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EDIÇÃO 2020
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Fisiculturismo muito além dos músculos ‘Máquina de fazer títulos’, atleta de Tatuí desponta no esporte após ‘mudar de vida’ Cristiano Mota
Desde que começou a competir, há 14 anos, Cristina Oliveira já conquistou 15 premiações como fisiculturista. A atleta radicada em Tatuí desponta como um dos destaques da modalidade da musculação voltada à hipertrofia. Considerada uma “máquina de fazer títulos”, Cris (como é conhecida nas competições) prepara-se para aumentar o quadro de troféus. Em 2020, a atleta participará de pelo menos três competições de nível profissional, programadas para março, abril e setembro. Cris começou a carreira na musculação, depois de ter chegado a Tatuí, em decorrência de problemas de saúde e autoestima. Até então, atuava como musicista. Em São Paulo, estudou na Escola Municipal de Música de São Paulo e, no currículo, registra passagens pela OJE (Orquestra Jovem do Estado) e pela Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo. Como flautista, Cris chegou longe. Ingressou na USP (Universidade de São Paulo) e, no ano de 2004, mudou-se para a “Capital da Música”, atraída pela fama do Conservatório. Ela tinha como meta trocar o ritmo frenético de São Paulo pela tranquilidade do interior e, assim, ganhar qualidade de vida. “Eu era obesa, tocava flauta durante todo o dia e não fazia atividades físicas. Me inscrevi para o Conservatório porque enxerguei em Tatuí a oportunidade de uma vida nova”, conta. Pela vontade de mudar, Cris arriscou tudo. Chegou a Tatuí com um filho pequeno e R$ 1.000 no bolso. Na época, não tinha local para ficar e sequer sabia se conseguiria vaga no Conservatório. “Vim uma semana antes das inscrições e me inscrevi para tudo: dar aula, tocar, ser bolsista”, recorda. Na cidade, permaneceu primeiro em uma república. O contato com os amigos rendeu alguns trabalhos temporários, até a divulgação dos resultados. “Passei em todas as provas e pude escolher o que faria. Ali, começava minha vida em Tatuí, na Banda Sinfônica do Conservatório”, considera. O grupo era dirigido pelo maestro Dario Sotelo. “Ele me ensinou muita coisa em relação à disciplina, a ter uma postura profissional”, avalia, sobre a temporada no corpo musical. “Como antes eu tocava muito na frente, como solista/ camerista, a atitude era mais solta. Quando entrei na banda, uma instituição mais séria, é que adquiri mais experiência, conhecimento que atualmente eu uso no esporte”, complementa. Em longo prazo, os planos da musicista incluíam a aposentadoria da música. Cris relata que tinha vontade de parar, mas em São Paulo não encontrava condições. “Lá, estava muito difícil me desligar das orquestras”, diz.
Cristina Oliv eira soma 15 títulos co nquistados , sendo a m aioria como cam peã
Quando juntou dinheiro suficiente para vir a Tatuí, não titubeou, considerando o processo de seleção aberto na escola de música. “Na época, ainda não tinha nada a ver com esporte”, conta. Como não fazia atividades físicas, Cris teve dificuldades de mobilidade e passou a travar – e a perder quase sempre – uma luta constante com a balança. “Meu negócio era ficar sentada, tocando e comendo. E meu peso ia dos 80 quilos aos cem quilos”, lembra. O sobrepeso representava um risco a mais à musicista, já que ela tem diabetes do tipo um. Por causa da doença, precisava de medicamentos para controlar a glicemia. “Uso insulina, só que hoje, graças ao esporte, quase não preciso. Tanto que, toda vez que faço exames, tenho de falar para o médico que sou diabética, senão ele não percebe, por causa de minha evolução física”, avalia. Mesmo com as complicações de saúde, Cris demorou a se voltar ao esporte. Na época, pela obesidade, teve problemas de respiração e outras complicações. “Eu morava longe do Conservatório, e até para andar estava difícil”, diz. “Quando comia menos besteira, meu peso baixava para 80 quilos. Aí, melhorava a alimentação. Passava um tempo, voltava a comer e subia para 95 quilos”. Por ter 1,64 metro de altura, Cris tinha de manter
uma dieta saudável se não quisesse ganhar peso. Só que o ritmo de vida não tornava fácil a tarefa. E foi durante uma compra que a musicista resolveu mudar radicalmente o estilo de vida. “Fui até uma loja para adquirir um sutiã que, mesmo grande, já não cabia em mim. Era do número 52. Uma mulher da minha idade, normal, usa 42”, recorda. “Entrei em desespero e comecei a chorar muito dentro do provador. Foi ali que eu determinei um novo futuro para a minha vida e saí de lá com o objetivo de melhorar o meu corpo, a minha saúde. Guardei aquele sutiã”. Da loja, Cris foi ao Conservatório para se desligar da instituição e deixar de vez a música. “Me deu ‘cinco minutos’. Daí, comecei uma reeducação alimentar, passei a emagrecer e vi que precisava de uma atividade física”, descreve. Para recomeçar, vendeu uma flauta que possuía e reinvestiu o valor em si mesma. Buscou
• • • • ESPORTE • • • • academias nas quais poderia se exercitar para melhorar a condição da musculatura. Antes, precisou vencer a primeira barreira: a vergonha de entrar em uma local de musculação, estando na condição de obesidade. “Hoje, falo para as minhas alunas que elas não podem ter vergonha de começar a se exercitar. Nós levamos anos para chegarmos ao corpo ideal, e as pessoas não entendem que têm de passar por um processo, esperar um tempo para o corpo mudar, porque é a vida que tem que mudar, a cabeça”, argumenta. No caso de Cris, o desafio também incluía onde deixar o filho. Quando ainda tocava, o menino ficava na plateia, aos cuidados de amigos. Já na academia, ele brincava em colchões, cedidos pelo atleta e empresário João Arnon Carlos, o Nonô. Ele é proprietário da Academia Arnon Gym, onde a atleta treina há anos. “O Nonô e equipe viram em mim um potencial, que eu queria mudar. Sou uma pessoa que, com quatro anos de idade, começou a tocar violino. Vim de uma família rigorosa, tinha de estudar de cinco a seis horas por dia. Aproveitei essa disciplina para direcionar minha atenção para a musculação”, comenta. Em curto período, os treinos permitiram a mudança no corpo e na carreira de Cris. Para ter melhores resultados, ela percebeu que não bastava somente força de vontade. “Eu me olhava no espelho e me via magra. Aí, aumentava a alimentação e engordava; diminuía, e perdia músculos e forma. Foi aí que comecei a estudar nutrição e a pesquisar mais sobre o assunto, a respeito da musculação”. As pesquisas levaram a atleta a conhecer os vários estilos e modalidades da musculação. Permitiram que Cris escolhesse em qual deles se encaixava melhor. “Eu não queria ficar forte, levantar peso. Queria a parte estética”, assegura. No trabalho de modelagem do físico, descobriu o fisiculturismo - em um primeiro momento, como atividade para melhorar a parte muscular e a controlar o diabetes. “O interessante é que minha resposta foi muito rápida. Em questão de seis meses, já não precisava mais utilizar a insulina com frequência”, descreve. Em um segundo instante, Cris enxergou o fisiculturismo como modalidade desportiva. Para saber mais sobre a atividade, passou a frequentar eventos. “Comecei a dar uma olhada nas meninas e analisar o biotipo delas. Vi que eu não estava muito distante delas, que já somavam anos de treino”, observa. Para se preparar melhor, Cris realizou pesquisas e testes de ajustamento dos treinos. “O legal do fisiculturismo é que ele me obrigou a evoluir como ser humano e como atleta, porque não dá para chegar no nível em que estou hoje, sendo campeã brasileira, campeã de copas, sem ter estrutura para isto”, avalia. Além da genética privilegiada, a atleta menciona que os fisiculturistas precisam contar com apoio financeiro. Contudo, os patrocínios não são determinantes. Cris, por exemplo, conquistou os títulos com recursos próprios. “Eu me senti obrigada a melhorar, porque tenho um filho. Não posso deixar de pagar aluguel, água, luz. Então, tive de me superar. Comecei a estudar e a trabalhar na área. E a disciplina me ajudou no ‘bodybuilding’”, comenta. Quando era flautista, a atleta se levantava às 6h para
tomar café e praticar “nota longa” (sustentar uma nota musical sem vibrato); das 9h às 12h, seguia com exercícios musicais; e das 14h às 18h, participava de ensaios de orquestra. No fisiculturismo, pouca coisa mudou. Cris acorda às 4h40, faz atividade cardíaca até 5h30 e a primeira refeição, às 6h. Das 7h às 12h, trabalha como personal trainer. À tarde, cuida do filho e da casa, voltando ao trabalho mais tarde. No período da noite, das 21h às 23h, dá mais aulas de musculação. “Tem que estar tudo programado. Além disso, preciso manter a dieta, porque o atleta de alto rendimento tem uma nutrição diferenciada, e, para competir em um evento, é preciso estar bem nutrido, não é só ter músculos”. No início, os treinos aconteciam três vezes por semana, aumentando até Cris melhorar o condicionamento físico. Em um ano, ela já havia ganhado massa muscular e, no ano seguinte, subido ao palco para a primeira competição. “Para mudar de vida, não precisa ser com a musculação. Eu me encontrei nela, mas a pessoa pode se encontrar na natação, na dança, na ioga. A questão maior é fora da academia, o que colocar no prato, a atitude com o próximo”, afirma. Todo esforço fez a atleta vencer, em 2007, o primeiro concurso. Ela obteve o terceiro lugar na Copa Jandira de Fisiculturismo. Disputou o título com mais quatro atletas, no nível mais alto da modalidade: o bodybuilding. Em geral, as atletas começam pela “slim”, sobem para a “wellness” e chegam à última categoria. Embora se sentisse preparada, Cris conta que, na época, ainda não estava totalmente condicionada. Por isto, o resultado serviu como motivação, rendendo à atleta 13 troféus de campeã, um de vice-campeã e um de terceira colocada. O penúltimo prêmio, de primeiro lugar, veio na categoria “bodyfitness” na Copa Excalibur, realizada em 7 de dezembro de 2019, em Belo Horizonte, Minas Gerais, pela WBBF (Federação Mundial de Fitness e Federação Mundial de Culturismo). Na competição, os jurados avaliam, além dos músculos, beleza e graciosidade. Verificam se as atletas apresentam a silhueta bem definida. As apresentações são estruturadas em duas partes. Na primeira, as competidoras executam as chamadas “posedown” (poses compulsórias). As atletas precisam realizar e manter por cerca de 10 a 30 segundos poses pré-determinadas. As atletas competem de biquini, com poucas joias (uma pulseira e um anel). “O biquini precisa mostrar um quarto do glúteo. E os árbitros julgam as poses, que têm de ser feitas de frente, de lado e de costas. Analisam abdômen, pernas. E é nesse momento que eles definem a vencedora”, conta a fisiculturista. Os votos ainda podem mudar no segundo momento. E, conforme a atleta, não há uma regra única. As atletas precisam, apenas, não extrapolar o tempo de 1min10s. “Cada uma escolhe o que quer apresentar. Eu tenho uma queda para o erudito e, sempre que posso, uso
03 músicas clássicas nas minhas performances”. Neste ano, Cris pretende focar em competições de nível nacional e internacional. Para isto, busca patrocínios, que podem ir desde a suplementação da alimentação (ovos e frango), a roupas, equipamentos e calçados. Por enquanto, a atleta segue com apoio de Nonô, que permite o treino. A título de exemplo, Cris consome 30 ovos e 1,5 quilo de frango diariamente. A atleta lembra que Tatuí tem produtores de ovos e frango e que os potenciais colaboradores poderão obter retorno por meio dos resultados e das redes sociais. Cris é também influenciadora digital e pode, por meio de postagens, comentar a respeito dos produtos que consome e dos equipamentos que usa. Com apoio, ela espera ter condições de representar Tatuí em competições fora do Brasil. No ano de 2017, ela não conseguiu competir na Rússia, apesar de ter obtido resultado. Na época, Cris teve gastos com a preparação para uma competição de nível sul-americano e ficou sem recursos financeiros para as despesas de passagem aérea, hotel, translado e alimentação. “As pessoas acham que o fisiculturista precisa de ajuda momentânea, mas não. É a preparação, que dura um longo período, que custa mais. Quando um atleta tem apoio, mesmo que simples, consegue obter outras coisas depois”, explica. Mesmo sem ajuda extra, Cris segue participando de competições e representando Tatuí, como em anos anteriores. Em 2018, ela disputou evento estadual em São Paulo. Lá, uniu-se com mais quatro competidores e montou um time. “Competimos pela cidade e ninguém ficou sabendo. Fizemos uma rifa para vender chocolate e bolo fitness. Conseguimos o transporte, compramos umas camisetas brancas e, com canetinhas, escrevemos o nome de Tatuí”, revela. No evento, a atleta obteve dois troféus: um pelo levantamento “raw” – levantamento de peso sem uso de equipamento – (108 quilos) e outro no bodyfitness. Os demais membros da equipe também faturaram dois títulos cada um. Atualmente, Cris compete somente nas provas de fisiculturismo. O contato com a atleta pode ser feito apenas pelo Instagram, a partir do perfil: @cris_flute.
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Violência contra mulher sobe 58% em três anos
O índice de denúncias de violência contra a mulher na Delegacia de Defesa da Mulher subiu 58% nos últimos três anos. Somente em 2019, a cada dia, em média, duas mulheres denunciaram ter sido vítimas de violência física ou verbal em Tatuí. De acordo com dados divulgados pela DDM, 939 casos foram relatados no ano passado, os quais resultaram em 460 procedimentos policiais e 205 medidas protetivas. O índice indica aumento de 0,98% em relação a 2018. Nesse ano, os números haviam sido menores, alcançando a marca de 930 registros. Contudo, os índices de inquéritos instaurados foram maiores, atingindo 474 procedimentos policiais e 251 medidas protetivas. Já em 2017, houve 766 reclamações, que se transformaram em 392 inquéritos policiais, enquanto, em 2016, a DDM havia registrado 594 boletins de ocorrência por violência doméstica e 426 inquéritos. Conforme dados da delegacia especializada da cidade, as principais denúncias são de ameaças, lesões corporais e crimes contra a honra (calúnia, injúria e difamação). Os três crimes também representam a maior fatia do totalizado pelo estado e apresentaram aumento de 2018 para 2019. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, as reclamações de ameaça passaram de 57.269, em 2018, para 65.135, em 2019, enquanto os registros de lesão corporal dolosa subiram de 50.688 para 54.910 e os casos de crimes contra honra, de 11.743 para 12.128. O órgão não disponibiliza os números por município. O promotor de Justiça Carlos Eduardo Pozzi, do Ministério Público de Tatuí, explica que, apesar de os números serem alarmantes, não refletem o aumento da violência, e sim uma redução da chamada “cifra negra” (ocorrências de casos não notificados). “Nós temos a percepção de que a violência aumentou, mas, na verdade, eventos como este sempre existiram. O que acontecia era que as vítimas não se sentiam encorajadas para noticiar o que vivenciavam”, aponta. Segundo ele, a disseminação de informações sobre as leis que amparam as vítimas
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Promotor explica aumento e aponta novo programa municipal como marco no enfrentamento
tem incentivado as mulheres a denunciar o agressor e, por consequência, levado ao aumento dos índices oficiais de agressões. A importância da denúncia é um consenso entre juízes, promotores e defensores públicos. Pozzi, como especialista, aponta que as queixas funcionam como um freio inibidor da violência e, sendo assim, podem impedir agressões de maior potencial e até mesmo o feminicídio. Para o promotor, ainda é necessário que as vítimas denunciem mais. Levantamento do instituto Datafolha, realizado a pedido do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), mostra que, em 2018, aproximadamente uma em cada quatro mulheres brasileiras com mais de 16 anos sofreu agressões e 52% não denunciaram os casos. A pesquisa “Violência Contra as Mulheres” aconteceu nos dias 4 e 5 de fevereiro de 2019, ouvindo 2.084 pessoas em 130 municípios brasileiros. Pelo estudo, 27,4% das entrevistadas disseram ter sofrido
alguma violência. O promotor acentua que a dependência econômica, o medo, o preconceito, o risco de novas agressões, os filhos, a vergonha da família e da sociedade em geral são alguns dos fatores que fazem com que as mulheres deixem de denunciar os agressores. No âmbito municipal, Pozzi destacou que a atuação do programa Patrulha da Paz - lançado em fevereiro deste ano – pode elevar o número de casos registrados e representar crescimento “significativo” nos índices de denúncias aos órgãos de segurança. “A publicidade e instrumentos como a Patrulha da Paz e as ações da Justiça Restaurativa fazem com que a vítima saia da inércia e com que os fatos cheguem à autoridade. Com isso, teremos aumento de boletins de ocorrência, de processos e essa percepção de que, agora, a violência aumentou. Mas, na verdade, o que aumentam são as denúncias”, reforça.
O programa é uma parceria entre o Poder Judiciário e a prefeitura, a funcionar por meio da Guarda Civil Municipal. A iniciativa prevê rondas específicas, além de suporte aos programas sociais já existentes no Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), Justiça Restaurativa, Polícia Civil e CMDM (Conselho Municipal dos Direitos da Mulher). A ação foi desenvolvida nos moldes preconizados pela lei Maria da Penha (11.340/2006) – uma das principais referências no enfrentamento à violência doméstica –, em vigor desde 7 de agosto de 2006. Com o programa, a partir das notificações de violência junto ao Judiciário e da emissão das medidas protetivas, é feito um cadastro da vítima e do agressor, por meio da Justiça Restaurativa, e os guardas que atuam na patrulha passam a fiscalizar eventuais descumprimentos das ordens expedidas. O programa, inédito, tem objetivo de dar apoio à mulher vítima de violência doméstica e foi anunciado como mais um instrumento na busca pela redução dos índices de agressão e feminicídio. “A mulher vítima de violência é inserida em uma rede de atendimento. Ela vai ser atendida pela Justiça Restaurativa, onde também vai ser amparada, orientada e, se desejar, é inserida na Patrulha da Paz, na qual poderá contar com serviços especiais, que devem reduzir os casos de reincidência da violência”, adiciona. O promotor argumenta que, com o programa Patrulha da Paz, o município “dá um passo à frente”, trazendo políticas públicas para o tripé do enfrentamento à violência doméstica, que, segundo ele, também é constituído pelo policiamento ostensivo (Polícia Militar e GCM) e pela persecução criminal (atuação da Polícia Civil e da Justiça com a punição dos infratores). Ele enfatiza que, com o lançamento do programa, é a primeira vez que, oficialmente, preencheu-se uma lacuna há muito tempo existente em âmbito local. Ele classifica a iniciativa como um “marco na história do município”. “Temos um tripé, e imaginar que os crimes serão evitados com a atuação de um ou dois desses pilares é deixar um flanco
• • • • SEGURANÇA • • • • aberto para que os crimes continuem. Quando abordamos o cuidado com a vítima, estamos fechando um dos flancos da política pública”, pontua. Pozzi pontua que, desde que a lei Maria da Penha foi promulgada, o município e diversas esferas judiciais em todo o país tiveram como foco a punição do agressor e que, com os novos dispositivos, se passa a dar visibilidade e apoio à vítima, além de se atender ao artigo 23, que prevê encaminhamento da vítima a programas comunitários de proteção ou de atendimento. “Desde que a lei foi promulgada, focávamos com bastante intensidade em formas de evitar impunidade, tanto que aconteceram diversas mudanças neste sentido, mas a intenção da legislação, desde o início, também é de proteger a vítima, de dar a ela condições de romper o ciclo da violência doméstica”, acrescenta. A Patrulha da Paz realinhou as atividades do Núcleo de Justiça Restaurativa de Tatuí e trouxe mudanças ao atendimento à mulher agredida, que, a partir do lançamento do programa, passou a ser encaminhada ao Centro de Apoio à Vítima de Violência. Tanto a vítima que recebe a medida protetiva quanto aquela que tem um processo sem a medida são intimadas e comunicadas, pelo Ministério Público e pelas varas
criminais, para que compareçam ao Núcleo de Justiça Restaurativa. No núcleo, a mulher que sofre agressão é apresentada ao serviço do Centro de Apoio, que oferece um coletivo de mulheres para dar suporte e orientação, além de encaminhar para serviços municipais de assistência social e psicológica. Para as mulheres que sofrem agressões, também há um serviço especializado para orientá-las e informá-las sobre os direitos e condições para a denúncia. Elas também podem conhecer e se cadastrar para o serviço de proteção da Patrulha da Paz. Além disso, a guarda municipal Érica Renata Vieira da Rocha, desenvolvedora do aplicativo do programa e do “botão de pânico”, pode estar na sede da Justiça Restaurativa para fazer o acolhimento da vítima, explicar como funciona o dispositivo e acertar como são realizadas as visitas da Patrulha da Paz. O aplicativo gratuito, já disponível, permite que as mulheres vítimas de violência doméstica e com medidas protetivas concedidas pelo TJSP (Tribunal de Justiça do estado de São Paulo) possam pedir socorro quando estiverem em situação de risco, apertando apenas um botão. A ferramenta é instalada no celular da vítima e, caso o agressor não mantenha
distância mínima garantida pela lei Maria da Penha, a mulher pode acionar a GCM por meio do dispositivo. O cadastramento dos usuários se dá por meio da Justiça Restaurativa, que fornece as informações do banco de dados das medidas protetivas. As medidas são impostas após a denúncia de agressão, cabendo ao juiz determinar a execução desse mecanismo em até 48 horas após o recebimento do pedido da vítima ou do Ministério Público. O aplicativo serve para que a GCM tenha o cadastro das mulheres vítimas de violência e possa garantir mais rapidez, priorizando o atendimento das vítimas, deslocando as equipes mais próximas ao local da ocorrência. Pozzi aponta que a medida protetiva não é suficiente para garantir a integridade física, a integridade mental e a tranquilidade da vítima, ressaltando que o botão de pânico e o programa da GCM são ferramentas para dar efetividade à proteção. “Com este lançamento, a vítima vai poder acionar socorro por um dispositivo extremamente discreto e eficaz. E não é só isso: o programa vai além! Basta que alguém esteja submetida a uma medida protetiva para que a Patrulha da Paz possa fazer um atendimento mais aproximado e evitar as agressões”, acentua.
05 O dispositivo funciona com duplo clique. Após a mulher apertar duas vezes o botão do pânico, é gerada, automaticamente, uma ocorrência de risco à integridade física, pelos centros de operações da Guarda Civil Municipal. O atendimento será priorizado e a viatura da Patrulha da Paz utilizará as coordenadas geográficas da pessoa – entre outros dados do cadastro – para encaminhar a viatura policial mais próxima para atendimento imediato à vítima. As viaturas da Patrulha trabalham em três horários distintos, cobrindo os atendimentos de segunda-feira a quinta-feira, das 9h às 21h; sexta-feira e sábado, das 13h até 1h; e no domingo, das 9h às 21h. O horário seletivo serve apenas para as viaturas caracterizadas da Patrulha da Paz. Contudo, fora desse período, as mulheres continuam amparadas por toda a estrutura operacional da GCM, que funciona 24 horas por dia. “O cuidado que a Patrulha da Paz levará em um momento de mais necessidade e no atendimento que a JR dará à vítima no sentido de fazê-la restaurar a autoestima, se encorajar a dar publicidade à agressão, dará holofotes a um problema que até então era iluminado com lamparinas”, diz o promotor.
06 Ciclo da violência
O promotor ressalta que a violência doméstica é suportada e tolerada por diversas vezes até o momento em que há o encorajamento de se romper o ciclo de violência e procurar a autoridade policial para denunciar a agressão. Ele também explica como identificar os primeiros sinais de violência doméstica. “Já aconteceu de atender audiência em que a vítima declarou que era a primeira vez que houve a violência e ela noticiou, mas isso é a exceção. A maioria das mulheres que vai à delegacia de polícia noticiar uma agressão já está suportando uma situação de violência há muito tempo”, relata. Conforme o promotor, a violência doméstica é classificada por um ciclo composto de três fases: evolução da tensão; explosão, incidente da agressão; e lua de mel, com comportamento gentil e amoroso. Os três estágios consideram as atitudes do agressor durante o relacionamento e são usados por psicólogos, promotores e defensores públicos que atendem vítimas de violência doméstica. A consequência mais drástica do ciclo é o feminicídio. Apesar de a violência doméstica ter várias faces e especificidades, a psicóloga norte-americana Leonor Walker identificou que as agressões cometidas em contexto conjugal ocorrem dentro de um ciclo constantemente repetido. “Na verdade, este ciclo é uma espiral. Cada vez que ele se repete, ele aumenta de intensidade e volta na fase inicial, até chegar ao fim do ciclo, que é o caso mais grave: o feminicídio. Por isso, a importância da denúncia, para que o ciclo não se repita”, explica. Conforme o promotor, pela classificação, no primeiro momento, o agressor se mostra tenso e irritado por coisas insignificantes, chegando a ter acessos de raiva. Também humilha a vítima, faz ameaças e destrói objetos. “Nessa fase, a vítima tende a negar que isso está acontecendo com ela, esconde os fatos, acha que fez algo de errado, até para justificar o comportamento violento do agressor. Essa tensão pode durar dias ou anos, mas, como
• • • • SEGURANÇA • • • • ela aumenta cada vez mais, é muito provável que a situação levará à fase dois”, explica. A segunda fase corresponde à explosão do agressor, ou seja, a falta de controle chega ao limite e leva ao ato violento. Aqui, toda a tensão acumulada na fase um se materializa em violência verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial. Mesmo tendo consciência de que o agressor está fora de controle e tem um poder destrutivo grande em relação à vida da vítima, o sentimento da mulher é de paralisia e impossibilidade de reação. Nesse momento, a vítima também pode tomar decisões, como buscar ajuda, denunciar, esconder-se na casa de amigos e parentes, pedir a separação e até mesmo suicidar-se. Geralmente, há um distanciamento do agressor. Até que chega a terceira fase, também conhecida como “lua de mel”, que se caracteriza pelo arrependimento do agressor, que se torna amável para conseguir a reconciliação. “Há um período relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por constatar os esforços e as mudanças de atitude. Um misto de medo e ilusão fazem parte dos sentimentos da mulher, e, por fim, a tensão volta e, com ela, as agressões da primeira fase”, completa. Em razão disso, a denúncia é apontada por especialistas como o principal caminho para reduzir o número de vítimas, principalmente quando a notificação é realizada nos primeiros sinais de que algo está fora de controle. A notificação pode ser feita pela Central de Atendimento à Mulher, que atende pelo telefone 180, recebendo denúncias ou relatos de violência. Ela também recebe reclamações sobre os serviços da rede e orienta as mulheres sobre direitos e a legislação vigente, encaminhando-as aos serviços, quando necessário. A denúncia também pode ser feita diretamente na Delegacia da Mulher, que funciona de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 18h, na praça da Bandeira, 53, centro, ou, ainda, pelo telefone 190.
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Mulheres na direção quebram estereótipo de “profissão masculina” Elas atuam como motoristas particulares, mototaxistas e por aplicativos de transporte Da reportagem
os serviços dela, principalmente idosas e mães com crianças. A motorista aponta que os principais fatores que levam as mulheres a procurar o serviço particular são a insegurança das passageiras e a possibilidade de acabar sendo transportadas por motoristas desconhecidos nos serviços por aplicativo. “Muitas delas, inclusive, relatam que preferem motoristas mulheres mesmo que nós sejamos minoria. Por algum motivo, elas dizem que somos mais responsáveis, mais cuidadosas no trânsito e temos mais atenção”, garante. Assim como relatado pelas passageiras, o balanço anual do Infosiga SP (sistema de dados do governo de São Paulo que traz mensalmente estatísticas sobre acidentes de trânsito) mostra que “as” motoristas não são “um perigo constante”. As estatísticas do órgão estadual mostram que elas se envolvem menos
em acidentes graves de trânsito: em 2019, no estado, de um total de 5.433 fatalidades em ruas e rodovias, apenas 18,8% dos condutores envolvidos nesse tipo de acidente são do sexo feminino, contra 81,2% do sexo masculino. Já em Tatuí, das 22 mortes registradas no trânsito no ano passado, três mulheres foram vitimadas, sendo apenas uma condutora, o que representa 4,54% das fatalidades, contra 19 acidentes envolvendo homens, sendo que 11 estavam ao volante (50% dos óbitos contabilizados no ano). A motorista ainda pondera que a preferência do público feminino por condutoras se deve ao medo das passageiras que não se sentem confortáveis com homens desconhecidos no carro. Ela conta que algumas, inclusive, já relataram casos de assédio. “A maioria das passageiras que são mais seletivas contam que não se Diléa Silva
“Na oficina, no laboratório, na quadra de esportes ou na cozinha, lugar de mulher é onde ela quiser.” A frase clichê é cada vez mais repetida e justifica-se pelo fato de que o sexo nada frágil vem conquistando espaço em áreas que até há pouco tempo eram tidas como masculinas. Nos últimos anos, as mulheres vêm mostrando que, com competência, é possível atuar em qualquer campo. Neste cenário, muitas estão se dedicando à carreira de motorista, uma ocupação que, até há pouco, não era sequer considerada pelo sexo feminino. O número de mulheres com habilitação para dirigir automóveis no estado de São Paulo cresceu cerca de 18,93% entre dezembro de 2014 e dezembro de 2019, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Em 2014, o estado tinha 7.935.738 mulheres habilitadas. Já em dezembro de 2019, o total chegou a 9.438.288. Este número representa 37,3% do total de condutores habilitados pelo Registro Nacional de Carteiras de Habilitação. O Detran não disponibiliza dados por município. Além de serem habilitadas - em busca de independência financeira, flexibilidade de horário e, muitas vezes, de uma renda extra -, cada vez mais mulheres estão investindo na direção como profissão, principalmente cadastradas em aplicativos e como condutoras particulares. O volume de condutoras que atuam dentro do segmento de aplicativos ainda é baixo em comparação ao dos homens. Mas, já há algum tempo, são vistas mulheres atuando na profissão. Dados divulgados pela Uber do Brasil indicam que, atualmente, 6% dos 600 mil motoristas cadastrados no aplicativo são mulheres. Em Tatuí, conforme dados do DMU (Departamento Municipal de
Mobilidade Urbana), elas representam 16% dos 25 condutores cadastrados. A tatuiana Cláudia Cattel, 41, é uma delas e fala sobre os desafios da profissão. Ela é formada em secretariado executivo, trabalhava em uma loja de cosméticos em São Paulo e, há quase um ano, decidiu deixar a capital para virar motorista de aplicativo e particular na Cidade Ternura. Cláudia nasceu em Tatuí e deixou a cidade para trabalhar na capital ainda jovem. Entre idas e vindas, voltou para o município há cerca de cinco meses e, atualmente, com uma média de 30 corridas diárias e faturamento de quase R$ 2.000 por mês, diz que não troca o volante por nada. “Me sinto muito mais importante do que quando eu trabalhava em uma loja em ambiente fechado - não pelo dinheiro, mas pela minha independência e por poder ajudar as pessoas. Acho que tenho um propósito, e isso não tem dinheiro que pague”, afirma. A motorista conta que a escolha pela nova profissão aconteceu de uma hora para outra. A empresa em que ela estava trabalhando faliu. Desempregada, com as contas atrasando e os boletos chegando, precisou encontrar uma saída e decidiu investir na direção. Na época, Cláudia não tinha veículo, mas isso não foi empecilho. Para reorganizar a vida financeira, ela alugou um carro em uma empresa especializada, fez o cadastro em um aplicativo de transportes e começou a efetivar corridas na capital. “É um mundo muito masculino, mas, como gosto de dirigir e sou muito consciente no trânsito, não pensei se haveria preconceito. Fiz algumas pesquisas com mulheres que dirigiam em São Paulo no transporte por aplicativo e pensei em tentar”, comenta. Além de trabalhar com transporte por aplicativo, Cláudia faz viagens particulares. Segundo ela, as mulheres representam a maior fatia do público que utiliza
Cláudia Cat tel é motorista de aplicativ o há quase u m ano
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Peter Fazekas / Pexels
sentiram confortáveis com motoristas homens. Particularmente, nunca tive problema, e olha que sempre usei os serviços por aplicativo quando morava em São Paulo. Mas, sei que isso existe, e é um problema”, comenta. Por outro lado, como motorista que
também atende o público masculino, Cláudia conta que, embora não tenha medo, toma algumas precauções para evitar o assédio e outras situações que dificilmente aconteceriam caso fosse um homem ao volante. “Não uso batom, brincos nada disso;
só visto roupas largas, para não chamar a atenção. Acho que, independente de ter um corpo bonito ou não, é melhor tomar esses cuidados para evitar olhares maldosos”, completa. Ela afirma que em quase um ano de serviços prestados pelo aplicativo e como particular, apenas uma pessoa não “entendeu” que ela era motorista profissional e tentou se aproximar dela “com uma conversa torta”. “O passageiro entrou no carro e começou a dar em cima de mim, me fazer um monte de perguntas. Eu tenho minhas crenças e comecei a orar para que Deus me ajudasse. A viagem era longa, mas ele acabou me pedindo para parar o carro e desceu. Foi a única vez que passei por isso”, conta. Cláudia relata que, ao contrário do que muitos imaginam, tem mais problemas no carro com casais do que com homens. Segundo ela, pelo menos 5% dos usuários desta categoria rendem prejuízos a ela. “Como eu disse, não me arrumo, estou sempre de qualquer jeito, para não chamar a atenção, mas, quando entra um casal no
carro, eu fico preocupada, por conta das mulheres ciumentas”, revela. Segundo ela, este público é o que mais rende estrelas baixas no aplicativo. Isso representa nota ruim para a motorista e, consequentemente, uma posição baixa no ranking de melhores atendimentos da empresa, o que pode resultar em bloqueio da condutora pelo aplicativo. “Algumas vezes, o casal entra no carro, o homem começa a conversar e a mulher não fala nada. Sempre que isso acontece, eu levo nota baixa no aplicativo. Elas não escrevem nada de ruim, mas têm que saber que, por este capricho, me prejudicam”, observa. Cláudia destaca ser a fé que a faz continuar na profissão, mesmo sabendo dos riscos diários, que vão desde o assédio dos passageiros até os acidentes de trânsito - aos quais fica mais suscetível por passar mais de 12 horas diárias na direção do veículo. “Acredito em Deus. É Ele que me ajuda a suportar esses medos. O trânsito é perigoso, colocar pessoas que você não conhece no seu carro é perigoso. Se você for avaliar tudo isso, não é qualquer um que faz, mas eu não tinha opção de ter medo e, hoje, acho que tenho uma missão”, conclui.
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Irmãs da Providência dão exemplo de fé e amor ao próximo Freiras cumprem missão no Lar São Vicente de Paulo há mais de 80 anos são como filhos, e, assim como qualquer mãe faz com as crianças, as Irmãs da Providência ajudam no banho, cortam as unhas, levam para o médico e ficam disponíveis durante todo o dia para atender às necessidades deles. Além dos cuidados diários, momentos de recreação, como brincar, ouvir música, dançar e passear, fazem parte da rotina. Irmã Tamiris destaca que a maior missão dentro do Lar é dar amor fraterno aos assistidos. “Temos nossos momentos de evangelização, mas nossa maior missão é dar amor, oferecendo atenção e momentos de diversão, como mães fazem com os filhos. Temos que ser mestres e pastoras. Isso também faz parte da nossa vocação”, comenta. O plantão noturno é realizado pela irmã Maria Leopoldina, formada em enfermagem e responsável pela área de saúde da casa. A dedicação aos internos, dela e das outras irmãs é de 24 horas diárias. “Muitos já estão debilitados, mas, enquanto eles
Diléa Silva
Sorriso no rosto, disposição, caridade e abnegação são algumas das marcas do trabalho das Irmãs da Providência no Lar São Vicente de Paulo, em Tatuí. As freiras dessa família religiosa têm uma história de 82 anos com a instituição. Ao longo do tempo, muitas mulheres dessa formação passaram pela cidade e deixaram um legado a ser seguido. No ano passado, as irmãs Alaíde Alves de Almeida, 50, Maria Leopoldino da Rocha, 43, Tamiris Aparecida Nunes de Souza, 31, e Maria Creusa Caitano, 53, assumiram a missão no município e dão exemplos de fé e amor ao próximo. Elas deixaram a família ainda jovens para seguir a vida religiosa. Seguindo a vocação, no “Lar”, além de fazer parte da evangelização dos assistidos e administrar a casa, elas cuidam, medicam, auxiliam na higiene pessoal, dão banho, conselhos, amparo e assistência aos idosos. A madre superiora, Alaíde, afirma que os assistidos
As irmãs Maria Creusa Caitano , Tamiris Aparecida Nune s de Souza, Maria Le opoldino da Rocha e Alaí de Alves de Almei da
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Diléa Silva
estiverem respirando, eles têm vida. É nisso que nos focamos. Cuidamos com todo o carinho e, dentro das condições de cada um, fazemos o máximo para que tenham melhor qualidade de vida”, ressalta a irmã Maria Leopoldino. As freiras só folgam uma vez por semana. O dia livre foi autorizado pela congregação, também no ano passado, com a chegada das missionárias na cidade. Sempre na quarta-feira, das 7h às 19h, o tempo é usado para descanso, estudos, cuidados com a saúde pessoal e interação com a comunidade religiosa. Com o trabalho diário, as freiras acabam se tornando parte da família dos internos e a única referência para os idosos, os quais, muitas vezes, já foram rejeitados pela família de sangue e pela própria sociedade. Atualmente, a instituição atende cerca de 70 internos, divididos entre as alas masculina e feminina. Segundo as irmãs, a maioria tem família, mas não recebe visitas. Mesmo com a atuação do departamento de assistência social da entidade, que procura os familiares e os notifica para comparecerem na casa. “Nós somos a família deles. Muitos, inclusive, só têm a gente e, quando morrem, nós aqui do asilo somos os únicos a velá-los e enterrá-los. A gente não sabe quando isso vai acontecer, mas, antes desse dia chegar, vamos viver o máximo possível com eles, passar o amor de Deus, cuidar com carinho e fazer o que Jesus faria”, revela a madre superiora. Apesar das dificuldades e dos momentos tristes, elas escolheram estar perto da pessoa idosa e do doente. Com a formação religiosa, apontam que a maior inspiração para o trabalho dentro da instituição é o ensinamento passado pelo fundador da Congregação das Irmãs da Providência, padre Luís Scrosoppi (canonizado pelo papa João Paulo 2º, em 10 de junho de 2001): “Ver Jesus no outro”. “Nós escolhemos este caminho e, quando estamos levando um copo de água para um doente, ajudando a levantar, trocando uma fralda ou cantando com eles, temos a certeza de que é Jesus que está ali”, acentua irmã Alaíde. Nascida na vizinha Tietê e criada em Sorocaba, a madre conta que descobriu a vocação para a vida religiosa quando ainda era adolescente e participava de movimentos de jovens e pastorais da paróquia que frequentava.
Trabalho dedica do aos idosos é re alizado 24 horas por di a
“Até arrumei um namoradinho, mas percebi que não era bem aquilo que eu queria. Eu ia em bailes e festas e acabava sempre em algum canto, rezando o terço, escondida, claro. Mas, meu coração só respondia a isso”, menciona a freira. Ela relembra que, junto com uma amiga de pastoral, tinha o sonho de montar um orfanato para cuidar de crianças abandonadas na cidade, mas, como ainda eram muito jovens, não conseguiram concretizar o objetivo. “Era um sonho de criança, e não sabíamos como fazer. Um dia, apareceu uma senhora pedindo ajuda e eu vi que, sozinha, não poderia ajudar. Foi aí que comecei a pensar em procurar movimentos maiores, que trabalhassem com pessoas”. O sonho de ajudar ao próximo com ações concretas ficou reservado até os anos 90, quando Alaíde conheceu a Congregação das Irmãs da Providência. Foi participando de um retiro da Renovação Carismática que recebeu o convite para visitar a sede das Irmãs em Sorocaba. “Antes de eu conhecer as Irmãs, conheci o padre Luís. Quando li a história dele e como ele fala com uma jovem sobre cuidar dos doentes, aquilo gravou no meu coração. Aí, pensei: ‘Eu posso fazer alguma coisa para ajudar os outros’ e, em 1997, entrei para a congregação”, pontua. Alaíde recorda que, quando escolheu trabalhar com idosos, dentro das inúmeras áreas de atuação possíveis da formação religiosa, muitas pessoas da comunidade não entenderam a opção. “Algumas até criticaram, mas uma amiga de pastoral me disse: ‘Pense que você vai estar lá para ajudá-los a viver e não para vê-los morrer’. Isso me marcou muito e me deu força. Hoje, faço de tudo para que cada momento seja alegre, para eles e para nós também”, sustenta Alaíde. Conforme a freira, depois da formação,
em meio ao trabalho, surgiram indicações de que a escolha não poderia ter sido outra. “Um dia, estava vestindo uma meia em uma interna, ela me olhou e disse: ‘A senhora faz as coisas com carinho!’. Aquilo foi muito forte, fez com que eu sentisse que estava seguindo, de fato, os ensinamentos de Cristo. Tudo isso é uma recompensa”, completa a superiora. Já Maria Leopoldino lembra que descobriu a vocação ainda nas primeiras etapas de formação. Ela entrou para a congregação em 2000, para conhecer, e, depois de uma semana, ligou para a família avisando que não voltaria mais para casa. “Prolonguei minha experiência um pouco, isso já faz 20 anos”, brinca. Natural de Janiópoles (PR), Maria Leopoldino mudou-se para Guaratinguetá (SP), para morar com as irmãs, e iniciou o caminho dentro da congregação. Durante o período de preparação, até chegou a conhecer outras irmandades, contudo, viveu uma experiência que a fez ter certeza da escolha. A freira relembra que já havia recebido a proposta para estudar enfermagem e trabalhar na área de saúde, mas ainda não sabia se iria fazer a faculdade, até que passou um dia em um hospital com um auxiliar de enfermagem. Segundo ela, o profissional estava indo fazer um curativo em um paciente e pediu para que ela o acompanhasse, apenas para segurar uma bandeja. Antes, porém, o rapaz orientou que, caso ela não conseguisse ajudar, que deixasse a bandeja em cima de uma mesa e saísse da sala. “Eu gostava de desafio, mas fiquei me perguntando o motivo daquelas palavras. Quando cheguei no quarto, eu entendi. O paciente tinha um câncer ocular e não tinha um lado da face por conta de um transplante”, descreve a freira. Ela aponta que, antes de fazer os votos, queria que o onomástico (nome religio-
so) de experiência durante o período de formação fosse “Jesus sem face”’, só que a madre mestra barrou a ideia, e ela acabou escolhendo, “Jesus cervo obediente”. “Quando vi aquele doente e senti aquele odor forte, que parecia de carne podre, fiquei estagnada, pensando como o ser humano é tão frágil. Depois, lembrei de como eu queria contemplar Jesus, e veio muito forte dentro de mim Jesus presente no doente. Saí de lá e aceitei fazer enfermagem”, completa. Em 2003, irmã Maria concluiu as etapas de formação e veio a Tatuí para realizar a primeira missão. Passou um ano na cidade, até que foi transferida novamente a Guaratinguetá para estudar enfermagem, e formou-se pelo Centro Universitário Teresa D’Ávila, uma instituição salesiana de ensino localizada em Lorena, também no Vale do Paraíba. “É uma área que eu gosto, e foi ao encontro das necessidades da congregação, que tem este foco sanitário em algumas obras, e me proporcionou que eu estudasse enfermagem e voltasse para o Lar São Vicente de Paulo, ocupando a função de superiora da casa e, posteriormente, da área de enfermagem”, detalha. “Acredito muito na vida, desde o primeiro movimento até o último suspiro. Por isso, quis me dedicar em oferecer o máximo que eu conseguir em qualidade de vida para as pessoas enquanto elas estiverem por perto. Não importa se ela está fragilizada por causa da doença ou está sã, eu gosto de estar perto”, acrescenta. A irmã Tamiris é a mais nova da casa. Ela veio de Guaratinguetá e revela que sentiu a vocação para a vida religiosa em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu no Rio de Janeiro, contando com a presença do papa Francisco. Ainda adolescente, Tamiris começou a frequentar movimentos jovens, fazer trabalhos pastorais, ajudar em campanhas de arrecadação de alimentos e outras ações dentro da igreja. A partir de então, o gosto pela vida religiosa foi tomando conta da jovem, e ela começou a participar cada vez mais das ações da comunidade. Com 22 anos, foi convidada a ser ministra da Eucaristia e aceitou a missão, mesmo contra a vontade dos pais. “Eles não queriam porque eu tinha que trabalhar, mas eu dividia o tempo entre o laboratório em que eu trabalhava e as obrigações da igreja”, conta.
• • • • ASSISTÊNCIA SOCIAL • • • • Em 2012, o padre da paróquia onde Tamiris frequentava incumbiu-lhe a missão de formar um grupo para participar da JMJ, que aconteceria em 2013. “Todo mês, tinha encontro sobre a JMJ, e este padre fez retiro conosco, adoração, e começou a dar catequese. Foi como preparar o terreno”, relembra. “Aí, aconteceu a Semana Missionária, na qual minha paróquia acolheu centenas de jovens de diversos países, e isso me chamou a atenção também. Quando fui para a jornada, foi como jogar a semente em um solo fértil, fez florescer aquilo que estava dentro de mim”, adiciona. Durante o evento, Tamiris destaca que até conseguiu chegar perto do papa e entregar a ele uma cruz com quase dois metros de comprimento, com pedidos de oração de diversas partes do mundo colhidos entre o público presente. “Depois de dias carregando aquela cruz comigo, furei a barreira dos seguranças e, finalmente, consegui entregar a cruz para o papa. Antes, eu tinha pedido um sinal para Deus: ‘Se for para eu ser freira, eu conseguirei entregar essa cruz’. Aí eu consegui, foi o sinal que eu pedi”, crê. Ainda em 2013, Tamiris se demitiu do laboratório, deixou a família e iniciou o caminho vocacional. Conheceu as Irmãs da Providência em Sorocaba, passou pelos passos de formação do aspirantado,
postulado, noviciado e, agora, está no segundo ano de juniorato, última etapa antes dos votos perpétuos. Irmã Tamiris também veio para Tatuí no ano passado, e está fazendo o primeiro trabalho dentro da congregação no Lar São Vicente de Paulo. A freira reitera que a obra realizada na entidade é a única neste formato dentro da América Latina. “Existem Irmãs da Providência em diversos países, mas, entre o que nós estamos, Tatuí é o único lugar onde o campo de missão é em uma ILPI (Instituição de Longa Permanência de Idosos), e onde precisar nós estaremos com carisma e caridade”, enfatiza. Madre Maria Leopoldina explica que o trabalho das irmãs é itinerante. De acordo com as necessidades dos municípios, as coordenações provinciais e conselhos as direcionam para locais diferentes. “Todas as irmãs fazem um rodízio entre as obras da congregação. Umas ficam mais tempo, outras menos tempo, mas, por regra, nós ficamos no máximo seis anos em cada comunidade; depois, automaticamente, somos transferidas”, informa. A freira é uma pessoa que, ao deixar a casa, os pais e irmãos, faz votos de viver para Deus e para os irmãos. Mas, isso não quer dizer que ela perde as origens e o cuidado com os pais. Elas salientam que,
uma vez por ano, tiram 15 dias para passar com os parentes. Além disso, recebem visitas dos pais e familiares na própria instituição. “Eles (os familiares) podem nos visitar quando quiserem, e é interessante porque eles acabam entendendo tanto a nossa vida que abraçam as obras junto com a gente”, enfatiza a irmã Alaíde. “Minha família, por exemplo, agora mora em Votorantim e, quando vem nos visitar, já perguntam o que as irmãs gostam. Eles sabem que nós partilhamos tudo e gostam de trazer algo que a comunidade possa partilhar, dizem que ganharam outras filhas”, pontua Maria Leopoldino. ORIGEM A origem da formação católica tem como fundador o padre Luís Scrosoppi - canonizado pelo papa João Paulo 2º em 10 de junho de 2001 - e ocorreu em 1º de fevereiro de 1837, com a inauguração de uma casa para meninas órfãs e abandonadas em Udine (Itália). Das jovens professoras que assistiam e educavam essas crianças, surgiram as primeiras nove irmãs, que, a exemplo do padre, decidiram dedicar-se à educação das filhas dos mais pobres e se tornaram as Irmãs da Providência. Nas ruas de Friuli, em 1855, quando a
11 cólera se alastrou, as irmãs iam procurar os doentes nas casas para cuidar deles, sem medo de contrair a doença. Além de espiritualmente fortes, o padre queria que elas fossem bem preparadas profissionalmente. Antecipando o bombardeio austríaco e a necessidade de ajudar os feridos, o padre começou a preparar as irmãs, transmitindo-lhes os conceitos básicos de enfermagem, com a ajuda de um médico. A mesma preocupação foi também para com qualquer outra atividade caritativa. Abriu uma escola do magistério para a preparação das irmãs na arte de ensinar, enviou-as para aprender outros cuidados hospitalares, para aprender a língua de sinais e treinar outras, para a assistência ao doente mental. De lá, elas se espalharam para diversos países do mundo, sempre seguindo a missão de evangelizar por meio da assistência à infância, educação, serviços aos doentes e idosos, formação e promoção da mulher, da colaboração pastoral e da ação missionária da igreja. No Brasil, elas estão presentes nos estados no Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Bahia e São Paulo, no qual se dividem nos municípios de Sorocaba, Tietê, Atibaia, São Caetano do Sul, Guaratinguetá e Tatuí, onde a obra começou em 1938.
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O feminismo na luta pelos direitos das mulheres Advogada tatuiana comenta sobre avanços e retrocessos A luta pelos direitos das mulheres começou no século 19, quando surgiram as primeiras ações que se transformaram no que atualmente se chama de feminismo e, embora o movimento seja antigo, figura entre as pautas mais debatidas na atualidade. Pesquisa realizada pela Wakefield Research, a pedido da marca Gillette, aponta que as brasileiras estão na lista das mulheres mais feministas ao redor do mundo. O estudo ouviu mais de 500 mulheres, entre 16 e 45 anos, de nove países diferentes. O resultado mostrou que 65% das brasileiras são “feministas”. O número está à frente das norte-americanas, francesas, alemãs, mexicanas, russas, britânicas, canadenses e, principalmente, das japo-
riam-Webster - que elege anualmente o termo mais buscado na plataforma - apontou que “feminismo” foi eleita a palavra do ano em 2017. Nesse mesmo ano, a procura pelo termo no Google cresceu 200% se comparado a 2015. Mesmo com o aumento na procura por informações, ainda existem muitas especulações sobre o assunto. Para alguns, o feminismo lembra lutas, debates e busca por direitos, enquanto, para outros, pressupõe grupos extremistas de libertação da mulher, ódio aos homens e mulheres masculinizadas. A advogada tatuiana Paula de Cássia Bernardes acentua que, quando se fala no assunto, é importante saber que existem várias vertentes do movimento e que não tem nada a ver com ódio aos homens Diléa Silva
Advogada Paul a de Cássia Bernar des, ativista pelos di reitos da mulher
nesas – que apareceram no fim da lista. Por outro lado, nos últimos anos, também é crescente o número de pesquisas sobre o tema por meio de mecanismos on-line, o que sugere uma sociedade ainda repleta de dúvidas e estereótipos quando o assunto é feminismo e feministas. O dicionário norte-americano Mer-
ou estereótipos de mulher raivosa ou “peluda”. Cada uma delas reflete a luta diária de grupos distintos de mulheres. Paula é pós-graduada em ciências penais e em direito da família e sucessões, faz parte do CMDM (Conselho Municipal dos Direitos da Mulher) e é presidente da Comissão da Mulher Advogada da
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Tatuí. Envolvida com a causa feminina, a advogada realizou um estudo sobre as conquistas referentes às mulheres do ponto de vista legal, que mostra uma das vertentes do feminismo como um importante movimento na efetivação dos direitos humanos da mulher. Ela elenca o Estatuto da Mulher Casada, a lei do divórcio, o direito ao voto, a Constituição Federal de 1988, o Código Civil de 2002 e a Lei Maria da Penha como os principais avanços no Brasil. “Toda essa luta foi feita por mulheres. Não eram os homens que brigavam por nós, sempre era um grupo de mulheres tidas como rebeldes, como loucas, que foram brigando para a gente ter essas conquistas de direito”, assevera. Paula sustenta que, no século passado, o movimento feminista brasileiro questionava as contradições da sociedade e propunha o fim das desigualdades entre homens e mulheres no núcleo familiar e nos locais de trabalho. Já no começo do século 20, a ação do movimento concentrou-se na luta para que a mulher obtivesse o direito de “ser dona de si”. O que começou a se transformar em realidade a partir dos anos 30, com a aprovação de uma nova Constituição e o direito de voto. Segundo Paula, no início do século 20, nenhuma constituição falava dos direitos da mulher e o sexo feminino não existia para a lei, assim como também não existia qualquer proibição de discriminação de sexo. Ela lembra que o Código Civil de 1916 definia a mulher como incapaz de realizar certos atos e previa que ela necessitava da autorização de um homem (pai ou marido) para exercer diversas atividades, inclusive, a de ter profissão ou receber herança. “As mulheres se sujeitavam ao controle do pai até o casamento e, depois, ficavam no domínio do marido. Elas não podiam fazer nada sem autorização, e assim foi até começarem a acontecer pequenas conquistas”, acentua a advogada. Uma das lutas de maior significado para as mulheres e que marca o início do movimento feminista é o direito ao
voto. A manifestação política feminina foi garantida por meio de decreto de Getúlio Vargas em 1932. Entretanto, a conquista não foi completa. O código eleitoral da época permitia apenas que mulheres casadas (com autorização do marido), viúvas e solteiras e com renda própria e maiores de 21 anos pudessem votar. O cenário na questão política mudou em 1934 com a promulgação da nova Constituição, na qual as restrições ao pleno exercício do voto feminino foram retiradas e a idade para poder votar passou a ser de 18 anos. “Depois da Constituição de 1934, nós tivemos a de 1937 e a de 1946. Embora essas duas não trouxessem nada de inovador para as mulheres, isso não impediu que elas continuassem buscando novas conquistas”, comenta. O próximo marco citado pela advogada só veio nos anos 60, com a lei 4.121, de 27 de agosto de 1962, conhecida como “Estatuto da Mulher Casada”. Conforme Paula, a lei contribuiu para a emancipação feminina em diversas áreas. A lei mudou mais de dez artigos do Código Civil vigente, entre eles o 6º, que atestava a incapacidade feminina para alguns atos. Além de poder se tornar economicamente ativa sem necessitar da autorização do marido, a mulher passou a ter direito sobre os filhos, podendo requisitar a guarda em caso de separação. A advogada aponta que, apesar de as mudanças não terem acontecido imediatamente, o estatuto marcou o início de várias transformações no âmbito legal a respeito dos direitos e deveres da mulher. “O estatuto mudou o Código Civil de 62 e trouxe um grande avanço no ponto de vista legal. A partir dele, as mulheres deixaram de ser consideradas incapazes e não estavam mais sendo obrigadas a ser submissas aos maridos”, ressalta. Depois do estatuto, veio a Constituição de 1967, que representou avanço na área previdenciária, diminuindo o prazo da aposentadoria das mulheres, que era de 35 anos de serviço, para 30 anos. “A busca pelos direitos da mulher é um trabalho de ‘formiguinha’. Nada aconteceu de um ano para o outro: há pelo menos
• • • • COMPORTAMENTO • • • • cinco ou dez anos de diferença a cada marco na história dessas conquistas”, enfatiza. Paula ainda lista a lei 6.515, de 1977, popularmente conhecida como a “Lei do Divórcio”, como um passo na busca pelos direitos das mulheres. Ela explica que a aprovação da legislação trouxe a possibilidade de dissolução oficial do casamento. “A lei não só permitiu o fim do casamento como também deu liberdade para a mulher escolher se queria ou não usar o sobrenome do marido e instituiu novos regimes de bens, completando as outras leis que já haviam sido sancionadas em favor da mulher”, menciona. Apesar dos avanços, homens e mulheres só começaram a ser iguais em direitos e obrigações com a Constituição Federal promulgada no dia 5 de outubro de 1988, que, conforme Paula, representa uma das maiores conquistas das mulheres brasileiras, por ser a primeira a estabelecer igualdade jurídica entre homens e mulheres. A advogada pondera que, apesar de não ser colocado em prática na totalidade, o atual texto mudou o status jurídico das brasileiras, que até 1988 estavam em posição de inferioridade e submissão aos homens. “No artigo 5º, a Constituição atual estabelece que todos são iguais perante a lei. Com ela, também tivemos progressos
em relação aos direitos humanos das mulheres e o reconhecimento de sua plena cidadania”, acrescenta. Paula ainda afirma que a Constituição Federal de 1988 permitiu que o Brasil ingressasse em sistemas internacionais de proteção aos direitos humanos da mulher e acabou sendo signatário de vários tratados que, inclusive, forneceram base para que se formulasse a Lei Maria da Penha (11.340/2006) - uma das principais quando o assunto é o enfrentamento à violência doméstica. Em vigor desde 7 de agosto de 2006, a lei é uma explícita homenagem a Maria da Penha Fernandes, que, atualmente, tem 75 anos e, no passado, foi agredida pelo marido durante seis anos. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la. Na primeira oportunidade, usou uma arma de fogo, que a deixou paraplégica; na segunda, tentou eletrocussão e afogamento. O agressor só foi punido depois de 19 anos, vindo a cumprir dois anos de prisão em regime fechado. Paula explica que, quando os países fazem parte dessas convenções, eles têm um compromisso internacional e são obrigados a adotar políticas públicas e legislações igualitárias. Foi por um destes tratados que Maria da Penha conseguiu denunciar o país por estar alheio diante
das agressões que sofria do ex-marido. “Por conta destes tratados, a corte internacional acabou condenando o Brasil em algumas penalidades, dentre elas, a promulgação de uma lei que desse total amparo para as mulheres, e aí foi criada a lei Maria da Penha, que acredito que seja o marco principal de todos esses anos de luta”, enfatiza. Pela lei, criada com a finalidade de aumentar o rigor das punições, qualquer ação ou omissão baseada no gênero feminino - não somente as que lhe cause morte, mas também qualquer tipo de lesão ou sofrimento físico, sexual, psicológico e dano moral ou patrimonial - passaram a ser configuradas como crime. “Gosto de trabalhar e abordar toda essa revolução histórica do feminismo, e quis entrar para o CMDM porque quero ver tudo isso na prática. Agora é o momento. Estamos conseguindo políticas públicas, e isso é muito importante, quero acompanhar de perto”, adiciona. Para a advogada, o histórico de conquistas no ponto de vista dos direitos fortalece a figura da mulher e do trabalho do feminismo, “que fez com que o sexo feminino percebesse que era capaz e que não precisava do homem para conquistar as coisas”. “Isso foi trazendo segurança, maturidade, independência. As mulheres co-
13 meçaram a acreditar no próprio potencial e, a partir disso, começaram a ficar mais fortes e mais guerreiras, para lutar por mais direitos e conquistas”, argumenta. Mesmo com os avanços apresentados, a advogada indica que a busca pelos direitos deve continuar, e de forma constante. Ela cita algumas pautas relacionadas à saúde da mulher como retrocesso. “Acho uma afronta, em pleno século 21, a mulher não poder responder pelo próprio corpo e ter que preencher requisitos para poder fazer uma laqueadura, ou ainda não poder ter parto da forma escolhida pela grávida”, observa. A interdição legal para a realização de aborto também é apontada pela advogada como uma questão grave para a saúde das mulheres. Ela ainda afirma que a criminalização legal e religiosa que tem considerado a prática do abortamento um delito não tem coibido as mulheres de realizar o procedimento. “Não é uma questão religiosa, a gente tem que tirar a religião de lado e pensar na saúde da mulher. Enquanto o aborto não é regulamentado, estamos dando subsídio para clínicas clandestinas que colocam em risco a saúde da mulher. Isso ainda é retrocesso e, a partir daí, temos uma noção de quanto a luta deve continuar”, finaliza.
PUBLIEDITORIAL
Prestes a completar um ano no município, a Espaçolaser, maior rede de franquias de depilação a laser do mundo, atua com o objetivo de proporcionar às mulheres a eliminação dos pelos indesejáveis no corpo. Presente em todos os estados brasileiros, com mais de 500 lojas, a Espaçolaser já ultrapassou a marca de 20 milhões de procedimentos realizados em toda a rede desde 2002, permitindo que mais de 3 milhões de clientes sintam-se felizes e “livres” depois das sessões. A unidade tatuiana da Espaçolaser, inaugurada em maio de 2019, atende mulheres e homens. Ao público feminino, a franquia oferece opções de depilação a laser em 34 áreas, situadas na cabeça, tronco, braços, pernas, mãos e pés. A depilação a laser funciona por meio do contraste entre o pelo e a pele. Inicialmente, a Espaçolaser faz uma avaliação em cada cliente, pois o método – considerado o mais sustentável – é contraindicado a gestantes e portadores de algumas doenças autoimunes. Na Espaçolaser, há a possibilidade de sessões individuais de depilação. Entretanto, a proprietária da unidade tatuiana, Nayla Canheo Chaves da Silva, orienta que as mulheres escolham a opção um pacote de sessões para determinadas áreas. De acordo com a empresária, desta forma,
Espaçolaser realiza sonhos das mulheres: ontem, hoje e amanhã Unidade tatuiana de depilação a laser oferece conforto liberdade e autoestima elevada as clientes podem ser monitoradas individualmente e ter um intervalo adequado entre uma e outra sessão, possibilitando que a Espaçolaser entregue um serviço de excelência. Os pacotes são fechados a partir de dez sessões e os resultados podem variar de uma pessoa a outra, conforme a concentração hormonal e o estímulo de pelos. Nayla esclarece que, ao término do pacote, as clientes que necessitarem de uma sessão para manutenção têm direito a condição especial de até 70% de desconto.
A Espaçolaser atua com a melhor tecnologia do mercado, com eficiência e agilidade nos tratamentos. A franquia trabalha com o laser “Alexandrite”, considerado o melhor e mais adequada para este tipo de depilação. “Considerando os pontos mais cobiçados pelas clientes, a média de uma sessão de axila é de apenas cinco minutos; de virilha, 15 minutos; e no abdômen e no tórax, de cerca de 30 minutos”, informa a empresária. “A Espaçolaser oferece a melhor tecno-
logia em sessões de curta duração. Hoje em dia, as mulheres não têm mais tempo e necessitam dessa agilidade que oferecemos no atendimento”, complementa. A unidade atende às clientes com uma equipe especializada e altamente capacitada. São fisioterapeutas formadas, que realizaram curso de mais de cem horas na “Universidade do Laser”, construída pela Espaçolaser em São Paulo. Para Nayla, a depilação a laser da Espaçolaser oferece liberdade, conforto, bem-estar e eleva a autoestima das mulheres. Segundo a empresária, as clientes ficam maravilhadas durante e ao término do tratamento, por conquistarem aquilo que elas tanto almejavam. “Para muitas mulheres, se ver livre dos pelos é um sonho. A Espaçolaser possibilita a realização desde sonho, permitindo que elas elevem a autoestima e se sintam mais confiantes”, revela. “Na Espaçolaser, nós não vendemos um serviço, nós proporcionamos conforto, bem-estar e uma sensação de liberdade, ontem, hoje e amanhã”, conclui Nayla.
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Empreendedoras dominando o mercado tatuiano Tatuianas são destaque no mundo dos negócios e compartilham experiências O crescimento da participação feminina em novos negócios no Brasil foi significativo nos últimos anos. A cada dia, as mulheres conquistam mais espaço e assumem o protagonismo em diversas áreas de atuação. De acordo com o relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgado em 2018, o Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras. O empreendedorismo feminino teve um aumento de 6,6%, enquanto o masculino, apenas 0,7%. O dado é resultado de levantamento realizado em 49 nações. Ao todo, são mais de 24 milhões de brasileiras tocando negócios próprios, gerando empregos e movimentando a economia. Em Tatuí, as figuras femininas também ocupam lugar de destaque e, cada vez mais, têm ganhado espaço no mundo dos negócios. São empreendedoras - com histórias inspiradoras - que trabalham diariamente para transformar sonhos em negócios rentáveis e de sucesso. As empresárias Clara Maria Brandão Fonseca, a filha dela, Fernanda Rodrigues Fonseca Ribeiro (sócias e proprietárias da Clara Doces & Cia.), e a farmacêutica Cristiane de Oliveira Teles (proprietária da Personal Pharma) integram esta crescente parcela do empreendedorismo local. Da criança que fez da mãe doceira um símbolo de inspiração e coragem, à farmacêutica, que mesmo sem ter alguém do ramo na família, decidiu investir na manipulação de medicamentos - sendo uma das primeiras a oferecer o serviço na cidade -, elas são exemplos a outras mulheres e têm trajetórias cheias de ensinamentos. Mãe e filha começaram a fazer e vender doces em casa e, atualmente, administram juntas uma das docerias mais famosas da cidade: a Clara Doces & Cia. Elas contam que o espaço, inaugurado há sete anos, representa a concretização de um sonho.
Clara nasceu na Terra dos Doces Caseiros em meio a uma família tradicional tatuiana e, ainda pequena, aprendeu os segredos e receitas de como se faz uma boa sobremesa. A tradição doceira vem passando de geração a geração há quase 80 anos. Tudo começou em 1942, quando a dona de casa Clara Rocha (bisavó da Clara) começou a vender compotas caseiras para os
amigos e acabou ficando conhecida pelos doces. As filhas também aprenderam as receitas e Zulmira Rocha (avó de Clara) seguiu o caminho, acrescentando a venda de fios de ovos e balas de alfiniz. De Zulmira, a tradição passou para Idalina da Rocha Brandão (mãe de Clara). “Lucha”, como era conhecida, formou-se professora e trabalhava na profissão, mas a paixão pela doceria era tanta que ela dividia o tempo entre as aulas e horas na cozinha para o preparo de novas receitas. Idalina passou também a oferecer queijadinhas, bom-bocado e bolos - este
último, muito procurado para festas de aniversário e casamentos. Tudo era feito dentro de casa, ainda junto com Zulmira, por meio de encomendas e propaganda “boca a boca”. Lucha teve duas filhas, mas somente Clara “pegou o gosto” pela doceria. Aos oito anos, ela ajudava a avó e a mãe. “Meu serviço era pingar o suspiro para assar, era
tomei este sonho para mim e decidi abrir o negócio”, lembra Clara. Com o apoio das filhas, a doceira reformou a casa em que morava para abrigar a doceria e a loja foi inaugurada no dia 31 de março de 2013. Desde então, atende clientes de diversas localidades, da região, do estado e até mesmo de fora do país. “Minha mãe trabalhou até os 84 anos aqui comigo na doceria e, Arquivo pessoal depois, deixou-a para nós. Morávamos junto com ela, e eu a ajudava. Quando ela faleceu, há cerca de dez anos, as meninas já estavam ajudando e, hoje, vejo minhas netas seguindo neste caminho também. Elas adoram!”. Já consolidada, a loja tem entre as clientes mais assíduas personalidades famosas, como Vera Holtz. A atriz, que também é tatuiana, ajudou a doceria a ficar ainda mais conhecida por dar declarações à imprensa, dizendo que gosta do bolo de leite condensado com nozes, cocada e ameixa da Clara Doces & Cia. A receita é uma das poucas da família que permaneceu no cardápio com as atualizações Clara e Fernanda feitas ao longo dos anos, mas mantêm tradição de ainda é tão famosa que ficou quase 80 anos conhecida como “Bolo dos na doceria Holtz”. “Sempre que ela (a atriz) vem para Tatuí, ela quer este bolo para comer. Depois que ela falou, todo mundo que só isso que eu fazia, mas eu gostava de vem de fora chega aqui procurando este estar perto”, conta Clara. bolo para experimentar, além do de brigaA menina cresceu, também se formou deiro com morango, que também é receita professora primária e, a exemplo da mãe, da família e faz sucesso”, garante Clara. Fernanda é formada em processamento dividia o tempo entre as aulas e a produção de doces, ensinando o oficio às duas de dados pela Universidade Presbiteriafilhas: Fernanda - que trabalha com ela - e na Mackenzie, em São Paulo. Após a conRoberta Fonseca - que, atualmente, mora clusão da graduação, trabalhou por pouco em Rio Claro (SP), onde também trabalha mais de um ano na área, sempre voltando a Tatuí aos finais de semana para fazer com doces. O sonho de abrir a doceria veio de Idalina. doces com a mãe. “Está no sangue: você não consegue “Como a gente atendia as pessoas em casa, minha mãe sempre quis ter uma loja, mas parar. Faz falta! Eu estava lá em São Paulo, não tinha condições. Quando ela morreu, um dia, liguei, contei para minha mãe que
• • • • EMPREENDEDORISMO • • • • parecia que não era aquilo que eu queria, e ela me disse para vir embora. Isso foi muito bom. Tive apoio para empreender e não me arrependo”, comenta Fernanda. Ela ressalta que todas as mulheres da família “são grandes exemplos de pessoas fortes e determinadas”. E é por meio desses exemplos que elas seguem até hoje buscando melhorar cada vez mais os produtos e serviços oferecidos. “Quando a gente está esmorecendo, a outra vai lá e fala: não! Vai lá, procura outro curso, precisa aprender mais, e a gente sempre está aprimorando. Minha mãe é o meu maior exemplo. Ela me apoiou quando eu não sabia o que fazer e me fez acreditar que tudo ia dar certo”, reconhece Fernanda Ela ainda conta que a irmã se formara em matemática, fora convidada a fazer mestrado fora do Brasil e recusara a oferta para continuar com a produção de doces. “Ela até começou a dar aulas mantendo a venda de doces, mas parou, e agora ficou só com o doce”, conta. Além da paixão pela produção de doces, Fernanda afirma que a flexibilidade de horário, aliada à liberdade do negócio próprio, fazem com que ela não queira voltar à carreira na área de tecnologia. “Não troco isso por nada. É difícil, tem que pensar bem antes de começar um negócio, mas, fazendo o que se ama, com
dedicação e muito trabalho, é possível ter sucesso. A vida é bem corrida, mas tudo vale a pena”, assevera. O negócio cresceu nos últimos anos e, atualmente, já soma quatro funcionárias, que se dividem entre cozinha e atendimento, para dar suporte ao trabalho da família. Fernanda antecipa que já está até estudando uma forma de aumentar o espaço.
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Diléa Silva
SAÚDE EMPREENDEDORA Por sua vez, a farmacêutica é um exemplo de mulher que resolveu estabelecer metas e ir à luta. Cristiane não tinha ninguém do ramo de farmácia na família e foi uma das primeiras a investir na área de manipulação. Há 18 anos, ela decidiu investir no próprio negócio e atualmente, tem duas farmácias, sendo uma matriz no centro da cidade e uma filial na vila Dr. Laurindo. O segundo espaço completa 12 anos de fundação em 2020. Cristiane cresceu em Tatuí, formou-se
Cristiane de Oliveira Teles, umas das pio neiras na área de manipula ção em Tatuí
em farmácia pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas e mudou-se para Botucatu, onde fez mestrado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista)
na área de farmacologia. A carreira começou ainda em Botucatu, quando recebeu proposta de emprego em uma farmácia de manipulação. Segundo
ela, a preferência era pela área de pesquisa, à qual estava se especializando, e depois seguir para o doutorado. Mas, acabou aceitando o trabalho. “Era um emprego, não dava para perder a oportunidade, embora eu tenha aceitado com muitos medos. Várias vezes tentei desistir, era muita responsabilidade, cobrança, e o meu maior desafio era lidar com pessoas”, relembra. Com incentivo do médico e marido Juliano Teles - então namorado naquela época -, Cristiane seguiu em frente e garante que, em oito meses, viu-se “apaixonada” pela manipulação de medicamentos. “Fiquei encantada com tudo aquilo e comecei a me aprofundar. Queria saber de todos os detalhes e, além de perguntar para o proprietário da farmácia, fazia cursos e mais cursos. Fiquei gostando muito da manipulação”, enfatiza. O trabalho na farmácia em Botucatu durou quatro anos, até que o marido terminou a residência em medicina e ambos voltaram para Tatuí. Formada e com a experiência de trabalho, os planos mudaram e ela decidiu não seguir em frente com o doutorado para iniciar o próprio negócio. O primeiro espaço utilizado era na rua Capitão Lisboa, ao lado de onde atualmente funciona a matriz, em um prédio alugado e menor que o atual. “Comecei com muita vontade, mas tudo era muito difícil, não só por conta do investimento, mas de outros fatores também. Quando a gente chegou, 18 anos atrás, os médicos não acreditavam em manipulado, e eu tive um trabalho intenso”, garante Cristiane. Para mostrar aos médicos a qualidade dos manipulados, a empresária teve de percorrer diversos consultórios, explicando os produtos usados nas fórmulas e todo o arsenal oferecido pela nova farmácia. “Eu deixava amostras, pedia para que eles experimentassem, e tentávamos negociações com o médico para ele ver e acreditar que o manipulado era bom. A grande maioria deles era muito conservadora. Foi um trabalho muito árduo, mas nós insistimos e conseguimos ganhar confiança”, relembra a farmacêutica. Cristiane destaca que um dos principais desafios foi a falta de pessoal qualificado. Por ser uma das primeiras no ramo, a cidade ainda não tinha mão de obra com cursos técnicos ou especializados na área. “Começamos com quatro pessoas, e foi uma luta! Elas vieram de lojas para trabalhar comigo. Não tinha cursos técnicos na cidade, então, não tinham a mínima noção de como trabalhar com manipulação, os cuidados etc.”, relata. O treinamento da equipe foi feito
• • • • EMPREENDEDORISMO • • • • por ela, em paralelo com o trabalho que fazia no laboratório, na preparação dos medicamentos, na liberação dos produtos aos clientes, nas visitas aos médicos e no atendimento de balcão. “Quem vê a gente aqui hoje pensa que foi fácil, mas, no início, foi muito difícil. Eu começava 5h, 6h da manhã e ficava, às vezes, até 2h ou 3h da madrugada na farmácia, com pequenos intervalos só para poder comer. Assim foi por quase dois anos até eu ter uma equipe treinada”, acentua a farmacêutica. Cristiane conta que, nos primeiros cinco anos, dedicou-se inteiramente à farmácia, com uma rotina diária de quase 12 horas de trabalho, até que decidiu ter um filho e reduzir a carga horária para poder passar mais tempo com a criança. O menino completou 12 anos e, agora, ela revela que divide o tempo com o filho e a família. “Na parte da manhã, faço meu papel de mãe. Levo meu filho para a escola e para os cursos, passo mais tempo com ele”, revela Cristiane. Com o tempo, os serviços foram se tornando cada vez mais conhecidos e a prescrição de manipulados também acabou aumentando, gerando a necessidade de um novo espaço para atender aos clientes. “Consegui ter um retorno por parte dos médicos. Muitos dermatologistas elogiavam os efeitos dos nossos cremes; outras áreas também falavam que era bom. Isso era gratificante e dava força para continuar investindo. Foi dando certo, veio a filial e, depois, mudamos para um lugar com mais espaço”, descreve a farmacêutica. Sobre o empreendimento, Cristiane assegura que ficou com insegurança, contudo, pondera que o apoio das pessoas que estavam ao redor dela, na família e entre os amigos foi essencial para alcançar as metas. “Tive medos, mas também tive pessoas que me apoiaram muito e, com isso, eu só olhava para frente. Me esforcei muito até ter uma equipe como tenho, e agora cuido da administração e ainda dou suporte na parte técnica”, completa a empresária. Em comum, as empreendedoras tatuianas têm determinação de sobra e investiram pesado na profissionalização dos seus produtos e serviços para conquistar o mercado, trilhando caminhos marcados pelo trabalho árduo e pela busca por conhecimento. A história dessas tatuianas mostra que as empreendedoras do século 21 são mães, esposas e estudantes, além de se dedicarem com afinco no trabalho. Todas elas começaram com negócios pequenos e aumentaram ao longo dos anos. Sobre o segredo do sucesso, elas concordam que, independentemente do gênero, empreender exige disciplina, entendimen-
to sobre o negócio e dedicação, além de amor pelo trabalho escolhido. “Não tem como saber de tudo, lógico. Então, a gente sempre está aprendendo, e tem muito o que aprender. É sempre uma luta, a gente não para. Eu acho importante amar o que se propõe a fazer, e arriscar. Os desafios sempre existirão, mas isso nós vencemos com a prática do dia a dia”, argumenta Cristiane. No caso da doceria, Fernanda acentua que, além de novos cursos profissionalizantes, é necessário investir em equipamentos, para viabilizar o aumento da produção e reduzir o tempo de trabalho. Igor Link/Pixabay
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“Hoje, nós temos muito mais tempo do que minha mãe e minha avó tinham. Algumas máquinas nos ajudam a fazer boa parte do trabalho, e acredito que, quando minha filha estiver tomando conta da loja - se isso acontecer -, ela terá ainda mais recursos. É preciso ficar atenta às novidades e se atualizar sempre”, destaca Fernanda. “Acho que, para ter sucesso, é necessário pensar em sempre fazer melhor. Nada vem de graça! É preciso muito esforço, dedicação, honestidade com os clientes, raça, luta e coragem. Não é fácil! Mas, se fosse para começar de novo, eu começaria”, finaliza Cristiane.
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‘Sobreposição’: truque para estação mais chique do ano Empresária Ana Flávia Miranda antecipa dicas de ‘looks’ para o inverno Casacos, jaquetas, coletes e cachecóis. A moda inverno de 2020 deve contar com uma infinidade de peças, mesclando diversidade de cores, formas e texturas, prometendo esquentar a estação mais fria do ano. Para ajudar as mulheres a não ficarem de fora das tendências do momento e poderem montar um “look” completo, a empresária Ana Flávia Miranda antecipa dicas da moda inverno de 2020, apresentando novidades que deverão encher as ruas tatuianas de estilo. De acordo com a proprietária da Ana Banana, situada à rua Capitão Lisboa, na região central, a combinação de peças entre si, como cachecóis e lenços, dá um “toque final” às produções de inverno. A empresária recomenda a mistura de peças sobrepostas, a fim de transformar comAna Flávia Miranda, pletamente o look feminino. proprietária A intenção é utilizar três ou da Ana Banana quatro camadas de roupas para as mulheres não passarem frio, “descascando” algumas camadas - como um “efeito cebola” - para se adaptar ao aumento de do vestiário feminino na qual a mulher deve investir para valorizar as produções, temperatura que ocorre durante o dia. “A sobreposição é um truque perfeito além de poder reutilizá-la sempre que para ficar estilosa no inverno, apostando possível. “O jeans é democrático e presente na em diferentes texturas nos looks”, aconmaioria dos guarda-roupas femininos, no selha Ana Flávia. qual vale a pena investir. Tendo um bom Ela considera “o inverno a estação mais jeans, podemos compor vários looks”, chique do ano”. Fazendo jus à sofisticaobserva a empresária. ção da temporada, as roupas precisam Uma inédita pesquisa da Lycra, realiar conforto, estilo e proteção ao frio, podendo ser reaproveitadas ao longo dos alizada em outubro de 2016, em cinco anos. “Os casacos de inverno, jaquetas e países (Alemanha, Brasil, China, Espanha coletes são peças que duram para sempre, e Estados Unidos), traçou o perfil do novo consumidor de jeans em cada um vale o investimento!”, argumenta. Conforme Ana Flávia, o jeans é a peça dos mercados analisados.
O estudo evidenciou que o jeans é “peça-chave” no guarda-roupa das mulheres nos cinco mercados abordados e que, em média, cada mulher tem oito jeans. No entanto, o Brasil tem a maior média: 9,3 jeans. Na China, são apenas 6,4 peças por pessoa. Ana Flávia destaca o “estilo comfy”. Ela informa que esse estilo ganha cada vez mais espaço na moda feminina ao priorizar o conforto, devido “à correria e aos inúmeros compromissos que as mulheres têm diariamente”. Como exemplo, a empresária aponta moletons e o fluity, tecidos que caem
bem e que, ao término do dia, não ficam amarrotados. O estilo comfy corresponde a peças básicas, porém, com as quais, ao mesmo tempo, as mulheres podem ir a qualquer lugar - da feira ao bar, por exemplo. “Hoje em dia, a vida da mulher é muito corrida. Nós saímos cedo de casa e temos de ir ao trabalho, a reuniões, buscar o filho na escola e ao mercado. Por conta disso, precisamos de uma roupa que nos deixe bem de manhã até o fim do dia”, reforça. Em relação às cores das peças, a proprietária da Ana Banana revela que o verde militar está em alta para a estação.
18 Segundo Ana Flávia, com ele, “é possível brincar com várias cores e montar produções incríveis”. “Peças roxas aliadas a roupas na cor verde militar, na minha opinião, ficam um luxo!”, aponta. Além da opção um pouco mais ousada, as mulheres podem usar e abusar de roupas em cores escuras. Ana Flávia indica que, ao público feminino mais conservador, peças básicas pretas sempre caem bem em todas as produções.
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“É um evento de moda mágico em nossa cidade, no qual, a cada desfile, busco por inovações. Aguardem pelo desfile de inverno, pois será incrível!”, assegura Ana Flávia. De acordo com a empresária, a alfaiataria trouxe uma injeção de trajes poderosos da década de 1980, tomando conta das passarelas de outono e inverno de 2020, com calças de terno executivas para a mulher moderna.
Ana Flávia frisa que, em todas as coleções, aposta muito em curadorias próprias. A partir disso, a empresária assegura que “o couro é uma peça eterna e um luxo para a vida”. Afinal, para ela, “a moda é arte”. “Se vestir é uma obra de arte, em que você compõe formas e cores. A moda é isso! Minha paixão é ver uma mulher produzida e bem arrumada”, conclui a empresária.
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MULHERES UTILIZAM A INTERNET PARA SEGUIR NOVAS TENDÊNCIAS ‘Blogueiras’ auxiliam marcas como canal de comunicação direta com as clientes
No ano passado, a pesquisa TIC Domicílios, feita pelo Cetic (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), apontou que o número de brasileiros usando a internet continua crescendo: subiu de 67% para 70% da população, o que equivale a 126,9 milhões de pessoas. Naturalmente, esse crescimento no acesso à internet também engloba o
público feminino e, consequentemente, as mulheres tatuianas. Dentre os inúmeros compromissos presentes no cotidiano, elas ainda têm tempo para acessarem a internet e se manterem atualizadas, inclusive, sobre os sapatos que estão na moda. Desta forma, as mulheres consomem informações sobre novos lançamentos e tendências e até têm acesso às principais
feiras do “mundo dos sapatos”. Recentemente, elas ganharam aliadas na busca pelo tipo de calçados que mais as agradam e combinam com as rotinas e estilos: as “digital influencers”. Também conhecidas como “blogueiras”, as influenciadoras digitais são encontradas em redes sociais, em especial, no Facebook e no Instagram. No caso de sapatos, as influenciadoras
a Micam Milano, na Itália. Os eventos acabam inspirando as marcas dos sapatos comercializados no município. Rosana explica que, após as feiras e o lançamento de novas coleções, as blogueiras “pegam” os sapatos com os quais se identificam e acabam divulgando as novas tendências para as mulheres que as seguem. “As blogueiras estão sempre bem antenadas e escolhem algum modelo que se destaca na coleção. Assim, elas facilitam o trabalho de pesquisa das mulheres ao identificar qual sapato irá agradar suas seguidoras”, aponta a empresária. “Muitas vezes, nossas clientes já chegam na loja sabendo o que querem, pois viram alguma nova tendência nas redes. Contudo, estamos sempre dispostas a complementar as informações”, reforça. Ao manter-se conectada, segundo Rosana, a mulher tatuiana “pegou gosto” pelos tênis, que se tornaram uma verdadeira febre mundial. Conforme a empresária, os modelos de tênis “chunky” estão em alta, pois o público feminino tem priorizado o conforto. Em 2019, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, pelo NPD Group, com as marcas mais Empresári a Rosana populares de sapato, mostra que atua no ra mo de as vendas de salto alto caíram 12% calçados h á 20 anos no ano anterior, enquanto as de tênis para mulheres cresceram 37%, chegando a uma marca de 2,3 bilhões de dólares. dão dicas de qual calçado é mais adequado O chunky é o modelo de tênis com um para determinada ocasião, qual irá com- solado mais alto. Rosana afirma que as bina com diferentes tipos e estilos de mulheres estão usando muito, em roupas e, ainda, quais lojas ou marcas estão diversos looks, até porque o tênis oferecendo promoções, por exemplo. encaixa com inúmeras opções de De acordo com Rosana Miranda roupas. “É uma tendência mundial. Galhego Fernandes, proprietária da Ma- Afinal, o tênis é confortável e fica bastante ricota Calçados, há duas grandes feiras bonito”, garante. que ditam as tendências do mundo dos Além do chunky, a empresária ressalta sapatos: a Playtime Paris, na França, e existir uma enorme variedade de opções
de tênis para abranger todos os gostos e estilos. Há modelos de diferentes alturas, brancos, coloridos e estampados, sempre prezando pelo conforto. Rosana diz admirar muito a garra das mulheres tatuianas, “pois sabem o que querem e correm atrás, sendo exemplos de determinação e competência”. Segundo ela, as clientes - dinâmicas, determinadas e que sempre querem ter um estilo próprio - consideram o conforto como item primordial. “Normalmente, as mulheres ficam o dia todo fora de casa. O sapato não é para usar por apenas uma hora e ser tirado, é para permanecer por todo o expediente e, para isso, é essencial sentir-se confortável”, expõe. No entanto, Rosana reconhece que algumas mulheres não excluem o salto no dia a dia, pois garante muita elegância. Diante disso, a empresária recomenda os calçados com salto “flare”, normalmente, maiores e com acabamento diferenciado. Ela afirma que as mulheres tatuianas têm preferência por sapatos clássicos, com esse salto flare. Desta forma, as clientes buscam aliar a classe ao conforto. “O modelo Chanel está em alta. Nas décadas de 1950 e 1960, ela era o puro glamour. O sapato voltou em uma roupagem diferente, c o m um
Scarpim ve rde-oliva disponível na Maricot a Calçados
• • • • MODA (CALÇADOS) • • • • salto flare mais baixo”, indica. Além desses modelos, Rosana destaca o scarpin, mocassins, coturnos e o “ankle boots”, que, segundo ela, as tatuianas “amam!”. Conforme a empresária, todos eles estão presentes na coleção outono/ inverno e não podem faltar no look das mulheres modernas. Ela informa que as próximas estações serão marcadas com sapatos com materiais em couro craquelado. Já nas cores dos calçados, o “animal print” permanecerá muito forte, além da inclusão do verde musgo e da terracota. “O outono/inverno virá recheado com muito terracota e verde musgo. São as duas cores coringas, que combinam com qualquer variação de roupa para as próximas estações”, reforça. “No dia a dia, as tatuianas são mais conservadoras. Contudo, para as mulheres mais ousadas, as cores vibrantes podem misturar-se, como o pink com o verde, por exemplo”, complementa a empresária. Há 20 anos trabalhando com sapatos, sendo nove com a Maricota Calçados, Rosana frisa que Tatuí é uma referência de moda na região. Para ela, a internet também mudou até a forma de presentear. Conforme a em-
presária, os maridos e namorados acessam as redes sociais, pelo celular, e mostram a foto dos sapatos que a companheira lhe pediu, facilitando o atendimento do público masculino. Contudo, nem todas as clientes possuem acesso à internet. Isso ocorre porque a faixa etária atendida pela loja é bastante extensa, desde bebês até as idosas. Como exemplo, a empresária cita o lançamento de calçados tipo “mãe e filha”. “As filhas adoram usar o que a mãe usa. Fazemos muita venda casada, quando a mãe compra um sapato ou um chinelo e a filha, também”, revela. De acordo com Rosana, as mulheres tatuianas são modernas e adquirem os sapatos conforme o gosto pessoal e lhes convém, sem se preocuparem com a opinião alheia. “Elas vêm e escolhem o modelo que mais as agrada e compram. Não falam mais que vão perguntar ao marido para, depois, voltar e comprar o sapato”, expõe Rosana. “Querem produtos diferentes e confortáveis. Elas veem o sapato nas redes sociais, chegam na loja, põem o sapato e, se ficou confortável, o preço pouco importa”, finaliza.
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Estética: acima de tudo, saúde! Profissional orienta sobre cuidados na busca pela correção de eventuais imperfeições Para conquistar o corpo e o rosto “perfeitos”, é necessário todo o esforço, custe o que custar? A procura por procedimentos estéticos, cirúrgicos e não cirúrgicos para corrigir eventuais imperfeições têm crescido a cada ano, embora nem sempre de forma adequada. O aumento do interesse pelos brasileiros em fazer cirurgia plástica é evidenciado em pesquisas realizadas pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica). Conforme estudo realizado em 2018, quando comparado ao ano de 2016, as intervenções reparadoras ou para fins estéticos avançaram 18,26%. Ao todo, foram quase 1,7 milhão de operações realizadas, o que significa mais de 4.700 por dia. O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de cirurgias plásticas, ficando atrás somente dos Estados Unidos. Para a médica cirurgiã plástica Poliana Valéria Palmeira Marocolo, apesar de a demanda ser inferior em relação aos grandes centros, as mulheres tatuianas estão globalizadas e antenadas com o que existe de mais recente no mundo da estética. “A mulher está a par de todas as novidades estéticas, pois, com a internet, é possível ter acesso a tudo. É uma realidade”, observa a cirurgiã plástica, que atende em clínica na rua Maneco Pereira, 330, junto ao também cirurgião plástico Antônio Egídio Rinaldi. No caso das pacientes que ainda não vivem conectadas à internet, a profissional conta que, quando elas vão ao consultório, perguntam quais procedimentos podem ser feitos e os produtos a serem utilizados. Poliana destaca a confiança que as mulheres tatuianas têm nos médicos como um diferencial. Apesar da importância, ela reconhece que essa confiança aumenta ainda mais a responsabilidade do profissional. “Elas me perguntam qual procedimento ou produto é mais adequado e não querem saber mais detalhes. Se é isso que o profissional orientou, pode fazer,
está autorizado. Porém, faço questão de dividir as informações com a paciente para saber o que ela acha melhor”, comenta a profissional. “Muitas vezes, nos grandes centros, a pessoa chega no consultório e fala em fazer um procedimento de determinada forma, pois já viu na internet ou uma amiga já fez, e pronto. No interior, as pacientes nos ouvem mais”, completa a médica. De acordo com Poliana, “hoje em dia, as mulheres trabalham, têm filhos e não podem ficar inativas, de um ou dois meses, entre o pré e o pós-operatório”. Justamente para evitar esse período de repouso, as pacientes têm optado por procedimentos estéticos não cirúrgicos. “Nós oferecemos todos os tratamentos não cirúrgicos. Eles vão desde o cuidado com a pele, com tratamentos com laser
em Sorocaba, por exemplo, também está à disposição em Tatuí. A diferença com os grandes centros é que, aqui, a demanda é muito menor”, evidencia a profissional. Uma das adaptações feitas pela cirurgiã plástica envolve os aparelhos para tratamentos com lazer. Em Tatuí, Poliana aluga o equipamento e realiza os procedimentos a cada um ou dois meses, sempre aos sábados. “É o dia em que não temos cirurgias e não irá atrapalhar a rotina”, conta. Outra adaptação feita por Poliana é em relação ao horário de atendimento. Segundo ela, “atualmente, há uma grande cobrança por parte das empresas e ninguém quer faltar ao trabalho para fazer uma cirurgia plástica”. Diante disso, a maior demanda de clientes no consultório da cirurgiã plástica é fora do horário comercial. “Eu me adequei. Chego mais tarde na clínica e saio às 21h, porque nós temos de oferecer esse horário Para Polia na, é preci so ter respon à paciente. Ela não pode chegar na sabilidade com o pró empresa alegando ter faltado, pois prio corpo veio fazer um preenchimento labial, por exemplo”, revela. Diferentemente dos grandes centros, a médica observa que, nore peeling, até os preenchimentos e a aplicação de toxina botulínica. São nosso malmente, a paciente do interior deseja que ninguém saiba que ela realizou algum carro-chefe”, aponta. A pesquisa da SBCP indica que a procedimento estético. “Horários para atendimentos às sextas-feiras são bem diferença entre os procedimentos cirúrdisputados, pois as clientes, geralmente, gicos e não cirúrgicos vem diminuindo, folgam aos sábados e domingos”, observa. tornando-se quase inexistente. Em 2014, “Enquanto em São Paulo não há horá82,6% dos atendimentos eram cirúrgicos, rios definidos, pois o público é bastante enquanto 17,4%, não cirúrgicos. Quatro dinâmico, aqui, acabamos nos adaptando anos depois, a diferença caiu para apenas a essa rotina da cidade”, conta Poliana. 0,2%, sendo 50,1% o número de procediA respeito da famosa harmonização mentos cirúrgicos e 49,9%, não cirúrgicos. facial, a cirurgiã esclarece que essa deComo exemplo, o estudo mostra que nominação se deu através da mídia para 95,7% dos médicos associados à SBCP re- uma série de procedimentos estéticos não alizam procedimentos não cirúrgicos para invasivos, os quais, segundo ela, sempre aplicação de toxina botulínica, enquanto existiram. os preenchimentos - a maioria utilizando A harmonização facial está tão em alta ácido hialurônico - são feitos por 89,6% que a ferramenta de buscas do Google dos profissionais. registrou, ao longo de 2019, um aumento “Tudo que é oferecido em São Paulo ou de 540% em pesquisas relacionadas ao
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assunto. A técnica busca harmonizar as linhas do rosto do paciente, recuperando a perda de definição e volume que acontece com o envelhecimento, além de corrigir eventuais insatisfações. “Não existe uma fórmula para ser seguida. A paciente vem ao consultório e nos diz o que a incomoda para, a partir disso, vermos do que ela precisa, como, por exemplo, um preenchimento de lábio ou de linhas de expressão”, explica Poliana. A médica cirurgiã informa que, atualmente, a maioria dos produtos utilizados em procedimentos estéticos são importados. No entanto, eles são facilmente encontrados no país e podem ser adquiridos pela internet. “Aqui, no interior, não há problemas. Podemos comprar os produtos pela internet, sendo entregues em dois dias”, afirma. Desta forma, Poliana adquire a toxina botulínica - que integra a harmonização facial – para aplicá-la em rugas e linhas de expressão, formadas quando há movimentos, e, assim, paralisar a musculatura. Para preenchimentos ou mudanças de formatos, a profissional recomenda o ácido hialurônico. Segundo Poliana, há diversas apresentações do produto no país, com tipos de técnicas diferentes. Conforme ela, há ácidos hialurônicos específicos para o aumento de lábios, porque deve ser mais macio. Já em relação aos fios, ela utiliza o produto absorvível. “Sempre. Não uso os não absorvíveis, porque eles têm um índice de complicação muito alto”, indica. De acordo com a cirurgiã plástica, o organismo humano reconhece os produtos absorvíveis e, consequentemente, absorve-os, tornando o índice
de complicação muito pequeno. “Quando você coloca alguma coisa que vai ficar no corpo, significa que o organismo não reconheceu e não vai absorvê-lo. Eu nunca usei produtos não absorvíveis, creio que a maioria dos bons profissionais também não os utilizam”, complementa. Apesar da infinidade de produtos para diferentes procedimentos estéticos, Poliana orienta a preferência por marcas e fabricantes confiáveis. A profissional conta encontrar dificuldade em atender a pessoa que fez tratamento em outro local sem saber quais produtos foram utilizados nela. “Tenho de perguntar qual foi o produto utilizado, mas muitas pacientes não sabem o nome ou quantas unidades do produto foram utilizadas. É algo com o qual os pacientes, em geral, têm de ficar mais atentos”, aconselha. “Quando fazemos um procedimento, abro a ampola e mostro a data de validade à paciente - algo simples, porém, importante. A minha auxiliar faz isso de rotina, não preciso nem pedir”, completa Poliana. Ela explica aos pacientes a importância de saberem a diferença de uma marca para outra e a qualidade dos produtos. Para a cirurgiã, “as mulheres têm de ter mais controle em saber o que estão usando, pois, se houver algum problema, é preciso saber aquilo que foi aplicado, para você não usar mais”. “Não é simplesmente preenchimento e toxina botulínica. Há uma infinidade de produtos, assim como existe uma gama de medicamentos. Por conta disso, é preciso ter uma orientação para saber melhor sobre o que está sendo utilizado”, reforça a profissional. Poliana diz ser importante as pacientes retornarem ao consultório cerca de duas semanas após o procedimento,
para verem o efeito. Segundo ela, “nem sempre dá certo de primeira”. “Às vezes, houve pouco preenchimento, sendo necessário voltar para pôr um pouco mais ou fazer um retoque. Esse é um trabalho que não é de um dia”, detalha. “Particularmente, creio que o ideal seja colocar um pouco menos de produto, pois conseguimos corrigir aplicando mais. Diminuir é difícil, pelo menos até o tempo de absorção. Por isso, é melhor fazer aos poucos. Os tratamentos são contínuos”, completa a médica. A cirurgiã plástica reforça a importância de conversar e se orientar com o médico profissional da área. Ela cita, como exemplo, medicamentos que podem ser aplicados em determinados locais e em outros, não. Poliana lembra que as pessoas têm vasos sanguíneos e, caso o produto seja injetado em algum deles, pode ocasionar necrose. Ela conta que os clientes mostram casos divulgados na mídia, perguntando se é comum determinado produto causar algum tipo de problema. “O problema não é o produto, mas o local onde ele vai ser aplicado. Conhecer a anatomia do rosto é fundamental”, ressalta. Conforme a profissional, em municípios do interior, a maioria das pessoas ainda tem um pouco de vergonha de perguntar e questionar sobre o produto a ser aplicado. “Há a parte da confiança, que eu acho bárbaro, mas é importante que não se tenha vergonha. Afinal, é o seu corpo que passará por cirurgia ou terá algum produto injetado”, argumenta. “É importante perguntar: qual produto está sendo aplicado? Ele pode gerar algum tipo de problema? E por que em tal lugar é dessa maneira e aqui, de outra?”, exemplifica. Sobre os recentes casos de clínicas clandestinas e falsos profissionais realizando procedimentos estéticos, Poliana se diz espantada. “Hoje, é inaceitável que as pessoas tenham feito procedimento dentro de um apartamento e dizer que não sabiam que poderiam estar sendo enganadas”, declara. “Basta entrar no site da SBCP e consultar o profissional de qualquer área, através do número do CRM (Conselho Regional de Medicina). Esse acesso é livre, mas as pessoas não têm esse costume”, reconhece Poliana. No atual momento, com acesso a tudo, a médica reforça a necessidade de tomar certos cuidados. Conforme ela, não há
23 problema em haver vários profissionais, porém, é preciso conhecê-los, independentemente da área, e saber se possuem a experiência necessária. De acordo com Poliana, muitas vezes, de forma incorreta, a estética está dissociada da saúde, não sendo tratada com a devida importância. “Não é pelo fato de ser estético, sem haver nenhuma doença, que deixa de fazer parte da saúde”, salienta. “Talvez, esteja faltando um pouco de responsabilidade com o próprio corpo. Lógico que deve haver acompanhamento profissional, mas cada um é responsável pelas próprias escolhas”, finaliza Poliana.
EXPEDIENTE
MARÇO DE 2020
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