As Transformações dos Espaços Públicos

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As Transformações dos Espaços Públicos Imprensa, Atores Políticos e Sociabilidades na Cidade Imperial (1820 - 1840)

2ª edição



2ª edição


Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antônio Carlos Giuliani Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Eraldo Leme Batista Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa

Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Magali Rosa de Sant’Anna Prof. Dr. Marco Morel Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt

©2016 Marco Morel Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

M814 Morel, Marco As Transformações dos Espaços Públicos: Imprensa, Atores Políticos e Sociabilidades na Cidade Imperial (1820-1840)/Marco Morel. Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 408 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0584-4 1. Espaços Públicos 2. Rio de Janeiro 3. Período Imperial. I. Morel, Marco. CDD: 900 Índices para catálogo sistemático: História do Brasil Hist. do Rio de Janeiro / Cidade do Rio de Janeiro

981.04 981.53

IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal

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Para Cristina e Ana Paula, com amor.



Agradecimentos Ao professor François-Xavier Guerra (em memória), orientador, cuja acolhida, discussões e acompanhamento crítico foram indispensáveis à realização do trabalho. A Jean Luc (em memória) e Lucila Pavée, portadores de amizade e solidariedade decisivas para a estadia da família de estrangeiros na França. Aos professores Lucia Maria Paschoal Guimarães, Luis Henrique Dias Tavares, Maria de Lourdes Viana Lyra e Tânia T. Bessone, pela fidelidade epistolar que alimentou os laços com o ambiente intelectual do Brasil. À professora Kátia de Queiroz Mattoso (em memória), cujo acompanhamento e apoio no decorrer do trabalho foram significativos. Às professoras Célia Freire d´Aquino Fonseca e Maria Yeda Leite Linhares (em memória), pelo importante incentivo. Agradecimento especial aos amigos e familiares que, dos dois lados do oceano, participaram de maneira decisiva no apoio a este trabalho, sobretudo para minha avó Anita (em memória) pelo trabalho dedicado na ajuda da tradução. Ao professor István Jancsó (em memória), pela possibilidade da primeira edição deste livro.



Sumário Apresentação

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Prefácio

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PARTE I. AS PALAVRAS EM CENA – OU COMO EDIFICAR UMA NAÇÃO APÓS A REVOLUÇÃO (FRANCESA) 1. As revoluções nas prateleiras da rua do Ouvidor 2. Identidades políticas: além das intrigas da Corte 3. As três soberanias: exaltados, moderados e restauradores 3.1 Os Exaltados sem Razão 3.2 Os moderados e a soberania da nação 3.3. Caramurus, restauradores sem Restauração

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PARTE II. OS CONSTRUTORES DA OPINIÃO: UM PERFIL COLETIVO 1. Rio de Janeiro, cidade imperial 2. Trajetórias da “nobreza cultural” 3. Em nome da opinião pública: a gênese de uma noção

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PARTE III. FORMAS DE SOCIABILIDADE 1. A Voz Popular através de manuscritos, gritos e gestos 2. Luzes, sombras e divisões entre maçonarias 3. Dinâmica das associações

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Referências

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Nota à 2ª edição

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Apresentação Este livro constitui versão em português de minha tese de doutorado em História, La formation des espaces publics modernes à Rio de Janeiro (1820-1840): opinion, acteurs et sociabilités, iniciada em outubro de 1991 e defendida em dezembro de 1995 na Université Paris I (Panthéon-Sorbonne). Além da tradução, fiz determinadas reduções no original de 610 páginas, cortando trechos que me pareceram desnecessários para publicação, eliminando anexos e retirando certas informações específicas e detalhadas, mas mantendo o essencial do conteúdo, das análises e das proposições então desenvolvidas. Optei também por não fazer nenhuma atualização bibliográfica, nem reconsiderações sobre os temas com que então eu trabalhara e mantive, nas citações, a ortografia original dos documentos. Acrescentei algumas sugestões da banca examinadora (composta, além do orientador François-Xavier Guerra, pelos professores Kátia de Queiroz Mattoso, Arlette Farge e Luis Felipe de Alencastro). O recorte geográfico e cronológico é o da cidade do Rio de Janeiro (sede do governo central) entre 1820 e 1840, que engloba desde o movimento liberal luso-brasileiro às Regências. As principais referências teóricas construíram-se em torno de cinco eixos, que procurei interligar e utilizar à minha maneira: o principal foi ligado à J. Habermas (e também R. Koselleck), no tocante à questão dos espaços públicos. E serviram de embasamento em partes do trabalho: P. Rosanvallon, na história intelectual e do pensamento político; R. Chartier e D. Roche (e ainda P. Bourdieu), história dos livros, das práticas e das formas de distinção culturais; os modos de sociabilidade, através de M. Agulhon (associações formais) e de Arlette Farge, no conceber uma história das palavras e vozes captadas nas ruas e em espaços informais. E como elemento integrador da perspectiva de história política

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Marco Morel

e do papel do sujeito histórico, voltado para a especificidade do mundo ibérico e americano, a obra de François-Xavier Guerra. Alguns rápidos esclarecimentos conceituais. Gostaria de alertar para a polissemia da expressão “espaço público” que indica, neste trabalho, três possibilidades: a cena ou esfera pública, onde interagem diferentes atores, e que não se confunde com o Estado; a esfera literária e cultural, que não é isolada do restante da sociedade e resulta da expressão letrada ou oral de agentes históricos diversificados; e os espaços físicos ou locais onde se configuram estas cenas e esferas. Não se trata, pois, nem de uma história urbanística, nem da administração pública, dimensões que também poderiam estar abrigadas sob a denominação de “espaço público”. Neste sentido, a tese aqui apresentada aponta para a transformação dos espaços públicos naquelas três possibilidades destacadas, caracterizando historicamente o período da independência e do início da construção do Estado nacional brasileiro, sendo justamente a principal mudança de uma época marcada por permanências (ou alterações mais lentas) nas relações sócio-econômicas. Aponta, pois, para a existência destes espaços públicos, que interagem, mas não se confundem, com as instâncias da administração pública, nem podem ser considerados como “máscaras” de interesses econômicos imediatos e pré-definidos sem lutas políticas. Trata-se, portanto, de uma abordagem, um recorte temático, que não exclui outros. As referências à modernidade dizem respeito à modernidade política, consubstanciada pelas vertentes dos liberalismos, unidos pelo vocabulário das “modernas liberdades” individual e de expressão, bem como sua implantação inicial no país recém-independente, marcada por hibridismos e permanências tradicionais. O livro, como a tese, ficou dividido em três partes. Na primeira, trato da vinda das “novas ideias” (que já não eram tão novas assim) e da formação de um vocabulário, que remetem às identidades políticas e às formas de organização. A segunda parte traça um perfil coletivo dos agentes históricos aqui estudados, 12


As Transformações dos Espaços Públicos

com suas trajetórias, bem como dos desafios na elaboração de uma opinião pública, com destaque para a imprensa. E a terceira parte estuda as formas de sociabilidade em duas amplas vertentes: as associações estabelecidas e a circulação das vozes públicas. As fontes e métodos para tal elaboração foram: catálogos de livraria e livros da época, tratados de forma quantificada (a partir de classificação proposta por F. Furet e D. Roche) e lidos através da história do pensamento político; correspondências diplomáticas do Quai D’Orsay francês, lidas na perspectiva de narrativa e testemunho do vocabulário e de alguns acontecimentos políticos, bem como de relatos das vozes que circulavam nas ruas; dicionários de época para estabelecer os parâmetros do vocabulário político; a imprensa periódica e de opinião do Rio de Janeiro para o debate político, vocabulário e o surgimento da noção de opinião pública; mapas, tratados numa abordagem geopolítica e, sobretudo, geocultural, para situar a cidade imperial brasileira nas hierarquias de poder; repertórios bibliográficos, para compor as trajetórias dos indivíduos escolhidos, sistematizadas de forma quantificada através do método prosopográfico (C. Charles) e complementadas com outras fontes de época, às quais foram colocadas determinadas questões; documentos impressos e manuscritos diversos, referentes às associações estudadas de forma quantificada, buscando também estabelecer uma tipologia e marcas cronológicas e qualitativas para o movimento associativo, incluindo maçonarias, filantropia, grupos políticos, de ajuda mútua, entre outros. Alguns dos capítulos ou trechos da tese já apareceram isoladamente em publicações de âmbito acadêmico e/ou foram apresentados em eventos científicos, mas encontram-se agora reunidos pela primeira vez e em sua totalidade. Rio de Janeiro, setembro de 2003

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