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©2017 Maria Ogécia Drigo; Luciana Coutinho P. de Souza; Laan Mendes de Barros; Márcia R. da Costa Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.
Im13 Imagem e conhecimento: que relação é essa, afinal?/Maria Ogécia Drigo; Luciana Coutinho P. de Souza; Laan Mendes de Barros; Márcia R. da Costa (Orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: 2017. 216 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-4620-802-9 1. Conhecimento 2. Imagem 3. Comunicação 4. Semiótica I. Drigo, Maria Ogécia. CDD:300 Índices para catálogo sistemático: Comunicação
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O que nos força a pensar é o signo. O signo é o objeto de um encontro; mas é precisamente a contingência do encontro que garante a necessidade daquilo que ele faz pensar. O ato de pensar não decorre de uma simples possibilidade natural, é, ao contrário, a única criação verdadeira. A criação é a gênese do ato de pensar no próprio pensamento. Ora, essa gênese implica alguma coisa que violente o pensamento, que o tira de seu natural estupor, de suas possibilidades apenas abstratas. (Gilles Deleuze)
Sumário Apresentação, 9 Lúcia Santaella
Capítulo 1: Conhecer por meio de imagens, 13 Uma discussão sem fim, 13 Tipos de conhecimento, 15 Conhecimento & crença, 17 O que é imagem, 20 Competições entre o verbo e a imagem, 22 Princípios de semiótica, 24 Conhecimento por imagens, 27 Imagens e distintas formas de conhecimento, 29 Maria Ogécia Drigo Luciana Coutinho Pagliarini de Souza
Capítulo 2: Imagem, conhecimento e analogia, 35 Introdução, 35 Sobre conhecimento e analogia, 36 Da semiótica peirceana: tipos de raciocínio e analogia, 42 Dos modos de apresentação/representação do objeto, 49 Considerações finais, 56 António Machuco Rosa
Capítulo 3: A origem do simbólico: a semiótica de Peirce e a teoria mimética de René Girard, 59 Introdução, 59 A semiótica de Peirce, 60 René Girard e a origem do signo, 67 A origem da lógica, 81
Josep Maria Català Domènech Tradução: Ana Paula Kwitko
Capítulo 4: A imagem interface: imagem complexa para um pensamento complexo, 99 O novo e o velho a toda velocidade, 99 O movimento como dispositivo hermenêutico, 103 A mente universal e o universo-mente, 104 Retórica visual e tecnologia, 107 Os modelos mentais, 113 Laan Mendes de Barros
Capítulo 5: Imagem e reconhecimento: experiência estética, identidade e alteridade, 119 Introdução, 119 Experiência estética, 121 A partilha do sensível, 127 A imagem na sociedade midiatizada contemporânea, 133 Paulo César Boni
Capítulo 6: O uso da fotografia como disparadora do gatilho da memória: uma proposta metodológica para auxiliar o processo de recuperação e preservação da história, 139 Intrudução, 139 A proposta metodológica da intencionalidade de comunicação, 141 A proposta metodológica do uso da fotografia como disparadora do gatilho da memória, 146 Sistematização e consolidação da proposta metodológica, 151 Rodrigo Fontanari
Capítulo 7: Pensar com e por imagem – Roland Barthes em A Câmara clara, 161 De A câmara clara, 161 Studium versus Punctum, 164
Relendo o Studium & o Punctum 169 Entre a semiologia e a sintomatologia, 175
José Luis Valero Sancho
Capítulo 8: Visualização de dados, 179 Introdução, 179 Conceitos, 182 Material e métodos, 186 Resultados, 199 Sobre os autores, 209
Apresentação O projeto deste livro nasce de discussões realizadas no grupo de pesquisa “Imagens Midiáticas” (GPIM), sediado no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba – Uniso – em diálogo com pesquisadores de outras instituições, brasileiras e europeias. Esse contato profícuo fomenta debates acerca da imagem como objeto de reflexão e se abre a outros interessados no tema. Nossas reflexões sobre a imagem inserida na Comunicação levam-nos a delinear as mudanças que nesse campo de estudo ora se concentram na economia interna do processo comunicacional em si, nas relações entre fonte, mensagem-meio e destinatário; ora são ampliadas ao entorno social, político e cultural desse processo, em movimentos interdisciplinares. As especificidades do próprio objeto de estudo também se alteram. Elas refletem opções teórico-epistemológicas daqueles que se lançam à pesquisa e, especialmente, refletem as evoluções tecnológicas que envolvem os sistemas de produção, circulação e recepção de mensagens. Os meios de comunicação se transformam com o passar do tempo, e novas formas de linguagem e de construção de conhecimento são observadas. Isso se dá de maneira intensa no âmbito da imagem As questões relativas à imagem sempre ocuparam lugar de destaque nos estudos da Comunicação; tanto no que se refere ao objeto estético e seus processos de produção e circulação quanto no tocante à percepção estética e seus desdobramentos nas esferas da imaginação individual e do imaginário coletivo. A imagem sempre foi elemento central na experiência comunicativa e cognitiva dos seres humanos, desde as primeiras representações e narrativas que conhecemos, às manifestações culturais hodiernas da sociedade interconectada em rede. Da perpetuidade das imagens gravadas-pintadas na pedra à efemeridade das imagens registradas e percebidas em cliques, a imagem 9
Maria Ogécia Drigo; Luciana Coutinho P. de Souza; Laan Mendes de Barros; Márcia R. da Costa
parece atender muito bem ao propósito humano de se expressar. No entanto, nem sempre ela recebe toda a atenção por parte de quem se ocupa dos processos sígnicos e dos estudos de linguagem. A comunicação verbal acaba por ocupar o centro das atenções e está presente com relevo em toda a formação educacional das culturas ocidentais. Vivemos numa sociedade que valoriza a cultura letrada. A imagem, como outras manifestações não verbais, parece ficar um tanto à margem quando se fala em construção de conhecimento e cognição. Isso pode se justificar pela tradição racionalista do pensamento científico, que prioriza a maior exatidão e objetividade das palavras e dos números, e pela subalternização das esferas da subjetividade e da sensibilidade, tão presentes nas formas artísticas e expressões estéticas. Tal marginalização também pode ser explicada desde uma chave histórica e política, quando relacionada aos processos de colonização e de dominação de grupos sociais por outros grupos, momento em que a domesticação e o controle social se fazem, dentre outras formas, pela difusão do idioma do colonizador. E, neste sentido, os jogos de conquista e resistência presentes nos processos de transculturação – para usar um conceito de Octavio Ianni – encontram na imagem um universo complexo, que possibilita ora a imposição de poder, ora a subversão da ordem imposta. Com o advento da “sociedade em rede” – como define Manuel Castells – e a proliferação de aparatos móveis que popularizaram a produção e edição de imagens e facilitaram sua rápida circulação, os estudos a seu respeito passam a ocupar maior relevo nos diferentes segmentos da pesquisa em Comunicação. Da fotografia ao cinema, da mídia impressa à televisão, da arte de rua, como o grafite e as pichações aos produtos audiovisuais que circulam na web, das artes gráficas aos websites... São bem variadas as formas que a imagem assume na sociedade atual, que alguns já chamaram de sociedade da imagem. E essa multiplicidade de expressões se desdobra em outras tantas apropriações por parte de seus espectadores. O estudo da imagem é, portanto, instigante e sempre em construção. É, pois, essa dimensão complexa e multifacetária da imagem, que experimenta constante transformação em sua constituição e perspectivas de estudo, que nos desafia nas páginas aqui reunidas. Mais do que relatos de pesquisas empíricas, os textos que integram 10
Imagem e conhecimento: que relação é essa, afinal?
este volume refletem o pensamento de seus autores que, ao longo dos anos, vêm estudando e orientando pesquisas sobre imagem. Eles trazem diferentes visadas teórico-epistemológicas sobre as perspectivas de estudo da imagem no campo da comunicação. No capítulo inaugural, deste livro “Conhecer por meio de imagens”, Lúcia Santaella nos apresenta uma cartografia do campo da epistemologia. A partir de então, a leitura semiótica do conhecimento que se obtém por meio da imagem ganha espaço sob a ótica peirceana. E os holofotes que se voltam sobre a imagem trazem à baila as funções cognitivas inscritas em cada uma das nuances da classificação do signo icônico. O Capítulo 2, “Imagem, conhecimento e analogia”, traz reflexões acerca da analogia e o vínculo que ela estabelece com o conhecimento e com a modalidade de representação peirceana regida pela similitude – o hipoícone. As autoras, Maria Ogécia Drigo e Luciana Coutinho Pagliarini de Souza, partem do conceito retórico de analogia e o transpõem para o semiótico na esteira da noção do signo icônico que, em seus graus diversos, abre espaço para a apresentação da analogia como operação mental na leitura de imagens e propulsora, por sua vez, de semioses genuínas. António Machuco Rosa, em “A origem do simbólico: a semiótica de Peirce e a teoria mimética de René Girard”, examina a questão da circularidade na definição de signo em Peirce e recorre à teoria mimética de René Girard que explica a origem do simbólico e da cultura. Em “A imagem interface: imagem complexa para um pensamento complexo”, Josep Maria Català Domènech parte do princípio de que as imagens estão melhor preparadas para mostrar os mapas do complexo funcionamento da mente que a própria linguagem, conduzindo-nos a ricas reflexões acerca do papel do movimento nesse processo. Em “Imagem e reconhecimento: experiência estética, identidade e alteridade”, Laan Mendes de Barros apresenta-nos reflexões sobre a imagem enquanto objeto estético. Termos como experiência, sensibilidade, experiência estética, aisthesis, estratégias sensíveis e partilha do sensível, entre outros, são escrutinados, para que
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Maria Ogécia Drigo; Luciana Coutinho P. de Souza; Laan Mendes de Barros; Márcia R. da Costa
assim o leitor possa avaliar como se dá a circulação de sentidos – via imagens – na sociedade midiatizada. Considerando-se a Comunicação, à luz das ideias peirceanas, como ciência viva, a revisão de seus métodos é decorrente de transformações inerentes à sua natureza. Nesse sentido, os estudos de Paulo César Boni, em “O uso da fotografia como disparadora do gatilho da memória: uma proposta metodológica para auxiliar o processo de recuperação e preservação da história”, ao lançar mão do potencial da fotografia para reavivar a memória, vai ao encontro dos preceitos da pesquisa empírica, que se faz necessária à comunicação, notadamente as que se vinculam a processos socioculturais. Rodrigo Fontanari, em minuciosa interpretação de conceitos de Barthes, sob o título “Pensar com e por imagem – Roland Barthes em A câmara clara”, mostra a fotografia como um modo de ver e pensar o mundo, que conjuga percepção e imaginação. Por fim, Valero Sancho, em “Visualização de dados”, mostra a utilidade comunicativa dos modos visuais de apresentação e representação de dados, valendo-se de percepções das pessoas em relação aos seus processos interpretativos. Fica o convite ao leitor: que tal conferir as relações entre conhecimento e imagens então apresentadas? Laan Mendes de Barros Luciana Coutunho Pagliarini de Souza Maria Ogécia Drigo Márcia Rodrigues da Costa (Organizadores)
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1 Conhecer por meio de imagens Lúcia Santaella
Seria lacunar dar início a uma discussão sobre o tipo ou os tipos de conhecimento que o ser humano adquire por meio das imagens sem passar em revista, mesmo que de modo bastante breve, o que se entende por conhecimento. De acordo com Flusser (2015, p. 45), “é dever do intelectual definir os termos que usa”, especialmente quando se trata de um termo que perpassa muitas áreas do saber e que encontra sua morada mais legítima na epistemologia, um dos ramos da filosofia, mais especificamente, da filosofia da ciência. Uma discussão sem fim
Comecemos a discussão, portanto, com uma esquemática cartografia do campo da epistemologia que tem seu objeto de estudo justamente nas complexas tramas do conhecimento. Uma vez que já tratei dessas questões em outro estudo (Santaella, 2001, p. 102150), limito-me aqui a repetir alguns tópicos que parecem mais relevantes para chegarmos, mais à frente, à leitura semiótica do conhecimento que se obtém por meios de imagens, meta fundamental deste capítulo. Do grego episteme, conhecimento e logos, explicação, a epistemologia é o estudo da natureza do conhecimento e da justificação, especificamente, o estudo dos traços definidores, das condições substantivas e dos limites do conhecimento e da justificação. Os fundamentos filosóficos desenvolvidos pela epistemologia tiveram início no século XVII, quando se deu o nascimento da ciência moderna. É nesse ambiente que surgiram as primeiras formulações so13