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Lara Matos
Artes e Espectáculos
LARA MATOS “Não é justo as pessoas terem que sair da sua terra para terem acesso à cultura”
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Para além da criação artística, a actriz e cofundadora da estrutura artística Sui Generis diz estar neste momento a descobrir a mediação cultural, um lugar onde também quer estar
Inês Antunes Malta
Nascida em Lisboa, Lara Matos cresceu na Quinta do Conde, para onde voltou recentemente para viver depois de um período em Almada. Em criança, participava em várias actividades ao mesmo tempo, desde o desporto às artes. Hoje, quando questionada sobre o que faz, percebe que todas as suas áreas de actuação estão de alguma forma ligadas à vertente artística.
Licenciou-se em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa (ESTC), frequentou a Real Escuela Superior de Arte Dramático de Madrid, no ramo de Teatro Físico, e mais recentemente regressou à ESTC para a realização de um mestrado em Produção. Tem ainda formação em dança e em canto lírico pela Escola de Música do Conservatório Nacional.
“Não soube desde sempre que queria ser actriz nem que viria a ter esta ligação com o teatro, quase que fui descobrindo. Quando, ainda antes do secundário, tive de decidir com mais certeza o que queria fazer percebi que tudo o que queria relacionava-se com a arte, onde me sentia bem, onde queria investir”, começa por dizer. “Sair da Quinta do Conde para ir para Lisboa estudar teatro foi um passo importante. Estava numa zona de conforto muito grande, há nove anos na mesma escola e esta saída foi um desafi o”, continua, partilhando que “também quando fui para Madrid, queria conhecer outras linguagens. Todos estes momentos em que rasguei com o que tinha foram importantes, permitiram-me descobrir outras coisas”.
Neste seu percurso, encontrou a
ALIPIOPADILHA
Actriz entende a companhia que criou como uma estrutura artística para chegar ao público e à comunidade
professora Estrela Novais, “uma fi gura importante na minha relação com o teatro que me inspirou e ensinou muito e ainda hoje temos uma relação muito de confi ança, de partilha”.
No teatro, já trabalhou enquanto actriz com João Brites, Miguel Fragata, Tiago Rodrigues, Bruno Bravo, Miguel Jesus, Joaquim Benite, Carlos Pessoa, Ana Palma, Jorge Silva Melo, Wagner Borges, Tiago Bôto, João Cachola, e com estruturas como o Teatro Nacional D. Maria II, Teatro O Bando, Teatro da Garagem, Teatro de Almada, Artistas Unidos, CCB e Crianças Loucas, entre outros.
Criação da Sui Generis é marco importante no caminho Quando terminou a licenciatura, Lara Matos sentiu, a par de alguns colegas, necessidade de criar o seu próprio
espaço de trabalho, “uma estrutura sólida por trás das nossas ideias, para podermos reinventar, criar, falar sobre os temas que queríamos”. Nasce, assim, em 2018, a Sui Generis, que “cada vez mais tem um papel importante para o território da Quinta do Conde. Há muito poucas companhias profi ssionais de teatro no concelho de Sesimbra”, declara.
A desenvolver trabalho enquanto companhia de teatro e a dinamizar a sua Ofi cina de Teatro, na Junta de Freguesia da Quinta do Conde, a Sui Generis tem vindo a trilhar igualmente um caminho relacionado com as pessoas, a comunidade e o território.
“Estamos a descobrir esta zona de mediação cultural, onde descobri que também quero estar, de poder criar relação com os públicos, com a comunidade, de poder mediar, levar as
Lara Matos
à queima-roupa
Idade 27 anos Naturalidade Quinta do Conde Residência Quinta do Conde Área Teatro
Enquanto actriz, já trabalhou com algumas das maiores referências do teatro nacional
pessoas a ver outras coisas”, partilha. "Sentimos que temos uma missão muito importante com a comunidade de criar momentos de acesso à cultura”, afi rma.
Nas palavras da actriz, criadora e responsável pela produção e gestão da Sui Generis, “neste momento estou também a descobrir que quero voltar à minha terra, ao meu território. Se queremos ter acesso à cultura devíamos conseguir fazê-lo aqui. Não acho mesmo justo que as pessoas tenham de sair do nosso território para ter acesso à cultura”.
Neste sentido, Lara está também a desenvolver trabalhos com a Câmara Municipal de Sesimbra, com o objectivo de “fazer com que as pessoas tenham acesso a outros projectos ligados à cultura e de trabalhar com os criadores locais, também porque temos de valorizar aquilo que é nosso”.
A sua tese surge também neste âmbito, sobre a participação cultural, o desenvolvimento cultural do território e de que modo projectos participativos podem criar ligação das pessoas com a arte e a cultura. “Temos de desconstruir a barreira de entrar no teatro. As pessoas acham muito que não é para elas, que não vão perceber. Quando vamos ao teatro, dança, cinema, música, não temos de nos relacionar todos da mesma forma com o que vemos”, considera, para depois concluir que “cada um de nós tem as suas referências e a partir daí vai criar uma relação diferente com os objectos artísticos. Sinto que estou nesta missão de desbloquear isto e começar no concelho de Sesimbra. Enquanto Sui Generis, não nos sentimos só uma companhia de teatro. Somos uma estrutura artística, um colectivo com várias frentes”.