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Carolina Nunes

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João Lopes

João Lopes

Ambiente

CAROLINA NUNES A rapariga que não deixa “pontas soltas”

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Sente-se “uma gota no oceano” com o trabalho de recolha de beatas e preservação da cidade sadina, mas a Medalha Honorífica com que foi reconhecida contradizem-na

Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografi a)

De beatas percebe Carolina Nunes. Não é fumadora, nem nunca o foi, mas isso não a impede de saber que um cigarro tem cerca de quatro mil compostos químicos que ameaçam o planeta que tem tentado preservar. “Não sou contra os fumadores”, esclarece. “Sou contra o acto de atirar uma beata para o chão”.

Nem sempre foi assim. Há seis anos estava tranquila a recolher lixo das praias de Setúbal com uma amiga quando o “contraste das beatas com a suavidade do areal” a despertou para a realidade.

“Levávamos muita coisa nos sacos, mas os pequenos resíduos, como as beatas, fi cavam para trás e isso deixou-me a remoer”. Com a exigência natural por respostas que a levou a seguir um Mestrado em Biologia Humana e Ambiente, começou a pesquisar sobre o tema e a descoberta deixou-a alarmada.

“São o lixo número um encontrado em todo o mundo. Em Portugal, estima-se que sejam atiradas para o chão cerca de sete mil beatas por minuto. Era preciso fazer alguma coisa”, salienta.

Setúbal sem pontas Tem uma aparência decidida e prima essa atitude para a vida. “Não gosto de pontas soltas”, desvenda. Não gosta mesmo ou não tinha criado, em conjunto com três colegas, a ‘Feel4Planet’, uma associação sem fi ns lucrativos que, mais do que recolher as beatas esquecidas pelos setubalenses, tem trabalhado na sensibilização ambiental, nos últimos cinco anos.

Inaugurou a campanha ‘#STBSEMPONTAS’ em 2017 e a primeira vez que reuniu voluntários para ajudar na recolha de beatas contou milhares de resíduos encontrados.

Mestre em Biologia Humana e Ambiente, declarou guerra aos pequenos resíduos. Não pode ver beatas e outros lixos no chão e está a consciencializar outros

“Fomos para a garagem do meu pai, espalhámos as beatas no chão e até fi zemos uma brincadeira entre as quatro. Ganhava quem acertasse na quantidade de beatas apanhadas. 400, 500, pensávamos nós”. 40 minutos depois, Carolina e as

Carolina Nunes

à queima-roupa

Idade: 30 anos Residência: Setúbal Naturalidade: Setúbal Área: Ambiente

Propõe-se a tornar Setúbal uma cidade livre de beatas de cigarro e desde 2017 que trabalha para que isso aconteça.

colegas olhavam perplexas para o chão: “Eram mais de quatro mil”, afirma. Hoje em dia, tenta não se espantar tanto com o que encontra, mas a falta de conhecimento com que se depara continua a preocupar.

“Uma vez, um senhor muito querido esteve a ouvir-me imenso tempo a falar sobre as componentes de um cigarro e assim que terminei disse-me: «Ah, não se preocupe, menina. Eu deito-o sempre no sítio certo». Quando perguntei onde era, mostrou-me a sarjeta”, relembra.

Uma mulher no poder Não tem problemas em reconhecer que o “sentido de justiça” é o que melhor a defi ne e admite não se privar de ajudar quem pode. “Gosto de sentir que o que fi z teve impacto e fez a diferença na vida de alguém”.

Por esse motivo se sente tão entusiasmada com o cargo profi ssional que conseguiu, em 2020. Faz parte da Divisão da Juventude da Câmara Municipal de Setúbal, onde garante que temas como a saúde mental e preservação ambiental são trabalhados com os jovens.

O hábito de comunicar com gerações mais novas já vem de trás, dos tempos de monitora de crianças na ‘Ocean Alive’, a reconhecida cooperativa setubalense de protecção marinha, onde dava aulas de educação marinha aos mais pequenos.

A dedicação com que se entrega ao que acredita não passa despercebida no concelho e, para sua surpresa, em 2021, alcançou uma Medalha Honorífi ca na área do Associativismo e Sindicalismo pelo trabalho desempenhado na ‘Feel4Planet’.

“Não estava nada à espera. Estava à procura do nome de um amigo na lista e encontrei o meu”, conta. Agradece o reconhecimento, mas a humildade acaba por falar mais alto: “Tenho um problema muito grande que é pensar que existem sempre pessoas a fazer mais. Então fi co muito surpreendida com este tipo de coisas”.

A verdade é que não são todos os que se propõem a ocupar o tempo livre de luvas na mão, a arrecadar o que é deixado para trás por terceiros ou a expor-se em conferências nacionais de protecção ambiental.

Humildade à parte, não consegue deixar de sentir que está também a ter infl uência na forma como as “grandes entidades ligadas ao Ambiente” começaram a ter uma preocupação mais acentuada em recolher os pequenos resíduos do chão.

“Podemos ser apenas uma gota de água no oceano, mas o oceano é feito de muitas gotas e se conseguirmos mudar alguma coisa já estamos a ter algum impacto”, remata.

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