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André Maciel
Ambiente
ANDRÉ MACIEL O agricultor de varandas, na cidade
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Cedo descobriu que o seu futuro passava pela natureza. Transformou a casa da família num “oásis” auto-sustentável e hoje adoptou um estilo de vida que é também um negócio
Mariana Pombo
Há quem sonhe ser bombeiro, astronauta ou super-herói. Mas já em pequeno, André Maciel tinha os pés bem assentes na terra. “Sempre quis ser agricultor”, confessa. E não restam dúvidas: a paixão pela natureza nasceu com o André.
Natural de Setúbal, cresceu num ambiente citadino, rodeado pelas quatro paredes do seu apartamento, onde a natureza não era convidada a entrar. “De quatro irmãos era o único que queria levar plantas e bichos para casa”, conta.
Longe de ter tido uma educação sustentável, recorda as viagens a Barcelos, de visita às primas, como o único contacto que tinha com o campo: horta, animais e ar puro. Tudo o que o pequeno André poderia querer.
Foi esse pequeno estímulo que o fez tornar-se agricultor e criar o projecto ‘Hortas LX’, em 2020, onde tem trabalhado na instalação de hortas urbanas e encontra soluções para todos os que, tal como ele, fantasiam com um estilo de vida sustentável.
“Não criei este projecto como modelo de negócio, mas sim como missão”, diz. “Preocupa-me muito o tipo de alimentos que as pessoas colocam no organismo e o ‘Hortas’ [LX] é uma janela de oportunidades para quem quer cultivar em casa”.
A verdade é que a página de Instagram assinala 18 mil seguidores que se deliciam com as dicas para viver de acordo com uma agricultura biológica. Quanto ao espaço disponível, nada que o jovem agricultor não resolva.
“Já ajudei a construir hortas em telhados e varandas. Com vontade, não há nada que não se faça”, frisa.
A descoberta da permacultura Mas o percurso ecológico começou muito antes. A “bênção” com que afi rma ter nascido fê-lo integrar o curso de Design e Equipamento, na Escola Secundária de Bocage, em Setúbal, e dedicar todo o seu trabalho à área da sustentabilidade. “Cheguei a fazer um abajur com embalagens de detergente da roupa”, lembra.
Aos 21 anos embarcou na aventura de restaurar a casa de infância da mãe com a intenção de a transformar num atelier de trabalho. Mas, com a semente ecológica a ser regada de dia para dia, acabou por tornar o espaço num ecossistema de biodiversidade, em plena cidade de Setúbal.
“Criei um pequeno oásis com uma horta, um galinheiro, uma estufa e um lago. Alimentava as galinhas com o que produzia e fertilizava a terra da horta com o estrume dos animais. Aos poucos, percebi que conseguia fechar um ciclo e tornar-me auto-sustentável no meio da cidade”.
Ao projecto deu o nome ‘PuriSimpl’, uma forma de homenagear a mãe, Purifi cação, associando-a à simplicidade da natureza. Estava descoberta a essência da permacultura que, nos dias de hoje, guia a vida de André: “Trabalhar com a natureza e não contra ela”.
Um estilo de vida ainda em construção Irradiado pela “leveza de espírito” que o oásis lhe dava, o setubalense ambicionava partilhar o sentimento com o mundo, mas os “alimentos rápidos do supermercado” continuavam a ser mais tentadores para as restantes pessoas e o ‘PuriSimpl’ acabou por se tornar bastante “solitário”.
“Para os meus pais e amigos não passava de uma brincadeira do André”, recorda. “Sentia-me muito isolado e a acreditar nisto sozinho. Não duvidava do estilo de vida, mas sim que as pessoas o pudessem adoptar”.
Durante uns tempos deixou o projecto a germinar e dedicou-se a conhecer os contornos do que acreditava. Foi estudar Agricultura Biológica e Produção Vegetal, na Escola Superior Agrária de Coimbra, em 2017, e participou em actividades de voluntariado em quintas biológicas, até se lembrar de criar o ‘Hortas LX by PuriSimpl’.
Hoje, a realidade dá-lhe provas de que é possível ensinar os outros a viver em permacultura e acredita
André Maciel à queima-roupa
Idade: 30 anos Naturalidade: Setúbal Residência: Lisboa Área: Agricultura
Acredita que é a “bênção” com que nasceu que o faz desafi ar a lógica e levar um pouco do campo para a cidade.
que o ‘Hortas LX’ é uma boa forma de começar a despertar a semente.
“Um dia estava a beber café em Setúbal e uma senhora veio ter comigo e disse-me: ‘André, muito obrigada. Graças a ti, a minha varanda está cheia de verduras’. Receber esta mensagem de pessoas que não conhecemos prova que o meu trabalho tem sentido”, orgulha-se.
Para um idealizador como o André, o caminho para uma vida em comunhão com a natureza desenha-se através da educação e, por esse motivo, deseja construir uma escola de artes para crianças que contribua para o desenvolvimento sustentável.
Com ideias que parecem dar frutos, o jovem agricultor é feliz a contemplar os morangueiros e tomateiros que lhe crescem na varanda. “A minha ideia nunca foi mudar o mundo, mas se existirem mais ‘Andrézinhos’ por aí espalhados é possível”, realça.
MARTIM VIDIGAL