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Ricardo Guerreiro Campos
Artes e Espectáculos
RICARDO GUERREIRO CAMPOS "Trabalhar o sentido crítico é criar lugares de refl exão e democracia"
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Artista visual, performer, arte-educador, professor e investigador, Ricardo tem vindo a desenvolver o seu trabalho entre as artes visuais, o teatro e a educação
As suas criações e interpretações giram sempre em torno de lugares e pessoas. No presente, está em digressão com “Corpo pequenino, olhos de gigante” e a preparar o próximo espectáculo d’As Avózinhas
Nascido em Almada, mas a viver desde sempre no concelho de Setúbal, Ricardo Guerreiro Campos é artista visual, performer, arte-educador, professor e investigador e tem vindo a desenvolver o seu trabalho entre as artes visuais, o teatro e a educação.
Em 2014, terminou os estudos em pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Ainda no mesmo ano, na criação do espectáculo “Bom dia e outros pensamentos”, com Miguel Reis, percebe que o lugar afectivo tem cada vez mais força e só lhe faz sentido “abraçar projectos nos quais conseguisse estar de forma inteira, e não para agradar a um nicho ou a um mercado”, começa por dizer.
Entre 2015 e 2017, fez mestrado em Educação Artística, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal. No domínio dos projectos educativos e pedagógicos, passou pelo Agrupamento de Escolas de Azeitão, Agrupamento da Ordem de Sant’Iago, Museu Colecção Berardo, Cultivamos Cultura, Academia de Dança Contemporânea de Setúbal, Agrupamento de Escolas Sebastião da Gama e serviço educativo da Casa da Avenida, sem esquecer de “Ir e vir e voltar com livros”, programa municipal de educação pela arte e ciências experimentais. "A dar aulas, a abraçar vários projectos pedagógicos e no teatro também, no meu processo de trabalho olho o outro nos olhos, para mim o mais importante em educação - a relação, esse lugar, tempo e espaço olhos nos olhos com quem está ali contigo”, partilha.
Paralelamente, foi colaborando com algumas estruturas e "ganhando espaço para transformar questões, temas ou inquietações numa proposta performativa e criar os meus próprios espectáculos”.
Trabalhar a infância a partir do universo de Almada Negreiros Surge assim o “Lugar Abrigo”, sobre ser e estar em comunidade, “A metade que falta”, um espectáculo para a infância que é um jogo, com a Casa da Avenida, e este ano o “Corpo pequenino, olhos de gigante”, com o Teatro Estúdio Fontenova, agora em digressão.
Criado a partir do universo de Almada Negreiros, mais especifi camente do poema “O Menino d'Olhos de Gigante”, conta a história de um menino a quem
Ricardo Guerreiro Campos
à queima-roupa
Idade 29 anos Naturalidade Setúbal Residência Azeitão Área Arte e educação
Tem desenvolvido o seu trabalho em vários contextos de intervenção, educação e criação
um gigante tenta roubar os olhos, maiores que o corpo, e permite, de acordo com Ricardo Guerreiro Campos, “pensar sobre o posicionamento do grande e do pequeno, fazer relações com a idade adulta e a infância, com o que envolve roubar-te a tua forma de ver o mundo, num caminho que me interessa muito de olhar e pensar a criação artística para a infância”.
Para si, este é um “espectáculo-manifesto sobre a infância para todas as infâncias, um processo participativo com vários grupos de crianças”, que lhes dá voz, questionando igualmente “como os poderes respeitam ou não o olhar da criança na construção do nosso espaço comum, em sociedade”.
Em Janeiro de 2020, recebe “um dos convites mais surpreendentes”, para assumir a direcção artística do Teatro As Avózinhas, grupo satélite do Festival Internacional de Artes de Rua de Palmela (Fiar), criado pela Dolores de Matos, que faleceu em Agosto de 2019. “Abracei esse desafi o e para mim é muito bonito poder dar continuidade a esse trabalho”. No período de pós primeiro confi namento, criou o espectáculo Pele. Agora preparam o próximo, “a partir da relação d'As Avózinhas com a dança, a estrear no fi nal de Setembro, início de Outubro. Para mim é absolutamente maravilhoso dar voz a estas mulheres nesta fase da vida”.
Ano passado, foi convidado a integrar a equipa da Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi, “uma estrutura com peso grande na cidade, mas com vontade de fazer diferente, pensar as práticas, numa relação muito forte com a música e as belas artes. É um sítio onde sinto que posso experimentar muita coisa e é bom ter um lugar assim”.
Para Ricardo Guerreiro Campos, “a investigação é um acto contínuo e acontece também todos os dias na nossa própria prática. Nesta amálgama de papéis, ora artista, educador, pai ou activista, acho impossível dialogarmos e estarmos olhos nos olhos com pares sem querermos lutar por um lugar justo”.
“Se a educação e este estar olhos nos olhos é um veículo para dar força e luz a algumas questões que existem, acredito que devem ser postas em cima da mesa, independentemente da idade das crianças, que vão ser futuros cidadãos e seres do mundo”, refere, defendendo ainda “o trabalho na base do sentido crítico, sobre a forma de olhar, e o dar ferramentas para que possamos criar lugares democráticos de conversa e refl exão. É muito fundamental”.
Reportagem
CONSTANÇA QUINTEIRO “Quero aproveitar a voz que tenho para fazer mais do que só música bonita”
Este ano, encontra-se a apresentar ao vivo o seu EP de estreia a solo, “Aventurina”, um mix de canções na qual traduz “a sua forma de ver a vida: de pés na terra e coração na lua”
Constança Quinteiro é uma das novas vozes femininas do panorama musical nacional, situada entre a suavidade com que canta e as canções que escreve. “Miúda”, “Corpo a Corpo”, “Dança” e mais recentemente “Aquária” e “Mil maneiras” compõem o seu primeiro trabalho de originais, “Aventurina”, que se encontra a apresentar ao vivo este ano.
Natural de Sesimbra, já com oito anos tinha aulas de música para aprender a tocar guitarra e piano. Depois de um período de interrupção, o gosto pela música fê-la voltar, em 2008, quando já estava no 12.º ano de escolaridade, a tocar guitarra de forma autodidacta, numa primeira fase, e mais tarde em aulas com a mesma professora com que tinha tido em criança. Na universidade, estudou Ciências da Comunicação, mas nunca deixou a música de parte.
“Percebi que estava mesmo a gostar daquilo e que até tinha algum jeito. Fui continuando nas aulas privadas e como estava a viver em Lisboa inscrevi-me em aulas de canto no Conservatório, onde estudei também música jazz”, começa por dizer a O SETUBALENSE.
Nessa altura, começou a compor, a escrever e a criar as suas músicas. Deu alguns concertos em Sesimbra, em nome próprio, até surgir o projecto Medvsa, com Ricardo Gonçalves, com o qual editou um EP e foi fi nalista do EDP Live Bands 2018.
“Ganhei imensa experiência, mas não me sentia 100 por cento satisfeita e ainda em 2018 decidi ir para Londres estudar música. Fiz um curso em Music Performance, mais focado em canto e a seguir outro em
composição e produção”, conta. “Ao mesmo tempo desse segundo curso, já de 2019 para 2020, a pessoa que produziu o EP do Medvsa, o Miguel Ferrador, também estava em Londres e decidimos encontrarmo-nos porque eu ganhei a vontade de começar a fazer algo a solo”, adianta.
No fi nal de 2019, começaram a trabalhar as primeiras músicas. Em 2020, Constança terminou o segundo curso e dedicou-se à composição e produção das músicas do EP. “Em Setembro, descobri que estava grávida e questionei-me se seria boa ideia nessa altura lançar uma carreira a solo mas decidi arriscar e ainda bem que o fi z. Aconteceu tudo no momento certo, pelas razões certas”, partilha.
“Miúda” é o primeiro single, lançado em Fevereiro de 2021, seguido de “Corpo a Corpo” e de “Dança”, lançado a par do EP, em Outubro. “Dança” é uma música “sobre uma mulher que sabe bem o que quer e que vai atrás, nesta lógica de incluir o empowerment feminino na mensagem”. Também enquanto artista, Constança pretende actuar neste sentido. “Neste momento, tenho duas pessoas, o Miguel Ferrador e o Vinicius, que trabalham comigo, mas tento ter uma equipa superfeminina. Na parte visual e dos videoclipes, só trabalho com mulheres e acho que é super importante se queremos realmente fazer alguma diferença”, afi rma. Já este ano chegam os visualizers da “Aquária”, em Abril, e da “Mil maneiras”, no mês de Maio.
Planos para 2022: marcar mais concertos e lançar mais músicas Em “Aventurina”, EP que tem vindo a apresentar em concertos desde Fevereiro deste ano, reúne assim um conjunto de canções pop marcado pela forte infl uência das sonoridades lusófonas, da R&B e da Soul. “O EP foi muito pessoal, refl ectiu muito os meus últimos anos de vida. Todas as músicas falam um bocadinho da minha história, ainda que sinta que acabo sempre por ter mensagens para motivar as pessoas. Quero sempre passar uma energia boa, inspirar as pessoas a fazer, a ir atrás dos seus sonhos”, diz. Para além das mensagens positivas, sente também necessidade de incluir nas canções “problemas que não são só os meus, coisas mais sérias, como a saúde mental ou a justiça. É importante falar sobre amor, mas sou muito mais do que isso no meu dia a dia e acho importante também passar isso para as pessoas, dar-lhes uma voz e também não ter medo de passar os meus valores e o modo como vejo o mundo”.
Para Constança Quinteiro, “por vezes sentimos que não conseguimos fazer grande diferença neste mundo, mas a música acaba sempre por ter um impacto e se isso é possível eu quero aproveitar a voz que tenho para uma coisa melhor, fazer mais do que só música bonita”.
No que diz respeito ao futuro, pretende “continuar a trabalhar e lançar novos singles. Sonoramente a onda vai andar no mesmo estilo, nesta mesclagem de música pop com infl uências mais lusófonas”.
O lançamento de um álbum faz parte dos planos, “mas não para já. Deve ser uma coisa muito bem feita, pensada e coesa e que faça muito sentido. Apesar de hoje sentir que estou a ganhar uma voz mais defi nida enquanto artista, não só a nível sonoro, mas também da mensagem que quero passar, acho que faz falta trabalhar ainda mais”. Este compasso de espera será, na sua opinião, “importante para perceber se realmente me identifi co com as coisas e receber também o feedback do público, que também nos inspira e motiva”.
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