Concursos Paulo Setúbal 2013

Page 1


02

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

Divulgados resultados de concursos ‘Paulo Setúbal’ Contos, crônicas e poesias, redações e desenhos. Essas são as modalidades de trabalhos inscritos em concursos que levam o nome do escritor tatuiano Paulo de Oliveira Leite Setúbal. Os certames artísticos e literários, promovidos pela Prefeitura, têm os nomes dos vencedores divulgados neste tabloide. Além dos primeiros colocados nas modalidades, a publicação especial encartada na edição de 11 de agosto de O Progresso reproduz os trabalhos dos ganhadores. São, ao todo, 23 trabalhos, sendo 15 textos e oito desenhos, incluindo os vencedores e os que tiveram menção honrosa concedida pelos jurados. Eles representam os concorrentes que disputaram

a 11ª edição do Prêmio Literário Paulo Setúbal e a 12ª edição do Concurso Paulo Setúbal. Este último, teve como tema o livro “A Bandeira de Fernão Dias”. Os concursos são realizados pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Turismo, por meio do Departamento Municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico. Criado como forma de dar oportunidade de expressão e manifestação aos escritores, o prêmio selecionou contos, crônicas e poesias produzidos sobre tema de abrangência geral. De abrangência nacional, a iniciativa visa à divulgação de trabalhos inéditos e prevê premiação de R$ 800 para o 1º

colocado, R$ 500 para o 2º e de R$ 400 para o 3º, em cada uma das categorias. Já o concurso recebeu trabalhos de alunos do ensino fundamental, ciclo 1 e 2, e médio, de escolas públicas ou particulares do município, nas categorias literatura (redação) e artes visuais (desenho). Os três primeiros colocados, de cada categoria e modalidade, receberão R$ 500, R$ 300 e R$ 200, respectivamente. O professor-orientador do trabalho escolhido como vencedor também receberá R$ 500. A cerimônia oficial de entrega dos prêmios acontece neste sábado, 10, durante a 71ª Semana Paulo Setúbal, em comemoração ao aniversário da cidade.

Setúbal e O Progresso “Os nossos meios sociais e culturais movimentam-se neste instante a fim de concretizar uma ideia felicíssima e altamente simpática, que bem merece a unânime aprovação dos tatuianos, a de render homenagem a Paulo Setúbal - o escritor imortal que é um padrão de orgulho para o Brasil e particularmente para Tatuí, sua terra natal.” Assim publicou O Progresso na edição de 24 de outubro de 1943, portanto, há exatos 70 anos, quando o jornal esteve à frente de movimento com o objetivo de enaltecer o erudito literato e que acabou por originar a tradicional Semana “Paulo Setúbal”. Já na edição seguinte, de 7 de novembro, O Progresso divulgou, em texto de capa, a ação que duraria até hoje: um certame literário entre os alunos locais, a fim de preservar e prestigiar a obra do autor de “Confiteor”. “Por iniciativa do Grêmio ‘Paulo Setúbal’, acaba de

ser instituído um concurso literário entre os alunos do Colégio e Escola Normal, versando os trabalhos sobre o tema ‘Paulo Setúbal e Tatuí de hoje’”, anunciava-se. Os prêmios: ao primeiro colocado, coube 100 cruzeiros e ao segundo, 50 cruzeiros. O vencedor do primeiro prêmio foi Jorge Ferreira (integrante da própria equipe de O Progresso). Na edição de 14 de novembro, a ideia é elogiada: “O Grêmio ‘Paulo Setúbal’, por iniciativa de seu presidente Lazaro Geraldo Pacheco, organizou um concurso que será, sem dúvida, o marco inicial de uma competição que, nos anos vindouros, irá demonstrar a capacidade literária de nossos moços”. Desde essa época ficou determinado que as comemorações seriam anuais - sempre próximas a 11 de agosto (embora a primeira tenha ocorrido em dezembro daquele ano, no Clube Recreativo). A partir do ano seguinte, páginas inteiras foram

Palavra dos jurados Há 12 anos Tatuí tem feito um belo trabalho de reconhecimento ao escritor conterrâneo Paulo Setúbal. A iniciativa de enaltecer sua obra e levá-la aos alunos de ensino fundamental e médio é de extrema importância, uma vez que proporciona o conhecimento da cultura local preservando-a e transmitindo a novas gerações. A relevância do concurso está pautada em apresentar a obra do autor e inspirar alunos a experimentarem a literatura transpondo suas ideias para o papel. Toda essa proposta é rica e faz com que os alunos não apenas conheçam Paulo Setúbal, mas se interessem pelo universo literário por meio do encantamento com a palavra, das múltiplas interpretações de um

texto, do prazer de se construir uma escrita e a possibilidade de lapidá-la transformando em obra poética. Concomitante a tudo isso tem o experimento da inspiração e criação, aliadas à construção de um pensamento crítico e repertório mais apurado. Resultando em alunos mais preparados não somente para as áreas intelectuais e artísticas, mas: para a vida! Por todo o apresentado, a comissão do júri acredita que a iniciativa de Tatuí tem a contribuir não somente com o contexto cultural de seu município, mas, cumpre a missão de perpetuar a importância da leitura/ literatura. Aficionados por literatura, o que mais importa para comissão julgadora não são as escolhas das escritas em primeiro, segundo, terceiro lugar, bem

EXPEDIENTE O tabloide “Concursos Paulo Setúbal” é uma publicação da Empresa Jornalística “O Progresso de Tatuí Ltda.” com apoio cultural da Prefeitura Municipal de Tatuí, por meio da Secretaria de Educação, Cultura e Turismo e do Departamento de Cultura e Desenvolvimento Turístico. Redação: Praça Adelaide Guedes, 145 - Centro - Tatuí - SP PABX (15) 3251-3040 Site: www.oprogressodetatui.com.br Edição e jornalista responsável: Ivan Camargo Projeto gráfico e diagramação: Erivelton de Morais Digitação: Altair Vieira de Camargo (Bisteka) Revisão: Ana Maria de Camargo Impressão: Atlântica Gráfica e Editora Ltda.

dedicadas às atividades da já denominada Semana “Paulo Setúbal”, em agosto. Como previsto, a ideia tornou-se tradição, tal como não pode deixar de prosperar tudo que é sucesso. E, estimulando a origem e registrando toda essa trajetória de sete décadas, esteve O Progresso – em muitas ocasiões, inclusive, divulgando os vencedores do concurso, que se desdobrou, abarcando novas modalidades. Por tudo isto, é com imensa satisfação que, novamente junto à Prefeitura Municipal, publicamos este tabloide com os vencedores dos concursos “Paulo Setúbal”, cumprindo algo que, para o jornal, configura-se como uma obrigação: a prazerosa obrigação de quem planta a semente e, depois, cultiva e acompanha seu crescimento. Hoje, colhemos seus frutos. Que todos se deliciem com eles na forma de traços, cores e letras.

como as menções honrosas. O maior prêmio é saber que cada aluno inscrito no concurso se debruçou na leitura e consequentemente na escrita, se propondo a experimentar criar um conto, uma crônica, uma poesia, uma redação. Por todo o exposto, membros da comissão julgadora e Secretaria de Cultura de Tatuí comungam com o pensamento de Paulo Freire: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Sueli Pereira Aduan Marinês Bastos Rodrigues Rodrigo Ricardo Rodrigues

Colaboração: Coordenação do Concurso Paulo Setubal Jorge Rizek Cimira Cameron Raquel Fayad Jurados Marinês Rodrigues Sueli Aduan Rodrigo Ricardo Rodrigues Jurados Artes Visuais Jaime Pinheiro Bruno Venâncio Alexandre Scalise


CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

03


1º lugar | CRÔNICAS

04

José Carlos Barbosa de Aragão CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

(Norma Desmond)

A Esfinge e a Arapuca Norma Desmond (pseudônimo)

R

eza a boa Geometria que a reta é o caminho mais curto entre dois pontos. A menos, é claro, que você seja o poeta Quintana e prefira a curva, por considerá-la o caminho mais agradável. Ou que você esteja em um shopping. Sim, porque a arquitetura de qualquer shopping center é concebida para se contrapor a esse preceito geométrico milenar. É tudo feito para que você sempre tenha que cruzar todo o 3o piso e ir pegar a escada rolante que fica na extremidade oposta, para ir do cinema à praça de alimentação mais próxima, se quiser fazer um simples lanche depois do filme. Se você quer comparar os preços de uma blusa da loja âncora A com os da loja âncora B, também não tem saída: terá que subir ou descer três pisos usando escadas rolantes que não se bicam e só se comunicam por satélite. E se os preços da loja A se comprovarem mais baratos, a economia que você faria se perderá toda na sola de sapato que

1º LUGAR ARTES VISUAIS

Lívia Fernandes Silveira

Professora Responsável: Marrieth Fogaça Orsi Escola: EMEF “Profª. Maria da Conceição Oliveira Marcondes”

você gastou no percurso de ida e volta. Fora o tempo que você gastou entrando em três outras lojas no caminho para comprar artigos que, apesar de não estarem em sua previsão original de gastos, estavam tão bonitinhos na vitrine... Outra coisa que nos toma tempo em shopping é que a gente perde a noção do tempo. Principalmente porque nenhum shopping tem relógio - a não ser nas vitrines das relojoarias, talvez... Como a maioria dos shoppings também não tem janelas para o mundo exterior, depois de algum tempo circulando lá dentro a gente já nem sabe se ainda é dia ou se já é noite. Com tantos aparentes erros de projeto, a gente logo tende a pensar que arquitetos são uns incompetentes, não têm senso prático ou que mataram as aulas de Geometria na faculdade. Mas não é nada disso, claro: eles sabiam muito bem o que estavam fazendo, quando desenvolveram essa estética

arquitetônica que combina labirinto com arapuca e lá nos aprisiona por horas, até que, se os deuses derem bom tempo, decifremos o enigma proposto pela esfinge e consigamos descobrir em qual setor do estacionamento deixamos o nosso carro. O conceito é bem simples: quanto mais você bate perna, mais você é vulnerável aos apelos ao consumo. E funciona - está provado. Não é à toa que, de vez em quando, alguém fica preso num shopping porque circulou tanto que ficou tonto e não consegue mais achar a saída. Outro dia, estava numa loja de eletrônicos em um shopping quando entra um cidadão, visivelmente em choque, agarra-se a um vendedor e pergunta, desesperado: - Vocês têm GPS?!... Não era um cliente: era só mais um desnorteado consumidor tentando ir pra casa, coitado...


2º lugar | CRÔNICAS

LYRSS CABRAL BUOSO (Liroca)

A Visita

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

05

Liroca (pseudônimo)

Quando disseram que virias, alegrei-me. Mesmo sem saber como estaria teu humor quando chegasses. Gosto tanto quando chegas de mansinho, trazendo consigo a brisa fresca dos finais de tarde da primavera. É como se sua presença, somente, pudesse limpar o mundo de todas as maldades, colorindo a vida com as cores do arco-íris. Mas, quando chegas anunciando em altos brados sua vinda, batendo as portas com violência e estremecendo até as paredes com seus passos, chego a desejar que não venhas nunca mais. Como podes ser tão instável e insensível? Será que não percebes a dor que causa às pessoas? Nem a tristeza que deixas à sua volta? Hoje, porém, me preparei para recebê-la. Como boa anfitriã. Algo me diz que virás para ficar por alguns dias. Levei os vasos de flor para fora de casa - arrumei-os cuidadosamente um a um logo na entrada; guardei os brinquedos que as crianças espalharam pelo quintal. Aproveitando, recolhi as roupas que lavei pela manhã. Quero tudo arrumadinho e aconchegante. Vou a janela olhar a rua e te vejo ao longe, caminhando em minha direção. Que bom! Esta noite estaremos juntas e quem sabe hoje me dirás por onde andastes, o que vistes em tuas viagens. Quem sabe, finalmente, me contaras teus segredos. Quero adormecer ouvindo tuas canções de ninar e, em silêncio, agradecer ao Criador por tê-la enviado ao mundo mais uma vez. Bendita chuva.

2º LUGAR ARTES VISUAIS

MARIA eDUARDA RODRIGUES SOARES

Professora Responsável: Maria Elaine Bueno Gurgel Escola: EMEF “Prof. Accácio Vieira de Camargo”


3º lugar | CRÔNICAS

06

GERALDO TROMBIN

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

(Rage)

Tantas Anas e uma Companhia Sacana Rage (pseudônimo)

P

odia ter os afagos da Ana Carla acalentando as minhas horas insanas; o poderoso canto da Ana Carolina ajoelhado ao pé do meu ouvido; a singeleza da Ana Clara purificando o meu tempo avesso; as magníficas mãos da Ana Cláudia temperando os pratos vazios dos meus dias; o roçar do peito do pé da Ana Cristina na minha canela, provocando o termômetro dos meus desejos: Podia ter a dedicação do amor quase maternal da Ana Elisa cuidando dos meus dodóis; a sagrada devoção da Ana Emília visitando o templo das minhas crenças e descrenças; a retórica da Ana Fátima contrapondo aos meus questionamentos, dúvidas, incertezas

3º LUGAR ARTES VISUAIS

GABRIEL DAVID PAIS

Professora Responsável: Elis Regina Prestes Barbosa Escola: EMEF “Prof. Accácio Vieira de Camargo”

e certezas; a sensualidade da Ana Flávia passeando explosiva diante das minhas retinas arranhadas pelos tropeções das relações; o entusiasmo contagiante da Ana Helena revigorando as minhas tão adormecidas voltas por cima. Podia ter a delirante viagem ao centro da terra encantada pelas contações da Ana Isabel, subtraindo-me da realidade vil; o sorriso deliciosamente angelical da Ana Julia refletido não só na minha boca, mas, também, no meu coração; a luz divinal da Ana Laura clareando os meus caminhos de pedra, cimento e túneis escuros; os claros e profundos olhos da Ana Lúcia inibindo ainda mais a minha timidez, me tirando do sério e

do prumo; a postura equilibrada da Ana Luiza ante os meus instáveis passos na corda bamba dos deslizes. Podia ter o sabor de chocolate da Ana Maria adoçando o meu paladar ácido; o invejável mergulho cultural da Ana Paula fazendo-me imergir em outras águas; o costurar inteligente das palavras da Ana Regina alinhavando a minha já tão calada fala; o tom professoral da Ana Renata mostrando-me além dos tons de cinza; os versos diversos da Ana Rita injetando mais poesia no meu peito adoecido. Tantas Anas interessantes, belas, instigantes, mas não! Justamente nessa semana sabe quem eu tive que engolir? AnaDor. Atchim! Que gripe e febre sacanas!


1º lugar | CONTOS

ARY ROBERTO DE SOUZA PINTO

Black-out A

o completar os oitenta e cinco anos, a família preparou uma grande festa. Entre tantos presentes, uma senhora negra, de cabelos grisalhos, lhe deu um beijo e disse que ele ainda era um meninão. Seria ela, a menina, que quando aos seus quinze anos, o fez sentir o mais intenso prazer da sua vida? O cheiro do perfume daquela pele era o mesmo. Não, não seria. Seria estupidez pensar em tal coisa após setenta anos, nenhuma memória resistiria tanto tempo. Cansado de toda bajulação e festa, se retirou para a tranquilidade de seus aposentos, não sem antes deixar claro que preferia passar o dia seguinte sozinho, que não participaria do tradicional almoço na fazenda, como o fazia há anos. Queria meditar sobre os tantos anos vividos. E os familiares assim concordaram. No dia seguinte acordou um

(Miguel)

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

Miguel (pseudônimo)

pouco mais tarde do que o habitual, permaneceu um pouco mais na cama, e pode sentir um silêncio absoluto. Nem mesmo o cão latia. Nem um ruído vindo pela rua. Tudo muito silencioso. Após se levantar, tomou uma demorada ducha. Realmente, estava se sentindo um meninão. Colocou seu melhor costume e saiu para a missa dominical. Já na rua, sentiu-se, novamente, incomodado com o silencio, e à medida que caminhava notou que não havia ninguém, nenhum ser vivo, sequer uma viva alma. Para onde teriam ido todos, pensou. Talvez já estivessem na igreja. Mas não, não havia ninguém na igreja. Apenas os santos inanimados e, ao final da grande nave, um caixão prestes a ser velado. Já à beira do caixão, lamentou não poder ver o rosto do falecido. O caixão estava lacrado. Sentou-se num dos bancos ao lado e disse: - É

meu caro, hoje em dia é assim mesmo, nem bem morto já esquecido. Onde estão os amigos e familiares? Mas não se preocupe eu o velarei até que alguém chegue. E ali ficou, não se sabe por quanto tempo. As pálpebras pesaram e o velho ressonou. Quando abriu os olhos, um outro susto. Tudo estava muito escuro. O caixão não estava mais lá. - Meu Deus, quantas horas devo ter dormido? Saiu da igreja com muita dificuldade. Não se enxergava quase nada. Ao passar pela porta principal, notou que lá fora também não havia nenhuma luz acesa, mal se enxergava o chão. Não se via o clarão da lua, nem o das estrelas. Quanto mais caminhava, mais densa ficava a escuridão. Até que por fim conseguiu vislumbrar uma luz. Tênue e fraca, como a de um palito de fósforo que se apaga e a brasa avermelhada ainda permanece. Cautelosamente, se

07

dirigiu àquela luz. A luminosidade era tão pequena que apenas se via um vulto, sem detalhes e formas, que lhe disse: - Hei, segure a minha mão e venha comigo. Agradecido pela inesperada ajuda de um próximo, levou a mão em que segurava até os seus lábios e a beijou. Sentiu um aroma familiar e perguntou: - Quem é você? É algum conhecido? - Certamente, não vai se lembrar de mim. Já faz muito tempo. - Para onde você está me levando? - De volta ao seu lar, respondeu o amigo. - Então vamos rápido, já não suporto mais esta escuridão. - Para que a pressa meu caro, afinal é apenas um blecaute. - Que susto, até pensei que eu havia..... - Fique tranquilo, temos todo o tempo do mundo.

MENÇÃO HONROSA ARTES VISUAIS

PRISCILA SILVEIRA DE ALMEIDA

Escola: EMEF “Profª. Maria Helena Machado”


2º lugar | CONTOS

08

ANDRÉ LUIS SOARES CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

(Cavaleiro de Cervantes)

Reviravoltas L

aura é a mulher mais cobiçada da empresa - talvez até de toda a cidade. Trinta anos de beleza morena: alta; seios fartos; cabelos lisos, tão negros quanto seus olhos; corpo esguio, sempre equilibrado em saltos muito finos, emoldurado por roupas sensuais. Provoca alvoroço entre os jovens, desafeto entre os mais velhos. Religiosa com fervor, competente ao extremo, durante o expediente age com rigor profissional. Porém, se todos têm defeitos, ela, que jamais fala de sua vida pessoal, após o turno de trabalho não perdoa os colegas, envolvendo-os em fofocas infernais. Contudo, há cerca de quinze meses assumiu a chefia dos Recursos Humanos. José, o mais novo membro desse mesmo setor - em estágio há sete meses -, pode ser descrito como o inverso masculino de Laura: vinte e dois anos, pálido, baixa estatura, magro, tímido, barba por fazer. As roupas parecem herdadas - nunca lhe caem bem. Cursa Psicologia à noite. Bebe muito. Está sempre atrasado. As olheiras profundas levam a crer que seja insone. Ateu convicto. Viciado em jogo. Fumante compulsivo - acende um cigarro com outro. Oriundo do interior, ainda estava deslumbrado com a capital. Terça-feira, no almoço na cantina da firma, Silva - o bonitão do RH -, querendo humilhar José, propôs aposta, na qual ele teria que conquistar a chefe em um mês: seiscentos reais - o salário líquido do novato. Na mesa onde estavam - eles e outros homens - eclodiu o riso quando os dois apertaram as mãos, selando o desafio. Contudo, não se sabe se por feitiço, mera sacanagem do destino ou se por conta do quão imprevisível é a mulher, o fato é que, para desespero do Silva, já nas primeiras investidas, Laura se mostra apaixonada. Foi ela quem, numa tarde - sem se inibir com a presença dos demais -, caminhou até a mesa de José e disse, com voz rouca: - Se você me convidar para jantar nesse final de semana, não irá se arrepender... O estagiário formalizou o convite ali mesmo, perante várias testemunhas. Jantariam no sábado. Ela escolheria o restaurante. Ele a buscaria em casa, às vinte e uma horas - após o jantar, ainda a levaria para conhecer sua casa. Trocaram telefones e endereços. Pronto! Aposta ganha! Tal notícia se espalhara por toda a empresa, mais veloz que aviso de aumento salarial. Antes do fim do expediente, o prêmio em espécie já estava no bolso de José. Sua conquista fora ainda maior: excetuando-se o Silva - doente de inveja e raiva -, os outros homens agora o respeitavam. Quanto às mulheres, era nítido que crescera o conceito que tinham de José. Sexta-feira. A fama lhe fizera bem. José se soltou mais: tornou-se falante; ousou no

Cavaleiro de Cervantes (pseudônimo)

modo de vestir; melhorou a aparência e o asseio; revelou-se competente ao extremo. Agora, expunha mil sugestões inerentes ao trabalho — as quais eram todas muito bem aceitas. Em apenas três dias, tornara-se um deus em ascensão. Sábado, José trabalhou até meio-dia. Depois, fez compras; limpou a quitinete - enfurnou no armário a roupa não lavada; escondeu os cinzeiros. Começou a se arrumar já tarde. Demorou no banho. Nervoso, trocou a roupa várias vezes. Às vinte horas olhou-se no espelho e se deu por satisfeito. Passou perfume; pegou o celular e umas cédulas sobre a mesa - para pagar o táxi. Vinte e uma horas: José toca o interfone. Não demora, Laura surge deslumbrante: vestido, bolsa, meias, sapatos - tudo preto. Batom discreto. Brincos reluzentes, combinando com colar e pulseiras. Ela o olha, sorri em aprovação e entra no carro. O taxista os conduz a um restaurante muito fino, onde havia mesa reservada. O local é lindo. Laura está vibrante. A conversa, encantadora. O vinho, suave. A lagosta, deliciosa. A música, perfeita. Ambos parecem saber como terminará a noite. José, no entanto, estranha os preços elevados do cardápio. Sorte haver a grana da aposta - pensou. Nesse exato momento em que se lembra do dinheiro, resvala, por instinto, a mão no bolso da jaqueta - nada! Disfarçadamente, confere outros bolsos. Havia apenas o mirrado troco do táxi. José pede licença. Vai ao banheiro. Olhase no espelho - da testa, escorre suor. Nova revista em toda a roupa e... nada! Um insight: a carteira ficara no bolso interno da jaqueta marrom, substituída quase na hora de sair. Apavorado, pega o telefone. Lucas, colega de faculdade, tinha uma cópia da chave. Bastaria ligar e pedir que trouxesse a carteira. Disca três vezes. Em nenhuma delas a ligação se completa. José pragueja - malditos celulares! Atônito, efetua novas chamadas... - celular fora de área. Desiste. Lava o rosto; enxuga com toalha de papel; respira fundo. Desconcertado, volta à mesa, imaginando o constrangimento que será dizer que não tem dinheiro. Alegar que esqueceu a carteira parecerá desculpa esfarrapada. Laura até sentirá pena dele. Mas, na segunda-feira, contará a todos. Silva se deliciará com o vexame. O respeito conquistado junto aos demais se converterá em desprezo. Pior é nem poder deixar o estágio, pois está muito endividado. José já não dá atenção à Laura — que fala, come e bebe quase a um só tempo. Em vão, procura em outras mesas algum conhecido que possa lhe salvar. Não adianta: aquele não é seu mundo. Ninguém ali o conhece. Na melhor hipótese, será obrigado a lavar pratos; na pior,

irá para a cadeia. Em total desespero, busca soluções, como faria um enxadrista a apenas um lance de receber xeque-mate. José analisa a complexa equação: ela trouxera a bolsa. Por certo havia dinheiro, cheque ou cartão. Teria então que fazê-la pagar a conta, sem deixá-la saber que ele está sem grana. Tudo isso sem que, depois, o demita ou relate o ocorrido a alguém. Somente assim evitaria a total humilhação. Parecia impossível. Até que, de repente, a luz... heureca! Às pressas, nasce o plano b - uma ideia tão louca, que poderia dar certo. Olhando-a nos olhos, José põe a mão direita, suavemente, sobre a mão de Laura e diz: - Antes de qualquer coisa,... sinto que devo confessar algo muito importante a você... - O que é? - Ela sorri maliciosa e se inclina para frente, deixando os seios à mostra. - Eu matei um homem! - Como é que é? - O sorriso some. A mão é puxada. O corpo é largado no encosto da cadeira. - Matei um homem. Um padre. Não há indício que me ligue ao crime. Mas eu o fiz. - E por que você fez isso? - O semblante agora está fechado. Misto de surpresa e decepção. - Dívida de jogo. Precisei de dinheiro - fui à igreja; invadi a sacristia; fui surpreendido pelo padre; brigamos; matei-o com um candelabro; roubei tudo o que havia de valor e fugi. Você não leu sobre esse crime nos jornais? Obviamente, por ser mentira, não havia como alguém ter lido. Contudo, José falou com ar tão sério que a convenceu. Convenceu até a si mesmo. Laura sente o estômago revirar - quase vomita sobre a mesa. Todo aquele absurdo ia de encontro à sua forte religiosidade. De súbito, não mais suportava estar ali. Aliás - pensou não permitiria que um tipo assim lhe pagasse a comida! Sem olhar para José, ela se levanta; pega a bolsa; vai até o balcão; paga a conta. Não dá ouvidos aos chamados do garçom. Sai visivelmente transtornada. José permanece sentado. Olha ao redor. Aliviado, respira fundo. Toma uma taça de vinho. Depois mais outra. Termina de comer a lagosta. Recosta-se na cadeira e sorri. Limpava a boca com o guardanapo, quando o garçom se aproximou e lhe estendeu a mão: - Por favor, senhor... a madame que o acompanhava esqueceu o troco. Soberbo, José pega o dinheiro - três notas de dez reais -, olha para o garçom e pede: - Por favor, meu querido: traga-me um maço do seu melhor cigarro e me chame um táxi! Segunda-feira, pela manhã, Laura se demite sem dar explicação. De imediato, José é efetivado funcionário e, ainda na tarde do mesmo dia, assume a chefia dos Recursos Humanos. Como primeira medida, demite o Silva.


3º lugar | CONTOS RICARDO LAHUD (Xico Silva)

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

Ninguém Morre no Facebook “Deixa pensar que pra amar é preciso fingir”

V

inícius de Moraes me adicionou como amigo. É preciso esclarecer que não foi a mim, um cronista idoso, barrigudo, enterrado no túmulo do samba, que ele solicitou amizade. Nesta conta do Face, sou uma atraente secundarista, prestes a completar 16 anos, morando em frente ao mar, no Leblon. Uso o nome de Mariana Moraes, sem a intenção de ser homônima da filha do poetinha, mas porque as iniciais MM, como em Marilyn Monroe, me agradam. Fui visitar sua página antes de aceitar, não é porque minhas fotos sugerem uma biscate, que me comporto assim. Sou fake de família. Em destaque, a foto do casamento com sua mais nova esposa, em Bali. Ele está bem mais magro, depois da operação bariátrica, e com uma expressão extraterrestre, causada pelo implante de cabelos mal resolvido. As outras

09

Xico Silva (pseudônimo)

cicatrizes sugerem uma cirurgia cardíaca e um transplante de fígado. Exploro suas últimas postagens. Uma foto de perfil da esposa, de biquíni e chapéu de palha, tendo ao fundo o mar de ltapoã, com a legenda: Meu maior encanto. Um vira-latas abanando o rabo com a legenda: Chega de saudade. Compartilhou uma famosa crônica do coetâneo Rubem Braga, assinada por Pedro Bial. Curtiu a página do Pedaço de Sol, onde o terceiro chopp é grátis. Em algumas fotos ainda se vê o cigarro, agora eletrônico, e o copo com duas pedras de gelo. No post mais movimentado, discute os filmes candidatos ao Oscar. Elis Regina e Tom Jobim publicam elogios à técnica e à fantasia de The Life of Pi, João Gilberto comenta que gostaria de aprender a cantar em 3D; Vinícius defende a poética de Amour, mesmo sendo falado em idioma tão pontudo e ameaçador. Elvis e

Sinatra argumentam que o prêmio deve ir para Argo ou Lincoln, afinal o cinema foi inventado pelos americanos. Tem uma rua com seu nome aqui perto. Vc foi governador? Não querida, sou músico e poeta. Você conhece a Garota de Ipanema? A Mariza? Vc é parente dela? Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, que vem e que passa Vc é paquera dela? Sua mãe me conhece, pergunte a ela quem sou. Vovó me disse q vc já morreu. Amada menina, do corpo dourado, ninguém morre no Facebook. Faz uma poesia pra mim? Menina, case comigo / Que eu sou bom trabalhador / De dia durmo consigo / De noite morro de amor. E me cutucou. Optei por bloqueá-lo, vai que ele resolve me seduzir.

MENÇÃO HONROSA ARTES VISUAIS

BRUNO ALVES DE SOUZA MEDEIROS Professora responsável: Érica Fogaça Escola: EMEF “João Florêncio”


1º lugar | POESIAS

10

ROSANA PEREIRA

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

(Rosa Graciosa)

De Onde Vens? Rosa Graciosa (pseudônimo)

D

MENÇÃO HONROSA ARTES VISUAIS

DONIZETI PEDRO DE OLIVEIRA FILHO

Escola: EMEF “Profª. Maria Helena Machado”

e onde vens, menino-poeta? Quanta ousadia! Invadir, assim Minha ilha tão secreta.

Vieste de longe, num barquinho à vela? Será que partiste da Terra do Nunca, Ou lançaste a proa do mar de Florbela?

Vens da aldeia de Pessoa, Por onde não passa o Tejo, E a vida não corre à toa?

De onde vens, não importa! Se os deuses te enviam, Abro-te as portas.

Quem sabe caíste da nau de Camões, Embriagado por Baco foi salvo pela deusa, Enquanto Mercúrio salvava os ladrões.

Sentemos na areia, fitemos o mar. Gozemos do tempo, que o sol já se põe, E o ombro da noite carrega o luar!

Vai ver, tu vieste das sonâmbulas terras, Dos poetas tristes, de secas paisagens, Pais da liberdade, e filhos da guerra

Se queres ficar, te dou companhia. E, em troca te peço, A tua poesia!


2º lugar | POESIAS cARLOTA FRANCO (Tatu)

A Praça T

atuí. Minha Tatuí! De incríveis noites de luar Iluminando a cidade a seus pés Esperando por nós Cheia de saudades... Dos filhos que sempre voltam. Tatuí que nos deu Setúbal, Filho Bonito, Lembrado em livros, versos e canções. Hoje... Está lá, preso no Museu. Sem o seu corcel. Sem correr pela pradaria. O poeta da cidade! Quer liberdade! Para criar!! Fechar os olhos e soltar o prazer, Na cavalgada dos sonhos. Paulo, Paulo! Moço bonito Vem para a praça!

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

11

Tatu (pseudônimo)

Rever os amigos. Brindar com seus versos Sua cidade. Vem sentir sua terra. Deixar bordar seus pés, Com a terra vermelha. A cidade antiga te espera. Sem calçada, Sem carros, Sem pressa, Sem progresso. Tua velha casa está lá. No mundo virtual, Com o pomar cheio de frutas. Tudo igualzinho, Como você deixou. Com todos Os seus personagens, Que você eternizou.

Sua alma é cabocla. Chiquita te espera, Com seu vestido de chita, Enfeitado de laços e fitas. Ela também Quer vir Para a praça. Mostrar todo O encanto deslumbrante Que criou. Vai sair Do livro, Ser tema de novela. Que se chama: Alma Cabocla. Cujo autor, É Paulo Setúbal. O moço bonito de Tatuí!

MENÇÃO HONROSA ARTES VISUAIS MILENA VIEIRA DA COSTA

Professora Responsável: Maria Elisa Machado de Almeida Escola: EMEF “Eunice Pereira de Camargo”


3º lugar | POESIAS

12

ODIMAR JUSTINO MARTINS PROENÇA CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

(Prof. Paulo)

Entre Danças e Cores E

MENÇÃO HONROSA ARTES VISUAIS GABRIEL DUARTE DE BARROS Escola: EMEF “Firmo Antonio de Camargo Del Fiol”

Prof. Paulo (pseudônimo)

a menina que habita o corpo de mulher não se distingue, apenas se agarra à essência humana do seu ser, do só, do solo.

E o tempo flutua e o segundo emana, e o contraste da silhueta se congela, no inexplicável da superfície plana, do voo, do louco.

E ela se olha, e encontra a atriz. Uma com as cores do palco, a outra, com os tons dentro de si, do tom, do todo.

E o vento é um tecido azul e raro ao se mostrar vivo e coberto pela anatomia de um ser delicado, do céu, do colo.

E seus pés são pedaços de giz, a riscar o mover em nossos olhos, em nosso olhar de aprendiz, do bom, do plano.

E a dança é um clamor dos tecidos é o deslocar que oxigena os sentidos é um sussurro contente nos ouvidos, do som, do alvéolo.

E as mãos são fios e os braços, lâminas, brilhos que cortam como poemas, aço forjado no gelo e nas chamas, do frio, do fogo.

E os pés da bailarina tocam o tablado gris, fazendo pulsar para o coração da sapatilha as cores das vestes a misturar ao verniz, do chão, do solo.


1º LUGAR Ensino Fundamental LITERATURA

Esmeraldas Sangrentas P

or volta do século XVIII eram comuns várias expedições que vinham da Europa ao Brasil. Tais expedições ficaram conhecidas como as bandeiras. Consequentemente os homens que ingressavam em uma bandeira eram chamados bandeirantes. Há poucos registros destes homens visto que eram rudes e broncos. Hoje são considerados heróis, pois foram responsáveis pela descoberta de mais de dois terços de chão brasileiros. Mas não foi sempre assim, na época eles foram criticados, pois eles eram muito agressivos com os índios que aqui viviam. Foi necessária a intervenção do Papa para dar conhecimento aos bandeirantes de que os índios também eram gente. A igreja nunca viu com bons olhos esse comportamento dos bandeirantes. Na realidade eles precisavam da ajuda dos índios para poder explorar o nosso país, muitas vezes era necessário lutas para que os nativos auxiliassem os bandeirantes. De todas as bandeiras a que mais se destacou foi a de Fernão Dias, conhecido como o “Caçador de Esmeraldas”. Homem destemido e determinado partiu com seus homens para o sertão. Muitos morreram por adquirirem doenças, outros em combate com os bugres e o momento

PATRÍCIA SILVEIRA DE ALMEIDA Professor Responsável: Marcos Paulo Cavalheiro Del Homo Escola: EMEF “Profª. Maria Helena Machado”

mais tenso é quando quase todos os homens pensam em desistir de procurar as esmeraldas. Fernão Dias tinha um filho bastardo que também começou a não acreditar na existência das pedras. Ele então elabora um plano para matar o pai, porém Fernão Dias foi avisado com antecedência. O resultado foi que Fernão Dias mandou enforcar o próprio filho. Quando tudo parecia estar perdido, pois até mesmo o rei deixou de apoiar a bandeira de Fernão Dias, enviando para o Brasil um espanhol chamado Castel Blanco para achar as esmeraldas. Eis que as esmeraldas são achadas por Fernão Dias, porém ele adoece no meio do mato e ao tentar levantar cai no chão em cima das esmeraldas, cravando-as em seu peito. Morreu sem saber que elas não eram verdadeiras. Enfim, Fernão Dias não encontrou as esmeraldas, mas deixou-nos a mensagem de determinação e também outros bandeirantes que ajudaram a expandir o nosso país. Mais do que esmeraldas pudemos descobrir que o nosso país é gigante pela própria natureza. Inspirado na obra de Paulo Setúbal: “A Bandeira de Fernão Dias”

2º LUGAR Ensino Fundamental LITERATURA

O Caçador de Esmeraldas F

ernão Dias Paes Leme nasceu em Piratininga e foi casado com Maria Garcia Betina. Era considerado um homem rico, pois possuía muitas propriedades e escravos. Fernão foi um bandeirante paulista que, ficou conhecido como “O Caçador de Esmeraldas”, pois naquela época os bandeirantes tinham por objetivo procurar riquezas e também buscar mão de obra escrava de índios que, na maioria das vezes, trabalhavam nas plantações de açúcar. As primeiras expedições foram organizadas no início do século XVI e concentravam-se no litoral. Já as do século XVII tinham por objetivo encontrar mão de obra escrava. Na expedição denominada de Sumidouro foram encontrados inúmeros metais preciosos e, Fernão permaneceu ali por um período de quatro anos. Essa expedição atingiu o Vale do Jequitinhonha, centro de Minas Gerais, e foi ali que, finalmente, esse bandeirante

LETÍCIA SALLUM PINHO Professora Responsável: Sílvia Siqueira Escola: Colégio Bem Me Quer Centro de Estudos Integrados

encontrou as suas sonhadas “pedrinhas verdes”, que na verdade não eram esmeraldas, mas sim turmalinas, pedras sem valor. Fernão morreu de febre no meio da mata sem ter conhecimento desse fato. Antes de expirar, chamou o filho e confiou-lhe a sacola de esmeraldas. Recomendou-lhe que voltasse para o litoral e que para lá levasse as primeiras pedras verdes, fornecidas pelas jazidas do Brasil. Seu filho mais velho levou seus restos mortais para ser sepultado no Mosteiro de São Bento, que ajudara a construir. Fernão fez muito pelo Brasil, por isso seu nome ficou na História. Três séculos mais tarde, a BR381, Rodovia que liga São Paulo a Minas Gerais, ganha o nome de Fernão Dias. Afinal, fora o caçador de esmeraldas que rasgara fronteiras no interior brasileiro e impulsionara o ciclo do ouro. Tema:III “Os Paulistas e o crescimento do Brasil no sentido do interior — o pareamento dos índios e a busca do ouro, prata e pedras preciosas”

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

13


14

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

O Chefe da Conspiração E

m São Paulo, mais exatamente no ano de 1608, nasceu um bandeirante, não simplesmente um bandeirante, mas sim, Fernão Dias, o bandeirante de mais largo renome, juntamente a Antônio Raposo Tavares. Alguns detalhes da vida de Fernão... Em 1638, com trinta anos, já integrava a Bandeira de Tavares, que já havia descoberto os atuais estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e talvez o Uruguai. Fernão era defensor da expulsão dos Jesuítas, que não concordavam com a escravização dos índios. Em 1644 a 1646, Fernão partiu para o sertão paulista, e em 1650, o próprio administrou a construção do Mosteiro de São Bento, na Vila de São Paulo. Em 1653, ele promoveu a reconciliação entre os Jesuítas e os Paulistas. Dentre vários acontecimentos que, dão a Fernão Dias o título de bandeirante de mais alto renome, está um episódio conhecido por ter o filho de Fernão como chefe, o que provavelmente deve ter sido uma das passagens mais dramáticas de sua vida. Tal episódio deu-se, pois, seu filho mameluco, José Dias Pais, que era o chefe de uma conspiração e, devido a isso, foi sentenciado pelo próprio pai à morte por enforcamento. Apesar de tudo, esperava-se que um homem como Fernão, um senhor bem sucedido, fosse morrer em um lugar mais calmo, como uma cidade, perto de sua família, mas não. Fernão morreu junto ao rio Guaicuí (Guaiachi, ou Rio das Velhas). Rumores dizem que seu corpo foi enterrado ao lado de uma igreja de pedra, que ele mandou construir no século XVII, por razões desconhecidas a igreja que fica no distrito de Guaiacuí, município de Várzea da Palma, Minas Gerais, nunca foi concluída. Muitos outros iriam morrer por causa da mesma febre no Vapauçu e Itamarandiba. Por última vontade, encarregou o filho Garcia de voltar a São Paulo para entregar as esmeraldas à câmara e se colocar como primogênito à testa da família.

Tema: “Os grandes personagens do livro - Fernão Dias e seus filhos e participantes da bandeira.”

3º LUGAR Ensino Fundamental LITERATURA

THIAGO MIZUMOTO Professor Responsável: Sílvia Cristina Siqueira Escola: Colégio Bem Me Quer Centro de Estudos Integrados

1º LUGAR Ensino Médio LITERATURA

LUCAS AUGUSTO ALVES DE OLIVEIRA Professora Responsável: Verônica de Souza Santos Escola: Colégio Bem Me Quer Positivo

O Caçador de Esmeraldas Q

uando se tem uma meta, algo de valor que se deseja muito, a vida se torna uma caça: de oportunidades para alcançar a meta, de caminhos para segui-la, da tão merecida alegria ao se alcançar um objetivo. Fernão Dias Pais Leme era um caçador. Um bandeirante, que tinha como meta encontrar pedras preciosas, metais e expandir e conquistar territórios... Objetivos nada fáceis de alcançar. Pelo contrário, era preciso arriscar tudo — até a própria vida. Era preciso ser duro e racional, e, se fosse necessário, ser rude com o próprio filho. Era preciso ter cuidado para não ser alvo de conspiração. E isso aconteceu com Fernão Dias, que ao tomar conhecimento dos fatos tem de assumir uma difícil atitude: sendo o líder da conspiração seu filho bastardo, Fernão deixa de lado seus sentimentos paternais em prol da justiça e de sua meta: manda enforcá-lo. Quando se tem uma meta, a vida se torna uma caça. E a meta se confunde com a vida. Fernão Dias passa por intempéries diversas, até que acaba morrendo de febre no meio da mata, com algumas pedras que foram enviadas a Portugal, mas nada valiam. Embora as “Esmeraldas” fossem “Turmalinas”, Fernão doou a vida ao seu objetivo e, deve ter morrido feliz, acreditando que encontrou o que tanto almejara, pois, no fim, o que valeu mesmo foi o “caminho até a meta”. Para todos que tem sonhos e desejam muito alcançá-los, a história de Fernão serve como exemplo e inspiração. Por isso, histórias como esta precisam ser registradas e partilhadas. Como os bandeirantes não tinham o hábito de ser cronistas, esta nobre tarefa coube aos romancistas. Paulo Setúbal registrou esta história. Não só imaginou, mas também foi em busca de fontes, pois quis deixar a parte histórica conservada. Paulo soube extrair da vida desse bandeirante o assunto para escrever um movimentado romance histórico. Paulo também era um caçador — como Fernão — mas suas metas eram as palavras. Escrevia a seu modo, mesmo irritando os modernistas que desprezavam sua linguagem, considerada clássica. Depois de caçar e lapidar as preciosas palavras e finalizar o romance de Fernão, Paulo; no prefácio do livro diz que valeu a fantasia de imaginar como era a vida de um bandeirante e essa fantasia fez “voar em socorro da história”. Da história e de muitas vidas que se tornaram “caças a almejadas esmeraldas”. Socorrei-nos, Paulo!

Tema: Os grandes personagens do livro- Fernão Dias e seus filhos e participantes da Bandeira


Adentrando no Brasil Colônia D

urante os séculos XVI e XVII, homens valentes saíram do sertão para dar início à colonização do Brasil. Tais homens, liderados por portugueses, executavam funções diversas, como a captura de escravos fugitivos, o aprisionamento de indígenas e a busca por metais e pedras preciosos. Geralmente partiam das cidades de São Paulo e São Vicente, seguindo para o interior do Brasil com base nas florestas e nos cursos de rios como o Rio Tietê, um de seus principais norteadores. Esses homens ficaram conhecidos como bandeirantes, por serem considerados desbravadores do território brasileiro, ultrapassando inclusive os limites do Tratado de Tordesilhas. No entanto, esse heroísmo atribuído a eles por vezes entra em conflito com a forma violenta com que agiam e com a maneira que acabavam contribuindo para a manutenção do regime escravocrata vigente na colônia portuguesa.

O vestuário dos bandeirantes variava de acordo com a condição financeira de cada um deles, mas pouco era carregado. Apenas uma ou duas mudas de roupas era o suficiente. Comida e água duravam pouco tempo, pois o clima úmido e quente não colaborava para a conservação. Farinha de mandioca, pães, biscoitos e grãos como feijão, soja e milho eram as soluções mais eficazes para matar a fome. As expedições organizadas e financiadas pelo governo eram conhecidas como Entradas, ao passo que as expedições particulares eram as Bandeiras. Enquanto os homens passavam longos períodos longe de suas casas, as mulheres da época viviam da casa à igreja, rodeadas por índias que muitas vezes se tornavam amantes de seus maridos. Dedicavam-se aos trabalhos domésticos, aos filhos legítimos e aos filhos ilegítimos de seus esposos, conhecidos como mamelucos. Eram pouquíssimas as mulheres que se negavam a assumir uma

2º LUGAR Ensino Médio LITERATURA

LETÍCIA CAMARGO COELHO Professora Responsável: Verônica de Souza Santos Escola: Colégio Bem Me Quer Centro de Estudos Integrados

posição subordinada em relação ao sexo masculino, já que eram educadas desde pequenas a se sujeitarem às imposições dos homens. Nesse contexto histórico, dois personagens de destaque foram Fernão Dias Paes Leme e seu genro, Manuel Borba Gato. No século XVII, quando Portugal despertou interesse pelo ouro, ambos se concentraram na exploração do estado de Minas Gerais, e o foco foi desviado dos índios e dos escravos. Foram eles que inspiraram a obra “A Bandeira de Fernão Dias”, de Paulo Setúbal. O romancista tatuiano deu graça a esse importantíssimo período histórico que não conta com relatos ou diários de seus envolvidos, levando embora a sua monotonia. Pintou e bordou nas entrelinhas dos fatos históricos, sem deixar de ser fiel a eles. Tema: Os paulistas e o crescimento do Brasil no sentido do interior — o pareamento dos índios e a busca do ouro, prata e pedras preciosas

3º LUGAR

Tempo pra voltar... Fernão Dias vivia em São Paulo, no Brasil ainda crescente. Casas de pau-a-pique, barracos, sujeira, matos e florestas. Assim como os outros que farão a entrada no sertão, esperava a nau Santa Cruz com a chegada de mais homens para a bandeira. Chegam seus homens e junto deles uma carta do Rei de Portugal nomeando Fernão Dias governador de esmeraldas, ou seja, que ele seria responsável pelas riquezas encontradas durante a expedição. Fernão Dias vive no Brasil do século 17, onde Portugal e Espanha ainda brigavam pelos territórios e estes estavam divididos pelo tratado de Tordesilhas. Espanha tinha controle pelo território oeste e Portugal consequentemente, leste. São Vicente, hoje São Paulo foi explorado e dentro dele os paulistas procuravam mais riquezas, e sendo assim foram em busca destas no território da Espanha. Essas buscas ficaram conhecidas como entradas.

Amanhece o dia da entrada. A cerimonia começa cedo e é marcada pela presença de famílias com nomes famosos e pelo grande numero de sertanejos. Fernão Dias carrega a verde flâmula durante a missa e para a entrada inicial. Junto dele e seus homens, um padre jesuíta com o dever de fazer missas durante a bandeirada, pois os bandeirantes eram religiosos apesar de não terem contato com a igreja. As despedidas acontecem e se destaca Fernão e sua mulher. D. Maria Rodrigues Garcia Bertin. Com olheiras e cansada, mas nobre ao lado do marido. Mostra sua fragilidade enquanto se despede de seu amante. D. Maria incentiva Fernão e não mostra medo em seu adeus. Faz-lhe um pedido: que traga as esmeraldas. Abençoa-o e termina a despedida entre eles. O bandeirante parte. Em suas mãos a flâmula, em seu coração D. Maria e em seus pensamentos, as esmeraldas. Mal sabe que

Ensino Médio LITERATURA NATÁLIA BERGER OLIVEIRA Professora Responsável: Verônica de Souza Santos Escola: Colégio Bem Me Quer - Positivo

fará muito mais do que encontrar riquezas. Fernão Dias Paes Leme não sabia que descobriria um novo Brasil. Ainda na despedida, D. Maria acompanhada das filhas não sabe que aquele seria seu último contato com Fernão. Os dois se amavam e eram conhecidos por esse amor. Em alguns livros podemos encontrar que D. Maria estava doente na partida de Fernão Dias em sua ultima bandeira, mas mesmo assim foi abençoá-lo. Seu pedido é que lute, sofra e tenha forças, assim como teve em sete anos de entradas e que traga as esmeraldas além de tudo. Ele sempre fez seu trabalho e cumpriu suas promessas, mas em seu pensamento estava D. Maria como força e inspiração. “Ou trago as esmeraldas ou morro”. Fernão Dias consegue a riqueza, mas não lhe sobra tempo para voltar a D. Maria. Tema: “O papel das mulheres na época das Bandeiras, em especial Dona Maria Betim- Esposa de Fernão Dias”

CONCURSOS PAULO SETÚBAL 11/agosto/2013

15



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.