a sociedade da época”, destaca Camargo.
O motor da fábrica, composto por três caldeiras principais e seis auxiliares, possuía 220 cavalos de potência. Ele movia uma engrenagem de seis metros de diâmetro, que transmitia “incríveis” 60 rotações por minuto para todas as máquinas, por meio de um eixo de 650 metros. A capacidade anual de produção alcançou 1,5 milhão de metros de tecido. A indústria chegou a ter 264 funcionários. As informações constam no “Almanach Tatuhyense”, publicado por Affonso Guimarães Porto em 1900. Conforme o “Ilustres Cidadãos”, Manoel promoveu novos investimentos, como a fábrica de óleo e sabão (que aproveitavam o caroço do algodão, subproduto da fabricação de tecidos), uma serraria, uma marcenaria, uma olaria e uma cerâmica. No comando de tamanhos investimentos, Manoel Guedes passou a ter notável influência política no município, tornando-se vereador e a principal liderança da Câmara Municipal no seu tempo. Naturalmente, surgiram opositores a ele. O principal: Laurindo Dias Minhoto, vereador, prefeito, deputado estadual e senador.
Fábrica São Martinho
15 Segunda fase
O Progresso e o compromisso com Tatuí Jornal surge como novo mecanismo que visa desenvolvimento do município
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uando um novo jornal apparece, solicitando a benevolência dos bitres, costuma traçar o seu programa, dizendo a que vem”. A frase, com grafia de 1922 e que abre o editorial da primeira edição de O Progresso de Tatuí, representa um compromisso que há 90 anos vem sendo cumprido. A história de O Progresso é norteada pelo compromisso com o leitor e com o município. O próprio nome do jornal, que traz influências do trabalho pioneiro de Antônio Moreira da Silva (considerado o “pai da imprensa local”), evidencia a missão. “Adoptando o título acima (“O Progresso de Tatuhy”), teríamos publicado, em resumo, tudo quando pretendemos: trabalhar pelo progresso de Tatuhy, nosso berço, pelo qual temos feito tanto quanto as nossas forças têm permittido”, cita o editorial da primeira edição, com data de 30 de julho de 1922. À época, o jornal, com quatro páginas, tinha como “redactor” Cândido de Sousa Freire, e, como proprietário, José Ortiz de Camargo, o “Zé Marinheiro”.
1ª edição publicada em 30 de julho de 1922
“O trabalho todo começou com meu avô”, explica Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha. Zé Marinheiro, nascido em 1º de maio de 1882, seis anos antes da abolição da escravatura no Brasil (em 13 de maio de 1888), fundou O Progresso de Tatuhy décadas depois de conhecer (e dominar) a arte da tipografia (sistema de impressão que utiliza fôrma com a imagem
a ser impressa gravada em relevo). O tatuiano “pé vermeio” teve o primeiro contato com o ofício aos 15 anos, ao ingressar, conforme o historiador Renato Ferreira de Camargo, como aprendiz nas oficinas do jornal “Cidade de Tatuhy”, sob a direção de Antônio Pereira de Almeida. O contato com os “tipos” (como eram chamadas as peças de metal fundido que
formavam as letras utilizadas na composição das palavras) garantiu-lhe instrução e, anos mais tarde, o início da carreira jornalística. A convivência com a tipografia e a experiência no impresso de Tatuí renderam a Zé Marinheiro convites para atuar em diversos jornais do interior. O tatuiano percorreu, desta maneira, as cidades de Itapetininga, Pereiras, Tietê, Sorocaba, São Roque, Avaré, Itu, Botucatu, São Manoel e Porto Feliz. Depois de regressar à cidade natal, Zé Marinheiro – já casado com Rosa Geraldini e com o filho Vicente Ortiz de Camargo – começou a trabalhar no jornal “Comarca de Tatuhy”, na época, dirigido por José Cândido Freire. Deixou a publicação para gerenciar a oficina tipográfica da fábrica São Martinho, como consta no livro “Ilustres Cidadãos” (escrito por Renato Ferreira e Christian Pereira de Camargo), publicado em 2006. O convite partiu do proprietário da fábrica, o industrial Manoel Guedes Pinto de Mello, também ligado à história da imprensa tatuiana – ele fundou o jornal
17 O Progresso e o compromisso comTatuí
“Cidade”, que, mais tarde, foi confrontado pelo “Comarca”, de Laurindo Dias Minhoto. “Vovô trabalhou para vários políticos da época”, contou Cidinha. No currículo do jornalista constam, também, serviços prestados ao industrial Dario Freire Meirelles. A trajetória profissional de Zé Marinheiro, antes de chegar a O Progresso, incluiu um regresso ao “Cidade”, onde teria estreitado amizade com José Cândido Freire – com o qual, anteriormente já havia trabalhado e com quem, anos
Boneco em argila de ‘Zé Marinheiro’
mais tarde, viria atuar no jornal mais antigo do município. Deste ponto em diante, muitos dos fatos que permeiam a fundação de O Progresso são divergentes. A saída de Zé Marinheiro do “Cidade” para assumir o próprio periódico, por exemplo, teria acontecido em 1923, um ano depois de O Progresso começar a circular. O jornalista, que efetuou o registro de matrícula do então semanário no Cartório do Registro Geral do município, em 1922, só viria a assinar o impresso dois anos depois, uma vez que ainda atuava num veículo concorrente. A título de curiosidade, no ano de criação, o jornal exibia apenas o nome do redator (como Cândido de Souza Freire e não como José Cândido Freire, conforme registros históricos), sem que houvesse menção ao do proprietário. Freire afastou-se após 11 edições, por conta de problemas de saúde, deixando a função a cargo de Fernando Paes – este que assinou como “redactor” apenas as edições de 22 e 29 de outubro de 1922. Daquela data até o dia 6 de janeiro de 1924 (quando Zé Marinheiro passou a responsabilizarse pelo jornal), o periódico circulou sem fazer menção a redator ou diretor. O Progresso teria sido fundado, conforme a família do jornalista, por Zé Marinheiro, com ajuda de “um político”, que seria
Minhoto. No período do início da publicação, segundo o livro “Ilustres Cidadãos”, porém, ele ainda trabalhava no “Cidade”, de Manoel Guedes. A origem do periódico é tão complexa – e diversa nos relatos – que está relacionada às disputas políticas que dominaram Tatuí no século passado. O mais curioso é que o prelo que fez rodar as primeiras edições do jornal, da marca Coisne Mecanicién, teria sido doado por Minhoto, proprietário do “Comarca”, a Zé Marinheiro. Na época, o “Comarca” era concorrente direto do “Cidade”, jornal que pertencia a Manoel Guedes e no qual, segundo relata o livro, Zé Marinheiro trabalhava. As duas publicações, aliás, tornaram-se os principais instrumentos dos “figurões” tatuianos para a troca de farpas entre eles, o que originou a guerra dos “carrapatos” contra “gafanhotos”. Os “carrapatos”, em questão, eram os guedistas, que, conforme Renato Ferreira, eram acusados de “tirar o sangue dos operários” da fábrica São Martinho; já os “gafanhotos” seriam os laurindenses, os quais “devoravam as plantações”. A doação do prelo teria sido efetivada ao final de uma das eleições da qual Minhoto havia participado e vencido. “Eu sei que, quando a eleição terminou, o meu avô ganhou a parte da tipografia”, disse Cidinha. O maquinário permitiu a abertura do jornal, o terceiro veículo de
comunicação do município. No ano de inauguração de O Progresso, ainda circulavam o “Comarca” e o “Cidade” – este último encerrou as atividades quatro anos depois do surgimento do jornal de Zé Marinheiro. O “Cidade” circulou por 27 anos, somando mais de 1.500 edições. Apesar das divergências políticas existentes na época, entre guedistas e laurindenses, Zé Marinheiro tinha trânsito livre, conforme Thereza da Coll (falecida no dia 19 de fevereiro de 2012). “Ele tinha bom relacionamento com os políticos. No tempo em que trabalhou para os Guedes, por exemplo, recebia mantimentos e outras coisas que vinham para nhá Rosa (Rosa Geraldini Ortiz)”, comentou. O início de O Progresso, conforme a família de Zé Marinheiro, aconteceu após o fim de eleições (as quais não se tem dados precisos). “Depois que acabou a parte política, ele (Zé Marinheiro) ganhou a oficina e começou o jornal”, cita a neta do precursor. Até possuir sede própria (na casa dos Ortiz de Camargo), o semanário foi produzido em dois endereços diferentes: um no antigo “Largo da Matriz” (atual Praça da Matriz), 16, e outro na rua 11 de Agosto, 550. “Eles (Zé Marinheiro e Rosa Geraldini) moraram em vários lugares, em Tatuí. O que eu não saberia dizer é se o jornal mudava junto com eles”, informou Thereza da Coll. No
18 O Progresso e o compromisso comTatuí
terceiro endereço, a antiga praça Antônio Prado, 35, que anos depois teve o nome alterado para praça Manoel Guedes, o jornal permaneceu por vários anos.
Sem dinheiro, mas com ideal
Mesmo sendo proprietário de jornal (que por muitos anos, figurou como único do município), Zé Marinheiro não obtinha, com a publicação, grandes faturamentos. “Naquela época, jornal não dava muito dinheiro. Faltar, não faltava, mas também não sobrava”, lembra Cidinha. Como não tinha interesse financeiro no jornal, a motivação dele era unicamente ideológica. Foi por ideologia – e também por necessidade – que Zé Marinheiro deu, em 1940, um passo importante em direção ao crescimento e à estabilização do jornal: fez empréstimo para adquirir a casa em que residia (na época, de aluguel) e na qual funcionava a oficina gráfica. “O antigo dono, o Júlio Pires, resolveu vender as casas que tinha – incluindo a que morava. Como era difícil arrumar uma casa grande que tivesse cômodo para a oficina e no centro, o Zé Marinheiro precisou fazer empréstimo”, contou Thereza da Coll. O dinheiro veio de Dario Freire Meirelles, para quem Zé Marinheiro já havia trabalhado. “Naquela época, em Tatuí, só havia um banco. O jeito foi ele emprestar do Dario, que tomava conta da fábrica São Martinho”, relatou Thereza. “Meu pai contou que ele (Zé Marinheiro) foi com a cara e a coragem e voltou com as pernas tremendo”, diz Cidinha. Com o valor, o jornalista conseguiu comprar duas casas que pertenciam a Pires e, a partir daí, ampliar a oficina. O restante da história é preenchido com suor e dedicação.
19 Segunda fase
Um pé na França e outro em Tatuí Prelo usado para registrar em letras fatos da história local tem marca de José Ortiz
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osé Ortiz de Camargo, primeiro proprietário do jornal O Progresso de Tatuí, nunca visitou a França. Mesmo assim, pôs os pés naquele país. Não propriamente na França, mas especificamente num equipamento produzido lá. O jornalista tatuiano utilizou, por anos, o prelo “Coisne Mecanicién”, uma prensa de impressão que recebera em doação de Laurindo Dias Minhoto. “Zé Marinheiro” foi quem primeiro manuseou, pelo jornal, o equipamento importado da França. A prensa, conforme o jornalista e historiador Renato Ferreira de Camargo, havia sido adquirida por Minhoto, político local que se elegeu senador na década de 20. Antes de chegar à “Cidade Ternura”, o equipamento esteve, primeiro, em Itapetininga. De acordo com o Ministério da Cultura e da Co-
municação da França, o mesmo modelo do prelo
usado por Zé Marinheiro em Tatuí (não se pode dizer se é o mesmo operado por ele) compôs os equipamentos do primeiro jornal de Loudun, o “The Journal of Loudun”. No Brasil, não há registros históricos públicos sobre a utilização da
O prelo francês
prensa Coisne Mecanicién. A única referência acessível é da família Ortiz de Camargo, que preserva um exemplar, nos fundos da residência de número 35, localizada na praça Manoel Guedes (local da antiga redação de O Progresso). O prelo, fabricado com ferro, ferro fundido, aço e madeira, tem a marca de José Ortiz de Camargo. O tatuiano imprimiu mais que notícias: deixou, literalmente, a marca dele no equipamento. A base da prensa, que é de madeira em formato de cruz, exibe um “afundamento” no formato do pé direito de José Ortiz, em função do manuseio constante pelo jornalista. Até chegar à cidade, a prensa viajou aproximadamente 7.400 quilômetros (distância relativa de Paris a Itapetininga e, em seguida, a Tatuí). O prazo em que o prelo esteve no município vizinho e com quem permaneceu está num dos muitos vazios que não puderam ser preenchidos por meio de pesquisas.
20 Editorial O Progresso de Tatuhy “Adoptando o título acima, teriamos publicado, em resumo, tudo quanto pretendemos: trabalhar pelo progresso de Tatuhy, nosso berço, pelo qual temos feito tanto quanto as nossas forças têm permitido”. O editorial da primeira edição de O Progresso demonstra o propósito dos fundadores em relação ao momento econômico do município. Tatuí passava por um processo de expansão, principalmente por causa da indústria de tecelagem, e o novo jornal propunha-se a ser um aliado e representativo dessa realidade.
Inspiração “Bastaria aos nossos conterraneos ler aquele nome para que lhes á lembrança quão proficua foi a publicação do primeiro jornal que, nesta cidade, sahio a luz, sob a direcção e propriedade de Antonio Moreira da Silva, em 29 de Agosto de 1878”. A inspiração para os fundadores de O Progresso veio do século anterior, influenciando até mesmo na escolha do nome do novo jornal. O extinto jornal “Progresso de Tatuhy” era o exemplo a ser seguido na época. O proprietário, Antônio Moreira da Silva, era chamado de “mestre”. “O que temos o prazer de confessar e cujo exemplo seguiremos”, destaca o editorial.
A 1a edição Participação Na capa da primeira edição, O Progresso publicou comentário de um sócio do Club Recreativo. Ele afirmava que, nos anos anteriores, a entidade era frequentada por muitas pessoas, o que, segundo ele, já não acontecia mais nos meados de 1922. “O que posso affirmar é o seguinte: A directoria que for eleita, terá que dirigir o Club como se fosse funda-lo novamente e, quando não chegar a isso, deve ser mais, ou menos”, afirmava o associado descontente.
Neutralidade “Dado o estado anormal da politica municipal, espiritos apaixonados poderão suppor que nosso apparecimento tenha por fim a luta partidaria, com todos os desregramentos que a falta de civismo, educação e responsabilidade produsem, infelizmente”. Na época de fundação de O Progresso, o município assistia a intensa disputa política, protagonizada pelo industrial Manoel Guedes Pinto de Mello e por Laurindo Dias Minhoto. Os principais jornais existentes na época (“Cidade de Tatuhy” e “Comarca de Tatuhy”) eram diretamente influenciados por eles. Muitas vezes, a imprensa era utilizada como arma. A linha editorial do veículo fundado em 1922 se opôs à falta de neutralidade e, com isso, ganhou respeito e credibilidade. “Só publicamos noticias perfeitamente exactas (...). O interesse do povo tem, pois, um defensor”.
Notícias policiais Havia movimento intenso na Delegacia de Polícia de Tatuí em julho de 1922. Na edição inaugural de O Progresso, quatro ocorrências policiais ganharam espaço no noticiário. Os casos são variados, incluindo abusos sexuais, uma sucessão de brigas na zona rural, uma tentativa de suicídio malsucedida e processos abertos pela polícia contra curandeiros.
21 Noticiário De forma objetiva, as notícias gerais da cidade eram divulgadas por meio de pequenos textos publicados na segunda página do jornal. As 11 notas incluíam assuntos variados, como a política nacional e eventos culturais realizados no município. A seguir, a reprodução de duas delas: “Por 130 votos contra 8, a Camara Federal dos Deputados proroga o estado de sitio até 31 de dezembro. O governo continua ainda effectuando novas prisões de officiaes e foi restabelecida a incommunicabilidade para os presos politicos”. “Realizou-se hontem mais um espetaculo do Grupo Dramatico Recreativo 11 de Agosto, sendo levadas á scena duas comedias que muito agradaram”.
Notas forenses As sentenças proferidas pela Comarca de Tatuí eram divulgadas em um espaço próprio em O Progresso. Com poucos recursos de divulgação, o jornal contribuía com o fórum, fazendo com que a população tivesse conhecimento das decisões da Justiça. Na época, a maioria das ações referia-se a processos de inventários para distribuição de heranças, como é possível observar nesta nota: “Foi determinado que o inventariante dos bens de Mercidio de Campos désse andamento ao inventario, sob pena de serem vendidos os bens em praça para pagamento do imposto”.
Início promissor Apesar das dificuldades em manter um jornal no início do século 20, a primeira edição de O Progresso já apresentava sinais de que a publicação teria vida longa. O veículo, em sua estreia, reuniu 34 anúncios publicitários, média considerada alta para a época. No entanto, apesar do número expressivo de anunciantes, a publicação manteve a coerência na divisão dos espaços, reservando mais que metade para a
Secção livre Com o título de “Violências em Tatuhy”, na edição inaugural, O Progresso apresentou espaço dedicado a manifestações de autoridades e ao debate de ideias. No entanto, é possível perceber isenção em relação às disputas políticas envolvendo os apoiadores da família Guedes e os seguidores políticos de Laurindo Dias Minhoto. A primeira “Secção livre” inicia com acusação feita pelo coronel Thomaz Guedes Pinto de Mello (filho de Manoel Guedes Pinto de Mello), que, na época, estava envolvido com as eleições legislativas. A denúncia constava originalmente em texto publicado pelo “Jornal do Commercio”. Nela, o coronel comunica ao presidente do Estado e ao secretário de Justiça sobre “arbitrariedades” que estariam sendo cometidas pela polícia de Porangaba contra seus aliados políticos. “O comandante do destacamento, cum-
prindo ordens do Deputado Laurindo Minhoto, ameaça de morte os eleitores e amigos meus”, sustentava o coronel. Em seguida, o jornal publicou carta de resposta de João Baptista Fagundes Cotrim, encarregado geral do registro de prisões do Estado. Na carta, ele explica que a polícia recolheu um revólver e uma faca que estavam com Francelino de Campos, funcionário de Alberto dos Santos, cabo eleitoral do coronel. “Apresentaram-se então Francelino de Campos e Alberto dos Santos, que procuravam ver no acto da policia desarmando Francelino, uma violência toda motivada e oriunda por serem elles adversarios politicos da situação dominante local. (...) Conclui pela syndicancia procedida e depois de ouvir diversas pessoas indiciadas, como sabedoras dos factos allegados, que tudo não passa de um pretexto para fins politicos”, informa o autor da resposta.
redação jornalística. Entre os anunciantes, diversos segmentos comerciais da época, como açougues, lojas de roupas e ferragens, armazéns de “secos e molhados”, uma casa lotérica, salões de barbeadores, um professor de música, serviços industriais e de armazenamento de produtos agrícolas, uma fabricante de macarrão, uma padaria e uma livraria. Mesmo não tendo uma agência instalada no município, o maior anúncio foi feito
pelo Banco do Brasil. Na época, os clientes tatuianos do banco precisavam dirigir-se à rua Boa Vista, em São Paulo. Em Tatuí, havia apenas um agente autorizado. A capa apresentou dois anúncios publicitários: o doutor Oliveira Gentil atendia na rua 15 de Novembro, 7, anunciandose como “medico, operador e parteiro”; Geronymo Xavier de Azambuja era cirurgião-dentista “especialista em moléstias na boca”. O consultório dele ficava na rua José Bonifácio.
Opinião expressa No que poderia ser comparado a uma charge nos jornais de hoje, O Progresso expressou, em sua primeira edição, posicionamento crítico frente à realidade da época. “Porque será que os Guedes fazem questão de ganhar a Camara!?”, é a frase contida abaixo da figura de um grande ponto de interrogação. Mesmo sendo em época na qual as reportagens jornalísticas continham posicionamentos explícitos de seus redatores, dada a situação política, a crítica feita pelo jornal provocou grande repercussão na cidade, como mostram as edições seguintes de O Progresso.
23 Segunda fase
Uma mulher chamada vírgula Bastidores da primeira redação trazem fatos engraçados e lado ‘humano’ do jornal
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uando pequena, Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha, tinha como diversão as páginas do jornal O Progresso de Tatuí. O “encont r o ” entre ela e tre-
Thereza da Coll
chos originais de textos a serem tipografados era inevitável, uma vez que a publicação ficava dentro da casa onde ela vivia (e vive, até os dias atuais). Aos sete anos, aproximando-se dos oito, ou entre uma e outra idade (ela não se lembra com precisão), Cidinha passou a questionar como funcionavam as coisas. Atitude normal de qualquer criança. Mais ou menos nessa época, ela começou a prestar mais atenção nos diálogos que as pessoas “travavam” nos corredores da casa/redação de O Progresso. Foi num desses momentos que Cidinha ouviu falar de uma mulher chamada “Vírgula”. A “desconhecida” era assunto recorrente entre os empregados da oficina de tipografia, situada num dos cômo-
dos da casa dela. A “vírgula” era citada mais frequentemente quando os funcionários conferiam os materiais a serem impressos. “Enquanto eles faziam a prova do jornal, um ficava com o material original e o outro, com uma folha impressa. E um lia, com sinal de pontuação, com tudo. O outro seguia para conferir”, relembra a professora. Por causa do modo em que os empregados faziam a conferência, Cidinha imaginou que a vírgula em questão era uma mulher. “Na minha cabeça de menina, vírgula era o nome de uma mulher, porque os homens falavam nela o dia inteirinho. Vírgula era mulher”, disse. “Demorou, para eu saber o que era vírgula”. A história – verídica – vivida por Cidinha é uma das muitas que aconteceram nos “bastidores” da terceira redação do jornal O Progresso. A oficina citada pela professora, por exemplo, serviu de escola para alfabetização e de referência de lar para muitos e muitos aprendizes. “Os tipógrafos, eles começavam ainda meninos
e aprendiam a ler e a escrever aqui, na prática. E ficavam bons”, afirmou Cidinha. Mais que instrução, os aprendizes recebiam alimento. “Se os meninos não tinham o que comer, a minha mãe (Marina da Coll Camargo), alimentava-os”, conta a professora. Muitos recebiam, além do almoço, o jantar. “Do contrário, eles não ficariam trabalhando”, explica. Foi oferecendo esse incentivo que os Ortiz de Camargo garantiram a continuidade do impresso. O Progresso, no início de suas atividades, contava com dois empregados. Pouco antes de ser transferido a Ivan Camargo e Ana Maria de Camargo, os atuais proprietários, a publicação empregava quatro tipógrafos, dois repórteres e representantes comerciais. “Não se ganhava muito dinheiro com o jornal naquela época, mas também não se tinha prejuízos”, afirmou Cidinha. Os primeiros exemplares do então semanário eram comercializados ao preço de 500 réis cada. “Eram impressos 500 jornais por
24 Uma mulher chamada vírgula
semana. Pelas contas, dá para ver que ele não rendia tanto dinheiro assim como as pessoas pensavam”, conta Thereza da Coll, cunhada de Vicente Ortiz de Camargo. Do total de jornais impressos, havia ainda os entregues como cortesia, que não revertiam em ganho. A questão matemática das finanças era sempre resolvida com fórmulas ao mesmo tempo criativas e simples. Vicente Ortiz de Camargo, o segundo proprietário de O Progresso, pai de Cidinha e cunhado de Thereza, mesmo sendo contra Getúlio Dornelles Vargas,
então presidente da República, aproveitou a ocasião do aniversário dele (19 de abril) para faturar. Isso em 1951. “Havia anúncios, mas eram poucos. Foi então que o Vicentinho teve a ideia de, no aniversário do Getúlio, colocar uma nota cumprimentando-o”, lembra Thereza. Daquele momento em diante, muitos tatuianos resolveram seguir o exemplo do jornalista. “Todo mundo queria colocar uma nota paga. Isso não existia nem nos jornais de São Paulo. Eles, naquela época, nem mensagens de Natal possuíam”, afirma Thereza. Esta era, segundo Cidinha,
a ocasião em que “o jornal tinha para ganhar dinheiro”. “Se ganhava, então, com assinatura, que não era muito, com a propaganda, que também não era muito, e, nestas épocas, de aniversário da cidade, Natal e com o Getúlio”, comentou ela. As datas comemorativas proporcionavam aporter nas contas do jornal, que mantinha a oficina tipográfica e tinha gastos com manutenção de equipamentos e compra de papel. Estes últimos materiais eram trazidos a Tatuí em caminhões. “Antes de a redação funcionar na nossa casa, eu não sei como os papéis chegavam. Acredito que
A mensagem na qual Vicente Ortiz de Camargo felicitou o então presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas, por ocasião do aniversário dele, no ano de 1951, repercutiu positivamente no marketing do jornal. No ano seguinte, em 1952, o então semanário publicava votos de felicidade desejados por tatuianos aos deputados Cassio Ciampolini e Candida Ivete Vargas.
por meio de trem (via Estrada de Ferro Sorocabana)”, conta Cidinha. Os fardos de papéis eram estocados na oficina e, na época, caros. “Eles eram importados”, conta a professora. As dificuldades iniciais foram superadas quando o jornal filiou-se à Associação Santos & Santos. “Melhorou para o jornal, facilitou a vida do Vicentinho tanto para comprar papel como na parte de anúncios”, lembra Thereza. O tatuiano também, por meio da entidade, conforme ela, pôde registrar-se como jornalista uma vez que, na época, não havia curso superior regular.
“Transcorre hoje o aniversário natalício do Sr. Getúlio Vargas, Presidente da República. Ao eminente homem público e primeiro magistrado da Nação, prestamos nossa homenagem, estampando o clichê de sua marcante personalidade”. (Mensagem publicada na edição do dia 18 de maio de 1951)
25 Segunda fase
Limoeiro intelectual Aos pés de árvore, família desfez-se de originais, queimando-os para evitar perseguições
O
jornalismo tatuiano, assim como o nacional, sofreu diversas e consideráveis transformações ao
Maria Aparecida Ortiz de Camargo
longo das décadas. A mídia local, até bem pouco tempo (alguns veículos ainda o fazem desta mesma maneira), repercutia fatos nacionais e internacionais. Caso de O Progresso, que, no início da existência, “soltava” notas sobre acontecimentos mundiais. Na edição de 16 de fevereiro de 1964, por exemplo, quando o então semanário era dirigido por Vicente Ortiz de Camargo, o Vicentinho, O Progresso estampava na capa nota sobre a ONU (Organizações das Nações Unidas). Com a mesma proporção, repercutiu um dos períodos mais complexos do Bra-
sil: o da ditadura militar, instituída após 1964. Em março daquele ano, quando os militares tomaram o poder, interrompendo o processo democrático – instituído no país ao fim do Estado Novo – e destituindo o presidente da República, João Belchior Marques Goulart, o Jango, o então semanário deu início à cobertura sobre o fato. A primeira nota a respeito teve publicação no dia 5 de abril de 1964. O texto (com 583 caracteres), veiculado na capa do jornal, trazia a seguinte manchete: “Mazzilli é o novo presidente”. A reprodução dos acontecimentos, ainda que necessária por conta do interesse do público local – o acesso à informação naquela época era restrito a poucas pessoas –, tornou-se preocupação para a família proprietária do jornal tatuiano. Especialmente quando houve a instituição do AI-5 (Ato Institucional nº 5), no governo do marechal Arthur da Costa e Silva (1967 e 1969). A promulgação do ato, em dezembro de 1968, originou restrição aos direitos do
cidadão, uma vez que o governo criou mecanismos para ampliar a repressão por meio da polícia e do Exército. Em Tatuí, o AI-5 teve seus efeitos “camuflados”. A repressão ocorreu, mas de maneira velada e menos pública, como em boa parte do país. O Progresso, assim como os veículos de comunicação brasileiros, ficava à mercê da censura. O risco, à época, como conta Thereza da Coll, era de que algum integrante da família Ortiz de Camargo fosse considerado comunista. “Um dos primos do Vicentinho, que era da Sorocabana (Companhia Estrada de Ferro Sorocabana), foi preso, acusado de ser comunista. E isso era um problema. Eu sei que me passaram esse medo”, afirmou. Não bastasse isto, todo o material a ser publicado no semanário tinha de ser aprovado pelo delegado da época. “No jornal só saía o que o delegado permitia, ou o que o bom-senso do meu pai permitia”, declarou Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha. A intervenção do delegado, que despachava bem próximo à redação do
26 Limoeiro intelectual
jornal (no prédio que abriga o atual Museu “Paulo Setúbal” – o antigo “Cadeião” de Tatuí, na praça Manoel Guedes), era bastante significativa, mas nem sempre determinante no que diz respeito ao que “saía” ou “deixava de sair” publicado. Isto porque, Vicente, sempre que podia, argumentava com a autoridade sobre os impactos da notícia. Temperamento diferente tinha José Ortiz de Camargo, fundador de O Progresso, pai de Vicentinho. “Meu avô, apesar da censura, publicava algumas coisas. O meu avô era assim; meu pai já era mais cuidadoso. Meu avô era idealista. Ele acreditava naquilo que estava fazendo e pronto”, recordou Cidinha. Apesar da herança ideológica do pai, Vicente, para evitar desentendimentos, revisava as folhas do impresso – na época produzidas ao longo da semana e juntadas no domingo (o jornal circulava somente aos domingos) – para, só então, submetê-las ao crivo do delegado. “Toda semana o delegado tinha que autorizar”, lembra Thereza. O proprietário e diretor do jornal, na mesma época do avanço da repressão militar em todo o país, chegou a mudar os filhos da escola. “Não sei se isto teve a ver ou não com o jornal. Eu sei que nós estudávamos no ‘João Florêncio’ eu e meu irmão (José Ortiz de Camargo Neto), quando houve uma desavença entre meu pai e o diretor. Depois disso, nós fomos para o ‘Eugênio Santos’”,
conta Cidinha. A intenção de Vicente, à época, era preservar a família e afastar possíveis boatos que pudessem colocá-los em situação de risco – ainda que isto fosse tarefa árdua. Mesmo na época da repressão, O Progresso dava continuidade à missão de lutar pelo desenvolvimento do município. Foi assim em diversos períodos, com a criação do Conservatório – e a manutenção dele em Tatuí – e com a implantação do “telefone automático”, que substituiu o de manivela. A melhoria começou a ser pleiteada em 1965, em plena ditadura. Por outro lado, era preciso cautela quando o assunto era contrário ou ainda não havia sido apresentado por quem estava no poder. Qualquer posicionamento contrário à maioria poderia gerar comentários prejudiciais. Uma mostra deste tipo de comportamento, bastante comum à época, deuse quando O Progresso encampou a ideia da criação da Escola Profissional Mista de Tatuí – atualmente, Etec (Escola Técnica) “Salles Gomes”. Na ocasião, o semanário havia iniciado a coleta de assinaturas para abaixoassinado no qual solicitava, ao governo, a criação da unidade de ensino. “Naquele tempo, as pessoas tinham medo. Tinha gente que não assinava, pensando que era algo ligado aos comunistas. Na verdade, era para o governo criar a escola profissional”,
comentou Tereza da Coll, na época adolescente. Talvez por isto, Vicente adotou um método curioso de prevenir-se: queimava todos os originais (de textos que seriam publicados no jornal) aos pés de um limoeiro. A árvore ficava no quintal da casa dele, na parte de dentro do imóvel, longe da visão de quem passava pela rua. A prática, conforme Cidinha, tornouse comum por muitos anos, especialmente no período militar pós-64. “Naquela época, tínhamos um limoeiro no quintal, um pé de limão galego, e do lado, foi feito um buraco no chão. Ali, se queimavam os originais. Eu me lembro que foram queimados muitos papéis que, provavelmente, poderiam
O município, após longa batalha encampada por autoridades locais e abraçada pelo jornal, recebeu os primeiros “telefones automáticos” no ano de 1965. Em abril daquele ano, o então prefeito do município, Paulo Ribeiro, assinou contrato com a CTB (Companhia Telefônica Brasileira) para a instalação dos novos aparelhos. Os telefones automáticos eram providos de “discos” para envio de sinalização decádica (dados numéricos) do aparelho para as centrais automáticas. Os primeiros aparelhos disponíveis em Tatuí eram conectados a uma central manual, operada por uma telefonista. Para usá-los, era preciso girar uma manivela para que houvesse geração de “corrente de toque”.
comprometer o jornal”, disse Cidinha. A incineração era feita tanto por Vicente como por José Nascimento, que, naquele período, também dirigia o jornal. A “precaução” evitou que o jornal fosse alvo de investigações e sanções mais rígidas que os cortes de reportagens. “Não aconteceu nada de real, mas havia um medo”, descreve a herdeira de Vicente. O costume de desfazer-se dos originais perdurou por um “bom período” (Cidinha não se lembra por quanto tempo). “Depois que passou o medo, o buraco do limoeiro foi tampado. A árvore, que sempre carregava frutos, morreu. Era alimentada por notícia”, brinca Cidinha. “Era o limoeiro intelectual”, apelidou.
27 Limoeiro intelectual
A repressão à expressão pessoal que aumentou com a tomada do poder pelos militares já existia antes mesmo da ditadura. No governo de João Belchior Marques Goulart, o Jango, como conta Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha, os tatuianos – assim como
muitos brasileiros – tinham receio de emitir suas opiniões. O Progresso, neste sentido, lutava para continuar a representar o povo mesmo que isto significasse risco a seus dirigentes. “Na época do Jango, quando se falava dos fatos históricos na
escola (eu estudava no ‘Barão de Suruí’), eu tinha muito medo de que considerassem o meu pai comunista”, disse ela. “Naquele tempo, qualquer um que tivesse coragem de expressar suas opiniões, era considerado subversivo”, recordou Cidinha.
O avanço dos militares no poder e os feitos deles tiveram publicidade em O Progresso. O jornal chegou a publicar, entre os anos de 60 e 80, elogios à intervenção militar, por efeito da censura. Após a notícia da posse do marechal Humberto de Alencar Castello Branco, em abril de
1964, o semanário noticiou, em pequenos textos (os quais deram ordem cronológica à ditadura), feitos e atos produzidos pelos militares – ainda que a contragosto. Uma destas notícias foi a nota de aniversário de 40 anos do Dops (Departamento da Ordem
Política e Social), criado em 1924, e que, posteriormente, foi utilizado pelos militares para reprimir as manifestações políticas na ditadura. Naquela época, o departamento tinha o objetivo de perseguir as atividades intelectuais, sociais, políticas e partidárias de cunho comunista.
Nos primeiros anos de circulação, o jornal dedicou espaço para publicação de notícias internacionais. A nota sobre a ONU (Organizações das Nações Unidas) à qual o texto principal se refere é a seguinte:
“ONU vai dobrar auxílio O Fundo Especial das Nações Unidas para Projetos de Desenvolvimento Econôm ico gastará este ano mais do que o dobro do recorde do ano passado, de 182 milhões de dólares, informou o diretor administrativo
Paul Hoffman. O sr. Paul Hoffman disse ao Conselho Governativo que está havendo firme melhoria na execução de 327 projetos e que os gastos do ano passado representaram mais do que o total dos quatro anos anteriores”.
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29 Segunda fase
Um jornal e muitos endereços A
Antes de ‘fixar-se’, redação de periódico funcionou em diversas localidades
té pela questão geográfica e pelos acontecimentos históricos, Tatuí obteve, com o passar dos anos, posição de destaque em relação aos demais povoados da região. Desde sua fundação, passando pelo desmembramento de suas terras – processo que deu origem à formação de diversas cidades vizinhas, como Quadra e Cesário Lange –, o município “viveu” intensas transformações. Com a implantação das primeiras fábricas de tecelagem e das demais indústrias em função do avanço na produção agrícola, especialmente com a cultura do algodão, houve expansão da área urbana, e, com isso, a reestruturação das ruas do município. Por consequência, a quantidade de vias públicas foi aumentando, bem como o nome delas, mudando. Resguardadas as devidas
A residência dos Ortiz de Camargo, onde O Progresso funcionou na maior parte do tempo, localizada na praça Manoel Guedes
proporções, o mesmo fez o jornal “O Progresso de Tatuhy”, periódico que teve redação em diversos endereços – o penúltimo deles com “dois nomes”. O atual, situado na praça Adelaide Guedes, 145, onde o bissemanário é produzido desde janeiro de 1981, foi reinaugurado em 2008, 86 anos depois de o primeiro exemplar circular no município. Antes disso, O Progresso teve redações em diversos endereços, sendo o primeiro de que se tem notícia no Largo da Matriz, como era chamada a
Praça da Matriz. As edições eram produzidas no número 16. De lá, eram enviadas para impressão em Itapetininga. Superando os desafios técnicos, o periódico foi modificando-se e, sobretudo, testemunhando em notícias a metamorfose da cidade. No ano de “nascimento” de O Progresso, por exemplo, a cidade contava com os bairros “Vai e Vem” e “Bom-Mirim”. O segundo recebeu, no mesmo ano, uma escola viabilizada por Laurindo Dias Minhoto, na época “representante” do então
semanário. Entre 1922 e 1930, O Progresso registrou o primeiro grande avanço: a implantação de sua oficina tipográfica em Tatuí. “Iniciamos hoje, a publicação de nosso jornal em typografia propria, nesta cidade, á rua 11 de Agosto. Por motivo da mudança, deixou o jornal de circular no domingo proximo passado, pelo que pedimos desculpas aos nossos leitores. Dóravante estarà tudo regularisado, e folgadamente, daremos cumprimento ao nosso programma”, anunciou aos leitores o então semanário. Com a oficina funcionando à rua 11 de Agosto, o jornal mudou novamente a redação no ano de 1930 para o número 550 da mesma rua, deixando o Largo da Matriz. A transferência coincidia com um dos períodos mais efervescentes
30 Um jornal e muitos endereços
da agricultura local. Naquele ano, as lavouras do município – já oferecendo as culturas de café e abacaxi – começaram a receber instrumentos agrários, substituindo a falta de braços dos trabalhadores e triplicando a produção. Naquele mesmo ano, o comércio não conseguia acompanhar o crescimento agrícola local. As transações de mercadorias com os municípios “dos arredores”, como eram chamadas as cidades vizinhas, ficavam limitadas pela falta de “vias de comunicações” (inexistência de estradas que ligassem um município a outro). A preocupação das autoridades locais – e uma das inúmeras brigas encampadas por O Progresso – era de que Tatuí perdesse mercado. Na época, “Guarehy” procurava Itapetininga para se abastecer e Porangaba recorria a Conchas. Cesário Lange
demandava Laranjal, e Pereiras e Campo Largo abasteciam-se em Sorocaba. Tietê, Boituva e Porto Feliz não tinham relações comerciais com Tatuí. Em quatro anos de reivindicações, o panorama comercial do município mudou. Em partes, graças ao jornal. Por inúmeras edições, os responsáveis pelo periódico solicitaram reformas da estrada entre Tatuí e Boituva. Também por meio de notas, O Progresso comunicou à população suas mudanças, tanto de endereço como da linha editorial. Em 13 de janeiro de 1924, publicou alteração na “direcção”: “Retirou-se da direcção desta folha o sr. Aguinaldo Motta, ficando de ora em diante da direcção de ‘O Progresso’, o sr. José Ortiz de Camargo, que tem autorisação para tratar de todo e qualquer negocio com referencia ao mesmo jornal. Redacção e administração,
rua 11 de Agosto, 110, telefone numero 40”. Em paralelo, o jornal inovava, oferecendo aos leitores tatuianos o primeiro suplemento (uma folha com oito textos, entre declarações, “editaes”, uma notícia de última hora e um anúncio de vaga de emprego). A novidade surgiu na edição de número 73, publicada no dia 3 de fevereiro de 1924. No ano seguinte, em 1925, foi a vez de o município sofrer alterações. Naquele ano, a Câmara Municipal mudou o nome de uma praça, de Largo do Grupo Escolar para “Dr. Júlio Prestes”. A ampliação dos noticiários, que dividiam espaços com publicações de editais, entre outras, aconteceu em janeiro de 1928. Naquele ano, o município recebeu exposição de automóvel organizada por Joaquim Assumpção Ribeiro, “agente autorisado” da companhia Chevrolet. O veículo Chevrolet 1928, apelidado de “carro chic”, ficou exposto na agência de Ribeiro, na rua Prudente de Moraes (em frente “ao grande Hotel Affonso”). \Também em 1928, “O Progresso de Tatuhy” noticiou a instalação do
município de Porangaba (em 4 de junho). O evento contou com presença de autoridades locais, como o então juiz de direito da comarca, Eduardo Silveira da Mota, e o senador Laurindo Dias Minhoto. Naquele mesmo ano, o periódico implantou novidades, como a coluna “Entre Nós”, com notícias de personalidades e acontecimentos sociais. Anos mais tarde, o jornal registrou nova mudança: transferiu pela terceira vez o endereço da oficina de tipografia e redação, passando a funcionar na praça Antônio Prado (que mais tarde teve o nome alterado para praça Manoel Guedes), 35. Assim como a praça, outras ruas do município tiveram os nomes modificados ao longo dos anos. A atual 11 de Agosto, por exemplo, a “Rua do Comércio”, chamava-se General Carneiro; a rua Prudente de Moraes tinha o nome de Rua Direita; e a Coronel Aureliano de Camargo era a 7 de Setembro. A quarta e última mudança de endereço da redação de O Progresso aconteceu em dezembro de 1980, quando o semanário foi transferido para o endereço atual.
O Chevrolet 1928 em exposição em Tatuí no ano de fabricação do modelo era apresentado como o “produto mais aperfeiçoado” da montadora. O veículo era anunciado pela fabricante como o mais confortável, porque trazia assentos mais largos e mais compridos e era dotado de “molas autoamortecedoras”. “Mais potente e veloz porque o motor foi aperfeiçoado, dotado de freios mecânicos nas quatro rodas acionados pelo pedal e mais dois freios de mão sobre as rodas trazeiras num total de seis freios em dois sistemas completamente independente”, anunciava o expositor Joaquim Assumpção Ribeiro.
31 Segunda fase
Empresa digna de lembranças A
Envolvimento de família com semanário teve sentido além do objetivo comercial
família Ortiz de Camargo, a que originou o jornal “O Progresso de Tatuhy” - este inspirado no “Progresso de Tatuhy” -, empenhou-se, em muito, para que o então semanário tivesse sucesso. Além dos responsáveis diretos pela publicação (primeiro, José Ortiz de Camargo e, depois, o filho dele, Vicente Ortiz de Camargo e o primo, José Nascimento), tiveram participação fundamental – ainda que como coadjuvantes – todos os demais membros da família. A mulher de Vicentinho, Marina da Coll Camargo, os filhos dele, Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha, e José Ortiz de Camargo Neto também deram suas contribuições. Cada um, à sua moda. Cidinha, por exemplo, ajudava como podia no processo de dobra dos jornais. “Eles colocavam (a
Marina da Coll
equipe que já fazia parte da oficina de tipografia) um pacote de jornal, e nós dobrávamos”, conta, incluindo neste trabalho a tia Tereza da Coll, falecida neste ano. “Todo mundo entrava na dança”, comenta
Cidinha, que é professora. O irmão dela também participava das dobragens. “Às vezes, o Zé Nascimento organizava mutirões que envolviam a casa inteira”, diz Camargo Neto. “Não escapava ninguém”, adiciona.
Neste “ninguém”, incluíam-se os amigos da família, como o jornalista José Reiner Fernandes, proprietário do jornal “Integração”, os funcionários da gráfica e “mais alguns curiosos” que apareciam no local. “Era, no fundo, muito divertido”, diz Camargo Neto. O processo de dobragem, que unia cada vez mais a família, era feito em etapas. “Era uma folha grande que a gente dobrava pela metade, primeiro, e pela metade, depois”, descreve Cidinha, que participou dos mutirões até os 17 anos. Mais tarde, quando começou os estudos preparatórios para o magistério, ela passou a dedicar-se à coluna social do jornal. “As notas me incomodavam um pouco, por causa de como eram escritas”, lembra. Até então, os textos traziam grafia mais rebuscada e menos
32 Empresa digna de lembranças
comum ao cotidiano das pessoas. Um dos muitos exemplos que podem ser vistos nas edições de O Progresso é a nota publicada em 24 de março de 1963, na coluna “Sociais”, a respeito do casamento de Ilza Teresa Fonseca da Costa e José Ibernon de Andrade. No texto, consta: “Contrataram casamento nesta cidade a Srta. Ilza Teresa Fonseca da Costa, filha do Sr. Joaquim Fonseca da Costa e Marilda Fernandes da Costa, aqui residentes, e o Sr. José Ibernon de Andrade, filho de d. Nair Fernandes de Andrade, residentes no Rio de Janeiro.” Enquanto Cidinha cuidava de “atualizar” as notas, Marina da Coll encarregava-se de alimentar os tipógrafos. Era ela quem fornecia almoço e, vez ou outra, jantar para os funcionários, que ingressavam na oficina ainda meninos. “Minha mãe não atuou diretamente, mas ofereceu o nome dela, quando o meu pai não pôde ter o dele por causa do Conservatório”, explicou Cidinha. Vicentinho havia sido nomeado para trabalhar na escola de música e, por conta disto, não podia acumular a função de proprietário do jornal. Como a irmã, Camargo Neto passava horas na tipografia, que funcionava “colada à casa
dos Ortiz”. A oficina tinha sede estabelecida na residência ao lado, adquirida junto com a casa da família por Zé Marinheiro, por meio de empréstimo junto ao industrial Dario Freire Meirelles. “Desde criança eu ficava na tipografia”, afirma o filho de Vicentinho. Lá, Camargo Neto aprendeu tipografia e passou a tomar gosto pelo jornalismo, o que o levou a produzir crônicas, artigos e poemas, sob os pseudônimos de “Pena Oculta” e “Zitro” – Ortiz ao contrário. Com o segundo nome, escreveu artigos sobre a língua portuguesa mostrando as riquezas e aspectos engraçados. Era, conforme descreve, uma mistura de conceitos. Os textos “brincavam” com os sentidos de palavras, como: manga (fruta) e manga (de camisa), mangueira (árvore) e mangueira (usada para extinguir incêndio) e Mangueira (escola de samba), entre outras. Camargo Neto, que também se formou em jornalismo, auxiliou o pai (Vicentinho) e o primo de segundo grau (Zé Nascimento) até o ano de 1970 – ele permaneceu atuando em O Progresso por seis anos. Depois, mudou-se para São Paulo. De lá, para os Estados Unidos e, em seguida, Europa. “Mas sempre continuei, de um modo ou de outro,
participando do jornal, que sempre tem um lugar muito especial em meu coração”, disse. Quando residiu na França, na década de 90, Camargo Neto enviava, semanalmente, um artigo para a coluna “Notícias da Europa”. “Depois que voltei ao Brasil, em 1996, comecei a coluna ‘Aqui, Ali, Acolá’ (nome sugerido pelo Zé Nascimento), que, infelizmente, em razão de tempo e correria - tive de recomeçar a vida no Brasil - acabei interrompendo”. Os irmãos Ortiz de Camargo tiveram a vida marcada pelo som da “marinona”, uma máquina de imprimir que era operada por Zé Nascimento. O cheiro de tinta e de querosene é lembrança comum entre eles, que costumavam, como forma de brincadeira, escalar fardos de papel. O contato que tinham com o pai, Vicentinho, também era, na maioria das vezes, dentro da oficina de tipografia, onde funcionava a redação da publicação. “Vezes sem conta vi meu pai na redação, curvado sobre os desenhos das páginas, atendendo pessoas, datilografando o jornal. Sempre me dava livros e estimulava-me a ler, ou ensinava-me a escrever”, recorda Camargo Neto. O filho, que já admirava o pai, carrega-o como
modelo de profissional. Vicentinho é descrito pelo filho como um jornalista exemplar. “Um dia, eu era adolescente, ele me levou a um jogo do XI de Agosto, que era hexacampeão do interior paulista. Assistimos juntos. Na volta, meu pai me ensinou como escrevia o noticiário esportivo. Nunca vi nada mais sucinto”, disse. O Progresso marcou a vida de todos os Ortiz de Camargo, em especial de Camargo Neto. “Nunca consegui deixar de ser jornalista em todo país que fui; sempre dei um jeito de produzir jornalismo, ou livros”, comenta. “Sempre estive ligado a Tatuí e ao jornal onde quer que estivesse”. O caráter familiar do jornal é o aspecto mais marcante citado por Cidinha. “Era uma empresa familiar e bem artesanal”, comenta, referindo-se aos mutirões de dobragens. Para que os amigos, familiares, funcionários e convidados não desanimassem, iguarias eram oferecidas. “No tempo que tinha que pôr as folhas, o pessoa l f i c a v a a t é t a rd e d a n o i t e . A s p e ssoas que vinham para a j u d a r c o m i a m a l m ô ndegas, feitas pela nhá Rosa (esposa de Zé Marinheiro)”, lembra T e r e z a , n a ú l t i m a e ntrevista concedida por e l a , n o f inal de 2011.
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Cronologia documentada Registros apontam mudanças, desafios e conquistas do mais antigo veículo de comunicação de Tatuí
A
história de uma pessoa, entidade ou empresa é preservada de diversas maneiras. A mais comum é a forma narrativa, na qual os fatos, invariavelmente, são acrescidos de informações que variam de acordo com a interpretação e o “repertório cultural” de quem os conta. Mas a maneira mais fiel de se retratar o passado, sem dúvida, é a documental. Com o jornal O Progresso de Tatuí não poderia ser diferente. A família Ortiz de Camargo, a qual deu início a uma história que completa 90 anos em 2012, não só tem essa consciência como um cuidado ímpar em relação aos papéis que documentam o desenvolvimento do, atualmente, bissemanário. Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a filha mais velha de Vicente Ortiz de Camargo, herdeiro do primeiro proprietário do jornal, mantém até os dias atuais os escritos intactos. Os papéis, verdadeiras relíquias da família e de Tatuí, recontam a trajetória do veículo a começar pelo registro de matrícula
feito no Cartório do Registro Geral – Do Jury e Annexos “Pompilio R. Flores”, na então comarca de Tatuhy. O documento trazia José Ortiz de Camargo, o “Zé Marinheiro”, como diretor, proprietário e gerente da publicação e da “oficina gráfica”. O Progresso de Tatuí foi registrado sob o número de ordem 2, no livro B-1, às páginas 2-3, no ano de 1922. Na época, oficializou o documento o oficial de registro geral e anexos da cidade, Pompílio Raphael Flores. O
mesmo tabelião emitiu, em 9 de julho de 1943 – 21 anos depois do primeiro exemplar do jornal circular em Tatuí –, um segundo documento de registro. A finalidade era averbar a venda do jornal, que passara de José Ortiz para o filho dele, Vicente Ortiz. A transferência incluiu a oficina de tipografia na qual eram feitas as impressões dos exemplares desde o início de O Progresso e todo o ônus da administração da
publicação. As mudanças na diretoria do jornal – mas não da linha editorial dele – estão registradas em um segundo documento. Trata-se de uma declaração feita por José Ortiz, na época com 61 anos de idade e jornalista “profissionalmente inscrito”, da venda da publicação. O Progresso passou às mãos de Vicente Ortiz, também jornalista profissional,
34 Cronologia documentada
quando ele tinha 30 anos de idade, no dia 12 de maio de 1943. O preço ajustado foi de Cr.$ 500,00 (quinhentos cruzeiros). Além das transferências de comando, papéis históricos guardados pela família retratam os desafios que o jornal enfrentou ao longo dos anos para que pudesse fixar, para sempre, seu nome na história da imprensa. Em 27 de maio de 1940, por exemplo, O Progresso teve o registro concedido pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), órgão criado pelo então presidente Getúlio Dornelles Vargas no ano de 1939. A autorização foi assinada
por Jarbas de Carvalho, diretor da Divisão de Imprensa do DIP. Sobre a divisão, conforme o CPDoc (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), a Escola de Ciências Sociais e História da FGV (Fundação Getúlio Vargas), recaía uma das mais importantes funções do DIP: a censura à imprensa. No documento, endereçado a José Ortiz, Carvalho citou que o registro havia sido concedido ao jornal tatuiano: “em apreço a recomendação do Conselho Nacional de Imprensa”. A permissão causou alívio na família, conforme anotação feita a lápis no primeiro livro-caixa do
periódico uma vez que o Conselho Nacional de Imprensa, naquele mesmo ano (1940), havia feito solicitação para impedir a circulação de novas publicações. De acordo com o registro, representantes do conselho solicitaram ao diretor geral do DIP que ele providenciasse junto aos interventores federais nos Estados de Minas e do Acre um pedido de “impedimento da circulação de novos jornais e revistas e periódicos durante um ano”. O receio era de que a proibição se estendesse a São Paulo. Com a questão resolvida, restou à família legalizar junto ao órgão as oficinas gráficas do jornal. O
registro delas só foi concedido pela Diretoria Geral do DIP um ano depois, conforme ofício encaminhado a José Ortiz no dia 25 de julho de 1941. A permissão do funcionamento foi assinada por Lourival Fontes, responsável pela “Secção de Registro de Jornais”, do departamento. As conquistas de O Progresso vieram um pouco depois da censura, a partir do ano de 1945, quando Vicente Ortiz conseguiu adquirir novos equipamentos para agilizar a impressão. Até então, o jornal era impresso no prelo francês Coisne Mecanicién, doado por Laurindo Dias Minhoto ao patrono da família.
35 Cronologia documentada
Em 26 de julho daquele ano, Vicente adquiriu da viúva de Camilo Lélis uma máquina de impressão plana, de cilindro, fabricada por “Jules Derriey - Paris”. O equipamento custou Cr$ 9.000,00 (nove mil cruzeiros), nove vezes mais do que Vicente Ortiz pagou para adquirir a casa onde, por muitos anos, funcionou a redação de O Progresso. O jornal iniciou suas atividades num cômodo no Largo da Matriz, 16. De lá, seguiu para o número 550 da rua 11 de Agosto até que se mudou para a praça Antônio Prado (que mais tarde teve o nome alterado para praça Manoel Guedes), 35, residência dos Ortiz de Camargo. Cinco anos depois, o jornal fez dois novos investimentos: o primeiro, em 26 de julho, com a compra de uma cortadeira e 700 matrizes modelo “B”; e o segundo, com a aquisição de uma máquina de compor. As benfeitorias custaram Cr$ 3.500,00 e Cr$ 2.000,00, respectivamente, pagas com o dinheiro obtido por conta do crescimento da publicação. Em 13 de março de 1957, a diretoria do jornal registrou sua antepenúltima mudança, documentada em “contrato social”. O Progresso passou de Vicente Ortiz para a esposa dele, Marina da Coll Camargo, e para José Nascimento. A sociedade, como explicou a filha, aconteceu por “mera questão burocrática”. Como Vicente Ortiz havia assumido o cargo de chefe de secção do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí, não poderia ter um jornal no nome dele. Por esta razão, teve de transferir a propriedade da publicação. “Papai fez a mudança no papel, mas continuou a comandar o jornal. Tanto que escrevia artigos e revisava os textos, que seriam publicados, nos horários do almoço e da janta”, contou Maria Aparecida. Em 1981, o jornal mudou de endereço e, novamente, de responsável. Desta vez, foi dirigido por um não-membro dos Ortiz de Camargo, Ivan Gonçalves que o comandou até 1994 no atual endereço, a praça Adelaide Guedes. A partir daquele ano, houve a última transferência de direção: a publicação passou às mãos dos atuais proprietários, Ivan Camargo e Ana Maria de Camargo.
Um jornal marcado pela ideologia Confissão pública: um ato de humildade Amor à profissão que está no sangue Um homem com hábitos incomuns História vivida do Progresso de Tatuí
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Agentes do Progresso
Segunda fase
Um jornal marcado pela ideologia A
Cansado das brigas políticas, Zé Marinheiro decidiu por veículo com isenção
ideologia é descrita como a característica mais marcante de José Ortiz de Camargo. Por acreditar numa imprensa livre e mais isenta (algo difícil de imaginar na época, por conta das disputas políticas que ocorriam na década de 1920), Zé Marinheiro deu início ao periódico mais antigo da “Cidade Ternura”, título surgido nas páginas do então semanário. Depois de ganhar a oficina gráfica – ou tipográfica como se dizia na época –, o jornalista decidiu “montar” uma publicação que fosse o oposto das que existiam: o “Cidade de Tatuhy”, pertencente a Manoel Guedes Pinto de Mello, e o “Comarca de Tatuhy”, de Laurindo Dias Minhoto (ambos eram utilizados pelos respectivos proprietários como plataforma para críticas entre si). Conforme o jornalista e historiador Renato Ferreira de Camargo, tanto Zé Marinheiro como Cândido de Souza Freire, que trabalharam juntos por duas ocasiões, haviam se cansado da
briga política que permeava o cotidiano de Tatuí. A partir daí, os dois teriam resolvido juntar-se para formar um jornal isento. “Segundo o meu pai (Vicente Ortiz), meu avô era sonhador e idealista. Quando fundou o jornal,
certamente quis fazer uma imprensa livre, como de fato fez”, disse José Ortiz Camargo Neto, que também é jornalista. A parceria entre Zé Marinaheiro e Freire, no entanto, não é conhecida (historicamente falando) pela
família do fundador. “Meu pai (Vicente Ortiz) nunca me falou dessa associação. Provavelmente, meu avô associou-se mesmo a ele (Freire) para tocar o jornal”, comenta Neto. Segundo ele, Zé Marinheiro, na época, “era mais tipógrafo do que jornalista”. “Por certo, ele (o avô) queria um redator trabalhando com ele. Daí, o Freire constar como redator”, falou, referindo-se ao expediente das 11 primeiras edições do jornal. A indignação de ambos com relação ao modo de fazer jornalismo na época, descrita pelo historiador, encontra fundamento nas palavras que compõem o editorial do primeiro exemplar de O Progresso. O texto, que ocupou duas das cinco colunas da publicação, evidencia não só o propósito do impresso, mas o compromisso dele com a informação. Além do modo peculiar de fazer jornalismo, primando pelo interesse do povo, Zé Marinheiro tinha outras características. Era,
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Agentes do Progresso
Um jornal marcado pela ideologia
conforme o neto, um sonhador. Fisicamente, o jornalista era gordo, baixo, usava quase sempre terno, colete, chapéu pequeno, relógio de bolso e bengala. Também era, segundo descreve o neto, “meio distraído”. “Sempre abotoava o colete do terno nas casas erradas, deixando torto o vestuário”, lembra. Desleixo que não tolerava quando o assunto era o jornal. Zé Marinheiro também não admitia injustiças, conforme a neta Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha. Apesar de gozar de boa reputação (e influência por conta do jornal), sempre colocava o interesse do povo acima do pessoal. Também conforme a neta, os percalços da vida – com altos e baixos – nunca fizeram o jornalista mudar de ideia quanto a manter o jornal. “Meu avô, às vezes, deixava de comprar comida para poder comprar papel para impressão. Mesmo assim, apesar das dificuldades, o jornal continuou, porque ele era um sonhador. Se não fosse assim, acho que o jornal nem teria acontecido”, declara a neta. O fundador do jornal mais antigo da cidade era do tipo brincalhão e, segundo a família, gostava de estar no meio da população, de fazer piadas e comer. “Meu pai dizia que eu iria gostar muito dele, porque ele gostava de jovens. Ele era uma pessoa alegre, gulosa, e gostava de conversar e de
esportes”, descreve Cidinha. Apesar de não se encaixar no biotipo de esportista, Zé Marinheiro era ligado ao futebol. “Ele era presidente do Operário Futebol Clube – time surgido na fábrica São Martinho”, conta Cidinha. Gostava tanto de pelejas que criou dois campeonatos, sendo um deles com o nome da esposa, Rosa Geraldini Ortiz. Por conta da personalidade carismática, ganhou uma estatueta que, atualmente, é guardada pelos Ortiz de Camargo como uma das relíquias da família. Desde pequeno, Zé Marinheiro era considerado popular. O apelido que acompanhou o jornalista por toda a vida surgiu na escola. “Ele fugia da aula para ir nadar no rio Tatuí. Aí, o professor dele, na época, deu o apelido de Zé Marinheiro”, contou Tereza da Coll. A ligação com o mar, anos mais tarde, encontrou coincidência quando ele casou-se com Rosa Geraldini, italiana que atravessara o oceano Atlântico para chegar ao Brasil. José Ortiz de Camargo era muito querido em Tatuí e por onde passou. “Quando chegava à Praça da Matriz, onde havia o coreto, a bandinha logo tocava a ‘Marcha do Zé Marinheiro’, especialmente composta para ele”, comenta o neto. Também era convicto pela liberdade de imprensa, a tal ponto de desafiar as autoridades na época da censura
prévia aos jornais, instituída no governo de Getúlio Dornelles Vargas, então presidente da República. Por conta da censura, Zé Marinheiro tinha de levar a “prova” (modelo) da edição de O Progresso à delegacia de polícia para que o delegado verificasse o conteúdo. Era ele quem decidia o que podia ou não ser publicado. “De propósito, meu avô, ou meu pai, batiam na casa do delegado, de madrugada, lá pelas três horas da manhã. Sonolento, o delegado lia as matérias de qualquer jeito e autorizava”, relata Neto. A tática possibilitava que Zé Marinheiro publicasse críticas disfarçadas ao governo. As opiniões contrárias do tatuiano estavam sempre presentes nos textos – de uma maneira ou de outra. Desde crônicas a cartas de amor. “Ele fazia críticas disfarçadas ao governo, que começavam assim: ‘Minha querida, estou ansioso para revê-la. Não sabe você o quanto estou com saudades. Ninguém aguenta mais essa ditadura...’”, lembra Neto. Como o delegado lia somente as primeiras linhas dos textos, sempre carimbava a autorização. “Depois, recebia broncas de seus superiores e dizia ao meu avô: ‘Da próxima vez, eu prendo você!’”, cita Neto. Zé Marinheiro, conforme ele, respondia à altura. Ele dizia, segundo lembranças da família: “Pode
prender! Cadeia não foi feita pra cachorro, foi feita pra homem!” O estilo bonachão de Zé Marinheiro era conhecido por todos. E quem o conhecia, gostava de brincar com ele. “Quando estavam sentados na praça, alguém jogava uma nota de dinheiro no chão e dizia: ‘Zé Marinheiro, se conseguir pegar, é sua’. Como era muito gordo, não conseguia abaixar o suficiente, e todos riam”, narra Neto. Para dar o troco, ele, certo dia, teria colocado piche na ponta da bengala e pegado o dinheiro, espetando a nota. “Nunca mais a devolveu e, como se diz, quem ri por último, ri melhor”, cita Neto. A história de vida do jornalista é recheada de fatos curiosos e engraçados. Outro das centenas que o acompanharam, aconteceu quando Zé Marinheiro foi desafiado por um grupo de amigos a comer um frango assado inteiro, que estava exposto num bar. O tatuiano, segundo o neto, pediu um tempo para pensar. No final do dia, voltou e aceitou a aposta. Resultado: comeu o frango todo, “sem problemas”. Os amigos, então, perguntaram a ele aonde teria ido antes, ocasião em que respondeu: “Fui para casa, pedi para Rosa fazer um frango pra ver se eu era capaz de comer inteiro. Como eu consegui, voltei aqui pra ganhar a aposta”.
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Agentes do Progresso
Um jornal marcado pela ideologia
“Assim era meu avô”, lembra Neto, que tem referências de Zé Marinheiro por meio de relatos do pai (Vicente Ortiz de Camargo) e de José Nascimento, dois dos herdeiros de uma herança rica não em dinheiro, mas em história. Doença põe fim ao idealismo Quando ficou doente, somente o delegado local (com quem brigava intensamente) conseguia acalmá-lo. Zé Marinheiro, por conta de problema de saúde, tinha crises que o deixavam agressivo. “Quem o acalmava era o delegado”, conta Cidinha. “Quando meu avô ficou doente, a família não conseguia chegar perto nos momentos em que ele tinha surtos, mas ele aceitava a presença do delegado”. A saúde do jornalista começou a definhar por conta
de um AVC (acidente vascular cerebral). Um procedimento médico, segundo a neta, ao invés de ajudar, agravou ainda mais a situação dele. “De acordo com registros familiares, o médico dele fez uma sangria, que naquele tempo era comum. Meu avô não morreu, mas ficou com a cabeça ruim. Naquela época, se dizia que ficou louco”, recorda. Mesmo com a condição de saúde afetada, a família relutou em internar o patriarca. “Ele ficou vários meses aqui”, descreve Tereza da Coll. Familiares dele preferiram, num primeiro momento, mantê-lo sob os cuidados de uma profissional, na própria casa. “Às vezes, minha irmã (Marina da Coll Camargo, cunhada de Zé Marinheiro) trocava de lugar com a pessoa. Durante a madrugada, elas se alternavam”, comenta. O jornalista permaneceu sob os cuidados dos parentes
Falece José Ortiz de Camargo No dia 20 de maio, num sábado triste, faleceu José Ortiz de Camargo, depois de mais de seis meses de cruciantes sofrimentos, vítima de insidiosa enfermidade que zombou de todos os recursos e esforços da ciência médica. A morte do nosso diretor constitui uma perda irreparável não apenas para sua família, que ficou sem o chefe extremoso, sempre pronto aos maiores sacrifícios por ela, e para este jornal, que vê desaparecer para o nunca mais a sua viga mestra, o seu verdadeiro sustentáculo, o baluarte que não cedia à aspereza da luta intensa, às dificuldades imensas desta nossa ingrata jornada de mais de vinte anos, antes ganhava forças sempre novas e sempre maiores para o combate desigual, agigantava-se no seu entusiasmo, operando o milagre cotidiano da manutenção desta folha até os dias de hoje. Com a morte de José Ortiz de Camargo também perde o círculo de suas relações que era vasto, o amigo dedicado, leal, sincero. Também perdem os humildes, os menos favorecidos, um coração bem formado sempre atento às suas aflições e necessidades, disposto sempre a participar com sinceridade de seus problemas, dos seus dramas pejados de angústia, tudo fazendo por removê-los ou atenuar; e perde Tatuí, principalmente, um apaixonado, o filho que jamais esmoreceu na sua devoção, no amor e carinho que iam ao extremo pela terrinha natal. O passamento de nosso diretor verificou-se às 18h30 do dia 20 de maio, em Franco da Rocha, em cujo hospital se achava em tratamento. Dados biográficos José Ortiz de Camargo nasceu nesta cidade no dia 1º de maio de 1882, sendo seus pais os finados José Alves de Camargo e Francisca Ortiz de Camargo. Pertencente a família pobre, viu-se órfão de pai quando muito criança e, menino ainda, precisou deixar a escolinha
até as crises piorarem. Naquela época, em meados de 1939, Vicente Ortiz de Camargo passou a tomar conta do jornal. A transferência no cartório aconteceu quatro anos mais tarde, em 9 de julho de 1943, quando houve a averbação da venda de O Progresso, de Zé Marinheiro para o filho. A ideia inicial da família era transferir o jornal para Rosa Geraldini Ortiz, esposa do fundador. O empecilho, porém, era que Rosa Geraldini era estrangeira. “Ficou no nome do Vicentinho porque a mãe dele era italiana e não podia ser a dona por questão de registro, ainda que fosse dona por direito”, explica Tereza da Coll. Segundo ela, Rosa Geraldini tinha apenas um salvoconduto que permitia a permanência dela no Brasil. “Como o país entrou em guerra, muitos italianos tiveram de ir embora, e a família
preferiu passar o jornal para o Vicentinho”. O problema de saúde do patriarca, que afetou o comportamento dele, não apagou da memória de quem o conhecia a personalidade bonachona de Zé Marinheiro. Na pior fase da doença, ele alternava momentos de agressividade e de ternura. “Mesmo quando doente, depois, no finalzinho, que piorou, ele não perdeu o comportamento amável”, declara Tereza da Coll. A família cuidou de Zé Marinheiro até quando pôde. Nos últimos anos, internou-o no Hospital Psiquiátrico do Juqueri, uma das mais antigas colônias psiquiátricas do Brasil, localizado em Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo. O jornalista faleceu a 20 de maio de 1944.
primária em busca de trabalho, a fim de auxiliar os irmãos e a velha mãe na manutenção do lar humilde. Assim, perambulou algum tempo pelos mais variados misteres até que, com 15 anos de idade, ingressou como aprendiz nas oficinas do jornal “A Cidade de Tatuí”, então dirigido por Antonio Pereira de Almeida. Fixou-se no novo ofício, tomou gosto pela arte gráfica, tornando-se logo mais excelente tipográfico. Nas caixas de tipo instruiu-se, acumulou conhecimentos, aprendeu a redigir e, estimulado por Antonio Pereira de Almeida, iniciou na “Cidade de Tatuí” sua carreira jornalística, sendo, pois, ao falecer, um dos mais antigos militantes da imprensa do interior e o decano nesta zona da Sorocaba. No exercício de sua profissão prestou serviços em numerosos jornais do interior, tendo trabalhado em Itapetininga, Pereiras, Tietê, Sorocaba, São Roque, Avaré, Itu, Botucatu, São Manoel e Porto Feliz. Desta última cidade, já casado e com um filho, regressou definitivamente a Tatuí, vindo funcionar na “Comarca de Tatuí”, jornal dirigido por José Candido Freire, que fora seu discípulo. Deixou a “Comarca” para ir gerenciar a oficina tipográfica São Martinho, então propriedade do saudoso industrial Manoel Guedes, passando, depois, novamente para a “Cidade de Tatuí”, que só deixou em 1923, para assumir a direção de O Progresso de Tatuí, do qual se tornou mais tarde proprietário, e nele encerrando, com a morte, sua carreira na imprensa interiorana - longa carreira de quase quarenta anos, marcada por lutas penosas, repleta de dificuldades sem conta, repassada de sacrifícios e renúncias, mas rica na lição de entusiasmo pela profissão, que encerra para nós outros que ficamos com a missão de prosseguir na dura jornada. --------------------------------------------------------------Notícia do falecimento de José Ortiz de Camargo, publicada em 4 de junho de 1944, cujo nome continuou sendo impresso na capa de O Progresso até o ano de 1980, quando o veículo foi vendido.
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Agentes do Progresso
Confissão pública: um ato de humildade A
o reconhecer que envelhecia e que pretendia dar ao jornal O Progresso a “renovação que merecia”, José Ortiz de Camargo mostrou-se humilde. O editorial de 8 de julho de 1934 acompanha significativa mudança no “layout” da página principal. O slogan deixa de ser publicado na capa, o redator chefe passa a ser Licio Marcondes Amaral e o redator secretário, Mauricio Loureiro Gama, tendo como diretor José Ortiz de Camargo. O ingresso dos novos integrantes mereceu editorial de Ortiz de Camargo, que tem reproduzido, abaixo, alguns trechos: “O jornal - disse alguém - quando, após o trabalho escaldante de sua confecção, escorrega do prelo para os olhos do leitor, leva sempre duas impressões. Uma - a impressão gráfica, outra - a impressão psicológica de quem o escreve. A primeira são letras, a segunda é alma. Esta - ao contrário daquela, que a todos se mostra no negro forte dos tipos calçados no papel - nunca se revela. Sutil, abstrata, se esconde sob as milhões de letras, oculta-se nos “bastidores” das
José Ortiz de Camargo
colunas. E porque é alma, ninguém a vê. Algumas outras almas, porém, a sentem. Considerado por este prisma, natural se nos parece que o jornal reflita todas as mutações, todas as quase nada mas progressivas alterações que o tempo e tantos outros fatores imprimem, inapelavelmente, na alma do jornalista. Julgamos, por isso, que um jornal deve ser velho, quando também o é quem o redige. De nada lhe valerá a idade cronológica, a idadede-poucas-edições. Porque os seus princípios, ideias e
cruzadas, se os possuir, trarão sempre este cunho de velhice, imperando o curso natural das ideias, afrouxando-lhe e anulando o entusiasmo, o pendor combativo. Será, quando muito, um jornal experiente... Foi atendendo a tudo isso que resolvemos olhar para dentro de nós mesmos. E nos vimos - não sem um laivo de melancolia - envelhecidos. Enquanto devotados inteiramente às lides extenuantes da imprensa, as rugas vieram vindo e nevando, pouco a pouco, as nossas cabeças. O Progresso enrugava-se conosco... Procuramos, então, remoçá-lo, indo buscar na juventude virial aquilo que já nos faltava - o ardor de idealizar, o poder de iniciativa, o espírito combativo, o prazer insatisfeito das refregas. A procura felizmente não nos foi difícil nem demorada. Logo de início, dois nomes se impuseram com a força insofismável dos valores positivos: Licio Marcondes Amaral e Mauricio Loureiro Gama. (...) Moços que sabem, carinhosamente, dedicar uma parte de sua mocidade ao estado, à meditação, e observação dos múltiplos e
profundos problemas que afligem o homem, que sabem sentir com os que sofremos as impiedades da época e revoltar-se com os que se rebelam contra as iniquidades sociais, os nossos novos companheiros são bem essa ‘juventude sadia e iluminada, que só olha para frente e nunca para trás’. (...) Convidando, em boa hora, Marcondes Amaral e Loureiro Gama para exercerem os cargos de redator-chefe e redatorsecretário, temos a segura, a inabalável convicção, de prestar uma homenagem ao nosso público leitor, e de garantir a Tatuí novas e fervorosas cruzadas pelo seu engrandecimento, pelo seu progresso e pelo seu agigantamento”.
Saída de Loureiro Gama
Maurício Loureiro Gama atuou como redatorsecretário até 7 de julho de 1935, edição a partir da qual Vicente Ortiz de Camargo passou a exercer a função. A saída de Loureiro Gama, comunicada com “sincero desprazer”, ocorreu por conta de “suas estafantes atividades jornalísticas na Capital”.
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Agentes do Progresso
Segunda fase
Amor à profissão que está no sangue Autodidata, Vicente Ortiz de Camargo batalhou pelo desenvolvimento do município
A
rtista, músico, poeta, pintor, desenhista e herói. É desta forma que Vicente Ortiz de Camargo, o segundo diretor a comandar O Progresso, é descrito pelo filho, José Ortiz de Camargo Neto. “Meu pai era muito humilde, trabalhador, estudioso, culto, de alegre alma italiana, por parte da mãe (Rosa Geraldini), e de sonhadora alma lusitana, por parte de pai (José Ortiz de Camargo)”, aponta o filho. “Vicentinho”, desde menino, trabalhou com o pai na profissão de tipógrafo e impressor. Vicentinho procurou estudar por conta própria. O primeiro – de muitos cursos efetivados desta forma – foi o de desenho em pintura. “Ele tornou-se retratista, pintando os rostos das pessoas em branco e preto”, conta o filho. A paixão pela arte e a possibilidade de ganhar dinheiro extra fizeramno pensar em dedicar-se
mais à profissão, mas o surgimento da máquina fotográfica, segundo Camargo Neto, acabou com o sonho dele. Foi então que Vicentinho começou a desenhar e a doar os retratos. “Deve estar cheio
de desenhos dele pela cidade”, diz o filho. Como poeta, escreveu para O Progresso e para revistas de Tatuí. “Vi alguns de seus poemas. Eram lindos, muito românticos, escritos em
versos meio livres, mas com uma linha melódica, um certo ritmo e certas rimas, tendendo ao modernismo, mas com raízes no romantismo”, comenta o filho. Vicentinho usava o pseudônimo “Sérgio Ribas Filho”. A visão mais à frente do tempo dele pode ser vista até na atualidade. Trata-se da fachada da casa dos Ortiz de Camargo, que possui linhas “mais arrojadas”. “Quando meu avô, Daniel da Coll, que era pedreiro na cidade, foi fazer a reforma em nossa casa, meu pai projetou uma fachada modernista que existe até hoje. É diferente de qualquer outra casa da cidade”, diz Camargo Neto. (foto na página ___________) O gosto pela música veio desde cedo, quando ele ingressou no conjunto “Chorinho Tro-lo-ló”. Vicentinho tocava cavaquinho e executava músicas consideradas difíceis, como solista.
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Amor à profissão que está no sangue
O afinamento com a música levou-o, anos mais tarde, ao Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, onde atuou como chefe de seção. Também gostava de Carnaval, tanto que, sempre que podia, frequentava a Associação Recreativa Princesa Isabel, um clube formado, na maioria, por negros. “Meu pai era um dos únicos loirinhos que pintavam por lá, e era muito querido”, lembra Camargo Neto. A associação, fundada em 4 de agosto de 1957, era o local preferido de Vicentinho, que, mesmo com a proximidade do nascimento do filho, num domingo de Carnaval, não deixou de ir ao clube com os amigos. Na ocasião, o jornalista havia saído de casa fantasiado de “dominó” (vestia um lençol xadrez que cobria o corpo inteiro). Naquele dia, Vicentinho só largou o Carnaval – e o clube da associação – porque foi avisado, por um amigo, de que o filho estava nascendo. Camargo Neto veio ao mundo no dia 19 de fevereiro, às 20h, num “breu danado”. “Naquele tempo, a luz de Tatuí advinha da Companhia Luz e Força San Juan. Não havia apagões, porque a cidade vivia apagada. De vez em quando, havia um
‘acesão’”. No jornal, Vicentinho inovou ao criar colunas, “slogans” e ao apresentar um texto jornalístico “impecável”. “Admiro a criatividade do meu pai e seu conhecimento profundo de português”, comenta o filho, que também é jornalista. O segundo diretor de O Progresso era apaixonado pela literatura e cultura em geral, habilidades “naturais” que lhe ajudaram a criar uma das colunas mais famosas, denominada “Broncas, Sugestões e Aplausos”. Também criou “slogans”, como o “Quem não anuncia se esconde”, que surtiram efeito mais do que desejado em se tratando de publicidade. A facilidade em aprender coisas novas fez com que o jornalista, mesmo sem terminar os estudos, aprendesse francês. “Papai era autodidata. Ele estudou até o antigo 4º ano primário, que equivale mais ou menos ao colegial de hoje. E sabia muito mais do que eu, que fiz faculdade de letras e me formei em português”, sustenta Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha, filha de Vicentinho. O jornalista também dá nome ao Centro Cultural Municipal “Vicente Ortiz de Camargo”.
O ‘Caxias’ da imprensa tatuiana
As veias jornalísticas brotaram na década de 30 ao imprimir as páginas no centenário prelo francês. Em cada edição, o reflexo de paixões políticas, os trabalhos da Guarda Noturna, os acordes da Corporação Santa Cruz na praça central. Timidamente, a vocação para as letras despertava com o auxílio do pai, José Ortiz, precursor do jornalismo tatuiano. A contribuição histórica do jornalista teve início em sua adolescência. Deixou as carteiras escolares do colégio “João Florêncio” por negar-se a ter aulas com um professor itapetiningano, evidenciando a tradicional rixa entre as cidades. O pai, sempre bonachão, quase aprendeu a ser metódico como o filho, que ganhou mais tarde o apelido de “Caxias”, por saber conduzir as diversas situações. Com a morte de José Ortiz, assumiu definitivamente a direção do semanário em 1944, embora em 1939 já assinasse como redator. Abraçou grandes lutas, como a conquista da Escola Normal em 1939, a concessão de bolsas de estudos para jornalistas em 1949, a instalação do Conservatório de Tatuí, em 1954, entre outras. Na reportagem sobre a instalação da Escola Normal, o redator produziu nas palavras o contentamento da população: “... rojões pipocavam incendiando os ares, as ruas se encheram de rejubilosa multidão e uma passeata se organizou e percorreu a cidade acompanhada pela Banda Santa Cruz, que também realizou concerto na Praça da Matriz...”. As dificuldades financeiras e as perseguições sofridas no jornalismo provinciano também foram “privilégios” em sua direção. Os filhos, uma certa vez, tiveram que ser transferidos da escola onde estavam pelo fato do diretor ter problemas políticos com o jornal. “Uma coisa que admiro é que papai nunca usou o jornal para benefício próprio. Até mesmo nossos aniversários não eram publicados”, declarou a filha Maria Aparecida. A ideologia do jornalista perdurou por anos. Na direção, contou com o auxílio do primo, José Nascimento, que em 1979 assinava como diretor do jornal, e da esposa que o acompanhou até o final da vida, Marina da Coll, além dos filhos Maria Aparecida, que relembra os bons momentos em que presenciava a revisão das edições, e de José Ortiz Neto, jornalista renomado em São Paulo. O ex-diretor de O Progresso, foi reconhecido como cidadão tatuiano, durante sessão solene realizada no Legislativo em 1999, por meio de projeto do então vereador Jorge Rizek. Ele diz ter nascido em Porto Feliz “por um acaso do destino”, quando em 1912, José Ortiz e Rosa Geraldini Ortiz, já grávida, partiram para o município vizinho para instalar um jornal de um conhecido da família. --------------------------------------------------------------Reportagem publicada em 11 de agosto de 1999, a partir da última entrevista de Vicente Ortiz de Camargo
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Segunda fase
Um homem com hábitos incomuns Uma das figuras mais pitorescas de sua época, José Nascimento conduziu jornal por nove anos
E
“
le parou de sair quando os amigos começaram a casar. Aí, ele acostumou. Não saía mais de casa, para nada. Mas ele tinha tudo o que queria. Eu tinha amigas que fantasiavam, achavam que ele era o ‘Conde de Monte Cristo’”. A curta descrição, apresentada por Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha, é um dos registros mais fidedignos da personalidade de José Nascimento, um dos muitos tatuianos “fundamentais” para a imprensa local. “Zé Nascimento”, como ficou conhecido, de certo modo, era solitário e sociável, duas características opostas, mas que o tornaram uma das figuras mais pitorescas de sua época. O segundo gerente da tipografia de O Progresso (o primeiro foi José Ortiz de Camargo, o “Zé Marinheiro”) nasceu no dia 19 de maio de 1926, tendo ingressado no jornal muito jovem, aos 12 anos. Com o passar dos anos, foi assumindo mais responsabilidades dentro
do então semanário. Na época dele, a composição (montagem) do jornal era feita de modo manual, com “tipos móveis” (peças de metal fundido que formavam as letras utilizadas na composição das
palavras). Os tipógrafos pegavam as letras de chumbo, uma a uma, punhamnas no “componedor”, formando as linhas. “Dali, eram montadas as páginas levadas para a máquina de imprimir”, explica José
Ortiz de Camargo Neto, primo de segundo grau de Zé Nascimento e neto do fundador de O Progresso. O processo de impressão, segundo ele, “rendia” aproximadamente 20 folhas por minuto. Nas oficinas do jornal, Zé Nascimento acompanhava o processo de impressão, que também se utilizava de material confeccionado em Sorocaba. Os “clichês” (placas gravadas em relevo sobre metal para impressão) das fotos eram feitos na cidade vizinha. “Depois, os tipógrafos tinham de desmontar as páginas, lavando os tipos com querosene e distribuindo-os de volta às suas respectivas caixas”, conta Camargo Neto, que, assim como o pai e o avô, também se tornou jornalista. Além da produção, Zé Nascimento cuidava da contabilidade do impresso, ao lado de Vicente Ortiz de Camargo, o “Vicentinho”. “Foi uma dupla que deu certo. Eles eram primos, e cresceram juntos em nossa casa”, diz Camargo Neto.
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Um homem com hábitos incomuns
De “vez em sempre”, organizavam mutirões para a dobragem do jornal, ação que envolvia funcionários, familiares, amigos e convidados deles. O relacionamento entre os dois começou a estreitar-se depois que Zé Nascimento perdeu o pai, João Ortiz de Camargo, irmão de Zé Marinheiro. Como a mãe dele (Benedita do Nascimento) havia tornado-se viúva e possuía outras duas filhas, ela teria pedido a Zé Marinheiro que o criasse, pois não tinha condições de sustentá-lo. A história que consta no livro “Ilustres Cidadãos”, dos jornalistas Renato Ferreira de Camargo e Christian Pereira de Camargo, está na memória de Cidinha. Segundo ela, Zé Nascimento foi recebido “como se fosse filho” de Zé Marinheiro. Em O Progresso, ele iniciou a carreira profissional como aprendiz de tipógrafo, como a grande maioria dos que passaram pelo semanário. Em 1938, por conta do “caráter artesanal” do impresso, Zé Nascimento passou a realizar diversas outras funções, como endereçar e até mesmo entregar as edições aos assinantes. A mesma obra aponta o tatuiano como “autodidata, aficionado pela leitura e situando-se como pessoa bem informada”. “Ele era bastante sociável, gostava de conversar, dos amigos. Tinha conhecidos que vinham de longe, alguns da
cidade de São Vicente. Ele só não queria sair de casa, só isso”, conta Cidinha. Por conta do bom relacionamento que Zé Nascimento mantinha com as pessoas que conhecera ao longo dos anos, a casa dos Ortiz de Camargo era sempre bem frequentada. Segundo Renato Ferreira de Camargo, a lista incluía intelectuais da época, como o filósofo Walter Silveira da Mota e o engenheiro Armando Petinelli (que administrou por décadas a Estação Experimental de Tatuí). Antes de viver “na clausura” – fato que lhe rendeu o famigerado apelido de “Conde de Monte Cristo” -, Zé Nascimento “experimentou” a vida noturna de Tatuí. “Quando jovem, ele saía muito, chegava até a amanhecer na rua”, relata Tereza da Coll. “Quando viu os amigos se casarem, quis ficar só em casa. Ele tinha, mais ou menos, uns 40 anos quando parou de sair”, adiciona Tereza. Como permanecia somente dentro de casa, Zé Nascimento passou a dedicar-se mais ao jornal, o que lhe rendeu a função de chefe dos tipógrafos. Em 1960, aos 34 anos, tornou-se gerente do então semanário. A “promoção” aconteceu no mesmo período em que o primo e então diretor, Vicentinho, iniciou os trabalhos no Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”. Naquela época, Vicentinho
dividia-se entre o jornal e a escola de música, fato que o fez transferir, em cartório, a oficina de tipografia e o jornal à esposa dele, Marina da Coll Camargo, e ao primo, Zé Nascimento, porém, assumiu de vez o jornal (acumulando a gerência e a direção do então semanário) 11 anos mais tarde, em janeiro de 1971. Na edição do dia 3 daquele mês, nota publicada na capa anunciava a novidade: “Motivos de natureza particular, imperiosos, levaram o sr. Vicente Ortiz de Camargo a deixar, a partir de hoje, a direção deste jornal, a qual passa a ser exercida pelo sr. José Nascimento, cumulativamente com a gerência. Muda o comando, mas não se altera a linha até aqui seguida por ‘O Progresso de Tatuí’, que prosseguirá sendo um órgão essencialmente informativo, de vida própria, sem qualquer vinculação político-partidária; um jornal que não é contra ninguém, mas a favor de Tatuí”. Mais ou menos nessa época, ele deixou de vez a vida boêmia e começou “um longo período de clausura”. Como os amigos haviam parado de frequentar os bares (a maioria deles porque havia casado), ele resolveu não sair mais de casa, segundo conta Cidinha. “Ele ficou sem colocar os pés na rua por muito tempo”.
Walter Mota
Num primeiro momento, a decisão surpreendeu a família. Thereza da Coll lembra que, até então, Zé Nascimento costumava frequentar ambientes fora de casa sempre que podia, após os afazeres do jornal. “Ele chegava a amanhecer na rua. Certa vez, ficou doente, e as pessoas diziam que ele iria ficar tuberculoso”, lembra. Com o tempo, o gerente e diretor de O Progresso passou a acostumar-se àquela situação. A tal ponto de nem precisar deixar a casa para comprar o que precisava e o que gostava. Tinha como “paixão” os selos. Algumas das raridades eram trazidas para ele de São Paulo. Em alguns casos, encomendadas por telefone. Cidinha, em outras oportunidades, buscava em São Paulo os selos colecionados por Zé Nascimento. Além das estampas, ele comprava (ou pedia) tudo o que necessitava sem
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Um homem com hábitos incomuns
precisar pôr os pés na rua. “Tuimprimir os nomes dos leitores na do nós comprávamos para ele. capa do jornal. Algumas coisas nós trazíamos, “Interessante é que ele não só graoutras ele encomendava por tevava os nomes dos assinantes, mas lefone e os empregados do jornal inseria os novos endereços dentro iam buscar”, lembra Cidinha. de uma sequência dividida por parCerta vez, segundo a profestes de entrega. Ou seja, ele conhesora, Zé Nascimento chegou cia mais o ‘mapa’ da cidade do que a encomendar um “barbeador qualquer um, mesmo sem sair de feminino”. “Ele queria comcasa”, lembra Ivan Camargo, atual prar um depilador elétrico para editor e que, na época, com 11 anos, mim. Ligou na Casa dos Preera ensinado por Nascimento a “ensentes e pediu que trouxesdereçar” os jornais, utilizando-se sem”, lembra ela. de uma máquina que carimbava as Tanto as compras eram co“chapinhas” nos exemplares. muns como as presenças de “É muito gratificante saber que amigos. Zé Nascimento vipassei a fazer parte de O Progresvia “rodeado” deles. Era tão so, praticamente, com a mesma idaquerido que recebia o carinho de que o Nascimento, e que por ele até mesmo de pessoas com as tive contato com os primeiros trabaquais deixara de manter convílhos comuns dentro de um jornal”, vio ao longo dos anos. comenta Camargo. A saída de casa aconteceu “Ver como ele fazia tudo com exsomente quando a família Ortrema seriedade e, ao mesmo tempo, tiz de Camargo vendeu o pecom bom humor, serviu-me como riódico. Com a transferência exemplo de profissionalismo”, afirma. dos equipamentos para a praça “Além disso, ele era daquelas pessoas Adelaide Guedes, Nascimento que falam de igual para igual, mesmo teve de ajudar na remontagem com um moleque. Ao mesmo tempo da máquina de impressão e na em que ensinava, pegava no pé como organização dos demais se faz com qualquer adulto. materiais tipográficos. Ou seja, ele educava de A partir de então, verdade, acentuando semanalmente, o valor do trabaera levado – de lho. Não tratava carro ou táxi crianças como – até a nobobinhos incava redação, pazes”, cononde atuclui Camargo. alizava a O jornalisrelação de ta faleceu assinaturas, às vésperas por meio do Natal de da confec1996, no dia ção de pe23 de dezemquenas chabro daquele pas em relevo ano, aos 70 anos, com o nome e sem casar e sem ter Armando Petinelli endereço de cada filhos. um, utilizadas para
O apelido atribuído a José Nascimento, o “Zé Nascimento”, por Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a “Cidinha”, refere-se ao livro “ O Conde de Monte Cristo (1845)”, escrito por Alexandre Dumas, um dos mais famosos romancistas franceses da história. A obra versa sobre a condenação e encarceramento de um inocente, motivados por conveniência de pessoas envolvidas no retorno de Napoleão da Ilha de Elba para recuperar o trono perdido. Como no livro, Zé Nascimento ficou enclausurado em casa, mas por vontade própria.
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História vivida do Progresso de Tatuí ou Memórias do fundo do baú
O
som da Marinona ainda soa em meus ouvidos. Tac-ta-tac, ta-tac-ta-tac... A velha máquina de imprimir, com nome de mulher no aumentativo, é na verdade uma francesinha negra retinta, que brame, ruge, resfolega, sempre na mesma toada. Feita de puro ferro maciço, nasceu em Paris, possivelmente no século XIX. Por que lugares terá passado, e quantos papéis terá impresso antes de chegar a Tatuí? Zé Nascimento, em pé, barbudo, boina de lã azulmarinho na cabeça, pulôver vermelho, avental de brim azul-claro sujo de graxa, vai municiando a máquina com papel, como faz todas as semanas, às quintas e sextas-feiras, de manhã até a noite. Misturado à música da Marinona, há um cheiro de tinta no ar. Num canto de parede perto do teto, uma aranha embrulha um mosquito apanhado na teia. Zé Nascimento gosta de deixar
José Ortiz Camargo Neto
A “Marinona”, ladeada por José Nascimento, José Teixeira de Almeida, José Paulo de Moraes e João Batista de Moraes
as aranhas em paz, porque comem os mosquitos. De vez em quando o gerente do Progresso molha a ponta dos dedos num vidrinho com vaselina, para pegar o papel com mais facilidade. As folhas, engolidas pela
máquina, vão saindo do outro lado, pintadas de notícias, 20 por minuto, duas páginas de cada vez, tudo em preto e branco. Pessoas andam apressadas pela oficina. Escuto o farfalhar dos aventais. Com olhos atentos,
observo as engrenagens, o motorzinho elétrico que move a grande roda de ferro que movimenta todo o resto, o tinteiro, os rolos de borracha, as páginas de tipos de chumbo com clichês feitos em Sorocaba, as folhas impressas com
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História vivida do Progresso de Tatuí
tinta fresca, que saem pela outra extremidade. Devo ter oito anos e estou vendo, como toda semana, a história da cidade ser impressa, ali mesmo, para todo mundo ler. Isso depois de eu ter visto, na sala de redação, meu pai sentado na cadeira giratória, diante de uma pequena mesa com gavetas a escrevê-la numa pequena máquina portátil, cuja marca nem lembro mais. Realmente, é um privilégio nascer dentro de um jornal. Dentro?!? Ora, direis, certo perdeste o senso... Para estes, esclareço que não nasci na mesa da oficina, nem minha fralda foi uma página de esportes com notícias do XI de Agosto x São Martinho. O que desejo significar é: 1) minha mãe teve em nossa casa o bebê que hoje vos escreve (tão mal); 2) debaixo do nosso mesmo telhado funcionavam, além dos ninhos de pombas, a redação e a oficina do Progresso de Tatuí. Foi assim que eu cresci, entre as carícias e beliscões de minha irmã, as caixas de tipos, os beijos e as varadas de marmelo de minha mãe, o cheiro de querosene, as brincadeiras e as broncas de meu pai, os fardos de papel e a música semanal da Marinona - isso quando não estava jogando futebol e soltando pipa no campinho da cadeia, com personagens conhecidos de
todos, como Zezinho Reiner, Rochinha, Paulinho Pires, Minhoca, Netinho Salum e Chiquinho da Imaculada. Para os da geração internet informo que o campinho da cadeia era, nos anos 60, esse jardim que hoje está em volta do Museu Paulo Setúbal. Naquele tempo não havia árvores, nem gramado, nem bancos.
Marina da Coll. Quando a máquina emperrava, o Zé a alisava e dizia meigamente: - O que foi Marinona? Funcione vai... E não é que ela funcionava mesmo? Por isso o Zé Nascimento dizia com razão que é preciso dar amor também às máquinas, pois a raiva não resolve nada... Quando eu nasci, na metade do século passado
Hotel Del Fiol, na década de 50, então frequentado por Vicente Ortiz
O prédio do museu era um triste edifício cinza-claro, prisão com janelas quadradas protegidas por grades de ferro, de onde os presos espiavam um pouco a liberdade. Em volta dele, só canteiros de terra solta, que eram os nossos campinhos de futebol. As ruas, muitas delas, inclusive a da frente de minha casa, também eram de terra vermelha. Marinona foi o nome que o Zé Nascimento deu à máquina de imprimir, em homenagem à minha mãe
(credo, estou no século seguinte!), o jornal já tinha 28 anos. Não conheci seu principal proprietário e diretor, meu avô José Ortiz de Camargo, vulgo Zé Marinheiro, que morreu quatro anos antes de eu nascer. Portanto, quando eu vim para este mundo, num domingo de Carnaval, em plena noite gorda de folia, meu pai Vicente é que tomava conta do jornal. Não naquela noite, claro. Meu pai era dado a pular Carnaval, dom que eu e minha
irmã Cidinha também herdamos, com muita honra e felicidade. Gostava ele de dançar no Clube Tatuiense, no Recreativo e no Princesa Isabel, o chamado Clube dos Pretos, onde o povo gostava muito de meu pai, e da minha mãe loirinha que lá ia sambar com ele. Pois bem, naquele 19 de fevereiro de 1950, minha mãe grávida em casa não podia sambar, mas meu pai já tinha vestido o dominó para cair na farra. Desse modo, como toda mulher esperta, ela resolveu dar à luz naquela noite mesmo, para fisgar meu pai de volta para casa. Na Praça da Matriz, inebriado com os amigos boêmios, Vicente Ortiz ficou sabendo por malfadados emissários que eu estava nascendo. Não sei se riu ou se chorou, mas voltou correndo para casa. Minha mãe não deu bem à luz, deu à lua, porque naquela noite teve apagão. Ou vocês pensam que essa praga é moda só dos tucanos? Em Tatuí, naqueles anos 50 em que reinava a Companhia San Juan de Eletricidade (que a terra lhe seja leve!) a luz mais apagava do que acendia. Apagão era termo que ninguém conhecia. Uma vez que o escuro era normal (como acontece no Brasil inteiro hoje), de vez em quando tínhamos um acesão. Naquela noite não acendeu, portanto, nasci à
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História vivida do Progresso de Tatuí
luz de velas e lamparinas. O que pretendo contar aqui, porém, não é nada disso. É, sim, explicar como meu pai fazia o Progresso de Tatuí, da perspectiva de uma testemunha ocular (eu) que presenciou vivendo tudo. Isso porque a história do jornal está irremediavelmente ligada à vida de Vicente Ortiz de Camargo... Para fazer O Progresso, meu pai levantava-se todo dia às cinco e meia; às seis saía para uma caminhada de alguns quilômetros. Evitava ladeiras, gostava de ruas planas. De volta a casa, banhava-se, fazia a barba, tomava café, leite, pão e manteiga e começava a trabalhar. Só parava às dez, onze da noite. Era um homem sadio, por ser um homem de ação. Exercitava-se todo dia, era alegre e animado, sempre em atividade, além de ter uma boa vida social, principalmente no Hotel Del Fiol, onde se reuniam os intelectuais, os literatos, os artistas e os boêmios da cidade. Ainda hoje comento com meus amigos de São Paulo que meu pai, mesmo vivendo no interior, parecia morar na capital, porque seu ritmo de vida era igual ao de um morador da pauliceia desvairada. Levantava cedo, dormia tarde, estava sempre apressado. Evitava almoçar com a família, para não perder tempo conversando. Só depois que
eu, a Cidinha e minha mãe havíamos saído da mesa, ele sentava-se e almoçava, pondo apressadamente os bocados um atrás do outro. Creio que não gastava mais do que 15 minutos para tomar a refeição, diferentemente dos domingos, quando ficava mais de uma hora na mesa, junto com toda família, rindo, conversando, contando piadas. Vicente Ortiz escrevia os artigos, colunas, as notí-
gente comentou: o Vicentinho não vai conseguir tocar o jornal. O pai dele sim, era bom, mas ele... Pois daí eu disse: vou provar pra essas pessoas do que sou capaz! A verdade é que meu pai trouxe um grande progresso ao Progresso. Antes de eu nascer, o jornal era feito manualmente num velho prelo que, dizem alguns, foi dos primeiros do país. O Progresso, inicialmen-
Edifício da Casa de Cultura “Paulo Setúbal”, em 1930, então cadeia e fórum...
cias, diagramava o jornal, via as contas, os problemas com assinantes etc. Tudo na hora do almoço, do meio-dia às duas, ou à noite, pois nos outros horários trabalhava como chefe de seção no Conservatório. Certa vez meu pai comentou comigo porque se dedicou tanto ao jornal, mesmo nas épocas em que ele dava prejuízo, em que era preciso tirar dinheiro do bolso para fazê-lo ir às ruas: - Quando seu avô estava velho - disse-me ele -muita
te, era apenas uma folha impressa dos dois lados. Vi essa prensa de ferro, também francesa (Coisne France de Paris) que era montada sobre uma cruz de madeira maciça. Para imprimir, meu avô e meu pai punham uma folha sobre a página, apoiavam um pé na madeira e puxavam uma alavanca, fazendo girar uma rosca e descer uma placa que comprimia o papel. O esforço era tal, que até hoje vê-se a madeira afundada no lugar onde se
apoiava um dos pés. Meu pai, depois que assumiu o jornal, equipou-o com caixas de tipos novas (havia de todas as marcas, Garamond, Times, Courier, e de todos os corpos, desde as letrinhas miúdas corpo 7 até as gordonas, corpo 36 ou 48, para títulos e manchetes). Porém, a maior alegria dele foi quando, após juntar dinheiro por anos a fio, comprou, não sei bem em que cidade, a Marinona. Era uma impressora também manual, mas bem mais eficiente que o prelo. O impressor movia a máquina segurando numa manivela e fazendo girar uma grande roda. A máquina veio desmontada, mas meu tio Sílvio Geraldini, genial mecânico da cidade, montou-a em uma semana, somente vendo um retrato dela - e ainda adaptou umas réguas de madeira que lançavam os papéis impressos para fora. Não satisfeito, Vicente Ortiz comprou um motorzinho elétrico, adaptou umas correias à roda e pronto - a Marinona estava eletrificada, bem mais rápida e eficiente. O jornal, nas mãos de meu pai, foi aumentando o número de páginas: 4, 8, 10, 12, 16, 18... E também cresceu na tiragem, chegando a milhares de exemplares por semana. É de ressaltar que também a periodicidade melhorou: de
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mensal passou a quinzenal até circular uma vez por semana, aos domingos. Vendo outro dia o livro de contabilidade que meu pai fazia, percebi o esmero, o capricho com que escrevia, com sua Parker 51, letra muito bonita. Com que gosto fazia o jornal, a empresa de sua vida! Se alguém me perguntasse: - você que conheceu, como era o dono do Progresso? Eu diria que era várias pessoas em um. Explico já. Certa vez, li um poema que dizia mais ou menos assim: “Éramos três em torno à mesa, três que a vida, em sua trama de paixões urdida, unira no mesmo afeto e na mesma viuvez: um músico, um pintor e um poeta, éramos três”. Pois bem, posso dizer que meu pai reunia esses três em um. Pintor era ele, pois ainda existem, espalhados pela cidade, retratos que ele pintava em branco e preto; aliás estudou desenho e pintura, quando moço. Poeta também era, pois O Progresso de Tatuí e algumas revistas da cidade têm gravados seus poemas, plenos de lirismo, que às vezes assinava com o pseudônimo de Sérgio Ribas. E músico, todos sabem que foi, tocando cavaquinho no grupo de chorinho Trololó, que fez sucesso por Tatuí e cidades vizinhas. E foi mais: jornalista completo, isto é, repórter, redator, copidesque, cronista, fotógrafo, diagramador, gráfico e impressor, além de ser empresário, diretor e administrador. Eu diria como Milton Neves: fazia escanteio, cobrava o corner, corria e cabeceava ao mesmo tempo. Se me perguntassem mais, eu diria que meu pai, como todos nós, errou bastante, mas acertou bastante também. A razão de seu sucesso é que acertou mais do que errou. E isso se refletiu no Progresso, que entre falhas e acertos teve e tem mais acertos na balança, firmando-se como um
indiscutível êxito editorial. Meu pai caracterizou-se pela criatividade, sendo dele esta frase: Quem não anuncia se esconde!, sendo depois copiada, como vi, na Capital. Os nomes que dava a suas sessões eram também bastante originais, como a coluna Broncas, Sugestões e Aplausos, destinada a recolher a opinião dos leitores. O Progresso de Tatuí, em seus 80 anos de vida, trouxe muito estímulo à vida cultural da cidade, noticiando os fatos, revelando as personalidades tatuianas, retratando as atividades deste centro artístico internacional que é o Conservatório, documentando os sentimentos, as ideias, as entrevistas, os debates políticos, os artigos de colaboradores, as poesias, os ensaios filosóficos do saudoso Walter Silveira da Mota, as contribuições riquíssimas de Maurício Loureiro Gama, as entrevistas-relâmpago e os poemas do repórter-sertanejo José Teixeira de Almeida... O jornal lançou nomes, divulgou a cultura e simultaneamente
espelhou a alma da cidade. Poucos sabem quanto de abnegação e verdadeiro heroísmo são necessários para manter um empreendimento como o jornal O Progresso de Tatuí, no interior do Estado, numa economia instável e sobretudo debaixo das tempestades da censura do Estado Novo e na ditadura militar pós-64. Por isso, é muito bom saber que foi meu pai quem durante muitos anos imprimiu aos domingos, não só o Progresso de Tatuí mas também o progresso de nossa cidade. Feliz aniversário e vida longa ao Progresso de Tatuí, a todo seu corpo de jornalistas, funcionários e colaboradores, a todos seus anunciantes, leitores e assinantes, aos abnegados Ivanzinho e Ana, que não deixam morrer esta chama! Há muitos mais para contar, mas fica para a próxima festa! Artigo publicado em 11 de agosto de 2002, por conta dos 80 anos de O Progresso de Tatuí
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Agentes do Progresso
... e prédio histórico na época citada por Neto (ainda com muros), em 1966
‘Maurício Loureiro Gama começou aqui, para nosso orgulho’ Semana Paulo Setúbal Nome de praça é alterado Tatuí ‘Cidade Ternura’ Premiando talentos no Natal
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‘Maurício Loureiro Gama começou aqui, para nosso orgulho’ Cidade celebra centenário de nascimento de Maurício Loureiro Gama; importante nome na história do jornalismo iniciou na redação de O Progresso
O
s 50 anos de funcionamento do jornal O Progresso coincidiram com outro jubileu: os 40 anos de carreira de Maurício Loureiro Gama, um dos mais importantes jornalistas da história do país. Uma única celebração marcou ambas efemérides em coquetel, na redação do jornal, com direito a presença de personalidades e autoridades. Na ocasião, uma placa foi inaugurada com pompa. Instalada na redação, ela registrava: “Maurício Loureiro Gama (40 anos de jornalismo) começou aqui, para nosso orgulho”. A placa expressava uma sensação da comunidade, que é até hoje sentida. Em especial no ano em que se celebra seu centenário de nascimento. Mauricio Loureiro Gama nasceu em Tatuí em 18 de agosto de 1912. Filho do farmacêutico Teophilo de Andrade Gama e da professora Anésia Loureiro Gama, foi o primeiro âncora de entrevistas do Brasil e de toda a América Latina. Foi também
o primeiro jornalista a fazer um comentário político na extinta TV Tupi, no dia da primeira transmissão televisiva brasileira, em 18 de setembro de 1950. Maurício perdeu o pai muito cedo, depois de ele ter sofrido um choque elétrico ao atender um telefonema em sua farmácia. A mãe e o avô foram as grandes figuras da vida dele - e, também, de seus três irmãos. Foi o avô, tropeiro, que, inclusive, o motivou: “Vai ser doutor lá em São Paulo”. Maurício ingressou na Faculdade de Direito da Universidade São Francisco, tendo cursado até o terceiro ano (e, mais tarde, completado o curso). Era um escritor apaixonado. Seu primeiro contato com o jornalismo aconteceu por meio de O Progresso, jornal que ele passou a frequentar a partir dos 16 anos de idade e no qual atuou por alguns anos até ser contratado pelo “Correio de São Paulo”, aos 21, permanecendo por pouco tempo. Em seguida, ingressou nos Diários Associados, fundado
por Assis Chateaubriand, onde permaneceu por 35 anos como jornalista e cronista do “Diário da Noite” e “Diário de São Paulo”, tendo passado também pelo “Correio Paulistano”, “Gazeta” e “A Hora”. Sempre trabalhou em vários jornais ao mesmo tempo, indo, durante todo o dia, de um jornal para o outro. Chegou a ter sete empregos ao mesmo tempo. Iniciou a carreira como cronista na Rádio Tupi. Suas crônicas políticas e de atualidades foram também narradas em programas das rádios Difusora, Record, Bandeirantes, Gazeta e Capital. Na Tupi, inclusive, era Homero Silva quem lia seus textos no programa noturno chamado “Ponta de Lança”. Ao todo, escreveu mais de 10 mil crônicas. Na televisão, apresentou o célebre programa “Pinga Fogo”, ao lado de Aurélio Campos e Carlos Spera, entre outros. Entre os
convidados do programa por ele mediado, estiveram Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart, John Kennedy, Charles de Gaulle, Giovanni Gronchi, Kruchov e Fidel Castro. Foi funcionário da TV Tupi de 1950 a 1968, e em 1969 começou a trabalhar na TV Gazeta, com um programa diário até 1970, ao lado de seu grande amigo Paulo Bomfim, o “Poeta de São Paulo”. Mauri-
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‘Maurício Loureiro Gama começou aqui, para nosso orgulho’
cio também trabalhou na TV Bandeirantes por quatro vezes, e na TV Record. Entre seus programas, destacam-se: “Ponta de Lança”, “Edição Extra” e “Jornal do Meio Dia”. Escreveu ainda para o “Correio Paulistano”, “A Gazeta” e o “Clarín”, da Argentina, além de periódicos uruguaios. Faleceu em 2 de agosto de 2004, aos 91 anos, sendo sepultado no cemitério Cristo Rei, em Tatuí. Foi casado por duas vezes: a primeira, com Stella de Campos Gama, com quem teve três filhos: Teófilo, Maurício e Ana Lúcia de Campos Gama; e, depois, com Fiammetta Emendabili Loureiro Gama, advogada, com quem viveu até os últimos dias de vida.
Maurício Loureiro Gama no 1º Programa de TV, em 19 de setembro de 1950
Mais um dever que se impõe Maurício Loureiro Gama
Em todos os rincões da pátria, processaram-se, a 3 de maio, as eleições para a Assembleia Constituinte. E em S. Paulo – coração e cérebro do Brasil, a avalanche de civismo, sobre ter sido grandiosa, ofuscou, obscureceu todas as manifestações de igual caráter, oriundas de outras glebas. E agora, que ainda nos sentimos deslumbrados ante esse “jorro de luz”, agora, que o amanhã de nossa terra se apresenta radiante, urge, como uma necessidade do destino, com o poder dum determinismo psicológico, que se voltem todos os olhos para aqueles que padecem no exílio, que curtem as agruras do desterro, em terras longínquas. O momento é de repouso de espíritos. O crepitar das paixões está se amainando, pouco a pouco. E a anistia, para que todos os brasileiros respirem livremente, se apresenta como uma necessidade, no momento. Porque num país como o nosso, onde a civilização atingiu, já, um alto e significativo exponencial, é uma injustiça imperdoável conservar-se em degredo, um pugilo de varões ilustres, tão somente porque idealizaram, consciente e sincera-
mente, um Brasil forte, estribado na lei básica. Rui Barbosa – o mestre imortal, legou-nos uma página brilhante, na qual frisa, magistralmente, o conceito de civilização, dizendo que “toda civilização se encerra na liberdade, toda a liberdade na segurança dos direitos individuais. O estado social que não estriba nesta verdade, é um estado social de opressão: a opressão das maiorias pelas minorias, ou a opressão das minorias pelas maiorias, duas expressões em substância irmãs, da tirania, uma e outra ilegítimas, uma e outra absurdas, uma e outra barbarizadoras.” Esqueçamo-nos, em parte, o passado. Deixemos de lado as vinganças partidárias, o ódio acirrado pelo fogo destruidor das paixões políticas. E pugnemos para que dentro em breve possamos ter, entre nós, de novo, a batalhar e colaborar para a grandeza do Brasil, essa falange de idealistas, que ora padece, amargamente, no degredo. Teremos cumprido, assim, com altanaria, um dever de consciência.
Primeiro texto assinado por Maurício Loureiro Gama em O Progresso. Edição número 517, de 14 de maio de 1933.
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Semana ‘Paulo Setúbal’ O Progresso encabeçou mobilização em homenagem ao escritor
O
jornal O Progresso esteve à frente das mobilizações para iniciar homenagens ao escritor Paulo Setúbal. Além de divulgar a ideia da celebração e incentivar os líderes locais a fazê-la, o periódico deu amplo espaço às primeiras iniciativas. Em edição datada de 24 de outubro de 1943, o jornal publicava: “Os nossos meios sociais e culturais movimentam-se neste instante a fim de concretizar uma ideia felicíssima e altamente simpática, que bem merece a unânime aprovação dos tatuianos, a de render homenagem a Paulo Setúbal - o escritor imortal que é um padrão de orgulho para o Brasil e particularmente para Tatuí, sua terra natal.” Já na edição seguinte, de 7 de novembro, O Progresso divulgou em nota de capa a ação que duraria até os dias atuais: um concurso literário entre os alunos locais, a fim de preservar a obra de Setúbal. “Por iniciativa do Grêmio Paulo Setúbal, acaba de ser instituído um concurso literário entre os alunos do Colégio e Escola Normal, versando os trabalhos sobre o tema ‘Paulo Setúbal e Tatuí de hoje’”, anuncia-se. Os prêmios: ao primeiro colocado coube 100 cruzeiros e ao 2º, 50 cruzeiros. O vencedor do primeiro prêmio
foi Jorge Ferreira (integrante da própria equipe de O Progresso). Na edição de 14 de novembro, a ideia é elogiada: “As primeiras reações à ideia de se fazer anualmente uma homenagem a Paulo Setúbal vão surgindo. O Grêmio ‘Paulo Setúbal’, por iniciativa de seu presidente Lazaro Geraldo Pacheco, organizou um concurso que será, sem dúvida, o marco inicial de uma competição que, nos anos vindouros, irá demonstrar a capacidade literária de nossos moços”. Desde essa época ficou determinado que as comemorações seriam anuais sempre próximas a 11 de agosto (mas a primeira edição ocorreu em dezembro de 1943, no Clube Recreativo). Logo nessa edição, conferencistas foram convidados para ministrar temas relacionados a Setúbal, sendo o embaixador José Carlos de Macedo Soares, convidado a abrir o evento. Uma comissão foi nomeada para organizar as atividades em diferentes áreas, todas voltadas a Setúbal. A comissão era formada por Fernando Guedes de Morais (coordenador), Paulo Silvio Azevedo (teatro), Nacif Farah e Ritinha Holtz Stadler (música), Francisco Hoffmann, Ari Villa Nova, Adão Bertin e Alberto Stape (social), Carlos de Morais (propaganda radiofônica), Lazaro Pacheco (auxílio dos alunos em pesquisas para o concurso) e Jorge Ferreira, de O Progresso (imprensa). A partir do ano seguinte, páginas inteiras foram dedicadas à divulgação das atividades da já denominada Semana “Paulo Setúbal”, em agosto. A comissão de trabalhos - que ia de música a educação física - era formada por mais de 30 pessoas. O Progresso, até a atualidade, divulga os trabalhos literários vencedores do Prêmio “Paulo Setúbal”.
Legado do Progresso
Nome de praça é alterado Por sugestão do jornal, nome de praça foi mudado em homenagem a Paulo Setúbal
A
pós a morte de Paulo Setúbal, na edição de 16 de maio de 1937, editorial de capa de O Progresso sugeria homenagem ao escritor. A sugestão foi acatada e o nome da praça João Pessoa passou a ser Paulo Setúbal. “Esta sugestão não tem a intenção de menosprezar a memória, certamente para muitos saudosa e respeitável, do atual homenageado. Não. Apenas queremos render um preito sincero de admiração ao inesquecível Paulo Setúbal, legítimo tatuiano, não só pela sua certidão de nascimento, como pelos seus gestos e atitudes em vida”, cita o texto.
Outras nomes
O prestígio de O Progresso era tanto que nomes de outros logradouros também foram considerados, a partir de sugestão do jornal. Após a instituição da praça Paulo Setubal, o periódico traz, em 6 de junho de 1937, outra sugestão: “E o nome querido de Eugênio Santos? O mestre insigne de tantas gerações de tatuianos, também merece, tanto como Paulo Setubal, figurar numa das nossas ruas. Ademais, a homenagem seria mais a Tatuí do que a ele próprio”. O nome foi dado a uma importante escola do município.
Praça Paulo Setubal em 1937
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Tatuí ‘Cidade Ternura’ Artigo publicado em O Progresso origina legado de alcunha emblemática
A
rtigo especial de Osmar Pimentel, desenvolvido para O Progresso de Tatuí, eternizou o município como “Cidade Ternura”. Sem nunca ter visitado a cidade, mas sonhando com os muitos elogios que o amigo Maurício Loureiro Gama fazia
ao município, Pimentel comparou Tatuí a uma noiva (e seus algodoais, a um véu), uma verdadeira “promessa de felicidade”. Descreve seu desenvolvimento e detalha sua paixão pela cidade, “a que não conhecia”. O artigo, publicado em 14 de outubro de 1934:
Uma visão da Tatuí que não conheço Osmar Pimentel
Há duas maneiras de sentir-se o desconhecido: a que vem do espírito e a que o coração filtra. Ambas marcam flagrantes de revelações suspensas à emotividade que acorda. O espírito, porém, é sempre uma lente deformadora: reflete as impressões hierarquizando-as na disciplina das compreensões amargas. E o coração amplia. Dentro do seu modo de sentir cabe todo um ritmo de milagres e de assombros cadenciando a poesia da ternura. O meu coração apresentou-me a Tatuí. Foi numa noite em que me evadi, pelos braços da simpatia, e durante uma hora de reflexões sutis, até a Cidade Ternura. Não havia estrelas na monotonia-cor de saudade do céu paulistano. E eu levava, assim, na viagem cheia de sortilégios imprevistos, a ansiedade dos que intentam achar na contemplação do infinito a solução boa para os desencantamentos da vida... Há certas cidades que são como certas mulheres: uma promessa de felicidade... A Cidade Ternura me pareceu ser assim. Eu a vi sob a grinalda dos algodoais imensos, cantando esperanças dentro da moldura risonha das floradas deslumbrantes. E a senti profundamente
humana vendo-a denunciar, num pudor discreto de rosais, toda a alegria que lhe vinha do beijo branco do solo fecundo. Comoveu-me a visão do himeneu maravilhoso. E eu mais cerrava os olhos do espírito - estáticos - ouvindo a musicalidade da marcha nupcial que o suor honesto dos homens e o suavíssimo sorriso das mulheres surdinavam. A natureza era tudo um campanário cujas ogivas fossem árvores altas, altas como devem ser as aspirações das árvores pensativas... E a voz vibratil dos pássaros alegres ia, numa unção litúrgica, repercutir longe, até onde começava a sumir as fumaradas dos lares felizes. E eu me pus a recordar a infância da Cidade Ternura. Vi-a quando era apenas um sonho da natureza à espera da vida de homens para se humanizar. Lembrei-me dela quando começou a ter tradições - as tradições que têm todas as cidades do estado engrandecido por aqueles homens famosos que usavam botas e chapéus largos... Vi-a, depois, discutindo política e rezando as preces que a doçura de Anchieta semeou para purificar o sentimentalismo brasileiro. E a vejo agora: uma grande cidade.
Ostentando beleza no traçado das ruas e nas linhas amenas dos prédios discretos. Sofrendo na tragédia anônima da alma dolorosa das suas ruas. (Ah! a tragédia e a alma dos “pedrinhos” que se foram!...). Ouvindo o bulício renovador de teares fabulosos. Amando a arte pelo espírito dos seus filhos que procuram, no consolo dos livros, um derivativo para o prosaísmo da época utilitária. Fazendo o elogio da Terra nas suas fazendas, onde assombramentos lendários espantam a valentia dos caboclos seresteiros. E sonhando com as divinas redenções da própria alma... Eu vi, assim, - toda ela - a Cidade Ternura, que o meu coração me diz ser o apelido íntimo de Tatuí. (A noite paulistana, cheia de brumas. Não havia estrelas no céu de vidro escuro.) ... A Cidade Ternura era, para o meu deslumbramento pagão, uma alvorada entontecida da serenidade branca dos algodoais imensos. Eu tive, quando a visão desapareceu, a certeza de que havia ainda, cintilando nas minhas retinas maravilhadas, uma esteira de astros. Não cerrei os olhos. Vivi, então, a luminosidade do sonho bom.
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Legado do Progresso Legado do Progresso
1995
Vencedora: Ana Paula Miranda (8ª série)
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Vencedora: Priscila Bastos Planello (2ª colegial)
Vencedor: Erasmo da Rosa (8ª série)
Escola: Eugênio Santos
Escola: Colégio Objetivo
Escola: Colégio Adventista
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Premiando talentos no Natal
2002
eles, um curso de computação, uma calça jeans, um par de tênis , um relógio de pulso, um rádio gravador e R$ 150. “Considerando-se a carência de estímulos na área cultural, o propósito deste concurso não é só produzir uma edição especial diferenciada, mas também estimular o talento e o interesse das crianças pela literatura e pela arte”, afirmou, à época, Ivan Camargo, editor de O Progresso e idealizador do Concurso de Natal. Já no primeiro ano, o concurso registrou 356 participações. A seleção dos seis vencedores e de outros 15 trabalhos publicados ficou a cargo da professora, advogada e escritora Leila Salum Menezes da Silva, na categoria texto, e dos artistas plásticos Jaime Pinheiro e Fábio Antunes dos Santos, o Binho, em desenho. “É muito oportuno que a criança aprenda a consciência do Natal. Como muitos trabalhos em que não foi apenas escrito sobre a festa, mas também a pobreza. A maioria das crianças primou não só os brinquedos, mas os problemas, como a miséria, a fome. Principalmente os textos de alunos das escolas de periferia estão muito conscientes da realidade”, comentou a professora Leila, naquele ano.
Vencedora: Adriele Juliana de Assis (categoria: 7ª e 8ª série) Escola: EE “Professora Semiramis Turelli Azevedo
refletirem sobre os verdadeiros valores natalinos. Em 17 anos, a iniciativa registrou 33.673 trabalhos inscritos, resultando na entrega de aproximadamente R$ 25 mil em prêmios. A cada concurso, os alunos proporcionaram ao jornal material de alta qualidade para a confecção do caderno especial de Natal. Além dos vencedores, a edição natalina de O Progresso publica todos os textos e desenhos destacados pelo corpo de jurados. No total, já foram publicados 684 trabalhos. Ao longo dos anos, o Concurso de Natal passou por alterações, sem perder, no entanto, o formato original: trabalhos nas categorias texto e desenho, com liberdade em relação aos gêneros (crônicas, artigos, contos e poesias; ou charges, cartuns, caricaturas e histórias em quadrinhos) e respeito ao tema “Natal”. A primeira edição do concurso teve lançamento no dia 3 de dezembro de 1995, com prazo de inscrição encerrando-se oito dias depois. Destinado a alunos de 5ª a 8ª série do ensino fundamental e às classes do ensino médio, a novidade ofereceu prêmios para os três primeiros colocados de cada categoria. Entre
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ma das iniciativas de maior sucesso ao longo dos 90 anos de O Progresso teve início em 1995, com a criação do “Concurso Artístico e Literário de Natal”. Com objetivo de estimular a produção e a criatividade de crianças e jovens na produção de redações e desenhos, o projeto cresceu ao longo dos anos, transformando-se no certame cultural com o maior número de participações na história da cidade. Como já se tornou tradição, no último quadrimestre do ano são abertas as inscrições para o Concurso de Natal. Além da divulgação no jornal, diretores e coordenadores pedagógicos das escolas públicas e particulares recebem convites, nos quais é ressaltada a importância do incentivo deles junto aos alunos. Ano após ano, os profissionais da educação têm mostrado aos alunos que a participação no concurso não representa apenas a possibilidade de receber prêmio em dinheiro “doado por patrocinadores”, como também uma forma de divulgar novos talentos artísticos. Desta forma, o concurso também tem alcançado seu outro objetivo: levar os estudantes a
Vencedor: Roque José Ribeiro da Silva Júnior (categoria: 8ª série) Escola: Sesi
Concurso Artístico e Literário soma 33 mil participações em quase duas décadas
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Premiando talentos no Natal
Em 1996, o concurso manteve a mesma fórmula de disputa. A novidade ficou por conta da padronização dos prêmios em dinheiro. Com isso, o vencedor de cada categoria ganhou R$ 350. Os segundos e os terceiros colocados receberam R$ 250 e R$ 150, respectivamente. O número de participantes subiu para 500. Aquele ano também marcou a entrada do Colégio Objetivo para o grupo de patrocinadores. Trata-se, atualmente, do apoiador mais antigo do concurso. “O Objetivo é uma escola, e, quanto mais estiver incentivando a escrita e a leitura, está contribuindo para o desenvolvimento da educação”, disse o diretor administrativo Acassil José de Oliveira Camargo Júnior, que sempre se encarregou de entregar pessoalmente os prêmios doados aos alunos vencedores. A edição seguinte, de 1997, registrou novo aumento no
número de participantes, que subiu para 700. O acréscimo deve-se, sobretudo, ao fato de que, naquele ano, as escolas passaram a receber os convites com informações sobre o con-
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permitindo mais de dois meses para a produção dos trabalhos. Com isso, 1.500 alunos, de 20 escolas, inscreveram trabalhos naquela edição. Conforme divulgado na época, o número
Vencedora: Ana Gabriela de Campos (categoria: 5ª e 6ª série) Escola: Emef “Lienette Avallone Ribeiro”
curso. Nas edições anteriores, o anúncio era feito somente por meio do jornal. No ano de 1998, os convites passaram a ser enviados às escolas com antecedência,
correspondia a mais de 10% dos estudantes do município. A premiação distribuída entre os vencedores somou R$ 1.200. Restringido à participação de alunos do ensino fundamental,
em 1999, os trabalhos chamaram a atenção dos organizadores pela beleza e criatividade, mas, principalmente, pela crescente “consciência social” das crianças. “Já não se acredita mais em Papai Noel, e o pedido de presentes, muitas vezes, resume-se a emprego e comida para a família”, comentou, na época, o editor do jornal. A valorização do conteúdo ficou evidente nos comentários dos jurados na sexta edição do concurso, no ano de 2000. Pinheiro destacou que, na modalidade de desenho, além da criatividade, ele procurava observar a parte plástica e a “ideia”, ou seja, a forma com que a criança vê o Natal. “A ideia também foi levada em conta, para que não houvesse desvantagem dos alunos mais jovens”, afirmou. Em sequência, a sétima edição, do ano de 2001, foi
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Premiando talentos no Natal
considerada a melhor até então. “Tivemos a melhor edição já realizada, superando em conteúdo e forma. Os trabalhos surpreenderam pela beleza e, acima disso, pelas mensagens, que marcaram o clamor pela paz”, descreveu Camargo. Por conta disso, na sétima edição do concurso, O Progresso promoveu uma iniciativa inédita, realizando exposição com 150 trabalhos, selecionados entre as quase 1.700 participações daquele ano. A mostra aconteceu no Centro Cultural Municipal, na época localizado na rua 11 de Agosto, e integrou o “Tatuí, Natal Musical”, a primeira programação natalina oficial da cidade. Os 1.813 participantes do ano de 2002 evidenciaram, mais
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a ter quatro grupos concorrentes (1ª e 2ª série; 3ª e 4ª; 5ª e 6ª; e 7ª e 8ª), com as categorias de texto e desenho mantidas. Desta forma, o concurso passou a premiar os quatro vencedores de cada categoria com R$ 200. Os prêmios totalizaram R$ 1.800 - somando-se duas menções honrosas. A organização justificou a mudança ressaltando que, dessa forma, os concorrentes poderiam competir com maior igualdade, considerando-se as idades de cada um, além do fato de que um maior número de trabalhos seria premiado. Ao completar uma década de existência, o Concurso de Natal já havia registrado a participação de mais de 25 mil traba-
Vencedor: Lucas Machado Antulini (categoria: 1ª e 2ª série) Escola: Emef “Professora Eunice Pereira de Camargo”
uma vez, os temas sociais. Uma das crianças escreveu que gostaria que o Papai Noel trouxesse, além de presentes, “paz amor, carinho e empregos para que os pais ficassem felizes”. Em 2003, aconteceu uma mudança nas regras e a disputa adquiriu o formato atual. Os alunos do ensino fundamental passaram a ser agrupados por série, de duas em duas, e o concurso,
lhos. Por isto, já era citado como uma das maiores iniciativas culturais e artísticas da história do município. Camargo ressaltou o número de participações. Para ele, a descoberta de novos talentos, por meio do concurso, seria uma conquista ainda maior. “Uma esperança estimulada ainda mais pelo bom e velho espírito de Natal”, observou.
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Vencedor: Gabriel Diniz de Oliveira (categoria: 6ª e 7ª série) Escola: Colégio Adventista de Tatuí
“Mas, mesmo assim, se não surgiu nenhum grande artista em todos esses anos, ao menos ficou mais do que evidente o crescimento da consciência social. As crianças não pedem mais presentes e, sim, uma vida mais digna e justa. E o mais importante de tudo isso, é que não pedem apenas para si e sua família, mas para todos”, acrescentou o idealizador do concurso. Nos anos seguintes, o certame atingiu sucessivos recordes no número de participantes: 3.447 trabalhos em 2006; 3.475 em 2007; e 3.748 em 2008. A organização atribuiu importância decisiva aos professores, que estimularam seus alunos a participar “sem qualquer outro apelo senão o de tornar o Natal uma fonte de inspiração para a arte e a literatura”. O agradecimento, publicado em diversos editoriais, incluiu os patrocinadores. “A resposta dos professores foi extremamente positiva, garantindo novo recorde. Por sua vez, sem a colaboração dos patrocinadores, seria inviável realizar este concurso”. Um dos acontecimentos
tristes na história do concurso foi registrado em 2008, quando o corpo de jurados perdeu o professor Josué Fernandes Pires. Ele, que estava entre os avaliadores mais antigos do concurso, faleceu quando se preparava para começar a análise dos trabalhos daquele ano. Em 2009, além de terem os trabalhos publicados na edição especial de Natal, os vencedores puderam ver suas produções expostas no Centro Cultural Municipal, numa parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte, Lazer e Juventude. A parceria com a pasta municipal também permitiu que a entrega dos prêmios acontecesse no coreto da Praça da Matriz, integrando a programação do “Natal Musical” daquele ano. A participação de alunos da Escola de Educação Especial “Wanderley Bocchi”, da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), foi a novidade trazida pelo concurso no ano de 2011. Assim, a competição passou a ter uma categoria a mais, além das oito já existentes.
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década de 20 (30/7/1922)
(12/9/1922)
O primeiro editorial
Cem anos da Independência
Quando um novo jornal aparece, solicitando a benevolência dos bitres, costuma traçar o seu programa, dizendo a que vem. Adotando o título acima, teríamos publicado, em resumo, tudo quanto pretendemos: trabalhar pelo progresso de Tatuí, nosso berço, pelo qual temos feito tanto quanto as nossas forças têm permitido. Bastaria aos nossos conterrâneos ler aquele nome para que lhes venha a lembrança quão profícua foi a publicação do primeiro jornal que nesta cidade saiu à luz sob a direção e propriedade de Antônio Moreira da Silva, em 29 de agosto de 1878. Republicano convicto, propagandista intemerato, defensor da liberdade, batalhador infatigável pelo progresso deste município, ao qual consagrou o máximo vigor da sua mocidade e talento, foi nosso mestre, o que temos prazer de confessar e cujo exemplo seguiremos, em tudo quanto nos for possível recordar das suas lições. Como Antônio Moreira da Silva publicou o seu “Progresso de Tatuhy” e se notabilizou nas pugnas ingentes que o seu patriotismo e devotamento impulsionavam, nós procuraremos imitá-lo, se bem que a nossa competência nos não permita alcançar os triunfos que atestam os grandes serviços por ele prestados a Tatuí, a São Paulo, ao Brasil. Dar-nos-emos por felizes se encontrarmos o acolhimento que almejamos, e se a nossa missão for bem compreendida, de modo que os espíritos esclarecidos nos auxiliem no labor ingente de bem encaminhar os negócios públicos. Trabalhar, com ardor, pelo progresso de Tatuí é, pois, o nosso programa, tanto quanto possa desejar todo tatuiano que se interesse pela paz, pela ordem, pela prosperidade deste município digno de um povo que conheça as suas riquezas naturais e se consagre a aperfeiçoálas, para o conforto próprio e para a grandeza de São Paulo - Brasil. Dado o estado normal da política municipal,
espíritos apaixonados poderão supor que nosso aparecimento tenha por fim a luta partidária, com todos os desregramentos que a falta de civismo, educação e responsabilidades produzem, infelizmente. Não será assim. Procuraremos, com firmeza, seguir o nosso programa: empregar o máximo de nossos esforços em benefício de nosso município e do nosso povo, sem magoar, sem que o nosso jornal se confunda com pasquim. Procuraremos, com independência e altivez, tratar do interesse público, sem que nos inclinemos a desvirtuar o caráter da verdadeira imprensa, dirigida com fins nobres e prometedores, por homens educados e que tenham posições sociais definidas e todo o propósito pela sociedade em que vivem e cuja defesa se orgulham de cooperar. Não admitiremos a injúria, a calúnia, a crítica desavergonhada; só publicamos notícias perfeitamente exatas e não consentiremos a colaboração da pena mercenária e sem responsabilidade moral. O interesse do povo tem, pois, um defensor. Poderão os oprimidos ou prejudicados lançar mão de nossas colunas, para se defender. Estaremos sempre ao lado da justiça, da ordem, da paz e do direito para o completo êxito da nossa conquista, que é o bem público. É com esta intenção que nos apresentamos e, para conseguirmos esse desideratum ousamos invocar a colaboração de todos os caracteres nobres, de todas as inteligências lúcidas, de todas as pessoas bem intencionadas que, como nós, só procuram a paz e o engrandecimento de nossa terra natal. _________________________ Nota: O editorial acima foi publicado na edição inaugural de 30 de julho de 1922, ano em que a população tatuiana representava ainda uma ínfima porcentagem da atual. O tatuiano que viveu no início do século assistiu ao desenvolvimento industrial que despontava com a companhia têxtil São Martinho e reunia-se para aprender a cultura por meio dos espetáculos do grêmio Paulo Setúbal.
(20/2/1922)
Menores no Carnaval
Em 1922, o delegado João Octávio Neves publicou edital preparando os foliões para a chegada do Carnaval. Para garantir a segurança nos festejos, os tatuianos que fossem sair às ruas mascarados ou fantasiados deveriam comparecer previamente à delegacia para obter um cartão numerado para eventuais fiscalizações. Não eram permitidas críticas à moral, religião e autoridades constituídas. O delegado ainda declarava: “É expressamente proibido cavalheiros galopearem pelas ruas.”
O Brasil festejou esplendidamente o seu primeiro centenário de emancipação política. Cem anos de Independência! Nessa data, acima de todas, gloriosa para os brasileiros, a alma nacional se inundou de imenso júbilo e, em manifestações de regozijo, exteriorizou o seu grande reconhecimento por aqueles que figuram como campeões da nossa liberdade. (...) Nessas bandeiras que nós desfraldamos ao vento e que são batidas ao sol neste dia memorável, sentimos que revivem toda uma história de sacrifícios e toda a evocação de esperanças que a liberdade alimentava nos nossos antepassados, amigos de trabalhar somente para o desenvolvimento nacional. (...) Felizmente a nossa história é escrita sem lances trágicos. As mudanças de regime foram feitas de acordo com o tempo e com as necessidades, sem hiatos produzidos por comoções violentas. A continuidade histórica foi sempre respeitada, de sorte que a nossa nacionalidade se tem evoluído sem precipitações nem grandes sacrifícios. Assim foi em 7 de setembro de 1822 e assim foi em 15 de novembro de 1889 e, daí, certamente a marcha segura do país, impondo-se dia a dia no concer-
to das nações. (...) Excederam a toda e qualquer expectativa os festejos realizados pelo nosso Grupo Escolar, na comemoração do Centenário de nossa Independência. (...) Formaram quase 170 escoteiros, rapazes dos quais muito têm a esperar não só Tatuí - nossa querida terra -, como o Brasil - nossa querida Pátria. Ao som marcial de sua incomparável fanfarra, os disciplinados jovens desfilaram pelas principais ruas, como a incitar os seus conterrâneos para com todo o entusiasmo comemorarem a grande data. (...) Não há memória de que tenha havido nesta cidade procissão mais concorrida nem mais bem organizada do que fora essa. Não erraremos em calcular em mais de 5.000 o grandioso prestito. _______________ Nota: A imagem que retrata o “Grito do Ypiranga” foi reproduzida na capa da edição de 12 de setembro de 1922. A famosa pintura, utilizada como “foto principal” e sobre a legenda “Grito do Ypiranga”, noticiava o primeiro “século de liberdade para a luz, para o progresso, para a grandeza de nossa pátria”. As celebrações locais, lideradas pelo Grupo Escolar, também foram destaque na edição comemorativa e relatadas com euforia.
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década de 20 (13/5/1923)
(13/8/1922)
Contra jogos ilícitos A polícia paulista abriu novamente campanha contra o jogo do bicho. A primeira busca nas casas de jogo foi feita na capital no dia 7 deste mês, tendo conseguido prender inúmeras pessoas e apreendido todos os móveis, balcões e mesmo cofres fortes.
Município celebra libertação da escravatura antes da Lei Áurea Eis porque a luta para libertar os escravos existentes no município não foi pequena e nela se distinguiram pessoas chefiadas por Antonio Moreira da Silva, que trabalhava como advogado e jornalista, pelas colunas do “Progresso de Tatuhy”, por ele fundado e custeado. Era natural a guerra que se estabeleceu entre senhores que viam escapar aquilo que era coisa, era parte dos seus haveres patrimoniais, como a terra, o gado, a roça, e os abolicionis-
tas que incitavam os escravos à fuga, quando os não podiam libertar, encaminhando-os para S. Paulo e dali para Santos. (...) Os senhores bem avisados e caridosos e que chegaram a compreender que o negro também tinha direito à liberdade, era um ser dotado de razão e sentimentos, o libertava, sob condição de lhes prestar serviços por certo número de anos, e foi assim que se festou, como no Ceará, a libertação dos escravos do município antes da lei de 13 de Maio.
Nota: Na edição de 13 de maio de 1923, registra-se o fato histórico de Tatuí ter celebrado a libertação dos escravos antes mesmo da Lei Áurea (7/9/1924)
Revolucionários ganham nome de rua Intrépidos, cheios de entusiasmo, com a confiança de guerreiros, cumpriram um dever sagrado, marchando sobre S. Paulo, onde os revoltosos matavam, saqueavam e incendiavam, senhores dos quartéis, dos dinheiros públicos e de farto abastecimento de munições e viveres. (...) Um bravo aos heróis. _________________
Nota: A travessa da Matriz passou a se chamar travessa dos Voluntários de Tatuí, de acordo com a notícia que relata o retorno à cidade dos revolucionários pró-Fernando Prestes, em julho de 1924. A notícia exaltava os 17 homens que atuaram sob o comando de Eduardo Silveira da Mota (então juiz de direito da comarca). Eles foram recebidos com festa, jantar, cortejo e homenagens.
(20/11/1922)
Mendigos registrados O capitão Eugênio Pires, de acordo com o dr. João Octavio Neves, delegado de Polícia, está reorganizando o serviço de mendicidade fornecendo chapas somente aos pobres de reconhecida necessidade.
(10/5/1925)
Estrada intermunicipal A primeira versão da estrada Tatuí-Capela do Alto foi uma iniciativa dos empresários Juvenal de Campos Filho e Camilo Vanni, noticia O Progresso em 10 de maio de 1925. A notícia ressalta que a estrada estaria “sendo construída com esforços não comuns, apresentando-se tal qual as estradas que o governo do Estado possui”.
Camilo Vanni em seu veículo na estrada de Tatuí-Capela do Alto, em 1925
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década de 20 Segunda fase
Cem anos e nove meses de comemoração Maior evento cívico-religioso da história da cidade recebeu cobertura especial O ano de 1926 foi um dos mais celebrados da história do município e do jornal “O Progresso de Tatuhy”. Apelidado de “o anno bom”, ele concentrou o maior número de reportagens já produzidas pelo então semanário sobre um mesmo assunto: o centenário da cidade. Concentrou, também, a maior manifestação de civismo até então presenciada pelos moradores da “Capital da Música”. “Entramos no ano de 1926 para o qual se voltam todas as esperanças de melhores dias”. A frase que abriu artigo da primeira edição daquele ano já dava sinais de como seriam as celebrações do centenário da rota de tropeiros que se tornou povoado (São João do Bemfica) e, em questão de décadas, cidade. As comemorações trouxeram a Tatuí uma das maiores autoridades do país na época, Carlos de Campos, o 12º presidente (governador) do Estado de São Paulo, bem como membros do mais “alto escalão” da Igreja Católica. Entre eles, o bispo da cidade de Sorocaba, José Carlos de Aguirre, fundador da Fundação Dom Aguirre, entidade mantenedora da Uniso (Universidade de Sorocaba). A primeira menção ao centenário do município
publicada em O Progresso foi feita em editorial que data de 10 de janeiro, segundo domingo de 1926. Com o título “Anno Bom”, José Ortiz de Camargo convocava os leitores a “mudar de comportamento”, projetando expectativas de melhora para os dias que se seguiriam. Propunha que os munícipes “esquecessem problemas que por ventura tivessem tido no ano anterior”. “Façamos greve contra o que não presta e veremos tudo melhorar”, cita. Por força e obra do destino, na mesma edição, houve a publicação de notícia considerada positiva: a instalação da Sociedade Industrial “Reali &
Comp.”, de Eugenio Reali e Joaquim Silvério de Almeida. Tratava-se de uma fábrica de gelo, implantada na rua Coronel Bento Pires, cuja capacidade
inicial de produção era de 500 quilos diários. A partir de então, a cidade registrou uma sucessão de conquistas que foram se somando e, de
certa forma, contribuíram para que a celebração do centenário fosse memorável. Ainda em janeiro de 1926, chegava à cidade um novo pároco, o reverendo Joaquim Antonio do Canto, natural de Piracicaba. Segundo registros do jornal, padre Canto substituiu o cônego Corrêa de Carvalho e contribuiu com as comemorações dos cem anos, cuidando da programação religiosa. T a m bém em 1926, Tatuí recebia outra boa notícia. Em fevereiro, houve a lavratura da escritura do prédio construído para o “Gabinete de Leitura Tatuhyense”, que até então funcionava no Elite Clube.
Esta agremiação fundiuse com o Clube Recreativo 11 de Agosto, formando o atual 11 de Agosto. A mudança coincidiu com a venda do prédio em que o Elite Clube funcionava. Naquele ano, o Banco Central do Estado de São Paulo havia adquirido o imóvel. O objetivo era instalar uma sucursal no município. “Avalie-se por esse fato quanto se tem desenvolvido a nossa terra e quão longe está o tempo em que Lourenço Domingues de Salles (o Lourenção) carregava tropas de bestas arreada de dinheiro em cobre, para mandar fazer pagamentos em Sorocaba e em Santos e aliviar o comércio da ‘plectora’ dessa moeda que dificultava as transações comerciais”, citou José Ortiz de Camargo sobre a notícia de que a cidade receberia uma agência bancária. O segundo artigo publicado pelo então semanário em menção ao centenário de Tatuí consta na edição de 31 de janeiro, com o título “Tatuhy no Centenário”. Nele, Zé Marinheiro aborda a importância da preservação da cultura e de fatos que transformaram o município em “terra fértil”. “Quem mais se lembrará de Pirinhos do Boqueirão, com a sua série
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década de 20 de cruzes ao fazer viassacras, atraindo para ali quase uma população inteira?”, indagava, fazendo menção a personagens pitorescos que assinalaram o desenvolvimento primitivo de cada bairro da cidade. Diversas personalidades da década são citadas pelo jornalista como dignas de lembrança e responsáveis pelo avanço da cidade. Entre elas, Pinto Ferraz (que “enchia o Largo da Matriz com suas chacotas”) e “Seringa” (que andava “na garupa do Antonio Vaz, a percorrer as ruas em animal bravio”). A reprodução dos nomes (o segundo, somente apelido) denotava a preocupação que Zé Marinheiro tinha de preservar a história do município. Como ele, muitos tatuianos dedicaram-se a manter viva a história da cidade. Exemplo é Raphael Orsi, que começou a organizar, no ano do centenário do
município, uma “polyanthéa commemorativa” (espécie de coletânea de textos em forma de livro). O trabalho de iniciativa particular virou assunto de reportagem da edição especial do jornal “O Redondo”, datada de fevereiro de 1926, e de artigo publicado em “O Progresso de Tatuhy”. Na ocasião, disse Zé Marinheiro: “Tal trabalho é digno dos melhores elogios, mas não podemos deixar passar sem um reparo aqui a falta que há com uma outra parte (é uma das mais importantes), justamente aquela que diz do nosso trabalho, desse grande esforço que constitui a riqueza agrícola do município, do esforço pelo qual se mede realmente a aplicação das energias de um povo”. A opinião do jornalista é justificada no fato de que, à época, Tatuí representava um centro industrial de primeira ordem, com
grande exportação de produtos agrícolas. Até então, havia abundância de culturas, que passavam de milharais a algodoais, como citado no próprio artigo publicado no dia 28 de fevereiro de 1926. Tatuí exibia “arrozaes” (no bairro Santa Adelaide), “mandiocaes” (Água Branca), “batataes” (bairro Aleluia) e “cafezais soberbos” (nas propriedades de Manoel Guedes Pinto de Mello e de Manoel Augusto Vieira). Demonstrando preocupação com a “manutenção” dessas informações, Zé Marinheiro apresentou sugestões a Orsi. No artigo, sustenta que, se o autor da polianteia incluísse todas elas, o resultado do trabalho seria “primoroso”. “Não poderá o sr. Raphael Orsi levar a mal estas sugestões, pois nós queremos que a sua obra seja excelente e sentiremos muito se não for aproveitada a
oportunidade que as nossas culturas oferecem”. Na época em que o jornalista publicou o artigo, o trabalho de “Raphaelsinho”, como era conhecido Raphael Orsi, já estava “adeantado”. Quase às vésperas do centenário de Tatuí, em 16 de maio, na edição de número 178, Zé Marinheiro voltou a “defender” um cuidado maior em relação à história da cidade. Além de constar fatos principais e nomes de personalidades conhecidas, o jornalista tinha como meta a preservação da identidade “caipira” tatuiana e uma homenagem a quem fez dela um município em “franca expansão”. O artigo de capa da edição de número 178 de “O Progresso de Tatuhy” ilustra bem essa “insistência”. Intitulado “Quem se lembrará?”, o texto fala sobre pessoas e empreendimentos que contribuíram para o desenvolvimento
da cidade. O principal exemplo era a fábrica de velas de cera, de Maneco Fidêncio. Antes de a cidade ganhar a unidade, os tatuianos tinham de comprar velas em Porto Feliz ou Sorocaba. Naquela época, as velas eram tão preciosas e necessárias que não poderiam faltar nos velórios. A ausência delas era considerada escândalo, “uma coisa deprimente para uma família que se prezava”, como descreve Zé Marinheiro. Era costume das famílias oferecer velas aos padres, coroinhas, crianças e a todos que acompanhavam o sepultamento. As velas eram tão importantes e significativas que era possível medir o nível socioeconômico das famílias pelo tamanho e pela quantidade das oferecidas. A preocupação em impressionar - ou não causar má impressão - era
BANDEIRAS
A preocupação dos organizadores em tornar as comemorações dos cem anos de Tatuí impecável era tão grande que houve criação de uma “comissão executora”. Além da definição dos horários e dias dos eventos, seus membros criaram regras a serem seguidas pela população. A mais curiosa delas é a que proibia o uso de enfeites de bandeirinhas de papel nas casas e o lançamento de “folhagens” nas ruas. O serviço ficou a cargo da própria comissão. Também houve restrição no uso de bandeiras sobre a tampa dos radiadores dos veículos. A regra era o uso de somente uma bandeira.
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década de 20 tão grande que existiam boatos de famílias que se arruinaram economicamente só porque fizeram questão de ostentar “grandeza e vaidade”. Com a aproximação das festividades, em junho de 1926, o jornal passou a “incitar” o povo a participar do calendário de eventos comemorativos. A dois meses do centenário, a publicação assumiu para si a missão de mobilizar a população e declarou que a participação na programação era dever cívico. No artigo “O Nosso Centenário”, o jornalista de O Progresso: “É sabido que as festas oficiais não têm o cunho da popularidade, e o acontecimento é de geral regosijo, devendo o povo completar o programa oficial, com festas variadas, de modo que nenhuma classe social fique estranha ao grande dia”. Além das famílias, Zé Marinheiro pedia a
participação da sociedade organizada, por meio de clubes, associações e entidades. “A festa é de maior interesse dos tatuianos tanto mais que a primeira que celebraremos e a ultima, porque ninguém poderá ter a pretensão de ver a segunda, no ano de 2026”. Por mais que não se constasse em textos (não de maneira explícita), é possível notar que, até aquela “altura dos acontecimentos” (dois meses antes do centenário da cidade), não havia programação definida para as comemorações. Situação que começou a mudar ainda em junho, como se pode notar em publicação da edição de número 182. No texto, intitulado “Estão se agitando”, Zé Marinheiro escreve: “Além da polianteia que o Raphaelsinho pretende distribuir, por ocasião do nosso centenário, outros grupos e associações se
movimentam para tomar parte nas festas que se farão no grande dia. Na semana entrante o movimento intensificou e tomou vulto”. A partir desse ponto, o que se escreveu foram no-
Lino Del Fiol. Era lá que havia sido fundada, no ano de 1808, por provisão de dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, então bispo da diocese de São Paulo, a paróquia que deu origem a Tatuí.
devido à expulsão dos habitantes de São João do Ipanema. Expulsão levada a efeito pelo governo imperial, que proibiu que outras pessoas, senão os “encarregados do serviço de fabricação de ferro”,
Construção da Capela do Bemfica em 1926
tícias das mais “auspiciosas”. Entre muitas, esteve a construção de uma capela sobre a cruz do antigo cemitério do São João do Benfica, a cargo de
O povoado de São João do Benfica, situado nos campos da “sesmaria das pederneiras pretas, depois da sesmaria do paiol”, surgiu (ou cresceu)
morassem nas terras da fábrica do Ipanema e no entorno dela. Com a proibição, dom Manoel desistiu de Ipanema (do título e das “regalias” paroquiais), transferindo a paróquia para o povoado do Benfica. Apesar da mudança, o bispo manteve o mesmo padroeiro (São João) - daí, então, São João do “Bemfica” – no sentido de “bem ficar”. Ao longo dos anos, a paróquia foi desaparecendo, pois seus antigos moradores se mudaram para a atual área que abriga Tatuí. Já em julho, faltando exatamente um mês para a “grande comemoração do centenário”, os preparativos estavam “a mil”. Zé Marinheiro, na edição
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década de 20 do dia 11 daquele mês, escreve que o evento seria festejado “na medida das possibilidades dos tatuianos”. Também noticia que os preparativos estavam em “franco desenvolvimento” e, ao longo do artigo “A celebração do Centenário”, volta a destacar a importância da participação da população nos festejos. “Ninguém se poderá conservar indiferente e se desinteressar de tomar parte ativa na comemoração do grande dia”, escreve. No mesmo texto opinativo (prática comum do jornalismo da época), manifesta preocupação com relação à programação – até então não definida: “É indispensável que haja combinação prévia, de modo que um ato não prejudique o outro, pela hora, pela distração dos assistentes, e uma solenidade não venha perturbar a outra, implantando-se a anarquia”. Com a aproximação da festa, a movimentação das entidades e da própria municipalidade (na época a cidade era governada pelo prefeito Norman Bernardes, 1920-1926), houve diversas reportagens. No dia 1º de agosto, O Progresso publicou: “Os bons tatuianos se movimentam e se prestam, para comparticipar das solenidades e festejos, vindo render ao seu berço as homenagens a que tem direito”. A dez dias da maior celebração até então presenciada na região, os
tatuianos mobilizavamse de diversas maneiras. Quem não integrava agremiações, clubes e demais entidades da sociedade civil se virava como podia. Algumas famílias limpavam ruas, outras reformavam suas casas. Concomitantemente, a capela de São João do Benfica e a polianteia estavam prestes a serem finalizadas.
Ao passo em que ia abastecendo a população com notícias, a publicação também preparava homenagem a Tatuí. Ela veio na forma de edição especial, com 14 páginas (dez a mais do que o jornal editava até então), em papel diferente do usual e apresentando, pela primeira vez, o “Indicador de ‘O Progresso de Tatuhy’”,
Marinheiro. O programa de atividades passou a incluir, além da polianteia e da construção da nova capela de São João do Benfica, a “Feira Industrial e Commercial” e a “Corrida do Centenário de Tatuhy”. Somadas, as atrações trouxeram para a cidade grande número de pessoas. A feira era tida como
Feira Industrial no centenário de Tatuí
Nesse momento, o Executivo “funcionava a todo vapor” para organizar o evento. “A prefeitura, autorizada pela Câmara, tem sido infatigável”, relata Zé Marinheiro no artigo “Aproxima-se a grande festa”, publicado em 1º de agosto. O empenho da prefeitura tinha razão de ser: a cidade receberia a presença do “presidente” do Estado e seus secretários.
seção com 41 anúncios gratuitos. A edição especial foi “confeccionada” com a colaboração de “intelectuais” da época, os quais, espontaneamente, quiseram deixar registradas as impressões que o centenário causava-lhes. “Esse número trará retratos de edifícios, ruas e pessoas de destaque, assim como de monumentos da nossa história”, antecipava Zé
“uma grande exposição”, organizada com o objetivo de permitir ao comércio e à indústria locais a expansão de seus negócios. “Os nossos expositores e visitantes serão ótimos propagandistas das nossas riquesas e possibilidades”, vislumbrava Zé Marinheiro. “Tais festas não são como os fogos de artifícios que, uma vez queimados, não deixam senão fumaça
e o esqueleto dos painéis: não! Elas têm, além de uma demonstração de civismo e de acrisolado patriotismo, um alcance de extraordinário proveito, para o desenvolvimento do município”, defendia o jornalista. As festividades tiveram importância cívica e econômica para a cidade, que ganhou projeção estadual com o centenário. “É um meio para se tornar conhecida Tatuí dos excursionistas, comerciantes, industriais, homens de negócios, todos os quais travarão conhecimento com os nossos conterrâneos e poderão se certificar da riqueza do nosso solo, do progresso da nossa indústria, do adiantamento do nosso comércio, da excelência da nossa posição no Estado, do nosso desenvolvimento, finalmente”, escreve Zé Marinheiro. Também em agosto, no início do mês, um “corso” (desfile de carros e carruagens) organizado por um grupo de tatuianos foi agregado ao evento dos cem anos.
Para ficar na história
A edição comemorativa preparada por “O Progresso de Tatuhy” é uma das mais primorosas em termos de pesquisa e acabamento até então vistos pelos tatuianos. O projeto, que levou meses para ser concluído, chegou aos leitores apresentando novidades que não só agradaram, mas colocaram a
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década de 20 publicação “à frente” do tempo dela. Superando as dificuldades técnicas da época, o jornal trouxe, além do programa de eventos comemorativos, textos que recontavam a história da fundação do município e 14 fotografias (como havia sido prometido por Zé Marinheiro meses antes). Também incluiu o “Indicador do ‘O Progresso’”, com anúncios padronizados de 41 negócios locais. Os “reclamos”, como eram chamadas as propagandas, foram oferecidos gratuitamente aos comerciantes como uma espécie de “presente à cidade”. A oferta consta na capa da edição de 1º de agosto, com os seguintes dizeres: “Este jornal tirará por ocasião do centenário um número especial, com muitas páginas. Aproveitando a ocasião, fará gratuitamente o reclamo da sua casa comercial, bastando, para tal, que V. S. nos envie até o dia 3, terça feira, alguns dados sobre a sua casa, como o ramo de comércio, endereço, telefone, data da fundação, etc.” A edição especial circulou exatamente no dia do centenário de Tatuí, sendo preparada com colaboração de Laurindo Dias Minhoto, Laurindo Minhoto Junior, Ernestino Lopes, José Cândido Freire, Lucio P. Peixoto e Cesar Godoy. O maior destaque ficou para a história de fundação de Tatuí, pesquisa feita por Dias Minhoto.
Nela, constam os primeiros dados sobre o surgimento do município, com a passagem dos bandeirantes e os acontecimentos que culminaram na emancipação. A reportagem é ilustrada com o brasão de Tatuí; com a primeira imagem trazida à região por Paschoal Moreira Cabral, em 1680; com o padre Francisco de Paula Medeiros, vigário de Itapetininga, que fez o primeiro batizado na localidade que viria a ser município, em 1822; com a cruz do cemitério da extinta paróquia de São João do Benfica; com o então presidente do Estado de São Paulo, Carlos de Campos, que participou das celebrações em solo vermelho; pela enxada com a qual Antonio Rodrigues da Costa, administrador de Brigadeiro Jordão, abriu as valas divisórias do patrimônio de Tatuí, em 1826; com o vice-presidente do Estado de São Paulo, coronel Fernando Prestes; e com o próprio Dias Minhoto, autor do livro “História de Tatuhy”. No mesmo especial, Minhoto Junior apresenta um ensaio biográfico sobre o brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão. O texto começa com prefácio sobre o centenário de Tatuí, passando pela fundação até a interferência do brigadeiro para a emancipação do município. Sobre o oficial, aborda: a árvore genealógica, a riqueza, a vida militar, a intimidade com dom Pedro
I, o grau de instrução, a importância política, o governo provisório, a fuga e a “prisão injusta”; e a morte do brigadeiro. O ensaio é ilustrado com fotos dos capitães Pedro Holtz e Narciso Pires da Fonseca, presidente e vice-presidente da Câmara Municipal de Tatuí, respectivamente; e do prefeito Norman Bernardes e
do vice-prefeito Nicolau Sinisgalli. Há, ainda, uma foto do palacete de Laurindo Dias Minhoto. Também na edição especial, houve menções à imprensa tatuiana (por José Cândido Freire) e a respeito das “fortunas” da cidade (por Dias Minhoto), bem como artigos produzidos especialmente para “O Progresso de Tatuhy”.
Palacete dos Minhoto
Entre eles, está “As Ruas Silenciosas das Cidades do Interior”, escrito por Cesar Godoy. Também há menções aos “camaristas” da cidade, com os nomes de todos os políticos que passaram pelo Legislativo desde a criação da cidade. O bispo diocesano dom José de Aguirre também é saudado em texto, bem como o município,
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Décadas do Progresso
década de 20
Fábrica de Phosphoros Palmyra
conforme consta no artigo “Salve, Tatuhy!”, de Ernestino Lopes. Tatuí é citada pelo autor como “cidade de trabalho, de paz, de cultivo intelectual”. Praticamente todos os “dispositivos” relevantes do município têm menção na edição especial. De igrejas a escolas e de comércio à estação meteorológica. Em 1926, Tatuí contava com 1.600 casas,
dentro do perímetro urbano, distribuídas em 27 ruas, 2 avenidas e 13 praças. Possuía três igrejas (Matriz – atual Paróquia Nossa Senhora da Conceição –, Santa Cruz e do Rosário), uma capela (São Roque), um matadouro municipal (construído num terreno de 11 alqueires), dois cemitérios (o municipal e o do Santíssimo Sacramento – que se localizava atrás da Igreja
Matriz) e um reservatório para abastecimento de água, cuja captação era de sete litros por segundo. As histórias de empresas tatuianas também integram o material. A edição fez menção à Campos Irmãos & Cia. (fábrica Santa Cruz – Fiação e Tecelagem de Algodão); à Fábrica de Fiação “Santa Isabel”, de Campos, Warne & Cia.; à Fábrica de Chapéus, de Scudero & Cia. (João Scudero Mendes, Euclydes de Barros e Cesario da Silva Ribeiro); à Fábrica de Phosphoros “Palmyra”, de Vanni, Campos & Cia. Limitada; bem como 20 funilarias, fábricas de óleo, de sabão, de vassouras, de ladrilhos, cerâmicas e indústrias de beneficiamento das culturas de arroz, café e algodão, entre outras. Com todos os espaços preenchidos da edição especial, as coberturas dos eventos comemorativos – que se iniciaram no dia 8 de agosto – só foram
possíveis nas semanas seguintes. As notícias a respeito da celebração do centenário ocuparam boa parte de cinco edições, o que representou praticamente um mês.A reportagem “Tatuhy em Festas” teve início no dia 22 de agosto, sendo concluída somente no dia 19 de setembro. Nela, Zé Marinheiro descreve todos os pormenores do maior evento até então presenciado pelos tatuianos. As festividades começaram no dia 8, com a “entrada” da imagem de Jesus Cristo no “Salão do Jury”, de Tatuí. A imagem saiu em procissão da Igreja Matriz, acompanhada de todas as irmandades
da cidade e do povo, até o salão. Lá, foi recebida pelo então juiz de direito substituto da comarca, João Pinto Cavalcanti. Dia 10, Tatuí recebeu o “presidente” do Estado (Carlos de Campos, que dá nome ao Conservatório) e comitiva. O comboio incluiu o tenentecoronel Marcílio Franco (então chefe da Casa Militar de São Paulo) e os secretários de Estado Gabriel Ribeiro dos Santos (Agricultura) e Breno Tavares (Fazenda). Também acompanharam o governador o prefeito de São Paulo, Pires do Rio, os deputados Antonio de Covelho, Soares Hungria e Pereira de Mattos, e o
Igreja Santa Cruz
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década de 20 jornalista Murillo Bittencourt, do “Correio Paulistano”. As autoridades participaram de missa solene ministrada pelo bispo de Sorocaba, dom José Carlos de Aguirre, com os
Campos discursou em todos os eventos, inclusive, na abertura da “Feira Industrial e Commercial”. O governador chegou a Tatuí vindo de Capão Bonito, onde inaugurara a estrada de rodagem que
membros da comitiva. As autoridades foram recebidas pelo prefeito Norman Bernardes e pelo vice Nicolau Sinisgalli, bem como pelo presidente e vice da Câmara, Pedro Holtz e Narciso Pires
Inauguração da Santa Casa
padres Joaquim do Canto, vigário de Tatuí, e Alberto Bacille, secretário do bispado. Na sequência, almoçaram na casa do deputado Dias Minhoto e acompanharam a instalação do “escudo da cidade”, na sala de sessões da Câmara Municipal. Carlos de
ligava aquela cidade a Itapetininga. Carlos de Campos e comitiva vieram de trem, desembarcando por volta da 1h da madrugada. Pernoitaram nos vagões de uma locomotiva, fretada especialmente para a viagem, até às 10h da manhã, quando se encontraram com os demais
da Fonseca, respectivamente. A passagem deles pelo município – e os discursos do governador – tomaram boa parte das edições seguintes, uma vez que traziam a fala na
íntegra (prática bastante comum à época). Nas solenidades, Carlos de Campos citou as culturas de café e algodão como “duas importantes riquezas do município”. Também fez pronunciamento na residência de Dias Minhoto, após assistir manifestação feita por crianças da “Infância Escolar”. Na ocasião, o governador disse, conforme narrou Zé Marinheiro, “coisas muito lisongeiras para Tatuí, seu povo, sua mocidade escolar”. O ponto alto do discurso de Campos foi a criação
do “Gimnasio Official” (atual “Barão de Suruí”), tão ansiado pelos tatuianos. Na ocasião, o governador disse que a criação do ginásio fugia à responsabilidade dele (já havia sido tratado antes de ele assumir o governo). No entanto, Campos afirmou que o assunto merecia a “simpatia dele”, prometendo que sua próxima visita ao município deveria acontecer quando a escola fosse inaugurada. Como era de se esperar, essa afirmação provocou “grande entusiasmo” entre a população. Campos teve, então, o nome aclamado “calorosamente” pelo povo. O governador terminou o discurso saudando o município e “sua mocidade escolar”. Em Tatuí, fez, ainda, visitas à Santa Casa, então “instalada recentemente
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década de 20
Carlos Orsi
Dr. Gualter Nunes
em prédio novo, de aspecto encantador”. Sobre o novo prédio, Zé Marinheiro aponta: “(...) impressiona excelentemente, tanto na sua aparência externa – um belo ornamento para a cidade -, como pelas suas instalações internas – um ambiente de conforto para os doentes necessitados”. A comitiva de autoridades foi recepcionada pelo então provedor do hospital, Carlos Orsi, e pelo médico Gualter Nunes, que dá nome à atual Etec (escola técnica) mantida pela Femague (Fundação Educacional “Manoel Guedes”) e ao estádio esportivo da Associação Atlética XI de Agosto. Campos visitou, ainda, a “Feira Industrial e Commercial de Tatuhy”.
Baile de comemoração ao centernário
ÁLBUM
Dezenas de pessoas aproveitaram a ocasião do centenário para faturar. José de Menezes, descrito por “Zé Marinheiro” como “hábil fotógrafo”, por exemplo, produziu um álbum com 12 fotografias da cidade, o qual expôs à venda.
Décadas do Progresso
década de 20 O evento aconteceu no antigo Grupo Escolar de Tatuí (atual Escola Municipal de Ensino Fundamental “João Florêncio”), reunindo diversos empreendimentos. Além dos expositores, vieram ao município “numerosos forasteiros”, segundo reporta o jornalista de O Progresso na edição de 29 de agosto. As demais edições apresentam discursos de autoridades. Também ganharam publicidade o baile do Club Tatuhyense, o “Jantar á 100 Pobres”, a apresentação de alunos do Grupo Escolar (feita em duas longas partes) e a “Corrida do Centenário de Tatuhy”. Este último evento consistiu em desafio proposto por representantes da marca de carros Franklin. Conforme noticiou “O
Progresso de Tatuhy”, representantes da marca lançaram, pela imprensa, um desafio aos de outras marcas para uma corrida de automóveis entre a capital, São Paulo, e Tatuí. Os festejos tiveram encerramento com a “Romaria ao Cemitério”, evento que arrastou multidões e terminou com a “cerimônia de recomendação com aspersão de água benta”, feita em todos os túmulos. A solenidade é assim descrita por Zé Marinheiro: “Encerraram-se as festividades civico-religiosas, com a mais tocante cerimônia, qual a visita aos mortos que ali se acham sepultados, a começar de 1861, data da inauguração daquele campo santo, onde todos nós temos a verter uma lágrima de saudades.”
Grupo Escolar João Florêncio
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(1º/5/1927)
Morte de Carlos de Campos Amigo de Tatuí, aqui recebeu a todos que o procuraram por ocasião das festas do centenário, e os tratou com cavalheirismo e com a máxima delicadeza, prometendo voltar antes de terminar o seu governo para inaugurar o “Ginásio” que, no correr
deste ano, providenciaria para que fosse instalado. (...) O comércio fechou suas portas, as repartições públicas não se abriram e as aulas foram suspensas. Nota: O homem que exerceu o cargo de presidente do Estado (equivalente
a governador) dá nome ao Conservatório Dramático e Musical de Tatuí. A notícia descreve Carlos de Campos como “Francisco de Assis de Tatuí” e indica que houve luto municipal. Nova eleição foi realizada após a morte de Carlos de Campos, sendo vencedor Júlio Prestes.
(18/11/1923)
Guerra política
A morte do coronel Aureliano de Mascarenhas Camargo, integrante do Partido Republicano, em 16 de novembro de 1923, foi descrita como “bárbara e covarde”, além de ser remetida à oposição política, “que não podendo vencer pelas urnas, o quer fazer a bala”. “Tatuí cobre-se de luto diante de uma das maiores vergonhas que podem deprimir um povo que deseja ser tido como civilizado.”
(13/1/1929)
Inauguração da Sorocabana Ecoa em todas as almas tatuienses o acontecimento notável do dia 6, quando aqui esteve o Exmo. Sr. Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, Presidente do nosso Estado. Prosseguindo nas obras de remodelação da Estrada de Ferro Sorocabana, projetada pela administração do saudoso estadista, dr. Carlos de Campos, que deu início aos importantes trabalhos em prol daquela valiosa via férrea do Estado, confiando a sua direção geral ao conhecido e criterioso engenheiro brasileiro, dr. Alindo Luz. O dr. Júlio Prestes vinha dia a dia acompanhando com verdadeiro interesse a marcha de progresso de todos os problemas que se prendessem à questão. É que S. Excia. preparando a ordem progressiva de tudo que se liga ao grande desenvolvimento de S. Paulo, não poderia alheiarse a mais esse esplendido fator que é o melhoramento da Estrada de Ferro Sorocabana, hoje confiada ao talento do distinto engenheiro patrício Gaspar Ricardo Junior, honra da engenharia ferroviária nacional. Assim, pois, concluídos que se achavam os trabalhos da variante, desde o seu início no quilômetro 140 da linha tronco, no ponto em que se ergueu a magnífica Estação de Santo Antonio (a nova) para alcançar a Estação de Tatuí, nas proximidades do posto e em uma extensão de 18 quilômetros e 717 metros, aguardava o sr. dr. Gaspar Ricardo Junior o momento de pedir ao exmo.
sr. Dr. Presidente do Estado determinasse a sua inauguração oficial, mesmo porque, com essa nova ligação, o percurso do quilômetro 140 ao quilômetro 181 do ramal de Itararé, onde a variante se insere, diminui de 12 quilômetros e 237 metros, de modo que as viagens a partir de São Paulo para as linhas do Sul ficam reduzidas de 24 quilômetros ao todo, graças ao encurtamento resultante da duplicação da linha entre S. Paulo e Santo Antonio. Nessas condições, os trens de passageiros que aqui chegam às 11h34, deixando a capital às 5h40, portanto com o dispêndio de 5h54 passarão a correr em muito menor tempo, segundo se diz, a contar do primeiro dia do mês que vem, os trens para o sul sairão de S. Paulo às 6h e chegarão a esta cidade às 10h15, portanto com o gasto de 4h15 de viagem. Marcado pelo sr. Presidente do Estado o dia da partida, 6 do corrente, foi organizado o Trem Presidencial, que deixou a Estação da Sorocabana, em São Paulo, às 8h da manhã, chegando a Santo Antonio às 12h. Quando a composição do trem presidencial deu entrada à Estação de Santo Antonio, concluía-se o almoço, ocasião em que o sr. Presidente do Estado ergueu um brinde aos digníssimos srs. Secretário da Viação e Diretor Geral da Estrada Sorocabana, saudando-os pela inauguração que acabava de ser feita da variante Santo Antonio-Tatuí e fazendo votos pela crescente prosperidade
da grande via férrea do Estado. Enquanto aos ares subiam inúmeras “girandolas” e grande massa popular erguia vivas ao Governo do Estado, aos Secretários da Viação e Agricultura, altos funcionários da Sorocaba, o Trem Especial parava para permitir que os ilustres excursionistas pudessem verificar de perto os melhoramentos do local. Depois de felicitar ao dr. Gaspar Ricardo Junior e seus auxiliares pela conclusão dos trabalhos da variante, o dr. Júlio Prestes determinou se prosseguisse na viagem até Tatuí, em marcha vagarosa para que pudessem todos observar o que se fez na nova linha. Às 12h35 o Trem Presidencial deixava a Estação de Santo Antonio, rumando para a linha da variante. Às 12h50 chegava o comboio especial à Estação de Americana. Depois de pequena parada de novo se punha em marcha. Às 13h28 achando-se a Estação Sorocabana apinhada de representantes do mundo oficial tatuiense, (...) ao espocar de milhares de rojões, ao som do Hino Nacional Brasileiro executado pelas excelentes corporações musicais Santa Cruz e São Benedito, o trem especial em que viajava o dr. Júlio Prestes e sua ilustre comitiva dava entrada a nossa estação. Uma longa salva de palmas, misturada aos vivas as altas autoridades do Estado, fechou os últimos instantes em que a locomotiva 505 parava de rodoviar. Aparece, então, a figura simpática e elegante do dr. Júlio Prestes.
(31/10/1926)
Combate ao divórcio
Se atualmente o divórcio é quase tão comum quanto o casamento, em 1926 ele era combatido. Em primeira página, longo artigo defendia o “combate à instituição do divórcio”. “Agita-se novamente um projeto de divórcio a vínculo, separação de bens e de corpos, com a faculdade de novos casamentos. É fato que em muitos países civilizados já existe esta instituição desorganizadora da família, sendo moda muito em voga e fazendo parte dos caprichos luxuosos.” (...) “Combatê-lo é dever de todo patriota, de todo chefe de família, que tem consciência do papel que representa no concerto dos atos de abnegação pelo bem geral.”
(23/1/1927)
Anúncio de página inteira
O famoso Bar XV foi o primeiro estabelecimento a publicar anúncio de página inteira, na edição de 23 de janeiro de 1927 (cuja “campanha publicitária” seguiu-se por meses a fio, em todas as edições). Com “layout moderno e arejado”, o anúncio convidava os leitores a visitar “o melhor estabelecimento da cidade; o ponto mais agradável das famílias de Tatuí; e o local que oferece tudo o que é de bom e melhor”.
(6/2/1927)
Cabelos cortados
A edição de 6 de fevereiro de 1927 dedicava boa parte de sua primeira página à moda dos “cabelos curtos” adotados por mulheres. O artigo era “neutro”: “nada temos a dizer contra esta ou aquela novidade parisiense, porque seria trabalho perdido”. Mas o mesmo artigo reproduzia o curioso decreto de uma província chinesa que ordenava que “mulheres com cabelos compridos, não poderiam mandar cortá-los; e aquelas que já tivessem cortado, deveriam deixá-los crescer”.
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década de 20 (17/3/1929)
(9/1/1927)
Casas Pernambucanas
O primeiro anúncio da tradicional Casas Pernambucanas a estampar as páginas de O Progresso data de 9 de janeiro de 1927. A casa anuncia a “extraordinária venda de saldos, liquidando mais de 3 mil retalhos”.
Volta, Martinho! José Candido Freire O senhor sabe, tanto como eu, reabram os portões da fábrica o que se passa na nossa terra. As São Martinho! indústrias a que Manoel Guedes ligou seu nome estão paralisadas. Nota: Carta assinada por José Candido O senhor sabe, melhor do que eu, Freire destinada a Martinho Guedes. Na o que elas representam na eco- carta, ele pede, em tom pessoal, a volta do filho de Manoel Guedes à cidade para nomia daquele pedacinho deste que ele possa “assumir os negócios da grande Estado. família e evitar o fechamento da fábrica”. (...) Foi ali que meus pais tra- Martinho Guedes respondeu a Candido balharam. Foi ali também que Freire, também em carta aberta, publieu aprendi a trabalhar. cada em 21 de abril de 1929. “Podem (...) Senhor Martinho, Tatuí lhe os meus conterrâneos ficarem certos reclama a presença. Tatuí não de que, o que estiver em mim, dentro de quer apenas o industrial inteli- minhas forças, tudo farei”, promete ele. gente. Quer, também, o coração Pedido atendido, Martinho Guedes assumiu a tecelagem que, por anos a fio, que bem represente aquele que foi um dos principais geradores de emcessou de bater para sempre, e prego e renda no município - além de esse coração, não é preciso ser justificar a instalação de melhorias esadivinho para afirma-lo, está truturais, como energia elétrica e novos com o senhor. (...) Faça que se acessos facilitados. (26/5/1929)
Tatuí tem instalado seu Ginásio Oficial Vemos, afinal, tornar-se em realidade a nossa mais velha aspiração, o nosso mais sublime ideal, o nosso mais belo sonho. Sonho que nos custou esforços e enormes sacrifícios... que nos fez passar por amargos dias de dúvidas e risonhos momentos de esperanças... Com a presença do cel. João Alberto, interventor deste Estado, dr. Navarro de Andrade, secretário da Agricultura e interino da Educação e Saúde Pública, general Flores da Cunha, interventor federal no Rio Grande do Sul, representantes da imprensa de S. Paulo, desta e de outras cidades, autoridades locais e representantes de todas as classes sociais, realiza-se hoje a inauguração oficial do Gymnasio do Estado, nesta cidade. Por este motivo, serão realizadas imponentes e brilhantes festas, que assistirão todas aquelas altas autoridades, povo desta e das localidades vizinhas. Nota: A mobilização popular havia sido intensa e prolongada. Finalmente, na edição de 26 de maio de 1929, O Progresso noticia, em manchete, a instalação na cidade do Ginásio Oficial do Estado. O 4º Ginásio Oficial do Estado precisaria ainda de alguns anos até que fosse construído e, finalmente, inaugurado, em 26 de abril de 1931. A edição dessa data dedicou bom espaço à inauguração, uma conquista sem precedentes para a história da cidade.
(10/4/1927)
Epidemia de escarlatina
A edição de 10 de abril de 1927 noticiou mortes de crianças vítimas de escarlatina. “Não ficou averiguado de onde ela foi trazida, sendo fato constatado que o seu aparecimento foi assustador, fazendo vítimas umas após as outras”.
(25/12/1927)
Ecológico e silencioso
Um curioso aviso publicado na edição de 25 de dezembro de 1927 mostrava a preocupação da municipalidade em manter as ruas limpas. Em todos os sentidos. “De ordem do sr. Prefeito Municipal aviso que ficam expressamente proibidos brinquedos de papagaio, futebol, jogo de malhas e outros, nas ruas e praças da cidade. Fica também vedado lançar nas ruas, praças e passeios de casas, cascas de frutas, vidros quebrados ou quaisquer objetos sólidos ou líquidos que possam causar danos ou incômodos ao transeunte.” Multas severas seriam aplicadas a quem descumprisse a ordem.
(1928)
Escola de datilografia
A escola de datilografia “Remington” foi um dos grandes parceiros comerciais de O Progresso. Por alguns anos, estampou anúncios de meia página. Impensável nos dias atuais, a arte da datilografia era garantia de emprego nos anos 20 - e curso obrigatório para as “mocinhas” das décadas seguintes. O anúncio era objetivo: “Ensinase a escrever no mínimo 35 palavras por minuto com os 10 dedos, sem vícios e sem olhar no teclado”. A mesma escola inscrevia alunos locais nos concursos de datilografia organizados pela Casa Pratt e noticiava o término dos cursos de seus alunos assiduamente. Tanto a escola Remington quanto o professor Oscar A. Mota habitam a memória de muitos ex-alunos do curso de datilografia, até a atualidade.
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A Revolução de 30
Após vitória, Getúlio Vargas passou pela Estação Sorocabana Nas páginas de O Progresso, surgem em 12 de outubro de 1930 as primeiras informações sobre a Revolução daquele ano. Enquanto o presidente da Junta Militar de Tatuí convoca os reservistas em “nome do Governo da República dos Estados Unidos do Brasil para se apresentar em oito dias”, notícia convoca os leitores a “prestigiarem as autoridades”. “Estamos novamente às voltas com um movimento subversivo, promovido por elementos contrários à felicidade do Brasil e à sua fase de estabilização financeira. A luta revolucionária, por mais que a justifiquem os seus tresloucados admiradores, somente prejuízos incalculáveis podem nos causar. (...) Pois bem, em boa hora, o nosso inteligente governo e as dignas autoridades locais, zelando pelo bem-estar da população, tomaram enérgicas providências contra os boateiros, e de acordo com os bons comerciantes, estabeleceram medidas preventivas para a venda de mercadorias, punindo desta forma, severamente, os elementos perturbadores da ordem e da tranquilidade”, posicionava-se o órgão. Já o prefeito da época, Nicolau Sinisgalli Sobrinho, publicava nota voltada ao povo, tratando de tranquilizá-lo, embora noticiasse medidas severas:
“A revolução que irrompeu há dias no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais não atingiu o Estado de S. Paulo. O nosso Estado continua completamente calmo. Entretanto, por prudência, a Prefeitura Municipal e a Delegacia de Polícia vão agir de comum acordo, no sentido de acautelar a população, para que não faltem gêneros alimentícios. Assim, em reunião dos comerciantes, ficou resolvido que nenhum caminhão poderá retirar-se do município sem autorização prévia da Prefeitura, declaração da carga que leva e o fim a que se destina, sob pena de apreensão - tanto do veículo como da carga. (...) A cidade está completamente calma, entretanto, recomenda-se toda a prudência à população para facilitar o policiamento que está sendo feito pela linha de tiro e pelo Batalhão Patriótico. Recomenda-se, principalmente, que o povo não dê ouvidos a boateiros alarmantes, contra os quais a polícia agirá energicamente.” Já com a vitória de Getúlio Vargas e a queda de Luiz Carlos Prestes em 24 de outubro de 1930, O Progresso estampou, na edição de 2 de novembro do mesmo ano, a manchete: “A Liberdade Brasileira”. Eram sinais da imposição do militarismo.
“Raiou no dia 24 de outubro passado a aurora da liberdade do Brasil. (...) A notícia da vitória da revolução foi aqui recebida com indizível satisfação, vendo-se mesmo no semblante de cada tatuiano um não sei que de anormal, demonstrando perfeitamente qual a sensibilidade que lhe povoa a alma por esse acontecimento que ficará gravado com letras de ouro nas páginas da história brasileira. De acordo com a política nova do Estado, foi organizada a Junta Administrativa do município, a qual ficou assim constituída: srs. Laudelino do Amaral Campos, Camillo Vanni e José Menezes da Silva; sendo nomeado delegado de polícia o dr. João de Almeida Moraes; escrivão, o sr. Amadeu Pereira; e prefeito municipal, o sr. cap. Joaquim Assumpção Ribeiro. (...) É preciso que seja esta a última vez que os brasileiros pegam em armas para irmãos entre si se matarem, porém é preciso também que seja esta última vez que um presidente absoluto impõe o seu substituto contra a vontade da maioria da Nação Brasileira.” Os agora “heróis” foram recebidos com festa (era um contingente do Exército e de militares gaúchos, que passaram por Tatuí por conta da Estação
Sorocabana). Primeiro, o general Flores da Cunha; depois, o general Miguel Costa. O Progresso registrou a passagem dos militares e as festas realizadas. Destaque maior foi dado à passagem do próprio Getúlio Vargas, ocasião na qual as duas bandas da cidade - Santa Cruz e São Benedito - executaram o Hino Nacional e o “povo comprimiu-se na estação”. “Vinha o grande presidente no último carro e, ao chegar o comboio na estação, saíram todos na plataforma, e sua excelência, com seu ar sorridente, acenava com a mão, satisfeito, cumprimentando o povo que o aclamava delirantemente.” Ditadura passou a imperar Na mesma edição, O Progresso publicava os irônicos boletins da nova Junta Governativa, que tinha por objetivo “manter a ordem e respeito” no município. “Embora o momento seja de uma transformação radical, em que, como é natural, os ânimos se acham exacerbados, contudo procurará manter a paz e a tranquilidade nesta cidade, evitando quanto possível e dentro do razoável todo ato de tropelia e violência contra pessoa ou propriedade, recomendando a cada um absoluta prudência e submissão, até que se radifique
uma situação definitiva. Nesta sequência de ideias para absoluta paz e tranquilidade de todos, a Junta castigará severamente toda e qualquer pessoa que prevalecer-se da situação, pratique o menor ato de violência, desrespeito quer às pessoas, quer às coisas, para o que conta com o auxílio moral e material de cada um. Viva a Liberdade.” Nomes de ruas são alterados No governo de Vargas, significativas mudanças foram sentidas no município. Todas registradas por O Progresso. Uma delas foi a alteração de nomes de ruas e praças, conforme noticia o periódico em 10 de novembro de 1930: “Tatuí já contribuiu com seu quinhão retirando o nome do dr. Julio Prestes e substituindo para o do dr. João Pessoa a praça mais importante da cidade (atual praça Paulo Setúbal). (...) Igual substituição foi feita também à praça Coronel Fernando Prestes, a qual ficou com seu nome antigo de Largo da Matriz; também a Praça Dr. Candido Motta, que ficou Praça Dr. Antonio Prado; a Travessa dos Voluntários de Tatuí (defensores da célebre legalidade do PRP em 1924) que ficou com o nome do malogrado Cel. Siqueira Campos.”
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década de 30 (30/1/1932)
(14/12/1930)
Chegada do cinema falado
“O nosso elegante Cine Teatro São Martinho acaba de dar um passo gigantesco na senda do progresso. A sua esforçada empresa, procurando servir da melhor forma possível os frequentadores daquela casa de diversões, adquiriu, em São Paulo, um belo e possante aparelho ‘Fonocinex’ para filmes sincronizados, que será inaugurado no dia 24 (véspera de Natal) com o formidável filme ‘O Pagão’”.
(24/2/1929)
Mudanças
Na mesma edição em que registra sua primeira mudança de endereço (da rua 11 de Agosto, 550, para a rua Coronel Aureliano de Camargo, 35 - praça Cândido Motta), o então médico chefe do posto de higiene (saúde) pede mudanças de hábitos da população para combater mosquitos. “É indispensável que o povo auxilie os guardas sanitários desta cidade na extinção dos mosquitos. Agora, depois dessas chuvas prolongadas e copiosas, mais do que nunca a colaboração do povo”, inicia a nota, que traz a lista de cuidados conhecidos até hoje para evitar-se a proliferação de mosquitos. O principal deles: evitar água parada.
(1º/4/1928)
Morte de Manoel Guedes
A morte de Manoel Guedes Pinto de Mello foi registrada na edição de 1º de abril de 1928, com devido convite para missa de sétimo dia, assinada pela esposa Maria Adelaide B. Guedes - o nome da esposa de Manoel Guedes é o endereço onde funciona a redação de O Progresso desde a década de 80: praça Adelaide Guedes, 145.
(1º/7/1928)
Prestação de serviços
A redação de O Progresso também prestava serviços que, atualmente, estampariam o noticiário: o jornal auxiliava donos de anéis de ouro perdidos a reencontrá-los. “Foi encontrado em uma das ruas desta cidade um anel de ouro. O seu legítimo dono poderá procurar informações na redação deste jornal”, citava a curta nota, de dar orgulho aos honestos cidadãos.
Chegada da primeira TV (23/11/1930)
Vargas é glorificado
Após a tomada de poder por Getúlio Vargas, o militar-presidente tornou-se “santo”. Na edição de 23 de novembro de 1930, um exagerado ato deu a ele um “Padre Nosso e Ave Maria dos Revolucionários”: “Padre Nosso - Getúlio Vargas que estais no Rio Grande, glorificada seja a vossa volta. Venha a nós a vossa força, seja vitoriosa a vossa causa, assim no sul como no norte. O pão nosso de cada dia abaixe de preço. Perdoai as nossas covardias, assim como nós perdoamos aos legalistas, e não nos deixeis cair em poder do Washington Luis e livrai-nos do Julio Prestes. Amém. Ave Maria - Ave, Getúlio, cheio de coragem! O povo é convosco. Bendita seja a vossa bravura e a dos vossos colegas. Bendito o fruto da vossa imaginação. Santo Getúlio, sereis um dia Pai dos Brasileiros. Lembrai-vos de nós, pobres brasileiros, agora e na hora de vosso sacrifício pela nossa causa. Amém.”
Berilo Neves
A novidade maior deste mês (e por que não de todo o ano de 1931?) é a chegada, ao Rio, do primeiro aparelho de televisão. (...) Imagine-se um crime cometido em Londres, no Hyde Park, às 10 horas da manhã, e a mesma cena reproduzida à tarde, nos jornais de Nova Iorque. Imagine-se um noivo ciumento, viajando no “Atlantique” rumo a Paris e tendo a seu lado, em figura, como no cinema, a noiva que ficou no Rio e, naquele momento, toma banho de mar em Copacabana. (...) O aparelho que acaba de chegar ao Rio tem uma utilidade sensacional: dá vista ao telefone. (...) Permite que os interlocutores (separados por um fio) se conheçam, ou reconheçam, tão claramente como se estivessem, ambos, na mesma sala, e não em salas diversas, ou em continentes opostos. Nota: Artigo denominado “A Televisão” e assinado por Berilo Neves, ganhou boa parte da capa da edição de 30 de janeiro de 1932.
(31/5/1931)
Notícias censuradas Na edição de 31 de maio de 1931, O Progresso torna público os atos da censura: “Deixam de ser publicados os artigos ‘A solução do problema social’ e ‘Quarenta anos’, respectivamente de nossos colaboradores José Candido Freire e Vicente Costa, por terem sido as suas publicações vedadas pela censura.
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década de 30 Revolução que empolga Mobilização local pelo movimento revolucionário de 32 foi noticiada em larga escala A edição de 24 de julho de 1932 noticia, numa única página, o alistamento de voluntários, pede doações em prol dos soldados, donativos aos combatentes e o comunicado do delegado de polícia, J. de Almeida Soares, que pedia às pessoas “para não darem crédito a boatos sem fundamento, pois as tropas continuavam senhoras das posições conquistadas”. A construção do campo de aviação em Tatuí - onde está localizado atualmente o Aeroclube de Planadores - também foi ligada à causa constitucionalista: “Acha-se quase concluído o campo de aviação mandado construir pela Prefeitura, no bairro da Guardinha, subúrbio desta cidade. Esse campo destina-se a prestar grande benefício aos aviadores que lutam em prol da causa constitucionalista”. Já a edição de 31 de julho de 1932 cita o embarque de tatuianos para lutar pela Revolução Constitucionalista: “Tivemos a felicidade de assistir dia 26 ao embarque de um contingente de voluntários tatuianos. Foi uma cena tocante de entusiasmo patriótico. Uma grande multidão calculada em mais de mil pessoas, de todas as classes sociais,
acorreu à Estação Sorocabana para levar aos bravos moços o abraço de despedida e a esperança de os ver, muito em breve, retornando da luta, cobertos de glórias e de heroísmo. O grupo de voluntários que partiu dia 26, com destino a S. Paulo, era composto de 40 jovens distintos, muitos deles possuidores de pergaminhos e lauréis. A enorme massa popular que os acompanhou levava à frente o glorioso pavilhão nacional, ladeado por gentis senhorinhas tatuianas. A afinada corporação musical ‘Santa Cruz’ executou lindas peças de seu rico repertório. (...) Com a partida desse importante contingente, verificamos o que havíamos afirmado: os tatuianos são tão patriotas como os demais paulistas; os tatuianos também sentem, também são paulistas, também possuem amor à terra onde nasceram.” As edições seguintes, sempre sob a manchete “Revolução Constitucionalista que empolga”, trouxeram relação de doações feitas “à causa”. Um dos destaques são as extensas listas de nomes de doadores que contribuíram para a campanha
“Ouro para a Vitória”, em Tatuí, publicadas sempre nas capas de cada edição. O envolvimento de O Progresso com o movimento era grande. Na edição de 14 de agosto de 1932, o redator-proprietário José Ortiz de Camargo noticiou seu próprio ingresso na Comissão do MMDC de Tatuí, ao lado de Oscar Silveira da Motta e Eucario Holtz. Abaixo, acrescentava: “O Progresso de Tatuí acolhe entusiasticamente qualquer iniciativa tendente a auxiliar o movimento constitucionalista, em prol do qual os gloriosos Estados de S. Paulo e Mato Grosso estão empenhados desde 9 de julho. (...) É necessário que todos auxiliem a presente cruzada, quer oferecendose como voluntário, quer auxiliando com dinheiro ou outro qualquer donativo em prol da causa constitucionalista, que é a causa da Lei.” Já a edição de 4 de setembro de 1932, registra o tatuiano promovido por ato de bravura durante as lutas: “por ato de bravura foi promovido de 2º para 1º tenente o conterrâneo Olegário Machado, que se acha no setor sul, lutando pela causa constitucionalista”.
(5/3/1933)
Carnaval entusiástico Momo teve em nossa Tatuí, neste ano de 1933, um reinado cheio, entusiástico, ruidoso. O corso, ou melhor, o Carnaval na rua, comparado com o do ano passado, esteve bastante animado, bastante folgazão, apesar da ausência de bandos mascarados. A nota “chic” foi dado pelo carro alegórico do Clube Recreativo - um grande encouraçado, artisticamente construído e admirável pela perfei ção, trazen do a bordo um garboso grupo de rapazes fantasiados de marinheiros. Agora, entre parênteses: os leitores notaram a “pose” do João Correa, fantasiado de capitão de fragata?... O carro alegórico da A.A. XI de Agosto também alcançou sucesso. Aquela enorme bola de futebol, girando, girando sem parar, caiu no gosto do pessoal... Nos clubes os festejos carnavalescos ultrapassaram a mais otimista expectativa. Foi, pode-se dizer, nos salões de bailes que o reinado de Momo atingiu o máximo de deslumbramento, entusiasmo, alegria e brilho. Os três grandes bailes promovidos pelo Clube Tatuiense, ao som do jazz band ‘Espírito Santo’, de Tietê, transcorreram animados, num ambiente de alegria. A Associação Atlética XI de Agosto e os clubes Centro América e Operário tiveram os seus bailes animadíssimos até a madrugada. Os bailes do “XIA” foram abrilhantados pelo jazz “Bandeirantes” local, e os do Operário, pelo jazzband “Cruzeiro do Sul”. Os bailes à fantasia do Clube Recreativo, ritmados pelo jazz Bandeirantes, de Porto Feliz, e Tietê Jazz Band, constituíram a nota “chic” do Carnaval. O último baile suplantou todos os recordes, pois eram 8 horas da manhã de quarta-feira de cinzas e ainda cerca de 20 pares rodopiavam pelo salão...
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Décadas do Progresso
década de 30 ‘Sales Gomes’: sugerido pelo jornal O Progresso Instituição técnica estadual foi inaugurada como Escola Profissional Mista Batizada de “Dr. Sales Gomes”, a atual Escola Técnica Estadual foi inaugurada em 29 de julho de 1934 como Escola Profissional Mista. O nome da instituição foi sugerido por O Progresso, como homenagem à importante figura. A inauguração do estabelecimento exigiu grande mobilização pública. As negociações que antecederam a inauguração foram divulgadas intensamente, bem como a solenidade: “Tatuí está vibrando, pleno da mais justa e sincera alegria. Em
tudo, nos jardins, nas ruas, nos lares, há um não sei quê de entusiasmo e de satisfação, pela conquista grandiosa de um pugilo de bravos. Tatuí venceu, mais uma vez, ‘per ardua surrexi!’ (o slogan do brasão na bandeira local, ‘pelo trabalho venceremos’)”, cita-se na edição da data de inauguração. Já na edição de 12 de agosto de 1934, repercute o evento: “Realizou-se dia 29 de julho, a solene inauguração da Escola Profissional Mista Secundária ‘Dr. Sales Gomes’ (a escolha do
Alunas de costura
nome do dr. Francisco de Sales Gomes - ideia de O Progresso constitui, como todos sabemos, um preito de homenagem, muitíssimo justo, da nossa prefeitura ao eminente e saudoso benfeitor, que vive, incontestavelmente, mercê de seu coração grandiosamente generoso e de seu acendrado amor por esta terra, n’alma de toda a população tatuiana).” A inauguração contou com missa campal, solenidade, visitação, banquete e, ao final do dia, grande baile.
(19/8/1934)
Morte de Alberto Seabra Morreu Alberto Seabra - um dos luminares da ciência médica brasileira. Desapareceu, para todo o sempre, a figura respeitável do cientista tatuiano, que tão bem soube fazer da medicina um sacerdócio sublime e admirável. Alberto Seabra foi um pelejador ardoroso. Espírito forte, que não conheceu, o nunca, desânimo doentio. Lutou a vida inteira, corajosamente, embrenhando-se nos meandros escuros e sinuosos da ciência, que ele ia clareando com a luminosidade de sua inteligência. Lutou a vida toda, e a morte, traiçoeira, o foi surpreender no mesmo trabalho insano de sempre. Uma tarja bem negra está marcando, espiritualmente, no coração de todos nós, a dor imensa que nos ficou após a morte desse venerável médico, a quem Tatuí teve a honra de servir de berço natal.
(21/6/1931)
Açucaradas ‘bahianas’
O contato da equipe de redação de O Progresso com seus leitores era próximo. Tão próximo que, vez ou outra, “mimos” eram enviados e, para os agradecimentos, uma coluna foi criada, a “Amigo do Progresso”. “O nosso bondoso amigo sr. Francisco Pelagalli, proprietário da vila São João, desta cidade, mimoseou-nos com um cento de excelentes laranjas bahianas, que fizeram a delícia do pessoal cá da casa. Agradecendo a gentileza do sr. Pelagalli, colocamo-nos a sua disposição e... das açucaradas “bahianas”, cita-se em 21 de junho de 1931. Já em outubro do mesmo ano, os mimos foram bebidas: “O sr. Gustavo Holtz, proprietário da conceituada fábrica de bebidas ‘Araritaguaba’, ofertou-nos uma dúzia da saborosa ‘Guaraná Jazz’, de sua fabricação.”
(28/1/1934)
Novo Coreto da Matriz
O principal ponto da cidade sempre foi alvo de preocupações da municipalidade. A primeira reforma total no coreto foi noticiada por O Progresso em 28 de janeiro de 1934: “O velho coreto irá ser demolido para se proceder a construção de um outro, compatível com o progresso da nossa Tatuí”, cita-se. “O novo pavilhão para concertos musicais será construído inteiramente de mármore sintético. Para o seu ladrilhamento foram adquiridos materiais de primeira, com desenhos ‘chics’, vistosos. Será verdadeiramente imponente, rico, e sua construção obedecerá a moderníssima planta.”
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Décadas do Progresso
década de 30 (16/12/1934)
Paulo Setúbal saúda Tatuí Maurício Loureiro Gama Rua Carlos Sampaio. Um palacete moderno. Uma fila enorme de automóveis parados à porta. Tocamos a campainha. - É aqui a residência de Paulo Setúbal? - É aqui mesmo. Que o senhor deseja? - Tenha a bondade de dizer-lhe que um repórter de ‘O Progresso de Tatuí’ deseja entrevistá-lo. E fomos gentilmente recebidos. Antes, mesmo, de felicitarmos o novo imortal, recebíamos agradecimentos por um artigo que publicamos, sobre sua candidatura à Academia. - Estou contentíssimo com a vitória estupenda que obtive -, declarou-nos inicialmente o nosso entrevistado. Tenho recebido telegramas do Brasil inteirinho, de ministros de Estado,
de interventores, com palavras carinhosas e entusiásticas. Vimos o maço de telegramas. Havia, seguramente, uns trezentos. O primeiro que lemos era de Monteiro Lobato, que cumprimentava Paulo com palavras jocosas e, até um certo ponto, eivadas de fina malícia. Estava assim redigido: “Sinceras condolências” - um beijo fraterno do Lobato. Mas - vamos convir - Monteiro Lobato tem um pouquinho de razão. Pois não é verdade que a morte anda, mesmo, perseguindo furiosamente os imortais?... Paulo Setúbal lê o telegrama sorrindo, e diz ao repórter: - Sou um imortal que não pretende mortalizar-se muito logo...
Paulo Setubal envia, por intermédio de “O Progresso”, uma saudação ao povo de Tatuí. Paulo Setubal faz várias perguntas ao repórter. Quer saber como vai Tatuí. E contamos. Naturalmente exagerando um pouco. Retocando as novidades da terra. Que nossa imaginação ia criando em malabarismos incríveis. E percebemos, na fisionomia do escritor, um não sei que de alegria e ao mesmo tempo de saudade. E, sem que pedíssemos, espontaneamente, ele solicitou tomássemos nota de uma saudação que ia dirigir ao povo de Tatuí. Ei-la: “Ao povo de minha terra Estou muito orgulhoso de ver, em todos os jornais do Brasil, o meu nome ao lado do nome de
Tatuí. Muito pouco tenho feito na minha pobre carreira literária. Se esse pouco, no entanto, servir para projetar um raio de luz sobre minha terra, que sempre estremeci, dar-me-ei por pago das minhas canseiras através de arquivos e alfarrábios.
Viva Tatuí!” Paulo Setúbal Nota: Reportagem de Maurício Loureiro Gama sobre Paulo Setúbal, o então imortal da Academia Brasileira de Letras. O texto encerra-se com mensagem especial de Setúbal a Tatuí.
(12/8/1934)
Desarranjos e falta de papel
E quando depende-se exclusivamente de uma única impressora e ela trava? Isso foi o que aconteceu com a edição de 3 de agosto de 1934. O problema foi justificado na edição seguinte: “Em virtude de um sério desarranjo na máquina impressora, esta folha não pôde circular domingo último. Desculpem-nos, por isso, os caros leitores.” Já a falta de papel levou a situação semelhante. Em 23 de agosto de 1942, o diretor anunciava: “Avisamos aos nossos leitores e demais interessados que, por falta de papel, este jornal não circulará no próximo domingo, dia 30 do corrente.”
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Décadas do Progresso
década de 30 (11/8/1935)
Inauguração do estádio da AA XI de Agosto Será inaugurado hoje - 11 de agosto de 1935 - o estádio da AA XI de Agosto, o qual possui todas as dependências indispensáveis a uma moderna praça de esportes, tais como campo gramado, campo terra, confortável arquibancada, vestiários, chuveiros, etc... As cerimônias inaugurais serão iniciadas às 13 horas, obedecendo um bem organizado programa. Para o jogo inaugural aqui virá o
célebre quadro do “Palestra Itália”, várias vezes campeão brasileiro, que enfrentará os agostinos. O jogo preliminar será disputado pelo “Sete de Setembro” de Porangaba, e o 2º quadro do XI de Agosto. Acompanhando o quadro porangabense, virão daquela cidade numerosos torcedores e uma corporação musical que, com a banda Santa Cruz local, abrilhantará as solenidades.
(11/10/1936)
Publicidade agressiva
“Isolados da Lata - os flocos da nova aveia Reisa são mais ricos e mais gostosos.” Esse era o título da publicidade que roubou a capa inteira da edição de 11 de outubro de 1936. Sob pretexto de “apresentar ao povo de Tatuí os produtos da renomada fábrica Reisa”, de São Paulo, o noticiário principal transformou-se em farinha com “mais vitaminas, mais calorias, mais proteínas, mais minerais e mais energia!”
(9/5/1937)
Morte de Paulo Setúbal Maurício Loureiro Gama A morte deu a Paulo Setúbal uma coisa que ele jamais teve em vida, em virtude mesmo da moléstia pertinaz que engolia aos poucos a vibratilidade de sua alma requintada de artista maravilhoso da palavra e das ideias: a s e re n i d a d e . Morto, a sua face macia ficou com uma lividez suave, ganhou uma serenidade santificada. Nos últimos instantes de sua existência, quando sua vida precária era apenas a resistência indômita de
um espírito cheio de luz, lutando contra a velhice precoce do corpo esguio que se diluía, Paulo era nervoso, falava apressadamente. Definhava a olhos vistos, ia se acabando, seus olhos vivos iam ficando contemplativos, parados. Era o fim que vinha vindo. (...) Alguns minutos antes de cerrar os olhos, balbuciou algumas palavras quase
inarticuladas. Pediu aos entes queridos que o rodeavam que evitassem excesso de notícias em torno de sua morte. Que seu enterro fosse o mais simples, não queria coroas nem flores. Queria humildade. Neste minuto doloroso para nós outros, quando Tatuí inteira chora a morte de seu filho mais ilustre, nem é preciso recordar o que foi Paulo Setúbal e o que ele representou no mundo intelectual do Brasil. Bastará correr os olhos pelos jornais enlutados. Monteiro Lobato já relembrou a sua bondade extravasante, a dar-se loucamente a todas as ideias nobres e ricas de beleza. Taunay frisou que os paulistas lhe devem essa obra notável de divulgação novelística da
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epopeia dos sertanistas. (...) Num país onde a profissão de escritor é a mais penosa e onde ninguém quase se dá ao trabalho de manusear um livro, por mais interessante que seja, conseguiu ele integrar-se no ritmo das volições populares. Nota: Trechos extraídos de artigo assinado por Maurício Loureiro Gama, que prestou homenagem ao escritor.
(25/12/1938)
Solteiros pagam impostos
A curiosa notícia de 25 de dezembro de 1938 explica-se por si só: “Dentro de poucos dias o presidente da República assinará importante decreto, estabelecendo medidas de proteção às famílias de prole numerosa. De acordo com o referido decreto, ficarão sujeitos a pagar imposto os celibatários maiores de 25 anos.”
Asilo São Vicente de Paulo
Entidade é inaugurada após mobilização dos tatuianos O prédio do Asilo São Vicente de Paulo, como conhecido atualmente, foi inaugurado em 28 de maio de 1938. A inauguração ocorreu após mobilização de mais de um ano. Toda a construção do novo lar dos “velhinhos do seu Chico Pereira” (que já abrigava idosos desde 1905) foi custeada por meio de doações da comunidade local. Foram leilões, “livros de ouro”, campanha de sócios. As atividades eram semanais e amplamente divulgadas - antes e após a inauguração. A inauguração contou com dois dias de festa e direito a transmissão pela Rádio Clube de Sorocaba, além de terem sido filmadas com sincronização pela Sonora Filmes de São Paulo. Apresentação de bandas, pro-
cissão, missa solene, homenagem a Chico Pereira, antecederam o ato inaugural, seguido de baile oficial no Clube Tatuiense. Crônica de Sergio Ribas, publicada em 19 de junho de 1938, descreve o novo asilo: “Neste largo de amor e bondade se ergue a nova casa amiga dos velhinhos de Seu Chico Pereira... (...) O prédio, cuja planta é do tatuiano Oscar Bernardes, é elegante em linhas. Lá dentro você irá ver como a obra nada tem de supérflua nem suntuosa. Porque, meu amigo, atentar para os rigores da higiene não é, em absoluto, satisfazer caprichos e extravagâncias de um luxo afinalista... Aquelas duas casinhas, uma em cada lado, têm quatro quartos cada uma e se destinam a
pensionistas e casais de asilados. Como estas, outras seis casinhas serão ainda construídas, três de cada lado, formando assim os primeiro e segundo pavilhões, que serão ligados, por galpões, ao corpo central. Ali mais adiante está a fossa séptica que permite o aproveitamento dos resíduos para adubo. É uma novidade para Tatuí, não acha? No pavilhão central, há o alpendre. Esta primeira sala, à esquerda, é da Administração. O hall fica aqui, à direita, com os degraus que conduzem ao andar superior. Ainda à esquerda deste corredor, temos uma bem montada farmácia e em seguida a sala de visitas. (...) À direita, vem a enfermaria para mulhe-
res, uma área descoberta para banhos de sol, outra enfermaria para homens, dois quartos - um para os homens e outro para as mulheres - com instalações de banho e privadas patentes; em seguida, o consultório médico (o ‘inimigo número 1’ da morte). (...) Temos ainda dois amplos dormitórios para homens com 12 camas cada um: em frente, mais dois quartos com instalações sanitárias e, seguindo, o mesmo para mulheres: dois dormitórios com 12 camas. (...) À esquerda vem o refeitório das madres; eis a copa, com essa ótima geladeira; a cozinha ampla, com magnífico fogão. No refeitório, suas cinco mesas que comportam 40 pessoas. No andar superior, há quatro
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quartos para as madres, quartos de banho e rouparia. Há, ainda a capela, com seus bancos que comportam cerca de 50 pessoas, seu lindo vitrô com a imagem de São Vicente, o seu altar de mármore e esta mística serenidade, esta sagrada e imperturbável religiosidade que impressiona e comove.” ROMARIA A edição de 19 de junho de 1938 traz, ainda, descrição da já naquele tempo tradicional romaria ao Asilo: “Realizou-se dia 16 a imponente romaria dos sitiantes do município ao Asilo S. Vicente, a fim de levarem suas esmolas aos pobres que perambulavam pelas ruas, e agora humanamente acolhidos pela modelar casa de caridade. Foi uma cena comovedora a chegada dos romeiros, em número superior a mil, acompanhados pela banda União Operária, que, como sempre, gentilmente prestou seu concurso. Eram crianças, moços e velhos, uns a pé, outros a cavalo, alguns em carrinhos, todos empunhando seus donativos, que davam com o maior prazer.” (5/3/1939)
Escola Normal em Tatuí Parece um sonho, mas é a mais pura das realidades. Tatuí vai ter enfim a sua Escola Normal, para a formação de professores primários. Para poder encaminhar os filhos, dar-lhes uma profissão e educação condigna, não será mais preciso o sacrifício pecuniário dos menos favorecidos da sorte, nem os obscuros heroísmos dos deserdados da fortuna. (...) Tatuí vai ter ainda este ano a sua Escola Normal, o seu Curso de Formação Profissional.” Nota: O anúncio da Escola Normal em Tatuí mereceu manchete impressa acima do próprio logotipo do jornal, em 5 de março de 1939. Exclamativa, ela dizia: “Tatuí vai ter um Curso Profissional de professores!”
década de 40 (7/3/1943)
(12/12/1943)
Tatuí ganha um colégio
Inauguração do estádio “P.G. Meirelles”
Os tatuiamos tomaram conhecimento da localização definitiva do Colégio em nossa cidade, às 22 horas do dia 1 do corrente, pelo “Diário da Noite”, de São Paulo, quando a maior parte da população já estava recolhida, repousando das fadigas de um dia de labuta. Alguns instantes mais tarde o Prefeito Tricta Junior recebia, do secretário do sr. Interventor Fernando Costa, a confirmação telefônica da grata notícia veiculada pelo popular vespertino dos “Diários Associados”. E, pelas 23 horas, a cidade era despertada pelo espocar de
um sem número de foguetes e morteiros. Automóveis conduzindo jovens delirantes de entusiasmo cortaram a cidade em todas as direções, anunciando a notícia. Nota: Sob a manchete “Desfecho justo para uma causa justa: Tatuí tem um colégio!”, foi dada a notícia da autorização dada à Escola Normal de Tatuí para funcionar como colégio, oferecendo cursos clássico e científico. A capa da edição traz homenagem ao presidente Getúlio Vargas, ao interventor Fernando Costa, a d. Chiquinha Rodrigues e ao prefeito Tricta Junior, com publicação de suas fotos.
O dia de hoje assinalará no tempo um acontecimento marcante na vida esportiva tatuiana, representado pela inauguração solene do novo estádio do E.C. São Martinho o qual - numa fe-
liz e merecida homenagem ao venerando e saudoso genitor desse esportista incansável dos “alvicelestes” que é Dario Meireles - recebeu o nome de Plácido Gonçalves Meireles.
(4/4/1943)
Reinauguração do Cine Teatro São Martinho Conforme estava marcada, verificou-se quinta-feira última, dia 1º do corrente, a reabertura do Cine Teatro São Martinho. O fato constituiu, sem favor algum, o mais expressivo acontecimento social da semana em nossa terra, tendo repercutido intensamente entre os tatuianos. A cidade inteira, que esperava ansiosa o dia da reabertura e acompanhou com o máximo interesse a marcha dos traba-
lhos de reforma, não ocultou sua satisfação em poder retornar à tradicional casa de diversões, agora inteiramente reconstruída, moderna, luxuosa - um cinema como não existe outro nesta zona sul e que se inclui entre os melhores de todo o Estado, um cinema que honra e engrandece nossa terra, engrandecendo e honrando o espírito progressista do industrial Juvenal de Campos Filho, seu proprietário.
Time do São Martinho na inauguração do estádio
(11/5/1941)
A primeira em cor
A primeira publicação em cor publicada por O Progresso foi um anúncio. Totalmente em letras vermelhas, na capa da edição de 11 de maio de 1941, as Casas Zenico anunciavam a “entrega de chaves das instalações de sua filial” na cidade, convidando “todos os que compõem a população para visitar as vitrinas”. Já a primeira página inteira colorida foi publicada na edição de 24 de maio de 1942. Tratava-se da programação completa das festividades do Coração Eucarístico de Jesus, em Tatuí.
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Décadas do Progresso
década de 40
Tatuianos no ‘front’ Jornal registra a ação de tatuianos nas Forças Expedicionárias Brasileiras Notícias a respeito da 2ª Guerra Mundial tornaramse mais locais a partir de 23 de agosto de 1942. Na ocasião, foi publicada a notícia: “O Povo de Tatuí lavrou veemente protesto contra a inominável agressão do ‘Eixo’ à soberania do Brasil”, relatando as movimentações na praça central e o “empolgamento” com a “indignação”. Já na edição de 30 de agosto de 1942, era publicada: “Pelo Tiro de Guerra 135, foi aberta uma lista para obter donativos destinados à compra do avião ‘Araraquara’, que substituirá o navio ‘Araraquara’, covardemente afundado pelos nazistas. A iniciativa foi recebida com a melhor boa vontade pelos tatuianos, cujas contribuições estão sendo dadas com grande entusiasmo e alto espírito patriótico.” Na edição de 17 de janeiro de 1943, O Progresso reproduz reportagem da União Brasileira de Jornalistas, sobre como se vivia nos campos de concentração nazistas. (...) “O medo, o chicote, a tortura, o desrespeito a todas as normas, a todos os princípios de humanidade - eis que em se baseia a política guerreira de Hitler. Quando esta guerra terminar, o mundo conhecerá os horrores que o nazismo praticou, dentro e fora da Alemanha, com aqueles que foram conquistados e
com os que não quiseram submeter-se à ‘disciplina’ hitlerista. A vida nos campos de concentração nazistas fornecerá subsídios a histórias impressionantes e a episódios inéditos na vida dos povos.” Sob essa manchete, O Progresso noticiou em 25 de fevereiro de 1945 os nomes dos tatuianos que integravam as tropas brasileiras na 2ª Guerra Mundial. As primeiras tropas nacionais foram enviadas somente em outubro de 1944. Em fevereiro de 1945, a informação era de que “subia a quase duas dezenas o número de tatuianos que se encontram no ‘front’, integrando as heroicas Forças Expedicionárias Brasileiras”, citava-se. O Progresso vinha noticiando informações sobre a guerra mais intensamente a partir do segundo semestre de 1944. Os soldados tatuianos lutaram na Itália “combatendo por um mundo melhor, livre da peste nazista”. Nessa mesma edição, foram reproduzidas duas cartas de soldados tatuianos, assinadas por Benedito Joaquim e Paulo Lopes Rolim. Já a edição de 13 de maio de 1945 traz a manchete acima do logotipo do jornal: “Tatuí delirou com a vitória das nações aliadas”. Toda a primeira página é dedicada ao “pensamento de Tatuí a respeito da vitória e da paz”, com opiniões de nomes expressivos do
município sobre o fim da “Grande Guerra”. A edição de 19 de agosto de 1945 noticia a chegada dos “pracinhas” a Tatuí, com as devidas homenagens. “Os ‘pracinhas’ regressaram à Pátria. O Rio recebeu-os com majestosa pompa, S. Paulo vibrou com a chegada dos heróis paulistas, Tatuí falou de perto aos corações dos ‘pracinhas’ tatuianos, que cobertos de glórias retornaram a seus lares. Entre sorrisos e lágrimas, as mães abraçaram seus ‘pracinhasmarechais’ e o povo vibrou indescritível entusiasmo. (...) Sentimo-nos orgulhosos de nossos heróis. Eles foram lídimos representantes na Europa e desempenharam de maneira glorificante a missão que lhes foi confiada. Eles registraram para sempre a bravura, a coragem e o patriotismo do soldado da nossa terra, pois, para nosso orgulho, vimos que os 9 pracinhas aqui chegados foram todos mais de uma vez condecorados pelos seus feitos militares, todos com mais de um ano de serviço de guerra. Os expedicionários de Tatuí homenageados foram: Florindo Antonio Machado, Silvio Silveira de Lima, Roque Rosa, Francisco Mendes Costa, Antonio Moroni, João Rodrigues Arruda, João de Oliveira, Evilasio Camargo e Frank Barbosa Carneiro.”
(15/10/1944)
Futebol que rende notícia É simplesmente inacreditável que numa cidade que se preza de civilizada como Taubaté (...) se verifiquem cenas de selvageria, de barbárie como as de domingo, cenas degradantes de assanhado banditismo, dignas do mais baixo “far-west”. Nota: A capa da edição de 15 de
outubro de 1944 foi praticamente toda dedicada a uma partida de futebol. Na ocasião, o campeão local São Martinho jogou na casa do adversário e levou o título do interior do Estado – façanha inédita para a cidade. Vitoriosos, os jogadores foram alvos de pancadaria. O fato foi tão terrível, que o time mereceu, inclusive, manifestação pública de apoio do adversário local, o XI de Agosto.
(07/9/1941)
Primeiro suplemento
O primeiro suplemento publicado por O Progresso - uma página simples que integrou a edição de 7 de setembro de 1941 - reproduzia o decreto 7.619, que determinava a ampliação das instalações da Empresa Luz e Força Elétrica Tietê S.A. e da Companhia Luz e Força Tatuí (foto), no rio Sorocaba. A questão da “luz e força de Tatuí” vinha sendo publicada repetidamente: “Este jornal apelou por uma centena de vezes, por suas colunas, para a administração da empresa no sentido de por um paradeiro a este estado de coisas”, citava-se no mesmo suplemente. “O povo está cansado de pagar uma energia que não desfruta, uma luz que não é luz, que só serve para fazer os relógios caminharem febrilmente e produzirem numéricos excessivos para os cofres insaciáveis da empresa”.
(29/12/1946)
Rádio Difusora de Tatuí
A capa da edição de 29 de dezembro de 1946 traz a foto do “moderno transmissor da Rádio Difusora de Tatuí”. A torre de 50 metros de altura deveria ser construída por Eudóxio Xavier da Silva, o entusiasta da rádio na cidade. A torre foi construída em área doada pela prefeita Chiquinha Rodrigues e as propagandas do primeiro dia, revertidas a associações de caridade locais. O primeiro prédio foi adaptado para estúdio na rua 15 de Novembro, 404.
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Décadas do Progresso
(19/8/1945)
(29/6/1947)
Chiquinha Rodrigues, “o” prefeito
Crise na Fábrica São Martinho
A nomeação de d. Chiquinha Rodrigues para o cargo de prefeito de Tatuí causou a mais viva satisfação à população local, que a demonstrou eloquente e calorosamente domingo último, através das homenagens expressivas com que recebeu sua conterrânea e amiga, então investida de suas novas funções.
Nota: Sob o título “D. Chiquinha Rodrigues é ‘o novo Prefeito’ de Tatuí”, notícia mostrava o fato inédito: a primeira mulher a assumir o cargo na história da cidade. Ela tomou posse em 18 de agosto de 1945, em São Paulo, e chegou a Tatuí no dia seguinte. Chiquinha Rodrigues permaneceu na prefeitura por 15 meses, deixando o cargo a José Antonio Seabra, para concorrer a deputada federal. Ela venceu, sendo a candidata mais votada na cidade, com 4.140 votos.
(22/9/1946)
Jooor-nállll!... S. Ferraz Durante quinze anos seguidinhos, em todas as manhãs domingueiras, fossem elas frias ou quentes, luminosas ou feias, chuvosas ou não, mais uma voz se acrescentava às mil vozes que caracterizam o amanhecer do esperado dia de descanso semanal: - Jooor-nálll!... Era o canto anasalado e típico do Julião, o entregador constante do “Progresso”. Quantas vezes não me deixei ficar preguiçosamente na cama, gozando com avareza a tepidez convidativa do leito, até que o Julião viesse ao meu portão com o seu canto de guerra. Porque eu gostava de arremedálo, embora mentalmente. Aquele “jooor-nálll!” me fazia recordar o menino distante que também entregara jornais nas manhãs domingueiras, mas cuja voz não se tornara, por perderse na vulgaridade, mais uma música para a incompreendida Sinfonia das Coisas, como a do Julião. (...) Ele morreu no dia 24 de setembro do ano passado, uma triste segunda-feira, de ar quente e parado, como se a natureza se preparasse para a feitura de uma edição especial anunciando a sua
morte. Porque Julio Antunes de Campos foi um apaixonado da sua simples, simplíssima condição de entregador do “Progresso”. E com sua constância e dedicação, que o faziam desconhecer todos os empecilhos para o seu trabalho, deu a todos nós o exemplo sempre vivificante do homem de boa vontade. São assim, sempre assim, as almas simples... Uma vez Julião se viu em Porangaba, numa semana de chuvarada, sem uma única condução para voltar. Ficou desesperado, pois tinha que fazer a “sua” entrega. E na madrugada do domingo, quando o velho e sereno prelo ainda gemia com o trabalho estafante dos que o faziam funcionar, apontou na redação. Vinha todo enlameado. Sujíssimo como um porco gordo. E ante o espanto de todos: - Não tinha condução pra eu voltar. Vim a pé. Precisava fazer a entrega hoje... Nota: Artigo assinado por S. Ferraz em homenagem a um dos primeiros entregadores de jornais de O Progresso (talvez o primeiro oficialmente na função por mais tempo), por ocasião de um ano de seu falecimento.
Os operários da fábrica S. Martinho viveram momentos de forte apreensão com o fechamento daquele estabelecimento têxtil, medida que, segundo se propalou nos primeiros instantes, fora tomada em caráter definitivo. Nota: O texto informava que a fábrica seria reaberta dia 10 de julho e que fechara somente “para efeito de férias”. Após o ocorrido, a fábrica foi, tempos depois, associada à família Chammas. O fechamento não foi evitado, anos depois, como mostra notícia de 4 de janeiro de 1970.
Um ‘cartoon’ na capa
A edição de 21 de maio de 1944 traz o primeiro cartum da história de O Progresso. A tirinha exalta a atuação do exército americano contra os alemães, na 2ª Guerra Mundial.
(4/1/1970)
Crise da São Martinho a caminho de solução
Parece caminhar, afinal, para uma solução a crise da Fábrica São Martinho - paralisada desde algumas semanas e com seus operários (sem receber há três meses) enfrentando uma situação de calamidade. É o que nos induz a acreditar a presença, nesta cidade, dia 30 último, dos industriais Gilson Mussolini e Antonio Lacerda Abreu, que adotaram medidas muito bem recebidas pelos trabalhadores para restabelecer a normalidade naquela indústria local. Os novos responsáveis pela São Martinho foram festivamente acolhidos pelos líderes sindicais da cidade em reunião a que também compareceu o sr. José Machado, presidente eleito da Câmara Municipal de Tatuí, e que representou o prefeito Orlando Lisboa de Almeida.
(14/11/1948)
Os artigos da Casa dos Presentes agradam sempre
O jargão do mais antigo estabelecimento comercial da cidade é conhecido até a atualidade. Em 16 de novembro de 1947, O Progresso publicava nota sobre a fundação da loja: “Acaba de ser instalada no coração da cidade uma nova casa comercial - Casa dos Presentes Ltda., à praça da Matriz, 134. Fundada por filhos desta terra, espera contar com a preferência do público tatuiano, para o que tem o bom propósito de colocar-se humildemente ao lado de outros estabelecimentos comerciais de Tatuí. Não promete outra coisa senão manter maior cordialidade possível com os demais estabelecimentos comerciais e manter ainda com o generoso público tatuiano um
(8/2/1948)
Propaganda ousada
A edição de 8 de fevereiro de 1948 traz, à página 3, a mais “ousada” das propagandas até então. O anúncio da programação dos cines São Martinho e São José: “Dorothy Lamour, o pecado moreno, amando Jon Hall em Aloma, a Virgem Prometida”. O filme, em “technicolor”, era a atração do final de semana na cidade. O anúncio tinha direito a imagem do casal protagonista.
comércio honesto, defendendo o seu próprio interesse. Prestigiemos o que é nosso: colaboremos com os tatuianos bem intencionados no engrandecimento de nossa cidade. Tatuí está se reerguendo nos demais setores: que seu comércio dê uma contribuição valiosa.” Já em 14 de novembro de 1948, a
manchete do jornal celebra o primeiro ano da Casa dos Presentes. A loja já era citada como “patrimônio de Tatuí”. Registra a notícia sobre o slogan “os artigos da Casa dos Presentes agradam sempre”: “As crianças, os moços, os velhos, todos repetem essas palavras tão espontaneamente, que até parecem brotar de seus lábios!”
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Décadas do Progresso
década de 50 (14/1/1951)
(19/4/1951)
Tatuí na TV
Um sonho que se realizou
Vergniaud Gonçalves
Todas as semanas, uma espanhola funcionária das Rádios Associadas passa panqueque e pó de arroz n. 28 – cor de tijolo no rosto de um jornalista que, em seguida, artisticamente maquilado como um astro de Hollywood, aparece na televisão para ler o seu comentário e dar aos seus fãs as últimas informações sobre a política nacional, estadual e municipal. Talvez você já percebeu que estou falando de Maurício Loureiro Gama, o primeiro jornalista na América Latina com um programa de televisão - vídeo político - irradiado às 20h30, das quintas-feiras. Com trinta e oito anos de idade e vinte de imprensa, Maurício saiu um dia de Tatuí - terra de jornalistas - para ganhar cento e cinquenta mil réis no “Correio de São Paulo”, iniciando sua vida profissional na cidade dos arranha-céus, onde vive até hoje. Daqui não arreda o pé. Não gosta de viajar e até pouco tempo tinha medo louco de avião. Por isso mesmo, deixou de conhecer a Europa, quando foi convidado por uma empresa aeronáutica para visitar a Holanda. Eu tive a honra de substituí-lo à última hora. Referindo-se ao primeiro dinheiro que ganhou escrevendo para imprensa paulista, disse o conhecido comentarista: - Dava pra tomar chope no Franciscano, comprar uns livros no sebo e sonhar um pouco... O menor salário de sua vida, Maurício ainda o recebe do “Progresso”, de Tatuí. Ganha um cruzeiro por ano. O dinheiro é pago solenemente pelo diretor Vicente Ortiz. Trata-se - é claro - de uma remuneração simbólica. O comentarista de hoje faz como aqueles americanos que trabalham para o Estado por um dólar anual. Hoje Maurício ganha aproxi-
Maurício Loureiro Gama na TV, em 1951 madamente quinze mil cruzeiros - para mais e não para menos escrevendo para rádio e jornal e ocupando lugar destacado entre os cronistas parlamentares. - O dinheiro de hoje dá para viver mais ou menos e educar os pirralhos que são o meu tesouro, afirma o jornalista. Maurício Loureiro Gama tem três filhos: Teófilo (13 anos), Mauri (10) e Ana Lucia, um projeto de brotinho com seis anos de idade, e que parece ter bossa para o jornalismo. Mauri tem tendências para ser um agrônomo pacato, enquanto que o mais velho ainda não se decidiu pela profissão do pai. A mãe dos pimpolhos - D. Maria Stela de Campos Gama - é uma senhora encantadora. Está sempre ao lado de Maurício, a quem se uniu em 1935, quando o regime dos vales imperava nas redações e os salários eram de amargar. O maior prazer do jornalista é ficar em casa e sua mania, os passarinhos. Tem dois avinhados - curiós - que causam inveja ao deputado Castro Neves, um grande criador. As ideias de Maurício sobre política assim se resumem: - Topo qualquer revolução para defender a liberdade. Pois vivo dela. Se voltar a tirania, me mandam calar a boca. - A televisão é um mundo novo, surpreendente, fantástico.
Tomara que seja mais um instrumento a serviço da democracia. Cassiano Gabus Mendes, seu diretor, é um gênio. Ele tem a intuição sutil e compreende o alcance da televisão. É o nosso professor na Universidade do Sumaré, da qual é reitor mestre Costa Lima, diz Maurício Loureiro Gama. Em seus comentários, o filho de Tatuí é irreverente, mordaz e sabe usar o “bom humor” como poucos. Escreve com extraordinária facilidade e clareza. É uma inteligência viva a serviço do jornalismo. Grande conversador, sua palestra é muito agradável, e colorida. - A crônica que mais quero bem - diz o jornalista - é “Chorinho (para cavaquinho, flauta e violão), uma declaração de amor a Tatuí, minha terra”. Maurício trabalha com afinco, e pratica o jornalismo com seriedade. Isso não o impede, no entanto, de apreciar os trocadilhos. Quando terminava um programa de televisão, há poucos dias, foi visitado pelo seu colega Tulman Neto. - Que veio fazer, velho? - perguntou Maurício. - Vim só para TV, respondeu Tulman Neto, a quem coube a vez no trocadilho. (Do “O Tempo”, de S. Paulo, de 17-10-1950)
A segunda-feira desta semana marcou uma data histórica para Tatuí. O telefone nos trouxe, cerca das 14 horas, uma notícia das mais alviçareiras para a nossa gente: o exmo. sr. Governador do Estado de São Paulo sancionara a lei criando o Conservatório Dramático e Musical - o primeiro, oficial, em todo o Estado. O povo tatuiano, surpreendido pelo auspicioso fato, vibrou de entusiasmo e contentamento. A chegada do noturno, a estação da Sorocabana encheu-se de gente para receber o seu dinâmico prefeito, dr. Aniz Boneder, prestandolhe espontânea e significativa homenagem. Espocaram fotos e a cidade foi sacudida por uma grande vibração cívica, apesar da hora algo adiantada. Aglomerações se formaram, discutindo o assunto que a todos empolgava. Nossos filhos poderão agora contar com mais um estabelecimento de ensino, onde as vocações para o teatro e a música encontrarão o ambiente propício para o seu desenvolvimento e posterior consagração artística. Vejamos rapidamente o programa de ensino: teoria e solfejo, harmonia, história da música, pedagogia musical, folclore nacional, ensino de piano, violino, violoncelo, canto, orfeão, declamação lírica e dicção de arte dramática etc. O campo é amplo e fecundo. Nossa mocidade poderá escolher à vontade a disciplina do seu gosto ou que mais esteja de acordo com os seus pendores artísticos. Tudo isto é maravilhoso!
Algo tão grandioso que exorbitava de nossas ambições e possibilidades, no momento. Estamos verdadeiramente encantados com o régio presente. Parece um sonho de mil e umas noites, qualquer coisa que superou nossa própria imaginação, um fato inusitado de largas repercussões no seio da sociedade tatuiana, do seu povo honesto e trabalhador que, até aqui, sempre viu com ceticismo as promessas governamentais. (...) “A promulgação, na data de hoje, da lei 997, que cria o Conservatório Dramático e Musical em nossa cidade, representa uma conquista tão importante para o nosso progresso material e cultural, que torna desnecessária qualquer explanação com o intuito de encarecer o seu real valor. Esta manifestação ruidosa que agora mesmo sacode a nossa Praça da Matriz, tomada de assalto pelo entusiasmo do povo de Tatuí, que dá largas ao seu júbilo pela obtenção do já seu Conservatório, diz bem do alto grau de compreensão de cada um no que isto representa para a vida do nosso município”. Palavras do então prefeito Aniz Boneder. Nota: Notícia que marcou a primeira edição extraordinária da história de O Progresso. Ela traz a manchete, acima do logotipo do jornal: “Um marco de excepcional grandeza na história de Tatuí”. Em reportagem que ocupa toda a primeira página e desdobra-se nas páginas seguintes, é anunciada a criação do Conservatório de Tatuí. Cogitavase, também, o local para funcionamento da escola.
(12/7/1959)
Necrologia
A primeira vez que a “Necrologia” aparece como coluna é na edição de 12 de julho de 1959, quando foram noticiados os falecimentos de Pedro Holtz e Thomas Kershaw. Tempos depois, a coluna tornou-se fixa, registrando todos os falecimentos ocorridos em Tatuí. Ela é mantida até os dias atuais.
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Décadas do Progresso
década de 50 (28/6/1953)
O nascimento da vila São Cristovão A propaganda anunciava em 28 de junho de 1953: Eucario Holtz tem o prazer de comunicar a seus amigos e ao povo em geral, e de modo principal aos comerciantes, industriais e lavradores que pretendam uma aplicação segura de capital, com lucro em pouco tempo, e aos trabalhadores que almejam a casa própria, com fornecimento de tijolos, para pagamento em 20, 30 e 40 meses, que a planta da parte principal da “Vila São Cristovão”, de sua propriedade, situada no bairro do Morro Grande, de onde se avista quase toda a cidade, cuja área total mede mais de 12 alqueires, acaba de ser aprova-
da pela Engenharia Sanitária do Estado, pela 2ª Região Militar e
pela Prefeitura Municipal. Participa também que contratou os
serviços de conceituada firma concessionária da Capital, para vendas, dentro em breve, nesta e cidades vizinhas, dos lotes da referida Vila, mediante vantajosos planos, com facilidades de pagamento, inclusive pelo Plano Especial, no qual é concedida imediatamente a escritura definitiva ao comprador, para pagamento com prazo a combinar. Tem ainda a grata satisfação de comunicar que a construção da Igreja de São Cristovão deverá ter início dentro de poucos dias, pela comissão encarregada, cujo prédio será localizado em frente ao posto de gasolina, que já está sendo construído nas imediações.
(28/6/1953)
Feira livre em Tatuí Comunicam-nos: Na noite de 25 do corrente, realizou sua primeira sessão ordinária a Comap local, tendo resolvido sobre os seguintes assuntos: 1º) Aprovando a indicação do vereador José Picchi, foi autorizada a instalação de feiras livres a título de experiência, sendo que a primeira será localizada na praça Martinho Guedes e terá lugar no dia 5 de julho próxima entre as ruas José Bonifácio e 13 de Maio, observada a orientação dos fiscais.
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Décadas do Progresso
década de 50 (10/1/1954)
Crise de energia elétrica Insurge-se Tatuí contra o jugo de San Juan Como noticiamos em nossa edição passada, durante toda a semana Tatuí viveu momentos agitados - porém dentro de absoluta ordem -, debatendo em assembleias populares, em sessões de suas entidades de classe e no recinto da Câmara Municipal a remenda crise de energia elétrica a que chegamos, graças aos desmandos, à incúria e incapacidade da empresa San Juan. Assim, tivemos o primeiro pronunciamento, em face da situação de calamidade pública a que fomos conduzidos, no dia 2 deste mês de janeiro, às 20 horas, quando considerável massa popular, previamente convocada, se reuniu na Rádio Difusora, lavrando seu descontentamento e reivindicando solução para o problema. Diversos oradores se fizeram ouvir na ocasião, resultando desse movimento a constituição de uma comissão formada pelos senhores Olívio Junqueira, Ogeniro Rodrigues da Costa, Dionísio Tambelli, José Orsi e Orlando Avalone. Esta comissão ficou encarregada de elaborar e fazer chegar às mãos do sr. governador do Estado um memorial, solicitando, se possível dentro de 30 dias, uma solução rápida e prática para suavizar a presente situação. Na Associação Comercial Por sua vez, determinadas a enfrentar mais uma vez o problema, mobilizaram-se as nossas entidades de classe, realizando movimentada reunião no último domingo. Além da diretoria da Associação Comercial, de autoridades locais, da imprensa e rádio, de elementos representativos das mais diferentes categorias de profissionais, estiveram presentes à reunião, nela tomando parte ativa, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem, o Sindicato
do Comércio Varejista e Associação Rural da Zona de Tatuí, representados pelos seus presidentes, srs. Ari de Campos, José Machado e Sebastião Arruda Vieira, respectivamente. Os debates foram longos, e por vezes acalorados, prolongando-se por mais de 10 horas, pois se iniciaram às 9h e encerraram-se às 19h30, aproximadamente. Deliberou-se afinal pelo encaminhamento de um memorial ao Prof. Lucas Nogueira Garcez, relatando a situação aflitiva de Tatuí e pleiteando providências que salvem nossa cidade da iminência do colapso total, a que está sendo levada. Terça-feira última e ontem novas reuniões foram realizadas, para leitura e aprovação do memorial, bem como para a designação do dia de sua entrega ao Governo do Estado. Estando o sr. Governador em veraneio, só recebendo após o dia 25 do corrente, segundo comunicados da Associação Comercial de S. Paulo e da Federação do Comércio do Estado de S. Paulo, deliberou-se confirmar uma audiência com o sr. secretário da Viação e Obras Públicas, marcada para amanhã, às 17 horas. Dessa forma, uma caravana demandará a S. Paulo amanhã, devendo integrá-la representantes dos poderes Legislativos e Executivo do nosso município. No Sindicato dos Operários Inteiramente solidário com o movimento, também o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de Tatuí promoveu no dia 4, às 17h30, uma reunião de entidades de classe, inclusive representantes das três principais indústrias da cidade. Esteve presente, também, o vereador Simeão José Sobral, que debateu com os demais o problema que no momento mobiliza a atenção pública. Na Câmara Municipal Também na Câmara Municipal, a sessão do dia 4 do cor-
rente foi inteiramente absorvida pela crise da energia elétrica. Previamente convocado, o povo compareceu em massa àquela casa legislativa, ouvindo e se inteirando, através da palavra do vereador Simeão José Sobral e do presidente Aniz Boneder, de tudo que há de verdade e do que já se fez, durante tantos anos de luta, para se conseguir a solução do problema. Lendo memoriais e representações, apresentando vasto “dossiê” de documentos, o sr. presidente da Câmara esclareceu amplamente o assunto, verberando ao mesmo tempo, com veemência, o comportamento da empresa San Juan - ultranocivo aos interesses da nossa cidade. Finalmente, foi submetido à apreciação da Casa e aprovado por unanimidade um requerimento do vereador Simeão José Sobral, no sentido de que a Câmara Municipal de Tatuí empreste inteiro e completo apoio a todos os movimentos, tanto populares como de entidades de classe, objetivando a solução do problema de energia elétrica. Ouvindo o sr. Olívio Junqueira Portador do memorial que resultou na assembleia popular realizada na noite de 2 do corrente, o sr. Olívio Junqueira, na qualidade de membro da comissão então constituída, rumou para a Capital terça-feira última, levando o pronunciamento do povo de Tatuí aos jornais “O Estado de S. Paulo” e “A Gazeta”, bem como à Rádio Record, que o acolheram com solicitude. Ainda naquele dia, na impossibilidade de uma entrevista com o sr. Governador, que se encontra em veraneio, o sr. Junqueira foi recebido pelo sr. Francisco Antonio Cardoso, a quem fez entrega do memorial e expôs a situação aflitiva em que nos encontramos. O chefe da Casa Civil do Governador -
segundo nos declarou o sr. Olívio Junqueira - mostrou-se fortemente impressionado com o que lhe era relatado, prometendo encaminhar imediatamente o memorial ao Prof. Lucas Nogueira Garcez, para as providências que na emergência o caso comporta. Nota: Ao longo de mais de uma
década, O Progresso noticiou reclamações, pedidos e denúncias contra a Cia. de Luz e Força (e, depois, contra a San Juan), por conta da falta de energia elétrica. No início de 1954, o racionamento de energia chegou a 19 horas diariamente. Mesmo com todo o engajamento social, o problema da energia elétrica somente foi solucionado mais de 10 anos depois.
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Décadas do Progresso
década de 50 (5/9/1954)
(15/8/1954)
Instalado o Conservatório A fim de proceder a solene instalação do Conservatório Dramático e Musical desta cidade, aqui esteve no dia 11 - data aniversária de Tatuí o governador Lucas Nogueira Garcez, que veio acompanhado de altas personalidades do mundo oficial de S. Paulo, entre elas o dr. Romeiro Pereira, secretário do Governo, deputado estadual Narciso Pieroni, deputado federal Cirilo Junior e dr. Licio Marcondes do Amaral, do gabinete do Governador. Aguardados pelas autoridades locais e pessoas mais representativas de nossa sociedade, pelo Tiro de Guerra 271, corporação musical “São Benedito” e grande massa popular calculada em mais de 2.000 pessoas, o professor Lucas Nogueira Garcez e comitiva deram entrada no edifício provisório do Conservatório às 19h30, sendo alvo de entusiástica recepção. Feita a apresentação dos professores e funcionários do estabelecimento de ensino a s. excia. e após a benção do prédio pelo revmo. Padre Silvestre Murari, o sr. Governador do Estado presidiu a
cerimônia da instalação do Conservatório, ato que se realizou sob calorosa salva de palmas dos presentes. Em seguida, teve lugar no auditório do estabelecimento de ensino artístico o jantar, dele participando grande número de pessoas gradas, inclusive prefeitos e vereadores de municípios vizinhos. Na ocasião, usaram da palavra saudando o professor Lucas Nogueira Garcez os srs. Eulico Mascanheras de Queiroz (diretor do Conservatório de Tatuí e que ao assumir o cargo deixou vaga sua posição junto à Escola de Música de São Paulo) e Alberto dos Santos (prefeito municipal). Falaram ainda, proferindo magníficas orações os drs. Romeiro Pereira e Cirilo Junior. Encerrando as solenidades, o sr. Governador do Estado proferiu breves palavras e pôs sua assinatura no decreto que oficializa o emblema do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí. Houve, ainda, apresentação dos alunos de Fritz Jank e distribuição de chope ao povo presente.
(23/8/1959)
Clube dos 13 “Acha-se fundado nesta cidade, desde 13 de julho último, o Clube dos 13, de âmbito nacional, tendo por centro e sede a cidade de Tatuí. A nova entidade, que conta com outros clubes congêneres em organização e tramite de filiação, tem por finalidade a congregação de amigos em pequenos grupos e a prática da caridade, de acordo com as suas posses. A sua diretoria, está assim constituída: presidente, dr. Francisco de Moraes Barros; secretário, João Eurico de Melo Toledo; tesoureiro, Donato Rafael Flores; orador, dr. Waldemar Sotelo.”
Repercussão da morte de Getúlio Vargas Teve nesta cidade intensa repercussão o trágico desaparecimento do Presidente Getulio Vargas, sendo por três dias paralisadas todas as atividades industriais, comerciais e sociais, em sinal de luto pelo infausto acontecimento. Na manhã de 26 de agosto, organizada por uma comissão de trabalhadores encabeçada pelo sr. Ari de Campos, presidente do Sindicato local, e com o comparecimento de várias centenas de pessoas, realizou-se uma grande passeata em homenagem ao Presidente morto, e dentro da seguinte ordem: Abrindo cortejo, a Bandeira Nacional, a meio pau, conduzida por uma operária; a seguir, dois quadros do Presidente Vargas encimados por uma faixa com os dizeres “Homenagem Póstuma dos trabalhadores de Tatuí ao seu grande bem feitor Getúlio Vargas”. Vinham depois uma faixa com a inscrição “Silêncio... a Nação está de luto”, um enorme quadro a óleo do sr. Getúlio Vargas sorrindo, com um cartaz em que se lia “Este sorriso jamais será esquecido pelos trabalhadores de Tatuí” e novamente uma faixa escrita “Ao povo ofereci minha vida, agora ofereço meu sangue”. Seguia-se o auriverde pendão do Brasil conduzido por crianças e ladeado por dois cartazes com os dizeres “Saio da vida para entrar na História” e “Salário mínimo, indenização, aviso prévio, licença gestante, férias, voto secreto”. Em planos sucessivos, outras faixas e outros cartazes eram conduzidos pelos trabalhadores, com as seguintes inscrições: “Ao ódio respondo com o perdão”;
Passeata pela morte de Getúlio
“Estabilidade, sindicalização, proteção à mulher, proteção ao menor e trabalhador rural”; “Previdência social, acidente do trabalho e auxílio à enfermidade”; “Getúlio permanecerá em nossos corações” e, por último, “Eu vos dei a minha vida, agora ofereço a minha morte”. Fechando o cortejo, vinha o povo rezando o terço pela alma de seu grande chefe. O itinerário percorrido compreendeu as ruas Prudente de Morais (prédio do IAPI), praça da Matriz, Cel. Aureliano, praça Manoel Guedes, José Bonifácio, 11 de Agosto, Santo Antonio, 15 de Novembro, José Bonifácio, Maneco Pereira, Cruzeiro, 15 de Novembro, Cel. Aureliano e finalmente praça da Matriz. Durante este percurso foram rezados cinco terços pelos Congregados Marianos e respondidos pelo povo, calculado em cerca de 3.000 pessoas - o que equivale a 15.000 terços. Na Praça da Matriz, em frente à Igreja, usaram da palavra
os srs. Ari de Campos e Pedro Voss Filho, enaltecendo ambos os oradores a pessoa e a obra do Presidente Getúlio Vargas. E às 11h15, quando em S. Borja o esquife com o corpo do líder supremo do operário do Brasil baixava à sepultura, rezava-se em nossa cidade o último terço pela sua alma, terminando aqui as últimas e sentidas homenagens do trabalhador tatuiano. Busto do Presidente O sr. Ari de Campos, que em seu discurso levantou a ideia de um movimento popular para a ereção do busto do Presidente Getúlio Vargas em praça pública de Tatuí, solicita por nosso intermédio a presença hoje, às 10 horas, na sede do Sindicato, da comissão de trabalhadores que promoveu a homenagem póstuma do dia 26, a fim de se tomarem as primeiras medidas para o início do movimento. Nota: O busto de Getulio Vargas foi inaugurado em 25 de abril 1955, na Praça Manoel Guedes.
(14/12/1959)
Pinheirão e suas 1.107 lâmpadas
Em dezembro de 1959, era realizada pelo terceiro ano consecutivo a transformação do pinheiro de 40 metros em árvore de Natal. A solenidade contou com cerca de 2.000 pessoas. Eles rezaram um terço, comandados pelo monsenhor Silvestre, e presenciaram o momento em que a equipe do Clube 17 acendeu as 1.107 lâmpadas.
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Décadas do Progresso
década de 50 (7/7/1957)
(19/1/1958)
Telégrafo Nacional em Tatuí
XI de Agosto - campeão amador do interior do Estado
Com a presença de autoridades civis e religiosas, de funcionários da Agência do Correio e de inúmeras pessoas do povo, realizou-se na sede do Correio de nossa cidade a cerimônia da inauguração do telégrafo nacional - via Morse - cujos trabalhos foram presididos pelo sr. Oberdan Pupato, chefe do Tráfego Telegráfico da Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos de Botucatu. Procedida a benção das novas instalações e aparelhos pelo Padre Ernesto, este congratulou-se com Tatuí pelo alto significado da conquista do notável melhoramento público. Associando-se às manifestações de júbilo do povo, ao ensejo de tão auspicioso acontecimento público, cujos reflexos promissores se farão sentir na vida comercial, industrial e rural da comunidade, propiciando a partir de agora os meios rápidos e eficientes de comunicação, indispensáveis ao progresso de uma cidade, esta folha rejubila-se efusivamente com Tatuí.
Derrotando o Comercial de Araras, domingo último, em partida decisiva realizada na cidade de Piracicaba, a A.A. XI de Agosto local sagrou-se campeã amadora do interior do Estado. Título desejado por nada menos que 419 clu-
bes, foi por demais justa a alegria de que ficou possuída toda Tatuí. Cerca de mil torcedores locomoveram-se domingo passado de nossa cidade até a “Noiva da Colina” a fim de incentivar os craques tatuianos, dando assim uma demonstração sadia do quanto querem ver o nome desportivo de nos-
sa terra projetado sempre para o alto. Venceu o Onze. Perdeu Araras. Tatuí é o campeão do interior do Estado. Salve a A.A. XI de Agosto! O jogo - Iniciada a peleja, desde logo podia se constatar a enorme disposição dos jogadores vermelhinhos. Mag-
XI de Agosto campeão nificamente preparados física, técnica e, sobretudo, psicologicamente, atiraram-se à luta dispostos a liquidar seu adversário no menor tempo possível. E realmente isso aconteceu. Nos trinta minutos iniciais o quadro esteve quase que perfeito. Suas linhas funcionaram admiravelmente. O time chegou então a três a zero e, com um pouco mais de chance, teria chegado à casa dos seis. A superioridade dos comandados de Sato, nesta fase de jogo, foi incontestável. 2º tempo - Neste período os nossos rapazes, talvez instruí-
dos pelo técnico Osvaldo Avalone, diga-se de passagem o grande capitão da vitória, jogaram mais para garantir o resultado, dando, vez por outra, “pontadas” que quase resultaram em novos tentos. O tempo foi se escoando e somente aos 43 minutos o Comercial conseguiu seu segundo gol, fruto de nova penalidade máxima. A bem da verdade, cumpre esclarecer que o Onze teve a seu favor duas penalidades, deixadas de ser consignadas pelo árbitro da partida, Valter Galera. Dados técnicos - 1º tempo: 3 a 1 para o Onze; 2º tempo: 1 a 0 para o Comercial. Final: 3 a 2 para o Onze. Tentos: Paia (2) e Sato para o Onze e Elinho e Joãozinho, ambos de pênalti, para o Comercial. Quadros - Conduta - Arbitragem Onze - Aldo, Eurides e Bia; Alfeu, Renato e Paulinho; Nicola, Sato, Osmar, Ponce e Paia. Comercial - Ismael, Zulu e Feliciano; Mossoró; Note e Joãozinho; Tião, Eolinho, Zinho, Baltazar e Otavinho. Arbitrou a contenda o sr. Valter Galera, com atuação bastante prejudicial ao Onze. Realmente difícil é a missão do cronista ao analisar os jogadores agostinos. Todos, indistintamente, estiveram numa jornada de gala, dando o melhor e o maior dos seus esforços em prol de uma vitória do Onze, em prol de uma vitória do futebol de Tatuí. Queremos congratular-nos com todos pelo triunfo alcançado, e, de um modo especial, com o técnico Osvaldo Avalone, indubitavelmente o grande timoneiro da vitória.
(25/12/1960)
Edição especial
Em 25 de dezembro de 1960, O Progresso publicou edição especial com 12 páginas em 2 cadernos. O primeiro constituía-se somente de mensagens de felicitações de Natal, dos principais estabelecimentos comerciais da cidade.
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Décadas do Progresso
década de 50 (7/12/1958)
‘A Semana em Revista’ Esse era o título da coluna que Aniz Boneder (então presidente da Câmara Municipal de Tatuí) assinou por dois anos em O Progresso. A coluna era publicada sempre na capa, iniciando no canto superior direito e, por vez ou outra - finalizando na última página. Foram dois anos de denúncias contra o prefeito da época, Olívio Junqueira. As críticas - diretas - terminavam sistematicamente com: “Renuncie, prefeito, para o bem de Tatuí!”. Em outubro de 1958, ambos foram candidatos a deputado estadual - Olívio Junqueira e Aniz Boneder. O segundo recebeu 3.645 votos contra 2.670 de Junqueira. Porém, nenhum foi eleito. As publicações eram frequentes e tratavam de todos os detalhes que Boneder indicava como incorretos e obscuros na administração. Junqueira, cujo temperamento era conhecido, revidava nas ruas. Ao ser criticado por “transformar a cidade num canteiro de obras” (por conta dos reparos infindáveis nas ruas), batizou a motoniveladora de “Resolvi”, com direito a uma placa fixada no veículo. Seus decretos, que Boneder chamava de “calamidade pública”, também eram batizados de “Resolvi”. “Se funcionário municipal insatisfeito reclama, é transferido para Cesário Lange”, denunciava
Boneder. Sem o que hoje já se tornou praxe - os tais processos por danos morais -, Boneder afiava a caneta. A coluna de 15 de junho de 1958 é transcrita a seguir: O prefeito, o comício do mercado e o povo... Realizou-se no último domingo, na Praça do Mercado, um comício eleitoreiro tendo como figuras centrais o prefeito atual e d. Chiquinha Rodrigues, ex-prefeita desta terra. Esse espetáculo, que não mereceria nenhuma crítica não fosse a intenção de amenizarmos um dos nossos comentários semanais, cuidando ao menos uma vez dos fatos cômicos, ridículos e grotescos que por aqui ocorrem - presta-se, no entanto, para evidenciar, não só aos que o presenciaram como aos que dele tiveram conhecimento, até onde podem “caminhar” indivíduos que, repudiandose mutuamente, se sentem culpados, cada um isoladamente, de uma única e mesma ação ilícita. (Olívio Junqueira é citado pela primeira vez por O Progresso no final dos anos 40, processando a ex-prefeita Chiquinha Rodrigues. Enquanto prefeita, ela havia proibido a matança de porcos por Junqueira. Ele, depois, ganhou a ação e processou a política). A educadora renomada, inteligente e culta - méritos dos quais jamais despojamos a
ex-deputada Chiquinha Rodrigues - formou com o atual prefeito - cujo único título oficial que possui é o de “ignorante” - um duo tão chocante por essa disparidade, quão ridículo pela sua finalidade. Essas duas personagens dominaram integralmente a cena desse espetáculo de “artes e costumes modernos”, mesmo porque os demais artistas não eram ninguém. Deram-se as mãos, numa aliança fingida e momentânea, para pretenderem justificar-se perante o povo, e perante a própria obra estática e muda, das faltas que ambos praticaram em prejuízo desse mesmo povo e em detrimento da decência administrativa. Sim, porque se aquela construção tivesse o dom da fala, ela diria ao povo, apontando para os dois artistas: “Eu aqui estou; mas só eu sei como fui começada e só eu sei como fui acabada!” Porém, essa advertência não foi ouvida e o espetáculo se resumiu aos monólogos do prefeito e da ex-prefeita. Para encobrir os erros, cada qual se glorificou a seu modo: a iniciadora e o seu arrematador auto engrandeceram-se, cumprindo ressaltar o cuidado de cada um em não fazer elogios ao outro, antes, pelo contrário, acutilaram-se reciprocamente e de maneira sibilina. Nesse terreno, aliás, como não poderia deixar de ser, d. Chiquinha levou nítida
vantagem, vencendo por nocaute. Entretanto, na parte dos ataques e contra as outras administrações que se sucederam no período que mediou da de d. Chiquinha até a atual, ambos se nivelaram e se igualaram. Só eles, exatamente os dois únicos prefeitos dentre todos os que já administraram Tatuí e que tiveram as suas contas rejeitadas, somente eles é que foram e são os dignos, os operosos, os realizadores e os sacrificados... Embora sem lhes citar os nomes, sem a citação de fatos, fugindo a todas as responsabilidades, tentaram inculcar no espírito público referências maldosas que poderiam atingir os ex-prefeitos dr. Fernando Guedes de Morais, Antonio Tricta Junior, Aniz Boneder e Alberto dos Santos. Destes, dois ainda são vivos, respondem pelos atos que praticaram nas respectivas administrações e saberão, porque podem, se nomeados pessoalmente, não só defender-se como, se preciso for, punir a maledicência. Dos que já não existem, os saudosos Antonio Tricta Junior e Alberto dos Santos, basta-lhes a citação dos nomes - tão grande foi o respeito que granjearam no seio do povo tatuiano - para que a récua daqueles que se escoiceiam à beira dos seus túmulos fuja espavorida e com as caudas entre as pernas.
Lembrete Final - No Mercado: - Hoje tem goiabada? - Tem, sim senhor. - Hoje tem marmelada? - Tem, sim senhor. - E o palhaço quem é? - ... - É?! Então... Renuncie, prefeito, para o bem de Tatuí.” SEM TRÉGUA Boneder não dava trégua. Em 16 de novembro de 1958, quando por algum motivo oculto não pôde publicar seus textos, Boneder resumiu a coluna “A Semana em Revista” a: “Lembrete Final... Concedemos hoje uma trégua ao prefeito. Não obstante... Renuncie, prefeito, para o bem de Tatuí!!! A.B.” Curiosamente, foi Boneder quem acabou renunciando, em 1º de dezembro de 1958. Em sua última “A Semana em Revista”, datada de 7 de dezembro de 1958, escreve: Aos meus amigos e ao povo de Tatuí No dia 1º do corrente mês, como já é do conhecimento de grande parte da população do nosso município, renunciei ao cargo, que vinha exercendo, de presidente da Câmara Municipal e bem assim ao meu mandato de vereador. As razões que me levaram a tomar esta atitude se
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década de 50
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inferem da própria situação política em que se encontra o nosso município. Se agi bem ou mal, só tempo dirá. Solidarizaram-se comigo, espontaneamente, os prezados colegas vereadores dr. Gualter Nunes e Manoel Cardoso, aos quais aqui deixo consignados o meu respeito e a minha gratidão. Afasto-me da política municipal confortado moralmente com a recente vitória eleitoral de 3 de outubro.
Essa vitória, que para mim representou a aprovação da minha conduta na vida pública de Tatuí, era o único prêmio que eu almejava e recebi do generoso povo tatuiano, como retribuição aos 11 anos de serviços que dediquei à terra dos meus filhos. Pedindo a Deus pela tranquilidade e harmonia da família tatuiana e pelo engrandecimento de Tatuí, renovo os meus sinceros agradecimentos a cada um dos meus amigos e ao povo em geral.
(8/3/1959)
Bicampeão Amador de Futebol do Interior! Fechando com chave de ouro sua espetacular campanha, a A.A. XI de Agosto domingo passado logrou derrotar a forte representação do E.C. Itatiba pelo elevado placar de 7 a 1, sagrando-se assim bicampeã amadora do interior do Estado. (...) Público dos mais numerosos lotou completamente as dependências do magnífico estádio “Gualter Nunes”, proporcionando uma arrecadação de Cr$ 97.000,00, que veio a se constituir em novo recorde em jogos de campeonato amador. Sobre o prélio em si, temos a dizer que o Onze desde os primeiros minutos deu claramente a perceber que dificilmente perderia a partida. Realmente os vermelhinhos, mesmo sofrendo o impacto do primeiro gol, não se desesperaram e cônscios de sua superioridade aos poucos foram tomando conta do campo, não dando a mínima chance ao seu adversário. O gol de empate, conseguido por Nicola, foi o ponto básico na reação que o Onze vinha encetando. Daí em diante nada mais segurou os tatuianos. Paulinho dava “show” de bola com um desempenho que há muito não víamos. Hiotti e Ponce se entendiam às mil maravilhas e assim a meia can-
cha foi totalmente dominada pelos locais. Na composição de avantes Paraguaio reapareceu com um trabalho dos melhores, acabando ainda por se constituir no artilheiro do time com a marcação de três gols. Jonas e Nicola se deslocando constantemente confundiram toda a defensiva de Itatiba, restando Paia, o qual, não obstante estar em tarde de pouca luminosidade técnica, atuou bastante bem. A representação visitante pareceu-nos inferior ao time do Brasil, de Paraguaçu. O goleiro Belo teve atuação boa, não podendo de forma alguma ser responsabilizado pela goleada; Carvalho, médio de apoio, é um atleta de bom porte técnico, o mesmo não acontecendo com os laterais Doca e Baía, jogadores de limitada capacidade. Na composição de avantes, pelo esforço e movimentação, o centroavante Massareti merece a melhor nota, sendo que Mosquito, seu maior cartaz, desapareceu completamente. Onze - Aldo, Carvalho, Eurides e Tião; Hiotti e Paulinho; Paraguaio, Nicola, Jonas, Ponce e Paia. Itatiba - Belo, Doca e Barela; Carvalho, Chiquinho e Baia; Nenê, Mosquito, Massareti; Ilton e Zeca.
(11/1/1959)
5 votos decidiram a eleição De um modo geral, transcorreram em absoluta ordem as eleições para prefeito e vereadores em nosso município, domingo último, tendo comparecido às secções receptoras de votas 6.386 eleitores dos 6.667 inscritos. Houve, pois, uma abstenção reduzida - de apenas 4,21% - o que bem demonstra o enorme interesse que o pleito despertou. Debaixo da mais intensa expectativa popular, de vez que a disputa por parte dos partidos e candidatos foi calorosa, veemente e acirrada, a apuração se processou no dia seguinte, no Tatuí Clube. A flutuação dos votos, secção por secção, ora favorecendo um ora outro dos dois candidatos a prefeito, sempre por estreita margem de sufrágios, manteve a população em suspense até a última urna, de onde saltou a vitória do sr. João Batista Lisboa por 5 votos de diferença, e ruidosamente saudada por seus partidários. O candidato vitorioso obteve um total de 3.132 votos contra 3.127 dados ao seu oponente, sr. Orlando Lisboa de Almeida. Para vice-prefeito o sr. Ari Vila Nova venceu folgadamente, registrando 3.271 votos contra 2.801 dados ao sr. Pedro de Campos Camargo. Nota: João Batista Lisboa, o prefeito eleito, sujeita-se ao pedido de recontagem de votos solicitada pelo adversário, Orlando Lisboa de Almeida, que mais tarde é negada
pela Justiça Eleitoral. Após a declaração do indeferimento do pedido, os aliados de João Lisboa saíram às ruas, com bandas de música e fogos em profusão.
(11/12/1960)
Prefeito suspenso Após uma gestão marcada por polêmicas - a de Olívio Junqueira -, Tatuí continuou a noticiar a vida política em manchetes. Em novembro de 1960, ainda no primeiro ano de sua gestão, João Lisboa foi suspenso pela Câmara. No Judiciário a suspensão do prefeito pela Câmara Como é do domínio público, a Câmara local, através de resolução aprovada por oito votos, considerou afastado de suas funções o prefeito João Lisboa e convocou para a chefia do Executivo o vice-prefeito sr. Ari Vila Nova, que declinou do encargo, apresentando razões para assim proceder em ofício dirigido à Edilidade, a cujo presidente, em consequência, caberia a substituição do Prefeito, mesmo tendo este permanecido em seu posto, por considerar ilegal a medida da Câmara. Todavia, provavelmente manobrando em função de seus projetos políticos futuros, que são óbvios,o sr. Olívio Junqueira renunciou à presidência do Legislativo, sendo eleito em seu lugar o vereador Fulgêncio Lisboa e indicado para assumir o governo municipal, considerado vago pela Edilidade. Criou-se, dessa forma, uma situação complicada para a vida de nosso município, com dois prefeitos a gerirem os negócios públicos, num tumulto administrativo que, a prevalecer, só prejuízos, e dos mais graves, acarretaria para a cidade, já com seu prestígio e bom nome seriamente abalados por culpa do primarismo político que há 5 anos aqui se instalou, para des-
graça nossa. No Judiciário A pendência deslocou-se agora para o Judiciário, mediante mandado de segurança impetrado pelo Prefeito João Lisboa, cujas principais razões invocadas se referem à ilegalidade da medida da Câmara, que foi aprovada por maioria simples, quando deverá ser por maioria de dois terços, bem como pela inobservância de formalidades legais, como o recurso “ex-ofício” à Assembleia Legislativa do Estado com efeito suspensivo. Apreciando o mandado de segurança, o sr. Juiz de Direito concedeu a medida liminar, determinando em decorrência aos estabelecimentos de crédito, inclusive a agência local da Caixa Econômica Estadual, que paguem os cheques regularmente emitidos pelo sr. João Lisboa, na qualidade de chefe do Executivo. Nota: Por decisão judicial, João Lisboa retomou seu cargo dois meses depois, mas sua situação com a Câmara continuou crítica. O presidente do Legislativo, à época, era Olívio Junqueira.
década de 60
(06/1/1963)
Plebiscito pelo fim do parlamentarismo Foi em 6 de janeiro de 1963 o plebiscito pelo fim do parlamentarismo. Em O Progresso, a votação foi antecedida de extensa publicidade. Ao final da votação, 5.804 votaram pelo presidencialismo e 1.105, pelo parlamentarismo.
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Décadas do Progresso
década de 60 (23/3/1969)
Bolsas de estudo
Sete candidatos (um adulto e seis crianças) concorreram a duas bolsas de estudo oferecidas pelo jornal O Progresso para os cursos de inglês no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos desta cidade, tendo sido contemplados Teresinha de Jesus Camargo e o menino Abílio José de Sá. Como candidata única, Teresinha foi dispensada dos testes de seleção.
(1/10/1967)
Trânsito é “fogo” na Capitão Lisboa
Esta nota pode ser confundida com notícia atual, mas já soma 45 anos: “De uns tempos para cá vem reclamando melhor atenção dos responsáveis pelo trânsito em nossa cidade o que sucede na rua
(18/2/1962)
(28/1/1962)
Novo pároco assumiu domingo
Perda imensa para Tatuí: faleceu José Vanni
Procedente de Sorocaba e fazendo-se acompanhar por altas autoridades eclesiásticas da Diocese, tomou posse da paróquia local o seu novo vigário, revmo. Cônego Teotônio dos Reis e Cunha. O ato, que teve caráter solene, realizou-se domingo último às 17h30, com a Igreja Matriz literalmente tomada por fiéis, contando ainda com a presença das autoridades locais. Saudando o
novo vigário em nome da população católica e das associações religiosas, falaram respectivamente os srs. Gilberto Lino de Oliveira Cubas e José de Camargo. Também o prefeito João Lisboa usou da palavra, para entregar a chave simbólica da cidade. Após agradecer, visivelmente comovido, as manifestações de apreço com que era recebido, Cônego Teotônio celebrou missa vespertina.
Capitão Lisboa, no trecho cortado pelo semáforo existente no cruzamento com a Coronel Bento Pires. O sinal nem sempre é respeitado por motoristas apressados, com sérias ameaças de acidentes. Outros ‘fominhas’, ainda mais irresponsáveis, subindo ou descendo a Capitão Lisboa, imprimem velocidade excessiva aos veículos naquele trecho, pondo em risco
a integridade física dos pedestres, principalmente crianças. Agora mesmo, no dia 23 último, uma menina foi ali atropelada, recebendo ferimentos que a levaram ao hospital. É uma situação revoltante que não pode continuar, impondo-se permanente policiamento pelas autoridades de trânsito, com severas sanções aos transgressores.”
Com o desaparecimento, dia 22, do sr. José Vanni - o de todos conhecidos e por todos estimado Beppe Vanni - sofreu Tatuí perda imensa, senão mesmo irreparável, de vez que o claro aberto em nossa sociedade é dos que muito dificilmente se preenchem. Industrial e comerciante operoso e de correção a toda prova, dotado de singular capacidade de trabalho, era líder autêntico em sua classe - ouvido e respeitado em razão do seu espírito lúcido e do bom senso, da lealdade e probidade que marcavam todos os seus atos. Presidente da Associação Comercial de Tatuí, onde assinalou sua passagem imprimindo-lhe gestão das mais proveitosas, presidente também por vários anos na Sociedade Italiana, hoje Sociedade Recreativa 1º de Setembro, a qual conheceu sob sua direção seus momentos de maior sucesso - foi todavia à frente da Santa Casa local que José Vanni reali-
zou sua obra maior, ainda mais engrandecida com a construção da nossa modelar maternidade, empreendimento gigantesco considerado na época superior às possibilidades materiais da cidade, mas levado avante juntamente com dois companheiros seus de igual tenacidade, que foi o saudoso João Dalmacio de Azevedo. Nesse posto de sacrifício em que se manteve por 25 anos e onde a morte o foi encontrar, Beppe Vanni pôde dar plena expansão à sua extraordinária e incoercível vocação humanitária e às suas excepcionais qualidades de administrador, credenciando-se à perene gratidão da cidade. Natural da Itália e radicado em Tatuí há 57 anos, faleceu José Vanni aos 81 anos de idade na manhã de 22 de janeiro de 1962, após rápida enfermidade. Era viúvo de America Vanni e deixa os filhos Nilzo, casado com Aparecida Nastri Vanni; Elide, Eda e Elze.
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Décadas do Progresso
década de 60 (16/8/1964)
(19/8/1962)
(23/9/1962)
Tatuí tem hino oficial
Inauguração de piscina trouxe campeões
Governo institui a “Casa de Paulo Setúbal”
Em sua sessão de 10 do corrente, a Câmara Municipal aprovou por unanimidade projeto de lei de iniciativa do vereador Aido Luiz Lourenço, oficializando como Hino do Município de Tatuí a música “Tatuí, Cidade Ternura”, de autoria do casal Paulo Cerqueira Luz e Maria Ruth Luz, esta dedicada professora de
orfeão do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” desta cidade. Por ocasião das festividades de encerramento da Semana Paulo Setúbal, levadas a efeito dia 11 do corrente, no salão nobre da Escola Industrial “Sales Gomes”, o prefeito Paulo Ribeiro sancionou publicamente a lei em apreço.
Inauguração da piscina do XI de Agosto
Magníficos sob todos os pontos de vista, os festejos com que se inaugurou oficialmente, dia 11 de agosto, o conjunto de piscinas da A.A. XI de Agosto constituíram-se num desses raros acontecimentos que marcam época na vida de uma cidade. E não vai nenhum exagero na afirmativa, desde que se considere o vulto da assistência, calculada em mais de três mil pessoas, e se atente para as autoridades e figuras de proa do esporte aquático que prestigiaram as solenidades, dando maior grandeza ao espetáculo já em si grandioso. As festividades foram abertas, às 14 horas, pelo Cônego Teotônio dos Reis e Cunha, pároco local, que cortou a fita no portão de ingresso ao conjunto de piscinas, em cuja borda proferiu palavras de congratulações à cidade pela ocorrência. Em seguida, presente a essa altura uma delegação da Fede-
ração Paulista de Natação chefiada pelos srs. Antonio Pistilli e Douglas Michalany, foram realizadas excelentes competições entre as equipes de natação representativas de Sorocaba, São Roque, Itapetininga e Tatuí, todas da 5ª zona da FPN, atingindo o espetáculo seu ponto mais alto com as exibições brilhantíssimas, algumas empolgantes, de campeões e outros nadadores de renome que integravam a caravana da Federação Paulista de Natação, como sejam Norio Ohata, Fred Jacob, Cleide Spessoto, Ricardo Aprá, Cassio Michalany, Adriana Salvoni e o saltador Antonio Ferreira da Silva. Tudo terminou com o tradicional banho imposto, como homenagem, pela caravana da FPN aos srs. Deodato Sanches e Orlando Pereira, os quais, juntamente com o técnico Braz dos Reis, foram os principais organizadores e responsáveis pelo brilho da festa.
(22/6/1969)
A primeira carta de motorista em Tatuí
“Em 15 dias de atividades após sua instalação, ou seja, de 15 a 30 de maio último, a Circunscrição de Trânsito de Tatuí expediu 10 carteiras de habilitação e registrou 57. A Carteira Nacional de Habilitação número 1 foi expedida em nome do sr. Antonio Antunes Maciel (o Gaúcho). Uma mulher, d. Iolanda Costa, recebeu a segunda.”
Tendo em vista que Paulo Setúbal, pelas raras qualidades de literato, projetou o nome da pátria além fronteiras, e reconhecendo a conveniência de serem coordenadas as manifestações culturais em torno da vida e obra do imortal escritor tatuiano - o governador do Estado assinou o decreto n. 40.754, de 13 do corrente, instituindo a “Casa de Paulo Setúbal” nesta cidade, junto ao Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, dependência da Secretaria do Governo. Tendo suas atividades desempenhadas sem remuneração, por uma comissão de cinco membros designados pelo secretário do Governo, com mandato de dois anos renovável por igual período, a “Casa de Paulo Setúbal” funcionará como órgão de divulgação, consulta, estímulo e cultura, difundindo e coordenando trabalhos de pesquisa e estudo, em torno da vida e obra do escritor. Terá também como finalidade a manutenção, conservação, exposição de objetos e documentos que pertenceram ao seu patrono ou a ele se refiram, bem como quaisquer outros que sejam considerados interessantes para a divulgação da história e melhoria da cultura da população, cabendo-lhe ainda a organização de Numismática, Filatelia e Pinacoteca. Semana Paulo Setúbal Passou a ser igualmente atribuição do novo órgão a promoção anual, de 6 a 12 de agosto, das comemorações da “Semana Paulo Setúbal”, cujos programas deverão ser previamente submetidos à aprovação do secretário do Governo. Comissão Por ato de 19 último, do sr. secretário do Governo, foram designados os senhores Fernando Guedes de Morais (presidente), Maurício Loureiro Gama, Paulo Ribeiro, Paulo Silvio Azevedo e Nilzo Vanni para constituírem a primeira comissão da “Casa de Paulo Setúbal”.
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Décadas do Progresso
década de 60 (7/6/1964)
(18/8/1968)
Vitoriosa em Tatuí a Campanha do Ouro para o bem do Brasil
Bandeira de Tatuí desfilou dia 11 pela primeira vez
Como não podia deixar de ser, a Campanha do Ouro para o Bem do Brasil saiu vitoriosa em nossa comarca, ultrapassando mesmo a todos os melhores prognósticos. Seu encerramento deu-se domingo último, dia 31 de maio, com a Praça da Matriz inteiramente tomada pelo povo, tendo presidido a solenidade o dr. Odyr José Pinto Porto, Juiz de Direito da comarca. Após a execução do Hino Nacional pela corporação musical “São Jorge” falaram o prefeito Paulo Ribeiro e o jornalista Maurício Loureiro Gama, que se referiram a Tatuí com grande entusiasmo, ressaltando o espírito cívico dos tatuianos, mais uma vez demonstrado no transcorrer da campanha. As comissões do Rotary Club, Lions Clube, Clube dos 13 e a equipe da Rádio Difusora local merecem os aplausos de todos nós, bem como as senhoras e senhoritas que, com o seu trabalho, emprestaram o brilho e a graça da mulher tatuiana para o êxito da Campanha. Não pode ficar esquecida, também, a participação das fanfarras do Instituto de Educação “Barão de Suruí” e Escola Industrial “Sales Gomes”, assim como das corporações musicais desta cidade, Porangaba e Cesário Lange. No programa Edição Extra, da
Televisão Tupi - Canal 4, acompanhados pelo presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Ciro Albuquerque, estiveram os prefeitos de Tatuí, Guareí, Porangaba, e Cesário Lange, as comissões dos clubes de serviço que coordenaram os trabalhos da campanha, o presidente da Câmara Municipal de Tatuí, sr. Frank Marques, e a corporação musical “São Jorge”, que executou dois lindos números musicais - sendo recebidos pelo jornalista Maurício Loureiro Gama. Falaram na ocasião o prefeito Paulo Ribeiro, que discorreu sobre o significado cívico de gestos de doadores pobres da cidade, e o deputado Ciro Albuquerque, que disse de sua satisfação em estar presente no momento com a gente boa da comarca de Tatuí. Ainda na tarde do mesmo dia, no saguão dos Diários Associados, com a presença dos caravanistas e elevado número de pessoas da colônia tatuiana em São Paulo, foram entregues as somas arrecadadas nesta comarca, num montante de Cr$ 22.844.786,90, sendo Cr$ 12.764.786,90 em dinheiro e 6,300 kg de ouro avaliados em Cr$ 10.080.000,00. Cerca de 15 mil pessoas passaram pelas mesas arrecadadoras, levando sua doação para o bem do Brasil.
Arrancando aplausos do povo aglomerado na Praça da Matriz, desfilou pela primeira vez no dia 11 de agosto, conduzida pela estudante Claudia Del Fiol, que a entregou no palanque oficial ao prefeito Paulo Ribeiro, a nova Bandeira de Tatuí - oferecida pelo jornalista Maurício Loureiro Gama. Uma bandeira linda, “parecida com Tatuí” - na expressão enamorada do Maurício, que a destinou ao Museu Paulo Setúbal com esta mensagem ao seu diretor: “Meu caro Nilzo Vanni - Não é de hoje que penso numa bandeira para Tatuí. Uma bandeira bonita. Uma bandeira parecida com Tatuí. Quando da Campanha do Ouro, ganhei um presente do professor Acacio Vieira de Camargo: o brasão de Tatuí. E mais recentemente um discípulo de Wasth Rodrigues e Taunay, o professor Arcinóe, me ofereceu a Enciclopédia Heráldica, que dei ao Museu Paulo Setúbal. E foi então que me ocorreu a ideia de mandar fazer estudo para a bandeira de nossa terra. Os estudos já pertencem ao Museu Paulo Setúbal. E o resultado dos estudos aí está, na linda bandeira que entrego ao museu de minha terra. No futuro é provável que o brasão deva ser modificado. Entendo que a bandeira pode evoluir plasticamente, mediante pequenas correções. De qualquer sorte, fiz o que entendi deveria fazer, pelo muito amor que dedico a este subúrbio do céu. Que sob a bandeira de Tatuí todos possam viver em paz, como uma só família, sem ódios malsãos, sem ressentimentos mórbidos, sem os divisionismos estéreis que só podem agradar aos medíocres, aos primários, aos políticos sem ideias e sem ideais. Que esta bandeira seja símbolo de nossa altivez, de nossa solidariedade humana atuante, da simpatia singela deste povo bom. Tudo tenho feito para servir a Tatuí sem me servir dela. Minha terra deu-me a glória, a grande
alegria, o orgulho de ter nascido aqui - e na Praça da Matriz, coração da cidade. Eventuais incompreensões passam e o que importa é trabalhar pela cidade, estimular-lhe o desenvolvimento, principalmente no plano educacional, para que as novas gerações não precisem ir embora à busca de diplomas. Receba o abraço amigo do Maurício Loureiro Gama.”
Maurício Loureiro Gama com a então nova bandeira de Tatuí
Mais relíquias Ainda para o Museu Paulo Setúbal, conseguiu agora o jornalista Maurício Loureiro Gama outras peças de raro valor, avultando entre as mesmas o diploma do inolvidável médico e primeiro prefeito municipal de Tatuí dr. Salles Gomes, do tempo do Império, a tese de concurso de João Florêncio e o diploma do cientista tatuiano.
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Décadas do Progresso
década de 60 (3/8/1969)
(7/6/1970)
O lado político da Lua
Será em Tatuí a maior pista de provas da América Latina
Maurício Loureiro Gama A maior façanha do século, isto é, a conquista da Lua pelos Estados Unidos, tem conotações políticas. Tem, não há dúvida nenhuma. Começa que Washington ganhou longe a corrida espacial. Ganhou, não se discute. É uma grande verdade: na São Silvestre espacial o que contava, antes e acima de tudo, era chegar na frente, chegar primeiro. E quem chegou primeiro não foram os astronautas de um país totalitário e, sim, os cosmonautas de uma nação que cultua a liberdade. Wernher von Braun assinalou, argutamente, que “não passará despercebido na Terra o fato de saber quem chegou primeiro. O respeito pelo ‘status’ científico e pela qualidade tecnológica dos Estados Unidos e da União Soviética será comparado nestes termos por muitos anos.” Moscou fez tudo para ganhar a corrida. E levou vantagem inicial, lançando o primeiro satélite espacial, o primeiro foguete em direção à Lua e o primeiro homem em órbita terrestre, o infortunado Yuri Gagarin.
Vai bem aqui um paralelo entre as duas nações, no plano da notícia. Os americanos trabalham à luz do dia, sem restrições. Homens de imprensa, rádio e TV podem ver tudo, documentar tudo, filmar tudo. A gente pode revelar todos os planos de Tio Sam, pois os técnicos da Nasa não escondem nada, ou quase nada. O setor de comunicações é perfeito. E os russos? Bem, os russos trabalham na base do segredo. Tudo é segredo de Estado. Os jornais soviéticos não antecipam nada. E só dão breves notícias. Razão assiste aos que dizem que enquanto os russos se fecham em copas (não contaram nada sobre a missão da “Lunik”, estação automática que foi até a Lua), os americanos rasgam a fantasia, contam tudo, e transformam a história da façanha do século numa história clara, translúcida, transparente. Por quê? Porque os Estados Unidos cultuam as liberdades, enquanto a União Soviética ainda não conseguiu libertarse do totalitarismo e daquelas restrições inerentes a todas as ditaduras.
30/3/1969
‘Cidade x Cidade’
“Tatuí obteve brilhante vitória sobre Lorena no programa de Silvio Santos ‘Cidade contra Cidade’, no canal 4, Televisão Tupi.”
Após alguns meses de entendimentos preliminares, foi finalmente assinada a escritura de compra da Fazenda Bom Pai, em cujos terrenos será construída pela Ford-Willys do Brasil S.A. a maior e mais moderna pista de provas da América Latina. A solenidade da assinatura de compra realizou-se dia 26 último, às 11h, no Alvorada Clube local, com caráter festivo, representando a Ford-Willys o seu diretor-presidente, sr. Eugene Knuston, que aqui trouxe numerosa comitiva. Também esteve presente, prestigiando o ato, o major-brigadeiro José Vaz da Silva, comandante da 4ª Zona Aérea. Aberta a sessão pelo sr. Francisco de Paula Sena Rebouças, supervisor da Divisão Jurídica da Ford-Willys do Brasil, e assinada a escritura de compra, falou inicialmente a sra. Maria Elisa Corbett, que vendeu as terras. Em sequencia, discursou o prefeito Orlando Lisboa de Almeida, interpretando o júbilo do nosso povo e frisando a enorme importância econômico-social do acontecimento. Por último, usou da palavra o sr. Eugene Knuston, que expôs, em linhas gerais, o plano de ação da poderosa indústria automobilística em Tatuí. A festa encerrou-se com finíssimo coquetel-almoço oferecido pela Ford à sociedade tatuiana. A pista de provas ficará nos terrenos da Fazenda Bom Pai, neste município e a nove quilômetros de nossa cidade. A área a ser utilizada tem 4.127.920 metros quadrados e foi escolhida pela boa localização e ótimas condições topográficas e climáticas que oferece, permitindo trabalhar 365 dias por ano. Com sua construção planejada em várias etapas, o empreendimento - dos mais importantes da indústria au-
tomobilística brasileira - receberá um investimento inicial de Cr$ 3.500.000,00, dentro da previsão de 20 milhões de cruzeiros para a conclusão das obras. Como será Depois de pronta, a pista de Tatuí vai causar muito ciúme aos pilotos de corrida brasileiros. É que, com um total de aproximadamente 35 km de estradas, incluindo um anel de alta velocidade, ela poderia ser o maior autódromo do país. A primeira fase da obra será um anel de estradas ruins para testes de durabilidade, com 8,5 km de comprimento. O anel terá uma zona relativamente plana, de aproximadamente 4 km, com curvas de raio grande, permitindo velocidades razoáveis. Outra parte terá 4,5 km, incluindo duas rampas retas de aproximadamente um quilômetro e uma área montanhosa com curvas de raios mais fechados. Todo este anel, com calçamento de aspecto aparentemente precário, mas muito resistente, de cascalho e buracos propositais, será utilizado nos testes de durabilidade de caminhões. O oval de alta velocidade, com 4,8 km de comprimento, todo de concreto asfáltico, permitirá velocidade de até 200 km/h. Em duas grandes retas haverá áreas mais largas, com aproximadamente 350 metros de comprimento, para testes de freios. Duas amplas curvas elevadas permitirão desenvolver até 160 km/h em velocidade neutra, isto é, sem precisar ter as mãos ao volante. Neste anel de alta velocidade serão feitos principalmente os testes de durabilidade em alta velocidade e os especiais frenagem, refrigeração e velocidade máxima para veículos de alta performance.
Outra pista será a grande reta de 2,1 km, coberta de concreto asfáltico, perfeitamente nivelada. De um lado haverá um pequeno retorno em “U” e do outro um balão com curva de alta velocidade, permitindo ao condutor entrar na reta com seu veículo a mais de 100 km/h. Esta pista servirá principalmente para aceleração das marchas até velocidade máxima, consumo em velocidade constante, consumo simulado de tráfego urbano, velocidade mínima na marcha mais alta, resistência ao rolamento, desenvolvimento preliminar de freios e futuros testes para o controle de emissão de gases nocivos. O circuito de durabilidade de 15 km será composto por um trecho de durabilidade básico, asfaltado, de 4 km para velocidade até 100 km/h. Depois, vem o trecho montanhoso com partes longas em aclive e declive, incluindo também pedaços sinuosos com muitas curvas fechadas em sobe-e-desce, num total de 4,5 km. Além disso, ainda está incluído no circuito de durabilidade um trecho de estrada ruim, com pedregulho e terra batida, no comprimento de 2,7 km, e outro montanhoso, de cascalho, com 3,8km. O mais completo Será construída também a nova garagem experimental da empresa, compreendendo um imponente edifício de 4 mil metros quadrados. Nela será instalado um imenso laboratório, dotado de equipamentos eletrônicos de testes, atualmente aperfeiçoados nos EUA, de acordo com os últimos avanços neste setor. Assim equipado, o campo de provas de Tatuí será o mais completo e melhor instalado do continente, situando-se entre os maiores do mundo.
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Décadas do Progresso
década de 60 (8/11/1970)
(13/12/1970)
Escola de Enfermagem já em 71
Lar Donato Flores: realidade
Representando o coordenador do Ensino Técnico do Estado de São Paulo, veio a Tatuí no dia 29 último o professor Cícero Seifferte, que assinou o termo de criação, instalação e funcionamento da Escola de Auxiliar de Enfermagem.
O novo estabelecimento de ensino, que será administrado pela Fundação Educacional Manoel Guedes, funcionando em convênio com a Santa Casa local, virá abrir novos horizontes de estudo e de trabalho à juventude tatuiana. É um curso de dois
anos que vale como 1ª e 2ª séries do curso ginasial, bastando, para nele ingressar, ter o curso primário e a idade de 16 anos. As aulas terão início em março de 1971. De imediato será aberto um curso preparatório aos exames de admissão.
Com um amplo programa de festas ontem iniciado e que abrange cururu, congada, Cordão dos Bichos, números de dança, pau de sebo, rolete maluco, trenzinho da alegria, exposições, barracas de comes e bebes e bazar a movimentarem a cidade desde as 10h, será inaugurado hoje o Lar Donato Flores, obra gigantesca de amor à criança
abandonada que, a partir do inesquecível Donato Flores, congregou os esforços e o trabalho de um pugilo de homens abnegados de nossa cidade, amparados pelo apoio decidido da população local. O ato solene da inauguração dar-se-á às 15h, devendo contar com a presença dos srs. brigadeiro José Vaz da Silva, comandante da 4ª Zona Aérea; vice-governador eleito Antonio Rodrigues Filho, senador eleito Orlando Zancaner, deputado federal eleito Ildelio Martins, deputado estadual reeleito José Felício Castellano e conselheiro Nelson Marcondes do Amaral, do Tribunal de Contas do Estado, além das autoridades locais. Na ocasião, como orador oficial do Lar Donato Flores, usará da palavra o prof. Alceu Maynardes Araújo. Contribuição da Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo e graças ao trabalho do seu Chefe de Gabinete, dr. Fernando Guedes de Morais, abrilhantará os festejos de hoje o showman Helio Mota. Obra vitoriosa embasada no trabalho fecundo e silencioso de várias diretorias que se sucederam, iguais no singular espírito de abnegação e amor cristão, a glória de inaugurá-la cabe todavia à que é hoje formada por nomes igualmente dignos do nosso respeito e estima, como o de Carmo Marques Santos, presidente; Acassil José de Oliveira Camargo, vice-presidente; Mario Luiz de Camargo Barros, 1º secretário; Luiz Dias, 2º secretário; Lucas Cattel, 1º tesoureiro; Sílvio de Lima, 2º tesoureiro; Adalberto Thomsen, Ariovaldo Alves de Araújo e José Assunção, da Comissão de Contas. Valiosa colaboração da Empresa Auto Ônibus São Jorge, durante todo o dia de hoje haverá condução para o Lar Donato Flores, saindo da Árvore de Natal.
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Décadas do Progresso
(3/1/1971)
Criação de nova paróquia em Tatuí Hoje, 3 de janeiro de 1971, às 17h, dar-se-á a instalação da Paróquia de Santa Cruz. O crescimento da cidade e da população estava a exigir uma descentralização da vida religiosa de Tatuí. A criação da nova paróquia não é para dividir o povo. Tatuí já sofreu demais as divisões. O intuito de ereção da nova paróquia é procurar um atendimento mais perfeito do povo. Os atuais documentos da Igreja propugnam a descentralização de locais, pessoas, de funções para melhor integração das pessoas no povo de Deus (Documento
de Medelin 15. par 13). Hoje, a Igreja deve ir até o povo e não esperar que ele venha até ela. Por isso, procura dispor suas estruturas, seu pessoal de modo a poder cumprir melhor sua missão. No ensejo da ereção da nova paróquia, não podemos esquecer que ela é fruto dos trabalhos e sacrifícios de gerações. Muitos sacerdotes e leigos do passado até o atual pároco, cônego Teotônio dos Reis e Cunha, os leigos de hoje, sem esquecer o padre José Ernani Angelini - cada qual deu sua valiosa cooperação. Tu-
do isto, porém, não seria realidade não houvesse a participação do povo. Merecem destaque as comissões preparatórias, que foram e são incansáveis no empreendimento. Louvor especial a todos quanto ajudaram na arrecadação do necessário à nova paróquia. O povo de Tatuí demonstrou fartamente sua generosidade e bondade, nada negando à Paróquia de Santa Cruz. Neste dia feliz para a comunidade católica tatuiana, que todos orem pela nova paróquia e seu primeiro pároco, padre José Pássaro.
(9/1/1972)
Cordão dos Bichos
A primeira folha de um magnífico calendário para 1972, que trata dos aspectos do folclore de São Paulo, traz esplêndida fotografia do nosso já famoso Cordão dos Bichos. Segundo a descrição, que é acompanhada de um disco e vem contida no verso do Calendário emitido pela Phillips, ‘cada ano as figuras se renovam. Há em tudo uma arte e uma técnica totalmente populares. Através de experiências anteriores e auxiliado pela imaginação fértil dos participantes, o Cordão dos Bichos tem sempre crescente o seu prestígio. Há 18 anos, aqueles que gostam de apreciar o Carnaval de rua aguardam com alegria renovada as novidades da bicharada, antiga Arca de Noé, como era chamado o cordão durante os primeiros anos de sua vida’. Esta magnífica e inigualada promoção do tradicional conjunto foi conseguida junto à Secretaria do Turismo da Prefeitura de São Paulo pelo prefeito Orlando Lisboa de Almeida, que providenciou todos os contatos e transporte dos elementos do cordão para as fotografias destinadas ao calendário, que será enviado a países estrangeiros, como é o caso da Holanda. Ultrapassa, portanto, o Cordão dos Bichos as fronteiras do Brasil, onde já é amplamente conhecido, para projetar-se também no estrangeiro, graças ao apoio sempre recebido do prefeito Orlando Lisboa.”
Foto de 1960 mostra igreja Santa Cruz que tornou-se sede de paróquia em 1971
(22/8/1971)
Mostra 71: Brilha o GIE
No ano de 1971, o Ginásio Industrial Estadual “Salles Gomes”, junto às comemorações de aniversário da cidade, promoveu a “Exposição Pedagógica - Mostra 71”. Entre várias atividades, o evento marcou a instalação da escultura localizada na frente do estabelecimento. O obra foi feita pelos alunos José Carlos da Silva e João Pereira Araújo, sob a orientação do professor Josué Fernandes Pires. Sua estrutura é de aço revestido com concreto, tendo os rostos finalizados em cobre.
Evento histórico deixou estátua de legado
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Décadas do Progresso
década de 70 (30/4/1972)
Saudade de Silvio Azevedo Crônica traz pontos pitorescos e figuras históricas da cidade Maurício Loureiro Gama (Fixei neste “passeio peripatético” algumas ideias que iluminaram o espírito cintilante de Silvio Azevedo.) Eram oito horas da manhã quando iniciamos a jornada. Camilo Vanni passou rápido no seu carro e ofereceu carona. - Não, não, nós vamos a pé, queremos matar saudades das ruas e das praças. - O Camilo me recorda sempre o “Ridendo...” - Foi talvez uma espécie de “Pasquim” da época... - Mais do que isso: foi um jornalzinho bem humorado, que contribuiu para desarmar os espíritos na Tatuí remoída de ódios do passado... - Lembro-me bem, matavase muito, a política era radical... - O “Ridendo” fazia rir e sorrir, ironizava sem ferir, satirizava sem machucar, jamais fez sectarismo. Em vez de dividir, o “Ridendo” procurava somar... - Um milagre jornalístico... - Você diz bem: um milagre... Colocou a mão direita sobre meu ombro e revelou: - Sabe que Paulo Setúbal colaborou no “Ridendo”? Foi um dos nossos... *** Passamos pela Avenida Firmo Vieira de Camargo, com a sua
horrenda “buracoteca”. Silvio recordou: - Aqui era o banhado. Dizia-se que isto tudo (o braço fez um gesto amplo) não valia nada, seria sempre um pântano abandonado. Pois bem, a cidade chegou até aqui e venceu o charco. E ajunta, numa pitadinha de sarcasmo: - Deus queira que um dia alguém se lembre de fazer plástica na pele enrugada desta pobre avenida. *** Lá está a velha estação da So-
rocabana. Avenida Doutor Sales Gomes com seus caramanchões floridos. Logo adiante a rua Adauto Pereira. - Bom homem, o Adauto. Engraçadíssimo. Sua obra-prima: deu-nos a Chiquinha Rodrigues, vocação de líder, versátil, inquieta, amante apaixonada de Tatuí... Surge o novo fórum, as obras es-
tavam paralisadas àquela época. - Gostou do projeto? - É imponente, moderno, funcional. A Justiça merece um templo condigno, decente... - Sabe, Silvio, pretendo oportunamente, oferecer um busto de Rui Barbosa ao fórum... - Rui foi... Rui é uma das minhas paixões intelectuais, você sabe disso... O Rui estilista da polêmica áspera com Carneiro Ribeiro, o Rui do jornalismo de ideias e ideais, o Rui desassombrado que abalou o Supremo em defesa do Estado de Direito, o Rui apóstolo do civilismo... E acrescenta: - Rui, José Bonifácio, Nabuco e Castro Alves, no meu entender, foram os quatro gigantes da cultura brasileira... Arrisco: - E Guimarães Rosa, o mineiro de Cordisburgo, o genial inventor de “Grande Sertão: Veredas”? O criador de Miguelim... Silvio para, os olhos vivíssimos. - Está falando sério? - Sim, claro. Pra mim, Guimarães Rosa é monstro sagrado, um gênio... Sorriu com certa indulgência. - Já li e reli várias coisas dele. Talvez a idade me tenha limitado a inteligência ou a sensibilidade, é possível. Não entendo o que ele escreve. Muitas palavras que usa não se encontram nos melhores dicionários... *** O portão do cemitério escancara um convite implícito. Lá de dentro vem uma grande paz, as pessoas em estado de eternidade. - Você já pensou na morte, Silvio? E ele, sorrindo: - Não. A vida ainda não me permitiu pensar na morte...
Túmulos, túmulos, túmulos. - Aqui jaz Teófilo de Andrade Gama, falecido a 23 de setembro de 1915. Saudades imorredouras de sua esposa... - Teófilo foi íntimo de casa, um homem admirável. Ainda hoje guardo com carinho uma louça portuguesa antiquíssima, relíquia de família, que ele ofereceu a dona Ritinha, minha mãe... - Nesita? Foi uma das mestras mais completas que conheci. Professora de coragem, também. Como soube enfrentar, sozinha quase, o vendaval da vida, quando o Teófilo morreu fulminado por um choque... *** Nos fundos do campo santo a rua Oraci Gomes toma sol. Curiós e pintassilgos cantam nas gaiolas. - Oraci, notável educador, tinha a preocupação da forma escorreita. Podia ter sido um bom escritor... ***
Diante de nós se ergue o monumento arquitetônico do XI de Agosto. Com orgulho: - Outro dia trouxe um amigo de São Paulo para conhecer o “gimnasium” do XI. Quis saber com quantos milhões o governo havia colaborado. E ficou surpreendido quando soube que o XI é iniciativa particular, nós o fizemos na raça, sabe Deus sabe à custa de quantos sacrifícios. E hoje não é apenas um clube para a fruição dos sócios. É também uma faculdade em plena expansão. *** Vamos voltando pela rua Cel. Aureliano. O velho Grupo de dona Nesita, dona Semiramis, dona Lila Sobral, dona Ermelinda, dona Josefina, dona Eulina, do seu Genaro e do Mestrinho. Por fim o sobradinho, para os exercícios de introversão de Silvio Azevedo. O escritório. A máquina de escrever. Os quadros a
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década de 70 óleo de dona Luiza. A seleção de livros (quase todo o Machado de Assis na velha edição Garnier, raríssima). - Neste cantinho guardo livros com dedicatórias dos autores... mostra Silvio na estante. Desfilam amigos e admiradores: Menotti, José Lannes, Cassiano Ricardo, Paulo Setúbal (claro!), Walter Silveira da Mota, Fernando de Azevedo, Silveira Peixoto, Leo Vaz, Napoleão Mendes de Almeida, seu colega em angústias e pesquisas gramaticais...
*** Subimos a rua Santa Cruz. O Pinheirão aponta para o céu na policromia da pracinha. - Está morrendo mesmo, Silvio? - Já foi mais bonito, mais harmonioso, mais assemelhado a uma gigantesca árvore de Natal. Talvez esteja definhando... - As árvores morrem de pé... - Um belo destino. Mas já temos o Pinheirinho para substituir a mais alta árvore de Natal do mundo, se ela morrer... E cético ou realista: Creio, porém, que nós dois, bem antes da araucária-gigante, faremos a viagem sem retorno... *** As recordações passam como num filme. A casa (em estilo Império) de Tonico e Marieta Magaldi, a farmácia do velho Vila Nova, o prédio da Prefeitura (um dos últimos edifícios da cidade antiga, que Tatuí tem o dever de Maurício Loureiro Gama preservar), a Matriz, a Aproveita para elucidar: saudade do Padre Carvalho, discí- Insista e diga sempre TV em co- pulo de Vieira e Bernardes - culto, res e não TV a cores. TV a cores inteligente, extrovertido, alegre, não é bom português. prafrentex. Passamos pela rua *** Prudente de Morais, núcleo inSaímos, o sol é mais quente. fantil da cidade. O jardim está toPaulinho Ribeiro passa fazendo dinho enfeitado de estudantes, é aleluia de simpatia, catedrático um beiral de andorinhas. de comunicações. - No meu tempo de menino, Digo: Silvio, só havia o Grupo Escolar - Deus queira que seja prefeito, “João Florêncio”. E o Externato 7 de novo... de Setembro, de Mamãe Nesita... - Ele não necessita da cidade, Ta- Hoje, em Tatuí, só não estuda tuí é que precisa dele... quem não quer. As escolas de vá-
rios níveis se abrem em leque na oferenda radiosa dos seus cursos... E ajunta: - Se as elites dirigentes souberem aproveitar as circunstâncias e as dádivas geoeconômicas, Tatuí irá longe... - Será um bem ou um mal, Silvio? Temo a poluição, as desfigurações do progresso, a morte das tradições... - Estou em parte com você. A Isabel do Celso Vieira de Camargo, agora morando em São Paulo, costuma dizer que fica triste quando vem a Tatuí e percebe que mais uma casa antiga lá se foi, e em seu lugar se ergueu uma residência moderna, nem sempre de bom gosto... *** Vem subindo pausado a rua Prudente o prudente e cultíssimo Walter Silveira da Mota, impecável no seu terno de linho cor de tijolo. - Por vezes ele transmite a falsa impressão de um homem desligado, em plena alienação... - Falsa impressão, você observa muito bem. O Walter transcendeu a minúscula problemática do pequeno burgo e as intrigas municipais para estabelecer uma conexão mais consequente: é um espírito de luz ligado ao mundo pela filosofia e sinceramente preocupado com os problemas humanos desta era desumana. O Walter é um puro...
Walter Mota
*** Lá vem mestre Freire, o nosso querido José de Castro Freire, meio
curvado ao peso do tempo, professor emérito de tantas gerações. - Seu Freire ficou sendo uma espécie de professor-símbolo... - frisa Silvio. *** O ônibus da “Cometa” passa gordo de gente. Todos levam oxigênio limpinho para suportar melhor a sujeira ambiental paulistana. - São os que descobrem ou redescobrem Tatuí, aos sábados, domingos e feriados. Muitos têm família aqui, mas trabalham e estudam em São Paulo. - É natural. A Castello Branco transformou Tatuí em subúrbio da capital... *** O banco verde diante do Hotel Del Fiol nos espera, depois do passeio peripatético. O dr. Aniz Boneder, todo de linho branco, depois de examinar alguns selos raros, indagava, afetivo:
- Escute aqui, Silvio, como vão os rins? - É... a cistitezinha voltou a me incomodar... *** Aquele homem delgado, altura meã, os cabelos brancos, de extraordinária agilidade mental, aquele moço de pouco mais de 75 janeiros, uma das mais altas expressões intelectuais da minha terra, vai repousar um pouco no banco acolhedor, onde nós dois aconchegamos nossas canseiras. - Cansou muito, Silvio? - indaga Maria, cuidadosa. - Quase nada... Despeço-me dele com um augúrio sincero: - Que Deus o conserve assim, lúcido e jovial, por muitos e muitos anos. E ele, à moda do “Ridendo”: - Ah, sim, pode ficar tranquilo, Maurício. Vou durar a vida inteira...
(9/4/1972)
Chegou o “Orelhão”, o novo telefone público
Em comemoração ao oitavo aniversário da “Revolução”, a Companhia Telefônica Brasileira inaugurou um “orelhão” em Tatuí no dia 31 de março de 1972. Assim descrevia o texto: “O ‘orelhão’ é a denominação dada ao telefone público acondicionado em capacete de acrílico e destinado exclusivamente a chamadas locais, funcionando mediante fichas que são vendidas em bancas de jornais e outros estabelecimentos situados nas proximidades”. A CTB instalou o “orelhão” na Praça da Matriz. Além de Tatuí, outras 14 cidades da região receberam os aparelhos.
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O Progresso muda de mãos Sob o título “Progresso moderação, mas, acima de Mais tarde, certa vez, disse muda de mãos”, Marina da tudo, preocupados em ser- ao seu Vicente: ‘Gostaria Coll Camargo e José Nasci- mos úteis nesta grande col- de, um dia, comprar o jornal mento anunciam no editorial meia em que vivemos”. de vocês’. Mas eu não tinha de 28 de dezembro de 1980 A compra do veículo de dinheiro. Após certo tempo, a transferência de O Progresso para uma nova administração a partir de 1981. No texto, justificavam a transferência do veículo de comunicação: “O motivo da venda está na idade avançada dos atuais proprietários, já agora impossibilitados Em seguida a assumir O Progresso, Ivan Gonçalves (último à direita) recepciona Lula (ladeado pelo professor Josué Fernandes Pires, à esquerda, e pelo advogado de prosseguirem Ivo Mendes, à direita) em reunião que fundou o PT em Tatuí, no ano de 1982 assegurando a ‘O Progresso’ condições de acompanhar o comunicação levou algum ele me chamou para vender vigoroso surto de desenvol- tempo. “Eu frequentava o O Progresso, mas eu convimento por que passa Tatuí jornal quando era moleque. tinuava não tendo dinheiro. e com ela marchar para um futuro que se desenha dos mais promissores”. Conforme anunciado, O Progresso passou a ser administrado por Roberto Dias de Souza, Ivan Gonçalves e Ana Maria de Camargo Gonçalves, José Paulo de Moraes e João Batista de Moraes. A primeira edição do ano de 1981, em 11 de janeiro, destaca a vontade de “dar continuidade ao trabalho começado há meio século, neutros nos momentos de fazer notícias; a favor das coisas boas desta cidade; criticar com honestidade e
Após 58 anos, família Ortiz de Camargo vende jornal aos Camargo Gonçalves Camargo, em 1980 Ele dividiu o valor em 12 meses, e eu e meu amigo Roberto Dias de Souza, responsável pelo loteamento da Nova Tatuí, de Flávio Mon-
uma exigência: apenas 80% do veículo seriam vendidos. Os outros 20% seriam divididos entre José Paulo de Moraes e João Batista de Moraes, os irmãos tipógrafos, que foram presenteados pelos Ortiz de Camargo. Após o primeiro ano, conta Gonçalves, Souza deixou a administração e, com o tempo, Gonçalves e a então esposa Ana também adquiriram os outros 20% dos tipógrafos. “Ficamos um ano Ivan Gonçalves (em 2012), que esteve à frente do jornal por 14 anos, pagando a parte de de 81 a 94 Roberto e, depois, com o tempo, as tezzo, compramos o jornal”, partes do Paulo e Batista”, conta Ivan Gonçalves. relembra ele, que manteve a No momento da venda, coordenação de
104 O Progresso ao lado de Ana até o ano de 1994. Os 13 anos nos quais Gonçalves esteve à frente do jornal foram marcados, principalmente, pelos avanços na área gráfica. Ele próprio afirma que as mudanças foram graduais e nem sempre fáceis. “Quando compramos, o jornal era composto ‘à frio’
Progresso em Novas Mãos
década de 80 e início de 90 exigiu diversos colaboradores, muitos deles sem formação, “mas com grande talento”. Gonçalves cita, entre os muitos colaboradores, José Carlos Moraes (o “Xerife”), que “escrevia muito bem”, ressalta. “Havia uma equipe... Alguns ganhavam cachê, outros faziam pelo prazer de fazer. A gente ia se acertando e tocava o barco. Era um grupo de artesãos”, comenta. Processos, dificuldades financeiras e a supervisão dos delatores da ditadura estão entre as lembranças menos agradáveis. “Tínhamos que estar com as barbas de molho. Era preciso ter cuidado. Sabíamos que, em Tatuí, existia um grupo de delatores que zelavam pelo ‘bem’ da ditadura. E isso nos preocupava porque, se algo fosse publicado e eles entendessem que aquilo poderia ir de encontro ao que estava instituído, não seria bom. Tentávamos falar nas entrelinhas, mas houve caJosé Paulo de Moraes compõe textos na linotipo sos de sermos procurados por membros desse grupo, - com tipos móveis, no sis- tudo ficava dentro de casa: que, de forma educada, nos tema ‘letrinha por letrinha’. impressora, caixas de tipos, fizeram entender que, caso Depois de um tempo, com- duas linotipos. Aquilo era não alterássemos a postura, pramos a linotipo, e tudo tecnologia avançada para a passou a ser feito ‘à quen- época”, brinca ele. te’. Havia uma caldeira com Foi também sob a admichumbo derretido e, confor- nistração de Gonçalves e Ana me a gente teclava, iam se que O Progresso passou a ser formando as letras. Volta e impresso em offset, de forma meia, mãos e pés acabavam terceirizada, aumentando a sendo queimados por aquele qualidade da impressão e, ainchumbo...”, relembra. da, a ser bissemanário. A impressão do jornal, na- “A impressão em offset foi quela época, ocorria em cô- um grande passo para o jormodos adaptados da casa nal, um momento importanda família. Nos fundos da te, representou uma verdaredação, era mantida uma deira conquista. Tínhamos, máquina “fotomecânica” de a partir de então, muito mais cerca de seis metros de com- recursos, podíamos publicar primento, utilizada para fo- fotos mais facilmente”, contografar as páginas do jornal. ta Ana. “Aí, fazíamos uma chapa O ato de noticiar Tatuí na de raios-X de um metro por 50 centímetros, já adaptando o jornal ao formato padrão. A máquina era gigante, um monstro. Tinha um rolo que puxava o papel sob um trilho e, quando retornava, fazia um barulho enorme, o quarteirão inteiro tremia. Vizinhança maravilhosa aquela, nunca ninguém reclamou. E
teríamos problemas”, relata Gonçalves. Bons momentos também são lembrados. Ivan Gonçalves afirma que, certa vez, chegou à redação a carta de um detento que alegava estar preso por mais tempo que o devido e que estaria sofrendo ameaças na prisão. “Publicamos a carta, e o juiz da época leu e decidiu rever o caso dele, resultando na liberdade. Foi uma experiência boa, mudamos a vida de alguém.” Atualmente, Gonçalves afirma sentir satisfação com o rumo do veículo de comunicação que ajudou a manter por mais de uma década. “Não planejamos comprar o jornal, mas aconteceu. E, hoje, a única coisa boa que eu vejo é o rumo que ele tomou. Muitas vezes, quando um filho assume o negócio da família, nem sempre dá certo. E o gostoso, para mim, é ver que o Ivanzinho (Ivan Camargo) pegou o jornal num estágio e o passou para outro patamar, muito mais profissional. Éramos amadores, e fico contente em ver o quanto o jornal evoluiu”, disse, emocionado.
‘Progresso muda de mãos’ A próxima edição deste jornal será a primeira de 1981. Um ano novo. Uma etapa também nova para “O Progresso de Tatuí”, pois a partir de 1981 o jornal circulará sob a responsabilidade de novos proprietários - vendido que foi aos srs. Roberto Dias de Souza, Ivan Gonçalves, José Paulo de Moraes e João Batista de Moraes. O motivo da venda está na idade avançada dos atuais proprietários, já agora impossibilitados de prosseguirem assegurando ao “Progresso” condições de acompanhar o vigoroso surto de desenvolvimento por que passa Tatuí e com ela marchar para um futuro que se desenha dos mais promissores. Hoje, neste 28 de dezembro de 1980, encerra a família Ortiz de Camargo sua militância na imprensa tatuiana durante mais de meio século, toda ela dedicada a “O Progresso de Tatuí”, que cresceu e perdurou graças ao apoio e confiança que nunca nos faltaram da parte desta generosa comunidade, à qual tivemos a ventura e a honra de servir. Essa confiança e apoio pedimos agora também aos novos proprietários - todos jovens idealistas, trabalhadores, vibrantes, que saberão ser dignos da tradição deste jornal, duramente conquistada ao longo de sua trajetória de lutas em prol de Tatuí. Último editorial da família Ortiz de Camargo, em 28 de dezembro de 1980.
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Progresso em Novas Mãos
Um Pasquim para Tatuí Tablóide ‘Stopim’, publicado como encarte especial, abusava do humor e serviu de escola para profissionais Em 21 de junho de 1992, o jornal O Progresso chegava às bancas e às casas dos assinantes com a primeira edição do “Stopim”, um tablóide nos moldes do
famoso “Pasquim” - veículo que, naquele ano, deixara de circular após 22 anos. Fazer humor e, de certa forma, manter parte da tradição do “Pasquim”, estava
nos planos de um grupo de jovens amigos, convidados por Ivan Camargo para editar o tablóide. O texto que anunciava o veículo já antecipava: “Sem
Capa da primeira edição do “Stopim” (junho de 1992)
105 maiores compromissos - senão o de tentar mostrar que, em meio à tamanha crise social e alienação cultural, nem todos os gatos são pardos - Stopim sabe que não pode agradar a gregos e troianos, nem é
Progresso em Novas Mãos sempre aberto a todos que queiram manifestar suas indignações ou mesmo publicar seus trabalhos que tenham a ver com qualquer tipo de arte”. Em meio a crônicas, reportagens, tiras, charges, cartuns, ha-
em sintonia com todos que estivessem acima do preconceito, da falsa moral, do conservadorismo, da hipocrisia, tudo com humor. O “Stopim” nasceu dentro do próprio O Progresso. Quando ainda cursava jor-
Esse grupo iniciou o trabalho do tablóide que circulou durante dois anos e envolveu muitos outros colaboradores. Os artigos publicados eram críticos, objetivos e pretendiam, ao final, fazer
como o maior elogio que recebi o fato de uma pessoa ter ligado no jornal e pedido o cancelamento da assinatura de O Progresso porque ela entendia que alguns textos, nos quais ironizávamos uma certa pos-
Quadrinho de Fábio Antunes dos Santos, o Binho (janeiro de 1994)
essa sua intenção”. O veículo dizia que queria “atingir os jovens (de espírito, principalmente), que estejam alertas e sem medo de novas ideias; mas, para compensar, vai estar
via moda, ecologia, humor, manifestações políticas. Tendo um simpático “tatuzinho” como mascote, o “Stopim” pretendia servir como instrumento de conscientização social e estar
nalismo, Camargo passou a editar uma página semanal, sempre às quartas-feiras, chamada “Espaço Livre”. Nela, eram publicados artigos de humor, dicas culturais e algumas charges, assinadas por Fábio Antunes dos Santos, o Binho, à época com 16 anos e, atualmente, reconhecido profissional das áreas de publicidade e ilustração em São Paulo. Além de Camargo e Binho, também colaboravam com o “Espaço Livre” Sérgio Luís Cardoso (atual gerente financeiro de O Progresso), Ricardo Ribeiro (advogado), Reginaldo Teixeira (investigador) e Jaime Pinheiro (artista plástico) e o professor Josué Fernandes Pires - a grande inspiração “para tudo e para todos”.
rir. Iniciativa que, particularmente nos dias atuais, não seria tão facilmente aceita. “Hoje, seria impossível fazer o ‘Stopim’, pela censura real que vivemos neste momento, desenvolvida e patrocinada pelo politicamente correto e pela indústria da indenização”, sustenta Camargo. “Naquele momento, não só Tatuí, mas o Brasil, vivia um respiro de liberdade pós-fim da ditadura militar, e uma série de publicações eram permitidas, principalmente brincadeiras que, hoje, idiotamente, são entendidas como ofensas”, acentua Camargo. “A cidade eu acho que, em parte, não entendia muito bem a proposta; outra parte não devia gostar; e uma outra, gostava. Dentro desse período, eu entendo
tura arrogante e de indiferença aos interesses públicos, eram escritos ‘para ela’”, lembra Camargo. “Foi, talvez, o maior elogio que eu recebi até hoje. Nunca a conheci pessoalmente, já que, claro, escrevíamos para criticar um perfil e não uma pessoa em particular. Mas esse cancelamento valeu, pra mim, por dois anos de trabalho, porque representou a certeza de um objetivo atingido.” Ao longo das edições, várias personalidades colaboraram com o “Stopim”. Décio Soares, Jorge Rizek, José Rigolão estiveram entre os que assinaram artigos no primeiro ano. Além de fazer rir, o periódico serviu como escola para Camargo e Binho, principalmente, que continuaram na área. “O Binho não
Progresso em Novas Mãos
Capa do Stopim comemora a Páscoa, em março de 1994
fazia só quadrinhos, mas charge, cartum e a própria diagramação do jornal. Depois, ele foi para São Paulo e, hoje, é muito bem-sucedido na profissão dele”, comenta Camargo. No caso do jornalista, o tablóide foi base para seus dois ofícios, de editor e escritor. “Fazendo o ‘Stopim’, comecei a trabalhar com edição de jornal, o que é diferente da reportagem de rua, por exemplo. Comecei a ter experiência com edição, e essa experiência de dois anos me ajudou muito quando, repentinamente, assumi O Progresso”, diz ele. “Por outro lado, dentro do ‘Stopim’, eu escrevia textos de humor, ficção, o que, fora de O Progresso, eu faço até hoje. O ‘Stopim’ foi fundamental, pois me deu base para dois tipos de
trabalho.” O crescimento profissional de Camargo durante os trabalhos de edição do ‘Stopim’ foram notados pelo próprio pai, que, à época, era o editor de O Progresso. “Foi uma boa fase para o Ivan. Eu ficava apreensivo porque a realidade do país não era tão boa, e o ‘Stopim’ era cáustico, mas nunca censuramos o trabalho dele. Entendo que a censura interna é ainda pior que a oficial. Acredito que o Ivan tinha alguma dúvida quanto a que profissão seguir. Foi naquele momento que ele se decidiu”, diz Gonçalves. A liberdade doméstica, acredita Camargo, também foi fundamental para o desenvolvimento dos trabalhos do ‘Stopim’, veículo que entrou para a história de O Progresso como o
Caricatura do seresteiro Ditinho Rolim, por Binho (março de 1994)
único tablóide editado por dois anos a fio. “Na prática, o meu pai, que era o editor do jornal, permitiu que eu fizesse tudo isso, sem me censurar. Quem perdeu a assinatura pelo cancelamento da leitora insatisfeita foram ele e minha mãe, mas nem por isso ele me censurou. Em termos de trabalho, sempre me deu liberdade para fazer o que eu quisesse”, reitera Camargo. “Tinha de meus pais apoio, em termos de liberdade e até financeiro – porque, na prática, os dois cobriam qualquer prejuízo que o ‘Stopim’ viesse a dar a O Progresso”. “E, embora tivesse publicidade e conseguisse se pagar, às vezes, ele dava um prejuizinho, sim. Mais que o de uma só assinatura...”, conclui Camargo.
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Administração atual Ivan Camargo havia acabado de concluir o curso de jornalismo e finalizado a última edição de seu “Stopim” quando a vida tomou novos destinos: com a separação dos pais, ele e a mãe compraram a parte de O Progresso de Ivan Gonçalves. A mudança ocorreu de 1994 para 1995, e, já na segunda edição de 95, o nome de Camargo era impresso como editor, função somada às tarefas de administração da empresa. “Administrar o jornal foi outra faculdade. Estudei jornalismo e não administração e, até então, nunca tinha tomado conta de nenhuma empresa. Tive que aprender na prática”, conta ele. A experiência tornouse mais árdua no ano de 1998, quando a economia brasileira entrou em crise e o dólar – que influencia todos os segmentos da área gráfica – sofreu uma de suas maiores altas. “Com o estouro do dólar, digo que foi minha ‘pós-graduação’ em administração. Tive algumas dificuldades e aprendi com elas. E ainda bem que aconteceram, pois, realmente, foram uma escola”, comenta. Justamente pouco antes desse período, O Progresso havia aumentado a periodicidade, de duas
para três edições por semana. Uma das medidas, então, foi retomar a circulação bissemanal. “Aprendi muito nesse
do nosso espaço, da nossa comunidade”, argumenta Camargo. E acrescenta: “Mais importante que aquilo que queremos - e
Ana Maria de Camargo, na época em que adquiriu o jornal O Progresso, no início dos anos 80
momento, principalmente com as adequações necessárias diante de uma crise nacional e, também, considerando-se a realidade
Ano de 1995 trouxe última mudança administrativa, além de reformas editorial e gráfica Por outro lado, Camargo também teve como aprendizado a inovação. Ao buscar novidades, mantém vivos a empresa e o
Ana (em 2012), que completa 32 anos dentro de O Progresso
eu quero fazer um jornal diário ainda -, é aquilo que a comunidade quer e pode responder diante disso.”
importante veículo de comunicação da cidade. Aumentar a periodicidade está nos planos futuros, porém, levando-se em
conta o desenvolvimento de Tatuí. Camargo lembra que estudos realizados por consultoria indicaram que o leitor tatuiano prefere um produto com mais conteúdo a um trabalho fragmentado ao longo da semana. “Temos aqui a cultura de acompanhar informação mais na forma de revista do que em periódico diário. Não tenho intenção de sacrificar um jornal maior, de final de semana, em favor de mais uma edição, o que já poderia ser feito”, indica. “Vai acontecer, quando for para acontecer”. Inserção de cores, publicação de tabloides e de especiais de aniversário da cidade – somados às já tradicionais publicidades – foram algumas das
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Progresso em Novas Mãos inovações editoriais dos últimos anos. Os especiais são vistos como publicações essenciais por Camargo e considerados
A cada ano, nessa época de aniversário da cidade, temos procurado fazer trabalhos que devem servir como consulta, de res-
Sede atual do jornal O Progresso, na praça Adelaide Guedes, inaugurada em abril de 2008...
um presente à comunidade, uma vez que podem servir como ferramentas de consultas e pesquisas. “Todos os especiais que elaboramos extrapolam a questão efêmera, comum no jornalismo. Já fizemos vários especiais, e todos são para serem guardados.
gate histórico”, afirma. “As últimas ações, que focaram mais o resgate da nossa tradição, particularmente do caipirismo, no sentido de valorizar nossa essência, foram muito importantes, e eu gostaria de ter mais oportunidades de fazer trabalhos nesse
sentido”, diz ele. Editar o jornal O Progresso é, para Camargo, guardar a história da empresa e dividir a responsabilidade com um grupo de pessoas que ele considera “patrimônio do veículo”. “Há quem está aqui há décadas. Entre os diagramadores, o Bisteka (Altair Vieira de Camargo) está conosco há 24 anos; o Erivelton de Morais, há 14. Na reportagem, o Cristiano Mota atua há sete anos; e a Deise Juliana de Oliveira Voigt, a qual, embora atuando em trabalhos específicos, faz parte do jornal há 15 anos”. “Temos também o Sérgio Luiz Cardoso, há 14 anos como responsável pelo financeiro; a Lívia Amara Rodrigues, também há 14 anos, gerenciando a publicidade; e o Alcy Ferrari, mais um com 14 anos de casa, como contato publicitário”, enumera. E completa: “Por fim, os caçulas Kika (Maria Cristina Xavier da Silva), também como contato publicitário;
e Francis Limberger, na reportagem. Entre os muitos colunistas e colaboradores, há o Jorge Rizek, cujo trabalho em O Progresso vai completar 28 anos!”. “Essas pessoas fazem parte do patrimônio da empresa, sem as quais não existiria o jornal. Isso é algo sagrado para mim”, afirma ele. Sobre esta edição comemorativa, Camargo ressalta-a como uma homenagem à família Ortiz de Camargo, que manteve a
décadas. “Também estou prestando homenagem ao trabalho do meu pai, que esteve dentro do jornal por 14 anos, e da minha mãe, que desde 1981 já fez de tudo dentro do jornal e que, em determinados momentos, enfrentou sozinha todas as dificuldades que fazem parte de uma microempresa”.
O Progresso, uma pessoa
O Progresso foi inaugurado por uma família e, ao
... e antiga casa adaptada para a redação, no mesmo endereço
empresa com todas as di- completar 90 anos, segue ficuldades e sacrifícios sendo editado por um ao longo de quase seis grupo familiar. O avanço da internet, dos procedimentos gráficos, a computação... todas as ferramentas utilizadas para a construção da informação gerada por Tatuí não se sobrepõem ao envolvimento emocional que o jornal acaba trazendo a todos que com ele contribuem – seja um colaborador, um leitor, um funcionário. Há histórias, episódios, situações que estarão sempre registradas nas vidas de muitos tatuianos. Para Camargo, principalmente, o jornal ganha vida própria. “Ele é uma
110 pessoa”, diz ele, emocionado. “Uma pessoa da minha família.” “Estou dentro do jornal há 32 anos, desde que minha família o adquiriu. Tudo o que eu tenho devo, de fato, ao jornal, inclusive, minha família. O jornal estudou minhas irmãs já comigo sendo responsável; o jornal sustenta minha mãe até hoje (que é aposentada, mas, como qualquer aposentado, não recebe o que merece); o jornal deu meus estudos; deu todas as oportunidades que tive na vida”, afirma ele. “O jornal me deu tudo, inclusive, minha mulher, Lívia, que conheci quando ela entrou aqui, para trabalhar como atendente. Por consequência, o jornal é responsável até por meu filho, Thales, que eu tive com a mulher que conheci dentro da empresa. Para mim, o jornal é uma pessoa da família, que espero que sobreviva a mim e a todos nós.”
Ana Camargo mantém atividade de revisora desde o ano de 1981
“Tem página?” A pergunta é habitualmente ouvida, principalmente, às terças e sextas, na redação de O Progresso, pelos diagramadores Bisteka e Erivelton. Ela é feita por Ana Camargo, carinhosamente chamada de dona Ana, há 31 anos. Ao longo desse período, ela manteve sempre uma (ou mais atividades) junto ao jornal. Quando o veículo foi adquirido pelo então esposo Ivan Gonçalves, ela iniciou no atendimento do jornal e, também, da gráfica que funcionava ao lado. Ainda era
Progresso em Novas Mãos responsável pela contabilidade da empresa e, fato, fazia tudo o que fosse necessário, unindo o trabalho à missão de cuidar dos três filhos – Ivan, Luciana e Ivana. “Logo após a aquisição do jornal, lembro que o ‘seu’ Vicente e o Nascimento ainda vinham desenvolver alguns trabalhos. Seu Vicente vinha todos os dias para revisar e o Nascimento, às sextas, para fazer as ‘chapinhas’ com os endereços dos assinantes e separar os jornais para os entregadores”, conta ela. “Depois, eles deixaram de vir, e eu passei a fazer toda a revisão sozinha.” O hábito de conferir as páginas faz parte da rotina diária de Ana, atividade que rende a ela grande prazer. “Eu gosto de revisar, eu gosto de ler. Sinceramente, sempre gostei de todas as atividades que desenvolvi: no atendimento, tinha contato com as pessoas; nas assinaturas, conhecia todos os leitores; e na contabilidade e revisão, acompanhava a vida do jornal”, comenta. A profissão de revisora
Ivan Camargo
exige que Ana faça leitura detalhada de todas as notícias, mesmo aquelas que, usualmente, não leria. Por conta disso, não deixou de impressionar-se com algumas delas. A pior, comenta, foi o “Caso Sônego” (Osvaldo
Sônego foi acusado de abusar sexualmente e matar seis meninos, todos menores de idade, no ano de 1997). “Eu fiquei extremamente impressionada com aquela notícia. Não me conformava com aqueles crimes e frieza, e
cheguei até a sonhar...”, comentou. Quando fala sobre O Progresso, Ana Camargo resume: “ele é minha vida”. “Desde 1981, passei a viver pelo jornal. Cada edição publicada era uma conquista. Tenho um grande amor pelo O Progresso, a começar pelos antigos donos, a quem eu queria muito bem. Tivemos momentos dificílimos, mas todos foram superados e, hoje, tenho orgulho de dizer que é o veículo da cidade de Tatuí”, diz. “E só chegamos até aqui por causa do Ivanzinho. Quando meu filho escolheu o jornalismo, fiquei feliz, pois sabia que ele daria continuidade a este legado. A formatura dele como jornalista foi, para mim, uma realização pessoal. Ele me deu segurança e assumiu, de forma total, o jornal. Sob a direção dele, o jornal foi, cada vez mais, evoluindo. Ele é uma pessoa inovadora. Eu sempre o apoiei e confio, desde o início, em tudo o que ele faz”, declarou a mãe.
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Progresso em Novas Mãos
O Progresso sofre incêndio criminoso no final de década A isenção na publicação de notícias rendeu a O Progresso um dos maiores ataques contra a liberdade de imprensa na cidade, no final da década de 90. No dia 27 de março de 1999, por volta das 19h, vizinhos acionariam o Corpo de Bombeiros por conta de um incêndio na redação do jornal. O fogo foi controlado a tempo, mas atingiu a recepção do jornal e, por pouco, não tomou o arquivo – o que viria a ser um grande desastre, podendo causar, inclusive, a morte de membros da família que residiam ao lado. Ainda assim, trouxe graves prejuízos à empresa. As causas nunca foram oficialmente apuradas ou esclarecidas, mas o Corpo de Bombeiros identificou o incêndio como criminoso. “Embora não tenha sido provado, o que me chegou ao conhecimento foi que isso aconteceu por iniciativa de um grupo em torno de um político que passava por processo de cassação aqui na região”, lembra Camargo. “Salvo melhor juízo, só O Progresso noticiava o caso e, coincidentemente - ou não -, nós sofremos esse atentado”, conta Camargo. Ainda que o folclore do jornal guarde as histórias de que, no início da existência do periódico, alguns entregadores tinham de fazer a entrega acompanhados por um pistoleiro, o incêndio foi, nos tempos de liberdade de imprensa, o principal ataque sofrido pelo veículo de comunicação. “É lamentável, mas faz parte da história do jornal. Além disso, importa é que ninguém mais ouviu falar do político jagunço e O Progresso está aí, com sistema de segurança e vidros à prova de bala, comemorando seus 90 anos”, avalia Camargo.
Em 2008, é inaugurada a Digitalização primeira redação oficial de arquivo é projeto
Na redação, Cristiano Mota, Francis Jonas Limberger, Altair Vieira de Camargo (Bisteka) e Erivelton de Morais
Desde que iniciou seus trabalhos, O Progresso sempre funcionou de forma adaptada nas residências de seus proprietários. Foi assim com a família Ortiz de Camargo e, também, com a família Camargo Gonçalves. Foi somente no ano de 2008 que o jornal inaugurou sua primeira redação oficial, um prédio construído exclusivamente para abrigar a empresa. O prédio, de dois andares, possui recepção, sala para a redação e diagramação, sala de reuniões, sala para atendimento comercial e edição. Possui, ainda, espaço adequado para a consulta do arquivo.
A elaboração desta revista especial necessitou de várias mãos e longo tempo. Apenas à pesquisa do acervo foram dedicados, seguramente, dois meses de trabalho – sendo somadas todas as horas dedicadas por três profissionais. O trabalho, embora extenuante, foi enriquecedor. “Ter o tempo e privilégio para folhear e ler notícias de nove décadas é a melhor aula de história da cidade”, afirma Deise Juliana Voigt, uma das profissionais envolvidas na elaboração do material. Facilitar o acesso ao acervo de O Progresso é uma das metas da direção do jornal. “Precisamos nos adequar aos efeitos da digitalização. A consulta ao arquivo do jornal, no futuro, deve ser digital e online. Gostaríamos que a pessoa tivesse acesso ao conteúdo sem precisar vir à redação, de qualquer lugar”, afirma Camargo. Atualmente, o acervo de 90 anos de notícias está disponibilizado para consulta na redação, à praça Adelaide Guedes, 145.
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Progresso em Novas Mãos
Com quantos nomes se faz um jornal? Responder ao título desta reportagem é missão impossível. A resposta mais próxima da realidade resume-se a: muitos. Ao longo de 90 anos, O Progresso encarregou-se de noticiar a cidade, e por extensão, tudo o que interessava a seus habitantes. Caminho próximo, porém diverso, da história oficial. Mas nem por isto menos importante (ou, talvez, ainda mais interessante). Nessa missão de noticiar, muitos nomes somaram-se à família Ortiz de Camargo e, mais recentemente, aos Camargo Gonçalves. Pela redação de O Progresso já passaram muitos nomes. Alguns destacam-se mais em suas carreiras; outros, menos. O repórter mais famoso da história do jornal foi Maurício Loureiro Gama, o primeiro jornalista a apresentar uma notícia na TV brasileira. Ainda menino, Maurício procurava trabalho na gráfica. Seu primeiro texto publicado no jornal relatava a crise de uma professora que havia sido exonerada do cargo. Sua carreira, que se iniciou no jornal da cidade natal, teve ascensão meteórica, e ele tornou-se reconhecido nacionalmente. O jornalista, autor da frase “Tatuí: o Subúrbio do Céu”, teve entre seus companheiros de imprensa nomes como Cecê César Jr., Walter Silveira da Mota,
Jorge Ferreira (repórter da revista “Cruzeiro”), Nelson Marcondes do Amaral, entre outros. Ele nunca deixou de contribuir com O Progresso. No auge da fama, além de elogiar Tatuí a todos os amigos jornalistas da época (fazendo com que vários deles escrevessem artigos a respeito da cidade), ele tornou-se colunista de O
primeira página, no canto superior direito. Posteriormente, a partir de 1986, assinava a sua “Tatuianíssimas”. Outros dois colunistas que apareceram ainda no início da história do jornal são Aniz Boneder, que manteve a “A Semana em Revista”, e Alfredo Ramos, que assinava “A Vida do Craque”. Também figura como colunista Leda G.
Colaboradores e colunistas ajudaram a compor os registros noticiosos de nove décadas de história Outra importante coluna surgida na década foi “Você Sabia?”, de Erasmo Peixoto, que depois passou a ser “Tatuhy-Tatuí”. Iniciada em 1987, a coluna não chegou a ser interrompida nem com o falecimento do colunista, já que sua família, à época, disponibilizou o acervo de imagens de Erasmo Peixoto a outro colunista, Renato Ferreira de
Nicola Caporrino conversa com seresteiros para a coluna “A Seresta do Alocin”
Progresso. É dessa categoria (colunistas) que vem grande contribuição para a história do jornal. Aqueles que contribuem mais frequentemente que um colaborador e menos oficialmente que um funcionário, enriqueceram as páginas do periódico com seus pontos de vista – alguns tão contundentes que chegaram a ser censurados durante a ditadura. Maurício Loureiro Gama mantinha, no auge da fama, a coluna “Bilhetes de São Paulo”, invariavelmente na
de A. Pires, que assinou a sua “Miscelânea” ao longo de dois anos, no final da década de 60 e início da década de 70. Outra coluna era assinada por Agostinho Tonny (na publicação, A. Tonny), a partir de 1972. A coluna, denominada “Up-to-Date Philately”, tratava de filatelia e outros temas de forma interessante e instigante. A década de 80 foi marcada pelo surgimento da principal coluna do jornal, batizada com o nome do autor: Jorge Rizek, mantida até os dias atuais.
Camargo, responsável por manter a publicação. Ainda nesse período, surgiram as colunas de assuntos gerais “De Tudo um Pouco”, assinada por Ivan Gonçalves, e “A Seresta do Alocin”, por Nicola Caporrino. A década de 90 foi marcada pelo surgimento de sucessivas colunas. No início, Soraya Rossi (que, na época, assinava somente Soraya) publicou a “Acontece”, que, mais tarde, passou a ser assinada por Vera Sá. A partir de 1991, Cláudio Guarugy Comelli passa a
publicar “Rapidíssimas”. A coluna tinha forte apelo popular e preocupava-se em fazer rir, dentro de um grande círculo de amigos. Tudo era permitido, de fotos a piadas. E, ao final, a graça era explicitada. Outra coluna também iniciada em 1991 foi a “Seção”, de J. Martins – jornalista que, posteriormente, fundou “A Tribuna do Povo”, veículo que atuou por anos no município. Em 1992, surge “João Levi, o Repórter da Cidade”, cujo nome do responsável já constava no título da coluna. No ano seguinte, Renato Ferreira de Camargo, antigo colaborador, passa a assinar a sua “Memórias de Tatuí”. Ainda na década de 90, são registradas “De Olho no Lance” (a partir de 1994, de Cláudio Guarugy Comelli e Luiz Carlos Teixeira, sendo, posteriormente, mantida por muitos anos somente pelo segundo, especializado na cobertura esportiva); “Acontece por Aí”; “Aconteceu por Aí”, de Ivan Gonçalves e Ademar Machado (1994); “Astral” (que depois passou a ser “Prisma” e a conter a “Oficina de Ideias” e as entrevistas de “A Olho Nu”), de Cristina Siqueira, surgida em 1995 e mantida até a atualidade; “Click”, de Júnior Mosko, publicada de 1995 a 2008; “Tatuí em Foco”, assinada por Ademar Machado, a partir de 1996;
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Progresso em Novas Mãos e “Check-up”, de Giorge di Santi. No final da década de 90, Raymundo Farias de Oliveira torna a segunda página das edições de fim de semana mais líricas. No início da década seguinte, passou a ser publicada a coluna “Minutos de Civismo”, de Raul Vallerine, colunista que mantém suas publicações à página 2, até os dias de hoje, ao lado dos artigos de Sara Pimentel e Elaine Lera. Os mais novos colunistas a integrar a família de O Progresso são Henrique Autran Dourado, escritor que ocupa espaço na página 2 com crônicas e informações ligadas à música, e Fran Campos, que preenche o essencial espaço ligado ao humor, com seus “Casos Tatuianos”. O jornal se fez também das mãos de colaboradores como Helio Reali, Leila Sallum Menezes da Silva, Maria Aparecida Fogaça Dias, Wilson Bertrami, Gaspar Aiub e José Teixeira de Almeida. Afinal, muitos nomes fazem um jornal. E no inumerável “muitos”, há os que podem não ter sido citados neste texto. Este parágrafo é dedicado ao agradecimento a todos os que colaboraram, mas não constaram nas linhas acima. Incluindo-se, aqui, aqueles muitos pseudônimos utilizados por pelo menos três décadas de história. Perdoem-nos, portanto, aqueles que não foram citados. Deixa-se aberta uma brecha para o que, por obrigação de ofício, não deveria ser coluna, mas, volta e meia, aparecia nas páginas do jornal: a “errata”.
Você sabia?
Com o título acima, Erasmo Peixoto iniciou sua carreira como colunista em O Progresso. A coluna destacava uma das maiores (mas não única) qualidade dele: a generosidade. Erasmo Peixoto não se importava em compartilhar com os leitores fotos de seu acervo histórico. A coluna estreou com fatos curiosos – um deles, sobre um grupo de amigos que
essência do cronista-fotográfico. Para quem trabalhou em O Progresso não é difícil lembrar-se de quando ele entrava pela redação com uma foto na mão e o texto da semana na outra. Detinha-se por algum tempo, ria e fazia rir. O sorriso que sempre mantinha no rosto alargava-se quando, com certa frequência, ouvia a frase: “Seu Erasmo, me
Maria Negrão Peixoto e Erasmo, antes do casamento
fez uma viagem ida e volta a São Paulo, de carro, no século passado - o que, obviamente, levou horas e horas. Depois, ela trazia uma foto antiga de pontos interessantes da cidade, prédios importantes ou situações que envolviam personalidades do município. Abaixo da foto (ou, por muito tempo, ao lado dela), contava as curiosidades da imagem, sempre iniciando com o “você sabia?” e terminando com uma breve propaganda da sua “Óticas Peixoto”. A coluna era tão esperada e respeitada pelos leitores que ocupou dois parágrafos na justificativa do projeto que propunha a Peixoto o título de cidadão benemérito de Tatuí. A partir de 1993, “Você Sabia” tornou-se “TatuhyTatuí”, mantendo a mesma
ajude, por favor... O senhor teria uma foto para eu ilustrar uma matéria antiga?”. Ao responder ao pedido, no mais tardar no dia seguinte, não trazia apenas uma, mas várias. Ia além: trazia algumas outras imagens como sugestão. Se necessário fosse, deixava a coleção de álbuns fotográficos à disposição de quem pediu, pelo puro prazer de ajudar. Além de colecionador, Peixoto era excelente fotógrafo. Amava a arte fotográfica, e, não somente com ela, praticava a generosidade de forma intensa e discreta. O fotógrafo Sérgio Oliveira lembra-se da disposição de Peixoto em ajudar a quem quer que fosse. “Parecia que ele estava sempre te esperando”, disse Oliveira. Fotógrafo profissional, Oliveira iniciou na carrei-
ra estimulado por Peixoto. “Minha mãe trabalhava para ele, e eu era só um garoto que recortava fotos de jornais, inclusive, da própria coluna dele em O Progresso”, conta. “Eu tinha uma máquina muito antiga, que meu pai havia comprado, mas que não funcionava. Fui lá para ele ver se tinha conserto. Ele me propôs ficar com aquela máquina para a coleção pessoal e, em troca, me deu uma nova”, relembrou. De máquina nova, na semana seguinte, Oliveira iniciou um curso fotográfico. Todos seus passos eram acompanhados por Peixoto. “Ele perguntava sobre tudo o que eu estava fazendo, mostrava as fotos dele, me incentivava. Me deu as primeiras dicas de como fotografar. Ele compartilhava tudo sobre fotografia não somente comigo, mas com outros fotógrafos da cidade”, diz ele. “No meu caso, a presença dele foi mais intensa na minha carreira. Ele me indicava outros profissionais para que eu aprendesse mais e cedeu um ampliador quando eu comecei a estudar ampliação. Ele mudou o rumo da minha vida e, por causa dele, tenho a profissão que eu amo e da qual eu vivo hoje”, conta ele, que vem desenvolvendo trabalhos internacionais. Peixo-
to era tão generoso que chegou a dividir com os leitores um dos mais importantes momentos da vida dele: o nascimento da primeira bisneta. Quando estava indo à Santa Casa de Tatuí para visitá-la, resolveu tirar uma foto da avenida Salles Gomes, que, naquele momento, estava completamente vazia, a não ser pelas flores amarelas no chão. O registro foi feito em 26 de outubro de 1997, às 16h30, e publicado em 25 de dezembro do mesmo ano, como um presente de Natal a O Progresso e seus leitores. Sucessão Erasmo Peixoto manteve a coluna até setembro de 1998, quando faleceu. Parte de seu acervo, conforme anunciado em O Progresso no mesmo ano, foi cedido a Renato Ferreira de Camargo. Erasmo nasceu em 15 de março de 1929 e faleceu em 12 de setembro de 1998. Por ocasião de seu falecimento, Luis Gonzaga Rocha Leite e a família dele publicaram uma das mais belas homenagens póstumas nos 90 anos de O Progresso: uma página totalmente em branco, a não ser pela inscrição no centro: “Erasmo, vai ser difícil algum tatuiano preencher o espaço que você deixou”.
Guardião da identidade visual do município, Erasmo Peixoto (ao lado da esposa Maria) foi um dos maiores colaboradores de O Progresso
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Progresso em Novas Mãos
Sob um prisma muito particular “Quando voltei para Tatuí de mala e cuia, eu sentia necessidade de ter um ponto de referência na cidade, pelo qual pudesse me comunicar verdadeiramente e que as pessoas não falassem por mim. Queria falar primeiro, antes que falassem o que não era verdade - mesmo que a verdade não fosse a mais aceita pelas pessoas. Queria mostrar meu prisma e, por outro lado, mostrar a beleza das pessoas ao redor, sob o mesmo prisma.” De forma objetiva e honesta, Cristina Siqueira descreve “Prisma”, coluna que iniciou em O Progresso no ano de 1995 (inicialmente, como “Astral” e, depois, como “Prisma”, tendo também os intertítulos “Oficina de Ideias” e “Velozcidade”) e mantida até a atualidade. Quando iniciou, a ideia de “Prisma” era mostrar um novo ponto de vista e uma nova perspectiva para a cidade, ambas conectadas com a história pessoal da própria colunista. “Quando eu falo no jornal, eu sinto o cheiro de tinta da oficina do Zé Nascimento e do Vicentinho, porque eu frequentava a casa deles, através do meu ex-marido, que era sobrinho deles. Eu achava muito interessante aqueles tipos, eu sempre gostei muito de letrinhas, era fascinante. Depois, um dia de manhã, fui correndo no Ivanzinho perguntar se
ele topava a coluna que eu nem sabia exatamente o que era. Ele topou, porque tem essa abertura fantástica para o novo, essa intuição para as coisas, é um grande amigo”, relembrou ela. Aos poucos, “Prisma” foi ganhando forma. Não foram necessárias muitas edições para que surgisse o “A Olho Nu”, as entrevistas que mostram o lado mais doce dos entrevistados. Pelas páginas de “Prisma”, passaram algumas das mais importantes, curiosas, doces e sofisticadas personalidades da cidade. “Era a história de perceber que as pessoas tinham uma beleza muito grande e não reconheciam isto. Existia uma mentalidade pessimista na cidade, e eu, otimista por natureza, queria transformar isso, valorizar a flor que existia, queria mostrar o brilho que as próprias pessoas
tinham”, explica ela. As primeiras entrevistadas foram as professoras de Cristina, que ainda se sentia e era sentida como a “aluna que foi estudar fora”. “Eu via a beleza nas pessoas que estavam mais próximas de mim e revisitei toda a minha infância, a começar por meus professores. Procurei dona Leila Sallum, dona Almira Porciúncula... O que me interessava era o ambiente da flor, onde a conversa era amena. Meu critério para convidar entrevistados era subjetivo e absolutamente doce”, conta. Ser entrevistado por Cristina Siqueira para O Progresso era um acontecimento social – para o entrevistado e entrevistadora. Um verdadeiro ritual que começava com o telefonema-convite para um fim de tarde, início de noite ou manhã na casa dela. Ela abria a
residência e recebia, invariavelmente, pessoas predispostas à confidência. “Muitas vezes, foi um divã. Entrevistar tornouse uma profissão que exigia de mim muita discrição e empatia. Eu ainda carrego comigo as histórias, inclusive, o não publicado. Atrás do bril h o d o
‘Prisma’, havia uma alma, uma história. E isso
A colunista Cristina Siqueira
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Progresso em Novas Mãos não morre nunca”, conta ela. Após a entrevista – que, invariavelmente, transformava-se em conversa -, Cristina editava tudo cuidadosamente em folhas de sulfite, escritas à mão. Os originais, a pedidos, eram devolvidos. Até que um dia, junto ao que chama de “museu de cartas e cartões de agradecimento”, encontrou os originais no armário. “Quando abri o armário e vi que tinha um monte de jornal guardado e nada em arquivo, pensei: ‘Isso é um livro que foi escrito por uma cidade’”, relembra, comovida. A história de vida dos entrevistados virou um dos livros produzidos pela escritora e lançado no início dos anos 2000. “Livro Prisma” foi, para ela, um “processo cheio de querer bem, um abraço que enche a casa”. Para a cidade, foi o registro de personagens e personalidades em momento especial de suas vidas. Cristina Siqueira é dessas poucas pessoas que colocam a própria vida em tudo que faz. Quando começou a carreira como colunista, como disse, queria transformar o pessimismo. Hoje, 17 anos depois, suspira quando avalia o trabalho pautado no idealismo: “Quando eu olho a cidade com olhos de retrovisor de carro, vejo que muito do discurso foi trazido para a prática e que a função de um poeta era essa: levantar os ânimos”, aponta. “Eu consegui que as pessoas olhassem com outros olhos para a cidade. Sei que todos os movi-
mentos de arte vieram na esteira. Ninguém precisa creditar nada a mim, mas meu coração sabe de onde saiu.” Hoje, Cristina Siqueira mostra-se ainda mais ativa e afirma que o “Prisma” está sendo repensado na esporadicidade da coluna. “Estou pensando na linguagem, na forma. Hoje, as pessoas falam de si próprias, mas não esperam que o outro as enxerguem; porém, reclamam que não são vistas. Elas estão oferecendo um desprezo a quem vê com bons olhos, sem saber. Estou desenvolvendo o novo, num momento de assombro com o mundo”, avisa, dando esperanças aos que esperam as perguntas interessantes e ainda sonham em ser vistos e escritos com poesia. Integrante da equipe de O Progresso no ano de seu 90º aniversário, ela orgulha-se da profissão. “Produzir um jornal por 90 anos é um trabalho heroico, e acho que o jornal nunca vai morrer. O jornal comemora esse aniversário cumprindo sua missão de informar criteriosamente - o que não é fácil sendo uma cidade pequena -, abrindo espaço para mentalidades arejadas - o que traz um relevo ao jornal - e, inclusive, dando espaço a um caderno de cultura semanal - como se fosse jornal de uma cidade grande. Se pegar todos os jornais da região, não vai achar um como O Progresso. Tenho muito orgulho de pertencer ao quadro de colaboradores de O Progresso de Tatuí”, finaliza ela.
Colunismo de Jorge Rizek: Coluna noticia referências, destaca personalidades e é pauta para outros veículos de comunicação Aos dez anos de idade, o mais importante colunista social da cidade tinha como brincadeira a “confecção” de revistas. “Eu cortava o papel de pão e fazia uma revista. Depois, recortava e colava imagens e escrevia, à caneta. Fazia uma revista com notícias da cidade, sobre música, sobre tudo”, lembra ele. A brincadeira de infância é uma das profissões do também produtor, turismólogo, decorador e atual secretário municipal da Cultura, Turismo, Esporte, Lazer e Juventude. Ele fez as primeiras incursões pelo colunismo social escrevendo para uma revista local na década de 70 e, depois, cobrindo férias de Vera Sá, no jornal “Diário de Sorocaba”, no início dos anos 80. Em 1984, a convite de Ivan Gonçalves, passou a escrever para O Progresso. A coluna social que leva seu nome passou a ser publicada semanalmente a partir de 16 de setembro de 1984. Portanto, perto de completar 28 anos. Dentre as várias colunas esporadicamente publicadas à época, a de Rizek era uma das três fixas – juntamente com a “Você Sabia?” (de Erasmo Peixoto) e “Tatuianíssimas” (de Maurício Loureiro Gama). A primeira coluna foi publicada à página 11, sob o título “Rizek” e assinada com nome completo: Jor-
ge Roberto Rizek. Nela, o colunista anunciava: “Estamos iniciando uma nova etapa em nosso trabalho de informação. Casa nova, novas esperanças, nova estação. É setembro, é primavera! Não importa onde estamos, importa como estamos. Não importa o que fazemos, mas como fazemos”. Ele também já indicava o engajamento pelo desenvolvimento de Tatuí. “Vamos todos, então, batalhar numa boa, nesse lance de fazer Tatuí uma cidade espertíssima”, dizia ele. No segundo mês de circulação, a coluna passou a ser chamada de “Jorge Rizek” – mantendo-se assim até os dias de hoje – e a fazer críticas, sempre numa forma de impulsionar a comunidade para abraçar o novo e buscar o desenvolvimento. Em 2 de dezembro de 1984, por exemplo, cobrava: “Onde está a parte da juventude?” E ele mesmo respondia: “Na falta de ranço, na falta de preconceito, no humor”. Ainda em 1984, ele criou uma curiosa eleição como forma de estimular aqueles que mais se destacavam na sociedade. Denominada “Destaques de 84”, os itens iam de “simpatia” a “presença mais assídua nas partes mais borbulhantes” (a propósito, a mais simpática de 84 foi Elisa Corradi e os mais presentes, Luiz Duarte, Burt, Beth Roseiro, Flávio Ferreira e Angé-
lica Coelho). A mesma votação elegeu a “socialite mais linda, leve, solta e chic” (Picida Fiuza), além do melhor lugar para comer, melhor lugar para beber, “affair” do ano, livro, show, evento... Para os “eleitos”, constar na eleição anual de Rizek era uma espécie de prêmio social. “O colunismo social da época era para mostrar, contar a história da sociedade onde vivemos. Ou seja: o que acontece, quem é quem, quem faz a cidade na verdade”, diz ele. “Mesmo que hoje o colunismo tenha evoluído, ainda predomina o fato de noticiarmos quem faz alguma diferença. Falamos de pessoas, o que fazem e, hoje, também contamos o outro lado da notícia. O lado pitoresco, curioso, aquilo que ninguém vê ou noticia.” Outra forma de destacar as pessoas mais atuantes na comunidade foi criada em 1987. Na edição de 7 de maio daquele ano, Rizek noticiava a repercussão da “Noite dos Dez Mais”, realizada no Clube Tro-lo-ló (de propriedade dele), uma semana antes. A noite premiava os dez mais atuantes, e as dez mulheres e dez homens mais elegantes. A coluna foi marcada pela publicação das duas primeiras fotos: uma do público presente e outra de Mário Edison, pianista que realizou o show na noite de premiação. Três anos após o início da publicação, o espaço Jor
116 ge Rizek já passava de três colunas (cerca de um terço de uma página) para praticamente uma página inteira. Também ganhou espaço mais privilegiado no ano de 1987: passou a ser publicada, invariavelmente, à página 2. Ainda em 1987, Rizek ampliou suas notas e deu espaço a citações e poemas. O primeiro foi “As Sem-Razões do Amor”, de Carlos Drummond de Andrade. No ano de 1988, a coluna passou a ser publicada na contracapa do jornal, na edição de domingo e ganhou “intertítulos”, dedicando espaço a temas específicos. Os primeiros foram “Por aí” (voltado a quem viajava) e “Trololó” (que trazia a agenda e notícias da casa noturna que foi “febre” nos anos 80 e início dos anos 90). O final da década de 80 trouxe ainda maior visibilidade ao colunismo social. Com o início da impressão de O Progresso em offset, a publicação de fotos já não era um problema, passando a ser constantes. “As pessoas sempre gostaram de se ver. E ainda gostam, mesmo com a in-
Progresso em Novas Mãos ternet e todas as redes sociais. Mas reconheço que são outros tempos. Quando a coluna começou, a cidade tinha um número de habitantes menor, todo mundo se conhecia; hoje, a cidade não é a mesma. Os conceitos também mudam. Por exemplo: houve um período em que noticiávamos quem estava viajando. Tempos depois, com o crescimento da cidade e da própria criminalidade, começaram a surgir furtos em casas enquanto a família viajava, e ninguém mais queria ter suas viagens publicadas. São outras conexões, outros tempos”, afirmou ele. Novos tempos Desde o início da carreira como colunista, Rizek mantém período de férias (em geral, após o Carnaval) e empenha-se na reformulação - inclusive, visual - em seu retorno. Em 1991, a grande novidade de sua volta foi a ampliação do espaço. Ele passou a publicar uma página inteira de notícias sociais, incluindo subtópicos como “Por Aí”, “Agenda”,
“Vídeos”, “Moda” e “Trololó”. Ao final do ano, a coluna era formatada com “Trololó” e “Drop’s”, e cada nota ganhava seu próprio título. Já em 1994, a coluna ganha o “Vai e Vem”, ainda sobre as pessoas que mais circulavam pela cidade, Estado, país ou fora dele. A partir de 1996, a coluna salta para o último caderno do jornal (em geral, contracapa) e, em 1998, quando mantinha somente o intertítulo de “Vitrine”, passa ser a publicada na contracapa e em cores, onde é mantida até hoje. “Fomos a primeira coluna a ganhar página colorida, a vir para a última página e, depois, a ter duas páginas inteiras. A coluna cresceu...”, diz ele. “Isso é resultado da história que eu sempre tive de querer inovar, de ter outra leitura quanto a colunismo social – o que, hoje, praticamente não existe. Hoje, as colunas ditas como sociais escrevem de tudo, não estão exclusivamente voltadas à sociedade. A coluna acompanha também os novos conceitos: de coluna social de eventos, passa a ser coluna noticiosa e, com a ascensão da internet, ganhou outro formato. A coluna teve que ganhar novas caras e acompanhar a evolução”, comenta. No ano de 2002, a coluna sofre grande reestruturação visual, também planejada pelo próprio Rizek. O simpático intertítulo “Tatuindo” é ilustrado com tatuzinhos, e a seção de
idas e vindas é batizada de “Batendo Perna”. Ainda no primeiro semestre de 2002, Rizek passa a publicar sua coluna às quartas-feiras e finais de semana, prática mantida por alguns meses. Ao final do ano de 2002, a coluna passa a ser publicada no formato mantido até hoje: duas páginas, sempre nas edições de final de semana. No ano de 2006, a coluna ganha novo logotipo e trechos de músicas começam a ser incorporados semanalmente. A ideia ganha o selo “Tatuí, Capital da Música” em 2009 e, no ano seguinte, as seções que mantém hoje: “Tatuí, Capital da Música”, “Parabéns, Hoje É seu Aniversário”, “Porque Hoje É Sábado e Amanhã Domingo” (incluído em 2011). To d a s as se-
ções são nomeadas a partir de letras de música ou embaladas por elas. “Seleciono duas letras de músicas relacionadas a eventos ou efemérides da semana. Tatuí é a Capital da Música, e acho que a música tem que estar presente em todas as coisas. É importante, precisa ser destacado. Eu sempre estive conectado com isso”, disse ele. A notícia e o noticiado Fazer coluna semanal não é tarefa das mais simples. A dificuldade esteve presente fosse na década de 80 ou na era virtual, da atualidade. A coluna de Rizek, ao longo dos anos, extrapolou os meios sociais e passou a ser visada também por outros veículos de comunicação, servindo como pauta. “Assim como o jornalista, eu também busco fatos. Embora a coluna
Jorge Rizek, colunista afinado
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Progresso em Novas Mãos não tenha como objetivo dar ‘furos’, é bom quando isso acontece, mostra que o colunista está bem informado, seguro da informação”, aponta Rizek. “Claro que, antes, era mais fácil. Hoje, as pessoas que eram fontes se autonoticiam nas redes sociais”, acrescenta. A busca pela notícia não o livrou de situações inusitadas. Certa vez, acabou desfazendo um negócio por antecipar a publicação. “Fui a uma loja para comprar móveis que estavam à venda, pois iriam desocupar o ponto, onde seria instalado um restaurante. Eu, achando que estava colaborando com a divulgação, acabei atrapalhando. O negócio ainda não tinha sido concluído, e isso gerou uma saia justa. Uma de várias outras situações geradas a partir da coluna. Eu já perdi amigos por conta de publicação...”, conta ele, que não deixa de publicar a notícia quando ela é importante para a cidade e o meio social. “Sou colunista porque gosto de ser colunista. Eu acompanho O Progresso desde criança e fui escrever lá pela amizade com o Ivan Gonçalves e, agora, Ivan Camargo. O colunismo de Tatuí é diferente de outras cidades”, diz ele. O processo de produção da coluna social inicia logo que a última coluna termina. Rizek, assíduo frequentador dos meios sociais, elabora a pré-pauta e, ao longo da semana, oficializa a pauta e compila os dados. Depois, todas as informações são escritas à mão e, em seguida, digitadas por uma assistente. Há um processo de revisão das informações antes e após a dia-
gramação, paralelamente à seleção das fotos que, em alguns casos, são escolhidas a partir de centenas de imagens. “Levo uma semana para elaborá-la, trabalho cerca de duas horas por dia. Sempre tento incluir a ‘última notícia’, a mais atual possível, tentando acompanhar a velocidade dos tempos de hoje”, explica. As notícias da coluna de Rizek são referências e fazem referências. Ser noticiado nas páginas sociais semanais de O Progresso é ganhar destaque na cidade. “Existe uma força muito grande. É um espaço concorrido. Às vezes, até me dizem que eu ‘favoreço’ uma ou outra família. Mas o fato é que há algumas famílias que frequentam a coluna desde que eu comecei na área, porque elas são notícia, estão produzindo, estão se destacando na comunidade. Elas, de certa forma, fazem Tatuí acontecer”, comenta ele. Exemplo? A atriz Vera Holtz. “Ela é frequentadora assídua. Não porque é minha amiga, mas porque ela é notícia”, complementa. Rizek, que é leitor voraz de colunas sociais de jornais e revistas há anos – de Tavares de Miranda, na década de 60, a Joyce Pascowitch nos dias de hoje – aprendeu a fazer colunismo lendo colunismo. Fato é que Rizek empresta credibilidade a O Progresso e, por meio do veículo, não só destaca quem trabalha pela sociedade, mas motiva e estimula outros a fazerem o mesmo. A coluna é vitrine do que é bom e seta para o que precisa ser melhorado. Tudo, claro, com classe e elegância.
a partir de setembro/1984
a partir de junho/1985
a partir de abril/2011
a partir de abril/2011
a partir de março/2010 a partir de abril/1987
a partir de abril/1990
a partir de março/1991
a partir de junho/1991
a partir de dezembro/1991
a partir de abril/1992
a partir de dezembro/1992
a partir de abril/1997
a partir de outubro/1999
a partir de outubro/2000
a partir de julho/2002
Início do colunismo social O colunismo social surge oficialmente em O Progresso no ano de 1946. Não existia a figura de um colunista responsável. Sob o título “Sociais”, o espaço trazia informações sobre casamentos, aniversários, visitas, noivados, nascimentos, além de trechos de poemas ou romances. Em algumas edições, constava o “preceito do dia” e, em certas ocasiões, dicas curiosas de “como evitar calos e unhas encravadas” (caso da edição de 25 de agosto de 1946). A primeira a assinar uma coluna social foi Adelaide Lisboa. Sua coluna, denominada “Página Feminina”, trazia dicas úteis às mulheres da época: como tirar manchas de iodo, como limpar os bordados dourados ou dicas de moda - “não há velhos taileurs se a blusa é nova”, citava a coluna. Receitas eram indispensáveis e, vez ou outra, informações curiosas. Em 30 de março de 1947, a coluna trazia nota sobre “comprovados estudos sobre surgimento de rugas em mulheres que usavam óculos escuros”. Na década de 70, a coluna “Flashes”, também não assinada, trazia novidades do meio social.
a partir de agosto/2002
a partir de abril/2009
a partir de março/2008
a partir de abril/2007
a partir de abril/2006
selo comemorativo
a partir de dezembro/2003
a partir de maio/2003
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Progresso em Novas Mãos
Produção visual, impressão e linha editorial acompanham evolução
Do manual ao virtual A produção e impressão do jornal O Progresso acompanharam nos últimos 90 anos os avanços tecnológicos na área gráfica. Dos pesados “tipos” (as
da segunda edição do ano seguinte, o logotipo era acompanhado pela imagem de um trabalhador. A ilustração, publicada em todas as edições até março de 1930, representava o ideal da imLogotipo utilizado pelo jornal prensa, transcrito de 30 /07/1922 a 21/01/1923 no primeiro editorial do jornal, em 1922: “o progresletras em chumbo unidas so através do trabalho”. manualmente para a produ- Ainda no final da década de ção de notícias) aos atuais 20, O Progresso passou a uticomputadores e programas lizar com maior frequência o para a produção visual das chamado “clichê ilustratipáginas, todos os sistemas vo”, sendo que a primeira foram utilizadas pelo jor- propaganda com ilustração nal. publicada foi a montadora Além das mudanças nos de automóveis Ford, em 19 de agosto de 1928. Algumas ediLogotipo utilizado pelo jornal de 04/02/1923 a 23/02/1930 ções seguintes, outra montadora, a então GM (atual Chevrolet) sistemas de produção, mais também passou a utilizar o familiares aos colabora- recurso em suas propagandores de O Progresso e a das. “Esse tipo de recurso profissionais da área, os era muito caro e custoso avanços visuais podem ser para a época”, destacou o percebidos também pelos artista plástico e consultor leitores, a começar pelo de arte de O Progresso por próprio logotipo do jornal, mais de três décadas, Jaime no mais privilegiado espa- Pinheiro. A primeira reforma visual signifiLogotipo utilizado pelo jornal de 01/03/1930 a 24/11/1940 cativa ocorreu em 1930, quando o jornal alterou seu logotipo. Na priço do veículo de comunica- meira edição daquele ano, ção: no topo da capa. o jornal deixou de exibir a Durante o ano de 1922, o gravura do trabalhador (no logotipo grafava “O Pro- canto superior esquerdo), gresso de Tatuhy”. A partir aumentou a proporção de
seu nome e, ainda, alterou o slogan. Em vez de “órgão dedicado aos interesses do município”, passou a constar logo abaixo do nome do jornal o slogan “órgão consagrado à defesa dos interesses do povo”. O visual do logotipo também sofreu alterações. “Passa a ser utilizada uma letra mais moderna e, nesse momento, o sistema de produção deixa de ser o ‘clichê’. O jornal passa a ser montado com tipos. Vê-se que, a partir de 1930, o veículo já possuía uma coleção de tipos mais modernos”, avalia Pinheiro. Na edição de 3 de agosto de 1930, O Progresso passa a publicar a inscrição “2ª Phase”, logo abaixo do slogan, na capa. Nesse ano, em nota em que se celebravam os oito anos do periódico, explicava-se a razão da inscrição: a segunda fase dava continuidade à primeira, iniciada por Antonio Moreira da Silva. O texto ainda explicitava as dificuldades de produção do jornal. “A feitura desse jornal é a mais penosa possível, pois, apesar dos esforços do seu digno redator e dos seus auxiliares, a sua tiragem é de cerca de cem exemplares por hora. Esse prelo é um contraste com as modernas máquinas impressoras, mas ele atesta orgulhosamente o esforço dos nossos
04/02/1923 – Primeiro jornal com ilustração de trabalhador na capa
08/12/1940 – Primeira edição em que foi utilizado o logotipo que perdura até hoje, com pequenas alterações
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Progresso em Novas Mãos paulistas destemidos, porque embora quem escreva estas linhas ignore quem tenha sido o seu primeiro possuidor no Brasil, traz o velho prelo gravada a data de sua fabricação - 4 de março de 1604”, cita-se.
de 8 de dezembro de 1940. A mesma edição traz, ainda, a estreia do “expediente”, com informações sobre custos de assinaturas e exemplares, entre outras. “Nota-se a preocupação com a criação de seções mais definidas”, também observa Logotipo utilizado pelo jornal de 08/12/1940 a 04/01/1995 Pinheiro. Os meios de acesso ao veículo de comunicação Novas informações na aumentam a partir de 13 primeira página são veri- de junho de 1943, quando ficadas na edição de 8 de são divulgados o primeiro julho de 1934. O slogan número de telefone (122, deixa de ser publicado, o então apenas três dígitos) e redator-chefe passa a ser sua caixa postal (52). Licio Marcondes Amaral e Após a morte de José Oro redator-secretário, Mau- tiz de Camargo, seu nome rício Loureiro Gama, ten- passou a figurar logo abaido como diretor José Ortiz xo do logotipo do jornal, de Camargo. A chegada de a partir de 11 de junho de 1944. Abaixo do nome, a inscrição Logotipo utilizado pelo jornal de 08/01/1995 a 18/08/2010 com as datas de nascimento e falecimento (prática mantida até a novos membros à equipe transferência do jornal aos exigiu um longo e emotivo novos proprietários, em texto assinado por Ortiz de 1981). Camargo no qual ele fala Significativa mudança é sobre “a necessidade de re- sentida no ano de 1945. A novação do jornal” (repu- partir de outubro, as ediblicado neste especial). ções passam a circular com Amaral tem seu nome im- oito páginas (o dobro do presso na capa até 5 de mar- que era até então). O númeço de 1939, quando deixa ro de páginas aumenta em algumas edições especiais e conLogotipo utilizado atualmente forme o volume pelo jornal, desde 22/08/2010 de publicidade e textos. Tanto que, no final da década de 70, o jornal já o periódico. José Ortiz de circulava com 12 páginas. Camargo volta a ocupar o cargo e a ser creditado por Novos ele. Nesse ano, o jornal já proprietários não era mais mensal e, sim, Quando o jornal O Prosemanal. gresso é vendido e inicia O logotipo de O Progres- sua terceira fase, mudanças so, com a grafia atual, pas- visuais também são efetisou a ser utilizado a partir vadas. A primeira edição
19/8/1928 – Aparição do primeiro clichê na história do jornal de 11 de janeiro de 1981 traz, na capa, o logotipo e, ao lado direito, o “Cantinho da Casa dos Presentes”, o mais longevo anunciante do veículo de
comunicação. A capa traz ainda o novo endereço – praça Adelaide Guedes, 145 – e telefone (51-0351, já com seis dígitos). Dois anos depois, em
11/01/1981 – Primeira edição da “terceira fase”, após a venda do jornal pela família Ortiz de Camargo
21 de agosto de 1983, Ivan Gonçalves e Ana Maria de Camargo passam a ser os únicos proprietários, ele tendo o nome na capa do periódico como “diretorproprietário”. Uma mudança gráfica é novamente implementada em 6 de julho de 1986. Naquela edição, O Progresso anunciava sua mudança de formato. “A partir desta edição, o jornal passa a ser impresso em novas máquinas – o que dará, além de um formato maior, uma agilidade de impressão muito grande. O novo equipamento pode imprimir até 2.500 cópias por hora (cada cópia corresponde, por vez, a duas páginas de jornal). O novo formato trará boas vantagens para o leitor no aspecto visual e excelente tamanho das letras. Em termos de máquinas, estamos agora preparados tecnicamente (estudos para o lançamento já estão sendo feitos) para oferecer à nossa cidade duas edições semanais, uma na quarta-feira e outra no domingo”, antecipava a notícia sobre a mudança na periodicidade, que ocorreria em 7 de janeiro de 1987. “Há seis anos, quando assumimos a direção deste jornal, o primeiro desafio que resolvemos enfrentar foi mudar o tamanho meio fora de medida, para o formato oficial. Alcançamos nosso objetivo no ano passado e, logo a seguir, estabelecemos nova meta: o jornal teria que circular duas vezes por semana. Era uma luta ainda maior, troca de máquinas, aumento de funcionários e nova programação de trabalho. Nosso maior incentivo era o aumento gradativo de
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Progresso em Novas Mãos
novos assinantes e anunciantes. Se nossos leitores aumentam, é porque nossa direção está correta e falamos a mesma linguagem.
espaço disponível para as matérias será maior”, constava a reportagem. Já o ano de 1988 traz um avanço ainda maior à pro-
6 de julho de 1986 – Jornal que marcou mudança de formato, em julho de 1986 Baseados nessa ideia e seguros de que nossa Tatuí merece todo o empenho em apresentar um bom jornal, estamos colocando nas mãos de nossos leitores mais uma edição semanal, na quarta-feira. Teremos,
dução gráfica do jornal: o uso do sistema “offset”, o que permitia impressões sem distorções e aumento de qualidade, fazendo com que fotos, ainda que em preto e branco, passassem a ser publicadas com maior
linotipo – no qual as letras são fundidas e, em seguida, o ‘offset’. Os avanços são incríveis. Ninguém consegue imaginar o trabalho que dava para fazer, por exemplo, uma propaganda no ano de 1982. Era preciso compor as letras manualmente, fazer a ilustração e, depois, o clichê. Às vezes, precisávamos de três ou quatro dias para uma propaganda”, recorda Jaime. “O ‘offset’ exigiu, inclusive, técnico de outra cidade para manusear o equipamento”, afirmou ele. As primeiras edições em duas cores começam a surgir em 1993. Em 26 de dezembro daquele ano, a capa é impressa em preto e vermelho, inserindo a cor em espaço noticioso pela primeira vez na história do jornal – sempre na capa e contracapa. A edição de 4 de janeiro de 1995 foi a última assinada por Ivan Gonçalves como diretor responsável.
Respeito à tradição Ampla reforma visual é promovida a partir da edição de 8 de janeiro de 1995, a primeira assinada por Ivan Camargo, que então assumia como editor do jornal no lugar do pai, Ivan Gonçalves. A reforma gráfica foi estudada por Jaime Pinheiro. “Procuramos manter o tradicional, sem nenhuma alteração radical no logotipo, pois isso precisa ser 7 de janeiro de 1987 – Edição que deu início respeitado. Mas buscamos à periodicidade bissemanal, em 1987 dinamizar as letras e facilitar a leitura, utilizando fontes mais legíveis e claportanto, um bissemanário, frequência. ras. Também pensamos na com uma edição na quarta “Antes, utilizava-se o organização de espaços”, e outra no domingo. As no- clichê (tipo móvel, siste- disse ele. tícias serão mais atuais e o ma letra a letra); depois, o À época, O Progresso
publicava as seções “Opi- de Camargo passa a ser a nião”, “Cidade”, “Espor- única proprietária. Após a te”, “Geral”, “Indicador”, saída de Ivan Gonçalves,
8 de janeiro de 1995 – Nova reforma visual busca facilitar leitura, em 1995 “Classificados” e “Lazer e Cultura”. A renovação da editoria também é anunciada nessa primeira edição de 1995. “A partir desta edição, oficialmente, o jornal O
assume como diretor responsável seu filho, Ivan Camargo Gonçalves, que já editava desde 92 o tabloide ‘Stopim’. O artista plástico Jaime Pinheiro passa a cuidar da
14/08/1988 – Publicada em 14 de agosto, edição marcou início das impressões em offset
Progresso de Tatuí inicia uma nova fase, com direção, editoria e projeto gráfico renovados. Ana Maria
editoria de arte do jornal, que já a partir desta edição tem seu visual sensivelmente modernizado”,
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Progresso em Novas Mãos citava reportagem. Novos serviços e colaboradores, paulatinamente, passaram a ser notados em
por outras mudanças editoriais: foi incluído o serviço noticioso nacional, assinado por uma respeitada agência de notícias do Brasil. Na edição de 29 de julho de 1997, foi publicado pela primeira vez o selo em comemoração aos 75 anos do jornal, desenvol-
qualidade das impressões era cada vez melhor. “Tínhamos infinitas variações. Ultrapassamos o off-set, passamos ao fotolito, depois ao CD e, hoje, as páginas são enviadas para impressão via internet”, enumera Pinheiro. “A história gráfica é interessante e, para quem trabalha na área, um salto de velocidade. Se, an-
bissemanal, sendo publicado às quartas e domingos - como permanece até os dias atuais. A opção foi definida a partir de estudo efetivado por consultoria contratada pelo jornal, a qual apontou a preferência dos leitores por edições com mais conteúdo e número de páginas, em detrimento à fragmentação imposta anteriormente. Nos anos seguintes, novas mudanças foram realizadas. A mais significativa, concretizada por Erivelton de Morais, aconteceu no ano de 2010, quando o “layout” foi revigorado e o logotipo, alterado.
26/12/1993 – Aparecimento constante de cor, então somente o vermelho
O Progresso. Em 1996, passou a publicar três páginas semanais dedicadas a “veículos”, além do suplemento cultural “Zoom”, com dicas de filmes, vídeos, discos e lançamentos, incluindo as colunas sociais. Em 1997, uma nova mudança significativa: o jornal passa a ser trissemanal, sendo publicado às terças, quintas e sábados (este com a data de domingo). “A novidade faz parte da série de inovações implementadas pelo jornal em razão de seus 75 anos”, anunciava-se. O ano de 1997 foi marcado
02/12/1997 – Jornal passa definitivamente a ser impresso em quadricomia
vido por Pinheiro. A celebração dos 75 anos incluiu, também, a republicação da primeira edição do jornal, de 1922. Ao final do ano festivo, uma novidade facilmente notada pelos leitores: cores na capa e contracapa de todas as edições. Com a produção em computadores, O Progresso já vivia um novo tempo, e a
tes, levava-se uma semana para se fazer um cartaz, por exemplo, hoje conseguimos fazer em uma hora”, acrescenta Pinheiro. Em 7 de outubro 22/08/2010 – Alteração mais recente no de 1998, O Provisual de O Progresso, efetivada em 2010 gresso anunciava sua última mudança de periodicidade: o jornal voltaria a ser
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Progresso em Novas Mãos
O Progresso na internet Acompanhando a incorporação de novas tecnologias, o jornal O Progresso tem adotado novidades ao longo das décadas. Entre elas, tornou-se o primeiro veiculo de comunicação do município a “entrar” na internet com todo o conteúdo de notícias, colunas e classificados. A “www” (“world wide web”, ou “ampla teia mundial”) permitiu a O Progresso igualar-se aos “grandes portais da época” (IG – Internet Grátis, UOL e AOL – América OnLine, este que encerrou atividades no Brasil em 17 de março de 2006) no que diz respeito a atender a um novo público e extrapolar fronteiras. Atualmente, o bissemanário tem leitores em 54 países e, no ano passado, atingiu a marca de 1.223.283 visualizações de páginas, entre janeiro e novembro. Também nos 11 meses de 2011, o site do jornal registrou 90.049 novos visitantes. Esses números e os demais relacionados ao acesso à página do bissemanário são do “Google Analytics”, serviço disponibilizado pela empresa Google e que permite mensurar a visualização de páginas na internet. A “estreia” de O Progresso na rede mundial de computadores aconteceu em fevereiro de 2001, tendo sido
Há 11 anos, publicação inovou disponibilizando todo o noticiário na web
noticiada em editorial do dia 11 daquele mês e ano. Na época, o “site” do jornal disponibilizava as principais notícias das suas duas edições semanais, mais as colunas sociais. O endereço www.oprogressodetatui.com.br começou a funcionar em par-
técnica da Asseta Net, será gradativamente ampliado”, informou à época Ivan Camargo, editor e jornalista responsável. De início, o site permitiu a veiculação de fotos “não publicadas nas colunas sociais do jornal em virtude de espaço” e a digitaliza-
rápido e direto com o jornal, uma vez que podem enviar mensagens”, anunciava Camargo, no editorial intitulado “O Progresso na Internet”. Com o passar dos anos, o jornal ampliou o conteúdo do site, com a inserção dos anúncios classificados
ceria com a Asseta Net, então provedora de internet em Tatuí. Na ocasião, o site trazia como reportagens “todas as manchetes de quarta-feira e de final de semana”, além da coluna “Policiais”. “Esse trabalho, que inicialmente está sendo todo elaborado pela equipe
ção do suplemento mensal “Morar Bem” e das reportagens do espaço “Coisa Nossa”, direcionado ao público feminino. A página na “web”, ainda, inaugurou um novo canal de comunicação entre os leitores e o impresso. “Também pelo site, os internautas têm acesso mais
de imóveis, veículos, serviços e negócios em geral (com a inclusão de imagens – serviço oferecido gratuitamente para quem faz anúncio no jornal impresso). Agregou, também, demais informações, com as seções “assinaturas”, “arquivo”, “expediente” e “institucional”.
Em 2005, O Progresso promoveu a remodelação da página do bissemanário, incluindo a relação de empresas do serviço “Progresso Vantagens”. Idealizado pelo designer gráfico Erivelton de Morais por ocasião dos 83 anos do jornal, o projeto gráfico apresentou novos conteúdos aos internautas e uma novidade: a enquete virtual – mantida até os dias atuais. A primeira pesquisa virtual foi levada “ao ar” no dia 16 de julho de 2005, tendo como tema “os seis primeiros meses da administração do prefeito Luiz Gonzaga Vieira de Camargo”. Na ocasião, o objetivo do jornal era “estimular as visitas virtuais e explorar as possibilidades oferecidas pela internet”, fato que não só ocorreu, como pôde ser comprovado por meio de análises. No ano passado, O Progresso registrou acessos às suas páginas feitos por meio de computadores, “smartphones”, “tablets” e celulares de 54 países. O Brasil respondeu pela maioria das visitações, com 230.725 internautas. No país, as páginas do bissemanário foram lidas entre janeiro e novembro por “surfistas” de Estados como Acre, Roraima e Amapá. No exterior, o maior número de visitações ficou com os Estados Unidos e o menor, com a Venezuela.