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Rita Matias

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João Lopes

João Lopes

RITA MATIAS Seixalense é a mais nova entre o grupo dos 230 com assento parlamentar

Seguiu as pisadas do irmão mais velho e iniciou-se no CDS. Saltou para o Chega e teve ascensão meteórica no cenário político

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Mário Rui Sobral

É do Seixal, trocou o CDS pelo Chega e foi eleita deputada à Assembleia da República, pelo círculo de Lisboa, nas últimas legislativas. Com apenas 23 anos – comemora mais uma Primavera em 17 de Outubro –, Rita Matias é o elemento mais novinho (leia-se mais jovem) entre os 230 parlamentares que compõem o hemiciclo. Teve uma ascensão meteórica na política e é como que... a “deputada bebé” do parlamento.

Formada em Ciência Política, a jovem confessa ter partido de “uma vida cívica activa” para o mundo político. “Fui escuteira, fazia voluntariado nas associações e Organizações Não Governamentais locais e, por isso, o envolvimento político foi apenas mais um passo natural de quem cresceu rodeada de exemplos que se dedicam à causa pública, à comunidade local e ao seu País”, explica Rita Matias, que em casa encontrou um azimute. “Seguindo o exemplo do meu irmão mais velho, quis militar ao seu lado na Juventude Popular. Na altura, estava no início da minha licenciatura e, na ausência de outras forças políticas,

Rita Matias à queima-roupa

Idade: 23 (17/10/1998) Naturalidade:Arrentela, Seixal Residência: Lisboa Curso: Ciência Política

Foi escuteira e em casa, confessa, cedo foi imbuída de espírito altruísta. Perseguição a cristãos da China foi o momento-chave para a sua entrada na política activa

DR

Rita Matias é formada em Ciência Política e elege André Ventura como referência

via este caminho como única via para expressar as minhas posições políticas.”

Porém, houve um “momento-chave” que a levou a envolver-se de forma activa na vida política. E teve contornos asiáticos. “Foi após travar conhecimento com cristãos perseguidos da China, no âmbito das Jornadas Mundiais da Juventude, na Polónia. A experiência de conhecer alguém perseguido pela sua fé fez-me desejar ter uma voz activa para denunciar estas situações e lutar pela liberdade, um dos valores mais apregoados, mas mais atentados nos nossos tempos”, revela.

O altruísmo familiar, porém, já lhe reservara de certa forma o trilho a seguir. “Desde os pais, ao irmão e avós, cresci com o testemunho de quem, se for preciso, tira do seu para dar ao outro. Isso foi tão enriquecedor que vejo neste caminho político a oportunidade de dar de graça todos os exemplos que de graça recebi”, admite, sem complexos em destacar a acção dos seus. “Vi o meu pai dedicar a sua vida aos toxicodependentes, aos marginalizados da sociedade, aos órfãos e às vítimas de violência doméstica. Cresci com os meus avós sempre com a porta de casa aberta e mais um lugar na mesa para quem passasse. Vi desde novo o meu irmão militar de forma desinteressada e desassombrada. Neste contexto, todo o [meu] interesse pela vida política ocorreu de forma muito natural.”

Do CDS ao Chega E se tudo começou pelos centristas, mais rapidamente “acabou”, e com protagonismo, noutra doutrina partidária – no Chega. “O CDS foi uma escola de institucionalismo e de aprendizagem do que é pertencer a uma estrutura. No entanto, e apesar do legado desse partido, tendo nascido no Seixal, não conseguia compreender a falta de realismo político da estrutura do Caldas, onde por pouco tempo militei. A realidade de Lisboa era muito diferente das necessidades que via diariamente na terra onde cresci”, justifi ca a deputada, que reforça de seguida: “Sentia que nesta instituição havia muito espaço à formação e ao debate político, mas que se revertia em poucas soluções para os problemas que existem para lá do Príncipe Real e da baixa lisboeta. Este desfasamento fez-me por algum tempo desacreditar dos partidos políticos existentes.”

E eis que chegou André Ventura, líder do Chega, que elege como “referência” política. “Fez-me acreditar novamente na militância partidária pela capacidade de reconhecer que as elites de Lisboa, por demasiado tempo, esqueceram as periferias suburbanas”, afi rma. “Sem complexos de inferioridade e sem receio de rótulos bacocos, André Ventura foi desde a primeira hora o megafone das conversas de surdina, de café, ou daqueles pensamentos que não ousávamos exprimir. Foi esta 'abertura do Mar Vermelho' que me inspirou e fez querer estar ao seu lado no combate pela verdadeira liberdade e no reconhecimento da importância de Portugal e dos portugueses, no dia-a-dia e não apenas nos períodos eleitorais”, argumenta.

Até porque, garante Rita, o que mais a atrai neste percurso “é a possibilidade de mudar a vida das pessoas para melhor”, mesmo quando as propostas do Chega acabam vetadas. “O tempo de desenho dessas propostas, muita das vezes em conjunto com parceiros sociais, cidadãos, associações, permite-nos que os nossos caminhos se cruzem com a vida de muitas pessoas. E a maior sede que as pessoas demonstram é de serem escutadas e verem alguém na classe política preocupar-se com as suas dores. Podemos não ter capacidade ainda de mudar as suas vidas, mas estamos ao seu lado, escutamos os seus desafi os e fazemos tudo ao nosso alcance para levar as suas questões às instituições democráticas”, defende a jovem formada em Ciência Política.

Solidariedade

Começou a ajudar com tampinhas

Foi cedo que Rita Matias diz ter começado a intervir em causas sociais. “Aos 10 anos decidi criar uma organização para recolha de tampas plásticas. Essas tampas eram entregues à Amarsul, que por sua vez fi nanciava próteses e cadeiras de rodas. Mobilizei a minha família, amigos, vizinhos, cafés e lojas nas redondezas. A casa dos meus avós tornou-se um autêntico armazém de tampinhas”, conta. E o resultado, adianta a jovem, foi recompensador. “A verdade é que ajudámos o Hospital Garcia da Orta e algumas das crianças que acompanhavam, como o Fábio ou o Gabriel, a conseguirem os desejados e necessários meios de mobilidade.”

O suporte académico que detém, assume, “prepara alguém para ser politólogo e não para ser político”. Ainda assim, reconhece que “a capacidade de interpretação de fenómenos políticos e o tempo dedicado ao estudo das instituições democráticas no âmbito curricular são uma mais-valia para a compreensão das dinâmicas e desafi os parlamentares”. Ao mesmo tempo confi dencia o sonho que tem, não para a sua carreira política, mas para Portugal. “Que o nosso País se liberte das amarras do socialismo que o mantém estagnado a nível social, económico e cultural. Mudam-se os argumentos, os fi gurinos políticos, mas a verdade é que nas últimas décadas Portugal só consolidou o seu lugar na cauda da Europa. A IV República ou o V Império, o que o País necessita é de um projecto de longo prazo que o reafi rme no quadro mundial e valorize o nosso passado, multiplique as riquezas do nosso presente e o direccione para o futuro”, frisa, a concluir.

Reportagem

A PARTIR DE ALMADA E SETÚBAL Associação Faísca Voadora trabalha interculturalidade em várias frentes

Actividades que dinamiza pretendem “juntar pessoas e derrubar barreiras em torno das diferenças culturais”. Este ano estreia-se nos intercâmbios de Verão para jovens entre os 12 e os 30 anos

Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografi a)

Criada em 2018, “muito pela cabeça, coração e experiência de Morgane Masterman”, a associação Faísca Voadora organiza actividades interculturais locais, europeias e internacionais. Na margem sul do Tejo, dinamiza eventos culturais, ofi cinas criativas e intervenções em escolas e espaços pedagógicos sobre vários temas relacionados com interculturalidade e identidades.

“Sempre com criatividade, abertura e alegria, queremos que as nossas actividades sejam activamente inclusivas e acessíveis a quaisquer pessoas, independentemente da sua identidade ou expressão de género, nacionalidade, orientação sexual, religião, idade, racialização, situação fi nanceira, educação ou outro critério semelhante”, começa por dizer Susana Costa, da equipa Faísca Voadora, a O SETUBALENSE. “Os objectivos são sobretudo trabalhar em torno da interculturalidade. Pretendemos juntar pessoas e derrubar aquilo que são as barreiras em torno das diferenças culturais, da forma como entendemos o mundo ou como nos relacionamos”, adianta.

A partir de eventos, workshops e formações, promove “esta ideia mais desconstruída do conceito de cultura, não só a partir de um país ou de uma língua, mas também a partir da forma como nos construímos enquanto pessoas. Não vemos cultura como uma caixa fechada, mas sim como uma coisa dinâmica, em constante dinamismo”.

Equipa pretende chegar ao maior número de pessoas possível e está disponível para acolher outros projectos

Nesta linha, a Faísca Voadora tem assim vários projectos, a nível internacional, uma vez que faz parte de uma rede, sobretudo europeia, mas também muito relacionada com África, e também no âmbito local, centrando-se na margem sul do Tejo, com especial enfoque nos concelhos de Setúbal e Almada. “Trabalhamos a interculturalidade, o anti-racismo, as alterações climáticas, diversidades de género e em torno disto existem várias possibilidades, que integram sempre pedagogias criativas. Pode ser teatro, desenho, rádio, animação linguística ou outros”, explica, frisando que “entendemos também o processo de aprendizagem como uma coisa não formal, experimental e criativa sempre”.

A associação trabalha com vários públicos, entre crianças, jovens e adultos e este Verão lança-se na “grande aventura” dos intercâmbios para jovens dos 12 aos 30 anos em Espanha, França, Alemanha. Para Setembro, está marcado o acolhimento de um outro, dedicado à arte e à ecologia, na Quinta Maravilha, em Palmela, e a realização de um workshop, com o projecto “Sem In Diferenças”, na Bela Vista, ao abrigo do Programa Escolas, gerido pela APPACDM de Setúbal. “Vamos lá estar com uma equipa da Faísca Voadora, uma associação parceira da Alemanha e outra de Itália, para um encontro com os jovens deste projecto. A ideia será recolher tradição oral e a partir das histórias recolhidas criar pequenas histórias animadas em stop-motion”, conta Susana Costa. “Procuramos que estas duas dimensões da associação, o trabalho internacional e o trabalho local, possam interagir e possamos trazer pessoas de fora que interajam com Setúbal e ao mesmo tempo possamos levar pessoas de Setúbal e de toda a margem sul para fora”, acrescenta. Espaço de actividades na Fonte Nova está “aberto à cidade” Neste momento, para além das duas trabalhadoras a tempo integral, Morgane e Susana, a equipa conta com um estagiário e está a prever novas contratações. “Está a ser superpositivo, para além de conseguirmos garantir esta equipa base, estamos também a contratar animadores e animadoras para trabalhar nos nossos intercâmbios de Verão”, partilha, para depois referir que “temos esta ideia de multiplicar, de poder dar oportunidade e trabalho a outros jovens e outras pessoas para além da associação”.

Também ao maior número de pessoas possível pretendem levar as suas actividades. “Queremos que sejam inclusivas e que cheguem a toda a gente, sobretudo a públicos que difi cilmente teriam acesso. Vamos ao contacto com projectos base, em bairros prioritários ou sociais, que interagem com jovens que não teriam tanto acesso a esta informação e fazemos chegar. Queremos dar estas possibilidades”, afi rma. “Por considerarmos que existe já muita oferta em Lisboa, é sobretudo na margem sul que queremos trabalhar e em Setúbal, por exemplo, é sempre muito importante o apoio que o Gabinete da Juventude da Câmara Municipal nos dá a nível de divulgação”, acrescenta.

Com sede administrativa em Almada, é no Largo António Joaquim Correia, na Fonte Nova, em Setúbal, que tem o seu “espaço de actividades. É a nossa base de trabalho e a ideia é que seja um espaço para que a associação se relacione com as pessoas, com a cidade, e que receba e acolha propostas e outros projectos”. Nas palavras de Susana Costa, “o nosso espaço está aberto à cidade e quem precise de um espaço para trabalhar ou tenha uma ideia de uma actividade para realizar, pode sentir-se à vontade para entrar em contacto connosco”.

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