Ativismo Digital e Imagem

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Ativismo Digital e Imagem estratÊgias de engajamento e mobilização em rede




Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antônio Carlos Giuliani Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Eraldo Leme Batista Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa

Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Magali Rosa de Sant’Anna Prof. Dr. Marco Morel Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt

©2016 Tarcisio Torres Silva Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

Si381 Silva, Tarcisio Torres Ativismo Digital e Imagem: estratégias de engajamento e mobilização em rede/Tarcisio Torres Silva. Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 204 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0670-4 1. Ativismo digital 2. Mídias sociais 3. Manifestação 4. Imagem I. Silva, Tarcisio Torres. CDD: 300 Índices para catálogo sistemático: Comunicação eletrônica

302.234

Processos sociais

303 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal

Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 contato@editorialpaco.com.br


À minha esposa Cláudia e às nossas filhas Gabriela e Melissa, que surgiram ao longo da produção desse livro para alegrar e iluminar meus caminhos.



A política e a arte, tanto quanto os saberes, constroem “ficções”, isto é, rearranjos materiais dos signos e das imagens, das relações entre o que se vê e o que se diz, entre o que se faz e o que se pode fazer. (Jacques Rancière)



Agradecimentos Este livro foi possível graças ao apoio de algumas pessoas que cruzaram meu caminho ao longo do seu desenvolvimento. Agradeço em especial: Ao professor Hermes Renato Hildebrand, pelo apoio oferecido durante a realização deste livro, fruto de tese de doutorado defendida no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ao professor John Hutnyk, pela recepção e acolhimento no programa de Estudos Culturais do Goldsmiths College, Universidade de Londres, e também ao professor Scott Lash, pelas indicações precisas sobre o meu estudo. Aos amigos Iván Garcia e Laritza Diversent, pela disposição em me receber em Cuba e por terem transformado minha visita ao seu país em uma experiência importante, frutífera e enriquecedora para a vivência do uso de tecnologias de comunicação como estratégia de ativismo político. E à Tania Quintero, que mesmo de longe, tornou essa visita possível. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelo oferecimento da bolsa PDEE, que possibilitou o estágio no exterior (Processo 5411-10-6). À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pelo auxílio concedido para esta publicação (Processo 2016/00714-1). Aos professores e amigos do Instituto de Artes da Unicamp, do Goldsmiths College e da PUC-Campinas, meu muito obrigado pelas trocas e descobertas teóricas. À minha família e aos amigos de sempre, presentes em todos os momentos deste livro com o suporte caloroso e necessário para um trabalho de fôlego como esse. A todos, meu muito obrigado.



Sumário Prefácio..............................................................................................13 Introdução........................................................................................15 1. As imagens nas redes de comunicação digital..................22 Capítulo 1

A politização das imagens...............................................................31 1. Fotografias de guerra...........................................................35 2. Imagens contemporâneas, continuidades do olhar e novas perspectivas.....................................................................50 3. O espetáculo do terror e a biopolítica das imagens contemporâneas........................................................................58 Capítulo 2

Imagem, biopoder e produção biopolítica..................................65 1. Biopoder e imagem..............................................................68 2. Do biopoder à produção biopolítica.................................79 3. Estética e produção biopolítica..........................................87 Capítulo 3

Estéticas do biopolítico: imagens da multidão na Primavera Árabe.................................................................................................95 1. A Revolução Verde e a Primavera Árabe..........................98 2. Imagens pungentes............................................................100 3. Estéticas políticas................................................................108 4. Implicações estéticas de imagens que circulam nas redes digitais de comunicação...............................................112 4.1 Senso de urgência, imediatismo e colaboração.......112


4.2 A confiabilidade da agenda de contatos...................115 4.3 A proximidade com o corpo......................................116 5. A presença ubíqua da face................................................118 5.1 A face como vergonha................................................119 5.2 Faces sem medo...........................................................123 5.3 Estéticas da face...........................................................128 5.4 Imagens icônicas..........................................................133 Capítulo 4

Estéticas do biopolítico: o corpo feminino em evidência.......137 1. A extensão da biopolítica..................................................142 2. Guerrilha midiática, performance e o corpo feminino..................................................................................149 2.1 Aliaa Magda Elmahdy..................................................151 2.2 Pussy Riot......................................................................158 2.3 Femen............................................................................169 2.4 A biopolítica do feminino...........................................175 Considerações finais......................................................................181 Referências......................................................................................195


Prefácio O texto possui grande atualidade, visto que investiga a utilização da imagem em manifestações ativistas contemporâneas com ampla repercussão mundial, considerando o impacto das novas tecnologias sobre tais práticas, assim como sua relação com as mídias tradicionais. O objeto de pesquisa: imagens veiculadas digitalmente (Revolução Verde, no Irã e a Primavera Árabe, no Norte da África e Oriente Médio) corresponde à proposta, porque ela é sustentada por argumentos de autoridades no assunto, tanto as que deixaram um lastro reflexivo profundo na Arte e nas Ciências, assim como aquelas que imprimem, na vida contemporânea, essas marcas. Dentro da atualidade do tema, que se alicerça no objeto de análise: as imagens tecnológicas das redes digitais, analisa, de forma bem fundamentada por meio das visões estética e política, estabelecendo a relação de ambas no uso social das redes. A fim de que se compreenda a função política dessas imagens, apoia-se em bases teóricas da biopolítica (Foucault, Hardt e Negri, Agamben etc), contextualizada historicamente, incluindo o momento atual. Ainda analisa (Rancière é um dos alicerces) o poder que essas imagens possuem de afetar os outros, porque o meio que as divulga e a recepção que estimula a participação do receptor, estabelece a “partilha do sensível”. Em relação à biopolítica (Rose e Agamben), evidencia que além do controle biológico do corpo pela política, há uma resposta de contraponto dos indivíduos dispersos na massa, que se acabam por se relacionar pela intercomunicação digital. Assim, a biopolítica como meio de controle da vida nua (do próprio corpo em si) como fez o nazismo em suas “experiências científicas” nos campos de concentração, nos dias atuais, expõe respostas por meio do corpo, contrárias ao poder político estabelecido. Poder-se-ia afirmar que, para ataque ao poder, os campos de concentração transformam-se em campos digitais, cuja expres13


Tarcisio Torres Silva

são se faz por meio de imagens, às quais no livro se atribuem características estéticas, ou seja, possuem arte, beleza. O questionamento, que se apresenta para o autor, refere-se às características artísticas das imagens digitais analisadas que se situam no interior do próprio objeto artístico (em seu significante, sua materialidade) não apenas no significado que suscitam e que resultam na “partilha do sensível”, uma vez que objetos não estéticos podem afetar a sensibilidade humana. Além disso, o estético em movimentos artísticos já foram provenientes de questionamentos à visão dominante (política?) da Arte, como o Barroco. Outra questão é a que diz respeito à apresentação das imagens que rompem com a narratocracia (Panagia), por exemplo, situada na obra de Caravaggio. Se a obra de arte permanece, apesar da reprodutibilidade técnica, a superação da narratocracia não significa uma perda da noção do tempo sequencial? Não há dúvida de que o corpo feminino expressa pela imagem artística que tem, como significado ou significados, uma ruptura com a ordem vigente, principalmente agora, quando as convenções sociais fazem da mulher um objeto submisso à ordem vigente, às regras do poder político e, certamente, uma das características marcantes da Arte é a quebra das convenções que se faz, como já dito, por meio do significante (materialidade da obra). Considero o valor do livro pela pesquisa e pela fundamentação teórica que sustentam a argumentação e atingem o objetivo proposto, sempre pela verdade científica e experiência de vida. Parabéns ao autor. Dulce A. Adorno-Silva

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Introdução […] mass media and horizontal communication networks are converging. The net outcome of this evolution is a historical shift of the public sphere from the institutional realm to the new communication space.1 (Manuel Castells)

Desde o início da popularização da internet em meados dos anos 90, presenciamos o aparecimento de tecnologias digitais de comunicação que possibilitaram maior interatividade e compartilhamento de informações entre as pessoas. A evolução dessas tecnologias nos traz ao momento atual que posiciona as mídias digitais num novo contexto perante a sociedade e o campo da comunicação. Esse período tem como característica principal a interferência por parte dos usuários por meio da manifestação de suas opiniões, da criação de novos conteúdos ou ainda da modificação de conteúdos preexistentes. Em ambientes como blogs, redes sociais e sites de compartilhamento de conteúdo e na interação possibilitada por aparelhos móveis, uma transformação no consumo e na criação de conteúdos é observada. O consumo de mídia, antes de via única, ou seja, com pouquíssima interferência dos leitores/telespectadores, que apenas recebiam a informação, transforma-se com a ativa participação dos usuários por meio da produção de conteúdos e colaboração. Nos termos de Castells (2007), é um novo cenário cuja dinâmica deixa florescer maiores possibilidades de “comunicação horizontal”, ou seja, feita diretamente entre ou usuários e sem mediação. Em contraposição, está a comunicação de massa, feita de cima para baixo, ou “vertical”, pois parte de um centro de produção de notícias para ser então distribuída. 1. “A mídia de massa e as redes de comunicação horizontal estão convergindo. O resultado em rede dessa evolução é uma mudança histórica da esfera pública do campo institucional para o novo espaço de comunicação” (Castells, 2007, p. 238, tradução própria).

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