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David Dores

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João Lopes

João Lopes

O primeiro conhecimento que tive para fotografar foi de uma menina, enquanto trabalhava como ardina. Curiosamente, fui premiado com o trabalho que fi z dessa rapariga

DAVID DORES O fotógrafo sadino que encara a câmara como a paixão da sua vida

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Autor do livro ‘Intocável no Tempo’ garante que as palavras “deficiência mental” nunca vão limitar os seus objectivos

David Dores foi diagnosticado com epilepsia com apenas um ano de idade. A morar desde sempre na zona das Pontes, o jovem de 28 anos relembra a sua infância com alguma amargura. “A minha infância até aos 12 anos foi muito má. Era uma pessoa limitada e inconsciente devido à epilepsia. Foi uma altura difícil e de muita luta com os meus pais”, conta.

Com o diagnóstico mais aprofundado, veio a necessidade de David ser operado para retirar um osso da cabeça. Numa fase em que chegou a ter “mais de vinte crises por dia”, o jovem refere que, até então, era tratado como “um objecto de permanente vigilância”, a quem faltou liberdade para se “desenvolver como pessoa”.

No entanto, no dia da cirurgia nasceu “um novo David”. Apesar dos limites impostos pelos pais, o fotógrafo reconhece que “teve de ser assim.” “Durante muito tempo fui uma pessoa revoltada com os meus pais. A protecção a que me sujeitaram durante tanto tempo fez com que a minha mente atrofi asse”, confessa. “Hoje não gosto de obrigações. Ainda noto um bocado de pouca confi ança perante os desafi os que tenho de enfrentar, mas gosto de pensar em fazer e faço à minha maneira".

No que diz respeito ao ensino, David teve acesso a uma educação especial. Com o fi m do ensino básico, veio a decisão do curso que deveria seguir. Apesar de ter ponderado escolher algo relacionado com o desenho, foi aconselhado por uma professora a ingressar no curso de fotografi a.

“Não estava muito certo, mas decidi arriscar. Na altura, era só mesmo para terminar o 12.º ano”, revela o jovem, que acabou por entrar no Curso Técnico de Fotografi a na Escola Secundária D. João II.

Salto em comprimento ‘de lado’ para dar lugar à fotografi a Antes de assumir o meio fotográfi co como a sua grande paixão, David chegou a ter um percurso relevante no desporto. “Entre os 6 e os 7 anos”, o setubalense foi atleta na modalidade de salto em comprimento pelo desporto escolar, até chegar ao Vitória Futebol Clube, onde “havia a expectativa de ser profi ssional”.

DR

No entanto, aos 15 anos acabou por deixar o atletismo quando iniciou o estágio do curso de fotografi a no clube. “Comprei a minha primeira máquina em 2011, quando comecei a estagiar. Fotografava diversas modalidades e alguns jogos de futebol. Comecei a sentir um formigueiro e no fi m do estágio surgiu o gosto a sério pela fotografi a e tive de optar por sair do desporto”, diz.

Foi numa herdade abandonada perto de casa que David desenvolveu as suas técnicas de fotografi a. “Aquilo era uma quinta onde moravam e trabalhavam algumas pessoas. Passava lá imenso tempo e aprendi muito”. Em 2018, decide mudar o seu tipo de fotografi a, que, até então, se focava nas paisagens e na natureza.

Antes disso, o jovem já havia ingressado no mundo profi ssional como ardina d’O SETUBALENSE, local onde adquiriu alguns contactos para o meio fotográfi co. “O primeiro conhecimento que tive para fotografar foi de uma menina, enquanto trabalhava como ardina. Curiosamente, fui premiado com o trabalho que fi z dessa rapariga”. À época, David oferecia os seus serviços para aumentar o portefólio. Actualmente, o jovem já realiza sessões “a cobrar”, mas admite ter de se organizar um pouco mais para mostrar “a sua experiência e um portefólio detalhado”.

De uma exposição no Moinho da Mourisca para dois livros em 2021 Os frutos do seu trabalho fotográfi co vieram um ano antes, em 2017, quando viu as suas fotografi as expostas no Moinho de Maré da Mourisca. “Realizei uma exposição, com a ajuda dos meus pais, dedicada à herdade”.

Dois anos depois, realizava duas exposições, sendo que a reviravolta na sua vida chega em 2021, quando decide divulgar o seu trabalho num site galeria, o ‘Olhares’.

“Decidi ir divulgando as minhas fotografi as nesse site, até que recebi uma mensagem de uma senhora que me perguntou se queria participar no livro ‘Pandemic’. Seleccionei uma imagem que tirei durante a pandemia e apareci num livro com outros 99 fotógrafos”, refere.

A obra foi editada pela AlmaLusa, que, mais tarde, fi cou interessada em trabalhar com o jovem. Do interesse nasceu o livro ‘Intocável no Tempo’, publicado em Março do presente ano. Na obra estão várias fotografi as tiradas pelo jovem, num trabalho realizado desde 2013 na mesma herdade.

Do seu percurso destacam-se igualmente as publicações que fez nas revistas Mundo Digital e Zoom.

Para David, o diagnóstico de 66% de incapacidade não defi nem quem é, assim como as palavras “defi ciência mental” nunca vão limitar os seus objectivos. Já a fotografi a resume a sua vida. “Às vezes ando de cabeça no ar só a pensar nisto. Eu faço o melhor que posso em tudo, no trabalho e fora dele, mas a fotografi a é a minha grande paixão”.

Hoje, é empregado de armazém numa empresa de materiais de construção. Trabalha oito horas por dia, deixando a fotografi a para os seus tempos livres. Além disso, é na Associação Cultural de Novas Ideias que garante ter vindo a evoluir e onde tem realizado alguns projectos.

“Desde que integrei na associação que me sinto mais positivo e desenvolvido. Eles ajudam-me muito a arranjar mais trabalho e sabem puxar por mim”, refere o jovem, que tem agora como principal objectivo fi delizar alguns clientes e construir uma carreira sólida no meio.

David Dores à queima-roupa

Idade 28 anos Naturalidade Pontes, Setúbal Residência Pontes, Setúbal Área Fotografi a

Com um livro já publicado e diversas exposições realizadas, sonho passa agora por fi delizar clientes e construir carreira sólida no meio fotográfi co

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