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Kelly Alberto

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João Lopes

João Lopes

Ambiciono que cheque o dia em qua a magia aconteça. Que apareça o gato Felis Silvestris numa das câmaras. Nesse dia toda a equipa corta o cabelo

KELLY ALBERTO “A natureza está cá para nos dar a vida, é a nossa casa”

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Da Suíça relembra a infância, do Alentejo as primeiras passadas na área da monitorização ambiental e no Seixal impôs a missão de se tornar “protectora da natureza”

Mariana Pombo

Aos 29 anos, Kelly Alberto não tem dúvidas do que é: uma protectora da natureza. Faça chuva ou sol, seja terreno montanhoso ou planície, a jovem seixalense está por perto, não fosse membro vigilante do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Há já cinco anos que faz das áreas verdes o seu habitat natural e quanto ao que encontra no “escritório de trabalho”, garante ser insubstituível: “Um corço com as suas crias, uma galinhola ao pôr-do-sol, um javali sob lua-cheia. Pode ser indescritível”, assegura.

Os mais próximos garantem que tem “bichos carpinteiros ao invés de células”, mas Kelly argumenta que apenas é uma “criatura dedicada” com “muito amor à camisola”.

Por esse motivo, em 2021, foi convidada a integrar o ‘Grupo de Monitorização de Mamíferos da Direcção Regional da Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo’ do ICNF que controla a presença de espécies no território, recorrendo à técnica de armadilhagem fotográfi ca.

Da lista de capturas fotográfi cas fazem parte centenas de animais, mas ainda há um espaço especial destinado à observação de uma espécie em extinção.

“Ambiciono que chegue o dia em que a magia aconteça. Que apareça o gato Felis Silvestris numa das câmaras por nós montada. Ficou estabelecido entre os elementos do Grupo que, se tal feito ocorresse, toda a equipa cortaria o cabelo a pente zero”, conta.

ICNF

Kelly Alberto, de 29 anos, é 'polícia da natureza'. Trabalha como vigilante do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)

Dos Alpes Suíços para o Alentejo A vontade de explorar a natureza não engana. Até aos 10 anos de idade, a jovem viveu em Martigny, uma pequena cidade suíça, rodeada pelas montanhas alpinas, e é a esta paisagem que remontam as primeiras memórias de infância.

Os passeios com a mãe junto ao Rio Rhône, entre as vinhas e os pomares, as “longas passeatas” de bicicleta com o pai até ao Lac du Rosel, onde aprendeu a nadar, e os domingos reservados a saborear crepes de queijo.

Em 2004, a paisagem mudou. Trocou os Alpes Suíços pelo calor do Baixo Alentejo, onde, além dos montados de azinho e das “práticas agrícolas sustentáveis” encontrou “paz e calmaria”.

Foi precisamente no sul de Portugal que teve o primeiro trabalho na área, numa Zona de Caça Turística, em que, ao comando do Guarda dos Recursos Florestais da Herdade, acompanhava caçadas de diferentes espécies, até ter “despertado o bichinho da monitorização”.

Desses tempos guarda no coração a madrugada e o anoitecer no campo. “Um acontecimento sem precedentes”, afi rma. Convida qualquer um a fechar os olhos e a imaginar um montado imenso num fi nal de tarde ao som de um veado a bramar. “Arrepiante”, relembra.

“Tenho imenso gosto naquilo que faço” Encantada pelas bonitas paisagens que lhe foram moldando o crescimento, soube que era ao ar livre que se sentia “em casa”. Aos 20 anos, “com muito sangue na guelra e igual curiosidade” concluiu uma formação técnica em Conservação da Natureza e não tardou a embarcar em projectos na área.

Fez parte de um projecto do ‘Programa Eco Escolas’ que previa construir e

Kelly Alberto à queima-roupa

Idade: 29 anos Naturalidade: Martigny, Suíça Residência: Seixal Área: Ambiente

Há cinco anos que assumiu a missão de proteger os pequenos episódios ocorridos na natureza que encara como ex-libris.

controlar habitats para os morcegos-anões encontrados nas caixas-estores de várias salas de aula e trabalhou como voluntária na Liga para a Protecção da Natureza, onde enriqueceu o seu conhecimento sobre aves.

“Numa viagem até Castro Verde imagine uma abetarda [ave] em parada nupcial. Uma postura imponente, gigantesca e distinta. O macho dança perante as pretendentes, eleva a cauda, curva as asas, incha o peito e desenrola as penas até fi car uma bola de penas brancas. Toda esta magia numa estepe dourada, 42 graus, ar pesado e de difícil respiração”, conta.

Para cada momento da vida, descreve episódios com o rigor de quem não só os presenciou como os viveu de perto. “Tenho imenso gosto naquilo que faço, tento fazê-lo bem e com amor. A natureza assim o merece, está cá para nós, para nos dar vida, é a nossa casa”, assegura.

Fez do Seixal sua mais recente casa e é na Margem Sul do Tejo que pretende continuar a garantir a sobrevivência da biodiversidade que a área tem para oferecer, apelando ao comportamento responsável de cada pessoa.

“Quero ver o gato-bravo, mas não quero só um”, declara. “Quero que todas as espécies da nossa fauna que, de momento apresentam um défi ce na sua representação populacional, apareçam em força nas imagens por nós captadas. Depende de todos nós, das nossas acções e escolhas, por mais insignifi cantes que nos pareçam”.

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