Associação de nove décadas com Tatuí Especial conta história do XI de Agosto, que fez do futebol e da amizade tradições Uma bola e um local para se jogar. É desta regra simples do futebol de campo, trazido ao Brasil por Charles Miller no ano de 1895, que deriva todo um legado tatuiano. Quase 35 anos depois da primeira partida de futebol realizada no país, Tatuí vivenciava seu próprio momento histórico. E proporcionado pela modalidade esportiva. Em 1929, firmava-se na cidade o XI de Agosto. Iniciado como um time de futebol, o clube se transformou ao longo dos anos, dando origem a uma história de sucesso, recontada nesta edição pelo jornal O Progresso em caderno especial. Produzido com apoio da atual diretoria do clube e de colaboradores, o material traz reportagens que cobrem toda a trajetória dos “XIstas” (onzistas), como eram originalmente conhecidos os associados. Trata-se de uma história ímpar, construída com esforços de pessoas públicas e anônimas, e com resultados duradouros. Ao registrar o passado da associação atlética, o jornal também recupera memórias e costumes de uma época. Um exemplo é a escolha de jovens donzelas para serem madrinhas dos times, hábito comum no século 20. Tanto que, conforme reza a lenda, o jogo que instigou a criação do clube ficou conhecido como “Martha e Leontina”, prenomes de Martha Orsi e Leontina Mendes. A tradição de chamar as senhoritas tatuianas para representar as formações do time durou até os áureos tempos do
futebol de salão, em meados da década de 1980. A modalidade, atualmente chamada de futsal, fez fama na antiga “quadrinha”. O espaço que ficava ao lado do campo original já não existe mais, mas democratizou, sem dúvida, o acesso ao clube, por meio dos “internões”, eventos que transformaram o XI de Agosto no principal ponto de jogos da cidade - pelo menos, nos meses de janeiro e julho, período das férias escolares. Também deve ser creditado ao XI o crescimento da prática de esportes no município, principalmente do futebol de campo. Vale ressaltar que, na época da criação do clube, a cidade já contava com equipes praticantes, como o Operário Futebol Clube. Mas, foi pelo protagonismo dos on-
zistas que Tatuí despontou. Chegou a ter um time bicampeão do Amador do Estado. O XI venceu a competição pela primeira vez em 1957 e conquistou o campeonato, novamente, no ano seguinte. A união dos associados fez-se presente em vários momentos da história do clube. Possibilitou várias conquistas, a começar pela criação de estádio próprio – inaugurado duas vezes. As demais, resultaram na construção da primeira sede social, no fechamento do campo e na implantação de arquibancada. Mais à frente, possibilitou a criação de uma faculdade de educação física. Com apoio dos sócios, o XI de Agosto ganhou corpo. Na direção do empresário Milton Stape, acrescentou ao atual complexo uma piscina, em um período
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Responsável pela ideia de construção das piscinas, Milton Stape também atuou no ginásio-sede
de escassez de água. Mas, foi com a construção do Ginásio 1, dessa vez sob o comando do advogado Simeão José Sobral, que o clube se abriu de vez ao esporte. O primeiro ginásio pode ser considerado um divisor de águas, porque transformou o XI no principal ponto de eventos da cidade. Nesse novo espaço, o clube passou a sediar competições e a apresentar novidades, como o baile Vermelho e Preto. A festa criada pelo produtor cultural Jorge Rizek marcou gerações. Ficou conhecida como o maior baile carnavalesco do interior de São Paulo, tendo 35 edições realizadas no ginásio esportivo. O baile retornará à casa no ano que vem, ganhando uma edição especial, em comemoração ao nonagésimo aniversário do clube. As atividades da efeméride, no entanto, já começaram. Tiveram início em janeiro e seguirão até dezembro. Conforme antecipou a diretoria, todas as competições internas, pra lá de tradicionais, estão incluídas no programa especial. A maioria dos eventos é aberta a associados, embora a celebração seja de todos. Parte integrante dos 90 anos do XI, O Progresso não só noticiou as conquistas do clube, como vibrou com o desenvolvimento do esporte no município. E, para comemorar a importância da data, traz aos leitores, como presente pelos 193 anos de Tatuí, um apanhado composto por registros e testemunhos com os principais momentos do clube, que fez do futebol e da amizade suas maiores tradições. FOTO: CRISTIANO MOTA
Arte realizada em comemoração ao título de 1957 mostra estádio, jogadores da equipe campeã, diretoria e mascote da Associação Atlética
Simeão José Sobral é ex-presidente do XI, sócio mais antigo e testemunha de momentos mais importantes da história onzista
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Um bar, uma partida e um clube XI deve criação ao incentivo de comerciante e paixão pelo futebol FOTO: REPRODUÇÃO
Criação do XI de Agosto começou a ser aventada por jovens que frequentavam bares da região, após as sessões do Cine São Martinho (prédio à direita)
o comerciante introduziu uma “moderníssima máquina de fazer café”. O equipamento tinha nome e sobrenome: era batizado de “Máchina de Café Expresso Condor”, tendo sido adquirido em São Paulo. Para comemorar a compra da máquina de café, Aristides realizou um evento de inauguração. O bar abriu para degustação gratuita no dia 17 de junho daquele ano. Em regozijo pela aquisição do “grandioso melhoramento”, o empresário distribuiu “mil e tantos” cafés expressos produzidos diante dos olhos dos fregueses. Na ocasião, Aristides investiu um total de 3:800$000 (três mil e oitocentos réis). Convertido
e atualizado para o real, o valor seria de R$ 3.800. Uma curiosidade é que o equipamento funcionava com gasolina ou eletricidade. As novidades serviam tanto para atrair como para manter a crescente clientela que invadia o estabelecimento ao final do término das sessões do Cine São Martinho. Também frequentavam o local jovens desportistas que se reuniam para conversar ao final das partidas de futebol. Na época, eles não dispunham de campo próprio. “O XI não tinha campo, mas tinha um presidente chamado Aristides Paes de Almeida, que, na minha opinião, foi o pai, a mãe, o avô, a avó, o bisavô e a bisavó do XI de
Agosto, porque ele tomou todas as iniciativas para a vida do clube”, destaca Simeão José Sobral, advogado e “o” sócio mais longevo da associação. Prestes a completar 103 anos de idade, Simeão testemunhou não só o surgimento, mas o crescimento do XI. A história dele com o clube começou aos 12 anos. “Eu tinha dois primos que eram atletas: Cândido Sobral de Oliveira, que era professor, e Simeão Sobral de Oliveira, que era professor também. De maneira que, levado por esse parentesco, fui começando a torcer para o XI”, lembra. Simeão conta que os jogadores resolveram formar dois times para um jogo. A partida aconteceu por incentivo de Aristides,
em 1929, ano em que ele recebera a incumbência de ser o festeiro de São Roque. A festa aconteceu no dia 20 de abril daquele ano, no Largo Sant’Anna. A confraternização contou com uma “belíssima corrida de touros”, realizada em benefício à capela do santo padroeiro. Montaram os touros - “cinco bravíssimos” animais -, os jovens Pedro Rocha, Negro de Paula, Marcílio Gama, Antonio Surdo e José Dias. O primeiro ainda ocupou a função de diretor da arena e os demais atuaram como “toureiros amadores”. Por ocasião da festa, Aristides - que era apaixonado por futebol - organizou a partida. A disputa ocorreu no campo do Operário Futebol Clube, que ficava em um dos lados do atual cemitério Cristo Rei. O campo ocupava a metade do lado esquerdo do cemitério (no sentido centro-bairro), com limite para a rua São Bento. “Ele (Aristides) realizou o jogo em benefício de uma festa católica. E promoveu a partida que ficou chamada de ‘Martha e Leontina’”, explica Simeão Sobral. Martha Orsi era uma senhorita, filha de Carlos Orsi, responsável pela Santa Casa e por “uma
porção de benefícios para Tatuí”; e Leontina Marteleto, mãe do advogado Matheus Jacob Hessel. As duas se tornaram as primeiras madrinhas de times que, mais tarde, converteram-se em quadros do XI de Agosto. A partida histórica aconteceu no dia 9 de junho de 1929, exatamente 13 anos depois do registro da primeira menção a uma reunião dos membros integrantes. Há indicações de que o grupo de amigos já existia desde 14 de maio de 1916. A pelada de 1929 foi vencida pela equipe do Leontina, por 1 a 0, e seguida por um baile de confraternização realizado no Clube Recreativo XI de Agosto. O clube social funcionava em imóvel onde atualmente está localizada a loja Pernambucanas. Inspirados pelo sucesso do jogo, os participantes resolveram fundar um clube próprio. A ideia inicial era ter uma opção de lazer aos componentes. Contudo, conforme registro da instituição, naquela época, o time ainda não tinha sequer um nome, equipamentos ou qualquer tipo de regulação para ser considerado um clube. Prova disso é que, em um jogo amistoso em
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No início do século 20, Tatuí vivia uma efervescência. A cidade dispunha de cinema, hotéis e ainda colhia os frutos do desenvolvimento, proporcionados grande parte pelas indústrias têxteis. O comércio andava de vento em popa, atraindo cada vez mais moradores, consumidores e empresários que tentavam a sorte grande. Dentre os muitos que vieram à cidade, atraídos por algum tipo de sentimento, estava o comerciante Aristides Paes de Almeida. A história conta que o empresário, um visionário, transferiu o negócio que tinha em Porto Feliz para Tatuí. Na cidade, Aristides fundou o Bar XV, um dos mais frequentados da época e que muitos consideram como “a primeira casa” da Associação Atlética XI de Agosto. O empreendimento era um dos mais badalados e ficava na esquina das ruas José Bonifácio com Prudente de Moraes, mesmo local em que funcionou a loja Picida. Um dos principais pontos de encontro da cidade, o bar atraía por vender os “afamados pastéis”, preparados pela família Avallone, entre outras delícias, como empadas, bolinhos e sorvetes. A iguaria começou a ser vendida em janeiro de 1928, mesmo ano em que
Reunião para aprovação de primeiro estatuto do XI de Agosto aconteceu nas dependências do Clube Recreativo Onze de Agosto, na Praça da Matriz
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Leontina Marteleto tornou-se madrinha de um dos quadros de jovens que se juntaram para a partida que marcou o surgimento do XI de Agosto
Angatuba, os tatuianos tiveram de contar com apoio do industrial Juvenal de Campos. Ele doou camisas. Logo na estreia, a equipe recém-formada amargou derrota. O placar terminou em 2 a 1, favorável para os adversários. Apesar de negativo, o resultado não desanimou os jogadores. Tanto que, na mesma noite, eles organizaram um baile, seguido por uma disputa de pingue-pongue. Os tatuianos venceram no jogo de mesa. A possibilidade de novas disputas fez com que os jogadores pensassem em novas formas de dar continuidade ao grupo. Começaram, então, a estudar a criação de um quadro definitivo de futebol. O assunto era tema recorrente de reuniões na frente do antigo Clube Recreativo e “debaixo da iluminação de um poste”. Mesmo sem registrar o quadro, os rapazes decidiram eleger uma diretoria por conta dos resultados vitoriosos em disputas na região. E, antes disso, resolveram batizar o time. Uma das sugestões veio de “um dos atletas”, que se lembrou do Clube Recreativo XI de Agosto. A equipe, então, apresentou a ideia para a diretoria do recreativo, que a rejeitou. Os dirigentes tinham medo de assumir mais responsabilidades. Na época, o recreativo realizava apenas eventos sociais. Depois de muita deliberação, o grupo acatou a proposta de Simeão Sobral de Oliveira. O professor sugeriu que o quadro fosse batizado de XI de Agosto, FOTO: REPRODUÇÃO
Martha Orsi deu nome à equipe que disputou o jogo no campo do antigo Operário Futebol Clube e selou destino de jovens responsáveis pelo início do clube
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em homenagem ao aniversário de Tatuí. A oficialização, aliás, aconteceu no dia 11 de agosto de 1929. A entidade nasceu com o nome de XI de Agosto Futebol Club. A primeira diretoria ficou constituída por Frederico Holtz, Ivo Zani, Octávio de Arruda, José Daher e Santinho Antunes. O capitão do primeiro quadro (como era chamada a equipe de número um) era Benedicto de Barros, o famoso Dito 14. O segundo quadro (a segunda equipe do clube) ficou a cargo de José Santoro. Aristides, que se encarregou de oferecer a primeira bola à mais nova entidade futebolística da cidade, tornou-se presidente honorário do grupo. O empresário participou, no mesmo ano de fundação, de inúmeras decisões do novo clube. Uma delas aconteceu três meses após a fundação oficial. No dia 17 de novembro de 1929, os associados se reuniram para uma assembleia geral ordinária. O evento aconteceu no salão principal do Clube Recreativo, com leitura feita pelo advogado Chichôrro Netto, encarregado de preparar o estatuto do XI. O documento recebeu parecer positivo de uma comissão formada por Manoel Vieira de Camargo, Deócles Vieira de Camargo, Carlos Orsi Filho, Pedro Holtz Junior e Laury Minhoto. Por fim, foi aprovado por unanimidade por todos os atletas. E previa, na época, crescimento e ampliação das atividades do novo quadro.
Do campo cedido ao ‘stadium’ próprio
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Campo do XI de Agosto teve 2 inaugurações e clube em 2 sedes anteriores
Recém-constituído, o jovem XI de Agosto ansiava por um campo próprio. Os jogadores, ávidos por novas conquistas, buscavam um espaço apropriado e no qual pudessem se preparar para as pelejas sem se preocuparem em ter de agendar o uso. Pelo que se sabe, os “xianos” treinavam, inicialmente, em campo cedido pelo Operário Futebol Clube. Entretanto, não ficaram no espaço por período tão longo, como demonstra ofício publicado em 15 de dezembro de 1929. O documento fora enviado à Câmara Municipal, no dia 14 de novembro do mesmo ano, mas revogado com a publicação. A ideia inicial era que os agostinos pudessem obter autorização dos vereadores para uso do campo então utilizado pelo Operário. Os dirigentes solicitaram o terreno do lado esquerdo do cemitério Cristo Rei. Pediram que a Câmara cedesse, “a título gratuito”, justamente o campo que utilizavam emprestado, gramado esse que ficava anexo ao cemitério municipal. De acordo com o documento, publicado em O Progresso, o XI queria usar o espaço para “a prática de esportes em geral”, não somente futebol. Contudo, depois de acionarem os vereadores, os dirigentes resolveram desistir do pedido, por reconhecerem que o direito de uso havia sido adquirido pela sociedade operária. Aproveitando o ensejo, a diretoria xiana emendou outro pedido à Câmara. Dessa vez, solicitou a concessão dos mesmos
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Campo adotado pelos agostinos ganhou cerca no ano de 1930 e, cinco anos mais tarde, vestiários e arquibancadas entregues por Gualter Nunes
direitos, porém, para o terreno do lado direito da entrada do campo santo. Os dirigentes requisitaram que, “juntamente a esse favor”, a Câmara acrescentasse isenção de impostos para a prática de esportes. A proposta dos xianos era obter o benefício pelo prazo de dois anos. “Existiu uma conversa de que o XI queria jogar e o Operário não deixava, mas, de qualquer forma, o XI conseguiu um campo”, conta Simeão José Sobral. O mais antigo sócio “xiano” relata que, apesar da negativa, os dirigentes continuaram buscando novos caminhos para viabilizar a conquista de um campo. “Essa ideia do campo próprio, ela não surgiu dessa pessoa, mas essa pessoa foi a responsável por ela: o Alberto dos Santos, cujo fórum de Tatuí tem o
nome dele”, diz Simeão. Alberto era um advogado descrito como “muito generoso”. “Podemos dizer que é um homem extraordinário”, acrescenta o onzista. Alberto dos Santos teve participação “total” na conquista da torcida vermelha e preta. Partiu dele a indicação feita ao primeiro presidente do XI de fechar o terreno onde a equipe treinava. Depois de deixar o campo do Operário, os rapazes do recém-formado clube começaram a treinar em área de um antigo depósito de feijão e arroz. Lá, eram “armazenados os restos” desses alimentos. “Um onzista - se já se pudesse chamar uma pessoa assim naquele tempo - incumbiu-se de limpar aquilo lá. E o XI começou a dar os treinos ali”, recorda-se Simeão. Daí a conquistar um “sta-
dium” passaram-se seis anos. Nesse intervalo de tempo, a diretoria e os jogadores começaram a ter novas ideias, e a colocá-las em prática. A mais ousada delas era a construção de uma “grande praça esportiva”. A novidade, que passou a ser discutida em rodas de conversa, causou burburinhos. Tanto que ganhou reportagem publicada por O Progresso em 16 de março de 1930, pouquíssimo tempo depois de os jogadores terem se “aprumado” no campo. Entusiasmado com a “casa própria”, o grupo passou a trabalhar para a construção de uma praça esportiva. Para isso, mobilizaram-se, além da diretoria, os jovens rapazes componentes dos quadros. Dispostos a progredirem no esporte, os onzistas iniciaram campanha para levantamento de fundos. A edificação do “stadium”
recebeu contribuições “encorajadoras”. Cada colaborador teve o direito de deixar assinatura no “livro de ouro” da associação atlética. O movimento deu tão certo que, em 10 de agosto de 1930, o XI abriu as portas para o grande público conhecer a “belíssima construção”. De acordo com O Progresso, a inauguração do estádio contou com uma numerosa e seleta audiência e jogo amistoso entre os donos da casa e o Pindorama Futebol Clube. O evento de abertura teve como paraninfos o coronel Firmo Vieira de Camargo e a filha dele, a “senhorinha professora” Lygia Vieira de Camargo. E discurso de Pedro Voss Filho, este “muito aplaudido” pelo público. O programa festivo seguiu com apresentação do Tiro de Guerra 135, sob as ordens do sargento Henrique Camillo
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O advogado Alberto dos Santos teve participação total na conquista do campo próprio pelos agostinos
Marinho, descrito como “dedicado instrutor”. O oficial ficou encarregado de comandar os “números de cultura física”. As demonstrações incluíram corrida de 400 metros rasos e lutas de boxe. Sob “estrondosas palmas”, os rapazes do Pindorama e do XI de Agosto entraram em campo. No desfile de apresentação, a primeira equipe empunhou o Pavilhão Nacional e a segunda, faixas com as cores dos adversários. Antes da peleja, o capitão do Pindorama, João Rodrigues, discursou. Em seguida, Voss Filho falou. O jogo inaugural aconteceu às 16h, terminando com vitória agostina, pela contagem de 1 a 0. A partida resultou na distribuição de “11 ricas medalhas de ouro”. A partida, movimentadíssima, transcorreu “debaixo da maior camaradagem”. Ela foi arbitrada por José Mantiella, do Sport Club Sorocabano. A comemoração seguiu noite adentro. Mais tarde, ainda animados pela conquista e em clima de festa, os agostinos participaram de outra confraternização: acompanharam os “amigos do Pindorama” em uma reunião no Bar São Martinho. O grupo reservou espaço para en-
tregar ao presidente do XI um “rico mimo”. Empolgados, os rapazes fizeram “diversos discursos”. O stadium representou o fim de um ciclo e o início de outro, na luta que levou o XI de Agosto a várias conquistas. Até então, o grupo jogava em uma área aberta. “No começo, não tinha cerca nenhuma. Depois, foi cercado de uma grade de madeira e, posteriormente, feito um muro para distinguir”, conta Simeão Sobral. Segundo o associado, o empenho dos atletas, a paixão da torcida e o apoio de Gualter Nunes resultaram em um novo projeto, ainda mais ambicioso: o grupo queria reformar o campo de futebol, construir muros e arquibancadas de tijolos. O objetivo era construir um estádio “de verdade”, na região em que havia somente algumas chácaras e a Avenida das Mangueiras (Cônego João Clímaco de Camargo). O tamanho do sonho, porém, não acompanhava o do time. Na época, os sócios eram poucos. Fato que levou a diretoria a criar uma grande ação. Denominada de “Campanha dos 500 Sócios”, a iniciativa visava conseguir os recursos necessários para que o time pudesse tirar o projeto do papel. A diretoria ofereceu um belo chapéu de brinde a quem levasse o maior número de sócios. Rapidamente, a iniciativa movimentou Tatuí e deu resultados. Tanto que, em abril de 1934, o serviço de construção do estádio encontrava-se em estado “adiantadíssimo”. Foi em abril que a diretoria plantou as mudas da grama que cobririam o campo de futebol. Apesar da falta de chuvas, a planta se desenvolveu “satis-
fatoriamente”. Para garantir a “perfeita irrigação” do gramado, os dirigentes instalaram “água encanada”, com ramificações em quantidade suficiente. Quatro meses antes da inauguração, o muro do estádio já estava “bem adiantado”. As paredes que fecharam de vez o campo foram erguidas por Domingos Basso. No projeto, a diretoria incluiu outro campo, de “ótimas dimensões”, e uma pista com quatro metros de largura. Somando-se ao espaço para corridas, o estádio teria uma quadra de “bola ao cesto” - como era conhecido o basquete - e uma quadra para a prática de tênis. Além disso, a arquibancada teria o dobro de lugares e, acima dela, seriam construídos vestiários e chuveiros. O projeto completo, como divulgado pela diretoria do clube de futebol, fora orçado em 24 contos de réis, o equivalente a R$ 24 mil. Todo esse esforço despertou a atenção dos adversários, que correram para não ficar para trás. O Operário, por exemplo, anunciou, no mesmo ano, a construção de um muro de tijolos para o campo dele. A exemplo do XI, o time também constituiu comissão encarregada de levantar os fundos necessários. O trabalho ficou a cargo de Benedito Pereira, Manoel Campubri e João Marcondes. A conclusão dos trabalhos se deu com a inauguração do estádio. O evento aconteceu no dia 11 de agosto de 1935, com início às 13h, e como o programado pela diretoria. Segundo noticiou O Progresso, a praça de esportes original fora modernizada. Ganhou campo gramado, um campo de terra e uma “arquibancada
confortável”, além de vestiários com chuveiros. O programa inaugural foi executado à risca, sendo iniciado com a bênção do estádio, pelo padre Joaquim Antônio do Canto, e testemunhado por uma “multidão”. Inaugurado com grande pompa, o estádio recebeu o orador Oscar Augusto Silveira da Mota, jornalista que ocupou, em 1932, o cargo de prefeito de Tatuí. Mota ficou encarregado de realizar o discurso de abertura. A cerimônia seguiu com desfile de todos os esportistas. Membros do TG 135 também ocuparam o estádio, realizando “várias provas de atletismo e diversos números de ginástica”. Receberam, em troca, muitos aplausos. Depois, houve partida preliminar entre o primeiro quadro do Sete de Setembro Futebol Clube, de Porangaba, e o segundo quadro do XI de Agosto. A vitória coube aos agostinos, pela contagem de 4 a 0. Terminada a partida, pisaram o gramado, para o delírio dos torcedores, os componentes do então Palestra Itália (Palmeiras) e do XI de Agosto. O time tatuiano jogou com o primeiro quadro. Antes do confronto, os jogadores de ambas as equipes posaram para várias fotografias. O duelo só começou após as sau-
dações e sob as ordens de Edgar Vieira, juiz da LPF (Liga Paulista de Futebol). A partida transcorreu animadíssima e terminou empatada, por 1 a 1. Pudim foi autor do gol local. De acordo com registros do clube, a equipe tatuiana saiu na frente. O Palestra Itália conseguiu empatar em seguida. Quando o XI de Agosto marcou o segundo gol, o juiz teria apitado o fim do jogo, bem antes do horário previsto. Em um jantar de confraternização, realizado depois, na Sociedade Italiana, diz a lenda que o juiz admitira ter encerrado o jogo porque o time visitante, o atual Palmeiras, não poderia perder para uma equipe do interior e ainda pouco conhecida na capital. Conta a história, ainda, que o Palestra Itália não jogou com a equipe de titulares completa. Entretanto, na época, os reservas eram considerados quase tão importantes quanto os titulares. Dentre os conhecidos jogadores do time alviverde, pelo menos três entraram em campo: Nascimento, Junqueira e Carné. Defenderam a camisa do XI de Agosto os jogadores: Maco, Pintor, Brasilino (havia atuado na Portuguesa de Desportos), Oswaldo Avalone, Jaiminho, Vitrola, Daco, Aido Lourenço, Pudim, Lourenço e Elias.
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Foto mostra uma das formações do XI de Agosto em 1935, que disputou partidas por ocasião da inauguração do estádio próprio
A história e O trabalho De Tatuí fazeM parte Da nova política SÉRIA E JUSTA para o Brasil.
Pabéns
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Conquistando o ‘mando definitivo de jogo’ “Bastidores” da cessão de terreno incluem desquite e criação de personalidade jurídica ARQUIVO: ERASMO PEIXOTO
Arquibancada considerada moderna à época recebeu público em diversos eventos desportivos, como o da foto clicada no ano de 1943
depois, até com arquibancada. Contudo, um fato inédito surgira: Gualter Nunes havia desquitado. Muito embora o campo tivesse ficado fora do processo de separação, para que fosse cedido à associação, a ex-mulher do médico deveria abrir mão do bem. E, conforme Simeão, a tarefa de encontrá-la e convencê-la a assinar a documentação necessária para viabilizar a doação ficara a cargo de Aniz Boneder. “Por volta de 1943, o doutor Aniz foi até o Rio de Janeiro, onde morava a ex-mulher do Gualter, para conversar com ela. A dificuldaFOTO: REPRODUÇÃO
Inaugurado em 1935, o novo estádio da Associação Atlética XI de Agosto recebeu o nome de “Dr. Gualter Nunes”. O médico, nascido no Rio de Janeiro e influente em Tatuí, tornou-se patrono do campo “novinho em folha” por ser o responsável pela doação da área para o clube. Mas, há outras duas pessoas que tiveram papeis fundamentais na conquista definitiva do XI pelo “mando de jogo”. Aniz Boneder e Simeão José Sobral agiram, cada um à sua maneira, para viabilizar a regulamentação da área. “O XI não tinha personalidade jurídica. Era aquele amontoado de gente que formou um clube e estava jogando lá”, conta Simeão. Segundo o advogado, o XI de Agosto possuía estatuto, regras próprias de funcionamento, um número considerável de sócios e torcedores. Contudo, faltava à agremiação o mais importante: a personalidade jurídica. Simeão trabalhou na regulamentação do clube e na cessão da área. Para essa tarefa, o advogado contou com a colaboração de Aniz Boneder. “A coisa toda começou assim: alguém vendeu primeiro o terreno a um cidadão chamado Dito Gordo, que era um pasteleiro. E o Dito Gordo vendeu, depois, para o Gualter Nunes, que registrou a área no nome dele. O XI não tinha nada”, lembra. Acontece que os agostinos treinavam havia muito tempo no campo construído no terreno. Primeiro, sem muros e,
de era conseguir dela a devida autorização para passar (a área) para o XI, e o doutor Aniz conseguiu”, conta Simeão. O empenho de Gualter Nunes fez com que ele, mesmo não sendo sócio agostino, se tornasse o presidente do clube em dois períodos. Primeiro, de 1933 a 1935 e, segundo, de 1938
a 1939. E, anos mais tarde, o patrono do estádio. Filho único de José Antonio Nunes e Arlinda Adelaide de Veiga Nunes, Gualter Nunes nasceu em 18 de maio de 1889, no antigo Distrito Federal, a cidade do Rio de Janeiro. Lá, cursou ciências e letras no Colégio Diocesano São José, obtendo o título de bacharel em 1905. Em 1912, diplomou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e, depois, mudou-se para o estado de São Paulo. Radicou-se primeiro em Piracicaba, onde casou-se com Adalgisa Candelária Nunes. Gualter Nunes, Mário Pedroso e Simeão Sobral Chegou a Tatuí de Oliveira descerram fita inaugural de alambrado em 18 de dezembro do ano de 1956 em 11 de agosto
de 1913, fixando residência definitiva. Gualter Nunes, ainda, casou-se uma segunda vez, com Isabel Carneiro da Silva. Na cidade, trabalhou como médico sanitarista, médico-chefe e na antiga “Beneficência Tathuyense”. Tornou-se o primeiro médico da Santa Casa. Ainda no hospital, exerceu o cargo de diretor clínico, por nomeação de Carlos Orsi. Desempenhou a função de capitão médico da Revolução Constitucionalista de 1932. Nesse período, ministrou aulas de enfermagem aos voluntários de Tatuí, ao lado do professor Nacif Farah. Ainda, elegeu-se vereador em várias legislaturas, tornando-se presidente da Câmara e de clubes como Rotary e XI de Agosto. Na época da regularização, o XI estava sob a presidência de Aniz Boneder. Simeão Sobral só chegou à função cinco anos depois. Ele tomou posse como presidente, pela primeira vez, em 1951. Assumiu a tarefa aos 35 anos, dos quais 23 haviam sido vividos nos arredores da Associação Atlética XI de Agosto. Simeão é torcedor “xiano” desde os 12 anos e um dos primeiros da agremiação. “A minha história com o XI começou da seguinte maneira: eu tinha dois primos que eram atletas do XI: Cândido Sobral de Oliveira, que era professor, e Simeão Sobral de Oliveira, que era professor também. De maneira que, levado por esse parentesco, fui começando a torcer “, recorda-se.
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Estádio do XI ganhou arquibancada por influência de Gualter Nunes, médico nascido no Rio de Janeiro e que possibilitou regularização do campo próprio
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Em 1929, o então menino tomou gosto pelo futebol e estreitou contato com o grupo de jovens responsável por criar o clube. “Eu conhecia o pessoal todo”, conta. Da convivência para a presidência, “muita bola rolou”. Simeão aceitou o cargo mais importante do clube depois de ser convencido pelos demais companheiros. Ele havia sido apontado pela maioria dos sócios como o melhor nome para comandar os destinos da agremiação. Na época, a política esportiva estava “muito acesa”. “As ideias do pretendente a presidente não estavam agradando muito, porque o XI dispunha, naquela época, de um pouco de dinheiro, e ele estava querendo destinar para uma finalidade que não era do agrado de todo mundo. Então, me jogaram para combater o homem. Fui eleito e assumi a presidência”, diz. Como autoridade máxima, o já advogado tinha como responsabilidade manter os investimentos no carro-chefe da associação: o futebol. “Para começar, o XI tinha um timaço. Era um verdadeiro time, que, naquele tempo, disputou partidas em Sorocaba, Botucatu e até em Presidente Prudente”, ressalta. De forma a garantir que a equipe mantivesse o prestígio, Simeão providenciou, como primeira ação, a compra de todo o material esportivo para as equipes. “Quem queria jogar tinha que comprar botina, meia e tudo o mais. Eu achei que não era possível uma coisa daquela. E pelo menos parte do dinheiro foi empregue na compra de material esportivo para os jogadores”, disse. Na época, a paixão pelo futebol entre os jogadores era tamanha que alguns deles bancavam os próprios custos de transporte para as competições. O restante do fundo vinha de colaboradores. “Corria uma lista de adesão dos mais chegados ao XI”, conta. O próprio advogado colaborou por várias vezes.
Foto mostra a formação de uma das equipes agostinas participantes de jogos que integraram a cerimônia de inauguração de estádio revitalizado
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Complexo aquático: o máximo acontecimento Piscinas inauguradas em 1962 representaram inovação e impulsionaram crescimento do clube FOTO: REPRODUÇÃO
Diretores e membros da comissão das piscinas vistoriam início das obras, feito que representa a primeira construção após o campo
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Foto mostra a estrutura das piscinas em segunda etapa de construção; projeto consistiu em novidade e resultou em novos sócios para o clube
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Tatuí praticamente parou no dia 29 de maio de 1962. O motivo: a inauguração da primeira etapa de uma obra que viria a impulsionar o crescimento da Associação Atlética XI de Agosto e a colocar Tatuí na vanguarda do esporte. O complexo aquático da Associação Atlética XI de Agosto representou grande inovação para a cidade. Tanto que permitiu, nove anos depois, a implantação de uma faculdade de educação física. A inauguração se tornou o “máximo acontecimento” de 1962, sendo a conclusão do trabalho iniciada por “jovens entusiastas”. Dentre eles, Milton Stape. Pelo que se conta, é atribuída a ele a ideia da construção de uma piscina. A proposta teria surgido durante uma pescaria no rancho de Osvaldo Del Fiol, próximo ao rio Sorocaba. Contudo, para concretizar o plano, Stape precisou vencer alguns obstáculos. Um deles é que a proposta fugia dos planos do já consolidado time de futebol; outro, o de que a administração municipal da época ameaçava não fornecer água para o empreendimento. A memória popular diz que as conversas para a construção começaram no início da década de 1950. Fato é que a primeira menção à iniciativa, registrada pelo jornal O Progresso, deu-se no ano de 1959. Em dezembro daquele ano, Marcílio Pereira da Silva, publicou um comunicado no jornal em que mencionou a ideia. Silva tornava público a desistência de concorrer à presidência do clube agostino. Ele havia lançado o nome com “a finalidade de realizar, dentro da agremiação, a campanha das Piscinas e Parque Infantil”. Entretanto, como o grupo concorrente - encabeçado por Plácido Gonçalves Meirelles também havia apresentado a mesma proposta, Silva não viu sentido em concorrer. Mesmo tendo desistido,
entidade fosse comprometido. Para isso, o grupo fez um levantamento criterioso do esquema financeiro da associação, que só contava com homens como membros e que frequentavam apenas o campo de futebol. Os agostinos aprovaram a ideia da campanha em assembleia realizada em 17 de março. No encontro, ficou acertado que os sócios teriam prioridade na aquisição dos títulos que dariam acesso à piscina. Cada cota havia sido fixada em Cr$ 15 mil, pagáveis em até 15 prestações mensais. O clube disponibilizara, na ocasião, um total de 500 títulos, para serem vendidos até 30 de abril daquele ano. A campanha fez tanto sucesso que, já no fim de março, a comissão “desvanecida pela acolhida”, anunciava que 300 dos 500 títulos colocados à disposição já haviam sido vendidos. Muitos deles para pessoas que, anteriormente, não eram vistas frequentando o clube. A venda de todos os títulos em pouco mais de um mês pode ser considerado um feito extraordinário. Isso porque, em 1960, Tatuí possuía 22.468 habitantes e 5.143 domicílios. Dada a procura, a comissão
Construção exigiu conhecimento técnico e mão de obra especializada; na imagem, é possível ver os trampolins e ter uma noção da profundidade
Silva conclamou os agostinos a contribuírem com o candidato de oposição. Ele entendia - o que mais tarde viria a ser provado - que a obra seria um “grande benefício” para o clube. Três meses depois, os agostinos viviam uma atmosfera “das mais animadoras”. Em março de 1960, o clube iniciava os estudos preliminares para a construção da piscina. No início, a diretoria pensava em edificar apenas uma. O projeto previa a construção do empreendimento no Estádio “Dr. Gualter Nunes”. Àquela altura, a diretoria estava tão compromissada com a proposta que criou uma comissão especialmente para “levar a bom termo a feliz iniciativa”.
A novidade contagiou todos que frequentavam o clube e a quem tivera notícia dela. Prova disso é que não um, mas vários projetos de arquitetura chegaram a ser criados. Os trabalhos, assinados por “conceituados profissionais do ramo”, foram discutidos pela diretoria. A comissão encarregada examinou todos eles atentamente, dado o fato de que o investimento seria pesado e sem precedentes. Seguida à escolha, a comissão iniciou a “Campanha Pró-Piscina”. A mobilização começou ainda no mês de março de 1960 e previa o levantamento de recursos necessários para a construção e o equipamento de toda a obra, sem que o caixa da
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realizou uma reunião de urgência, no dia 10 de abril, para colocar a limpo a lista de adesão. O objetivo era não deixar os associados de fora da novidade. Com a criação da lista, a direção garantiu aos sócios interessados obterem os títulos. A ideia era verificar quantos deles queriam usufruir da piscina para que se pudesse contabilizar quantas cotas seriam colocadas à venda aos não associados. Entusiasmada com o retorno da campanha e respaldada pelo capital levantado, a diretoria agostina deu início à construção ainda no fim de março. A previsão era dotar a cidade, “no menor espaço de tempo”, com o “esplêndido melhoramento”. De forma a garantir a trans-
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Concretização da primeira piscina do clube contribuiu para o aumento significativo do número de sócios
Evento de inauguração antecedeu abertura das piscinas, parou cidade e contou com bênção do pároco e demonstração de habilidade física
parência do empreendimento, a diretoria publicava, sempre que possível, o balancete das contas. Em setembro de 1960 – portanto, seis meses depois do início da campanha -, o clube possuía saldo de Cr$ 487.777,80, valor já com desconto da compra de um terreno de 36 por 30 metros quadrados, na rua Antônio Xavier de Freitas, onde se localizou a entrada para as piscinas. Na ocasião, o projeto já previa a construção de mais de uma. Encabeçada por Stape, a comissão encarregada dos trabalhos era formada por Del Fiol, José Machado e Alberto Quinto Labronici. Prevendo a circulação de grande número de pessoas e a possibilidade de o clube poder aumentar a renda, o grupo ainda coordenou o processo de abertura da exploração do serviço de bar. Em abril de 1962, a comissão deu início aos preparativos para a abertura das piscinas. Convocou os cotistas a providenciar, “com urgência”, a entrega de documentos. A comissão criou, no Hotel Del Fiol, um escritório provisório para receber fotografias dos sócios, das esposas e de filhos menores, para a retirada das carteiras sociais. Os associados também passaram por exame médico. Ainda em abril, os sócios puderam fazer uso das piscinas, que já estavam concluídas. Entretanto, o conjunto de obras complementares - como os vestiários - ainda estava em finalização. Por essa razão, todos os associados que frequentavam a piscina eram aconselhados a levar sacolas (de pano ou plástico) para acomodar os pertences, bem como as roupas de banho e eventuais peças. Embora não completamente acabado, o complexo aquático era composto por uma piscina destinada a uso de adultos e uma para crianças. O evento de inauguração teve a presença de diversas autoridades, sendo realizado na manhã de um domingo. Além de autoridades locais e representantes da imprensa, a cerimônia registrou a presença do então padre Teotônio dos Reis e Cunha. O pároco da Igreja Nossa Senhora da Conceição ficou encarregado de fazer as bênçãos. Na sequência, Stape falou a respeito da concretização do objetivo. Ele destacou o apoio recebido da diretoria e da sociedade e agradeceu ao público de colaboradores. Os espaços foram abertos posteriormente à apresentação de Braz dos Reis, técnico de natação contratado especialmente para cuidar das piscinas.
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Uma nova comissão é criada: surge o ginásio de número 1 Espaço abriu XI a outros esportes e tornou-se centro de eventos FOTO: REPRODUÇÃO/ARQUIVO ERASMO PEIXOTO
Às voltas com a expansão do número de associados, a direção do XI de Agosto tinha como desafio manter o interesse de seus frequentadores. Para isso, tirou uma carta da manga: o projeto viabilizado na gestão do advogado Simeão José Sobral. Convocado à presidência, Simeão voltou a comandar o clube em 1965. E concluiu, em 1970, penúltimo ano de gestão, o ginásio de número “um”. O em-
tão que se divulgue que eu fui o presidente, mas eles construíram”, ressalta Simeão. O advogado conta que não queria retornar à presidência, dada a importância do clube e a responsabilidade. Na época, Simeão possuía muitos compromissos por força da profissão. Convencido a disputar a presidência - e a concretizar o projeto de expansão do clube -, ele lembra que somente aceitou a proposta depois de entrar em um consenso.
que, meses após ser empossado, indicou os nomes dos encarregados de tirar o projeto do papel. “Formei a comissão, mas é ela a verdadeira autora da construção do ginásio do XI”, enfatiza. Além de oferecer nova opção desportiva aos sócios, Simeão explica que o clube queria fazer uma obra que pudesse conectar todos os espaços que o XI oferecia. Na época, os associados dispunham do campo, localizado no estádio, e da piscina, que FOTO: REPRODUÇÃO
Ginásio foi erguido a partir do trabalho de uma nova comissão, formada por Milton Stape, Juca Machado, Mário Baiardi e Osvaldo Del Fiol
“Falei a eles que aceitava presidir o clube, mas que iria nomear uma comissão para cuidar da construção, porque de construção eu não entendia nada. Alguma coisa de advocacia, eu entendo, mas de construção, não”, brinca. O grupo aceitou as condições do advogado
ficava em uma área ao lado, mas não muito próxima. “A piscina estava meio isolada lá. Então, a ideia era, onde tem uma piscina, ter um clube”. Eu poderia até dizer que o clube foi feito ao redor da piscina, mas não é verdade, porque a piscina estava para um lado e o campo,
época, o clube enfrentava dificuldades com abastecimento de água. O custo elevava o funcionamento, uma vez que a entidade já contava com as piscinas e o ginásio um. “O dinheiro estava pesando no orçamento do XI. Então, construímos aquele poço semiartesiano. Ele foi feito na minha gestão, com a ajuda indispensável do Chico Suã, o Chico Fiusa. Ele foi um dos que colaboraram muito”, enfatizou. A obra permitiu ao clube reequilibrar as con-
Ginásio-sede foi construído com base em projeto cedido gratuitamente por Otávio Guedes de Moraes, irmão do professor Fernando Guedes de Moraes
A comissão conseguiu, além de fundos, ajudas alternativas para concretizar a construção. Talvez, a mais significativa delas tenha vindo de Otávio Guedes de Moraes, irmão do professor de português e advogado Fernando Guedes de Moraes. “Tem uma escola em Tatuí com o nome dele”, acentua Simeão. Otávio era casado com uma tatuiana e, por influência do irmão e de outros amigos, desenhou a planta inteira do ginásio. “A primeira planta quem fez foi ele. E tudo de graça: o XI não gastou nada. Nós gastamos apenas com a construção”, contou. A economia no projeto fez com que o clube tivesse somente os custos com os materiais e com a mão de obra. O ginásio começou a ser erguido em meados de 1968 e terminou em 1971, quan-
mitiu a prática de bola ao cesto (o basquetebol), além de modalidades esportivas para além do futebol, como o voleibol. Para o evento de apresentação, a diretoria disponibilizou 122 mesas, todas vendidas. Os convidados apreciaram, além de um jantar, apresentações de orquestra musical. A conclusão do ginásio marcou a segunda gestão de Simeão. Sócio mais antigo do clube - ele torce para o XI desde os 12 anos -, o advogado voltou à presidência da entidade uma terceira vez, em 1992, permanecendo até 1994, por “força absoluta de precisão”. “Você não quer, mas as pessoas pedem tanto, insistem, que chega uma hora que você tem que ceder”, comentou, em entrevista para esta edição especial. De volta ao posto, o advogado precisou vencer mais um desafio. Na
tas, uma vez que possuía, na época, perto de mil associados. “O XI foi criado para 500 sócios, mas não aguentou; precisava de dinheiro e, na minha época, já tinha o dobro”, explica. Entretanto, este número nem sempre esteve em ascensão. Primeiro, porque o XI, no início, só comportava homens. Às mulheres não era permitido jogar futebol. Nem era “de bom tom” frequentar as arquibancadas sozinhas, ou se não fosse para acompanhar um evento de “grande vulto”, como uma final do Amador, por exemplo. Segundo, porque o clube não dispunha de outras modalidades. Apenas com a piscina e com o ginásio é que a associação abriu as portas para “a família”. “As mulheres e as crianças começaram a entrar após as obras”, conclui Simeão.
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preendimento firmou o XI como uma associação atlética e foi erguido a partir do trabalho de uma nova comissão, também com a participação de Milton Stape. O time contava, ainda, com Juca Machado, Mário Baiardi e Osvaldo Del Fiol. “Eles são os verdadeiros autores. Eu faço ques-
do houve a inauguração, com um baile de gala - o primeiro de muitos. Na época, o espaço permitiu a inclusão de novas modalidades esportivas. “O XI era só futebol. Depois que construímos o ginásio é que ele passou a ser uma entidade esportiva”, observa Simeão. A inauguração do ginásio aconteceu na noite do dia 31 de dezembro de 1970, sendo considerado um importante evento social. A obra se tornou uma das mais significativas da região, pois per-
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Simeão José Sobral e diretores acompanham construção de ginásio; obra concluída abriu para novas modalidades e tornou-se centro de eventos
para outro”, conta. Uma vez aceito o desafio, a direção começou a levantar recursos. Para isso, criou campanha para mobilizar os sócios e que também envolveu a sociedade. “A coisa começou assim: vamos construir, vamos construir, mas, para construir, precisava de dinheiro. E dinheiro não é fácil, nem hoje, nem naquela época”, argumenta. Para não comprometer o orçamento, a associação passou a estudar caminhos alternativos.
Imagem mostra montagem da estrutura do ginásio, construído para transformar o clube de futebolistas em uma associação atlética de fato
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A Faculdade de Educação Física de Tatuí FOTO: REPRODUÇÃO
Exames de alunos da Faculdade de Educação Física de Tatuí aconteciam em instalações da Associação Atlética XI de Agosto; aulas, na antiga Faficile
No final da década de 60, o XI de Agosto tinha mais que um nome de respeito. O clube já exibia em seus quadros de honra o troféu de equipe bicampeã do Amador do Interior do Estado de São Paulo, pelas conquistas em 1957 e 1958. Àquela altura, oferecia aos sócios uma infraestrutura invejável. E dava continuidade ao projeto iniciado pela gestão de Simeão José Sobral: o ginásio-sede. Reportagem publicada pelo jornal O Progresso, em 15 de junho de 1969, dava conta de que o empreendimento possuía “linhas modernas” e que dotava, de vez, o XI de um dos melhores conjuntos poliesportivos. O ginásio passaria a receber quase todas as práticas desportivas que já aconteciam na associação. Ele fora construído com um palco, banheiros e duas arquibancadas laterais de concreto, estas últimas projetadas para abrigar mil pessoas. À ideia, a diretoria incluiu a construção de pista de dança e sala de jogos. Em 1969, o clube dispunha de quadras externas, que eram utilizadas para jogos de basquete, voleibol, tênis e futebol de salão, o futsal. Naquele ano, os destaques ficaram para as piscinas alimentadas com água tratada por um “moderno processo químico”. Sem contar com o campo de futebol e uma pista de corrida. Foram estes mesmos espaços que deram à cidade as condições ideias
para abrigar uma faculdade de educação física. “A faculdade veio a Tatuí pela seguinte razão: não tinha para aonde ir a faculdade. Itapetininga, não tinha piscina perto; Sorocaba, não tinha pista. Então, caiu a faculdade para Tatuí”, conta o ex-presidente agostino, sócio mais antigo do clube e advogado Simeão José Sobral. A instituição chegou a ser reconhecida como de excelência, e funcionou por oito anos. Ela teve as atividades iniciadas em 1971, encerrando os trabalhos no ano de 1979. Chegou a ter, nos tempos áureos, mais de 300 alunos de 24 cidades e professores da mais alta qualidade. Entre os profissionais, o próprio advogado. Simeão deu aulas de “problemas brasileiros” e chegou a dirigir a instituição. Também ministraram aulas: Pedro Henrique, técnico do lendário João do Pulo, uma das principais referências brasileiras no atletismo; Nelson de Barros e Marcos Guedes (em atletismo), Nardoto (natação), Nelsinho e Mara (ginástica), Medalha (basquete), Zanineti (vôlei), Santo Balacin (handebol), Bacala (anatomia), Pimenta (primeiros socorros), Paulo Antonio (recreação), Gil Mercadante (biologia), Cida Pio (estrutura e funcionamento do ensino) e Cleide Orsi (psicologia). A Faculdade de Educação Física de Tatuí se tornou uma das duas ins-
tituições pioneiras no ensino superior em atividade na cidade. E atendeu a um anseio dos tatuianos. Dentre eles, do prefeito da época, Orlando Lisboa de Almeida. Ele chegou a anunciar, em 1969, a criação de uma faculdade de tecnologia. Ainda em 1969, o prefeito entrou em contato com órgãos do governo do estado na tentativa de “tornar o sonho realidade”. O projeto era oferecer cursos de engenharia civil e eletrônica, em parceria com a Femague (Fundação Educacional “Manoel Guedes”). Buscando colocar o plano em prática, o prefeito visitou o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos. O desejo dele não se consolidou, mas fora atendido em partes com a instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e da de Educação Física - esta última, encampada pela diretoria presidida por Simeão. O trabalho contou com participação mais que especial - e efetiva - de Domingos Polis. Na época secretário-geral do clube, Polis foi o responsável por preparar e conduzir todas as reuniões e assembleias gerais extraordinárias realizadas com a finalidade de criação da instituição de ensino. A primeira delas aconteceu no dia 1º de março de 1970, nas instalações da própria associação. O encontro entre os sócios fora marcado pela deliberação e aprovação da criação da instituição. Inicialmente, o XI deu origem à entidade mantenedora. A proposta era criar não uma faculdade, mas uma escola superior. Na época, o projeto era mais que ambicioso, já que o clube ainda tinha boa parte da diretoria debruçada na conclusão da construção do ginásio-sede. Embora sem apresentar custo elevado e com a perspectiva de renda, uma instituição exigiria mais dedicação da equipe que, em abril de 1970, precisou fazer um empréstimo de NCr$ 50 mil para terminar a obra do ginásio poliesportivo. Em 7 de maio de 1971, com empenho de toda a diretoria, o XI de Agosto teve a proposta aprovada
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Campo, piscinas e pista possibilitaram criação de ensino superior de educação física
Demonstração de ginástica coletiva realizada em 21 de novembro de 1971, no estádio agostino, com alunos do Barão de Suruí, Sales Gomes e José Tomaz Borges
pelo CFE (Conselho Federal de Educação). A notícia havia sido publicada pelo jornal O Progresso no dia 16 daquele mesmo mês, a partir de um comunicado feito pelo presidente agostino. Os tatuianos receberam a novidade com “grandes manifestações de júbilo”. Houve passeatas por diversas ruas do município, seguidas por intenso foguetório. A associação havia ingressado com dois processos pedindo autorização para a abertura de curso. O primeiro, de número 1.393, apresentado em 1970, e o segundo, o 172, no ano de 1971. Ambos foram defendidos por Mariano da Rocha Filho. Nova vitória dos agostinos aconteceu em junho do mesmo ano, sendo comunicada pelo prefeito Orlando Lisboa. Ele recebeu, naquele mês,
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Campo e área ao redor dele eram utilizados para a realização de competições e de exames dos alunos de instituição que funcionou de 1971 até 1979
telegrama do Ministério da Educação dando conta de que o pedido havia sido encaminhado ao presidente da República, o militar Emílio Garrastazu Médici. Ele assinou, em 2 de junho de 1971, o decreto 68.700, autorizando o funcionamento. O novo estabelecimento de ensino superior da cidade iniciou as atividades letivas no segundo semestre de 1971. O curso teve aulas práticas no Estádio “Dr. Gualter Nunes” e a parte teórica, em quatro salas cedidas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. “Os alunos aproveitavam tudo”, ressalta Simeão. De acordo com ele, a única deficiência do clube era a pista de atletismo. “Ela precisava ser de um certo formato. A nossa, por causa do campo de futebol, era meio angular. Mas, de todas as cidades,
Tatuí era a que apresentava melhores condições”, diz. No auge, a Faculdade de Educação Física tinha verba suficiente para sustentar não só as atividades, mas os custos com os professores de primeira linha. No período de funcionamento, a instituição formou grandes profissionais. A manutenção da instituição, no entanto, tornou-se inviável. Primeiro, segundo Simeão, porque os estudantes ficaram desestimulados em razão de o governo da época não exigir diplomas dos professores para atuarem na área de educação física. “Depois, porque Sorocaba arrumou uma piscina e fez uma faculdade; Itapetininga, criou outra. Rodeou de faculdades”, explica o ex-presidente.
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XI do Vermelho e Preto e do Tro-lo-ló Surgidos no clube, eventos de Jorge Rizek mudaram a vida social de Tatuí
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Multidões eram arrastadas pelo baile Vermelho e Preto, evento concebido com as cores do XI de Agosto e que resgatou a figura da “Égua Vermelha”
A vida social dos tatuianos nunca mais foi a mesma desde que o XI de Agosto inaugurou o ginásio-sede, no ano de 1971. Mas, mudou, definitiva e completamente, com o trabalho de Jorge Rizek, produtor cultural que estabeleceu, com a associação, uma parceria de longa
jornal O Progresso há 35 anos. Inaugurado com um novo conceito, o bar foi fundado pelo produtor em parceira com Orlando Silva Júnior e Paulo Fiuza. O estabelecimento funcionava toda semana, tendo as atividades às sextas e sábados. “Às vezes, aos domingos”, re-
nha do clube”, lembra Rizek. A iniciativa marcou novo passo na carreira de Rizek, que já desenvolvia, em parceria com o clube, eventos sociais. Todos, de sucesso e que impactaram o público pelo bom gosto e inovação. “Antes do Tro-lo-ló e do Vermelho e Preto, fiz um desfile FOTO: REPRODUÇÃO
Tro-lo-ló revolucionou noite tatuiana; primeiro bar temático do município, espaço recebeu cantores como Adoniran Barbosa e tatuiano Mário Édison
lembra. O projeto começou a ser elaborado a partir de sugestão do presidente do XI de Agosto à época, Mingo Poles. Para selar de vez o compromisso entre os interessados, Rizek e os sócios assinaram um contrato. Ele previa que o bar funcionasse como uma casa noturna. “Como uma boati-
infantil, num domingo à tarde, provavelmente Dia das Crianças. Mas, já tinham bailes de debutantes, Réveillon e Carnaval no clube, após a criação do ginásio”, explica. No caso do Tro-lo-ló, o ginásio permitiu à diretoria pensar em um novo espaço de entretenimento para os sócios, já que a necessidade esportiva
não sócios, o bar recebeu diversas personalidades como atrações. Entre elas, a cantora e atriz Doris Monteiro e o pianista tatuiano Mário Édison Farah (falecido no ano passado). “E aí vieram outros shows, outras festas, e ficou um lugar diferente na cidade, um serviço diferente de tudo”, recorda-se. A agenda personalizada do bar, de eventos semanais, trazia “outra pegada para a noite tatuiana”. E o público gostou tanto que Rizek resolveu dar continuidade ao Tro-lo-ló. “Quando fechou o bar, as pessoas me pediram para eu continuar fazendo o que fazia lá”, conta Rizek. O produtor reabriu o espaço, dessa vez como clube, no ano de 1981, então na rua 13 de Fevereiro. O Tro-lo-ló era diferente em tudo, a começar pelo nome. A escolha da marca passou por uma pesquisa realizada pelo produtor. Rizek havia pensado, inicialmente, em alguma palavra que remetesse ou fizesse parte do dialeto caipira. “Aí, colocamos esse nome e, no meio do caminho, comecei a pensar na noite de Tatuí antes de tudo isso, nas décadas de 50 e 60”. As lembranças levaram o produtor às antigas bandas do município, dentre as quais, a Orquestra Tro-lo-ló. Como FOTO: REPRODUÇÃO
data. Dela é que nasceram o American Bar Tro-lo-ló e o Vermelho e Preto, tradicional baile carnavalesco. “Na verdade, foi um relacionamento comercial e profissional, primeiro. Antes de tudo, o Tro-lo-ló começou lá. Foi na Sala 30, e eu a ind a morava em São Paulo”, conta Rizek, que também é colunista do
havia sido atendida. A proposta era criar algo diferente do que já existia na cidade. “E nós conseguimos. Abrimos em abril e fechamos no último sábado de dezembro de 1980”, lembra Rizek. A proposta partiu do então presidente agostino. Polis queria que Rizek pilotasse o bar. O produtor, no entanto, topou o projeto desde que em sociedade e com uma condição: que tivesse uma atmosfera “única”. “Aí surgiu essa ideia de fazermos uma casa para dança, para ter shows, pequenininha”, descreve. Da ideia para a concretização, pouco tempo se passou. Isso porque a sala já dispunha de banheiros e estava “praticamente pronta”. “E foi um tremendo sucesso!”, recorda. O American Bar Tro-lo-ló possuía 20 mesas e um palco. “Era um espaço com uma mesa de som, na verdade. Tudo pequeno, mas tinha personalidade”. A inauguração contou com a presença de ninguém mais que Adoniram Barbosa, conhecido nacionalmente como o pai do samba paulista. “Só aí já foi diferente. Ele tinha acabado de lançar um disco novo. Então, já começou acontecendo!”, acentua. Frequentado por sócios e
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Música ao vivo e muita animação transformaram o Tro-lo-ló no bar mais procurado do início dos anos 80; conceito trazido priorizava os gêneros variados
Bar possuía uma agenda personalizada e semanal; público que frequentava o Tro-lo-ló era prestigiado com atrações, discotecagem e muita originalidade
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FOTO: CRISTIANO MOTA
Jorge Rizek mantém parceria de sucesso com XI de Agosto, que vai desde a criação do bar Tro-lo-ló e do maior baile carnavalesco do interior paulista
que interromper. Fomos para outro lugar e, no ano que vem, retornamos para o XI de Agosto em outro formato”, antecipa. A reformulação atende a um novo anseio dos foliões. Rizek observa que o país vive uma transformação cultural, diferente do que acontecia nos “bailes de antigamente”. “Nos primeiros bailes, os salões ficavam cheios, as mulheres se enfeita vam, os homens, também. Depois, as fantasias
Fantasias eram marca registrada do público do Vermelho e Preto, criação de Rizek que animou os foliões no ginásio agostino por 35 edições
Vermelho e Preto será menor, e atualizado. Rizek antecipa que o público não deve esperar algo no mesmo formato, com camarotes. “Será outro baile, mas bonito e agradável”, complementa. Originalmente, o Vermelho e Preto acontecia às sextas. Com o passar do tempo, a folia no XI tomou praticamente todos os dias de Carnaval, acontecendo na sexta, sábado, domingo e segunda.
Vermelho e Preto são os cartazes. A cada edição, o baile traz uma arte diferenciada. Os trabalhos já feitos para as peças publicitárias do evento levaram assinaturas de vários artistas plásticos. Entre eles, o cenógrafo e professor Jaime Pinheiro. “Os cartazes eram verdadeiras obras de arte. Na verdade, eram desenvolvidos sobre os temas que tinham nomes bem estranhos, quase um enredo de escola de samba”, FOTO: REPRODUÇÃO
forma de homenageá-la, batizou o bar. “E o nome pegou de tal forma que, até hoje, todo mundo fala do Tro-lo-ló. Não só pelo nome, mas por tudo que ele representou na noite e o que aconteceu nela”, sustenta. Além da homenagem, Rizek escolheu Tro-lo-ló como nome por conta de a palavra trazer certo ritmo. E, no início, teve de insistir pela aceitação. “As pessoas não lembravam do grupo; os mais velhos, sim, os mais novos, não. Mas, é um nome que tem um significado musical. Então, ia também fa-
todo mundo”, enfatiza. Fora do ambiente agostino, o bar se transformou em um empreendimento que embalou gerações. Ao todo, o Tro-lo-ló animou festas por 17 anos, somados os 16 no novo endereço. E resultou na criação de outros ambientes de sucesso e igualmente inovadores, como o bar 8 ou 80 e o 567, a primeira choperia da cidade. A inovação, aliás, é marca registrada de Rizek, que trouxe de volta a Tatuí a tradição dos bailes carnavalescos. É ele o responsável por um dos
aqui, mas, quando vinha, via que a cidade não tinha nada”, comenta. Para oferecer um dia a mais aos foliões, Rizek desenvolveu um projeto e apresentou-o à diretoria do XI. Tatuí passava a ganhar mais um dia de folia. A primeira edição aconteceu em uma noite de sexta-feira, tendo o XI como tema. “Começamos supersimples e tivemos uma quantidade boa de pessoas”, conta. Para a estreia, Rizek decorou o ambiente com as cores do clube e recuperou, como uma das referências, a Égua Ver-
Bar Tro-lo-ló reunia público jovem, descolado e ávido por novidades; espaço funcionou na Sala 30 por um ano, e por mais 16 na rua 13 de Fevereiro FOTO: REPRODUÇÃO
zer barulho. E era essa a proposta: acontecer com shows, com música”. E foi dentro do XI, por meio do bar, que a cidade viveu um momento de efervescência cultural. As festas temáticas realizadas no espaço eram esperadíssimas. O espaço serviu de palco para diversos eventos assinados por Rizek, como gincanas e desfiles. Todos eles envolvendo toda a cidade. “Não só a juventude da época, mas as pessoas mais velhas também participavam, porque nós trouxemos música para
maiores eventos do interior paulista: o baile Vermelho e Preto. Festividade, aliás, que antecedeu ao Tro-lo-ló e que somou 35 edições, todas elas no ginásio do XI de Agosto. A proposta era criar um evento que abrisse as festividades carnavalescas. Na cidade, no final da década de 1970, a folia começava somente no sábado. “Naquela época, quem comandava o Carnaval no Brasil era o Rio de Janeiro, não Salvador. E lá começava sempre às quintas. Eu não morava
melha, mascote esquecida havia décadas. Para batizar o evento, utilizou o hino da associação atlética. Com o sucesso da primeira, muitas outras edições sucederam-se. No segundo ano, Rizek realizou o baile sozinho, com outra temática. Os seguintes aconteceram com apoio de vários parceiros, até que o produtor decidiu concluir o projeto. “Resolvi acabar neste formato (de baile temático) porque a cultura da noite que a cidade tinha mudou. Então, tivemos
A expectativa é de que o baile, assim como em anos anteriores, movimente também o mercado de trabalho local. Rizek conta que a realização do evento é tão complexa que necessita de muita mão de obra. “Isso é algo muito legal que o Vermelho e Preto trazia para a cidade. Nós contratávamos muitas pessoas para realizar trabalhos extras, para que o baile acontecesse”, acentua. Outro destaque do
aponta. As vidas do baile, do XI e de Rizek se misturam. E formam, essencialmente, uma história de sucesso. Rizek, por exemplo, realizou eventos memoráveis ao longo de, praticamente, todas as diretorias. “Gosto muito do clube. Ele me dá muitas lembranças boas, e eu ‘vivi’ o XI de Agosto por muito tempo. Não frequento a piscina, não frequento o campo de futebol, mas faço parte do clube”, conclui.
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Vermelho e Preto marcou gerações com edições memoráveis; baile teve temáticas variadas e concurso que premiou originalidade em fantasias
foram pegando e era uma grande festa. Mas, os bailes de salão, hoje, acabaram, não só aqui. É um reflexo da cultura”, argumenta. Além das 35 edições no XI, o Vermelho e Preto teve edições “extras”, promovidas em outros espaços. “Agora, com a diretoria comemorando os 90 anos, conversamos com o clube e decidimos levar o baile para o XI novamente”, conta Rizek. Do que se sabe até o momento é que o novo
Além de abrigar bar e de receber baile, Associação Atlética também sediou desfiles como o de crianças realizado por Rizek, por ocasião do dia 12 de outubro
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Seis décadas de um feito inalcançável Em 1959, XI conquistava o bicampeonato do Amador e entrava para a história
Tatuí nunca mais foi a mesOs resultados mais que anima depois de um jogo memomadores chamaram a atenção rável. O XI de Agosto mostrou, da diretoria para as possibilino dia 1º de março de 1959, o dades que poderiam ser abertas que sabia fazer de melhor: venpor meio do esporte. Daí em ceu em campo um jogo que endiante, a associação começou trou para a história do futebol a investir em talentos locais e, paulista e do município. FOTO: REPRODUÇÃO A “Égua Vermelha” ganhou de maneira esmagadora do Esporte Clube Itatiba, registrando elevado escore. O placar terminou em 7 a 1 para os tatuianos. O jogo, realizado há pouco mais de 60 anos, valia o título de bicampeão do Amador do Interior do Estado de São Paulo para o ano de 1958, um feito até hoje não repetido por nenhuma outra agremiação local. Na época, o Amador começava no meio do ano de disputa e terminava no início do ano seguinte. Aquela era a segunda vez que o time dos “vermelhinhos” - como O Progresso apelidava a exemplo de outros clubes da os jogadores - vencia a compeépoca, em jogadores de times tição. O jornal, aliás, registrou de fora com chances de alavantodas as vitórias da agremiacar ainda mais o clube. ção, a começar pela primeira: o Para se ter ideia, em 1954, o Campeonato Amador Federado presidente do XI naquele ano, da Litafu (Liga Tatuiana de FuAniz Boneder, declarou, para a tebol). A “Égua Vermelha” obreportagem esportiva do jornal, teve o título de número um em que a diretoria estava disposta 1940, repetindo o feito em 1941 a “montar um esquadrão podee 1942. roso”. A intenção era reforçar a
equipe de futebol, permitindo que o clube tivesse “notáveis performances”. Iniciava-se, então, uma série de investimentos no futebol, em especial no quadro de titulares. Prova disso é que Boneder
queria contratar, para alavancar os resultados do time, jogadores oriundos do Corinthians Paulista, da capital. A vinda de novos talentos permitiu ao quadro local absorver conhecimentos e aprimorar técnicas. O resultado mais significativo veio em janeiro de 1958, quando o XI venceu pela primeira vez o Campeonato
Amador. O time derrotou o Comercial de Araras pelo placar de 3 a 2, jogando em Piracicaba. A partida decisiva aconteceu no dia 12 de janeiro, um domingo, e selou de vez a carreira dos
tição valendo o título de 1957 chegou ao fim. Com maestria, o XI conquistou um título almejado por nada menos que 419 clubes. A equipe campeã era composta por Aldo, Erides, Bia, Orfeu, Renato, Paulinho, Nicola, Sato, Osmar, Ponce e Paias. O Comercial tinha no elenco: Ismael, Zulu, Feliciano, Mossoró, Note, Joãozinho, Tião, Eolindo, Zinho, Baltazar e Otavinho. A partida foi arbitrada por Valter Galera. A equipe do técnico Osvaldo Avalone dominou o campo. Cobertura feita por O Progresso descreve que a equipe apresentou “enorme disposição e estava magnificamente preparada, técnica, física e, sobretudo, psicologicamente”. O propósito dos Paulinho, Renato, Alfeu, Audo, Eurides, Bia, jogadores era elimiOswaldo, Nicola, Sato, Osmar e Paias compunham o esquadrão de heróis campeão do Amador de 1957 nar os adversários no menor tempo possível. Tanto que, nos vermelhinhos que estavam em primeiros 30 minutos, o time ascensão. chegou facilmente aos 3 a 0. De acordo com o jornal da “Com um pouco mais de época, cerca de mil torcedores chance, teria chegado à casa dos viajaram para a “Noiva da Coseis”, consta na reportagem. O lina”, como era conhecida a ciComercial reduziu a diferença dade-sede da final, para apoiar ainda na primeira etapa, mara agremiação. A vitória dos cando o primeiro. tatuianos ficou estampada na No segundo tempo, os capa do jornal do dia 19 de jaagostinos adotaram a tática de neiro de 1958, quando a compejogar para garantir o resultado.
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Equipe agostina sagrou-se bicampeã em 1959, do Amador de 1958, jogando em casa e “ensacando” os visitantes pelo placar acachapante de 7 a 1
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Torcida tatuiana exibe faixas de agradecimento à cidade de Piracicaba, que sediou a finalíssima do Campeonato Amador do Interior do Estado de 1957
Foto mostra grupo de torcedores “uniformizados” que seguiam os grupos do XI de Agosto em disputas realizadas no município e em todo o interior de SP
Estratégia que deu resultado, mas permitiu ao Comercial anotar um novo tento. A equipe adversária marcou o segundo gol aos 43 minutos, por conta de uma nova penalidade máxima, determinada pelo juiz. A direção do XI, aliás, reclamou da arbitragem, mas teve duas penalidades não concedidas. A “Égua Vermelha” conquistou o campeonato com gols de Paias, que anotou duas vezes, e Sato, com um tento. O Comercial marcou com Eolindo e Joãozinho. O resultado rendeu à equipe inúmeras homenagens. Algumas delas, pelo Rotary Clube e pelo Lions Club. Pelo feito, os atletas receberam “ricas medalhas”, alusivas à conquista do título máximo do futebol interiorano. No ano seguinte, a torcida alvinegra e todo o município voltou a vibrar por conta do Amador. O XI manteve, em Tatuí, mais um troféu da competição. A equipe registrou a façanha ímpar jogando em casa, no Estádio “Dr. Gualter Nunes”. Dessa vez, enfrentou e venceu a representação do Esporte Clube Itatiba, considerado um forte adversário. A conquista “encheu de júbilo toda Tatuí esportiva”, destacou o jornal. E fez mais: devolveu aos tatuianos a confiança no futebol de campo. Apesar do sucesso de 1957, que se seguiu em 1958, a agremiação passou por intempéries, como a mudança da composição anterior. Três atletas deixaram o quadro. Com apoio do técnico e da diretoria, o time voltou a se firmar, conforme os jogos iam acontecendo. O segundo jogo mais importante da história do XI teve público recorde. A organização registrou arrecadação de Cr$ 97.000,00 somente com a bilheteria. Tamanha responsabilidade fez com que a equipe titubeasse no início, sofrendo o primeiro tento aos 11 minutos. Apesar do baque, os jogadores não se desesperaram. Buscaram - e conseguiram - um empate, que veio pelos pés de Nicola. O tento se transformou no ponto de partida da reação agostina, que selou a partida com sete gols. Aplicaram a goleada os jogadores: Paraguaio (três tentos), Jonas (dois), Nicola e Paia. Massaretti assinalou o tento de honra dos visitantes. A Associação Atlética, que venceu “com os pés nas costas”, ainda jogou com: Aldo, Carvalho, Eurides, Tião, Hiotti e Ponce. O Itatiba atuou com Belo, Doca, Barela, Carvalho, Chiquinho, Baía, Nenê, Mosquito, Ilton e Zeca. O feito rendeu ao XI menção no “Hino à Tatuí”, composto no ano de 1961 por Paulo Cerqueira Luz e Maria Ruth Luz. A música havia sido escrita originalmente com o nome “Tatuí Cidade Ternura” e, em 1964, tornou-se hino do município. A Câmara aprovou, naquele ano, o projeto de lei de iniciativa do vereador Aido Luiz Lourenço, votando a proposta em 10 de agosto. A sanção ficou a cargo do então prefeito Paulo Ribeiro. O ato aconteceu no dia seguinte, 11 de agosto, aniversário de Tatuí. “Paulinho Ribeiro”, como era conhecido, promulgou o hino em solenidade realizada no salão nobre da Etec (Escola Técnica) “Sales Gomes”, por ocasião do encerramento da “Semana da Música”, evento organizado pelo Conservatório de Tatuí.
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O clube privado mais público de Tatuí Da apuração de votos a espaço de revelação de novos talentos, XI fez história de consumo de muitos jovens. A associação já contava com equipes campeãs em várias das modalidades esportivas. Foi no clube que Evandro estreitou os laços de amizade
sou, inicialmente, na diretoria como conselheiro. “Eu achava que tinha de melhorar a parte administrativa, trabalhar mais com o clube e, nessa época, entrei para o conselho”.
com os amigos de trabalho. Treinava, com os companheiros da Ford, aos sábados. “Fui muito bem acolhido e, com esses meus amigos, formamos um grupo que está até hoje”, conta. O amor ao esporte e o laço com o clube fizeram com que Evandro, aos poucos, quisesse ter participação maior. Ingres-
Evandro se tornou conselheiro em 2002 e, na ocasião, ajudou a eleger Pedro Manis Neto como presidente. “E daí para frente eu não saí mais. Estou até hoje”, emenda. No XI, Evandro ocupou a função de diretor social. Aprendeu, “na raça”, a trabalhar na função e a vencer as dificul-
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O XI de Agosto ocupa, atualmente, um espaço dedicado a poucas entidades. Embora tenha sido concebida como um clube particular, de uso privado a sócios contribuintes, a associação atlética tem histórico de ser uma das mais públicas instituições tatuianas. Pelo menos, quando o assunto é alcance social. No passado, o ginásio-sede, por exemplo, foi utilizado por décadas para a apuração das eleições municipais e gerais. No presente, recebe crianças de várias partes da cidade - associadas ou não - para atividades que acontecem nas escolinhas esportivas. Aulas que revelam novos talentos e possibilitam a inclusão social. Evandro Mantegazza Moreira, atual presidente agostino, carrega algumas das memórias marcantes do clube. Ele se tornou agostino em 1986, atraído pelo futebol. Pisou no clube pela primeira vez aos 25 anos, depois de ter se casado com uma agostina a mulher dele era sócia. “Daí, comecei a frequentar”, conta. No XI, jogou futebol de campo e futebol de salão. Disputou partidas em uma época em que o clube era o sonho
dades. “O clube tinha bastante dívidas, estava meio parado, devagar, não tinha muitas atividades. Mas, foi crescendo”, relembra. Antes de presidir o XI pela
das. As ações acontecem durante todo o ano, tendo como objetivo envolver tanto os sócios como a população em geral. Para isso, o clube sedia baile de gala e realiza exposição fotográfica. As duas iniciativas são oferecidas a sócios e não sócios. Com as contas em dia, o XI busca manter o equilíbrio entre atender às necessidades dos sócios e contribuir com o município. Uma das obras mais aguardadas pelos associados, inclusive, foi inaugurada em 2018: a sauna. Outras novidades, como um novo espaço para a academia, estão em estudo. Atualmente, o XI de Agosto possui dois ginásios cobertos, poliesportivos, três quadras de tênis, o campo de futebol (que tem o tamanho oficial), a sauna, a academia e uma área de atividades Lulu Santos esteve entre as atrações nacionais marciais (caratê e muay que pisaram no palco do ginásio agostino; espaço thai) e um complexo ainda recebeu cantores internacionais e até rodeio aquático com piscina semiolímpica e uma estrutura para saltos orprimeira vez, em 2009, Evannamentais. dro ocupou a diretoria de patTodos os espaços, em algum rimônio e o cargo de tesoureiro. momento da história, mantiNa época, foi o responsável veram uma ligação muito próxpelas comemorações dos 80 ima com a cidade. O ginásio anos do XI. “um” chegou a ser utilizado Neste ano, Evandro propela Justiça Eleitoral para a move - com apoio da diretoria apuração das votações. atividades esportivas e festivas “Há um tempo, quando em comemoração às nove décanão se tinha urna eletrônica, os
19 votos eram trazidos para cá e contados. Era aqui que a festa acontecia. A festa e a não festa, porque alguém perdia”, observa Evandro. O presidente ressalta que o XI de Agosto sempre teve a preocupação de contribuir com o município. Por isso a instituição recebeu, também no ginásio, por muitos anos, shows memoráveis. Entre eles, os figurados por Lulu Santos, Biquini Cavadão e Paralamas do Sucesso, e por artistas internacionais, como o cantor jamaicano Jimmy Cliff. “Tudo isso acaba por ser uma referência tanto para a parte social como para a parte esportiva”, enfatiza. O mesmo ginásio também abrigou aulas da Faculdade de Educação Física de Tatuí e competições de futebol de salão, voleibol e de basquete.
tura, já falecido, que fazia parte da diretoria. Ele, inclusive, cuidava de campeonatos, era diretor de patrimônio”, comenta. O novo colega de trabalho do veterinário insistiu para que ele comprasse a cota de associado no XI. Wisner, recém-chegado a Tatuí, aceitou. “Sempre gostei de futebol, gosto de cerveja. Então, o XI facilitou tudo isso”, brinca. No clube, integrou equipes de futebol, futsal e tênis. Venceu, com a primeira modalidade, competições como a Copa Rádio Notícias de Futebol Máster, na categoria veterano. E, como membro da diretoria, trabalhou para estreitar a relação do clube com o município. Quando do ingresso dele na direção, Wisner integrou o grupo que retomou as atividades desportivas realizadas com crianças. FOTO: REPRODUÇÃO
Cantor jamaicano Jimmy Cliff subiu ao palco do ginásio-sede do XI de Agosto para apresentação que lotou espaço e ficou guardada na memória de Tatuí
“Tivemos uma época muito forte no XI, em que os times que representavam o município nos Jogos Regionais eram formados por atletas que despontavam aqui”, acentua. E é este espírito que o clube retomou, conforme Wisner Castilho, com as escolinhas de esporte. As aulas que haviam sido interrompidas por decisões anteriores, voltaram com força total no ano em que ele entrou para a diretoria, em 2002. Wisner começou a frequentar o XI em 1984, no mesmo período em que iniciou os trabalhos na Casa da Agricultura. O veterinário é natural de São Paulo e vislumbrou, com a vinda a Tatuí, a chance de conquistar a desejada qualidade de vida. “ Chegando aqui, tinha um funcionário da Casa da Agricul-
Até 2002, a utilização do clube havia ficado muito restrita, por conta da redução do número de sócios que começavam a contar com opções de lazer nos condomínios. Com isso, a diretoria anterior reduziu o uso do campo. O espaço era aberto durante dois dias, apenas: em uma quarta, para que os jogadores veteranos pudessem bater bola, e em um sábado, para os associados. Para reverter esse quadro, Wisner conta que a diretoria optou pela reestruturação. Uma das várias medidas foi a reabertura das escolinhas. “Um grande desafio foi quitar dívida e atrair novos sócios sem fazer muito investimento. E aí, nós abrimos o clube. Voltamos com as escolinhas”, explica. As atividades abrangiam,
FOTO: CRISTIANO MOTA inicialmente, futebol, voleibol e basquetebol. Depois, foram expandidas para o ensino de artes marciais e aulas de dança. A proposta deu tão certo que, junto com os sócios, vieram as equipes representativas. As escolinhas ainda reforçaram o papel social do clube agostino. Prova disso é o fato de que 80% dos meninos e meninas que treinam nas equipes de base não são sócios. “E muitos deles são de faixas da sociedade que não Evandro Mantegazza Moreira é atual presidente da teriam condição de renda Associação Atlética XI de Agosto e atua para atender expectativas de sócios e colaborar com a cidade favorável para frequentar o clube não fossem as esFOTO: CRISTIANO MOTA colinhas”, ressalta Wisner. De acordo com ele, os técnicos também ocupam função de educadores e têm responsabilidade de formar, se não atletas, cidadãos. “Os treinadores têm uma missão muito forte sobre essas crianças. Então, vemos que não é só formar atletas, mas formar cidadãos. E isso é uma preocupação que temos”, declara. O trabalho permite ao clube, ainda, revelar novos talentos, e de maneira democratizada. José Tarcísio Ribeiro presidiu clube agostino entre 1999 e 2001, colocou as contas em dia, fez amizades Ao longo dos anos, o e optou por razão ao decidir sobre arquibancada XI contribuiu para a ascensão de muitos jogaFOTO: CRISTIANO MOTA dores. Entre eles, Rodnei Marcelo de Almeida, lateral do Flamengo, que treinou na equipe de base. “Ele passou pelo XI e, depois, seguiu o caminho dele”, aponta. Um dos responsáveis pela continuidade das escolinhas desportivas, José Tarcísio Ribeiro destacou que o XI tem papel significativo na história de Tatuí e na vida dos associados. Presidente de 1999 a 2001, ele vestiu a camisa Wisner Castilho chegou ao XI por indicação de vermelha e preta no final um colega de trabalho; veterinário integra diretoria de 1979, também quando da “Égua Vermelha” desde o ano de 2002 se mudava para Tatuí. Na época, estava hospedado FOTO: REPRODUÇÃO no Hotel Del Fiol, e comprara uma cota sem mesmo ter conhecido o clube. “Eu estava comendo uma pizza, no seu Nazário, e conheci o Zé Carlos do XI, o famoso! E ele falava muito rápido, mas, no final, entendi que estava vendendo uma cota. E eu comprei. Minha família estava em Minas Gerais ainda”, conta. O empresário fez parte das equipes veteranas, e, a exemplo de muitos “xianos”, participava dos treinos às quartas. “Era Equipe infantil do XI de Agosto no ano de 1958; trabalho com crianças para formação de equipes de um lugar que eu sempre base sempre esteve presente no clube agostino frequentava”, acrescenta. Divididos em dois grupos, os jogadores confraternização que dura até 1999. Ele assumiu o clube em treinavam - e treinam até hoje altas horas. um momento delicado, que en- com uniforme vermelho e Tarcísio teve o nome volvia inadimplência. azul. A exemplo de quando a aprovado pelo conselho da diCom apoio do conselho e tradição começou, os jogos são retoria para a presidência em a estratégia das escolinhas, o iniciados às 16h e seguem com
20 clube resgatou os sócios. Embora sem grandes possibilidades de investimentos, ainda promoveu melhorias, com apoio de Eduardo Guimarães, engenheiro que ocupava a função de diretor de patrimônio, e de Lucas Catel, na tesouraria - ambos já falecidos. Em 1999, o XI tinha em torno de 800 sócios pagantes. A inadimplência, no en-
tanto, era de 70%. Com as medidas de contenção de gastos e a oferta de atividades, a diretoria conseguiu promover reformas, como a do vestiário das piscinas. A ação teve apoio do empresário Osvaldo Fragnani, que doou todo o revestimento ao engenheiro Guimarães. O clube também implantou sistema de FOTO: REPRODUÇÃO
Show de Lulu Santos movimentou a região, sendo realizado no ginásio da Associação Atlética XI de Agosto, espaço inaugurado no ano de 1971
irrigação do campo e construiu a entrada atual da portaria, na rua Professor Oracy Gomes. “Investimos muito no clube, mas o maior desafio foi quando surgiu a questão da arquibancada”, conta Tarcísio. O empresário explica que a diretoria teve de tomar uma atitude drástica: precisou demolir a arquibancada original. A construção inaugurada em 1935 teve de ser levada ao chão. Na época, a obra apresentava falhas na estrutura e estava comprometendo o muro lateral, que fica na avenida Cônego João Clímaco de Camargo, a Avenida das Mangueiras. Antes de tomar a decisão, Tarcísio diz que a diretoria contratou engenheiros e técnicos para realização de laudos. “Muitas pessoas nos criticaram violentamente, na época, porque a arquibancada era uma tradição do clube. Mas, os bombeiros, inclusive, haviam dito que, a qualquer hora, ela iria cair e poderia ceder na avenida”, descreve. Entre a tradição, o bom senso e a responsabilidade, Tarcísio diz ter opta-
do pelos dois últimos. “Se aquele muro cedesse, a responsabilidade do XI seria muito grande. Então, fizemos conscientes de que precisava ser feito”, acrescenta. Como jogador, Tarcísio disputou vários campeonatos. Dos 14 em que competiu, venceu 11. Alguns deles, dentro do intercâmbio com a cidade de Uberaba, em Minas Gerais. O grupo viajou para a cidade mineira por mais de uma década. Também fez jogos nos municípios de Bebedouro e Campinas, em São Paulo. A ideia do intercâmbio começou com o irmão do empresário, que faz parte de um grupo de futebol de Uberaba. Ao todo, os agostinos participaram de 14 encontros. “Eram viagens fantásticas, que começavam na sexta e terminavam no domingo”, contou. O elenco tatuiano contava, algumas vezes, com reforço do ex-prefeito e professor Paulo Ribeiro e do advogado José Simeão Sobral, sócio mais antigo do XI. “Eles não jogavam, mas eram os mais entusiastas”, finaliza o empresário.
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Disputas de voleibol também marcaram história de clube; modalidade é uma das desenvolvidas por escolinhas voltadas às crianças e jovens da cidade
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Desenvolvido há décadas, trabalho de formação de equipes de base de futebol é pioneiro na cidade; na foto, a formação de equipe no ano de 1958
Égua Vermelha
Hino do XI de Agosto Oi, quem vem lá? Sou eu, morena. Oi, abre alas que eu quero passar. Vermelho e preto, sinal de guerra. É o nosso Onze que estremece a terra. Quando pegamos uma bola amarelinha, não há defesa que segure a nossa linha Nosso quinteto pega o couro e costura. O adversário olha a bola e não segura.
EXPEDIENTE
Diz a lenda que, no ano de 1957, o XI de Agosto adotou a Égua Vermelha como mascote oficial. Na época, o clube disputava o Campeonato Amador de Futebol do Interior do Estado e era tema de comentários por todos os cantos da cidade, por conta de ter demonstrado desempenho acima da média nas competições. A história envolvendo a escolha do animal como símbolo aconteceu de forma inusitada. O que se conta é que, em certo domingo, o time de futebol estava se preparando para um confronto em outro município. Palpites sobre o resultado da peleja eram recorrentes em animadas rodas de conversas - uma delas, em frente a um bar. O comércio funcionava no centro da cidade. Enquanto os torcedores batiam papo, houve um alvoroço. Chegou até eles uma notícia que teria causado uma certa agitação no largo do São Roque, perto do bar. Um andarilho de nome Matarazzo teria anunciado a morte de um animal. O assunto roubou a atenção de todos, que interromperam as conversas. Curiosos tentavam descobrir o que poderia ter acontecido. E Matarazzo anunciou, aos gritos, que uma égua de cor avermelhada havia sido atropelada e morta. Torcedores rivais, que debatiam com os agostinos, resolveram brincar com a situação. Fazendo menção às cores vermelha e preta do animal, que eram as mesmas do uniforme do time de futebol, os rivais não deixaram por menos. Eles passaram a proclamar que a “égua vermelha do XI” iria morrer, torcendo por uma derrota do time tatuiano. A brincadeira acirrou os ânimos das torcidas. Mas, o XI de Agosto não se deu por derrotado. O time de futebol venceu o jogo e, mais que isso, sagrou-se campeão do Amador. A torcida agostina, em comemoração, gritou que a “égua vermelha nunca” iria morrer. E, desde então, tanto a torcida como o clube passaram a adotar a égua como mascote.
O caderno especial “11 aos 90” é uma publicação comemorativa aos 90 anos da Associação Atlética XI de Agosto e aos 193 anos de emancipação política de Tatuí Editor IVAN CAMARGO Reportagem CRISTIANO MOTA Projeto gráfico e diagramação ERIVELTON DE MORAIS Arte-final ALTAIR VIEIRA DE CAMARGO Revisão ANA MARIA CAMARGO DEL FIOL
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