O Envelhecimento e a Homossexualidade Masculina

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O Envelhecimento e a Homossexualidade Masculina Luciana de Almeida da Cunha


Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antônio Carlos Giuliani Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Eraldo Leme Batista Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa

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©2016 Luciana de Almeida da Cunha Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

C9145 Cunha, Luciana de Almeida da O Envelhecimento e a Homossexualidade Masculina/Luciana de Almeida da Cunha. Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 88 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0619-3 1. Histórias de vida 2. Homossexualidade 3. Idosos 4. Preconceito I. Cunha, Luciana de Almeida da. CDD: 300 Índices para catálogo sistemático: Grupos sociais Terceira idade Orientação sexual

305 305.26 306.76 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal

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Ao meu filho, João Artur, que a tudo dá significado. Ao Elder João Hauch, meu amigo e companheiro de jornada. À minha Mãe... Mulher forte, guerreira. A meu pai (in memoriam). Saudades de ti, pai.



Agradecimentos A Deus. O que seria de mim sem a fé que eu tenho nele? Às pessoas que mesmo anonimamente contribuíram para a construção deste livro (eles, os sujeitos da pesquisa). Às professoras (Eliane Lúcia Colussi e Marilene Portella), pela paciência na orientação e incentivo que tornaram possível a conclusão desta obra. À secretária do mestrado (Rita de Marco) por sua dedicação e atenção aos mestrandos, sanando sempre suas dívidas e inquietações. Enfim, agradeço à vida, agradeço ao meu bondoso Deus, minha luz, minha vida, ao mundo, às pessoas que passaram pela minha vida, aos meus amigos, colegas de trabalho, a todo mundo... Meus sinceros agradecimentos.



A porta da verdade estava aberta, Mas só deixava passar Meia pessoa de cada vez. Assim, não era possível atingir toda a verdade, Porque a meia pessoa que entrava Só trazia o perfil da meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente Com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta, Chegaram ao lugar luminoso Onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades Diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela. E carecia optar. Cada um optou conforme Seu capricho, sua ilusão, sua miopia. Carlos Drummond de Andrade



Sumário Apresentação 11 Abrindo janelas...

Introdução 15 Situando o contexto...

Capítulo 1

19

Capítulo 2

23

Capítulo 3

27

Capítulo 4

31

Capítulo 5

35

Capítulo 6

41

Capítulo 7

43

Campos conceituais... Repensando a homossexualidade

Vivendo sob o signo do preconceito

Envelhecer, algumas demarcações...

Envelhecer e ser homossexual: contextos possíveis?

Alguns caminhos da investigação

Dos sujeitos do estudo: suas histórias, suas vidas...

Recordando a descoberta da orientação sexual


Capítulo 8

51

Capítulo 9

61

Capítulo 10

69

Conclusão

77

Referências

79

Sobre a orientação sexual e o posicionamento da família

Se assumir como gay: observação da resposta social

No processo de viver e envelhecer ,“não importa se é hetero ou homo”, todos seguem o seu curso

Encaminhamentos: (talvez) possíveis?


Abrindo janelas... Caro Leitor! Bem vindo ao livro O envelhecimento e a homossexualidade masculina da Professora/Enfermeira/Amiga/Mãe/Mulher e muitos outros predicados Luciana de Almeida da Cunha. Preciso iniciar meu escrito desculpando-me. Parece estranho, mas logo explicar-me-ei. Meus leitores sabem que, de modo geral, os escritos que tenho produzido seguem um padrão estilístico mais formal, no entanto não encontrarão este estilo no texto da Luciana; perdoem-me, mas a obra e a autora assim exigem. Deixo claro, nesse sentido, que não se trata de falta de rigor teórico, metodológico, ou qualquer coisa do gênero, ao contrário, Luciana consegue realizar um feito bem singular, qual seja articular, leveza, profundidade teórica e sensibilidade num mesmo escrito. Assim, tentarei não desmerecer a autora e produzir algo leve... Veremos se me aproximo desse desejo. No ano de 2014 lembro-me de um e-mail doce, como a autora desse livro é, ou sempre comigo foi, convidando-me a participar de um importante momento formativo de sua vida no qual relatava a mim seu percurso formativo e os escritos que vinha fazendo. Nossa história tem tramas bem anteriores a 2014: o curso de enfermagem na condição de minha aluna, a pós-graduação e tantas conversas e momentos nos corredores da primeira instituição de ensino superior que trabalhei. Ah, o tempo! Sempre com suas tessituras doces, frias, saborosas, inesquecíveis, muitas nuances possíveis. Olhar para trás e ver nossas finitudes é ver nossas marcas, é perceber que o que levamos dessa vida são os vínculos que fazemos, as relações que construímos, as trocas e ‘afectos1’ que estabelecemos. 1. Utilizo a expressão em sua grafia lusófona para buscar a ideia de afectar, que ultrapassa a noção de afeto, buscando a ideia de entranhamento, de imersão de relações de cuidado de si e do outro. 11


Luciana de Almeida da Cunha

Receber o convite para apresentar essa obra representa para mim uma demarcação de que os vínculos permanecem, de que nosso trabalho não é dicotômico à nossa vida, de que as relações afetivas transcendem o mundo do trabalho e se dissolvem permeando nossa vida, nossos amores, afinal passamos boa parte de nossa vida em espaços/tempos instituídos ao trabalho. Poderíamos perpassar uma discussão infindável sobre os modos de produção ou sobre os aparelhos ideológicos que nos tornam o que somos, mas prefiro estabelecer essa conversa por outros prismas. Hoje, ao menos. Gosto de demarcar a finitude histórica do nosso ser, que embora óbvia parece-me necessária, pois hoje, percorro e (re)leio essa obra a partir do olhar que nesse momento histórico consigo fazer e percebo o quão diferente é (meu olhar) do que aquele estabelecia pela primeira vez em 2014. Que bom! Essa é uma das belezas da nossa profissão – olhar para trás e perceber que mudamos e, na medida do possível, acreditar que somos melhores do que éramos naquele primeiro momento. Aqui vamos nós, leitor... E da obra da Lu, ou Luciana para os não tão íntimos? Ainda não! Ainda preciso dizer que o telefonema, que também foi lindo, “profe, quero lhe contar que meu livro foi aprovado para publicação na editora que o senhor recomendou”. Essa foi a frase que ouvi em meio a caixas de leite e pacotes de pão na gôndola do caixa do mercado. Sim, a Lu estava muito feliz e é daquelas pessoas que ainda ligam para agradecer os pequenos gestos da vida. Por que dizer isso? Pode questionar-se o leitor. A história dos homens está se fazendo e (espero que), um dia, a humanidade olhe para trás e perceba que em determinados momentos da nossa história o cuidado e a delicadeza não eram coisas instituídas, mas que alguns seres ainda os praticavam, outros não tanto. A Lu é uma dessas pessoas e o leitor certamente vai encontrar essa delicadeza para além da sua vida, mas no cuidado e nas escritas por ela produzidas. 12


O Envelhecimento e a Homossexualidade Masculina

Quanto a seu escrito, podemos dizer que o leitor irá encontrar uma obra permeada da vida, da profissão e dos vínculos afetivos da Luciana. E é esse o tom de seu escrito, perceber os trajetos e constructos de homossexuais sobre o envelhecimento. E é isso que encontrarás aqui. Na introdução intitulada, “Situando o contexto”, a autora nos apresenta a temática da investigação bem como os desejos a materializar-se em sua obra. No Capítulo 1, “Campos conceituais... Repensando a homossexualidade”, a autora situa o leitor no que tange aos alicerces teóricos da investigação. No capítulo seguinte, “Vivendo sob o signo do preconceito”, problematiza a construção sócio histórica do preconceito nas sociedades ocidentais. Ainda em seu escrito “Envelhecer, algumas demarcações...”, Luciana nos ajuda a pensar o processo de envelhecimento e as possíveis mudanças que ocasionam nos indivíduos. No Capítulo 4, “Envelhecer e ser homossexual: contextos possíveis?”, a autora ousa problematizar o envelhecimento das populações homossexuais perpassando as diferentes perspectivas de ambos “estigmas” sociais. No capítulo seguinte, “Alguns caminhos da investigação”, a autora descreve sua filiação teórico-metodológica e descreve o percurso de sua investigação. Nos capítulos seguintes, a autora apresenta seus achados da investigação, as categorias emergentes, bem como as análises que produz a partir das narrativas de seus colaboradores. No tópico “Encaminhamentos: (talvez) possíveis?”, Luciana apresenta-nos desafios outros, provocações e encaminhamentos às questões suscitadas na obra em si. Por fim, concluo a apresentação da obra recomendando sua leitura àqueles cujo olhar/escuta sensível querem repensar o envelhecimento populacional e/ou desafiar-se a compreender a sexualidade humana para além dos rótulos socialmente impostos. Uma excelente leitura a todos(as). Prof. Dr. Vantoir Roberto Brancher Santa Maria, 24 de maio de 2016

13



Introdução Situando o contexto... A velhice é um fenômeno altamente natural e democrático, que atinge a todos, ainda que em distintos ritmos, mas de forma inescapável, desde que o ser esteja vivo. Como consequência, tentativas de homogeneização das representações da velhice têm sido acionadas, produzindo uma nova categoria cultural: as pessoas idosas, como um conjunto autônomo e coerente, que impõe outro recorte à Geografia Social, autorizando a colocação em prática de modos específicos de gestão da população acima de 60 anos (Debert, 2007). Por outro lado, de acordo com Andrade et al. (2008), em nosso meio é possível perceber claramente o predominante despreparo social relacionado ao envelhecimento, que conduz a um descompasso informacional que leva à discriminação do idoso. Junto com a velhice e seus fenômenos naturais subjacentes, vê-se a ocorrência de fenômenos sociais que permeiam a relação do homem com a sociedade e desta com ele. No entanto, tais fenômenos não se dão de forma equivalente. Diferentes são as tendências sociais em relação à velhice de homens e mulheres, de pobres e ricos, de letrados a iletrados e em relação a heterossexuais e homossexuais (Alonso, 2005). Se o envelhecimento tem sido encarado, em muitas instâncias, como um problema, numa sociedade preconceituosa o envelhecimento dos homossexuais pode, de forma discriminatória, ser encarado como uma degeneração das “bichas”; uma perspectiva sombria, solitária, que permeia o imaginário de um desconhecido número de pessoas (Simões, 2004). 15


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