Agosto de 2013
Especial resgata história e registra imagens de patrimônios da Cidade Ternura em trabalhos artísticos distintos
Encarte do jornal O Progresso de Tatuí. Não pode ser vendido separadamente.
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TATUÍ NA VISÃO DO ARTISTA
11 de agosto de 2013
O Progresso de Tatuí
Expediente
é uma publicação da Empresa Jornalística “O Progresso de Tatuí Ltda.”
Praça Adelaide Guedes, 145 - Centro Tatuí - SP - CEP 18270-020 PABX (15) 3251-3040 | 3251-4012 E-mails: oprogresso@oprogressodetatui.com.br redacao@oprogressodetatui.com.br publicidade@oprogressodetatui.com.br
Edição e jornalista responsável: Ivan Camargo Reportagens: Cristiano Mota Projeto gráfico e diagramação: Erivelton de Morais Arte-final: Altair Vieira de Camargo (Bisteka) Revisão: Ana Maria de Camargo Gerência de publicidade: Lívia Amara Rodrigues Impressão: Atlântica Gráfica e Editora Ltda. Colaboração: Mingo Jacob, Giorge de Santi, Jorge Rizek, Patrícia Milão, Alexandre Machado, Alexandre Scalise e padre Elcio Roberto de Goes
Edi torial
Na visão do artista Neste mesmo período de comemorações em razão da data oficial de fundação do município, marcada pelo dia 11 de agosto de 1826, também acontece a passagem de mais um ano de fundação do jornal O Progresso de Tatuí, ocorrida em 30 de julho de 1922. Em 2012, portanto, a publicação completou exatamente nove décadas de existência, reafirmando-se como um dos veículos de comunicação impresso mais “longevos” do Estado e, muito provavelmente, do país. Para marcar a data, entre outras ações – como exposição no Centro Cultural Municipal -, aconteceu a publicação do tabloide “90 Anos de Progresso”. O resultado foi, inesperadamente, até mais positivo como instrumento de pesquisa do que institucional para a própria empresa. A partir desse material, passaram a ser incontáveis as vezes em que a publicação foi procurada como referência de resgate da história local, particularmente a marcada pelo meio século entre a década de 20 até o início da de 70. Fica evidente, por este particular, o fato de que o município ainda continua carente em publicações e demais registros que resguardem – ou resgatem – sua história, a qual, vale lembrar, é sua própria “identidade”. Consciente disso, O Progresso decidiu novamente aproveitar o momento festivo para apresentar novo trabalho com o objetivo de torná-lo mais uma fonte de informações históricas. Desta vez, a opção é pautada por alguns dos mais significativos patrimônios, em especial, os prediais – ainda em pé, “tombados” positivamente, ou, literal e infelizmente, “tombados” em destroços. Com este mote, são registradas as origens desses patrimônios, cujo resultado final, mais uma vez, tem a pretensão de servir como um presente aos leitores e fonte para consultas futuras. Entretanto, considerando que inovar é sem-
pre necessário e bem-vindo, O Progresso buscou algo a mais, algo que diferenciasse esta das demais publicações especiais. Encontrou a (bela) solução no trabalho do artista plástico Mingo Jacob. Pela série de telas à óleo “Tatuí na Visão do Artista”, Mingo tem feito exatamente o que o jornal procura efetivar, embora utilizando-se não das palavras, mas de traço e cores. Por que não juntar, então, estas duas “visões” e propósitos análogos? A história da cidade seria lembrada em simultâneo a homenagem prestada a ela e ao reconhecimento e registro indelével de um trabalho artístico tão belo quanto oportuno, executado por Mingo Jacob. E, se pela visão do artista uma parte significativa do patrimônio tatuiano seria delineada por pinceis, melhor ainda se também fosse refletida pelas lentes de artistas fotógrafos, as quais, da película ao digital, poderiam acentuar as mudanças da Cidade Ternura. Assim, às imagens de Mingo foram acrescidos registros dos mesmos patrimônios a partir do que foi possível ser acessado do arquivo (sempre ele) do eternamente precioso e tatuianíssimo Erasmo Peixoto. E, em contraponto ao passado, o presente, em imagens atuais, colhidas por Giorge de Santi e sua visão não menos peculiar e artística. Alinhavando o que acabou por tornar-se uma verdadeira exposição em papel, há o contexto dos objetos reproduzidos, então por meio das reportagens, assinadas pelo jornalista Cristiano Mota. O resultado pode ser acompanhado – e admirado, pela arte dos tatuianos - neste novo especial, que tem como inspiração maior o carinho pela história, pela beleza e pelas peculiaridades da terra vermelha, nossa terra, cujo patrimônio excede em muito os edifícios, ainda sendo capaz de inspirar a arte e sensibilizar seus cidadãos de “cabeça boa” e legítimo “pé vermeio”.
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Giorge de Santi
Em série autoral, Mingo Jacob eterniza espaços e aprimora arte
De ontem e de hoje Rico em cores e história, maior trabalho autoral de Mingo Jacob preserva cidade para novas gerações A década de 80 marcou a chegada de várias novidades aos tatuianos. Algumas boas, outras nem tanto. Em 27 de janeiro de 1980, a cidade aguardava a conclusão do projeto de instalação da torre retransmissora de sinais de TV, no Morro do Ipanema, e preparava-se para fazer os primeiros “testes de campo”. Três anos mais tarde, as Irmãs da Providência anunciavam a saída da Santa Casa – elas atuaram na administração e no atendimento a pacientes por décadas. Em comunicado publicado na edição do dia 13 de março de 1983, em O Progresso, a madre superiora Esperança Moretti despediu-se do hospital com um “Deus lhe pague”. Em meio a tantas mudanças, Domingos Jacob Filho, o Mingo Jacob, vivencia-
va sua própria transformação. Ele registrava os primeiros traços de um trabalho que ultrapassa os 30 anos, é rico em cores e detalhes e uma relíquia, do ponto de vista histórico. Denominado “Tatuí na Visão do Artista”, o conjunto de obras tem paisagens locais como tema. O trabalho incluiu telas com motivos urbanos (praças, prédios públicos, periferia da cidade e feiras) e rurais (cenas de riachos, rebanhos, fazendas e casas de campo), retratando espaços comuns aos tatuianos. Locais que ainda persistem em existir e outros que “já sumiram do mapa”. Representa, nesse contexto, um ponto de referência para as novas gerações. “Eu já pintei inúmeros lugares desde o começo da minha carreira. Um dos primeiros, uma fonte (de
água) luminosa muito bonita, não existe mais. Ela ficava na frente da Câmara Municipal, entre o Legislativo e o paço”, recorda. Os primeiros resultados instigaram o artista, que passou a se dedicar ao aprimoramento técnico e à busca por novas paisagens tatuianas. “O meu foco não é exclusivamente Tatuí, mas pintar a cidade é uma forma de homenageá-la”, declara. Com o passar do tempo, Mingo começou a colecionar trabalhos – todos com temática semelhante. As telas e quadros dele já ganharam o mundo (enfeitando paredes em outros países) e percorrem, praticamente, os quatro cantos do Brasil. Os locais retratados também são plurais. Exemplo é o famoso monte Fuji, situado no Japão, quadro produzido a par-
tir de encomenda feita por uma cliente. A maioria das telas pintadas por ele, porém, tem algo em comum: são paisagens. As inspirações vêm de diferentes momentos e dos mais variados lugares. “Não preciso ir muito longe. Às vezes, quando estou na estrada e vejo uma paisagem que me fascina, começo a pensar num recorte para uma nova tela”. A simbiose com a cidade surgiu antes da primeira tentativa de uma exposição coletiva de artistas em homenagem a Tatuí. Também na década de 80, os pintores locais reuniram-se para tentar realizar uma mostra voltada ao município. “Houve uma primeira tentativa, mas ela não vingou e não tinha esse nome (‘Tatuí na Visão do Artista’)”, conta Mingo.
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A proposta havia sido apresentada por personalidades que abriram as portas – e que merecem ser lembradas – para as artes plásticas. Cogitaram o evento: Jaime Pinheiro, o professor Josué Fernandes Pires (já falecido) e Ivan Gonçalves. Na época, Mingo trabalhava com o artista plástico e cenógrafo Pinheiro. “Fizemos uma exposição muito em cima da hora. Eu me lembro de que, na ocasião, eu só fazia desenhos”, conta. O trabalho com “silk screen” e o convívio com Pinheiro renderam ao artista conhecimentos que até a atualidade ele faz questão de colocar em prática. Por conta da experiência, Mingo aprimorou os traços, mesmo com a não continuidade da exposição coletiva para homenagear a “Capital da Música”. “Aí, o tempo foi passando”, lembra ele, que voltou a expor um bom período depois, como parte da programação da “Semana Paulo Setúbal” e a convite de Jorge Rizek. “Como houve muitas homenagens musicais, principalmente literárias, as artes plásticas também não poderiam ficar de fora”, cita. Concomitante a isso, a cidade voltou a ver suas origens, por meio de exposições organizadas com as fotografias de Erasmo Peixoto. “Aí, as ideias clarearam”, afirma Mingo. Tendo como base a mostra, os artistas retomaram a proposta de prestar homenagem ao município. “Quando a fotografia, que não deixa de ser arte visual, começou a entrar, os artistas pensaram que aquela seria a hora de tentar fazer algo fixo, de tal forma que crescesse. E foi o que aconteceu”, conta o artista. Lançada com o nome “Tatuí Ontem e Hoje na Visão do Artista”, a exposição teve primeira edição durante as comemorações de aniversário do município – sendo atualmente conhecida como “Tatuí na Visão do Artista” – nome do trabalho solo de Mingo.
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Na ocasião, os expositores ainda não estavam organizados. “Nesse tempo, não havia Amart (Associação dos Artistas Plásticos de Tatuí e Região). Então, era meio difícil conseguir quem se propusesse a despender de tempo”, recorda. Com o surgimento da associação, a mostra solidificou-se. Ganhou “cadeira cativa” na programação de aniversário da cidade, e Mingo aumentou o portfólio. “A essa altura, eu já tinha uma coleção de telas, mas passei a produzir em maior quantidade, especialmente para a exposição”, recorda-se. Tendo como ponto de partida as fotografias de Erasmo Peixoto, os artistas passaram a produzir trabalhos de locais bastante conhecidos dos tatuianos, como a Praça da Matriz, a Igreja Matriz (atual Paróquia Santuário Nossa Senhora da Conceição), a Casa de Cultura “Paulo Setúbal” (atual museu), o Conservatório e outros. Os trabalhos ficaram expostos no então Centro Cultural “Jornalista Vicente Ortiz de Camargo”, que funcionava na rua Stélio Machado Loureiro, no bairro 400. De lá, passaram à sede da Amart. “Fomos abrindo um leque e não ficamos somente nas fotos e em prédios”, relata Mingo. Os artistas ganharam autonomia para expor sobre qualquer tema relacionado ao município. Abriu-se, também, uma porta para a arte contemporânea. Com isso, as telas começaram a dividir espaço com instalações. “Não ficou mais fixo. Entraram todos os tipos de artes visuais. Ficou mais democrático”, avalia Mingo. A despeito disso, Mingo preferiu continuar no trabalho “mais figurativo”, ampliando as pesquisas sobre a temática e melhorando a técnica. Ainda que despretensiosamente, o trabalho dele tem outros contornos. É um registro histórico de espaços que fo-
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Coletânea de trabalhos do pintor contém visão intimista e colorida
ram sendo modificados, por conta da ação do tempo, da inércia dos responsáveis, ou do próprio desenvolvimento. Também pode ser citado como exemplo de abnegação. Em 2009, a mostra “Tatuí na Visão do Artista” não pôde ser realizada. O surto de gripe H1N1 (suína) fez com que as celebrações dos 183 anos de Tatuí fossem suspensas. “Não era proibido, mas pedia-se para evitar aglomerações de pessoas. Daí, optamos por fazer a exposição no ano seguinte, alternando os locais”, relata Mingo. Sediaram a mostra: o atual Centro Cultural Municipal, na praça Martinho Guedes, 12, e a Amart, na rua Professor Francisco Pereira de Almeida, 303. Em 2012, a exposição aconteceu de maneira inusitada. “Alguns artistas tiveram dificuldades em tempo de produção. Foi então que eu resolvi fazer algo individual”, conta Mingo. “Passei seis meses pintando”. O resultado veio com 21 óleos sobre tela inéditos. “Todos os quadros eram novos”, conta Mingo, que pintou aos sábados, domingos e feriados. “Eu estava empenhado, porque a minha primeira ideia era fazer algo sozinho, mas, como sozinho era difícil, apareceram os outros artistas”. A exposição do ano passado trouxe os principais monumentos de Tatuí e ambientes rurais, apresentando nuances novas a locais conhecidos. Um dos pontos “renovados” pela visão do artista foi a Praça da Matriz. “Eu a pintei num dia chuvoso. Para ser mais diferente, fiz a tela a partir de uma foto noturna”. Com um novo olhar sobre os espaços, Mingo aumenta as possibilidades do trabalho. Ao mesmo tempo, as telas produzidas por ele mostram as mudanças sofridas pelos locais ao longo dos anos. “Procuro ser criativo, sem ser previsível, e apresentar um novo aspecto sobre a cidade”.
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Impressões de uma vida
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Desde o início da carreira, Mingo sempre prezou pelas raízes, seja retratando os hábitos caipiras em tela – em muitas delas –, ou mantendo o estilo artístico. “Para ser mais preciso, sou impressionista, sem ser fotográfico”, conta. Por esse motivo, ele procura retratar as paisagens de modo que os traços possam ser reconhecidos por quem está apreciando a tela. “No trabalho dos primeiros impressionistas, não se podia enxergar pinceladas. Eles faziam uma pintura mais realista. Mas eu pinto de uma forma diferente”. Ao longo dos anos, ele aprimorou a técnica da pintura, em especial com relação ao trabalho com as cores. Um curso feito em São Paulo, na Associação Paulista de Belas Artes, com Carmelo Gentil, direcionou-o para a troca de paleta. “Todo pintor iniciante - assim como eu era - e os amadores começam comprando tudo quanto é cor de tinta. Os fabricantes as fazem para vender. Mas, com o tempo, fui estudando e aprendi a pintar com as sete cores do arco-íris”, conta. Atualmente, o artista usa um disco, no qual mistura as cores complementares com o branco, para obter “todas as cores possíveis no universo”. O aperfeiçoamento fez com que o artista ampliasse as possibilidades de trabalho e, com isso, o número de telas produzidas como homenagem ao município. A formação da “coletânea”, entretanto, aconteceu de modo não intencional. “Eu não tinha muito a ideia do que isso poderia se transformar, mas, hoje, ele é o maior trabalho autoral que eu tenho. Tenho pintado muito, feito muitas encomendas, mas de telas que não são da minha linha de pesquisa”. Talvez o vínculo com a cidade (Mingo é tatuiano do “pé vermeio”) seja uma das razões que fazem com que ele não pare de prestar homenagens a Tatuí. A linha paisagística também contribuiu, em muito, para que ele aumentasse o acervo de telas que contam – e recontam – a história do município. As cores de Tatuí também influenciam o artista. Mingo tem mais identificação com as tonalidades de vermelho da terra de Nossa Senhora del Papolo – e demais santos – do que com a escala de cinza dos prédios atuais. “As pessoas quase não vêm pinturas minhas com cores mais neutras, ou cla-
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A pedido, Mingo criou telas exclusivas para ilustrar o ‘especial’
ras. Para mim, o mais bonito é o contraste da terra com as matas (verdes)”, explica. Além de belo, o trabalho artístico de quase uma vida é referência para os mais jovens. Não bastasse isso, ele serviu de ponto de partida para o especial preparado por O Progresso. Por conta da edição deste material, Mingo produziu mais três quadros inéditos, sendo um do Lar São Vicente de Paulo, outro da Santa Casa e o terceiro do Mercado Municipal “Nilzo Vanni”. Com autorização do artista, as três telas – e as demais que retratam prédios históricos da cidade – são publicadas ao longo das próximas páginas. Junto com as reproduções, estão textos que recontam a construção dos monumentos e imagens tiradas, também exclusivamente, pelo fotógrafo Giorge de Santi.
“É um desafio, e eu gosto de desafios. É algo que me move”, diz o artista. Para produzir os quadros em tempo recorde (pouco mais de uma semana), Mingo conta com a ajuda de uma máquina fotográfica digital. Bem diferente de quando começou a carreira. Na década de 80, ele começava a produção a partir de um desenho. Em alguns casos, fazia a pintura ao ar livre, no próprio local. “A tecnologia ajudou bastante, mas eu considero a foto somente como uma referência”, sustenta. Referência que está presente neste especial, assim como a figura da Igreja Católica na arquitetura das cidades pelo Brasil afora. A influência dos cristãos, pelo menos em Tatuí, é visível – e bem visível – no que é considerado o primeiro marco do município, a capela de São João do Bemfica.
As Irmãs da Providência agradecem A decisão tomada pela Congregação, de deixarmos a Santa Casa local, foi por nós, as Irmãs que nela trabalhamos, acatada com muito respeito, porém, não nos deixou insensíveis neste momento em que isto está se realizando. A separação daquilo que, verdadeiramente amamos, nos faz sofrer muito, mas sabemos que Deus nos dará forças para enfrentarmos esta realidade, pois somos membros da Congregação, e como tais, a nossa união à mesma, deve ser profunda e amorosa. Aqui estamos, portanto, com sincera gratidão, apresentamos os nossos agradecimentos ao Sr. Miguel Iazetti, dinâmico Provedor da Santa Casa, aos dignos membros da Diretoria, aos Ilmos. Srs. Médicos, por tudo o que recebemos; a todos os funcionários o nosso reconhecimento. Todos, durante os anos que aqui trabalhamos, nos ajudaram a prestar os nossos trabalhos de atendimento aos doentes e também o nosso apostolado e nos deram o seu valioso apoio, através de sua compreensão. Ao Exmo. Revmo. Dom José Melhado, ao Revmo. Cônego Teotônio, ao Padre José Pássaro e Padre Afonso, agradecemos por tudo o que nos procuraram fazer-nos, para dar-nos o seu apoio moral e espiritual. Desejamos que o nosso agradecimento se estenda a todos aqueles que tivemos a felicidade de conhecer, e que passando por nosso caminho deixaram a fragrância de sua bondade e amor. Queridos amigos e benfeitores de Tatuí, deixamos a todos o nosso abraço, o nosso “Deus lhes Pague” e a certeza de nossas preces, pela felicidade de cada um. Tatuí, 07 de março de 1983. Irmã Esperança Moretti superiora
Bemfica: onde tudo começou A influência católica no nascimento do povoado e a construção do primeiro marco histórico da cidade de múltiplos adjetivos A influência da Igreja Católica no mundo é inegável. Das Cruzadas – expedições medievais realizadas em nome de Deus – até o financiamento de navegações com a finalidade de ampliar os domínios de reinados, muitas mudanças ocorreram em função da intervenção (ou apoio) dos responsáveis pela denominação. Em Tatuí, a exemplo de incontáveis localidades, a presença religiosa é forte. Seja em quadros como os pintados por Domingos Jacob Filho, o Mingo Jacob, seja em edificações que até a atualidade primam pela beleza.
A arquitetura, porém, esconde fatos que nem sempre estão ao alcance da visão. Muitas estão esquecidas e são, aos poucos, recontadas com dados controversos. A construção da capela de São João do Bemfica é exemplo: mesmo com a facilidade atual de pesquisa, resgatar sua história pode tornar-se um desafio. Datas e personalidades são citadas de maneira desencontrada em registros, razão pela qual serão constadas com ressalvas neste especial. O que se sabe pelos trabalhos de pesquisas produzidos e já publicados sobre
a capela é que o prédio atual data de 1926. A construção aconteceu a partir de extensa campanha realizada por conta das comemorações do centenário de Tatuí. A iniciativa partiu de Lino Del Fiol, conforme publicado por O Progresso na edição do dia 13 de junho daquele mesmo ano. Personalidade influente à época, ele é lembrado pelo nome que dá a uma rua do bairro Valinho. Na ocasião, Del Fiol iniciou o desafio de “levantar uma nova capela” sobre a cruz do antigo cemitério de São João do Bemfica. O trabalho terminou em
tempo recorde. Com apoio da sociedade da época, o novo templo teve conclusão em 12 de agosto. A inauguração aconteceu às 10h do mesmo dia, em evento que integrou a programação do centenário do município, uma das mais extensas da história. Na data, houve “condução processional da imagem de Nossa Senhora da Conceição pelas ruas da cidade”, celebração de missa na Igreja Matriz, festa em homenagem a São Roque e o encerramento da “Feira Industrial e Commercial”.
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16 cartas de lei, 215 alvarás, 722 decretos e 183 cartas régias. Entre elas, a que contribuiu – por assim dizer – para o que viria a ser Tatuí dos múltiplos adjetivos (Capital da Música e do Doce Caseiro e Cidade Ternura) e seus prédios históricos como os conhecemos. Conforme registros do livro “Diccionario Geographico, Historico e Descriptivo, do Imperio do Brazil”, publicado em 1845 e escriIgreja teve reconstrução realizada por voluntários no ano de 1926 to pelo historiador Capela atual do Bemfica teve construção em centenário de Tatuí e dicionarista francês J. C. R. Milliet de Saint-Adolphe, Auo príncipe regente do Brasil emitiu, em 1817, uma “ortoridades da época também contridem régia” proibindo toda espécie de prática agrícola buíram – em muito – para a conclusão da obra. A Cânas terras doadas à Real Fábrica de Ferro de Ipanemara Municipal, por exemplo, cedeu “gratuitamente ma. todo o material necessário”, tendo os nomes de VicenPela mesma ordem, também determinava a proite Orsi, Antonio de Medeiros, José Pilon, José Euzébição de “todo o gênero de negócios, e de corte de bio de Camargo, Campos & Holtz, Domingos Loretti madeiras”. A justificativa era que as madeiras devee Avelino Sellas sido lembrados como “grandes contririam ser exclusivamente destinadas a alimentar as buintes”. fornalhas da “dita fábrica”. Também por determinação da Câmara, houve Integrante de inúmeros estudos sobre a região e o “conserto” da estrada entre Tatuí e Boituva e o envio, passado de São Paulo, a indústria tem citadas diversas à cidade, de trens especiais para a condução de romeidatas de fundação. A “Revista Histórica”, veículo eleros. Por conta do centenário, os vereadores solicitatrônico do arquivo público do Estado de São Paulo, ram à inspetoria da Estrada de Ferro Sorocabana a aponta, em artigo publicado em fevereiro de 2011, que vinda de mais locomotivas para atender aos passageia primeira siderúrgica da América Latina teve criação ros. em 1765. A contribuição mais importante, porém, partiu Já pesquisa feita por Helio José Magnani “e oudos irmãos João Luciano de Freitas e Theotonio Lutros”, sobre a história de Araçoiaba da Serra, cita que ciano de Freitas. Eles ofereceram à comissão encarrea fábrica teria “nascido em 1589”, com a construção de gada das festas do centenário o terreno necessário para um forno rústico feito por dois bandeirantes (pai e fia construção da capela. lho), que tinham o mesmo nome: Afonso Sardinha. Chamada de o “patrimônio do padroeiro” em alEles teriam se instalado às margens do ribeirão do guns dos artigos publicados em 1926, a capela surgiu Ipanema, no “sopé da Serra de Araçoiaba”, tendo acrecomo novo ponto de referência para a história da funditado que haviam encontrado ouro. Nas escavações, dação da cidade. A anterior havia sido construída num porém, pai e filho teriam descoberto “grande quantiperíodo em que a região onde ela estava pertencia aos dade de minério de ferro”. frades carmelitas de Itu (entre 1810 e 1820). Fato é que a fábrica precisava de grande quantidade Recontada por diversas vezes – e dos mais variados de madeira. Em 1810, a matéria-prima que alimentava modos (em livros, pesquisas, teses e outros) –, a históas caldeiras era, também, consumida por quem vivia ria do povoado que deu origem a Tatuí e, por consequnaquela região. Isso resultou na “expulsão” dos habiência, da primeira paróquia das “bandas de cá” é cheia tantes que não serviam à unidade fabril, em 1817. de lacunas. Algumas delas preenchidas com datas diPuderam permanecer na região os trabalhadores da vergentes, mas que têm, em comum, a Real Fábrica de fábrica de ferro. Os demais habitantes - produtores Ferro de Ipanema e a Igreja Católica. agrícolas - deixaram o povoado. A maior parte, conSão João do Bemfica teria sido instalada em Tatuí a forme relata Adolphe, agregou-se “aos primeiros popartir de uma sucessão de fatos. Eles remontam ao voadores de Tatuhú”. Brasil Colônia, governado por dom João VI por meio Desse ponto em diante, outras divergências aparede atos normativos. cem com relação à construção da primeira capela de A título de curiosidade, entre 1808 e 1822, época São João do Bemfica, que faz parte da história da “Cado primeiro período de governo (Reino Unido de Porpital da Música”. Há desencontros nas datas (1818 ou tugal e Brasil), o príncipe regente expediu 1.146 docu1820) e nas denominações de território eclesiástico em mentos. Os dados são do “Arquivo de Ordenamento pelo menos dois documentos. Jurídico” do governo federal. Arquivo da biblioteca do IBGE (Instituto BrasileiDurante esse período, dom João VI editou dez leis, ro de Geografia e Estatística) aponta que o povoado
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surgido no entorno da fábrica de ferro seria o de Nossa Senhora Del Papolo. Menção diferente é feita no trabalho de Magnani “e outros”. Conforme os autores, em 19 de agosto de 1817 (ano em que teria decretado a saída dos não funcionários da região da fábrica), dom João VI havia criado, por “alvará régio”, a paróquia de São João Batista do Ipanema. Ela teria permanecido anexa a Sorocaba por quase quatro anos, até 11 de fevereiro de 1821. A criação da paróquia, entretanto, teria sido decretada em “período inconveniente”. Como não era permitido o corte de madeira, nem construção no terreno da fábrica, habitantes do local haviam solicitado a transferência dela ao bispo de São Paulo, dom Mateus de Abreu Pereira (1795-1824). O nome dele consta no estudo sobre a história de Araçoiaba da Serra, contrariando os registros já publicados em Tatuí – exceto no livro “Memórias de Tatuí”, de Renato Ferreira de Camargo. Até então, o que havia sido “contado” sobre a instituição da primeira paróquia local era de que a transferência teria sido autorizada por dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, no ano de 1818. Entretanto, a própria biografia do religioso (natural de Quinta Grande, em Portugal) desdiz a informação. Dom Andrade assumiu a diocese de São Paulo em 23 de dezembro de 1827, pouco mais de um ano depois de ter sido eleito. Ele substituiu dom Pereira, também português, que ficou entre 1975 e 1824. Os dados constam no “dicionário corográfico”, da Câmara de Lobos, um dos 11 “concelhos” em que se encontra administrativamente dividido o arquipélago da Madeira. O dicionário pode ser acessado na “página privada”, elaborada por Manuel Pedro Freitas, pelo endereço: www.concelhodecamaradelobos.com. Ainda em 1817, ao tomar conhecimento do alvará régio, o tenente-coronel Frederico Luiz Guilherme de Varnhagem havia representado contra a instalação da paróquia. Dom João VI, no entanto, mandou conservá-la no local que havia sido determinado anteriormente, na data de 22 de fevereiro de 1820. Quase um ano depois, em 20 de fevereiro de 1821, o padre Gaspar Antonio Malheiros tomou posse como primeiro vigário da paróquia. Naquele mesmo ano, os moradores da região da fábrica voltaram a solicitar ao bispo Pereira a mudança do local eclesiástico para o povoado de Tatuhú. Dom Pereira teria concedido a licença de autorização em 1823, sendo que, em 10 de abril daquele ano, o padre e o administrador da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, Rufino José Felizardo Costa, teriam partido para os campos de Tatuí. Os dois escolheram o local para a construção da capela. Entretanto, discordâncias entre os habitantes de outros povoados, além da falta de recursos, teriam feito com que o padre e o administrador desistissem da mudança. “Alguns descontentes com o retorno resolveram permanecer no local. Talvez por esse fato, fundou-se ali a capela de São João do Bemfica (como protesto à mudança: Bem fica aqui)”, destaca o estudo de Magnani e “outros”. O último registro da capela original “nos campos de Tatuí” é de 1907, quando havia conhecimento somente da cruz na área pertencente ao “velho cemitério”. Com o tempo, o povoado também desapareceu. Muitos dos antigos moradores, por conta da elevação da sesmaria, se mudaram para a atual cidade.
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Uma guarda para São João
Como é de conhecimento geral, Tatuí advém do desmembramento da “sesmaria do paiol” (em 10 de agosto de 1826), terra que pertencia aos frades do Convento do Carmo, de Itu. Como os religiosos não a utilizavam, eles arrendaram-na aos sertanejos Antonio Xavier de Freitas e Jeronymo Xavier de Freitas. A área compreendia “campos e matas situados à margem esquerda do rio Tatuí e uma e outra margens do ribeirão da cidade atual (Manduca)”, como consta em edição histórica publicada por O Progresso e produzida com a colaboração de intelectuais da época. Com o falecimento de Jeronymo, parte da área passou para Francisco Pinto de Campos (Chico Luciano). A ou-
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tra parte foi subdividida. O nome do bairro está ligado a uma guarda (barreira) instalada com objetivo de fiscalizar as guias de tropas que entravam na província de São Paulo por Itararé, com destino a Sorocaba. A “guardinha” facilitava o controle da entrada e saída das tropas e servia apenas para não deixar que elas desviassem o trajeto sem pagar impostos. Por muitos anos, ela guardou a cruz da capela original, vestígio do futuro povoado de Tatuí. Para os esforços da construção da capela atual, Lino Del Fiol contou com a colaboração de Vicente de Oliveira. Os dois receberam menções sobre o “esforço despendido”. Dedicação esta que é verificada na edificação de outras tantas igrejas do município, como a capela que viria dar origem à Igreja Matriz.
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Igreja abrigou primeira paróquia do município, autorizada em 1818
Dicionário geográfico Os trechos sobre a história de Tatuí retirados do “Diccionario Geographico, Historico e Descriptivo do Imperio do Brazil” constam nas páginas 695 e 696. Escrito em francês e traduzido para o português, o livro aborda a “origem e a história de cada província, cidade, vila e aldeia” da época de sua produção. O dicionário faz parte do acervo da biblioteca da Universidade de Caxias do Sul e integra a coleção especial de Laudelino Teixeira de Medeiros. A obra original incluiu um mapa geral do país e de cinco planos das cidades e principais portos. Com 794 páginas, ela teve tradução em português feita por Caetano Lopes de Moura (1780-1860), com “numerosas observações e adições” aos manuscritos de J. C. R. Milliet de Saint-Adolphe.
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Um prédio e muitos segredos Realizada por etapas, construção da Igreja Matriz somou esforços de personalidades e religiosos e é marco arquitetônico A Igreja Matriz, atual Paróquia Santuário Nossa Senhora da Conceição, data de 9 de agosto de 1884. Este é o dia apontado por registros históricos como o da instalação da pedra fundamental do templo que, até os dias atuais, guarda segredos. Dentre eles, a existência do primeiro livro tombo. O mais antigo caderno paroquial da Matriz de que se tem notícia, encontrado nos arquivos da paróquia, tem a assinatura do primeiro bispo da diocese de Botucatu, dom Lúcio Antunes de Souza. Escrito à mão, ele contém em registros praticamente todas as mudanças pelas quais o prédio atual passou. Isso desde o dia 6 de fevereiro de 1919. A paróquia, porém, é bem anterior, podendo ser possível estabelecer uma linha de pensamento para a construção da igreja, já que as fontes oficiais são escassas. A história conta que Tatuí teve a primeira paróquia em 1818, a de São João do Bemfica. Onze anos depois, os religiosos da cidade receberam autorização para a edificação de uma nova igreja. Até então, a cidade contava apenas com a capela do Bemfica. Conforme constado em pesquisa de Maria Lúcia Quevedo, o então bispo de São Paulo, Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, havia passado a provisão para que se pudesse “fundar, erigir e edificar” a Matriz, no dia 11 de novembro de 1829. A construção, sob “a invocação de Nossa Senhora da Conceição”, teria recebido bênçãos dois meses antes, dia 7 de setembro do mesmo ano. “Foi, então, aqui, construída uma capelinha”, consta a pesquisa, publicada em dois volumes. A igreja que antecedeu à Matriz havia sido erguida com telhas de indaiá. Ela fazia frente com uma casa que ficava na área onde atualmente está instalado o banco Itaú. O imóvel havia abrigado, antes da agência, o Cine Teatro São Martinho. Também de acordo com a obra, a “capelinha” ficou sob a provisão do padre Manoel Teixeira de Almeida. Ele assumiu a paróquia em 1º de fevereiro de 1829, permanecendo até 6 de fevereiro de 1831. Padre Almeida era coadjutor de Itapetininga e, com a transferência para Tatuí, tornou-se o terceiro pároco do município, conforme o primeiro livro tombo da Matriz. Antes dele, a paróquia esteve a cargo de Francisco Fernandes Novaes Magalhães. O vigário assumiu em 7 de setembro de 1823 e saiu em 2 de novembro de 1830. Anacleto Dias Batista, o primeiro padre de Tatuí, tomou frente em
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4 de janeiro de 1822, permanecendo até 4 de dezembro do mesmo ano. Três dias antes de deixar o “comando da capelinha”, ele realizou o primeiro batizado da cidade de que se tem registro. O rito aconteceu no dia 1º de dezembro daquele ano. Segundo a pesquisa de Maria Lúcia, a criança batizada chamava-se Antônio. O menino era filho do casal Joaquim Rodrigues Leite e Maria Custodia. Da transferência de uma paróquia para a outra (de São João do Bemfica para a Nossa Senhora da Conceição), pouco se sabe – ou se permite acesso. Recortes da história são encontrados em O Progresso, como em edição de agosto de 1922, na qual se noticiavam os “38 anos de existência da Matriz”. O texto recontava como havia sido parte da cerimônia de instalação da pedra fundamental da igreja. Durante a solenidade, depositaram-se, “dentro da cavidade da pedra”, exemplares de diversos jornais da época. São citados: “O Correio Paulistano”, “A Província de São Paulo”, “Diário Mercantil”, “Gazeta Literal”, “Diário de São Paulo”, “Gazeta do Povo” e “Diário de Sorocaba”. Estão incluídos na lista, ainda, o número 212 de “O Thabor”, o 27 de “O Apóstolo” e o número 321 de o “Progresso de Tatuhy”, com data de 2 de agosto de 1886 daquele ano. Na sequência, houve
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discursos dos “doutores” Julio Xavier Ferreira e Luiz Augusto Ferreira e o depósito de diversas moedas em circulação. Na edição especial do centenário de Tatuí, produzida por O Progresso no ano de 1926, a Matriz é descrita como um edifício “vasto e suntuoso”. Segundo arquivos do jornal, para a construção da igreja, gastaram-se 550 mil tijolos. Os blocos haviam sido comprados “em diversas olarias da cidade”, obtidos por meio de doações e retirados da igreja velha demolida, a “capelinha” erguida numa das extremidades da atual Praça da Matriz. Inicialmente, ela se chamou Coronel Fernando Prestes e, depois, ficou conhecida como Largo da Matriz. A construção exigiu 355 carradas (carga de um carro) de pedra e 8.000 sacas de cal. Em 1926, a Matriz já estava pintada, possuía duas torres de 30 metros de altura aproximadamente, do solo até as pontas das cruzes. Por precaução, instalaram-se para-raios próximos às torres, que tiveram altura medida com instrumentos da época. “Pode haver diferença”, cita o texto de O Progresso. Outras medidas do prédio, descritas no texto, dão uma noção da imponência do templo religioso, o primeiro com grandes proporções a que se tem notícia. A base da fresta do sino “grande” ao solo tinha 17,80 metros de altura, segun-
do as medições da época; a parede do frontispício (fachada da igreja), 1,15 metro; e as laterais do templo, 0,80 metro de largura. Nestas, havia cinco respiradouros “que davam ar para as varandas inferiores” e seis janelas. A construção original trazia condutores de luz para as escadas e cinco janelas com vistas para o largo (atual praça), três portas na frente, duas no lado e duas nos fundos. Também na frente da igreja, encontrava-se o adro (terreno) e uma “ligeira escada” feita com tijolos. Na época, ela possuía três degraus. Na descrição da igreja, ainda no ano de 1926, o jornal destaca a porta principal. “Toda almofadada, ela mede 2,30 metros de largura e abre-se sobre gonzos (dobradiças) de ferro batido”. Símbolo da devoção católica e com porte de catedral, a Matriz tinha capacidade para abrigar 2.500 pessoas. Tinha “varandas superiores” apoiadas sobre pilares quadrangulares e distanciados 3,40 metros uns dos outros. O coro, com 6,20 metros de largura, foi construído sobre a parede da frente, contando com três arcadas internas. O forro central fora feito de madeira, em formato descrito como de “meia laranja, assentando-se sobre os muros internos”. Grades de madeira “torneadas e envernizadas” também guarneciam as va-
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randas, o coro e o centro da igreja. “A arquitetura do edifício representa a singeleza rude de um templo construído para vencer as intempéries e transpor alguns séculos”, escreveu José Ortiz de Camargo, no ano do centenário de Tatuí. Na década da publicação, o município passava por um período de transformações. Ganhava novas ruas, tinha serviços ampliados e a “estrutura católica” modificada. Em 1924, Tatuí passou a integrar a diocese de Sorocaba. A mudança aconteceu a partir da autorização do papa Pio 11. O primeiro livro tombo da Matriz aponta o dia 4 de julho daquele ano como data de fundação. Já informações disponibilizadas pela Igreja Católica na internet (http://www. arquidiocesesorocaba.org.br) citam que a criação aconteceu em 7 de abril de 1924. Em uma dessas duas datas, o Santo Padre promulgou a “bulla penssular”, desmembrando Tatuí e outras 28 paróquias “ao sul do Estado de São Paulo” da diocese de Botucatu. Dados obtidos junto à Igreja Matriz, no entanto, apontam 28 paróquias na nova diocese. Eram elas: Sorocaba, Porto Feliz, Campo Largo (Araçoiaba da Serra), Piedade, Pilar, São Miguel Arcanjo, Sarapuí, Itapetininga, Tatuí, Cesário Lange, Bella-Vista de Tatuí (Porangaba), Bofete, Pereiras, Conchas, Guareí, Angatuba, Laranjal, Boi-
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tuva, Cerquilho, Tietê, Buri, Itaberá, Capão Bonito, Ituporanga, Bom Sucesso, Itararé, Tapira e Ribeirão Branco. O evento de instalação da diocese de Sorocaba aconteceu em 31 de dezembro de 1924. A solenidade ficou a cargo do cônego João Baptista Martins Ladeira, comissionado “ad hoc” encarregado pelo vigário Duarte Leopoldo e Silva. Dom Duarte era arcebispo de São Paulo e administrador apostólico, tendo nascido em Taubaté. Filho do português Bernardo Leopoldo e Silva e de Ana Rosa Marcondes Leopoldo, ele tornou-se o segundo bispo de Curitiba e o 13º bispo de São Paulo. Também ocupou o cargo de primeiro arcebispo da Arquidiocese de São Paulo. O primeiro bispo de Sorocaba teve nomeação por meio da “bulla comissium humilitati” emitida no mesmo dia da data de criação da nova diocese, como citado pelo primeiro livro tombo da Matriz Nossa Senhora da Conceição, de Tatuí. A missão “recaiu” sobre a pessoa do então cônego José Carlos de Aguirre. Nascido em Rio Claro, em 28 de abril de 1880, o novo bispo tinha 44 anos quando assumiu a posição. No período da nomeação, atuava na “parochia de Bragança”. O “primeiro pastor” da diocese sorocabana teve sagração episcopal reali-
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zada em Bragança, no dia 28 de dezembro de 1924. Dom Aguirre tomou posse em 1º de janeiro de 1925, em evento acompanhado pelo monsenhor Domingues Magaldi, enviado como representante da paróquia de Tatuí. De acordo com trabalhos publicados pelo historiador Renato Ferreira de Camargo (falecido em 20 de novembro do ano passado), a construção da Igreja Matriz teve como baluartes os coronéis Lúcio Seabra e Bento Pires e o cônego João Clímaco de Camargo – que viria a se tornar o 13º pároco da igreja. Apesar de não haver mais detalhes que os já conhecidos sobre a história do prédio, os livros tombos (pelo menos dois deles fazem parte dos arquivos da igreja) revelam preciosidades em “ordem cronológica”. São fatos narrados pelos 20 sacerdotes (sem contar os coadjutores) que passaram pela paróquia desde a fundação dela. Construída com porte de catedral, a igreja passou por diversas transformações ao longo dos anos. As mais significativas vieram a partir de 1926, com a provisão do novo vigário da cidade, ainda como nome grafado como Tatuhy. Desprovidos de pastor, os fieis do município conheceram o novo padre no dia 1º de janeiro de 1926, quando o “movimento espiritual era considerado
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um tanto quanto fraco – 120 crianças frequentavam o catecismo”. Joaquim Antônio do Canto comandou a paróquia por 14 anos, saindo em 31 de dezembro de 1940. Padre Canto, como é citado nos arquivos de O Progresso, promoveu uma verdadeira revolução na Matriz. A começar pela reforma dos altaCom porte de catedral, Matriz teve construção concluída em etapas res. No mesmo ano em que tociamou frente da ções únicas da paróquia, modestaparóquia, ele mente os localizei e reformei, tornandomesmo teve a iniciativa de recuperá-los. -os não à altura moral de Tatuí, mas mais “Encontrando os altares todos em limpos e melhor tratados”, escreveu. péssimas condições, com auxílio das asso-
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O esforço do pároco para recuperar o prestígio da igreja na cidade (e melhorar a Matriz) era tamanho que ele passou a se fazer mais representado em eventos fora do templo. Padre Canto participou ativamente da programação do centenário de Tatuí, mesmo tendo recém-chegado ao município. Nos festejos, esteve no edifício da Câmara Municipal para o evento de “inauguração do escudo de Tatuí”, em almoços e na inauguração da capela de Bemfica. Antes disso, participou da missa de inauguração do novo prédio da Santa Casa. O evento aconteceu às 15h do dia 3 de janeiro de 1926, com presença de outros dois religiosos: os cônegos João Corrêa de Carvalho e Domingos Magaldi. Em dezembro daquele ano, padre Canto iniciou campanha em prol da reforma da Matriz, que estava “em péssimas condições”. “O povo está bem disposto e espera-se completar boa quantia para ser dado o começo”, relatou o pároco. Um ano depois (em 4 de dezembro de 1927), houve a inauguração do relógio da igreja, obra que esconde curiosidade desnudada pelo padre no primeiro livro tombo da Matriz. Comprado em Piracicaba, na “Casa Júlio dos Santos”, o relógio ostentava três mostradores de porcelana e havia custado 7:780$000 réis (de acordo com a representação da moeda da época). A solenidade aconteceu às 12h, com presença do povo e autoridades. Reunida na frente da Matriz, a multidão deu vivas, levou flores e “saudou o primeiro relógio da torre” com música. Padre Canto fez discurso, entregando, de maneira simbólica, o relógio ao prefeito da época, Nicolau Sinisgalli. Na sequência, houve discursos do professor Pedro Voss Filho e do major Martiniano Soares. O primeiro discorreu sobre a unidade do relógio para a formação da disciplina do caráter; e o segundo congratulou-se com o povo pela conquista.
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O relógio inaugurado, porém, não precisaria ser comprado. Pelo que relatou o padre, deveria ser doado pela viúva de Mimiam de Campos. A oferta, porém, não aconteceu porque o padre era hostilizado toda vez que ia até a casa da viúva por “alguém sem fé, nem educação”. “Diante disso, o povo nobre de Tatuí comprou e pagou, e ali está o relógio com os seus três mostradores de porcelana luminosos”, consta o padre no livro de registros de atividades. No mesmo ano, as reformas continuaram, ampliando-se para as paredes laterais e os telhados. A partir da torre, a igreja teve agregados novos espaços, cheios de detalhes arquitetônicos do século 14. Entre eles, os afrescos, pintados, em boa parte, pelo artista piracicabano Mário Thomazzi. Já em 1928, iniciou-se campanha para a aquisição e colocação de ladrilhos (em mosaico) em todo o interior da igreja. Os pisos haviam sido comprados nas cidades de Sorocaba e Piracicaba, apesar de haver, em Tatuí, pelo menos uma olaria capaz de entregar material que estaria a contento do pároco. A instalação dos mosaicos terminou no início de 1929, sendo realizado “a bem da estética e da higiene”. O centro da igreja exibe os ladrilhos originais adquiridos em Piracicaba, enquanto que os das “naves laterais” foram comprados em Sorocaba. O custo para a igreja saiu a 9.500 réis o metro quadrado. Os tatuianos tiveram de doar, ainda, dinheiro para o pagamento do empreiteiro da obra, Dosilheu Parada, que cobrou 6.006 réis o metro quadrado. Para a instalação dos ladrilhos, foi necessário retirar o assoalho e as vigas e aterrar o solo. O assentamento dos ladrilhos deu-se sobre os tijolos. No total, a obra saiu por 15.506 réis, incluindo material e mão de obra. Entretanto, ela só aconteceu porque o pároco não havia aceitado o orçamento de uma olaria local.
“Ficou um trabalho ótimo e relativamente barato, pois, aqui em Tatuí, o único fabricante de ladrilho de mosaicos desejava vender material inferior a 18 mil réis”, escreveu o padre no primeiro livro tombo, consultado por O Progresso. Já ladrilhado, o interior da igreja ganhou novos espaços à medida que os anos foram se passando. Um dos primeiros, o altar de mármore dedicado a Nossa Senhora Aparecida, teve inauguração “com toda pompa” no dia 11 de maio de 1929. Fruto de campanha de arrecadação de fundos realizada pelo major Martiniano Soares, considerado “fervoroso católico”, o altar havia sido encomendado na “Casa Arte Monumental”, em São Paulo. A inauguração dele foi precedida de tríduo religioso, seguida de missa cantada e de uma procissão. Ainda em 1929, a igreja ganhou novas imagens, sendo uma de São José (medindo 1,20 metro de altura) e outra de Nossa Senhora das Dores (um metro). Doadas pelo professor Francisco Pereira de Almeida (Chico Pereira), elas ficaram instaladas em altares improvisados até ganharem os próprios. Daquele ano até os dias atuais, a Matriz passou por diversas transformações e recebeu donativos de incontáveis personalidades. Entre elas, Gladys Bernardes Minhoto, esposa de Laurindo Dias Minhotos – influente empresário e político da época. Por meio da Confraria do Coração de Maria, da qual era presidente, Gladys doou altar de mármore com “encrustrações” de bronze para o “Sagrado Coração de Maria”. O altar custou 20 contos de réis, sendo acompanhado por um vitral (que custou seis contos), fabricados na “Casa Garcia”, em São Paulo. A melhoria veio acompanhada de outra, uma escada de mármore na entrada da Capela do Santíssimo Sacramento de Jesus, cedida pelo Apostola-
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do Coração de Jesus, presidido por Anita Belarmini Orsi. A escada custou 750 mil réis. Pegando “carona” nas modificações, o padre Canto mandou construir uma “porta artística com vidro colorido” na entrada da sacristia. Em seguida, Joaquim Silvério de Almeida ofereceu uma imagem artística de São Joaquim. Modificações mais significativas aconteceram na capela-mor da Matriz. Ela media cinco metros de fundo, sendo considerada pequena pelo padre. Após obter autorização, o pároco mandou demolir a parede posterior, com fim de “aumentar a capela”. Contratou, para a empreitada, os “senhores Ângelo Carnielli e João Gonçalves”. Pagou, pela obra, a quantia de 12 contos de réis. O trabalho teve início em 16 de agosto de 1929, sendo concluído em 1930, com missa de meia-noite. A ampliação exigiu um novo “altar-mor” (de mármore), entregue em 2 de fevereiro de 1930, a partir de trabalho realizado pela Arquiconfraria do Coração de Maria. Ele custou 20 mil contos de réis, tendo sido instalado junto com um vitral, adquirido ao preço de 5.980 contos de réis. Ambos foram produzidos nas “Oficinas de Arte Monumental de Bestozzi e Cia.”, em São Paulo. Junto com o altar, a capela-mor recebeu novas melhorias, como a “rica decoração” e pintura executada por Thomazzi. Recomendado pela Companhia do Coração de Maria, ele também decorou outros espaços da Matriz, inaugurados no decorrer dos anos, cujos detalhes estão nas telas de Mingo Jacob. O conjunto das obras rendeu ao imóvel o título de patrimônio histórico municipal, tendo sido tombado por meio de decreto em junho de 2007. O documento tem a assinatura do então prefeito, Luiz Gonzaga Vieira de Camargo.
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Patrimônio municipal, Igreja Matriz mantém arquitetura de época
Agressão Seis anos depois de ter chegado a Tatuí, padre Joaquim Antonio do Canto protagonizou episódio pouco conhecido na história local e entre os religiosos. Na noite de 8 de dezembro de 1932, após as festas da padroeira (Nossa Senhora da Conceição), o vigário relatou que havia sofrido agressão. Quando se recolhia à casa paroquial, teria sido abordado por Laudelino Josias e Pedro Machado. Conforme relatos do padre, os dois teriam se aproximado dele, vindo de “uma rua mal iluminada”. Após duas perguntas, Josias – descrito como protestante – teria dado uma bofetada no vigário. O padre não revidou e, depois de passar um sermão nos dois, ofereceu o “outro lado da face”. Josias, então, teria pedido perdão ao pároco, que se recolheu aos aposentos. Ocorre que, na manhã do dia seguinte, 9 de dezembro, formou-se “verdadeira romaria” na frente da residência de padre Canto. A população havia tomado conhecimento do fato e caminhado até lá para prestar solidariedade. O manifesto de desagravo reuniu mais de 2.000 pessoas, entre homens e mulheres, que queriam cobrar explicações a respeito por conta do “ato covarde de agressão”. Padre Canto também recebeu apoio do tenente Amarilio de Souza Lima, mas agradeceu aos fieis e pediu que todos imitassem o gesto de Jesus Cristo que, antes de morrer, pediu que Deus perdoasse seus “algozes”.
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FÓRUM, CADEIA E MUSEU
Fogos, música e água Vinda de comarca resultou em herança que exalta o nome de “Paulo Setúbal” A notícia de que Tatuí seria sede de comarca, em 1877, alegrou os tatuianos que testemunhavam uma sucessão de conquistas da vila recém-elevada a cidade. A empolgação quando da divulgação da novidade repercutiu até mesmo em São Paulo, como mostram registros do extinto “Jornal da Tarde”, daquele ano. Na edição de 13 de outubro, o assunto ocupou espaço na publicação. O texto fora produzido com base em escritos enviados de “Tatuhy” (nome da cidade na grafia da época) para o diário da capital. “Foi um regozijo geral”, cita a nota. “De todos os pontos da cidade, subi-
ram grande número de foguetes. À noite, a cidade se iluminou e o povo percorreu as ruas com uma banda de música e foguetes”, destaca a notícia. Na ocasião, o povo saudou diversas autoridades. Para brindar a “boa-nova”, houve abundante distribuição de copo de água e “alguns discursos”. A população encerrou os festejos “quase às 23h”, extremamente tarde para a época. Os registros históricos do município apontam 26 de outubro de 1877 como o dia da instalação da comarca. Em setembro do mesmo ano, porém, houve publicação de editais de classificação, elevando
Tatuí, Lençóis Paulista, Pindamonhangaba e Jaú à primeira entrância. Por ocasião disso, estipulou-se o vencimento de 1:400$ (réis) para os promotores designados às respectivas cidades. No mesmo mês, o bacharel João Feliciano da Costa Ferreira obteve a remoção da comarca de Franca para a de Tatuí. A transferência foi feita a pedido do próprio bacharel, que chegou à cidade exatamente 30 anos depois de registros sobre o funcionamento de um “conselho municipal de recursos”. Até então, os casos que mereciam julgamento eram analisados por um grupo de pessoas. Um dos membros do
conselho, em 1847, era Gustavo Adolfo de Aguillar Pantoja. O cargo de juiz na época, segundo publicado no jornal “O Mercantil”, de 3 de agosto daquele ano, era ocupado pelo “senhor Belisário”. Passada a euforia da instalação da comarca, o Judiciário fixou-se em casa alugada. O imóvel abrigou, também, a primeira cadeia do município e situava-se no largo onde atualmente funciona o Mercado Municipal “Nilzo Vanni”. Da casa locada, que custava 4$000 (réis) por mês, a Justiça e a cadeia passaram para o “sobradinho do alferes Antonio José Lourenço”, conforme edição de 29 de maio de 1938 de O Progresso.
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Edifício teve projeto moderno: possuía rede de esgoto e de água
projeto incluiu obras de instalação de água e esgoto para a cadeia e o fórum, segundo ordens de pagamento publicadas no DOE (“Diário Oficial”) do Estado de São Paulo, de 23 de junho de 1920. A desvinculação da cadeia junto ao prédio aconteceu em 1973, com a inauguração do prédio atual – que está sob reforma. O evento realizado em dezembro daquele ano contou com presença do general e secretário estadual de Segurança Pública, Sérvulo Mota Lima, e de “altas autoridades municipais e estaduais”. À época, o prédio da delegacia e da cadeia tinha 690 metros quadrados de área construída. A edificação custou ao Estado Cr$ 682.047,36 e mantém, até agora, placa em nome de Anélio Bassoi, delegado de polícia falecido. A viúva dele, Neli Nunes Bassoi, filhos e parentes compareceram ao evento. Durante a solenidade, o prédio recebeu bênçãos do cônego Teotônio dos Reis e Cunha. Em seguida, houve discurso do então prefeito Paulo Ribeiro e do general Lima, que representou o governador do Estado, Laudo Natel. A mudança do fórum para o edifício “Alberto dos Santos” – que, atualmente, abriga anexo do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Cam-
pos” – aconteceu um pouco depois da transferência da cadeia. O imóvel, no entanto, sediou a Casa de Cultura “Paulo Setúbal” (fundada no ano de 1956) somente após o decreto 51.328, de 28 de janeiro de 1969. De acordo com estudos publicados pela professora e advogada Leila Sallum Menezes da Silva, em 1984, o documento transferiu para a então Secretaria da Cultura, Esportes e Turismo o prédio do fórum e da delegacia de polícia. Nessa época, Leila era responsável pelo expediente do espaço cultural. A ideia da Casa de Cultura surgiu em maio de 1937, a partir de Nilzo Vanni, que dá nome ao mercado municipal. O jovem estudante pensou nela durante aula de português do professor e poeta José Lannes, no então “Ginásio Estadual”. Conforme Leila, o educador havia feito um comentário sobre a recente morte de Paulo de Oliveira Leite Setúbal (dia 4 de maio daquele ano) e pedido um minuto de silêncio. Enquanto refletia, Vanni pensou que poderia reunir, em um museu, todos os pertences do poeta. A partir de então, passou a procurar apoio de autoridades, até que conseguiu o aval. Por mérito, ocupou o cargo de diretor da Casa de Cultura “Paulo Setúbal” em 1968.
O espaço teve fundação em 11 de agosto de 1956, iniciando suas atividades em prédio cedido pelo banco Sul Americano do Brasil - atualmente, banco Itaú. Funcionava a título precário, sem personalidade jurídica, mudando-se, mais tarde, para prédio de Tonico Ferreira, na rua 11 de Agosto. Em 2 de janeiro de 1957, a casa passou a existir juridicamente, pela lei 1.690. Dois anos depois, por conta do decreto 40.754, de 13 de setembro, a casa funcionou junto ao Conservatório. A mudança para o prédio atual aconteceu em 1969. O nome Casa de Cultura “Paulo Setúbal” foi designado, no entanto, só em 16 de março de 1979 – até então, o museu chamava-se Casa de Paulo Setúbal. Em 1984, ele possuía “1.500 peças distribuídas em várias salas”. Entre elas, a “Sala de Paulo Setúbal”, a da “História de Tatuí”, a de “Objetos Sacros”, de “Taxidermia” e a “Sala dos Pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira)”. Também contava com três salas de leitura, uma biblioteca com acervo doado pela família de Raul de Pollilo e um busto de bronze de Eça de Queiroz.
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Com o crescimento do volume de casos a serem julgados e dos condenados, o fórum e a cadeia passaram para um edifício construído na praça Martinho Guedes (atual praça da Santa). De acordo com o jornal, a obra havia sido feita a pedido do então deputado Antônio José Ferreira Braga (PRP). A ordem de construção na praça atual (Manoel Guedes) foi dada por Cândido Mota, a partir de recomendação do deputado Laurindo Dias Minhoto (PRP). Em 1922, ano da inauguração do prédio, o mesmo político anunciou a vinda de mobílias para o fórum e para “o gabinete do juiz de direito”. Para a tarefa, obteve apoio do também deputado Júlio Prestes de Albuquerque (PRP). Em 1938, o edifício recebeu mais melhoramentos. Em fevereiro daquele ano, teve as antigas passadeiras (uma espécie de avó dos esfregões e das enceradeiras) substituídas por novas. As peças eram “de desenho moderno” e permitiram que o “assoalho do prédio ficasse caprichosamente encerado”, cita texto publicado na edição do dia 13 daquele mês no jornal O Progresso. Para a época, o prédio que abrigou o fórum e a cadeia – e no qual atualmente está o Museu Histórico “Paulo Setúbal” – era considerado um dos mais modernos. O
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Em 1969, imóvel recebeu acervo em homenagem a Paulo Setúbal
PREFEITURA
Três prédios e algumas histórias Fatos remontados ajudam a contar trajetória da sede do Executivo Nem todos os patrimônios arquitetônicos de Tatuí permanecem para serem vistos. Do mesmo modo, ocorre com a história de fundação de prédios importantes, como o da Prefeitura. Este, além de não ser mais possível conhecer sob a forma de vestígios, tem escassa informação. O atual paço municipal – na avenida Cônego João Clímaco de Camargo (avenida das Mangueiras) – seria o ter-
ceiro na “ordem de sucessão”. Teve construção realizada na gestão do prefeito Olívio Junqueira (1977-1982). A inauguração da sede do Executivo, denominada edifício “Professora Carolina Ribeiro”, aconteceu 89 anos depois da posse do primeiro prefeito de Tatuí, Luiz de Oliveira Leite Setúbal –, que ocupou o cargo por apenas um ano, de 1891 a 1892. Pesquisadores locais divergem com relação à primeira sede da Prefeitura,
cogitando que os despachos feitos à pena aconteciam num imóvel situado na praça Martinho Guedes. Há vertentes que apontam a região do atual Mangueirão – o “arquivo morto” do Executivo fica lá, sendo considerado “intocável”. Bem mais conhecido é o segundo imóvel que abrigou a Prefeitura. Ele ficava em terreno onde, por anos, funcionou a Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito).
Até o ponto em que se sabe – de maneira informal – os prédios públicos (como a Câmara Municipal, o fórum e a cadeia e o Mercado Municipal, por exemplo) funcionavam em propriedades particulares alugadas. A data de ocupação do prédio situado na atual rua 15 de Novembro não é precisa. Aliás, nem divulgada por não ser conhecida. Os prédios da cidade na época, porém, eram poucos, uma vez
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para os animais (cavalos e muares). O anúncio tem o nome de José da Silva Leal no rodapé. Do funcionamento do Executivo no segundo imóvel até a transferência, o prédio teve Atualmente demolido, casarão abrigou Prefeitura até o ano de 1980 serviços agregados. q u e Em 1966, houve o anúncio da instalação Tatuí nem contava com tantas ruas. do subposto da DRT (Delegacia Regional Entretanto, já possuía hotéis. Em do Trabalho), de São Paulo, no mesmo 1870, bem antes de a cidade ter prefeito, endereço. anúncios de hospedaria eram comuns. O DRT passou a funcionar no dia Um deles é encontrado no jornal “Gazeta 25 de maio daquele ano, tendo solenidade Campinas”, na edição de 1º de maio. de de inauguração às 11h, com presença O exemplar consta no acervo da “Bibliodo então delegado regional do trabalho, teca Nacional Digital Brasil”, mantido Damiano Gullo, e de autoridades ligapela Fundação Biblioteca Nacional. das ao departamento. Além de hospedagem, o hotel, que A melhoria havia sido conquistada não teve localização e nome divulgana primeira gestão de Paulo Assumpção dos, oferecia “a melhor comida, asseio e Ribeiro. Inaugurado com “júbilo”, o cama” a preços “muito cômodos”. subposto “compensou” a perda de um Também disponibilizava uma cocheira posto fechado “por motivos de ordem
administrativa” em outubro do ano anterior (1965). Sem o serviço, o prefeito passou a reivindicar, “às autoridades”, a reabertura da repartição do MT (Ministério do Trabalho). Para que pudesse trazer o subposto, contou com a colaboração de Pedro de Alcantara Kalume. Em 1979, o Executivo dava os primeiros passos para a mudança de edifício. A ideia era sair do prédio – um enorme casarão – para um edifício próprio. Em dezembro daquele ano, o então prefeito Junqueira divulgou a intenção de transferir o paço municipal. Para isso, quis desvincular a “merenda escolar”, anunciando a construção, “em princípios de 80 de um imóvel para esse serviço junto ao Mangueirão”, na vila Dr. Laurindo. “A transferência se fará necessária com a mudança da Prefeitura para o novo paço. Junqueira informa que o edifício será de bom porte e de ótimas instalações. O desenho já está pronto”, cita texto publicado em O Progresso, dia 30 de dezembro de 1979. No ano seguinte, o prefeito passou a alimentar a imprensa com mais novidades. Incluiu, no projeto original, a possibilidade de os funcionários terem “música ambiente”. Foi então que ele comprou caixas
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acústicas e equipamentos a serem distribuídos por todo o novo paço. A intenção era permitir que os funcionários pudessem trabalhar ouvindo música e dar “um pouco mais de conforto aos servidores”. Na época, muitos levavam rádios de bolso para o serviço. O atual paço municipal teve inauguração no dia 18 de maio de 1980, um domingo. A solenidade aconteceu às 15h, com presença de funcionários e convidados. Também exigiu a suspensão do expediente nos dias 15 e 16 daquele mês (quinta e sexta-feira), por causa dos preparativos. O atendimento voltou a ser feito no dia 19. Com presença de “grande massa popular”, o prefeito fez a entrega oficial do paço. Apresentado como “bastante funcional”, o edifício original tinha 13 mil metros quadrados, incluindo gabinetes do prefeito (para despacho) “na parte dos fundos”. A sala de recepção é descrita em O Progresso na edição de número 2.809, que circulou no dia 25 de maio de 1980, como bastante luxuoso. No novo gabinete, Junqueira mandou instalar um quadro de vidro, na frente da mesa dele, o que permitiu “visão panorâmica de todas as seções da Prefeitura”. Todas as repartições ganharam um “amplo balcão de atendimento ao públi-
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Durante a solenidade, diversas autoridades e convidados deixaram suas impressões sobre o prédio no livro de assinaturas de visitas. Entre elas, o vereador Eudes Machado e o próprio prefeito. Junqueira tomou posse no paço da rua 15 de Novembro e encerrou o mandato na avenida das Mangueiras, depois de ter sido afastado, no ano de 1979 (quando assumiu Dionísio de Abreu Neto), e voltar ao cargo no mesmo ano.
Impressões no livro de visitas “ Muito funcional”. VEREADOR EUDES MACHADO “Muitos pensarão em se candidatar para sentar nesta cadeira”, brincava, mostrando a poltrona do prefeito. VEREADOR JOSÉ ASSUNÇÃO “Obra gigantesca e necessária à nossa Tatuí, o novo edifício da Prefeitura Municipal marca histórica em nossa cidade. Parabéns ao prefeito Olívio Junqueira. Parabéns ao povo de Tatuí, que ganha um galardão em sua vida”. JOSÉ ASSUNÇÃO “Visitando esta nova Prefeitura, sentindo uma sensação de bem-estar e tranquilidade, pelo seu sentimento funcional, prático e estável. Deixando registrado, aqui, os meus parabéns ao atual Prefeito, por esta concretização. Parabéns ao Sr. Olívio Junqueira”. TRANSPORTADORA ABOBRINHA CEZARINO P. A. MORAES “Tatuí, está de parabéns. O novo prédio da Prefeitura Municipal é funcional, bonito e digno da cidade”. CECÊ CESAR JÚNIOR “Achei tudo muito lindo e bonito, funcional, acredito que o Prefeito atenda a todas as reclamações justas possíveis”. MARIA C. CARLETTI “Tatuí está de parabéns, o novo prédio ficou funcional, bem distribuído e alegre. Digno da cidade. Parabéns ao senhor prefeito Olívio Junqueira e sua administração”. ANGELO VALINOTO NETO. – JÚLIO & JÚLIO “O novo prédio da Prefeitura está sendo comentado por viajantes, é considerado um dos mais perfeitos e funcionais do Estado, não deixando de receber elogios pela beleza interna do mesmo”. ADILSON CATTEL “Visitei o novo prédio da Prefeitura de minha terra: gostei demais. Tudo simples, funcional e bonito. Não é preciso requinte inútil para conseguir-se o bom e o útil. Parabéns ao prefeito Olívio Junqueira”. DR. FERNANDO GUEDES DE MORAES
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co”. No ano de inauguração, o edifício abrigou, também, a Biblioteca Municipal, considerada, na época, repartição pública “não intimamente ligada ao Executivo”. O novo paço recebeu elogios por parte do bissemanário e das autoridades. “A parte interna surpreendeu muita gente. Pessoas que julgavam, pela visão externa, que o prédio não era dos mais bonitos, ficaram admiradas ao notar a beleza de seu interior”, consta em texto sobre a inauguração.
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À época da inauguração, novo paço tinha sistema de som ambiente
MERCADO MUNICIPAL
Comércio preservado Prédio passou por modificações desde 1914, mas abriga venda no ‘hábito antigo’ O caderninho de anotações denuncia hábito antigo. Na falta de “dinheiro vivo”, as vendas são incluídas numa lista de nomes. É desta forma que Albertina dos Santos, nascida em Tatuí e moradora do bairro Congonhal de Baixo, trabalha desde 1982. Ela vende frutas e legumes numa banca. Junto aos traços arquitetônicos, o estilo de venda de dona Tina – como ela é conhecida – dá “um ar saudosista” que ainda paira sobre o Mercado Municipal “Nilzo Vanni”. O prédio é um dos mais antigos do município e um dos poucos que mantêm, além do hábito de venda, traços arquitetônicos do século 20. Ao dispensar “a modernidade” – ela não utiliza máquinas de cartões de crédito –, dona Tina se junta a uma dezena de outros comerciantes que vendem praticamente de tudo. No “Mercadão”, são encontrados de fumo de corda a mantimentos (farinha, feijão, açúcar, entre outros), relógios e celulares modernos. Apesar de ter traços mais “novos”, o edifício atual, construído em 1914, ainda preserva detalhes das construções da época (alguns pilares e o madeiramento do telhado). Entretanto, nem de longe lembra o primeiro mercado da cidade. Este foi inaugurado em 24 de dezembro de 1879, por Antonio Joaquim Dias, conhecido como “Bugre”. O mercado de secos e molhados de Tatuí funcionou na rua 11 de Agosto, em imóvel que fazia esquina com a Lúcio Seabra. Registros encontrados em “O Ypiranga”, jornal do PL (Partido Liberal) de São Paulo, apontam que Bugre também possuía comércio em Sorocaba. Naquele município, tinha um armarinho na rua São Bento. O sorocabano faleceu 16 anos depois da inauguração do mercado tatuiano. Era pessoa influente, comerciante bem-sucedido e uma das quatro personalidades que elegeram José Leite Penteado como 1º juiz de paz de Sorocaba. Fazia publicações, em jornais da capital, de “liquidações”. Na mesma profissão que Bugre, dona Tina viu a cidade desenvolver-se e, com ela, o mercado municipal mudar. Presenciou parte das transformações do prédio, que agregou o terminal rodoviário (de onde saem ônibus para algumas cidades da região), as lojas de eletrônico, banca de jornal e açougues, pastelarias e bares. Para ela, no entanto, o clima do espaço pouco se alterou. “Está tudo a mesma coisa. Chovendo e ventando, como sempre”, brincou a comerciante, que está há 31 anos no “Nilzo Vanni” – ela adquiriu a banca quando tinha 27 anos. Ganhou, ao longo das décadas, clientes cativos e outros comerciantes que chama de amigos. Entre eles, João Batista Domingues, da banca “Sagrada Família”. Domingues é um pouco mais velho de
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casa: tem 35 anos de comércio. Ele adquiriu o espaço quando o Mercadão era o ponto central de compras da cidade. “Naquela época, não havia tanta concorrência como hoje em dia”, comentou. A movimentação das vendas em Tatuí era tão grande que Domingues deixou Bofete, onde morava e trabalhava na lavoura, para viver na “Capital da Música”. Dono de uma das maiores bancas (em espaço físico) do Mercado Municipal, ele também testemunhou a mudança do prédio. Viu, entre outras coisas, a feira que acontecia ao lado ser “agregada” ao edifício. “Onde hoje é o terminal, havia umas árvores, era cheio de-
las”, recorda-se. O ano de 1945 é exemplo da prosperidade que atraiu famílias, expandiu possibilidades de negócios e contribuiu para o surgimento do centro comercial da cidade. O excesso de arrecadação verificado em março do ano seguinte fez o governo local cogitar a construção de um segundo mercado municipal. A ideia era de edificar um prédio “em tudo semelhante ao já existente”, conforme noticiou O Progresso, dia 17 de março de 1946. “É pensamento da Prefeitura reservar o novo para carnes, deixando o outro para legumes, frutas e cereais”, registra o então semanário. O projeto, entretanto, não vingou.
Primeiro mercado de secos e molhados funcionou na rua 11 de Agosto
Ao longo dos anos, Mercadão teve reformas que incluíram fachada
Construído no ano de 1914, novo mercado transformou a região
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Mas, no decorrer dos anos, outras intervenções aconteceram no prédio quase centenário. Uma delas, na contramão do crescimento econômico da região, que, até então, convivia com as barganhas. A feira que funcionava próxima ao Mercado Municipal (na rua 7 de Abril) teve extinção por determinação da Justiça local. Em abril de 1980, o prefeito Olívio Junqueira anunciou a intenção de reformar o mercado. As obras começaram após a conclusão do novo paço municipal, incluindo reforma do sanitário, que se encontrava “em péssimas condições”. Na sequência, o Executivo decidiu recuperar todos os espaços do prédio.
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Junqueira, no entanto, reduziu o número de lanchonetes do mercado. O objetivo do prefeito era estimular “o comércio de gêneros de primeira necessidade”, que estava perdendo espaço para os bares que se multiplicavam. Por conta disso, o prefeito publicou, em 27 de julho do mesmo ano, decreto proibindo a instalação de bares do tipo “botequins” na praça do Mercado Municipal. A proibição estendia-se por “um raio de 300 metros” do Mercadão. De acordo como o decreto, eram considerados botequins os bares com menos de 30 metros quadrados de área ocupada e que não possuíssem sanitários para homens e para “senhoras”,
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balcão próprio para servir lanches quentes e frios e guichê para venda de fichas destinadas à aquisição de lanches. Dona Tina e “seu João” não precisaram se adequar às normas, uma vez que ela comercializa frutas e verduras e ele, artigos para mercearias, além de fumo de corda. Os dois mantêm-se no mesmo espaço em que começaram. As mudanças que guardam na memória incluem as moedas do país. Domingues, por exemplo, chegou a comercializar um “pouquinho de macarrão” por Cr$ 1.302.409. “Quando você fala, parece dinheiro pra caramba. Mas não era”. Mesmo com os altos e baixos do dinheiro, o espaço manteve-se como refe-
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rência para o comércio do município. Atraindo por décadas um grande volume de pessoas, a região do entorno firmou-se como centro comercial. O Mercadão é um local de passagem, de encontro de pessoas e, para Margarida Elizabete de Souza, de abastecer a despensa de casa. “A gente vive por aqui”, comentou. Frequentadora do local há 30 anos, a dona de casa contou que concilia as compras no supermercado com as feitas no Mercado Municipal. A razão é o estilo de venda peculiar dos comerciantes do “Nilzo Vanni”, que superam a concorrência da mesma forma que a arquitetura vence o tempo: com persistência.
Prédio teve agregado terminal rodoviário a partir de modificações Giorge de Santi
Giorge de Santi
Mais tarde, pontos de ônibus ‘dominaram’ fachada da construção
Última reforma levou iluminação e coqueiros à fachada do prédio
LAR SÃO VICENTE
Casa dos Inválidos Amor ao próximo mobilizou geração e deu novas perspectivas a desafortunados “A cidade se integra, com sofreguidão, à faina de construir sempre mais, de melhorar o aspecto urbano com novos prédios”. A constatação data de março de 1938, em O Progresso, a respeito da observação feita por “um curioso da vida econômica de Tatuí” sobre o momento da cidade. Foi exatamente nesse ano, em que se vivia a “febre das construções”, que o município ganhou um de seus mais significativos patrimônios arquitetônicos; e os “inválidos”, uma casa. Com construção iniciada em março, o asilo São Vicente de Paulo (atual Lar
São Vicente de Paulo) teve inauguração dois meses depois. A edificação do prédio gerou grande mobilização, com participação de Maria Adelaide Barnsley Guedes – citada como a doadora do terreno da entidade. Nessa época, as olarias locais atravessavam fase de intenso trabalho. “Como nunca! Trabalham sem cessar para dar conta das encomendas. Sem dúvida alguma, não há melhor índice de que a cidade está mesmo progredindo do que ‘tomar o pulso’ das olarias”, escreveu José Ortiz de Camargo. O asilo surgiu do esforço de dezenas
de personalidades que se uniram em favor de vários trabalhos. Um deles, a “Vila São Lázaro”, uma sociedade criada para proteger os portadores de hanseníase (ou leprosos), que “esmolavam de porta em porta”. Tendo à frente A. A. Costa Neves, ela transformou-se num “abrigo-colônia” que oferecia assistência material e espiritual. O primeiro asilo teve criação em 10 de julho de 1905, abrigando oito pessoas e sendo administrado por “nhô” Leocádio Carneiro. Na ata de criação assinada pelo “padre Puerta”, constam como fundadores: Martinho Nogueira, José
P. de Almeida, Augusto Hoffman, José Bento P. Fiusa, Joaquim A. Machado, João A. F. Costa, Pio A. Oliveira e Teodoto A. Melo. Também constam no documento os nomes de: José R. de Oliveira, Luiz Carneiro de Oliveira Silvério Martins de Souza, Francisco N. Salles, Benedito F. Costa, João A. Oliveira, Venâncio V. da Silva, Francisco P. Bailão, Tomaz Machado, Francisco Evangelista Pereira de Almeida, Martiniano Soares e João R. Camargo. Completam a lista de fundadores do primeiro asilo: Moisés Soares, Eugenio
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Madres atuantes na administração ganharam novas acomodações
Pereira, João Hoffman, João Targa, Antonio F. Costa, Inácio C. F. Castanho, Rogério da Cruz Rodrigues, Pedro José Moreira, Antonio F. Lopes, Pedro R. Alves, Vicente de Oliveira, Joaquim F. Costa e Augusto Prestes. Transformada em “asilo-colônia”, a instituição ganhou prédio a partir da eleição de nova diretoria, em 12 de julho de 1936 – dois anos antes da construção. A ideia era edificar imóvel confortável e “com todas as regras de higiene”. Em 1936, compunham a diretoria: Almiro dos Reis, Cesário da Silva Campos, Galdino Vieira da Silva, Rafael Orsi e Sebastião Paulino da Costa. A assembleia que os elegeu conferiu-lhes poderes amplos para levar a efeito a construção do “asilo-colônia”, nos “moldes mais aperfeiçoados”. Para isso, os novos diretores promoveram a reformulação dos estatutos. Criaram e nomearam comissão para elaborar o projeto. A missão ficou a cargo de Pompílio Rafhael Flores, Porfírio de Campos Pedroso e Florindo Vanni. Outra comissão teve denominação em 30 de agosto do mesmo ano. Integrada por Almiro dos Reis, Sebastião Paulino da Costa, Florindo Vanni e Galdino Vieira da Silva, ela não chegou a concluir os trabalhos (se retirou “por força maior”). A diretoria, então, nomeou “comissão de senhoras” para fazer parte dos trabalhos dos quais eram consideradas “capazes”. O projeto de construção ficou a cargo de Oscar Bernardes. O engenheiro apresentou a planta em “pouco tempo” e prontificou-se a acompanhar os trabalhos dos construtores Doriteu Parada e Paschoalotti, contratados pela diretoria. Depois de obter o terreno necessário à obra, a diretoria da instituição passou a angariar donativos para a construção do
prédio. Promoveu quermesses, campanhas, diversos festivais e leilões. Um dos últimos eventos aconteceu em 17 de abril de 1938, domingo de Páscoa. Na data, a entidade promoveu festa campestre no terreno onde estava sendo construído o edifício. Houve leilão de vitelos, comercialização de churrasco, de cana verde e apresentação de cururu. Violeiros “dos mais afamados” de Tatuí e das redondezas foram convidados para abrilhantar os festejos. Organizaram as festas: João Rodrigues da Costa (“sinhô” Rodrigues), Joaquim Vieira de Campos, Benjamim Coelho, Antonio Ferreira Albuquerque, Antonio Costa Teles, Antonio Almeida, Evaristo Ribeiro, Rafael Camargo Barros, Francisco Pires, Joaquim Moreira, Mario Chagas, Dacio Vieira de Camargo, Bonifácio Teles (que cedeu “invernada” – os gados) e “outros”. Durante a construção, a população visitava as futuras instalações. Os acompanhamentos puderam ser feitos até o dia 20 de março de 1938, quando a diretoria suspendeu-os para realizar pintura e instalação de mobiliários. A maioria havia sido cedida pela população, que contribuía doando peças em campanhas organizadas pelas “senhoras da sociedade” – o grupo de mulheres nomeadas pela diretoria. As ações visavam angariar camas, pratos, talheres, roupas de cama, mesa e banho e outros utensílios para a cozinha. Em outra frente, Zulmira Amadeia encarregava-se de obter fundos para o “aparelhamento da capela” do asilo. O grupo de colaboradores também realizou “recenseamento dos mendigos”, em conjunto com o delegado de polícia da época. O asilo teve inauguração no dia 29 de maio de 1938, com presença do bispo da diocese, dom José Carlos Aguirre, e de “altas autoridades municipais e estaduais”.
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O evento contou com “imponente procissão”, que levou a imagem de São Vicente do prédio velho para o novo edifício. Na sequência, houve celebração de missa solene, às 10h, pelo bispo diocesano. As comemorações continuaram à noite, com o “grande baile” no Clube Tatuhyense. O evento de inauguração teve transmissão ao vivo pela FRD 9 (rádio), da cidade de Sorocaba, sendo filmado pela Sonora Filmes, de São Paulo. A procissão realizada às 6h contou com participação das bandas Santa Cruz e União, regidas pelo professor Nacif Farah. Os músicos acompanharam a transferência da imagem de São Vicente de Paulo e a inauguração do retrato de Chico Pereira, um dos fundadores do asilo e que, na época, estava com 80 anos. O professor havia se recolhido à entidade em 18 de abril de 1932, seis anos antes da inauguração. Passou os últimos dias de vida no prédio, falecendo em 12 de agosto de 1944. Além de dormitórios, no pavimento térreo, o novo prédio contava com salas para enfermaria, consultório médico e curativos, refeitórios, capela, cozinhas, salas de visitas, banheiros, água encanada, luz elétrica e aparelhos sanitários. No piso superior, ficavam as acomodações para as madres, as alas da “rouparia”, do almoxarifado e outros setores ligados à administração. Com ajuda da população, o asilo inaugurou novo imóvel, com mais de 80 camas. A capela contava com bancos, altar,
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banqueta, crucifixo e vitrais. O imóvel estava situado em área com horta, pomar, dotado de ruas e casas para abrigar os empregados e receber os asilados que tinham família. Dos seis alqueires do terreno ao redor do asilo, quatro e meio haviam sido doados pela firma Campos Irmãos & Cia, no valor de 16 mil contos de réis. O restante (um alqueire e meio) fora permutado com a Câmara Municipal. O prédio próprio custou 250 mil contos de réis e representou uma nova era para o asilo. Até então, ele havia funcionado em “velhos casarões” alugados. Aproximadamente dez mil pessoas acompanharam a inauguração do prédio próprio. Outros milhares contribuíram para a construção, com donativos, como o enviado pela Tuffy Zaki, de Ourinhos. A instituição destinou ao asilo 100$700 (contos de réis) como pagamento de uma aposta. Os representantes das duas entidades haviam palpitado sobre o resultado do jogo entre Brasil e a extinta Checoslováquia, pela Copa do Mundo de 1938, na França. Na ocasião, a seleção canarinho venceu o confronto pelo placar de 2 a 1. Para permitir acesso à entidade, o prefeito da época, Joaquim Vieira de Campos, autorizou o prolongamento da rua Juvenal de Campos. A via liga, atualmente, a avenida Coronel Firmo Vieira de Camargo à Professor Francisco Evangelista Pereira de Almeida (homenagem a Chico Pereira), o “amigo dos velhinhos”.
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Prédio continua inalterado desde o ano de inauguração, em 1938
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Curiosidade Quando da inauguração, o asilo contava com “duas casinhas” com quatro quartos cada. Elas destinavam-se a pensionistas e casais de asilados. À época da entrega do prédio, estava prevista construção de outras seis casinhas (três de cada lado do imóvel). A intenção era formar pavilhões, ligados por “galpões”. A entidade ganhou “fossa séptica”, dormitórios para homens (com 12 camas cada), dois quartos com instalações sanitárias, dois dormitórios para mulheres (também com 12 camas cada) e mais dois quartos com instalações sanitárias. No refeitório, havia cinco mesas, com capacidade para 40 pessoas, e, na capela, bancos que comportavam 50 pessoas.
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‘SALLES GOMES’
Espaço de aprendizado Escola que leva nome de baiano representa marco na luta pelo ensino profissionalizante Francisco de Salles Gomes nasceu em 29 de janeiro de 1854, na cidade de São Francisco do Conde, Estado da Bahia. Da “terra de todos os santos”, mudou-se para São Paulo e, de lá, para Tatuí, onde “fez a própria vida” e mudou outras. Na “Capital da Música”, deixou legado nas áreas da medicina e política. Atualmente, é lembrado por dar nome a uma avenida e uma escola, duas importantes vias: uma de ligação entre cidades e outra,
de encaminhamento para o mercado de trabalho, por escola que completará 90 anos em 2014. Considerada patrimônio arquitetônico da cidade, ela tem traços peculiares – que sofreram modificações ao longo do tempo. Entretanto, mantém boa parte da estrutura original do prédio no qual incontável número de alunos já se formou. Instalada em 1934 como “Escola Profissional Mista”, a atual Etec (Escola Téc-
nica) “Salles Gomes” gerou, por parte das autoridades locais e de personalidades, grande mobilização para que pudesse vir a ser criada. O Progresso encampou a ideia e anunciou festivamente a instalação da instituição. O próprio nome da escola foi sugerido por editorial do jornal. A cidade, no entanto, ganhou unidade profissionalizante 25 anos depois do decreto baixado pelo então presidente da República, Nilo
Peçanha. O documento de 1909 instituía a criação de “Escolas de Aprendizes Artífices” em todos os Estados. Em 1921, o governador paulista Washington Luis decretou a criação de uma escola profissional em Tatuí. Entretanto, a lei passou despercebida pelas autoridades locais. Treze anos depois, com a exaustiva cobrança da população e após discussões em torno dos cursos e do local, o então
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Escola Profissional Mista teve 131 alunos efetivados na primeira turma
prefeito João Gandara Mendes assinou o “ato nº 32”, que criou a Escola Profissional Mista de Tatuí. O documento tem como data 30 de junho de 1934. Quase um mês depois, no dia 29 de julho, houve a instalação e inauguração da escola. A solenidade contou com participação de prefeitos, secretários de interventoria, secretários do governo e promotores públicos paulistas. O evento, entretanto, aconteceu
após sucessivos adiamentos. A inauguração havia sido programada para 9 de julho, com matrícula iniciada no dia 4 do mesmo mês. Os candidatos deveriam fazer inscrição para as vagas em “diversos cursos”, no prédio da Prefeitura, nos horários das 12h às 17h (para os cursos diurnos) e das 19h às 21h, para o curso noturno. Os interessados deveriam ter 12 anos completos. Metade das vagas seria preen-
chida por alunos diplomados por grupos escolares e a outra metade, por meio de exame de admissão. As discussões sobre o local destinado à escola mobilizaram o representante da Bandeira Paulista de Alfabetização, Job Ayres Dias. Ele veio a Tatuí especialmente para cuidar da criação da escola e tentar resolver um impasse. Conforme histórico constante no “Plano Plurianual de Gestão (2012-2016)” da escola, durante as discussões para a criação dela, as autoridades locais levantaram várias hipóteses, cogitando a possibilidade de utilizarem o prédio ocupado pelo asilo São Vicente de Paulo. Para isso, era preciso haver entendimento entre a Prefeitura e a diretoria da instituição. Na época, o prefeito fez solicitação em caráter temporário, alegando que não havia encontrado outro prédio que acomodasse as instalações necessárias, além daquele ocupado pelo asilo. Mendes alegou que o imóvel era o que “melhor atendia às condições exigidas por lei” e que a Prefeitura teria facilidade em adaptar outro prédio que acomodasse “condignamente” os asilados. Para reforçar o pedido, o prefeito argumentou que a cessão seria provisória e que o asilo era o único que poderia auxiliar “em tão justa luta”. Apesar das considerações à diretoria da instituição, Men-
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des teve de enfrentar outro obstáculo, apresentado por Manoel Guedes Pinto de Mello Filho. Na ocasião, ele publicou manifesto no qual se posicionava contra a cessão do prédio – mesmo que provisoriamente. A alegação era de que não seria permitida ocorrência de “desvio da finalidade da instituição” (o asilo), declarada nas cláusulas da doação feita por Maria Adelaide Barnsley Guedes. Por medida de urgência, houve assembleia geral. Participaram do encontro: diretores do asilo, associados, representantes dos asilados, o prefeito e o representante da Bandeira Paulista de Alfabetização. Dias expôs o assunto, enquanto Mendes se propôs a preparar o prédio que seria ocupado pelos asilados. A instituição passou a funcionar no local que fora ocupado pela “Beneficência Tathuyense”, entidade que antecedeu a Santa Casa. O imóvel ficava onde, atualmente, está o estacionamento do banco Itaú, na Praça da Matriz. Conforme os registros da escola, a diretoria, os representantes dos asilados e 26 associados que participaram do encontro concordaram com a transferência. Com a instalação e o fim do período de inscrições, a Escola Profissional realizou exame de admissão. As primeiras provas aconteceram no dia 2 de julho de 1934, em dois horários: às 9h para os cursos diurnos e
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mes como patrono da escola. A partir de então, a instituição passou a se chamar Escola Profissional Primária Mista “Dr. Salles Gomes”. De lá, teve o nome alterado por nove vezes, mantendo o patrono. Em 1934, o currículo escolar compreendia dois cursos, com as respectivas oficinas de aprendizes: mecânica geral (para a seção masculina) e confecção em geral (feminina). Além da formação específica, os primeiros cursos de capacitação da cidade incluíam aulas de português, geografia, história do Brasil, aritmética, geometria, desenho artístico e plástica. Daí em diante, a escola que até então se mantinha no âmbito primário teve ampliada a disposição para que se transformasse em secundária – o que aconteceu no ano de 1943. No início da década de 60, a unidade recebeu nova denominação, chamando-se Escola Industrial “Dr. Salles Gomes”. Em 1965, um decreto tornou-a Ginásio Industrial Estadual. A partir daí, a instituição que, até então, era vista como “escola popular”, passou a ser procurada pela elite. Também na década de 60, após várias discussões, a “Salles Gomes” foi vinculada ao grupo “Paula Souza”. Em 1994, passou a denominar-se, em definitivo, Escola Técnica “Salles Gomes”.
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às 18h, para os do noturno. Os exames aconteceram já no prédio situado na então praça Cândido Mota, 13 (atualmente, praça Adelaide Barnsley Guedes, 1). Após os exames, 131 alunos efetivaram matrícula. As aulas tiveram início antes da inauguração oficial, programada para 9 de julho daquele ano. A cerimônia, porém, teve de ser adiada em função de desfile comemorativo à Revolução de 1932, em São Paulo, que atraiu 50 mil participantes. Do dia 9, o evento passou para o dia 15, sendo novamente alterado para o dia 29. As festividades de inauguração incluíram apresentação da Corporação Musical Santa Cruz, missa campal, visita ao Asilo São Vicente de Paulo, à Santa Casa, ao 4º Ginásio do Estado (Escola Estadual “Barão de Suruí”) e aos “pontos pitorescos” da cidade. Também houve “Banquete dos Cem Talheres”, no Clube Tathuyense, e apresentação das orquestras “Bertrami”, de Tatuí, e “Bataclan”, de Porto Feliz. Os cursos começaram no dia 16 de julho de 1934, com o “ato nº 33”, expedido pelo prefeito. Ele estabelecia “as providências cabíveis e necessárias para que a Escola Profissional Mista Primária de Tatuí fosse equiparada às Escolas Profissionais Oficiais”. Em seguida, dia 18, o prefeito instituiu o nome do médico Francisco de Salles Go-
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Unidade teve formação ampliada e ganhou novo prédio e acesso
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ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
Símbolo de uma geração Construída em 1888, estação expandiu economia de Tatuí e denominou bairro As locomotivas são símbolos de um período de transformações. Além de permitir o desenvolvimento econômico – a começar pela Inglaterra, onde surgiram –, elas marcaram uma geração e exerceram fascínio por onde passaram. Tatuí passou a experimentar essa experiência a partir de 4 de maio de 1889. Esta é a data da chegada da pri-
meira locomotiva aos trilhos e estação construídos um ano antes, em 1888. O acontecimento parou o município e atraiu multidão às terras que haviam sido de Laurindo Dias Minhoto (que dá nome ao bairro do entorno da estação). A locomotiva que chegou a Tatuí pertencia à Companhia Sorocabana, nascida de divisão entre os acionistas da Companhia Ituana de Estra-
das de Ferro. Conforme dados da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, a Companhia Ituana havia sido fundada em 1870, por fazendeiros da região de Itu. Também compunham o quadro de sócios, empreendedores de Sorocaba. Ela tinha o objetivo de ligar a região ao terminal de Jundiaí, da São Paulo Raylway.
O “racha” entre os sorocabanos e os fazendeiros da cidade de Itu ocorreu por conta da discordância da implantação do trecho principal previsto pela Ituana. Os empreendedores de Sorocaba não concordavam com o traçado. Liderados pelo empresário húngaro, radicado no Brasil, Luís Matheus Maylasky, eles fundaram, ainda em 1870, a Companhia Estrada de
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Primeira estação data de 1888 e ficava na chácara de L. Minhoto
Fer-
planta do novo edifício haviam sido distribuídos – e exibidos – no comércio, para que pudessem ser vistos pela população. Prevaleceu a vontade da Estrada de Ferro Sorocabana, que administrava o trecho, de “remendar” a estação. A alegação para que não se construísse edifício novo era de que a companhia precisava economizar. Redução classificada pelas autoridades da época e por O Progresso como “reprovável”. A indignação era com o reaproveitamento dos materiais, uma vez que a primeira estação apresentava problemas na estrutura. Havia danos nos alicerces (que estavam completamente abalados) e fendas visíveis nas paredes. As obras no espaço, entretanto, deixaram de ganhar espaço nas páginas dos jornais da época – e em O Progresso – por conta de outra razão. O município começava a mobilizar-se para a Revolução Constitucionalista de 1932. Recebia, também, as primeiras tropas de soldados vindas de São Paulo, pertencentes ao MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo). A sigla denominou o levante em virtude da morte de manifestantes paulistas pelas tropas federais, em confronto ocorrido no dia 23 de maio de 1932. Em agosto daquele ano, três meses depois da morte dos estudantes de São Paulo, Tatuí recebeu tropas do Correio Militar e da Fundação da Casa do Soldado, mantendo cantina permanente na estação da Estrada de Ferro Sorocabana. Com o fim do movimento, a construção do prédio teve sequência. A apresentação dele à população e autoridades aconteceu no dia 1º de janeiro de 1933.
terra que liga o distrito a Boituva. O novo posto teleférico situava-se próximo à rodovia Senador Laurindo Dias Minhoto (SP-141). Em 1934, ele teve classificação de categoria “B”. Conforme o “Relatório Anual”, de 1934, da EFS (Estrada de Ferro Sorocabana), os postos dessa categoria serviam somente para serviço de recebimento de despacho de bagagens, encomendas e mercadorias com frete a pagar. Quatro anos depois, a estação recebeu o nome de “Nova Americaninha”, para se diferenciar da que funcionava na cidade de Americana, pertencente à Companhia Paulista. Em 1948, houve a denominação para “Guilherme Wendell”. Demolido anos mais tarde, o posto deixou de existir. A única estação ainda “em pé” é a que havia sido inaugurada em 11 de julho de 1888. O prédio original – que teve como primeiro chefe Joaquim de Paula Arruda, de acordo com o historiador Renato Ferreira de Camargo (já falecido) – ganhou reforma em 1932. A construção dele e da linha férrea, entretanto, agradaram aos tatuianos, que viram a chegada do progresso, mas desagradaram – pelo menos como citado na imprensa – moradores da então província de São Paulo. O motivo era um projeto de lei apresentado por Martins da Silva, então deputado, na assembleia provincial. Na época dos planos de ligação do raReformado em 1932, prédio teve projeto criticado pela imprensa mal de Sorocaba a Ta-
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ro Sorocabana. Maylasky e os dissidentes da Ituana obtiveram a permissão da corte portuguesa para dar início aos trabalhos da Sorocabana um ano depois. A autorização veio com a publicação, dia 24 de maio de 1871, no jornal “A República”, do decreto 4.720. Por meio dele, houve concessão de funcionamento e aprovação de estatuto. A meta da companhia era construir ligação entre São Paulo e Ipanema – onde havia importante fundição. Com 120 quilômetros de extensão, a ferrovia passou por Sorocaba, tendo sido inaugurada em 18 de junho de 1872. Tatuí foi inserida nos projetos da Sorocabana por conta de desejo dos empreendedores. Eles queriam prolongar a diretriz por meio de dois “grandes ramais”. Um deles, acompanhando o vale do Tietê, em direção a Mato Grosso, até Corumbá e Miranda, fronteiras com o Paraguai; outro, por Tatuí, Itapetininga e Faxina (Itapeva), para as províncias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estudos publicados por Ralph Mennucci Giesbrecht dão conta de que Tatuí contou com duas linhas férreas e três estações. Duas delas localizavam-se no bairro Americaninha (atual distrito de Americana) em postos extremos. Inicialmente, o bairro teve posto telegráfico aberto em 1912, partindo de Boituva. O local funcionou por 16 anos, tendo atividades encerradas em 7 de agosto de 1928, quando houve inauguração de outra estação em um ponto diferente. A alteração aconteceu devido à mudança e retificação da linha férrea, que passou a sair não mais de Boituva, mas de Santo Antônio (atualmente, Iperó). Segundo Giesbrecht, a estação desativada ficou sem os trilhos. Ela situava-se num determinado ponto da estrada de
tuí, o parlamentar apresentou proposta de criação de um imposto de captação para financiar a ampliação da linha férrea por parte da Companhia Sorocabana. O deputado sugeriu cobrar imposto anual de 2$000 (contos de réis) sobre “cada homem livre ou liberto maior de 21 anos”, residente na província. Ficariam isentos os “indigentes e os interdiretos da administração de seus bens”. A ideia era aplicar o dinheiro “unicamente no prolongamento da estrada de ferro”. O projeto previa a ligação desde Bacaetava (estação de 1880, que ficava em Iperó e era “ponta de linha”) até a margem direita do rio Paranapanema. O imposto seria “extinguido com a conclusão dos trabalhos e satisfeitas as despesas” das obras. Esse prolongamento incluía a passagem por Tatuí e Botucatu. Aberta como ponta de linha do ramal, a estação de Tatuí tem data de inauguração diversificada e, anos depois, deu nome ao bairro no qual estão as casas do entorno. O primeiro prédio passou por reforma no ano de 1932, tendo sido reinaugurado somente no ano seguinte, após pouco mais de seis meses de trabalho. As obras tiveram início em junho daquele ano, com insatisfação das autoridades da época e do jornal O Progresso. Texto publicado no dia 19 daquele mês mostra a indignação dos moradores. Até então, a Companhia Sorocabana havia divulgado a intenção de construir uma nova estação ferroviária. O projeto seria proceder à demolição da antiga estação para construir um prédio novo e moderno. Exemplares da
O Progresso de Tatuí
FLORÊNCIO E BARÃO
Heranças deixadas pela Educação em Tatuí Prédios escolares mostram padrão arquitetônico de governos e tiveram construção por conta de empenho de tatuianos O período entre 1892 e 1897 é citado pelo “Annuario do Ensino do Estado de São Paulo” como um dos “mais fecundos” na evolução do ensino no Estado de São Paulo. A publicação que integra o Acervo Público do Estado de São Paulo – e pode ser consultado via internet – compreende o biênio 1907-1908. É deste intervalo de tempo em diante que o município vê surgir dois de seus bens arquitetônicos mais preciosos. As
atuais Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “João Florêncio” e Escola Estadual “Barão de Suruí”. Localizados na praça Paulo Setúbal, ambos os prédios das instituições seguem padrões de arquiteturas dos governos do Estado da época de suas construções. Mais importante que os traços, as escolas tiveram papéis fundamentais na história de Tatuí. A “João Florêncio”, por exemplo, serviu de abrigo para a enferma-
ria das tropas que lutaram na Revolução Constitucionalista de 1932. O “Barão” registrou o maior empenho que até então tinha se visto em torno de uma obra. Originalmente chamada de “Grupo Escolar de Tatuí”, a atual Emef nasceu da junção de dois outros grupos escolares: o da seção masculina e o da feminina. Ambos tinham, até então, “funcionamento à parte”. De acordo com registros do anuário do governo do Estado, a seção escolar
masculina de Tatuí teve instalação em 27 de novembro de 1895. A criação aconteceu a partir de deliberação do Conselho Superior, datada de 4 de outubro do mesmo ano. Com isso, houve “anexação das escolas masculinas então providas”. O surgimento do grupo escolar feminino deu-se em 11 de outubro de 1897, por meio de autorização enviada ao professor Cesário Lange Adrien (que dá nome à cidade de Cesário Lange). Na épo-
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Arquitetura segue mesmo projeto de outras quatro escolas de SP
propostas que incluíram de expansões a reformas. Desta forma, é possível verificar alguns itens comuns, como o passadiço (corredor de acesso) e os lambrequins (ornamentos de madeira que enfeitam o teto do pavilhão atualmente utilizado para refeitório dos estudantes). A exclusividade de Tatuí e das outras três cidades, no projeto de Sabater, é o pátio interno, com vários acessos pela frente, fundos e laterais. Por causa do “valor histórico na evolução educacional do Estado”, o prédio teve tombamento efetivado pelo Condephaat (Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) em de agosto de 2002. No ano da construção do prédio, Tatuí pertencia à 5ª zona de ensino. A área estava sob supervisão do inspetor e professor Aristides de Macedo e abrangia grupos que funcionavam nas cidades de Campo Largo (Araçoiaba da Serra), Pereiras, Piedade, Sorocaba, Porto Feliz, Tietê, Sarapuí e de Pilar do Sul. De padrão arquitetônico diferente, mas com importância idêntica, a “Barão de Suruí” é fruto de dedicação que envolveu políticos, professores e toda a socieda-
de civil da época. Os esforços começaram em 1924, como evidenciado em edição de 8 de dezembro daquele ano, do jornal O Progresso. Em nota, o periódico noticiou que no dia 4 daquele mês, a Câmara dos Deputados havia aprovado por unanimidade o projeto de criação de um “ginásio estadual” em Tatuí. O pleito havia sido feito por Laurindo Dias Minhoto. A oficialização da criação do ginásio aconteceu em 26 de dezembro daquele ano, com a publicação do decreto 2.017. A promulgação da lei que permitiu a edificação foi feita pelo então presidente do Estado de São Paulo, Carlos de Campos – que dá nome ao Conservatório Dramático e Musical de Tatuí. Nos anos seguintes, uma sucessão de acontecimentos contribuiu para a implantação da escola. A maior delas e que ecoou até mesmo fora de Tatuí foi a “Semana Pro Gymnasio”. Ela era uma espécie de mobilização oficial organizada para que o ginásio fosse finalmente instalado e incluiu palestras, bate-papos e debates. Ainda assim, em 1929, o ginásio não havia sido implantado. Nos anos seguintes, as autoridades se mobilizaram para levantar dinheiro para a construção do ginásio.
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Em 1930, o prefeito Nicolau Sinisgalli recebeu autorização da Câmara para levantar empréstimo de 200:000.000. No mesmo ano, Oscar Machado, diretor de obras públicas do Estado, conseguiu do governo estadual a importância de 100:000.000 para as obras. Diversos capitalistas também contribuíram. A pedra simbólica do prédio atual teve instalação no dia 7 de dezembro daquele ano. O evento de inauguração aconteceu em 26 de abril do ano seguinte com uma festa com um dia inteiro de duração. A solenidade teve início às 5h do dia 26 e término às 3h do dia seguinte. O programa foi acompanhado pelo então secretário da Educação, Edmundo Navarro de Andrade, e o diretor geral do ensino, Lourenço Filho. Os dois haviam chegado pela manhã. Ao meio-dia, os tatuianos receberam a maior autoridade da época, o interventor coronel João Alberto Lins de Barros e comitiva. Os exames de admissão para a unidade tiveram início em 10 de abril, dez dias depois da nomeação dos 12 primeiros funcionários. Na época, 87 candidatos, dos 115 inscritos, tiveram aprovação. As aulas começaram em 15 de abril.
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ca, ele era inspetor do 37º distrito. Ficou a cargo de Adrien reunir as escolas destinadas às meninas e dirigir, interinamente, o estabelecimento de ensino. A instalação levou questão de dias, sendo realizada em 25 de outubro do mesmo ano, com a anexação das escolas femininas. No ano seguinte, em 1898, o Grupo Escolar de Tatuí teve instalação efetivada. Por ocasião da junção das seções masculina e feminina, no dia 21 de março daquele ano, o Conselho Superior dispensou o diretor da seção masculina, o professor Martinho Nogueira, e nomeou como diretor o professor Adrien. O grupo ganhou prédio próprio em 1909, com projeto de autoria do arquiteto Manuel Sabater. Anteriormente, as seções masculina e feminina funcionavam em imóveis separados. Em geral, casas cedidas por autoridades. A atual escola, cuja restauração foi concluída em 2012, faz parte de um conjunto de projetos de Sabater desenvolvido para outras três unidades no Estado. Têm a mesma arquitetura, escolas das cidades de Mococa, Santos e Sorocaba. Porém, o engenheiro foi responsável por elaborar projetos de incontáveis grupos escolares,
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Prédio restaurado em 2012 serviu de base para os revolucionários
SÃO MARTINHO E STA. ADÉLIA
Patrimônio do desenvolvimento Fábricas de tecelagem geraram emprego, deram visibilidade a Tatuí e deixaram legado que depende de conservação Construídas em períodos distintos do auge do “ouro branco”, as fábricas São Martinho e Santa Adélia têm mais coisas em comum que os fatores que impulsionaram suas construções. Elas surgiram por conta da acumulação de capital gerado nos setores agrícola e comercial – particularmente, da produção de algodão. Além de tombados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patri-
mônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), os prédios delas refletem a história do desenvolvimento de Tatuí. A começar pela abertura do campo das importações. Para a construção da São Martinho, o industrial Manoel Guedes Pinto de Mello firmou, por intermédio de “uma casa comercial”, o contrato de compra de máquinas de tecidos. Os equipamentos integraram a fábrica
que ele montou em sociedade com a mãe, Maria Alves de Lima, e com o irmão, João Guedes. A importância da transação – realizada quando da estada de Manoel na corte – foi tamanha que a notícia publicada pelo “Progresso de Tatuhy” teve repercussão em outros estados. A “Gazeta de Joinville” divulgou a notícia, na edição de número 48, que circulou em Santa Catarina em 24 de
agosto de 1880. Fundada em 1881 como Companhia de Fiação e Tecelagem São Martinho, a fábrica é a consolidação de projeto idealizado pelo pai de Manoel (pioneiro na industrialização), Martinho Guedes Pinto de Mello (pioneiro na agricultura). Ela iniciou as atividades com 54 teares e um número reduzido de operários. Por conta da prosperida-
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Construída no auge do ‘ouro branco’, Sta. Adélia empregou 1.200
de da cultura do algodão e da demanda de consumo, a indústria passou aos poucos a aumentar a produção e a renovar maquinários. Comprou equipamentos automatizados e criou uma grande infraestrutura para a época, transformando-se a primeira indústria de tecelagem do país. A instalação das máquinas exigiu
a presença de técnicos especializados dos Estados Unidos. O complexo era composto por casas para moradia dos operários e armazém de gêneros alimentícios. Também havia assistência médica e farmacêutica aos trabalhadores. Alguns deles receberam atendimento de Emílio Marcondes Ribas, sanitarista que fun-
dou o Instituto Soroterápico do Butantã e que batiza um hospital e um centro de estudos de pesquisas infectocontagiosas. Com cerca de 10 mil metros quadrados, o complexo compõe-se da fábrica, de um casarão de morada dos antigos proprietários – atualmente pertencente a um empresário –, uma casa destinada ao abrigo de técnicos e 25 habitações operárias. Em função do crescimento da produção, a indústria têxtil chegou a ter 250 teares. Deu origem, por ideia de Manoel, à instalação da Companhia de Força e Luz – de posse da empresa. A energia era gerada a partir de caldeiras movidas à lenha, atendia à empresa e distribuía o excedente à Tatuí, Conchas e Pereiras. Localizado na área central da cidade, o conjunto fabril é composto, ainda, por uma quadra e uma área livre – a Praça São Martinho – na frente da indústria. A história da construção do complexo é marcada por superações. Os equipamentos e peças trazidos a Tatuí vinham de trem. Entretanto, as linhas da antiga Estrada de Ferro Sorocabana terminavam em Bacaetava. De lá, até Tatuí, existiam apenas caminhos que incluíam pontes e pontilhões sem
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capacidade de suportar cargas pesadas. Em função disso, foi necessária uma série de adequações das estradas vicinais e o reforço das passagens entre as plataformas elevadas. O trabalho durou seis meses, sendo possível com a aquisição de uma “maxambomba”, carro movido a vapor que funcionava como reboque, permitindo transporte de cargas grandes. O transporte envolveu, ainda, uso de carretas e carros de boi. Já a construção exigiu a criação de olaria e cerâmica, serraria e marcenaria e uma oficina mecânica para atender as demandas do projeto de criação do complexo fabril. Em função da prosperidade dos negócios, Manoel criou outras fábricas, destinadas às produções de óleo, sabão e correias de “diversos tipos”. Com o declínio da cultura do algodão, na década de 1970, a companhia fechou as portas. O tombamento do complexo aconteceu em 2007 e compreende uma área considerável da cidade. Abrange quadras situadas nas ruas coronel Aureliano de Camargo, José Bonifácio, Nho Nhô da Botica, São Martinho 13 de Maio, Capitão Lisboa, Cônego Demétrio, Joaquim Camargo Barros e Humaitá.
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brica de Fiação e Tecidos Santa Cruz”. O nome permaneceu até a transferência para a família Gasparian, em 1951, quando passou a se chamar Santa Adélia. A empresa chegou a ter três turmas de trabalho que somavam, aproximadamente, 1.200 funcionários. Terminou com 170, dispensados a partir de março de 1981, pelo Grupo Vimor Empreendimentos que a assumiu em 1974. Tombada também em 2007, a fábrica é considerada de valor histórico incalculável. Uma pequena parte dela está sendo restaurada para abrigar uma agência do Banco do Brasil. O tombamento abrange a edificação principal da indústria, situada na quadra definida pelas ruas Coronel Lúcio Seabra, Juvenal de Campos, Santa Cruz e 7 de Abril, e as construções voltadas para a rua Coronel Lúcio Seabra. A fábrica fechou as portas em função de não conseguir acompanhar os investimentos necessários para renovação do parque industrial.
Também enfrentou falta de capital de giro, atribuída em parte à “política econômica” da União. Na ocasião, as empresas brasileiras enfrentaram concorrência com a importação de tecidos da Ásia. Tatuí tinha, aproximadamente, 10 mil postos de trabalhos oferecidos pelas indústrias locais – em maioria produtoras
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de tecidos. Com o fechamento delas, os empregados tiveram de ser absorvidos por outros setores. Alguns, tornaram-se autônomos; outros, montaram pequenos comércios a partir do recebimento de saldos de indenizações trabalhistas.
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Do lado oposto da cidade e algumas décadas depois do início da operação da Companhia São Martinho, entrava em operação a Santa Adélia. Fundada em 3 de novembro de 1890, ela é considerada a segunda geração de indústrias têxteis do Estado de São Paulo e a segunda implantada no município. A fábrica começou a operar com a razão social de “Campos & Irmãos” – nome cravado no prédio que ainda resiste ao tempo. Tinha como atividades principais “a exploração do comércio de fazendas, armarinhos, modas e ferragens”. O quadro societário da indústria era formado, inicialmente, por Alcebíades Campos e Juvenal de Campos. A composição, no entanto, mudou em 1908, quando os irmãos compraram uma máquina de beneficiar algodão. A partir daí, integraram-se como novos sócios Epaminondas de Campos, Martiniano de Campos e Mario Azevedo. Alcebíades deixou a companhia, retornando em 1911. Na época, a indústria produzia fios de algodão e produtos de malha. Deste momento em diante, a empresa registrou aumento da produção da fiação. Ganhou uma seção de tecelagem, que ficou batizada como “Fá-
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Teares da fiação funcionaram pela última vez em março de 1981