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Simão Calixto

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João Lopes

João Lopes

Associativismo

SIMÃO CALIXTO “Associados e em conjunto temos muito mais poder do que sozinhos"

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Presidente do Projecto Ruído, estreou-se enquanto dirigente associativo na Escola Secundária Sebastião da Gama e hoje é presença assídua no comité organizador do Festival Liberdade

Inês Antunes Malta (Texto) Mário Romão (Fotografi a)

Nascido no Barreiro, Simão Calixto cresceu e vive actualmente na Quinta do Conde, onde também estudou até ao seu nono ano. No arranque de uma nova fase, chegou à Escola Secundária Sebastião da Gama, em Setúbal, para integrar o curso de Ciências e Tecnologias.

Foi neste momento que iniciou o seu percurso enquanto dirigente associativo, ao criar, com duas amigas, a rádio da escola, que até então não existia e não demorou a ser um projecto bem-sucedido.

Passou também pela Associação de Estudantes da mesma instituição de ensino, onde “sempre tivemos uma postura muito reivindicativa no sentido da resolução de problemas que identifi cávamos na escola” e percebeu que “associados e em conjunto temos muito mais poder do que sozinhos”, começa por contar.

No decorrer deste processo, tomou conhecimento do Festival Liberdade, no qual participa desde 2015, “um formato sem igual e uma marca grande” na sua experiência associativa.

“Os encontros do movimento associativo sempre foram, para mim, muito enriquecedores, enquanto dirigente e na perspectiva de troca de experiências e de conhecer outras realidades que também enriquecem a nossa”, considera. “Aprendi muito com o festival e foi a partir daí que tomei conhecimento do Projecto Ruído. Depois de sair da Associação de Estudantes, fui envolvendo-me mais, por concordar com todas as coisas que faziam. Em 2017, entro para o projecto e sou dirigente associativo desde 2019”, conta, acrescentando

O movimento associativo juvenil da região é, no seu entender, caracterizado pela sua variedade e disponibilidade

Simão Calixto à queima-roupa

Idade 24 anos Naturalidade Barreiro Residência Quinta do Conde Área Tecnologias do Ambiente e

do Mar Já tendo feito parte de várias associações, acredita no poder de pensar e transformar em colectivo

que, no Festival Liberdade, o Projecto Ruído participa desde o seu início, de diversas formas, mas sempre enquanto parte integrante do comité organizador do festival e impulsionador do Encontro do Movimento Associativo da região.

O desarmamento nuclear, a paz, o racismo e as questões da igualdade são alguns dos temas que norteiam a actividade da associação que, apesar de não ter ainda sede física, desenvolve diversas iniciativas no concelho do Seixal.

Nos últimos dois anos, o projecto “Faz ruído pela igualdade”, que passou pela Moita, Montijo, Seixal e Setúbal, tem procurado "alertar para as questões da igualdade nas várias fases e nos vários aspectos e ambientes da vida”.

Para Simão Calixto, importa ainda destacar o trabalho feito no âmbito do desarmamento nuclear, com a campanha "Desarma a bomba", que em 2018 percorreu as escolas da região e do país. “Recolhemos assinaturas para Portugal aderir ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e foi uma experiência incrível, com a qual chegámos a milhares de jovens estudantes, muito concordantes com a ideia do fi m das armas nucleares e da luta pela paz”, partilha, frisando que “hoje, com a questão do confl ito da Ucrânia, estamos a tentar retomar nesse sentido, dada a experiência muito positiva que temos. De repente tornou-se mais actual, parece que nada mais importa senão a paz”.

Com o percurso académico "sempre muito ligado à região e à cidade de Setúbal", no presente encontra-se a terminar a licenciatura em Tecnologias do Ambiente e do Mar, no Instituto Politécnico de Setúbal, onde também já dirigiu o núcleo do seu curso.

Associativismo enriquece experiência pessoal O associativismo assume na sua vida elevada importância por permitir “desenvolver actividades com outras pessoas em áreas de interesse para além da escola ou do trabalho. Juntos, duas cabeças pensam melhor do que uma e assim sucessivamente. Às vezes falta-nos esse tempo livre para pensar e fazer mais, mas tentamos sempre dar um bocadinho mais de nós para concretizar”. O Projecto Ruído fá-lo, precisamente, concretizar, “ir à procura de participar mais, em novas iniciativas e adquirir novas experiências que, se não fi zesse parte, não seria possível”.

O movimento associativo juvenil da região é, segundo Simão, caracterizado pela sua variedade, "de concelho para concelho, há coisas completamente diferentes, nas mais variadas áreas”. Verifi ca igualmente "muita disponibilidade e o Festival Liberdade é a prova disso. Todos os anos dezenas de associações e centenas de jovens participam na sua construção e realização e isso é valiosíssimo”.

Já fez parte de várias associações e a necessidade de mais apoios e menos burocracia é, no seu entender, um aspecto comum porque “o movimento associativo todo precisa de mais apoio”. Regista “uma difi culdade muito grande, principalmente para aceder aos apoios do Instituto Português do Desporto e da Juventude, que devia aprender mais com os municípios no aspecto da proximidade, envolvimento e apoio", que nem sempre é fi nanceiro. Por vezes é somente necessária "ajuda ou apoio logístico".

Reportagem

FOME A revista que deu lugar à associação que fomenta a criação artística emergente

Este ano dão continuidade ao projecto “Caleidoscópio”, apoiado pela Direcção Geral das Artes, têm exposições e workshops agendados e já pensam em novos projectos para 2023

Inês Antunes Malta

A ideia de criar uma revista de arte passa a realidade em Julho de 2018 pelas mãos de Margarida Mata e Pedro Cunha. Margarida é formada em Belas Artes e em Museologia e trabalha desde sempre na área cultural, no campo da mediação e produção. Pedro é designer gráfi co e antes da criação da FOmE trabalhava enquanto freelancer e realizava outros trabalhos fora da sua área de formação. Quando no Verão de 2018 fi cou sem trabalho, logo encontrou na Margarida a vontade de abraçarem novos projectos em conjunto. Em Dezembro do mesmo ano lançam o primeiro volume.

“Pensámos criar uma empresa de design com uma vertente cultural forte, mas seria importante haver algo que distinguiria essa empresa. Tínhamos detectado que seria interessante haver um projecto como a FOmE, que unisse vários projectos artísticos emergentes em Setúbal, Pinhal Novo, Barreiro, etc.”, recordam. “Entre Julho e Agosto de 2018 planeámos o que seria a FOmE, em Setembro começámos a fazer contactos concretos e em Dezembro, sem apoios, recorrendo apenas a investimento pessoal, lançámos o primeiro volume”, adiantam.

Mais de três anos depois, a revista FOmE deu lugar a “uma associação cultural que através de vários projectos, e tendo a revista como núcleo, se dedica a fomentar a criação artística emergente na Margem Sul do Tejo”. Trabalham “em duas vias que se misturam” com artistas locais e não locais, em projectos no território, mas também além dele, “acreditando que são esses fl uxos que podem contribuir

Pedro Cunha e Margarida Mata, os responsáveis pelo projecto, consideram que o panorama cultural da região é "vibrante mas fragmentado"

para um crescimento mais concreto e consequente”.

Neste momento, a FOmE não é o seu trabalho a full time “pois ainda não temos as condições fi nanceiras que o permitam”. O Pedro é designer freelancer e a Margarida trabalha enquanto assistente curatorial e produtora de artes visuais do Festival Iminente.

A mistura de artistas, geográfi ca e de expressão, é a marca do projecto Cada volume da revista apresenta, por norma, cerca de oito artistas, um artigo sobre música, outro sobre um projecto artístico e os restantes mais ligados às artes visuais.

“Nunca imaginámos que o projecto pudesse ter tantas derivações com a revista como núcleo. Neste momento, produzimos exposições, concertos, peças de arte pública, entre outros, e cremos que essa evolução é sintomática de que de facto seria muito necessário um projecto como o nosso”, consideram. “Queremos sempre dar destaque a artistas da região, mas não queremos criar uma bolha, queremos sim que as bolhas rebentem. Fazemos sempre misturas de artistas, tanto geográfi cas como de expressão, e achamos que essa é a marca da FOmE. Vemos esta mistura como uma missão que acaba por contribuir para um maior acesso às expressões emergentes”, continuam. Neste mês de Julho, sai mais um novo volume, inserido no projecto “Caleidoscópio”, que agrega os lançamentos de 2022, sempre acompanhados de concerto, exposição e obra de arte pública. “A nossa lógica é que a revista seja o núcleo a partir do qual nascem esses projectos. Além de contribuírem para uma maior visibilidade da FOmE, estes projectos são também uma forma de sustentar a FOmE e trazer mais trabalho aos artistas”, explicam. “Este ano vamos dar continuidade ao projecto ‘Caleidoscópio’, apoiado pela Direcção Geral das Artes e que contempla um ciclo de programação cuja primeira edição aconteceu no Pinhal Novo, com passagens pelo Barreiro e por Setúbal, realizar exposições, alguns projectos ligados à formação através de workshops e, entretanto, estamos a pensar em novos projectos já para 2023”, continuam.

Na hora de fazer um retrato do panorama cultural da região, Margarida Mata e Pedro Cunha reconhecem-no “vibrante, mas fragmentado”. Registam “diferenças muito acentuadas entre as várias localidades, tanto na quantidade como no género de programação e criação cultural”, sentindo igualmente que “os projectos circulam pouco entre municípios, assim como os públicos. Cabe-nos a nós, agentes culturais, tentar alterar esse panorama e criar redes entre nós que acabem por contaminar as instituições”.

NOVAS IDEIAS SETÚBAL ACADEMY Associação liderada por jovem torna as boas ideias realidade

Fernando Cruz é o presidente da Associação Cultural Novas Ideias Setúbal Academy há quase seis anos, cargo que muito o tem estimulado e colocado em contacto com os jovens locais

André Rosa (Texto) Mário Romão (Fotografi a)

Vestido de t-shirt, calças de ganga e com um boné na cabeça, Fernando Cruz entra na Casa da Baía com um sorriso no rosto e vai cumprimentando jovialmente quem com ele se cruza, no meio do clima de agitação do Dia da Cultura Húngara. Promovido pela Associação Cultural Novas Ideias (ACNI) Setúbal Academy – da qual é presidente – em parceria com a Embaixada da Hungria e a Câmara de Setúbal, este é um evento especial, pois representa bem o trabalho que a associação tem vindo a desenvolver nos últimos tempos.

Enquanto os representantes da Hungria, entre os quais o embaixador em Lisboa e o vice-presidente da Câmara de Debrecen (a segunda maior cidade daquele país), e a vice-presidente da autarquia setubalense se juntam no pátio interior da Casa da Baía, o público em geral e os voluntários da associação vão convivendo alegremente. No compasso de espera, Fernando aproveita para vestir uma camisa e um blazer mais adequados ao momento dos discursos, para depois reforçar a importância da criação de “pontes culturais”.

A tarde é preenchida com uma programação diversifi cada, em torno das tradições e costumes húngaros, com demonstrações de música, dança e trajes tradicionais, gastronomia e workshops de diferentes artes. À conversa com O SETUBALENSE, Fernando Cruz, 33 anos, destaca o Dia da Cultura Húngara como uma das facetas visíveis do trabalho da ACNI, e de caminho recorda um pouco do seu percurso pessoal e profi ssional, iniciado na Escola EB 2/3 de Aranguez

Associação fundada e dirigida por Fernando Cruz envolve duas dezenas de voluntários de Setúbal e Palmela

e que passou também pela escola da Bela Vista.

No fi nal do secundário, Fernando Cruz escolheu seguir o curso de Marketing e Comunicação da Escola Profi ssional de Setúbal, mas desistiu e foi para o Conservatório de Música da Jobra, em Aveiro, estudar piano e música clássica durante três anos. “Para um miúdo do bairro, que só vivia a música do hip hop, a oportunidade de conhecer músicos de topo foi uma transformação radical, e isso também me motivou a criar a associação”, recorda ao jornal, enquanto a festa húngara enche a Casa da Baía de cor e movimento.

“Quando regressei a Setúbal senti que havia falta de oportunidades para os jovens que, como eu, queriam desenvolver as suas actividades culturais. Não havia oportunidades, e eu queria profi ssionalizar-me como músico”, conta o presidente da ACNI, que também tem experiência como DJ e produtor musical. “Entretanto comecei a trabalhar na Casa da Cultura e percebi que podia fazer mais, mas fora da música, criando uma associação que desse oportunidades as jovens para desenvolverem os seus talentos”.

Com vontade de fazer acontecer, Fernando Cruz uniu-se ao seu amigo de longa data João Patronilo e assim nasceu a Setúbal Academy, a 17 de Outubro de 2016. O projecto era então “uma espécie de academia onde os jovens setubalenses podiam descobrir aquilo que realmente os motivava, consoante os seus talentos e aptidões” – “porque muitos saem da escola sem saber para onde ir”, comenta Fernando. As actividades estavam muito ligadas à música e ao desporto e permitiram criar, até, uma equipa de basquete feminino.

O salto para a actual versão da Associação Cultural Novas Ideias deu-se mais recentemente, quando a associação se lançou na organização do Cine Play, um festival ligado ao cinema, cosplay e gaming (videojogos), com o apoio da autarquia. “A partir desse evento percebemos que tínhamos oportunidade de trabalhar com embaixadas de diferentes países (já reunimos com as embaixadas da Palestina, Japão, Colômbia, Coreia do Sul e Hungria), e aí abriu-se uma porta enorme de contactos”, conta Fernando Cruz.

Actualmente, a ACNI mobiliza “mais de 20 jovens voluntários da região de Setúbal e Palmela, com idades entre os 17 e os 27 anos”. Além de liderar os destinos da associação de forma enérgica e carismática, Fernando Cruz também dá “formação de liderança” aos jovens. No histórico da Setúbal Academy conta-se também o lugar cimeiro na 11.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio, que promove acções inovadoras a nível nacional. A ACNI venceu este prémio com o projecto “As Traseiras”, que uniu as vertentes social e ambiental na transformação de um terreno abandonado num jardim sustentável, num bairro social da cidade.

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