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Mourana Monteiro
Ambiente
MOURANA MONTEIRO Activista pelo ambiente sente que carrega o futuro às costas
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Luta diariamente para “construir um futuro bonito”. Sofreu de ‘Eco Ansiedade’ até descobrir o activismo. Hoje é uma das referências ao nível do activismo ambiental, em Portugal
Mariana Pombo (Texto) Mário Romão (Fotografi a)
Paleio acelerado, ar decidido e sorriso no rosto. É desta forma que Mourana Monteiro se dá a conhecer. Sentada num banco de jardim, enumera os compromissos que refl etem a agenda preenchida. Aos 25 anos, entre as atividades de escutismo, o voluntariado em associações e os três empregos, a jovem é activista ambiental.
Rodeada de enxadas e oliveiras, no quintal da avó, em Palmela, aprendeu o verdadeiro signifi cado da palavra ‘sustentabilidade’. “A minha ‘avozinha’ era a pessoa mais inteligente que conheço”, revela orgulhosa. “Trabalhava muito no campo e tudo era aproveitado o máximo possível. Fui educada a não ser consumista e a valorizar o que a natureza nos dá”, relembra.
Com as lições da avó presentes, Mourana foi crescendo e fazendo o que estava ao seu alcance para garantir o futuro de todos. Voluntariado, recolhas de lixo e reciclagem já faziam parte da rotina. Chegou mesmo a entrar para Engenharia do Ambiente na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), apesar de, após seis meses de curso, ter saído ao perceber que “era mais matemática e física do que preocupação com o ambiente”.
Em 2018, o discurso da activista Greta Thunberg que invalidava as ações sustentáveis individuais trocou-lhe as voltas. “A partir desse momento percebi que o que fi z toda a vida não chegava. É preciso uma mudança política”, afi rma.
A estudar Psicologia na Universidade do Algarve, a jovem ativista começou a recear o futuro das próximas gerações, ao ponto de desenvolver o que se en-
Da obsessão com o lixo no chão aos pesadelos com a catástrofe climática, Mourana Monteiro sofre pelo ambiente
Exploração de petróleo
“Australis desiste de explorar gás na Bajouca e em Aljubarrota”. É assim que é noticiado o episódio que Mourana guarda no coração e no pódio dos troféus alcançados, enquanto activista.
Em 2012, a empresa australiana ‘Australis Oil & Gas’ e o Estado português assinaram um contrato de exploração de petróleo desde Peniche até à Figueira da Foz. Três anos depois, o terreno na Bajouca, Leiria, estava comprado para se iniciar uma prospeção de gás natural.
“A empresa fi nanciou muita desinformação junto da população local. Fizeram imensas reuniões a garantir que iriam ter o gás mais barato. E nós [GCE] fomos lá e fi zemos igual. Só que, desta vez, com ciência, com verdade”, admite Mourana.
A atitude dos activistas mobilizou actores locais, associações e autarquia que identifi caram lacunas, ao nível do impacto ambiental, no contrato celebrado com a ‘Australis Oil & Gas’.
“Chegámos a fazer uma manifestação. Éramos 400 pessoas a marchar. A Bajouca nunca tinha visto uma ‘manif’ na vida”, conta, animada.
Uma vitória para o grupo de manifestantes, pois, ainda em 2019, o Parlamento recomendou a suspensão da prospeção de petróleo em Alcobaça e Pombal e a empresa australiana apresentou a desistência de prosseguimento dos projetos.
Mourana Monteiro
à queima-roupa
Idade: 25 anos Naturalidade: Setúbal Residência: Palmela Área: Activismo ambiental
Abraça todas as causas como se fossem suas e não desiste de lutar pelo futuro do planeta.
contra atualmente diagnosticado como “Eco Ansiedade”.
“Se alguém colocava uma beata no chão, à minha frente, eu tinha de ir apanhar. Depois, vieram os pesadelos. Sonhava com crise nas colheitas, guerra civil, destruição. Acordava mais cansada do que me deitava”, revela.
Uma forma de “construir um futuro bonito” Mergulhada em sentimentos depressivos, foi nesse período que Mourana conheceu membros da Greve Climática Estudantil (GCE), um coletivo de estudantes responsável pela organização de intervenções sustentáveis, em todo o país, que lhe mostraram uma forma “não formal de fazer política”: o ativismo.
Actualmente, não só integra a GCE e outros movimentos ambientalistas internacionais que a ajudam a “construir um futuro bonito” como é um dos nomes mais sonantes do ativismo ambiental em Portugal. Não se deixa iludir pelas conquistas. Do reconhecimento, só quer a “oportunidade de ser ouvida”.
Lutar por aquilo em que acredita está-lhe no sangue e a jovem não se deixa vergar pelas consequências que essa luta possa criar. Está a ser constituída arguida num processo que condena o bloqueio feito à Rotunda do Relógio, Lisboa, em maio de 2021, por um grupo de ambientalistas, no qual Mourana se encontrava, que protestavam por menos aviação e mais ferrovias.
“Não consigo fi car parada. Parar é deixar que roubem o meu futuro. E eu não vou deixar”, remata. “Nós não vamos deixar”, corrige. A hora arrasta-se e os compromissos não podem esperar. A jovem levanta-se e segue com a urgência de quem carrega o futuro às costas.