21 Ago - 16 Out
Quem é Marco Kabenda? Marco Kabenda - É uma criança que muito cedo se atirou no abismo para ver o que poderia acontecer, para depois subir lá para cima e ver o que ia por ali de belo, o que havia para além. Aprendi a ser um jovem poeta, a andar pelas ruas principalmente da cidade onde nasci e cresci que é Luanda e depois por cidades como Lisboa, Paris, Barcelona, Rio de Janeiro e outras. Acho que o meu trabalho é um resumo de várias civilizações que resultam numa civilização única, que representa o ser humano, ser artista, com uma visão universal, que aprendeu com os mestres o abc do alfabeto artístico, mas escreve
com palavras próprias. O abecedário e as letras são as mesmas da experiência que fui adquirindo através de outros artistas durante todos os anos que tenho de carreira. A gente investiga para transmitir outro tipo de conhecimentos, para transmitir as nossas próprias cores, porque há paletas de mil cores e tu, como artista, tens que descobrir com que cores pões as pessoas tristes, a sorrir ou a correr, tens que descobrir como demonstras isso com uma pincelada, como é que comunicas com as pessoas, e quem tu és, qual é a tua estória. Nas minhas obras estou a contar a minha estória, as várias fases da minha vida até aqui, e espero morrer artista e deixar a minha marca.
Quais são as técnicas e materiais que usas?
Como te classificarias enquanto artista?
MK - Uso acrílico nas minhas telas e todo o material que dá para me exprimir, nem que seja um mero papel, uma cartolina, um lápis, uso o desenho e também a fotografia, as revistas, os meios de comunicação, geralmente uso o que estiver ao meu alcance, o que, de repente significa também fazer arte criativa, trabalhar com o que tens à tua frente. Se tiveres duas cores fazes um quadro de duas cores, mas para teres a obra completa tens que disponibilizar os meios, para teres uma coisa com qualidade e valor, que tenha o seu preço. Se tivermos bom material de trabalho e também bom material a nível da alma, criativo e espiritual acho que as coisas saem como deve ser. Para mim a criatividade tem a ver com o saber gerir os recursos que temos, por exemplo, se tivermos uns dois tomates e um peixinho e tivermos que fazer um caldo, há que conseguir fazer um caldo para 40 pessoas, com o material que tivermos, só temos que ser criativos.
MK - Existem vários tipos de artistas, os autoretratistas, os artesãos, cada um se expressa com meios diferentes e, há também os que são considerados malucos, os que descobrem pigmentos e que pintam a capela Sistina, que estão sempre a inovar-se e a criar. Acho que estou entre os últimos que estão mais interessados em inovar e investigar várias técnicas e formas de se expressar e se tiver apenas um carvão e uma folha de papel também me posso expressar, na boa. O grafitti começa com o carvão, o suporte pode ser uma parede, uma tela, cartolina, madeira, há mil e uma técnicas e formas de nos expressarmos artisticamente. Desde a terra e as plantas até chegarmos às tintas de óleo, aos acrílicos e aguarelas, etc.
Como descreves o projeto Just Limpo? MK - Just Limpo é uma maneira de ser, de agir, de pensar, de pintar, é uma investigação que já se tornou ciente, já viemos a descodificar estes elementos há muitos anos, o intuito é fazer uma pintura limpa, em que tens que ser limpo contigo mesmo, sem muitos preconceitos e aprender todos os dias, ir buscar e mostrar a beleza, o que é belo. Há 3 anos que este projecto está ser preparado e é uma continuidade de trabalhos que venho fazendo sobre o tema, sobre as minhas figuras, os meus obstáculos, os meus sonhos, de tudo que aprendi e passei de bom e de mau. É uma junção uma ligadura e uma obra mais apurada, estamos em limbo, numa linha contínua e estamos a dialogar com a sociedade e com o mundo, fazendo perguntas a nós próprios e aos outros. E tenho aí pessoalizadas a minha técnica e a minha experiência, tudo que vivi todos estes anos, acho que é um produto do Marco Kabenda que o público é chamado a ver e apreciar. A crítica é sempre bem vinda, os quadros estarão na baixa de Luanda, no Sete&Meio - Jazz Bar Galeria, aproveito para agradecer à equipa
que está produzir, também ao Isidoro Barros e ao Mussunda N’zombo, por todo o apoio. O que tens feito nos últimos tempos? MK - Passei parte do meu tempo a transmitir conhecimentos aos nossos novos mestres, ajudei a consolidar alguns projectos como a Fundação Rui de Matos, ajudei a fazer uma mini galeria do Osmar, a investigar, preparar exposições futuras e a trabalhar para pôr comida na mesa. Investiguei os povos lunda tchokwe, por causa da simbologia nos traços que fazem e fui comparando com outras simbologias universais e outros povos do mundo que continuam a usar símbolos. Concluo que tudo teve a sua origem no berço da humanidade, quando misturamos coisas do nosso habitat com a natureza e com as várias constâncias, várias primaveras, vários verões, apesar de sítios e culturas diferentes, damos conta que a humanidade é só uma, que afinal somos idênticos e parecidos, apenas comunicamos com símbolos diferentes consoante a terra em que nos encontramos, e com os meios à nossa volta uma vez que precisamos de nos expressar.
Tens estudos a nível das artes plásticas? MK - Fiz uma especialidade em pintura, estudei as colinas, fiz estudos sobre a luz, sobre os elementos da cor, quando tocam num objeto, o que ou parece ou não parece, como é que pões as figuras a moverem-se e a dialogarem entre si. O mesmo acontece quando vemos, lá do aeroporto, as pessoas a descerem para a baixa, as zungueiras a passarem e todo aquele movimento, a cidade cosmopolita que é a nossa sociedade, que se torna bela de tão colorida que é. É preciso ter atenção às cores que nos circundam e sobretudo porque vivemos num país paradisíaco, onde vemos muita cor, é África, é o azul do céu, o vermelho do café, o castanho da terra, o branco do algodão, tudo isso me inspira a fazer uma boa composição de cores, baseando-me em elementos naturais e a criar uma nova linguagem que pode ser a fusão de tudo e pode partir da arte europeia, americana, africana já que aprendemos tudo uns com os outros e vamos trocando informações e técnicas para expressarmos o que sentimos. Entrevista: Thó Simões, Luanda, Agosto 2019
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Kapela on Fire 137cm x 137cm Acrílico sobre tela 2019
Sete e Meio 144cm x 144cm Acrílico sobre tela 2019
300% Dinamite (Make it reagge) 144cm x 144cm Acrílico sobre tela 2019
Luandamento 144cm x 144cm Acrílico sobre tela 2019
Na Quebrada dos Anguilas 144cm x 144cm Acrílico sobre tela 2019
Tamu a ir na Baixa 144cm x 144cm Acrílico sobre tela 2019
Do papelão a idade do Gelo 144cm x 144cm Acrílico sobre tela 2013
IMPRESSÃO: TIPOGRAFIA CORIMBA