Passo Fundo

Passo Fundo 160 anos

Sábado e domingo, 5 e 6.08.2017, Passo Fundo

Evolução através das décadas

O Grupo Diário da Manhã reconta a história dos 160 anos de Passo Fundo, que por meio da solidificação de diferentes segmentos, caracterizou-se como cidade referência do norte do Estado.

1912

1992

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Foto: Matheus Moraes/DM

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Passo Fundo 160 anos

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Destaque em potencial de consumo e desenvolvimento socioeconômico Município está entre os 10 primeiros colocados em importantes indicadores do Perfil das Cidades Gaúchas do SEBRAE/RS. Mapeamento que analisa 497 localidades mostra também a força do campo para o Estado Foto: Matheus Moraes/DM

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o mês em que Passo Fundo comemora 160 anos, a edição do Perfil das Cidades Gaúchas, lançada pelo SEBRAE/RS, revela que o município está bem classificado em indicadores de desenvolvimento socioeconômico e também em potencial de consumo. O estudo elaborado pelo SEBRAE/RS analisou 62 indicadores dos 497 municípios do Estado.

A principal novidade deste ano é a inclusão dos indicadores do setor agrícola. Para o diretor-superintendente do SEBRAE/RS, Derly Fialho, as informações são essenciais para a competitividade de um Estado que têm na área rural uma de suas principais forças. “Os números tornam-se ainda mais interessantes quando se analisa a conjuntura atual de surpersafra de grãos, que deve injetar R$ 29 bilhões à economia gaúcha, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), referente a junho”, destaca.

Neste novo segmento estão números ligados ao rendimento médio por hectare, por exemplo, que destaca nove municípios da Serra Gaúcha na lista dos dez primeiros colocados. O perfil também apresenta dados sobre área plantada, valor total da produção e os municípios com maior criação de gado bovino, bubalino, ovinos, galináceos, entre outros.

Municípios com mais de 100 mil habitantes Colocação Município Indicador 1º

Bento Gonçalves

0,846

2º

Erechim

0,825

3º

Santa Cruz do Sul

0,821

4º

Porto Alegre

0,819

5º

Caxias do Sul

0,817

6º

Passo Fundo

0,774

7º

Cachoeirinha

0,763

8º

Santa Maria

0,759

9º

Novo Hamburgo

0,756

10º Guaíba 0,750 FEE/2014

Ranking de Potencial de Consumo (2017)

Estudo analisou 62 indicadores

Terra de desenvolvimento O Perfil das Cidades Gaúchas mostra Passo Fundo entre os primeiros colocados em alguns dos mais importantes rankings. No Indicador de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE/2014), o município ocupa a sexta colocação entre as localidades com mais de 100 mil habitantes do Estado. “O Idese avalia a situação socioeconômica dos municípios gaúchos, considerando aspectos quantitativos e qualitativos do processo de desenvolvimento. Para isso, são analisados 12 indicadores, divididos em três blocos: Edu-

cação, Renda e Saúde”, explica o gerente de Gestão Estratégica do SEBRAE/RS, André Campos, responsável pelo estudo. Outro fato que chama a atenção está no ranking de Potencial de Consumo. De acordo com a previsão do IPCM Marketing, que consta da publicação digital do SEBRAE/RS, a estimativa de consumo para o município em 2017 é de R$ 5,60 bilhões. O valor coloca a cidade entre as 10 primeiras colocadas do Estado neste critério econômico. Nas páginas seguintes deste especial do aniversário do município, está elencado como se deu este desenvolvimento.

Expediente Diretora-presidente: Janesca Maria Martins Pinto Diretora vice-presidente: Ilânia Pretto Martins Pinto Diretora Comercial: Eliane Debortolli Editora: Liliana Crivello

Ranking do IDESE

Reportagens: Aline Prestes, Caetano Barreto, Édson Coltz, Kleiton Vasconcellos, Matheus Moraes.

Diagramação: Marcelo Lange Colaboração: setor de artes do Jornal Diário da Manhã, setor comercial e demais funcionários.

Posição Localidade

Potencial de consumo

1º

Porto Alegre

R$ 48,13 bilhões

2º

Caxias do Sul

R$ 16,34 bilhões

3º

Canoas

R$ 9,14 bilhões

4º

Santa Maria

R$ 7,08 bilhões

5º

Pelotas

R$ 6,92 bilhões

6º

Gravataí

R$ 6,65 bilhões

7º

Novo Hamburgo

R$ 6,31 bilhões

8º

São Leopoldo

R$ 6,05 bilhões

9º

Viamão

R$ 5,87 bilhões

10º

Passo Fundo

R$ 5,60 bilhões

11º

Rio Grande

R$ 4, 81 bilhões

12º

Alvorada

R$ 4,34 bilhões

13º

Bento Gonçalves

R$ 3, 71 bilhões

14º

Santa Cruz do Sul

R$ 3,41 bilhões

15º

Sapucaia do Sul

R$ 3,29 bilhões

16º

Cachoeirinha

R$ 3,02 bilhões

17º

Erechim

R$ 2,95 bilhões

18º

Guaíba

R$ 2,53 bilhões

19º

Lajeado

R$ 2,46 bilhões

20º

Uruguaiana

R$ 2,20 bilhões

Fonte: Perfil das Cidades Gaúchas (SEBRAE/RS), com base em projeção de consumo para 2017 calculada pelo IPCM Marketing

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Passo Fundo 160 anos

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O surgimento de uma O

dia 7 de agosto é de aniversário para Passo Fundo, que comemora 160 anos em 2017.

Fundado em 1857, o município tem uma rica história e os fatos ao longo das décadas o levam a ser um polo regional. Porém, tudo começa antes, muito antes, na terra primeiramente habitada por índios e depois frequentada pelos tropeiros.

A linha do tempo, por assim dizer, de Passo Fundo inicia muito antes da sua emancipação e fundação.

Segundo o mestre em História, Ney Eduardo Possapp d’Avila, “o território onde em 1857 formou-se o Município de Passo Fundo esteve em situação indefinida pelas disputas entre os reinos de Portugal e Espanha, apenas em 1801, com a tomada definitiva das Missões, as futuras terras passo-fundenses vieram a integrar de fato e de direito o contexto luso-brasileiro”. Há registros, contudo, da presença de jesuítas dos Sete Povos das Missões antes, em 1630.

Mais ou menos na mesma época, as terras do Planalto Rio-grandense eram habitadas por índios Tupis-Guaranis, Guaicurus e Gês (Botocudos, Bugres e Kaingangs). O principal alimento indígena, aqui, eram os pinhões e a erva-mate, além da pesca no rio (que viria a ser o Passo Fundo). Devido à abundância dos pinheiros, o território depois passo-fundense era conhecido como Redução de Santa Tereza dos Pinhais.

Fotos Reprodução

Passo Fundo chega aos 160 anos com muito a comemorar. Mas a história do município começou antes da sua fundação propriamente dita

Povoadores

Habitantes de Passo Fundo com o bairro Boqueirão ao fundo, em 1874

Os tropeiros

No século XIX, a economia do Rio Grande do Sul era calcada na bovinocultura – seja na produção de carne ou na venda de animais para o eixo São Paulo-Minas Gerais. O transporte dos bois (e também mulas, cavalos e burros) saía da Campanha até o centro do país, cruzando o território onde viria a ser fundada Passo Fundo. Os primeiros registros da passagem dos tropeiros – geralmente paulistas, mineiros e também paranaenses – data de 1827. Como as viagens eram longas, os tropeiros passaram a trazer pertences e os familiares, exemplo de Cabo Neves, que chegou a Passo Fundo em 1927, trazendo consigo família, escravos e gado. O paradouro, por assim dizer, que formou-se em volta do rio que exigia um “passo fundo” para ser atravessado, logo se tornaria uma Freguesia, no ano de 1847, sob a designação de Freguesia de Passo Fundo.

Alguns nomes são verdadeiramente reconhecidos enquanto povoadores de Passo Fundo.

Além de Cabo Neves, também são citados por historiadores a figura de Joaquim Fagundes dos Reis, que se estabeleceu aqui em 1828. Dele partiu, em 1832, uma solicitação para que fosse criada uma capela da povoação (à época, composta por oito moradores).

Também em 1828 chegou o primeiro casal de estrangeiros: Adão e Catarina Schell, oriundos da Alemanha. Como destaque, o fato de que as residências estavam construídas em paralelo à Via Paulista (atual Avenida Brasil), partindo do hoje Bairro Boqueirão ao agora Centro da cidade.

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cidade polo Emancipação

Nas primeiras décadas de 1800, povoamentos importantes foram elevados à categoria de vila (como Pelotas, São Leopoldo e Cruz Alta).

Povoadores oriundos das vilas recém criadas ocuparam novos territórios. Assim, no período entre 1846 e 1857, Passo Fundo primeiro foi Freguesia, depois Distrito e Vila. Vale ressaltar que, na data de emancipação, Passo Fundo era um Distrito de Cruz Alta e só veio a receber a titulação de Cidade em 1891. “No território emancipado em 1857, além do atual Município de Passo Fundo, estão total ou parcialmente mais 119 municípios” diz d’Avila. O ato de emancipação foi assinado em 28 de janeiro de 1857, pelo governo estadual.

Seis meses após a emancipação e criação do município, é instalada a Câmara Municipal de Vereadores (presidida por Manoel José de Araújo). Era 7 de agosto de 1857.

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Efeitos de guerra

Em pelo menos dois momentos as guerras tiveram forte influência sobre Passo Fundo. O primeiro episódio data da Revolução Farroupilha (1835-1845).

Na época, a Freguesia contabilizava 419 habitantes, uma população que foi drasticamente reduzida para 60 pessoas, devido à participação intensa nas batalhas.

O segundo episódio ocorreu na Revolução Federalista (1893-1895), pois um dos mais sangrentos combates foi registrado aqui: era a Batalha do Pulador, em 1894, colocando frente a frente Maragatos e Pica-paus. Tal batalha envolveu um número aproximado de 4,5 mil combatentes, que lutaram durante seis horas. Como resultado, um saldo de aproximadamente mil mortos e o enfraquecimento do exército Maragato.

São Miguel

Avenida Brasil no início do século XX

Evolução

A então recente Vila de Passo Fundo experimentou um grande desenvolvimento a curto prazo. Em um período de apenas três anos, a população alcançou cerca de 8,6 mil habitantes distribuídos em 1,1 mil habitações. Havia, então, uma paróquia, um juizado de Direito, uma linha de correio (Passo Fundo – Rio Pardo), 43 casas de negócios, cinco ferrarias, três olarias e um bilhar. Na única escola, estudavam 70 alunos (todos meninos). A mão de obra era composta, sobretudo, por lavradores, marceneiros, ferreiros, sapateiros, açougueiros, pedreiros, ourives e alfaiates. Era forte o comércio de itens como couro, erva-mate, cana, feijão e milho. Em 1861 foi construído o Cemitério Público da Vila, ao lado da Matriz (e hoje Catedral).

Mas uma crise econômica pairou sobre Passo Fundo a partir de 1870, devido à queda do comércio de erva-mate e também de muares. Então, passou-se a cultivar arroz e mandioca.

Outro fato que liga Passo Fundo a uma guerra data de anos antes. Combatentes na Guerra do Paraguai (1864-1870), os escravos Generoso e Isaías voltavam para Pinheiro Torto quando encontraram, junto às ruínas de São Miguel, uma imagem de São Miguel Arcanjo. Pai e filho, Generoso e Isaías ergueram uma capelinha e onde, até hoje(e após inúmeras reformas) é realizada a Festa de São Miguel.

Via Férrea

Se anos antes Passo Fundo era uma passagem para os tropeiros, a partir de 1890 novamente os caminhos cruzavam estas terras. Era a chegada da Via Férrea, que teve o início de sua construção na Cidade em 1891, vindo de Santa Maria da Boca do Monte e destinando a São Paulo. A obra teve uma paralisação durante a Revolução Federalista e foi concluída em 1898.

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Os trilhos que fizeram Passo Fundo crescer fim do século XIX e o início do século XX foram primordiais para a construção das bases que Passo Fundo necessitava para dar um salto gigante em seu desenvolvimento. Foi em 1898 que ocorreu um divisor de águas no município, na época, com a chegada da linha férrea e, consequentemente, a vinda do trem para a cidade. Com o ingresso da ferrovia, Passo Fundo tornou-se rota de outros municípios, pôde impulsar a economia e ver o crescimento de diversos segmentos.

Até a chegada da ferrovia no município, a economia girava em torno da erva mate e do tropeirismo, com o transporte de mulas. Até então, formada por pequenas áreas, em volta da Avenida Brasil – que era a Rua do Comércio até 1913 -, a cidade começou a se desenvolver em volta da beira-trilho, onde era o trajeto da linha férrea. A cada ano, a área foi expandida

serviços e comércios, começou a surgir hotéis, imigrantes”, relata. O trem fez com que se desenvolvesse o ciclo da madeira, que era extraída e encaminhada para outros locais. Consequentemente, serrarias se estabeleceram ao longo da ferrovia, onde eram transportadas.

O ramo da hotelaria ganhou destaque, também, com a chegada do trem, visto que diversas pessoas passava pela cidade, naquela que era a única forma de deslocamento para grandes cidades, como Porto Alegre. “Surgem vários hotéis em função disso. O Hotel dos Viajantes, o Hotel Internacional. A Avenida General Neto passou a ser, depois da Brasil, a mais importante, porque ligava a Brasil com a Gare no início do século XX”, revela o historiador.

O reflexo do início do período de mudanças, com a instalação da ferrovia na cidade, ocorreu com os cemitérios. O antigo cemitério católico, que se encontrava ao lado da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, precisou ser deslocado para o bairro Vera Cruz – que tornou-se bairro em 1928. Junto dele, outro cemitério, de protestantes, que ficava em frente ao quartel do exército, foi deslocado também. Os dois foram desativados e tiveram seus restos mortais levados para o grande Cemitério da Vera Cruz.

Foto: Reprodução / Pesquisa de Fernando Miranda

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Chegada da linha férrea alterou fisionomia urbana da cidade, impulsionou a economia e fez com que segmentos importantes se desenvolvessem

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Fisionomia da cidade se alterou após chegada do trem com mais ruas, criação de bairros e, sobretudo, aumento do número populacional. De acordo com o presidente do Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF), historiador Fernando Miranda, a chegada da ferrovia alterou o paisagismo da cidade. “Ela foi muito esperada na cidade. Alterou toda a fisionomia urbana da cidade.

A povoação se desenvolvia em direção ao bairro Boqueirão. Depois da chegada

dela, surge um novo centro, que é o atual da cidade”, destaca.

Miranda afirma que outros acontecimentos, como o surgimento da educação, dos hospitais – anos mais tarde -, fizeram com que o município crescesse. No entanto, o carro-chefe para o desenvolvimento do município, em nível nacional, se deu em razão da linha férrea. “Se vivia em função da ferrovia. Atraía todo o setor de

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Os primeiros reflexos A

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Educação e indústria iniciaram seus passos em Passo Fundo nos primeiros anos do século XX

do Intendente Gervásio Lucas Annes, foi inaugurada em julho de 1911. Aquele local foi palco de inúmeras decisões político-administrativas. Junto da Prefeitura, começaram a surgir os locais públicos, como as Praças Tamandaré e Marechal Floriano. A primeira, situada no coração da cidade, nas proximidades da Catedral Nossa Senhora Aparecida, foi uma iniciativa do escritor passo-fundense Francisco A. Xavier e Oliveira, que destinou a área de terra. Em 1910, a área foi cercada e na década de 20 foi enjardinada, nela sendo colocados bancos de cimentos. Anos mais tarde, em 1926, os passeios públicos foram

calçados, bem como as ruas que a circundam a praça. Já a Praça Marechal Floriano, localizada entre as ruas Paissandu e Uruguai, Marcelino Ramos e Teixeira Soares, está localizada nas imediações onde Cabo Neves e sua família, primeiro morador da cidade, ergue sua residência.

Sua denominação deve-se ao Intendente Pedro L. de Oliveira, em 1913.

Nos primeiros anos da década de 1910, as profissões liberais já eram destaques na região como advogados, médicos, cirurgião dentista, engenheiro, agrimensor. Na cidade também haviam os empreiteiros de obras e mestres em

Foto: Livro Presentes da Memória - MHR

chegada da ferrovia em Passo Fundo trouxe reflexos. A partir dos primeiros anos do século XX, foi notável o crescimento dos segmentos educacionais, culturais e industriais. A evolução da cidade, portanto, se deu, primordialmente, pela linha férrea, que contribui com a chegada de brasileiros e imigrantes, que transformaram a cidade.

A educação, que teve em 1898 a construção do Colégio Elementar, que veio a se tornar Grupo Escolar Protásio Alves, em 1939, com a professora Ana Luiza Ferrão Teixeira, ganhou novas instituições com a chegada dos Irmãos Maristas, em 1906. O Colégio Elementar, o primeiro da região Norte, era uma espécie de escola padrão, com mais recursos pedagógicos. Não tinha aulas isoladas, como existia no subúrbio e nos distritos. Era um educandário que comportava vários professores, com capacidade física para efetuar muitas matrículas, de ambos os sexos. Atualmente, a Escola Estadual Protásio Alves detém o prédio público mais antigo destinado à educação passo-fundense. Os Irmãos Maristas, no entanto, instalaram a Escola São Pedro, mas se retiraram da cidade em 1910. Eles retornariam após quase duas décadas: em 1o de março de 1929, quando iniciou a trajetória da Escola Nossa Senhora da Conceição, que existe até hoje.

Em 1910 foi construída a antiga Prefeitura de Passo Fundo, situada na Avenida Brasil, no Centro. Com planta e detalhes decorativos planejados em Porto Alegre, a construção, por meio

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construções. Outro ramo que começou a ganhar destaque foi a indústria de bebidas e refrigerantes, tendo como carro-chefe a produção de cervejas de primeira e segunda classe. Em 1912, a cervejaria Serrana Ltda de propriedade de Bade & Barbieux foi instalada em Passo Fundo. Era uma pequena empresa familiar que explorava o comércio de bebidas. Vendia cerveja Serrana e Gaúcha. Além da fabricação da cerveja, a cervejaria fabricava 30 barras de gelo por dia que eram levadas para Cruz Alta e Carazinho pela linha férrea. Precisava de muita serragem para conservar o gelo. A empresa empregava 40 funcionários, pois quase tudo era feito de forma manual. O primeiro banco da Província também surge em 1912, na Rua X de abril.

Em 1913, o Conselho Municipal de Passo Fundo aprovou a receita geral do município, calculada em 188:198$000 (cento e oitenta e oito contos cento e noventa e oito mil réis) – Lei no 58 de 12 de dezembro de 1913. Nessa época, o município expedia as seguintes mercadorias, fruto da sua produção interna: arroz, feijão, milho, trigo, cevada, centeio, batatas, amendoim, farinha de mandioca e de trigo e fumo. A indústria básica era proveniente da agropecuária e seus derivados. A indústria da madeira era destaque, vindo logo a seguir a erva mate.

Segundo o presidente do Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF), historiador Fernando Miranda, houve todo um movimento de infraestrutura no município após a chegada da ferrovia.

“Era um movimento de acolhida para o pessoal que vinha de trem. Antigamente, para ir a Porto Alegre, só era possível com cavalo ou carreta, pela falta de estradas. Com o trem, isso passou a ser possível em questão de dois dias. Então houve uma mudança brusca, no sentido da percepção do tempo e dos segmentos da cidade”, declara.

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Surgimento de hospitais marca o início de uma cidade que se tornaria referência em saúde. Nesse período, surge outra paixão passo-fundense: o futebol

Foto: Livro Presentes da Memória - MHR

Acontecimentos que caracterizam a cidade

Rua General Neto se tornou a segunda via mais importante da cidade

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o fim da década de 10 até perto da década de 1930, Passo Fundo está no meio de grandes acontecimentos. Além disso, vê o município crescer a passos largos para tornar-se uma das grandes cidades do interior do Rio Grande do Sul. Um dos segmentos que despontam é o da saúde, com a construção do Hospital de Caridade de Passo Fundo, atual Hospital da Cidade (HC), em 1914, e do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), em 1918.

O Hospital de Caridade de Passo Fundo surgiu para oferecer os mais adiantados processos terapêuticos e cirúrgicos a seus associados e ao povo em geral. A denominação Hospital da Cidade foi adotada décadas mais tarde, em 1960. Anos mais tarde, em 1918, por questão da epidemia da gripe espanhola, a diretoria da instituição buscou a construção de um pavilhão provisório anexo ao Hospital em construção. Nele, foram

acolhidos e tratados 70 pessoas com poucas condições financeiras.

No mesmo ano, o HSVP surgiu, criado por um grupo de Vicentinos, num prédio de 240 metros quadrados. Ele foi criado para atender a mesma epidemia que assolava o Brasil. Passo Fundo se desenvolveu e o São Vicente acompanhou o seu crescimento, porque, quatro anos mais tarde, dava início a construção do primeiro pavilhão com 400 metros quadrados. Para o presidente do Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF), historiador Fernando Miranda, o período foi de grande importância para configurar o município como polo regional. “Existiu toda uma estruturação da área da cidade com a iniciação dos hospitais, que vão se configurar como polos regionais muito importantes. A área da agricultura, do cultivo do trigo, construções novas que dão nova cara para a cidade. A educação também ganha força estrutural”, destaca.

O ramo da educação, por outro lado, também ganha novo concorrente. É a vez do Colégio Notre Dame de Passo Fundo surgir, em 7 de junho de 1923, com matrícula de 17 alunas, sob a direção da Irmã Maria Firmine e as professoras religiosas Maria Arnolfa, Maria Luiza e Irmã Maria Colomana. O rápido crescimento da matrícula fez com que acontecesse a abertura de um internato, onde foi procurado um local mais amplo para funcionar uma escola, na rua Bento Gonçalves, na quadra compreendida entre a Praça Marechal Floriano e a rua General osório. Em 1932, a escola foi elevada à categoria de estabelecimento do ensino secundário, recebendo a inspeção permanente do fiscal do Governo Estadual.

Uma das paixões do povo passo-fundense, o esporte também ganhou clubes de futebol neste período. O primeiro clube fundado foi o Sport Clube Gaúcho, que surgiu em 12 de maio de 1918. As cores do clube, verde e branca, também conhecido como alviverde, faz referência às cores dos Chimangos, da Revolução Federalista de 1893. O clube, no entanto, encerrou suas atividades em 1929 devido à crise mundial. Ele retornaria em 1937, com grande mobilização de autoridades municipais de Passo Fundo, que possibilitou o retorno da instituição.

Em 1921, em contrapartida, foi fundado o que viria a ser rival do Gaúcho, o Grêmio Esportivo e Recreativo 14 de Julho, também conhecido como “colorado”. Fundado em 27 de junho de 1921, o clube mandava seus jogos no Estádio da Baixada Rubra, onde atualmente existe a Estação Rodoviária de Passo Fundo.

Os “quatorzeanos”, torcedores do 14 de Julho, passaram a acompanhar o time no Estádio Vermelhão da Serra, a partir de 1969, após construção de um novo local para a prática do esporte.

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Bases consolidadas e evolução em vista Indústrias começam a se solidificar em Passo Fundo e enriquecem esperança de novos empreendimentos

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saúde, o comércio e a indústria começaram a despontar em Passo Fundo ao mesmo tempo em que o trem já era característico na cidade. Mesmo que o município começasse a evoluir em seus segmentos, ainda era grande a dependência da ferrovia. A economia, que girou em cima da madeira após a chegada da linha férrea passou para a plantação de trigo, que se tornou uma das mais importantes da região. Foi por meio dos trilhos que o líder civil da Revolução de 1930, Getúlio Vargas, passou por Passo Fundo e permaneceu na cidade durante algumas horas, antes de assumir o posto de presidente da república.

Por ter importância na ligação

de trem, de forma rápida e segura para as tropas, para a parte norte do país, o município estava na rota do homem que seria o presidente do Brasil. O trem era a forma ideal de transportar o armamento e os soldados.

Segundo conta o historiador Fernando Miranda, o político foi recebido por estudantes da Escola Protásio Alves, na época denominada Escola Normal. “Ele foi homenageado por algumas horas. Isso aconteceu uma semana antes dele chegar no Rio de Janeiro e assumir como presidente.

Foi uma época importante e um fato marcante”, relembra.

No ramo da agricultura, o município começou a contribuir com indústrias de equipamento, que dava suporte e apoio na mecanização da lavoura, na

colheita do trigo. Além disso, começava o movimento de algumas pessoas trocarem a área rural pela área urbana – o que ganhou força a partir da década de 40. Além disso, a indústria começa a ganhar os primeiros frigoríficos. “É uma época muito rica, que deu uma estrutura para que a cidade viesse a ser polo depois dos anos 50. Nesse período são lançadas bases econômicas, educacionais, industriais, de serviços e culturais também”, completa o historiador.

A cultura ganha, no fim da década de 30, a presença de pessoas engajadas na educação. O Grêmio Passo-Fundense de Letras, que mais tarde se transformou em Academia Passo-Fundense de Letras, sur-

ge em 1938 e está presente no município até a atualidade. O primeiro patrono da Associação foi o jornalista e escritor paulista Paulo Setúbal, da Associação Brasileira de Letras. Em 1935, inicia a construção da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, que viria a se tornar a maior igwreja católica da cidade.

Com as bases efetuadas e a evolução tornando-se constante no município, as próximas décadas reservam o surgimento de cursos superiores, universidades, indústrias e a expectativa pelo centenário de fundação do município, em 1957. É uma Passo Fundo que toma corpo e ainda tem muito mais a crescer, sobretudo com o recente fim da II Guerra Mundial.

Fernando Miranda

“É uma época muito rica, que deu uma estrutura para que a cidade viesse a ser polo depois dos anos 50. Nesse período são lançadas bases econômicas, educacionais, industriais, de serviços e culturais também”.

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Anos de incerteza no cenário mundial acabam e resultam em décadas de crescimento comercial e cultural

Foto Reprodução

O fim da guerra e a expansão econômica

Rua Morom se beneficiava do desenvolvimento em 1940 No final da década de 1940, o mundo estava renascendo. O recente fim da II Guerra Mundial, o conflito mais letal de toda a história da humanidade, trazia otimismo a muitos países, o que resultou em uma grande expansão econômica e social nas Américas e em parte da Europa. Essa onda de crescimento atingiu Passo Fundo, e fez nascer aqui várias novas empresas e instituições. Muitas delas se manteriam firmemente através dos anos, transformando o município em um polo educacional e comercial do norte do Rio Grande do Sul. Em 1946, João Battisti, italiano que consertava botas, consegue finalmente adquirir sua casa própria, bem no centro da cidade.

Nela ele abre também uma loja de roupas, que se transferiu para a Rua Morom anos mais tarde, e lá está até hoje. Algum tempo

depois, Quinto Giongo, farmacêutico, abre na Avenida Brasil a sua terceira filial da Farmácia Indiana.

A pioneira Cervejaria Serrana é adquirida pela Cervejaria Brahma, do Rio de Janeiro, em 1947. A empresa carioca investiu na cidade pelas próximas décadas, gerando um grande desenvolvimento. Também é lembrada pelas grandes festas anuais que organizou na cidade, em homenagem aos barbeiros, garçons, viajantes, radialistas, e outros profissionais que contribuíam para a comunidade regional. O Grupo Grazziotin, que surgiu como um armazém em 1951, rapidamente evoluiu para uma grande rede de empresas, quando em 1976 inaugura também uma loja de materiais de construção.

Toda essa florescente indústria e comércio também fizeram crescer a demografia, a cultura, os desejos e as necessidades. Em

homenagem ao fazendeiro e tradicionalista Estanislau de Barros Miranda, criou-se o Centro de Tradições Gaúchas Lalau Miranda, em março de 1952. Em 1954, o CTG fazia uma apresentação no Rio de Janeiro, levando o gauchismo para outros estados. O primeiro frigorífico da cidade, Z.D. Costi, instalado em 1948, gerou empregos e também colaborou com a religiosidade e a cultura da região, quando doou o terreno para a construção da Igreja de São Cristóvão. Essas ações levaram à criação de instituições de ensino como a escola Cecy Leite Costa em 1965, e a expansão de outras como o Colégio Conceição, que passou a lecionar o curso colegial em 1952, servindo também de sede para a faculdade que logo evoluiria para se tornar a Universidade de Passo Fundo.

A UPF, criada em 1964 com a fusão de duas instituições de ensino superior, oferecia os cursos de Ciências Jurídicas e Sociais, Filosofia, Pedagogia, Letras e Ciências Políticas e Econômicas. E para assegurar a lei em uma região que não parava de crescer, em 1951 a cidade passa a sediar a Delegacia Regional de Polícia Civil, que tem jurisdição em vários municípios da região.

Com a economia em crescimento, outros distritos se beneficiam do desenvolvimento. Em 1955, dois territórios passo fundenses, Marau e Tapejara se emancipam, e na década de 1960, tornam-se independentes Sertão, Ciríaco e David Canabarro. Mesmo menor em território, a cidade se via maior em poder econômico, fato que impulsionaria outras áreas de atuação, como o agronegócio, que se beneficiaria com a implantação de novos métodos de sucesso mundial.

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Passo Fundo 160 anos

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Décadas de 1960 e 1970 trouxeram grandes desenvolvimentos ao campo, à cultura, e um inverno histórico

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desenvolvimento acelerado que a cidade de Passo Fundo experimentava na sua zona urbana, passou nos próximos anos a se expandir até a zona rural. As décadas de 1960 e 1970 trazem ao município a agroindústria, que transformaria radicalmente o negócio agrário, implementando grandes avanços tecnológicos, e além de gerar novas oportunidades de transporte e serviços.

O comércio Sociedade de Cereais Bertol, criado em 1964 para vender cereais no atacado, investe em maquinário e cria um complexo industrial para manufatura da soja, técnica que seria adotada também pelos produtores de trigo.

Esse novo segmento trouxe a implementação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a EMBRAPA, em 1974, que criou o Centro Nacio-

Foto Reprodução

Nasce a agroindústria, e cai a neve

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Sede do Mercado DiDomênico na Av Presidente Vargas, em 1963

nal de Pesquisa do Trigo, CNPT, que busca novas tecnologias para o cultivo, visando a expansão do plantio de cereais em todo o país.

O crescimento agrário também cria novos caminhos, incluindo uma nova estrada de ferro.

Inaugurada em dezembro de 1978, uma verba federal do então Presidente da República, General Ernesto Geisel, realizava um sonho de 67 anos e trazia para Passo Fundo a “Ferrovia do Trigo”.

Na cerimônia de inauguração, o então deputado federal Augusto Trein lembrou em seu discurso dos vários anos em que os produtores e cooperativas demandavam a nova linha, de quando a obra iniciou em 1949, e que logo depois ficou novamente embargada, até que finalmente surgiu a conclusão da pista, que entregava à comunidade uma rota de 158 quilômetros, ligando Roca Sales a Passo Fundo, e a região ao resto do país, colo-

cando o norte do Rio Grande do Sul no mapa da cadeia produtiva agrária nacional.

Um fato marcante ocorreu no mês de agosto de 1965, que começou com fortes chuvas e inverno rigoroso. As temperaturas despencaram tanto, que no dia 19 do mês, chegaram à marca de 5º C negativos. Nas primeiras horas da manhã, uma inesperada neve cobriu campos e ruas de Passo Fundo, chegando a locais em que a altura chegava a 30 centímetros. O fenômeno causou inúmeros prejuízos em plantações, instalações industriais, e instituições de ensino. Mesmo orientado pelo governo municipal para que ficassem em suas casas, as pessoas saíram às ruas para se divertir com a neve, que deixou registrada na memória de muita gente uma Passo Fundo com ares europeus.

Assim como o campo, a cidade continua evo-

luindo, principalmente na parte cultural. Em 1971, o Clube Pinheiro Machado, presidido na época por Frederico Graeff Filho, oficializa a doação do imóvel do clube, situado na Avenida Brasil, para a instauração da Academia Passofundense de Letras. O prédio estava em péssimo estado de conservação, com instalações precárias, mas em 1977 o Poder Público Municipal, representado pelo então Vice-Prefeito Firmino Duro, prometeu aos membros da academia de que canalizaria esforços para que o prédio fosse restaurado.

Com bases solidificadas na indústria, agricultura, comércio e educação, Passo Fundo encerra os anos 1970 pronto para enfrentar o cenário nacional da década que viria, cheia de imprevistos, atitudes e decisões que revolucionariam a história do Brasil.

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Saúde é característica Diferentes circunstâncias contribuíram para que Passo Fundo se tornasse nas últimas décadas referência à centenas de municípios Duas importantes áreas de Passo Fundo se relacionam quando o aspecto analisado é o desenvolvimento de uma ou de outra. Ao mesmo tempo em que a demanda por profissionais de saúde estimula o surgimento de novos cursos, a qualificação disponibilizada pelas instituições de ensino contribuiu e contribui para alavancar o setor na cidade, considerada um dos polos mais importantes da região Sul (contabilizando cerca de mil leitos hospitalares, con-

forme o IBGE). Essa relação é citada por unanimidade por integrantes da gestão de hospitais ouvidos pelo Diário da Manhã, que também associam o desenvolvimento da área a receptividade e capacidade de atração de profissionais como médicos.

Desde a fundação dos primeiros hospitais na segunda década do século XX, no caso do Hospital de São Vicente de Paulo o da Hospital da Cidade, o grupo de profissionais passou de algumas dezenas

para milhares, que atendem outros tantos pacientes das mais variadas localidades. O salto importante no desenvolvimento da área data dos anos de 1970 adiante, quando avanços tecnológicos foram incorporados com mais ênfase e a formação educacional de médicos chegou à cidade (autorizada em 1969, na Universidade de Passo Fundo). “Começou a mudar tudo”, resume o diretor médico do Hospital São Vicente de Paulo, Rudah Jorge.

O diretor técnico do Hospital da Cidade, Juarez Dal Vesco, também coloca essa década como importante para a futura consolidação de Passo Fundo como polo em saúde, relacionando, também, à

Rudah Jorge

“É a cidade do Rio Grande do Sul que menos manda pacientes para Porto Alegre. Temos especialidades em tudo”.

disseminação das especializações médicas. “Até então, eles eram generalistas, não havia todas as especialidades como hoje. Isso começa a ocorrer na década que coincide com a criação da Faculdade de Medicina em Passo Fundo. Nessa década é quando começa a entrar a tecnologia na medicina, pois até então não havia muita sofisticação, tinha endoscopia mais rudimentar, radiologia e alguns exames de laboratório”, detalha. “A UPF era a única faculdade de Medicina até então, o que foi qualificando [o setor]”, concorda o administrador do Hospital de Olhos Dyógenes A. Martins Pinto, Ivan Paulo Xavier de Freitas.

Características que se destacam Nesse mesmo período, Dal Vesco recorda que várias cidades, entre elas Erechim, Santa Maria, Cruz Alta, apresentavam uma padrão de desenvolvimento equivalente na questão médico/hospitalar, mas as características próprias de Passo Fundo a tornaram referência. Ao comparar com Santa Maria, por exemplo, que também já tinha um curso de Medicina, ele cita distinções entre o público e o privado. “Santa Maria vai desenvolver uma medicina vinculada ao ensino público e a um hospital público, que não tem dinâmica e

a vivacidade que os nossos hospitais”. “[o setor privado] tem agilidade de buscar e dispensar o profissional muito rápido, no serviço público tem que depender de um concurso para absorver um grande profissional”, avalia, registrando que, por aqui, o próprio mercado regula a área. “Nesse sentido, Passo Fundo foi pródigo”.

Outro ponto considerado relevante pelo diretor é a opção local pela abertura do corpo clínico nos hospitais, o que foi atrativo para aos profissionais. “Todas as demais cidades da região, nessas décadas de 1970, 80 e 90, tiveram corpos clínicos fechados, ou seja, para um médico trabalhar

numa cidade tinha que ter um aval, autorização dos demais, toda uma articulação. Passo fundo fez uma opção por mercado aberto, quem regula é o mercado”.

Visão semelhante tem Rudah Jorge a quem “a cidade tem uma abertura aos profissionais de fora.

Se é bom, terá sucesso”, diz ele, considerando que essa é “a cidade do Rio Grande do Sul que menos manda pacientes para Porto Alegre. Temos especialidades em tudo”, disse, associando a realidade bem sucedida, também, ao empreendedorismo de dezenas de pessoas que se dedicaram à área.

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enraizada da cidade Foto Divulgação/ Ascom HSVP

Tecnologia se destaca nos serviços de saúde em Passo Fundo. Conforme últimos dados disponíveis do IBGE, em 2009 já eram cerca de mil leitos na cidade

Sistema público

A função social desempenhada pelas instituições hospitalares é outra circunstância preponderante apontada, já que várias delas têm caráter comunitário e filantrópico. “Por força de lei, tem que atender de cada três pacientes dois provenientes do sistema Único de Saúde”, frisa Juarez Dal Vesco, complementando que, além disso, as receitas são reinvestidas nas melhorias estruturais.

Ivan de Freitas coloca que a unidade que administra está atrelada à 6 ª Coordenadoria de Saúde, que compreende 62 municípios, “e temos que atender 60% da demanda pelo SUS, o que estamos fazendo. O Hospital de Olhos foi em busca de convênios também para ser auto-sustentável, pois o Sistema Único está há mais de dez anos com as tabelas com os mesmos valores”, pondera. Para ele, a concretização do município como polo em saúde converge para a previsão de que essa característica continue, estimulando novos investimentos. “Nossa visão é para ampliar o atendimento. O hospital está se preparando para os próximos anos, para ampliar o numero de consultórios”. “Passo Fundo é centro de excelência e o hospital procurou buscar profissionais qualificados em todas as sub-especialidades na área de oftalmologia”, finaliza.

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Pioneira em transplantastes no interior do Estado Cidade já realizou mais de 255 transplantes de fígado e é a menor cidade do país a efetuar o procedimento Foto: Matheus Moraes/DM

No ano dia 24 de março de 2000, o Hosdo HSVP, cirurgião Dr. Paulo Reichert pital São Vicente de Paulo conquistou o creem entrevista na comemoração de 15 denciamento da Central Nacional de Transanos do primeiro procedimento, foi plantes do Ministério da Saúde, permitindo necessária muita dedicação e volunque fossem transplantados fígados. Assim, tarismo, visto que o transplante é um tornando-se o único hospital do interior do trabalho árduo. Ele relata que muitas estado com a aprovação para realizar esse vezes são acordados de madrugada, tipo de procedimento. pois os transplantes não têm dia e Daquele ano até hoje o HSVP atendeu 255 nem horário marcados para acontecer. pacientes transplantados de fígado. Passo “É muito gratificante ajudar os transFundo é a menor cidade do país a efetuar o plantados, ver suas histórias e que procedimento. Foram 10 anos de preparaboa parte deles voltou a trabalhar e ção para abrir o serviço, esperar pela libepossuem qualidade de vida”, enaltece ração da credencial, treinar a equipe, listar o cirurgião. pacientes, organizar a estrutura hospitalar Entre alegrias e tristezas, Reichert clínica, cirúrgica, de enfermagem e apoio. relata que é uma felicidade enorme O serviço trabalha de forma ininterrupta, quando há vitórias e uma grande trissendo um dos poucos do país a atuar desde teza quando se perde algum paciente. a criação. Quanto ao perfil dos pacientes, “O paciente transplantado é diferente. a maioria dos transplantados são do norNós o acompanhamos, cuidamos, trate gaúcho e oeste catarinense. Entre eles, tamos e o transplante é um gol aos 44 Primeiro transplante foi notícia em diversos meios comunicação da época algumas crianças também já foram transdo segundo tempo, na final do camplantadas. A maioria dos procedimentos ocorrem nesta região. O vírus C continua sendo um grave problema peonato. Pode dar certo ou não. São extremos. Por isso, em função das complicações da cirrose, especialque levou a muitos transplantes. o transplantador tem que realizar o transplante, reunir mente decorrentes do vírus B, bastante incidente De acordo com o chefe da Equipe de Transplante Hepático forças na perda, para continuar com o trabalho”.

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O primeiro transplante No dia 12 de junho, Passo Fundo realizou seu primeiro transplante de fígado, em Marina Gil Veiga, na época com 50 anos, a qual esperava na fila de doação de órgãos há pelo menos dois anos. Ela necessitava do transplante devido uma cirrose hepática que desenvolveu após adquirir hepatite C através de uma transfusão de sangue que precisou fazer em 1991.

O órgão veio de Irani Cebenello de 42 anos que morreu em decorrência de um derrame cerebral. Além do seu fígado, também foram doadas as válvulas do coração que foram enviadas para Porto Alegre e os rins permaneceram em Passo Fundo.

Um deles inclusive beneficiou a irmã de Irani, Lúcia Cebennelo Strapazzon.

O médico responsável pela cirurgia Paulo Reichert, iniciou a retirada do fígado do doador por volta das 20h, iniciando o transplante por volta das 23h30 e sendo finalizando por volta das 8h da manhã seguinte. Para o procedimento foram necessários quatro cirurgiões gerais, um

cardíaco, um vascular, três anestesistas, dois chefes de enfermagem, nove auxiliares de enfermagem e toda equipe da CTI do hospital que esperava a paciente.

Em razão do avançado quadro de cirrose, e por ter realizado outros procedimentos anteriores, Marina necessitou de 37 plaquetas, 30 unidades de sangue e plasma concentrado. Apesar disso, ela manteve-se estável e foi encaminhada para o a unidade de CTI preparada em especial para sua chegada e onde passaria pelo menos as próximas 72 horas.

A filha de Marina, Fabiana Gil Veiga, na época com 16 anos conta que não tinha ideia da dimensão do transplante e o quanto isso era um diferencial gigantesco para a saúde do município. “Contaram a história da minha mãe em diversos jornais, rádio e televisão, saiu em rede nacional. Inicialmente foi um choque, quando vimos o hospital estava repleto de repórteres querendo saber da minha mãe” fala ela.

Apesar de ser a única chance da paciente, Fabiana revela que era contra a cirurgia, tinha medo e não entendia exatamente o que era um

transplante. “Mas a equipe médica me explicou o quanto era importante para ela isso. Minha mãe tinha ficado mais de dois anos na fila de espera para receber o fígado, mesmo se cuidando, fazendo os tratamentos medicamentosos ela passava muito mal” aponta.

Marina tinha esperança em receber a doação, quando o hospital informou que havia um órgão que poderia ser compatível, ela ficou extremamente feliz conforme relata sua filha. “Lembro como se fosse hoje o brilho no olhar, o sorriso, todos ficaram muito felizes por ela. Meu pai viajava a trabalho e estava em União da Vitória, então assinei a autorização do transplante. Em três horas meu pai chegou, conversamos com ela e foi encaminhada ao bloco cirúrgico”.

Após dois dias, Marina acordou, conversou com a família e reagia bem ao novo fígado, inclusive deu entrevista para repórteres que procuravam conhecer sua história. Infelizmente, apesar da sua aparente melhora ela veio a óbito no dia 20 de junho em razão de uma trombose.

Encontro de transplantados Anualmente, o HSVP organiza o Encontro dos Pacientes Transplantados. O evento ocorre com o propósito de reunir os pacientes, que transplantaram na instituição, com os familiares e equipe médica para momentos de lazer, integração e informação.

O primeiro encontro ocorreu em 2000, quando se reuniam apenas os transplantados de fígado. A partir de 2008 o encontro passou também a ter a participação dos transplantados de córnea e rim.

Característico dos encontros, o Jogo da Vitória é um campeonato de futebol disputado pelos transplantados e equipe médica. Times femininos e masculinos participam da brincadeira. Uma forma de humanização, na qual se evidencia a importância da doação de órgãos para a continuidade da vida e para a construção de uma corrente em defesa da vida.

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Educação e desenvolvimento estão lado a lado A cidade que se destaca pela prestação de serviços tem, nesse grupo, a educação como importante case de sucesso. Ao menos duas vezes por ano, no começo de cada semestre, quitinetes, apartamentos e pensões se enchem de móveis e de novos estudantes que chegam na expectativa de obterem por aqui experiências, de vida e profissionais, que somente uma cidade com mais de uma dezena de instituições de educação superior proporciona.

Foi a partir do final de década de 1990 que uma nova legislação nacional contribuiu para a expansão do setor, que se fortaleceu nos anos 2000. Esse ponto é considerado importante pelo diretor geral da Faculdade Imed, Eduardo Capellari, para se entender a expansão do ensino superior no Brasil. “Até 1996, não era permitido instituições de ensino superior com fins lucrativos, quando o Fernando Henrique Cardoso era presidente e o

Foto Gelsoli Casagrande/UPF

O crescimento da cidade está associado ao sistema de ensino que, por sua vez, demanda da estrutura urbana para sua consolidação

Passo Fundo se consolidou como polo regional no setor educacional

Paulo Renato Souza era ministro da Educação e mudaram a estrutura jurídica. Sem essa mudança na legislação, não existiria nenhuma instituição como as que conhecemos hoje”, registra.

Em uma linha de pensamento semelhante, a vice-Reitora de Graduação da Universidade de Passo Fundo, professora Dra. Rosani Sgari, observa que a expansão da educação superior foi se evidenciando desde a segunda metade da década de 1990, que, somada às políticas públicas que ampliavam as possibilidades de acesso da população às universidades, foram desafiando as instituições a repensar a questão da qualidade educativa para além dos aspectos concernentes à infraestrutura, às condições de trabalho ou à titulação do corpo docente. “O crescimento da UPF acompanha a educação superior brasileira como um todo, que veio passando por um notável processo de expansão, marcado pela

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ampliação significativa de vagas, cursos e instituições. Essa expansão situa-se em um contexto maior, assinalado pela adoção de políticas de educação superior que impactaram na reconfiguração desse nível de ensino. Assim, nesse processo, ganha expressão o Plano Nacional de Educação (PNE) de 2001, que estabeleceu, entre seus objetivos e metas para a educação superior, ‘prover, até o final da década, a oferta de educação superior para, pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos’”, cita.

Capellari também associa o desenvolvimento da área educacional superior, especialmente em Passo Fundo, à visão de longo prazo de empreendedores, além de ações implementadas por administradores municipais voltadas ao desenvolvimento econômico da cidade. “Pensamos em questões de indústria, por exemplo, o que ocorreu na cidade fez com o PIB aumentasse e a prefeitura tivesse maior capacidade de investimento, melhorando, inclusive, as condições da cidade, e permitindo com que as instituições de ensino crescessem aqui, por consolidar ainda mais Passo Fundo como um polo da região Norte”, considera ele, ao relacionar com outras questões, como o aquecimento da economia brasileira e à políticas de financiamento da educação. Ainda, a infraestrutura urbana é vista por ele como atrativa a profissionais capacitados de outras localidades. “A Imed, de seus 253 professores, tem no mínimo uns 50 ou 60 que vieram de fora, inclusive, de outros estados. O fato de ser uma cidade organizada, ajuda na atração de bons profissionais”.

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Centro de ensino As próprias características econômicas e estruturais que tornam Passo Fundo um centro urbano de relevância regional contribuíram para a consolidação também de um polo educacional. “As cidades menores não têm população suficiente para sustentar um projeto no longo prazo, ao mesmo tempo não são cidades com uma economia com alta mobilidade, ninguém investe na construção civil, por exemplo. A Imed pesquisou que em um raio de cem quilômetros, em dez anos, baixou de 12 mil formandos no ensino médio por ano, para pouco mais de 9 mil. Se [a instituição] estiver localizada em um município de menor porte, terá grande dificuldade de sobreviver no futuro”, constata Eduardo Capellari. Por outro lado, o diretor atenta ao impacto positivo que as unidades educacionais causam localmente. “Faz com que a economia seja diversificada. O fato da cidade ter uma área de serviços organizada, hospitais, instituições de ensino, faz com que as pessoas, mais tranquilamente, possam sair de uma capital e desenvolver uma vida por aqui. A capacidade de atração é fundamental e a economia diversificada também e, obviamente, que os empregos gerados na área do ensino superior são qualificados”.

Rosani Sgari associa que história

de Passo Fundo, nesses 160 anos, se relaciona diretamente com a da universidade, fundada na década de 1960. “Um breve olhar para a história dos países desenvolvidos é suficiente para perceber o quanto o investimento na educação faz a diferença. Além da infraestrutura adequada, é indispensável o apoio financeiro na capacitação dos professores, na gestão educacional e na organização pedagógica das instituições de ensino. A prioridade pela formação humana, intelectual, científica e pedagógica do ‘capital’ humano é que faz a diferença no dia a dia e nos momentos decisivos do planejamento, da execução e da avaliação das ações educativas”, entende.

Sobre o futuro, Sgari pondera que, diante do cenário nacional de incertezas econômicas e políticas, o grande desafio é consolidar as conquistas obtidas, estreitando ainda mais os laços com a comunidade regional. “A demanda existente por ensino superior precisa ser suprida pelo investimento público e por novas parcerias entre público e privado”. Capellari também faz ressalva quanto às incertezas do cenário nacional e projeta a consolidação do setor a partir de fusões e aquisições “e uma mudança na forma como o ensino é organizado, em questões tecnológicas e metodológicas”.

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Universidade que impulsiona o desenvolvimento José Carlos Carles de Souza Reitor da Universidade de Passo Fundo

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m meados do século passado, o município de Passo Fundo festejou a criação do primeiro curso superior da região. Esse grande acontecimento ocorreu no ano de 1956, com a autorização do início das atividades do curso de Ciências Jurídicas e Sociais junto à recém-criada Faculdade de Direito, mantida pela Sociedade Pró-Universidade de Passo Fundo e que hoje conta com 61 anos de excelência no ensino.

A iniciativa daquela época empolgou destacadas lideranças e ilustres figuras da sociedade passo-fundense, que, com elevado espírito público, trabalharam no sentido de viabilizar o oferecimento de outros cursos superiores. Assim, com o mesmo propósito e determinação do pioneiro, vários outros cursos superiores foram se instalando, fato que levou os integrantes da Sociedade Pró-Universidade e

Fotos: Divulgação/UPF

UPF, além de oferecer cursos de formação em nível superior, habilita milhares de pessoas ao exercício de distintas profissões, proporciona efetivo desenvolvimento local e regional

UPF conta com uma área de mais de 400 hectares do Consórcio Universitário Católico de Passo Fundo a unir suas forças e que, no dia 6 de junho de 1968, culminou com a constituição da Universidade de Passo Fundo.

Desde então, a UPF cumpre relevante função social que, além de oferecer cursos de formação em nível superior, habilitando milhares de pessoas ao exercício de distintas profissões, propor-

ciona efetivo desenvolvimento local e regional. O ideal de implantação de uma universidade para atender à demanda de formação profissional na década de 1960 foi acompanhado pelo com-

promisso do desenvolvimento de uma área que compreende, hoje, mais de 100 municípios.

As 12 unidades acadêmicas em Passo Fundo e os campi instalados em Carazinho, Casca, Lagoa Vermelha, Palmeira das Missões, Sarandi e Soledade fazem da UPF uma Universidade regional, pois possibilita o acesso ao ensino superior em importantes microrregiões gaúchas.

Os efeitos das atividades desempenhadas pela Universidade de Passo Fundo são notórios e transcendem o impacto positivo que o expressivo número de mais de 73 mil egressos revela, principalmente quando se observam os avanços sociais e econômicos proporcionados por meio da atuação dos milhares de profissionais na área da educação, do direito, da agricultura, da saúde, da economia, dentre outros tantos ofícios importantes.

Conjugado com as atividades dos qualificados profissionais que a UPF forma e disponibiliza

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ao mercado, é dado marcante a utilização da melhor tecnologia nas respectivas áreas de atuação, beneficiando a comunidade em suas mais diversas necessidades.

Além de pontuar o quanto a UPF já contribuiu no desenvolvimento de Passo Fundo e da sua região de influência, com a atuação profissional de seus egressos, merece destaque a elevada formação de seu quadro de professores e de pesquisadores, a qual, aliada à excelência na infraestrutura física e de laboratórios da Instituição, assegura que a senda de sucesso permanecerá por muito tempo disponibilizando aos interessados elevado padrão técnico-científico. Isso tudo se faz possível em razão do desenvolvimento de políticas institucionais que visam à conversão da inteligência gerada no meio acadêmico em aplicação na comunidade, por meio de produtos ou de técnicas destinadas ao desenvolvimento econômico e social.

Nesse sentido, cumpre notar a presença da visão empreendedora, tanto na formação do profissional quanto na sua interação com a comunidade. Tal postura é revelada na graduação, envolvendo o ensino, a pesquisa e a extensão, e no aprofundamento da pesquisa e dos estudos na área pós-graduação, focando no envolvimento direto com o meio empresarial.

Referindo esse propósito – que sempre esteve presente nas ações da Universidade de Passo Fundo –, é importante

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Reitor da Universidade de Passo Fundo, José Carlos Carles de Souza frisar que a Instituição, desde o ano de 2013, disponibiliza a excepcional infraestrutura do Parque Científico e Tecnológico UPF Planalto Médio para aprimorar a formação de seus acadêmicos. Além de todas as atividades acadêmicas envolvendo professores e alunos, o UPF Parque executa ações direcionadas a empresas com a efetiva participação e com o acompanhamento de professores e acadêmicos, visando proporcionar aos empresários locais ou da região a possibilidade de desenvolvimento de inovação tecnológica em produtos ou serviços diferenciados, quer seja como empresas parceiras, quer seja como

incubadas, startups ou maduras, a partir de uma base que promova a inovação, o desenvolvimento tecnológico e a inclusão social.

Como dito, permeando as atividades acadêmicas e sempre com presença marcante na comunidade, a extensão da UPF avança nas suas ações com o intuito de qualificar e potencializar as políticas públicas, principalmente aquelas alinhadas com a sua responsabilidade social, a partir da permanente interação dos alunos com o meio social.

Assim, ante aos apontamentos supramencionados, é lógica a conclusão de que a Universidade de Passo Fundo vem cumprindo função relevante na economia local e regional, e os dados institucionais atuais comprovam o papel preponderante que continua exercendo na comunidade. Esse contexto permite afirmar que a criação da Universidade de Passo Fundo, na década dos anos de 1960, foi o ato institucional mais importante do século passado, e transformador da nossa comunidade, fomentando, desde então, o desenvolvimento de Passo Fundo e de toda a região.

Em razão de tudo isso, a UPF reitera o seu compromisso com a sociedade e reafirma a disposição de continuar desenvolvendo, com os seus acadêmicos, funcionários e professores, uma formação de excelência, calcada nos princípios democráticos, visando sempre ao bem -estar e à melhor qualidade de vida da comunidade.

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Atualmente, a UPF conta com mais de 900 professores, 1.248 funcionários e aproximadamente 20 mil alunos nos cursos de graduação, pós-graduação lato e stricto sensu, ensino médio, cursos técnicos, cursos de idiomas e atividades de extensão.

A instituição mantém 61 cursos de graduação e oferta a possibilidade de educação continuada por meio dos mais de 60 cursos de especialização em andamento, 15 mestrados, seis doutorados e nove estágios pós-doutorais.

Na infraestrutura, oferece, em uma área de mais de 400 hectares, um ambiente de socialização e conhecimento. Conta com 150 clínicas e mais de 300 laboratórios, 23 anfiteatros e auditórios, 176 salas de ensino prático -experimental, museus, centro de idiomas, ginásio poliesportivo e ampla área verde. A Rede de Bibliotecas é mais um dos diferenciais da Instituição, colocando à disposição da comunidade acadêmica mais de 430 mil exemplares no acervo.

Além disso, os projetos de extensão garantem que a comunidade tenha acesso a atendimentos jurídicos e psicológicos, a atividades da terceira idade, a projetos que cuidam de crianças, de famílias em situação de vulnerabilidade, que cuidam de animais, dentre outras ações, beneficiando milhares de pessoas a cada ano. Desenvolve, ainda inúmeros projetos artísticos e culturais que envolvem a comunidade.

Foto Édson Coltz/DM

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Uma cidade voltada à atender

Historicamente importante à economia local, setor terciário deverá continuar contribuindo para a caracterização de Passo Fundo

“Capital do Planalto Médio” atende às demandas de moradores de toda uma região Descrever como uma cidade prestadora de serviços e de comércio não caracteriza por inteiro Passo Fundo, mas resume a importância desses setores à economia local desde décadas atrás até a atualidade. Notoriamente, a “Capital do Planalto Médio” tem industrias de transformação, muitas desenvolvidas a partir da influência também do setor primário, e uma construção civil pujante, mas os primeiros tópicos ainda seguem balizadores do setor econômico e empregatício. “Essa característica da cidade é histórica”, resume a economista Cleide Moretto, ao analisar a relevância desse grupo de empresas ao município nos últimos dez anos, período em que Passo Fundo, assim como outras cidades brasileiras, registrou bons índices de desenvolvimento (enquanto as receitas arrecadadas em 2007 somaram pouco mais de R$ 170 milhões,

em 2016 o valor superou os R$ 530 milhões).

Na análise da economista, também professora da Universidade de Passo Fundo, esse crescimento local foi uma resposta, entre outras questões, à “dinâmica nacional”, mas os resultados ainda foram acima do que vinha acontecendo na economia brasileira e estadual. “O que mais contribuiu foi o bom desempenho do setor primário. Como sobrevivemos dessa renda, conseguimos sentir como reflexo uma melhoria em comércio e serviço. Na agricultura, com a modernização, série de financiamentos, seguros agrícolas, vimos a solidificação de um setor que vinha tendo crises anteriormente. Claro que algumas das empresas do setor industrial, de maior porte que se instalaram aqui, ajudaram a conseguir uma receita maior em termos de retorno tanto de IPI quanto de ICMS”,

pondera ela, citando como exemplo a instalação da multinacional Manitowoc, a BS Bios (no início dos anos de 2000) e a Italac, “que fizeram com que a produção local gerasse retorno, sobretudo, nos impostos estaduais e federais”.

Lojas, restaurantes, universidades, órgãos públicos, academias, instituições médicas, assim por diante, contribuem para movimentar recursos, recolher impostos e empregar milhares de trabalhadores, chegando assim a mais de 80% do bolo econômico passo-fundense, conforme Moretto.

“Nesse período, percebe-se que apesar do esforço anterior do governo municipal, até 2012, para tentar mudar a estrutura econômica local o setor de serviços se fortaleceu ainda mais”, avalia, reiterando o papel da cadeia produtiva agrícola regional para injeção de recursos nessa área e mesmo sua influência na construção civil.

Fatores históricos Ao analisar a atual diversidade econômica de Passo Fundo, com o predomínio de empresas ligadas ao setor terciário, a economista relaciona que a indústria, o setor secundário, tem características de localização, instalando-se, comumente, nas proximidades de grandes produtores de matéria-prima. Esse padrão, inclusive, cabe a muitas das empresas sediadas aqui no município, ligadas ao setor de alimentos, justamente, explica ela, por ficar mais próxima a produção regional baseada em grãos e na criação de gado, suínos e avicultura. “Por isso que temos essa característica de sermos um polo regional de serviços que depende de uma renda regional, baseada no

setor primário. Então, a história do município vem ligada ao setor terciário, também, por ser um caminho de passagem, desde a época dos bandeirantes, depois incrementou algumas industrias, principalmente, madeireiras, frigoríficos e de alimentos, mais nos anos 1950 e 1960, e depois com o aperfeiçoamento dessas industrias em nível de país, com a abertura de mercado, foi perdendo força, e acabamos nos especializando no setor de comércio e serviço, mais serviço, principalmente educação e saúde, que tem agregado mais valor, atraído mão de obra capacitada e feito a cidade ter uma característica urbana de porte médio/grande”, detalha.

Característica permanecerá?

“Com certeza, acredito que a participação será ainda maior”, projeta a especialista, em relação ao setor terciário. Mais do que isso, diz ela, a prestação de serviços tende a ser qualificada a partir da formação disponibilizada pelas diversas instituições atuantes na cidade. “Acredito que nós, mesmo os cursos, mudanças de alguns perfis, da solidificação como uma grande formadora da área da saúde, farão com que o município se destaque ainda mais. Poderão vir industrias, mas [levando em conta] os dados mais antigos que temos, em termos de senso de empresas e empregos, essa foi a tendência e tendemos a aperfeiçoar cada vez mais a área de serviços”.

Além disso, ela considera que Passo Fundo apresenta condições para a atração de uma mão de obra mais capacitada e valorizada economicamente, “que anda pelo país e fora dele e que, ao se instalar, também contribui para a melhora na demanda local. É provável que essa especialização que o setor terciário promove consegue também fazer a contrapartida do ponto de vista da demanda. Melhorando o perfil do consumidor”. O impacto de haver um público mais exigente, explica, está na mudança já percebida no perfil da oferta. “Essa mão de obra, que é mais capacitada e que ganha mais, fica mais exigente e quer um espaço que ofereça um produto diferenciado”.