21 de outubro de 2018
12 de Outubro Dia das Crianças O sorriso de uma criança multiplica a felicidade.
Clínico Geral Ortodontia (Aparelho Dentário) Endodontia Dentística Implantodontia Periodontia
Rua Capitão Lisboa, 1339 - Centro TATUÍ - SP Responsável Técnico: Dra. Agnes Cian de Andrade CRO-SP-CD 122846 - CRO-SP-18300
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03 Desmitificando a vacinação
Imunização à risca protege crianças e garante erradicação de doenças ‘Vacinas encontradas em postos de saúde e clínicas são seguras’, diz médico
Cristiano Mota
A vacinação é um dos quatro itens básicos defendidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para a manutenção da saúde infantil. Junto com o crescimento e o desenvolvimento infantil, o aleitamento materno e a prevenção da diarreia, ela é considerada fundamental para a saúde das crianças, sendo parte integrante da medicina preventiva. O médico pediatra e alergologista Jorge Sidnei Rodrigues da Costa é um defensor das vacinas. Ele lembra que, por meio delas, houve a erradicação de doenças extremamente graves do mundo. “Um exemplo é a varíola, a chamada bexiga negra, que matava milhões”, aponta. Jorge Sidnei ainda destaca que a vacina permitiu controlar o sarampo e a poliomielite (a chamada paralisia infantil). A primeira doença havia sido erradicada no Brasil em 2016, mas voltou a ter surtos neste ano; a segunda, está presente apenas em alguns países da África. É por essa razão que os profissionais defendem a aplicação de doses de imunização para combate a doenças. Apesar dos benefícios, o
pediatra afirma que algumas pessoas ainda se recusam a tomar as doses, sendo, por vezes, incentivadas por outros profissionais. “O que me deixa indignado é que os pais – e até alguns médicos – falam mal da vacinação”, apontou.
Jorge Sidnei afirma que as pessoas precisam acreditar mais em vacinação e serem mais conscientes. A preocupação do médico se faz pertinente porque a aplicação começa logo no berçário, com a BCG intradérmica, aquela aplicada no bracinho direito e que protege contra tuberculose. Defensor da vacinação, o médico Jorge Sidnei destaca No berçário é aplicada, que calendários devem ser seguidos à risca também, a primeira dose contra a hepatite B, uma infecção que provoca inflamação do fígado. “Daí, tem uma sequência de outras imunizações”, descreve o pediatra. A partir dos dois primeiros meses de idade, a criança deve ser vacinada conforme preconiza o PNI (Programa Nacional de Imunizações). De acordo com o médico, ele é considerado um dos melhores do mundo, mesmo não contendo vacinas estabelecidas em outros calendários. A SBP (Sociedade BraSegundo o médico, quando não há proteção, sileira de Pediatria) e a SBI (Sociedade a pessoa que deixou de ser imunizada corre Brasileira de Imunizações), por exemplo, riscos. “Em fevereiro deste ano, um aposentaacrescentam imunizações que não são oferdo de 58 anos morreu em Piedade porque não tadas nos postos. quis tomar a vacina contra febre amarela. Ele Caso da meningite C, que causa rigidez na foi alertado e, mesmo assim, recusou”, conta. nuca, náuseas, febre, dor de cabeça e pre-
04 sença de manchas na pele, as quais podem progredir. A doença pode levar à morte ou deixar sequelas. Esse tipo de vacina é encontrado em clínicas particulares, em versões usadas para combater até quatro tipologias (A, C, W e Y). Nas clínicas, também é possível vacinar-se contra a hepatite B e 13 tipos de pneumococos, com a Prevenar, além de três doses do HPV (Papilomavírus humano), um vírus que infectam a pele ou mucosa, provocando verrugas. Jorge Sidnei também afirma que há diferenças no componente pertussis das doses oferecidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) com relação às encontradas em clínicas particulares. Segundo ele, a diferença está no tipo de produção e no fato de haver ou não reação. Em se tratando de vacinas, ainda há as opcionais, que não constam nos calendários, como a da dengue e da Varicela-zóster (o popular cobreiro). “As vacinas estão mais modernas. Há variações, como a Hexa, que são seis vacinas em uma só. Então, a criança com seis meses de idade, ao invés de tomar duas, três injeções, ela toma somente uma”, explica. Independentemente das “origens”, o médico salienta que as vacinas devem ser aplicadas. “Quem não puder fazer as vacinas dos calendários da SBP ou SBI deve fazer o PNI corretamen-
te”, enfatiza. Segundo ele, o mais importante é aplicar as doses nas datas corretas. Para isso, os pais devem ficar atentos à caderneta de vacinação e às convocações, como no caso da chamada Campólio (Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite). Segundo o médico, “praticamente todas as crianças podem tomar as vacinas”. “Existem raríssimas doenças que impedem a vacinação, mas, mesmo assim, não de todas as imunizações”, conta. Uma das exceções é quando a criança nasce com HIV, o vírus da imunodeficiência humana. Ou, então, quando apresenta algum problema no sistema imunológico. Como os diagnósticos são feitos com o teste do pezinho (com até 15 dias de vida do bebê), os médicos já informam aos pais se há alguma contraindicação ou não para vacinas. Quando há limitações, as imunizações serão feitas com vírus atenuado ou inativo. “Determinadas vacinas podem ser contraindicadas em raríssimas oportunidades”, diz. Segundo Jorge Sidnei, os pais devem ficar atentos também às chamadas “fake news” e apenas buscar informações de qualidade. “As pessoas entram no ‘Dr. Google’ e chegam ao consultório propondo um diagnóstico. Tudo isso baseado em notícias falsas”, sustenta.
De acordo com o médico, a disseminação desse tipo de informação contribui para que haja resistência. Contudo, o profissional garante que as vacinas são “altamente seguras e protetoras”, reduzindo casos de doenças como as provocadas pela haemophilus influenzae tipo B. A bactéria era uma das principais causadoras da meningite na década de 1980. “A incidência dessa doença, depois da introdução da vacina, é de 0,0001%, quase não tem mais. Hoje, também, não se vê mais quase rubéola, a não ser a congênita”, afirma. “Então, a vacina é a prova de que ela, realmente, inibe a doença e protege a criança”, acrescenta. Tanto nos postos como nas clínicas, a aplicação das doses de vacinas está condicionada à apresentação de caderneta de vacinação. Quem perdeu o documento pode dirigir-se à UBS em que estiver cadastrado e solicitar uma cópia, feita através de uma folha de rosto. No caso de recém-nascidos, clínicas como o Cevac (Centro de Vacinação) são credenciadas a emitir as cadernetas. O documento é válido em todo o território nacional e, apesar de ter sido emitido via particular, pode ser apresentado no SUS para outras imunizações. Mais informações a respeito de vacinas podem ser acessadas em www.alergoclincevac. com.br.
05 Brincando de teatro
Projeto do Conservatório leva arte para dentro das escolas Parceria com Prefeitura atende 120, forma público e revela talentos Crianças de três escolas municipais desenvolvem gosto pelo teatro e têm chance de ir ao palco do ‘Procópio’
Divulgar o teatro e levar cultura e informação. Estes são dois dos objetivos do projeto “Pensando na Criança”, uma iniciativa de inclusão social realizada pelo Conservatório de Tatuí. Sob coordenação de Fernanda Mendes, o trabalho data de anos. “Não sei precisar exatamente quando ele começou, mas foi uma iniciativa de Antônio Mendes, passando por várias transformações”, recorda. Mendes era responsável pelo setor de artes cênicas do CDMCC. Retomado em 2017, o projeto é fruto de parceira com a Prefeitura e atende, neste ano, três escolas. Estão contempladas as Emefs (escolas municipais de ensino fundamental) “João Florêncio”, localizada no centro; “Alan Alves de Araújo”, no Tanquinho; e o Nebam (Núcleo de Educação Básica Municipal) “Ayrton Senna da Silva”, na vila Primavera. A ação consiste em intercâmbio pelo qual espetáculos criados e montados por grupos do Conservatório são encenados nas unidades e os alunos ganham o palco do “Procópio Ferreira” para demonstrar os resultados. Os estudantes
visitam o teatro ao final do ano letivo para apresentação dos trabalhos desenvolvidos (são três espetáculos). “Durante o ano, trabalhamos vários jogos e atividades para o desenvolvimento dos estudantes. E o resultado dessa ação é bem gratificante, é bem bacana essa troca”, avalia Fernanda. O projeto funciona como uma iniciação ao teatro. Tanto que alguns dos alunos matriculados no Conservatório são oriundos de experiências realizadas em escolas da zona periférica. Ele também cumpre o papel de revelar novos talentos, a exemplo da própria Fernanda. “Minha primeira experiência com o teatro foi na escola, e achei fantástica”, conta. A ação desenvolvida pelo Conservatório nas escolas não tem o intuito de formar atores. Pelo contrário, a pretensão é de permitir às crianças descobrirem “um mundo desconhecido”. “O nosso objetivo é o de divulgação da arte e, principalmente, de levá-la de uma forma divertida, com uma linguagem que desperte o gosto pela cultura”, ressalta. “Não há cobranças
com relação à técnica. São mais os experimentos, as descobertas”, acrescenta a coordenadora. Ao juntar dinâmicas e jogos lúdicos, o projeto não só diverte, como ajuda na educação. Isso porque melhora a capacidade de concentração das crianças, sem contar a socialização. As brincadeiras são uma ferramenta pela qual o teatro é introduzido. São elas que ajudam na criação de personagens, uma vez que as crianças já brincam de serem pais, fadas, bruxas, soldados, entre outros. “A criança brinca naturalmente de faz de conta”, explica. Participam do projeto somente crianças de escolas contempladas. As unidades são selecionadas a partir de uma série de critérios. O trabalho de escolha envolveu reuniões com os secretários municipais Marisa Aparecida Mendes Fiuza Kodaira (Educação) e Cassiano Sinisgalli (Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude) e com o assessor pedagógico do Conservatório, Pedro Persone. Os secretários indicaram algumas unidades para receberem as visitas técnicas e as escolas tiveram os espaços avaliados pelo CDMCC. “Os secretários sugeriram várias escolas, mas algumas delas não dispunham de horários vagos e, em outras, os espaços não eram adequados para a realização das dinâmicas”, conta Fernanda. Em alguns casos, a coordenadora discutiu com o assessor pedagógico a possibilidade de adequações. “Às vezes, a escola tinha vontade de receber o projeto, mas não espaço e nem horário”, lembra. No formato estruturado, o projeto prioriza uma continuidade, motivo pela qual as três escolas eleitas no ano passado permanecem como contempladas. Fernanda argumenta que uma permanência maior permite a criação de vínculos com os alunos e uma relação de proximidade com a comunidade. “Acho essa interação superimportante”, complementa.
06 Para os alunos, a continuidade representa chance de aprimoramento. “Também é uma oportunidade para que eles possam verificar se gostam mesmo de teatro”, afirma a coordenadora. Em cada unidade, aproximadamente, 40 alunos participam do projeto. Não há processo de inscrição ou de classificação. Fernanda explica que as aulas são abertas a todos os alunos, embora nem todos possam ser atendidos. “Existe uma espécie de seleção natural. Nem todas as crianças que começam no projeto ficam até o final”, descreve. As atividades são divulgadas com apoio da direção das escolas. Os responsáveis pelas unidades informam quando o projeto será iniciado e os alunos que têm interesse aparecem. “Nós vamos formando as turmas. Não existe teste, nada. Simplesmente, vontade”, relata. Os alunos frequentam o projeto no contraturno escolar. Três professores (um em cada escola) dão aulas. As atividades têm duração de duas horas, sendo ministradas
Brincadeiras, gostosuras e muita diversão
uma vez por semana pelas professoras Fernanda, Érica Pedro Corrêa Andrade e Adriana Afonso Oliveira (Drica). Neste ano, os trabalhos envolvem as peças “Patinho Feio”, de Hans Christian Andersen; “Pluft, o Fantasminha”, de Maria Clara Machado; e “Deu a Louca nos Contos de Fada”, de Leko Nascimento. Os textos escolhidos tratam do medo, respeito às diferenças e do imaginário, respectivamente. Todos os alunos participam dos espetáculos como atores. Para isso, os textos sofrem adaptação. “Todos têm que ter a oportunidade de participar, de ter a experiência”, frisa a coordenadora. Como nos anos anteriores, em 2018, as peças apresentadas pelas crianças têm cenografia, maquiagem e iluminação feitas com apoio de alunos de oficinas do Conservatório. Neste ano, o cenógrafo Jaime Pinheiro – professor do CDMCC – ministrará uma aula especial para fabricação dos adereços que serão utilizados pelas crianças.
nos dias 12,13 e 14, brinquedos e atividades para as crianças.
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É gênio 05/10/18 18:20
As apresentações estão programadas para o dia 4 de novembro, com as pré-estreias previstas para a semana anterior em cada uma das três unidades de ensino. “Fazemos primeiro nas escolas, para que os alunos possam experimentar como é a dinâmica com o público. É importante que eles tenham essa primeira vivência junto aos colegas”, argumenta. Claudio Roberto Teles é testemunha da experiência transformadora promovida pelo teatro. O jovem de 23 anos chegou ao Conservatório de Tatuí por meio do projeto. “Eu estudava em uma outra escola e tinha apresentação de teatro lá, e isso me chamava muito a atenção. Quando o espetáculo terminava, eu me sentia triste. Queria mais”, relata. O interesse pela atuação cresceu tanto que ele passou a frequentar o projeto depois de trocar de escola. “Era muito tímido e não conseguia nem conversar com a minha própria família”, conta.
Os jogos ajudaram o jovem a conviver melhor socialmente e nos estudos. “Foi amor à primeira vista”. Animaram-no tanto que ele permaneceu no projeto por três anos, até ingressar no curso de teatro juvenil oferecido pelo Conservatório. Depois, completou o adulto, obtendo DRT (o registro profissional de ator), emitido pela Delegacia Regional de Trabalho. Junto com outros amantes do teatro e alunos do curso, Teles fundou a Cia. Exodus Art’s. O grupo tem quatro anos de existência e é um dos selecionados para participar da quarta edição da Mostra Téspis de Teatro do Conservatório de Tatuí, com a peça “Era uma Vez um Pangaré”. “O teatro na escola é muito importante porque ajuda a criança, independentemente se ela vai seguir carreira de ator ou não. Os jogos teatrais são muito fundamentais para que se aprenda a contracenar e auxiliam a vencer a timidez e a prestar atenção nas aulas”, conclui.
07 Voando alto
Aeroclube tem ação especial direcionada para as crianças Projeto criado em parceria dá perspectiva de profissões Cristiano Mota
A partir de 2019, crianças do município deverão ser contempladas com um projeto que vem sendo gestado “a muitas mãos”. O Aeroclube de Tatuí se prepara para receber meninos e meninas para atividades específicas. Eles devem participar de visitas guiadas, pelas quais receberão informações que podem tanto ampliar o conhecimento como impactar vidas. “Estamos elaborando uma proposta, em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação, para garantir que todas as escolas da rede pública de ensino possam conhecer nosso espaço”, descreve o presidente do Aeroclube, Alexandre Simões de Almeida. O pontapé inicial ficou a cargo da instituição, tendo sequência com o sinal positivo da prefeita Maria José Vieira de Camargo. Almeida conta que o aeroclube precisa do apoio do Executivo para o transporte dos alunos. “No momento, estamos discutindo os pontos didáticos com a secretária, a professora Marisa Aparecida Mendes Fiuza Kodaira”, conta Almeida. A proposta é que as crianças passem um dia inteiro no aeroclube. Elas serão acompanhadas por um guia e um professor. “Os estudantes terão a oportunidade não só de fazer a visita, mas de utilizar o nosso espaço para realizarem alguma atividade ligada ao ensino”, adiciona. O presidente explica que o conhecimento será transmitido de acordo com o nível de aprendizado dos estudantes. Com os alunos do ensino fundamental, por exemplo, as atividades da visitação podem abranger temas a partir do acompanhamento de reparos em aeronaves. A ideia é que as crianças possam conhecer o trabalho como se estivessem em um “laboratório”. Inicialmente, Almeida diz que o Aeroclube
em prática, mas com outra dinâmica”, diz. Para começar, a diretoria do aeroclube quer focar nos estudantes que estão prestes a ingressar no ensino médio. São jovens que começam a pensar a respeito do futuro. “E aí nós poderemos fazer uma correlação das nossas atividades com as carreiras”, conta. Além dessa parceria, a instituição permanece aberta o ano todo para receber visitantes que não Em visita ao Aeroclube de Tatuí, Pedro Henrique é somente estudantes. convidado a entrar em ‘cockpit’ e brinca de piloto Este é o caso da dona de casa Maria Rosa, de 42 anos, e do aposentado Davi Soares, de 58. Os dois moram pode atender a um grupo de até 40 alunos. A capacidade de recebimento do público, em em Cesário Lange e nunca tinham visto um avião de perto. geral, é um pouco maior: 60 visitantes. “Faz bastante tempo que queríamos estar No momento, a entidade está discutindo com aqui. Sempre viajamos para Tatuí para fazer a secretaria quais serão os critérios de seleção compras, resolver questões de documentos e, dos estudantes. Uma vez definidas as escolas, será preciso escolher quais estudantes poderão na volta, víamos as aeronaves decolando e pousando. Resolvemos dar uma passada e trazer o participar do projeto. Isso porque não existe tempo hábil – muito Pedro Henrique, nosso neto, para cá”, contam. Assim como os avós, o menino de quatro anos menos infraestrutura – para que todas as criansó tinha visto um avião na televisão. “Ele adorou. ças matriculadas na rede municipal conheçam Teve mais coragem que nós. Entrou no ‘volante’ e o local. A secretaria atende, aproximadamente, tudo”, disse o avô, orgulhoso. A família gostou da 15 mil alunos nos três níveis de ensino. experiência – e da recepção - e promete trazer no“O que estou pedindo, inicialmente, é que vos membros para um passeio mais prolongado. cada escola envie um grupo de 40 crianças e Durante a visita, Pedro Henrique ainda inque elas estejam interessadas para uma ação teragiu com a pequena Nicolly Fernanda, da piloto. Depois que fizermos a primeira rodada, mesma idade dele. A menina é filha de Bruna verificaremos se a experiência foi positiva. E, Danila, de 24 anos, frequentadora assídua do em seguida, vamos agendando”, esclarece. local. “Moramos na vila Angélica e a nossa A triagem dos estudantes deve ser feita, tam- diversão é vir aqui, ver aviões”, conta. bém, de acordo com a faixa etária. Entretanto, No que depender do Aeroclube de Tatuí, Almeida afirma que o Aeroclube de Tatuí está Almeida diz que a presença de visitantes está disposto a receber alunos de idades variadas, garantida. O presidente cita que a instituição é a partir do ensino fundamental. aberta a todos os públicos, contando com ações “A visita com crianças mais novas também vai específicas para cada tipo de pessoa. Entre elas, ser produtiva. Daria para colocarmos o projeto as focadas em grupos de escoteiros. Para eles, o
Cristiano Mota
08 Crianças e familiares recebidas no aeroclube têm oportunidade de chegar perto de aeronaves
aeroclube desenvolveu um programa especial, cedendo espaço para acampamento. Os grupos recebem apoio e informações referentes à aviação, ao voo a vela e aos planadores. Ao final da experiência, os integrantes podem tirar especialidades, como são conhecidas as insígnias. “Vem muita criança aqui. Desde lobinhos a escoteiros”, conta Almeida. As crianças acompanham o dia a dia da operação, incluindo checagem do planador, o direcionamento dele até a pista e podem – somente com acompanhamento – chegarem próximos à cabeceira da pista para “correr a asa (do planador)” para facilitar a decolagem. “Quando conseguimos, sorteamos para um ou outro voar”, adiciona o presidente. A presença de escoteiros tem sido constante. Em 2017, por exemplo, participaram da experiência grupos de Tatuí e Sorocaba. No total, 60 crianças podem ser recebidas por vez. Em geral, elas permanecem no aeroclube por um período de dois dias, tendo acesso à sede social, para preparação de comida, e aos hangares, para uso como acampamento. O único limitador da entidade é, conforme o presidente, a capacidade de fornecimento de água. Quando um grupo permanece por mais tempo no espaço, o aeroclube precisa pedir apoio de um caminhão pipa para a Prefeitura.
“Quando isso não é possível, acabamos providenciando a água em conjunto com os responsáveis pelos escoteiros”, explica. Grupos familiares ou de amigos também são recepcionados. No caso de crianças, a recomendação é que elas estejam acompanhadas de pais ou responsáveis. O espaço ainda pode ser visitado pelos adolescentes, quando há um funcionário disponível para acompanhá-los. “A ideia de chamar os pais é para que eles ajudem a controlar a criança, para que não se percam ou que provoquem algum dano”, conta. No aeroclube, o que mais chama a atenção dos pequenos são as pinturas dos planadores e dos aviões rebocadores. São desenhos que visam estimular ao voo. “É um trabalho artístico e que atrai a criançada, que vem para cá para tirar foto e postar em rede social”, descreve. Não tanto pela pintura, mas mais pelo fascínio, o presidente do Aeroclube de Tatuí chegou ao espaço quando criança. Com 14 anos, ele resolveu conhecer a entidade. “Achava que o clube era fechado, e ficava ali fora. Vinha para olhar o movimento”, recorda. Passado algum tempo, ele pediu ao pai para fazer um voo. “Aí, descobri que, independentemente do voo, eu poderia simplesmente ter vindo conhecer o aeroclube”, constata.
Dali para o ingresso na aviação foi questão de tempo. E, com o convívio, Almeida aprendeu que o aeroclube permitia mais que voar. Ele passou a ajudar na operacionalização. Acabou tendo contato com os aeroviários (pilotos, mecânicos, engenheiros etc.). “Era um ambiente muito rico, e isso me ajudou a decidir minha profissão”, conta. Atualmente, Almeida é engenheiro mecânico e trabalha em uma indústria aeronáutica. Para ele, a iniciativa de aproximar a comunidade ao aeroclube faz com que, cada vez mais cedo, as pessoas enxerguem nos planadores uma possibilidade de profissão. Daí a pretensão de trabalhar a visitação de alunos que estão ingressando no ensino médio. Além de só recepcionar, o aeroclube desenvolve ações que visam atrair. Caso de apresentações da Esquadrilha da Fumaça, da FAB (Forças Aéreas Brasileiras), que fizeram parte da infância da piloto Yala Alves Pires. Ela costumava ir aos eventos com o pai. Os dois brincavam com aviões de rádio controle (em escala menor), usados no aeromodelismo. Quando criança, Yala ficava encantada com a visão dos planadores subindo e descendo, mesmo achando que seria impossível firmar carreira em qualquer profissão ligada à aviação. “Achava curioso uma aeronave sendo rebocada por outra e conseguir permanecer fora do solo por minutos, horas, dependendo do dia, e não ter motor”, relata. A jovem mudou de ideia depois de fazer o primeiro voo de planador, com duração de 15 minutos. “Foi rapidinho, mas foi a melhor sensação de liberdade. Então, comecei a ir atrás do que eu precisava, realmente, para tornar aquilo possível novamente”, complementa. Para o presidente, mostrar às crianças e aos pais delas a existência de possibilidades para o futuro é o que motiva a direção a abrir as portas do aeroclube a cada vez mais pessoas. Os interessados em conhecer o espaço podem apenas dirigir-se a ele, durante a semana ou aos sábados e domingos. Quem preferir pode entrar em contato pelo telefone 3251-4368.
09 Games e Internet
Em jogo, a segurança Desde a criação do jogo “Tennis for Two” (tênis para dois, na tradução do inglês para o português), em 1958, muita coisa mudou no mundo do entretenimento. A começar pela segurança. Embora a história da programação voltada à diversão tenha começado mais cedo – há registros de experiências no ano de 1949 –, esse “invento” é considerado o precursor de uma indústria que não para de crescer e gerar lucros. E com consumidores cada vez mais jovens. Em plena expansão no Brasil, o mercado de games deve atingir, neste ano, 75,7 milhões de jogadores. Os dados são da NewZoo, empresa atuante no ramo de tecnologia e mídia e que realiza estudos de reconhecimento de marca. A companhia estima lucro de US$ 1,5 bilhão. Mas não são as cifras as responsáveis por cativar os jogadores e, sim, o acesso às novas tecnologias, como aponta outro estudo divulgado pela DigitalCaps Game. De acordo com o levantamento, o mercado de jogos para celulares – mais acessível – deve crescer 55% neste ano. Para a psicóloga infantil Marinara Aparecida Quevedo, a vigilância dos pais ou responsáveis precisa caminhar na mesma direção, e com a mesma intensidade. Quando o que está em jogo é a segurança das crianças, tanto os games como o acesso à internet devem ser acompanhados de perto, com critérios e impondo limites. “O ponto principal é monitorar”, inicia. Segundo ela, os jogos eletrônicos e o uso da internet apresentam vantagens e desvantagens. Contudo, os problemas surgem com o excesso. “Está demais quando as crianças deixam de cumprir a rotina delas, fazendo coisas básicas, como ter horário para tomar banho, para almoçar. É quando é possível perceber que está extrapolando”, alerta. Em Tatuí, a incidência desse tipo de situação é uma constante. “São mais comuns do que se imagina”, diz Marinara. De acordo com ela, trata-se de um efeito do estilo de vida da sociedade, que prioriza o imediatismo e a individualidade, o qual afeta não somente as crianças, mas os adultos. “Tem se tornado cada vez mais comuns entre as crianças”, conta. Os pequenos ficam mais presos aos celulares, aos videogames e aos tablets. Já os adultos, ao computador e aos smartphones. Ocorre que, em quaisquer dessas plataformas, os riscos são os mesmos. Isso porque a maioria dos jogos exige conexão com a internet.
Cristiano Mota
Raciocínio e criatividade são fatores positivos; dificuldade de aprender e interagir, negativos
Kauê Roberto Scheleider, de 9 anos, está sempre conectado; profissional atenta para excessos e risco
“Por ser online, é aí que entra a questão da segurança, especialmente da criança”, explica a psicóloga. Marinara aponta que o monitoramento é a chave para o uso mais seguro, em especial da internet. O acompanhamento dos pais ou responsáveis é fundamental porque, quando está navegando na rede mundial de computadores, a criança fica sujeita a “inúmeros riscos”. “Sempre pergunto para os pais: vocês deixariam seus filhos em uma multidão, sozinhos? Eles sempre me respondem que não. Então, deixar a criança usando a internet é a mesma coisa, porque, lá, nós não sabemos com quem ela vai ter contato”, argumentou. Além de restringir o conteúdo, de acordo com a faixa etária, os pais devem – sempre que possível – ver o que as crianças fizeram quando estavam online. A psicóloga lembra que os perigos envolvem desde desafios virtuais – que podem acabar em morte -, como é o caso da Baleia Azul, a personagens que interagem com as crianças, a exemplo da Momo. O jogo Baleia Azul consiste em 50 desafios, que precisam ser cumpridos diariamente. Ele surgiu em grupos fechados de redes sociais e estipula tarefas que vão mudando. A última delas é o suicídio. Já a Momo tem perfil no aplicativo de mensagens WhatsApp, com relatos de chamadas a partir de um telefone com número originário do Japão. “No consultório, as crianças relatam o medo
dessa Momo, porque, para eles, ela existe. Mas a Momo nada mais é do que alguém que se passa por um boneco para conversar”, diz Marinara. Apesar de situações como essas, a profissional afirma que há uma idade ideal para permitir que as crianças tenham contato com gadgets eletrônicos. “Isso varia muito de cada família. É algo que pode ser decidido entre os pais, mas o recomendável é que, quanto menor a criança, menos acesso ela tenha. E, aí, o ideal é que os pais coloquem os limites desde pequenininhos, para elas não chegarem na fase da adolescência e esse vício estar maior”. A dica é que, em um primeiro passo, os pais insiram proteção de senha para evitar que as crianças tenham acesso a conteúdos impróprios. No YouTube, por exemplo, há uma opção de direcionamento de material para as crianças, o chamado conteúdo Kids. Ainda assim, não há 100% de garantia de que um ou outro vídeo visualizado não seja inadequado. Para a psicóloga, a maior questão é que o material impróprio pode incidir em agressividade, ou vir acompanhado de conteúdo sexual. Neste caso, o ideal é o acompanhamento e o estabelecimento de um tempo máximo, no videogame ou no celular. “Não precisa privar a criança totalmente, pensando que vivemos em uma sociedade cada vez mais tecnológica. Então, é preciso que a criança também aprenda. Tudo que é demais faz mal”, frisa.
10 Para ocupar o tempo da criança, a profissional indica que os pais passem mais tempo com elas. Do contrário, as crianças poderão desobedecer às regras e, a partir do excesso, apresentar dificuldades, como, por exemplo, no aprendizado e de se relacionar com os coleguinhas. Quando a criança fica muito tempo conectada e dorme tarde, perde horas de sono. Isso pode atrapalhar o aprendizado. “A luz vai inibindo a melatonina, que é a substância que regula o momento de dormir. Quando o cérebro não a produz, a criança perde o sono”, avisa. Além disso, dependendo do tipo de jogo, a criança pode ter um sono mais agitado, ter pesadelos e medo. “E isso acaba gerando comportamentos regressivos”, acrescenta a profissional. Os resultados podem ser incontinência urinária (enurese noturna) e problemas de saúde. Contudo, os jogos eletrônicos também podem ajudar no desenvolvimento das crianças. Eles contribuem com o aumento da agilidade no raciocínio, na criatividade e coordenação motora. No caso dos vídeos, outro risco é do aprendizado do conteúdo errado. “A criança aprende por observação. E, na internet, é muito fácil que ela veja algo e tente repetir no cotidiano”, cita Marinara. Por conta disso, a profissional frisa que a imposição de regras é necessária. Ela também ressalta que os pais não devem confundir amor com mimo. “O amor, ele pode ser dado sem
limites. O que não pode acontecer é a falta de regras e limites”. Essa é a dosagem que a costureira Luciana de Jesus Scheleider, 39 anos, tenta acertar. Mãe do Kauê Roberto Scheleider, de 9 anos, ela demonstra preocupação pelo tempo que o menino passa em dispositivos. “Ele não desliga. Está sempre em uma tela. Quando não é no computador, é no celular. E sempre tem que estar conectado em um sinal wi-fi”, conta. Kauê é um exemplo da chamada geração Z, de crianças nascidas na era dos computadores. Teve o primeiro contato com eletrônicos com pouco mais de um ano de idade. “Ele já mexia no CD do rádio e trocava o DVD. Depois, mudou para tablet”, diz Luciana. De lá para cá, já teve três tablets e dois celulares. Atualmente, não desgruda do PlayStation 4. “Se deixar, ele fica o dia todo”, conta a mãe, que se preocupa com esse tempo. Apesar de não largar os aparelhos, Kauê estuda normalmente e não tem dificuldades no aprendizado. Apesar disso, a mãe estipula horários que precisam ser negociados sempre. Como estuda no período da manhã, Kauê joga das 13h às 17h. Vez ou outra, ele precisa ser repreendido para que vá almoçar. Mesmo assim, quando está à mesa, o menino continua assistindo conteúdos – todos relacionados a games – no celular.
Para a mãe, o comportamento do filho é motivo de preocupação. Embora esteja segura com ele em casa, Luciana diz que os dispositivos afastam o menino do convívio familiar e dos amigos reais. Na internet, Kauê tem mais de 70 amigos, com quem trava batalhas. As disputas têm, em média, 30 minutos de duração. Contudo, em um único dia, o menino chega a batalhar até 28 vezes. São 840 minutos, ou 14 horas em frente à televisão. Isso quando a internet não falha. “Quando cai o sinal, ele quase tem um infarto”, diz a mãe. Mesmo dedicando tanto tempo ao jogo, Kauê não vai mal nos estudos. Segundo a mãe, o único senão é que ele, quando permanece muito tempo fora do videogame, acaba ficando agitado. Quando isso acontece, Luciana tenta desviar a atenção do menino para outras atividades. Entre elas, passeios de bicicleta. “Mas, quando ele anda, vai só até a esquina e já volta”, revela. Embora permita jogos e faça concessões, Luciana relata que impõe restrições. Uma delas é para os conteúdos e jogos violentos. Para isso, conta com a ajuda do genro, que analisa o game, verifica a indicação de faixa etária e, só então, permite ou não a compra do material. Segundo Marinara, a atitude de Luciana é a mais indicada para proteger as crianças. Mas, a recomendação mais importante é de que os pais passem um tempo “de qualidade” com elas.
11 Violência Infantil
Pais precisam ter tempo e vontade para proteger ‘Tatuí é a que mais demonstra preocupação com tema’ Foto: Kat Jane (Pexels)
A Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) categoriza em oito as modalidades de violência que a criança pode sofrer. Todas, porém, têm o potencial de causar danos à vida delas, de leves a gravíssimos, como aponta a médica Mariana da Silva Ferreira, legista e sexóloga criminal de São Paulo. Além da física, meninos e meninas estão sujeitos à violência psicológica, à negligência e ao abandono, à tortura, à discriminação, ao trabalho infantil, ao tráfico humano e à violência sexual. E elas têm o potencial de provocar marcas tanto físicas como psíquicas, irreversíveis em expressivo número de casos. Mariana é fundadora da Pródigs, uma ação social de prevenção ao abuso sexual infantil. Ela tem como objetivo o apoio à educação sexual, através de palestras e cursos de capacitação. Por meio de conferências, a Pródigs leva informação a todos os tipos de público, de comunidades carentes a instituições. As palestras orientam os participantes a tornarem-se capazes de identificar a vítima, o abusador e a escolherem a melhor forma de denúncia, caso do Disque 100. “Queremos que essas pessoas sejam multiplicadoras, que levem os conhecimentos para casa, para a família, amigos e vizinhança”, argumenta. Residindo em São Paulo há mais de 12 anos, Mariana considera Tatuí especial. A médica legista nasceu na cidade, cresceu em Itapetininga e, a convite de pessoas preocupadas com a temática, voltou ao município para capacitações. Em Tatuí, ela ministrou três palestras sobre abuso sexual infantil e prevenção. No ano de 2016, o projeto encabeçado por ela recebeu moção de aplausos e congratulações, concedida pela Câmara Municipal. “Houve uma grande adesão e motivação das pessoas capacitadas em multiplicar o conteúdo”, conta. Segundo a profissional, Tatuí é a cidade que mais tem demonstrado “preocupação genuína com o tema e desejo de melhorar as condições de atendimento às vítimas”. Para isso, o município tem mirado em ações de mobilização. “Me sinto extremamente gratificada em constatar que as mudanças já estão acontecendo para beneficiar as pessoas que mais precisam e são tão vulneráveis”, ressalta. A declaração da médica ganha mais força quando se verificam os efeitos que a violência provoca nas crianças. Segundo Mariana, traba-
Sinais de violência devem ser avaliados de forma individual e cuidadosa pelos pais
lhos científicos e obras literárias demonstram que a violência sexual, em particular, causa patologias ou doenças, como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático e distúrbios alimentares (anorexia, bulimia e polifagia). Também provocam alterações de comportamento, com agressividade, isolamento social, hipersexualidade, masturbação excessiva, rebeldia, uso abusivo de álcool e drogas, rebaixamento de concentração, de aprendizado e fuga de casa. A lista de problemas inclui autolesão, regressões ou inibições fisiológicas, como encoprese e enurese (em que a criança volta a fazer xixi na cama e a defecar na roupa, em uma fase em que já não era mais para isso acontecer) e alteração e perda de fala. Vítimas de violência sexual ainda podem apresentar transtornos do sono, como insônia, pesadelos frequentes e terror noturno. Tendem a demonstrar medo excessivo de uma determinada pessoa ou de várias. “Em casos mais graves, há perda da visão positiva do mundo e, até mesmo, a tentativa e prática do suicídio, principalmente em vítimas de abuso sexual crônico”, enumera. Conforme a médica, os estudos apontam que, quanto mais jovem a criança, maior o vínculo de parentesco e proximidade com o adulto. Em 32,2% dos casos, os abusadores são conhecidos da família e em 24,1%, padrastos. Em função dessa estatística, a sexóloga afirma que os pais precisam ficar atentos. Aponta, também, que precisam ter tempo e vontade para olharem para as crianças. Fato que está “cada vez mais difícil para muitos adultos e cuidadores”. Um dos motivos é o excesso de trabalho e uso
da internet. “Só é possível perceber uma alteração física, emocional ou de comportamento, se os pais e responsáveis pelos cuidados da criança conhecerem previamente esses aspectos, e são muitos os sinais que podem apresentar”, afirma. Porém, a médica afirma que esses sinais devem ser avaliados de forma individual, cuidadosa e, em alguns casos, de preferência, com ajuda profissional. Em geral, a criança apresenta mudança brusca de comportamento. Ainda pode relatar dores (na barriga, cabeça). Esse tipo de problema pode indicar algum abuso quando as dores são investigadas, mas não se chega a um diagnóstico médico. “Uma criança calma pode se tornar agressiva e agitada, pode começar a ter problemas de comportamento na escola, dificuldade de concentração e aprendizagem. Pode surgir uma demonstração de atos sexualizados, não compatíveis com a idade, como a simulação de sexo oral em um brinquedo, por exemplo”, observa. Outro indicador é a aversão a uma pessoa em especial ou a um grupo de pessoas. “Nunca uma criança deve ser forçada ao contato físico com outras pessoas, como obrigá-la a beijar e abraçar por educação. A criança tem que ter a consciência que há limites de contatos físicos, e seu corpo não pode ser invadido”, acentua. No Brasil, devido ao contexto em que a violência contra a criança ocorre, existe grande dificuldade na identificação do número real de vítimas. As meninas são os principais alvos quando se fala em abuso sexual infantil e vítimas de prática da pedofilia, segundo dados do 9º Anuário da Segurança Pública e do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de 2014. Em Tatuí, não há indicador oficial desse tipo de violência ou do número de atendimentos. Mas, há planos para criar uma rede de proteção às crianças. Em especial, porque as vítimas, segundo a médica, precisam de cuidados e apoio. Inicialmente, é preciso garantir a integridade física e mental da criança. Em seguida, o agressor tem de ser afastado e a vítima, passar por avaliação psicológica. No geral, Mariana avalia que esse tipo de protocolo ainda não está totalmente funcional na maioria das cidades pelas quais ela já levou orientações. Conforme a psicóloga, grande parte “sofre com a carência de estrutura”.
12 Criatividade Solidária
‘Boneco de meia’ consolida rede e alegra 600 crianças Iniciativa reaproveita peças de vestuário e mobiliza centros Quanto custa o sorriso de uma criança? Para Graça Lima, coordenadora dos centros de capacitação do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade), e para a presidente da entidade, professora Sônia Maria Ribeiro da Silva, a resposta é nada além de trabalho e muita criatividade. As duas são responsáveis por um dos projetos de maior sucesso do Fundo Social: o “Boneco de Meia”. A iniciativa reaproveita peças de vestuário e, já no segundo ano, consolida uma rede que envolve professores, alunos e voluntários. Para funcionar, o projeto também necessita de apoio de patrocinado-
res, que doam de pares de meias a plumantes. Neste ano, o projeto cresceu. Deve contemplar 600 crianças com os brinquedos feitos artesanalmente. Serão 150 a mais que na primeira edição. A ideia de transformar pares de meias em bonecos surgiu no início de 2017, quando a equipe do Fundo Social percorreu os centros para realizar levantamento a respeito dos materiais disponíveis para trabalho. Junto com a presidente, a coordenadora verificou a existência de pares de meias armazenados, mas desparceirados. A partir daí, começou a pensar em um projeto para reaproveitá-los. Depois de receber
o aval da presidente, Graça passou a pesquisar possibilidades. Em junho de 2017, a coordenadora encontrou um vídeo que demonstrava o passo a passo da fabricação dos bonecos. Confeccionou um modelo e apresentou para a presidente. “Na montagem do projeto, já visualizei o aproveitamento das meias e a oportunidade de reunirmos as pessoas, os nossos alunos e mesmo a comunidade para abraçarem a causa”, conta. Desde então, todos os centros de capacitação, com exceção do Jardim Gonzaga, fabricam os bonecos. A confecção é feita em etapas, que, entre setembro e outubro, terminam
com a preparação das embalagens. “Em cada um dos brinquedos, nós acrescentamos pirulitos. Separamos em embrulhos e doamos para as creches”, explica Sônia. Ao todo, 30 professoras dos centros de capacitação participam da iniciativa. Conforme Graça, esse envolvimento consiste na premissa do projeto. “Pensei, primeiro, que elas pudessem se envolver todas, atuando como multiplicadoras, levando a atividade para as classes”, diz. De tempos em tempos, professores do Fusstat ajudam a manter a produção dos bonecos de meia. As confecções acontecem no começo de cada ano e, também, uma vez por
Cristiano Mota
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Graça Lima e Sônia Ribeiro são precursoras de ação que contagia Tatuí e atende crianças carentes
mês. “Agora, estamos fazendo toda sexta-feira, ou até o meio da semana”, adiciona a coordenadora. Como é contínuo, o projeto também envolve alunos e alunas dos centros de capacitação, mas não se limita a eles. No Jardim Santa Rita de Cássia, por exemplo, filhos de alunas ajudam na produção. “Se a pessoa quiser levar um amigo, também pode. É um projeto da comunidade, criado para envolver todo mundo que está disposto a aprender e ajudar”, diz Graça. Ao abrir para o público em geral, a coordenadora afirma que o Fundo Social está demonstrando para as pessoas que elas também podem transformar peças não usadas. Para a confecção dos bonequinhos, no entanto, o Fundo Social trabalha com meias novas. Razão pela qual o projeto quase não aconteceu. As peças haviam acabado e, para atender às crianças, a equipe precisou mobilizar-se e pedir a doação de um novo lote. “Quando o parceiro conheceu o projeto, disse-nos que ia doar o quanto precisássemos”, relata Sônia. Visando atender à demanda e a multiplicar a técnica, o Fundo Social realizou atividade no CEU (Centro de Esportes Unificados) “Fotógrafo Victor Hugo da Costa Pires”, no dia 28 de setembro. A capacitação reuniu professoras que replicam o conhecimento aos frequentadores. Em retribuição, quem aprende leva um boneco para casa e dá os demais ao Fusstat. Da mesma maneira, grupos ligados a igrejas também contribuem com a produção. “É algo que a comunidade participa. O projeto, hoje, vai muito além do que pensamos”, afirma Sônia. Para a presidente, o combustível que move o motor da solidariedade
é a alegria das crianças. “Quando nós pensamos na felicidade delas, vemos que tudo vale a pena”, adiciona. Desde o primeiro ano, o propósito da confecção era o de atender crianças carentes. “Quando você cria um projeto, precisa pensar em quem ele vai beneficiar. Creio que conseguimos unir várias coisas em uma só, porque integramos nossas professoras e a sociedade”, diz. Graça destaca que o sucesso do projeto é tanto que “muitas pessoas já conhecem os bonecos”. Além disso, querem um brinquedo para guardar como recordação, pela delicadeza que ele representa e porque o boneco remete à infância. Para ela, outro fator que fez a iniciativa deslanchar é a credibilidade da entidade. Graça ressalta que quem ajuda na confecção e doa o boneco ou itens sabe que eles vão ser entregues a crianças carentes. “Algumas pessoas querem saber até qual será a creche atendida”, conta. No que depender da presidente, o projeto
não vai terminar. Sônia tem pretensões de tornar a ação uma política pública permanente. A ideia é fazer com que os brinquedos sejam confeccionados e doados às crianças, independentemente de quem esteja à frente dos trabalhos. Em 2017, o Fusstat entregou 450 bonecos de meia. Um “começo tímido”, conforme a presidente. Neste ano, a meta é contemplar o máximo possível de crianças, alunos de creches. A preferência é atender meninos e meninas que frequentem unidades de bairros considerados carentes. As creches são definidas a partir de indicação de Maria Silvia Franco. Neste ano, devem ser atendidas crianças matriculadas no Residencial Astória, vila Esperança e Parque San Raphael. Se houver possibilidade, outras unidades também serão contempladas. Os bonequinhos são entregues na semana do Dia das Crianças, comemorado no dia 12 deste mês. Basicamente, eles são feitos com meias desparceiradas e plumante, uma fibra sintética usada para fazer o enchimento de bonecos (como bichos de pelúcia) ou em almofadas. Graça cita que o material não é barato. Também por isso, conta que quem não tiver condições pode substituí-lo por outro item mais em conta, como as tiras de tecidos, por exemplo. Para a separação para as creches, os bonecos são recolhidos de todos os centros de capacitação. Depois, são encaminhados ao espaço na CDHU “Orlando Lisboa de Almeida” para checagem. Os que precisam de reparos são refeitos e os que estão intactos, armazenados em embalagens. É nesse momento, também, que a equipe dá os retoques finais, como o desenho do rosto dos bonecos. “Nós ensinamos a fazer, mas o rosto temos uma pessoa que faz”, diz Graça. Sônia destaca que o resultado é a alegria das crianças e lembrou que os bonequinhos representam, para muitas delas, o único brinquedo ganhado na data. “É uma iniciativa que une muitos parceiros, deu certo, não pode e não vai parar. A tendência é só crescer”, encerra.
14 A magia da infância
Brincadeiras ‘offline’ estimulam criatividade e cognição infantis Iniciativas do Grupo Asas e da Prefeitura mantêm tradições vivas Das 1.400 crianças que estudam no ensino infantil de Tatuí, quase 100% delas não conhecem brincadeiras antigas. As mais populares entre os estudantes são as cantigas – algumas passadas pelos avós – e a amarelinha. Esta última, porque permanece em cada vez menos espaços. A estatística extraoficial é extraída da experiência das professoras Maria de Lourdes Camargo de Proença, a Lurdinha, e Maria Elisa Machado de Almeida, que desenvolvem o Projeto Brincar e Cantar é Só Começar. Trata-se de uma das duas iniciativas mais bem-sucedidas do município visando ao resgate de brincadeiras antigas, ou “offline” – aquelas que dispensam o uso de dispositivos eletrônicos e “desligam” as crianças da rede mundial. O segundo projeto é realizado pelo Grupo Asas Contação de História e Recreação. À frente da ação, estão: Adriana Afonso Oliveira, Tiago Augusto Marcus, Tamires Carvalho Ramos e Jessé Jackson de Souza Ramos. Os quatro desenvolvem projetos específicos (voltados para prefeituras e instituições, como treinamentos) e atividades despretensiosas, gratuitas e em ruas e praças públicas. Em ambos, as crianças são o público-alvo. Fruto de uma adaptação, a ação realizada pela Prefeitura é oriunda de uma proposta de formação lançada em 2005. Ela prevê a capacitação de berçaristas, recreacionistas, professores, gestores e representantes de secretarias municipais para o aprimoramento de práticas lúdicas. O objetivo é oferecer um repertório de brincadeiras, jogos e brinquedos que fazem parte da cultura brasileira e estimular a reflexão sobre a importância do brincar no desenvolvimento infantil. O projeto é uma iniciativa da Fundação Volkswagen, com a coordenação técnica do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária). Lurdinha trouxe a experiência para Tatuí em 2008, quando participou de capacitação. Coordenou ações no município até 2012. Em 2017, retomou o projeto com apoio de Maria Elisa, responsável por incorporar a música (cantigas antigas) às atividades recreativas. Crianças das creches municipais foram as primeiras a “brincar como antigamente”;
em seguida, as do ensino fundamental. As atividades são realizadas pelos professores, que recebem capacitação. Elas permitem aos pequenos conhecerem brincadeiras que ainda desconhecem.
Em 2018, o Brincar e Cantar é Só Começar já capacitou 90 professores. As orientações são transmitidas em dez encontros, que, neste segundo semestre do ano, acontecem no CEU (Centro de Esportes Unificados) “Fotógrafo Integrantes do Grupo Asas unem pais e filhos em brincadeiras esquecidas pela nova geração
Uma vez treinados, os professores realizam atividades dirigidas, com uso de cordas, bolas, bambolês, entre outros objetos. Entretanto, os espaços também são aproveitados, o que aumenta o repertório de brincadeiras, incluindo passa anel, queimada, caiu no poço, batata quente, pega-pega, telefone sem fio, pula cela, morto-vivo, adoleta e cabo de guerra. As dinâmicas são realizadas com crianças a partir dos cinco meses de idade, e sempre acompanhadas de músicas. “A meta é trabalhar o equilíbrio com o tempo das canções, utilizar chocalho, tudo que tem som. Então, é algo bem sensorial”, descreve Maria Elisa. No caso dos bebês, o trabalho é fundamental para o desenvolvimento. Ele prepara as crianças para as etapas que antecedem o andar, que são o quadrupedar, o rolar e o rastejar. E para cada uma dessas fases de crescimento, o projeto apresenta atividades específicas.
Victor Hugo da Costa Pires”, no Boqueirão. O espaço pode variar, conforme o número de pessoas envolvidas. Assim, é com o conteúdo. As capacitações são preparadas com base em intensa pesquisa. Lurdinha explica que, para capacitar os professores, a equipe responsável faz o levantamento da história – ou histórias – por trás da brincadeira ou da cantiga e repassa esse conhecimento. “Essa dinâmica é muito importante, porque os professores e monitores são jovens. Muitos deles não viram, na infância, nenhum tipo de atividade como as que realizamos”, conta. Durante a capacitação, as responsáveis também conversam com os professores e descobrem regionalidades (modos peculiares de brincar, conforme a origem no Estado e no país). Há, ainda, casos de transformação de sentido quando uma música muda com o passar do tempo.
15 A história parte do “lápis cor ções estimuladas pelo grupo é o efeito gerado de pele”, trabalhando conceitos pela espontaneidade. Os adultos querem de discriminação e respeito brincar com as crianças por conta do sentisob um viés lúdico. Ela será mento de desobrigação proporcionado pelas acompanhada de “canções que brincadeiras. “É uma atividade cultural sem cobrança”, diz. se misturam”. Vistas por outro ângulo, as brincadeiras Assim como nas creches, as atividades variam conforme a antigas – e as cantigas – libertam as crianças faixa etária. Com as crianças dos eletrônicos. Entretanto, a missão do grupo da primeira infância, o Asas não é a de afastar ou caracterizar as tecnologias trabalha, atualmente, com os como negativas. O mote é outro: mostrar que conceitos de cores junto ao é possível se divertir com ou sem aparelho. “Eu tinha um walkman, mas brincava mesmo aprendizado do andar. Professores e monitores são público-alvo de oficinas Somando-se a isso, os intetendo o aparelho. Com o celular, é a mesma que capacitam para resgate de tradições grantes criaram repertórios coisa”, avalia Adriana. Por tratar de brincadeiras, os projetos surgem divididos por idade, mesclando Para 2019, a ideia das professoras é expan- as músicas a clássicos, como os interpretados de forma despretensiosa. O grupo dispensa dir esse conhecimento, de forma a garantir por Dorival Caymmi. “E isso faz com que as reuniões formais e, para testar as ideias, vai melhor desenvolvimento da criança. Tanto crianças conheçam músicas e brincadeiras para as ruas e praças sem data marcada. as brincadeiras como as cantigas proporcio- antigas”, explica Tiago. Nos espaços fechados, o trabalho muda. nam noções como socialização, coordenação Em geral, o Asas desenvolve projeto para “Gostamos de conhecer os locais para ver como motora, despertam as sinapses e estimulam crianças com idades entre 8 e 13 anos em várias podemos transformá-los. É para, quando a o aprendizado. cidades do Estado. Contudo, não há barreiras. criança entrar, sentir a magia”, diz Adriana. Esses mesmos resultados são obtidos por O público pode ir dos cinco aos cem anos de Para o ano que vem, os planos do grupo meio da iniciativa do Grupo Asas. Com pou- idade. incluem a retomada do projeto “Amarelinha” cos recursos, mas esbanjando criatividade, Na “Cidade Ternura”, o grupo já desenvolveu (pelo qual são desenhadas as “casas” do jogo em os membros realizam ações que aguçam o projetos especiais no MHPS (Museu Histórico rua sem movimento) e iniciar uma itinerância. interesse dos pequenos. Sem desconectá-los “Paulo Setúbal”), no centro, e na praça Ayr- A ideia é percorrer os bairros periféricos da do presente, o grupo conecta-os ao passado. ton Senna da Silva, na vila Dr. Laurindo. Em cidade, levando brincadeiras e alegria. “Trabalhamos com recreação e também com Quadra, realizou evento que reuniu música, com as brincadeiras infantis e com o público variado, indo dos pequenos resgate das brincadeiras”, inicia Adriana. aos grandes. Atriz e professora, ela coordena os trabalhos “Unimos crianças e adultos nas de profissionais da música e do teatro que rea- mesmas brincadeiras. E empregalizam projetos que estimulam o convívio social, mos jogos para que eles se relaciomantêm a concentração, ensinam limites e, o nem uns com os outros, trabalhando mais importante, resgatam tradições. coordenação motora e criatividade”, Alguns dos trabalhos envolvem figurino, cita Adriana. como máscaras de lobo, utilizados nas “contaPor meio das brincadeiras, o gruções”. Grosso modo, as ações têm como efeito po faz mais que aproximar crianças uma espécie de introdução ao mundo do teatro. de adultos. Em uma das experiên“Nossas contações, por enquanto, não são de cias, por exemplo, as crianças rehistórias tradicionais”, explica Adriana. presentaram os pais – para eles –, O grupo trabalha com textos que falam de reproduzindo frases de negativas relacionamentos e respeito, como “A Pipa e que ouviam quando pediam para sea Flor”, de Rubem Alves. E prepara-se para rem acompanhadas em atividades. Educadores aprendem a brincar e replicam a experiência em salas de aula do município estrear uma nova contação, com previsão de Outra característica das interaapresentação em outubro.
expediente
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