O Papel Formativo da Filosofia

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O Papel Formativo da Filosofia /Antônio Joaquim Severino; Marcos A. Lorieri; Sílvio Gallo (orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 276 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0577-6 1. Educação 2. Filosofia 3. Formação pessoal. I. Severino, Antônio Joaquim; Lorieri, Marcos A.; Gallo, Sílvio (orgs.). CDD: 107 Índices para catálogo sistemático: Ensino de Filosofia Educação

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Sumário Apresentação

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Capítulo 1. Filosofia e formação pessoal: uma problemática central para a Filosofia da Educação Adalberto Dias de Carvalho

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Capítulo 2. A Filosofia e as novas fronteiras da formação Sílvio Gallo

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Parte I. Papel da Filosofia na formação de educadores

Capítulo 3. Ética, Filosofia e autoridade pedagógica Isabel Baptista

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Capítulo 4. Filosofia da Educação como forma de vida e orientação de mundo 45 Claudio Almir Dalbosco Capítulo 5. Papel da Filosofia na formação de educadores Elisete M. Tomazetti

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Parte II. Papel formativo da Filosofia no ensino médio

Capítulo 6. Ensinar Filosofia no ensino médio/ensino secundário na sociedade do conhecimento: perspectivas e desafios Joaquim Escola

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Capítulo 7. Sobre o papel formativo da filosofia no ensino médio 109 Patrícia Del Nero Velasco Capítulo 8. Considerações sobre a educação filosófica no ensino médio e o seu sentido ético-formativo 129 Pedro Angelo Pagni

Parte III. Papel formativo da Filosofia no ensino superior

Capítulo 9. O cuidado de si como papel formativo da Filosofia 149 Pedro Goergen Capítulo 10. O papel formativo da Filosofia no ensino superior 167 Nadja Hermann


Parte IV. Papel formativo da filosofia no ensino fundamental

Capítulo 11. Papel formativo da Filosofia no ensino fundamental Walter Omar Kohan Capítulo 12. Crescer filosofando Leoni Maria Padilha Henning

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Parte V. Considerações finais

Capítulo 13. A Filosofia da Educação sob a inspiração da Sofelp 219 Antonio Joaquim Severino Capítulo 14. Papel formativo da Filosofia: contribuições a partir do V Congresso da Sofelp Marcos Antônio Lorieri

Sobre autoras e autores

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Apresentação Este livro reúne textos apresentados nas falas de abertura e nas mesas redondas do V Congresso da Sofelp (Sociedade de Filosofia da Educação de Língua Portuguesa) realizado na Faculdade de Educação da Unicamp no final de agosto de 2015, bem como dois textos finais com algumas considerações a partir dos mesmos.1 O congresso teve como foco as possibilidades formativas da Filosofia para alunos do ensino fundamental e médio, do ensino superior e na formação dos educadores. Muito se tem falado sobre a importância da Filosofia na formação humana e, em especial, na formação das novas gerações, ainda que os caminhos atuais da sociedade apontem, muitas vezes, para a não valorização da presença da Filosofia e das Humanidades em geral nos processos formativos. Que entendimentos relativos às contribuições da Filosofia têm estado presentes nas falas que a propõem como componente necessário nos vários níveis da educação formal e na vida em geral das pessoas? São diversos estes entendimentos e alguns deles são apresentados nos capítulos do livro, a começar pelos dois textos que formam o conteúdo das duas falas de abertura do Congresso. Primeiro o de Adalberto Dias de Carvalho que discorre sobre o papel da Filosofia na formação de cada pessoa, apontado como tema central para a Filosofia da Educação. Ele nos convida a pensar sobre isso na companhia de Gilles Deleuze, Eric Weil e Jacques Derrida, Perine e Kant. Aponta para uma vergonha fundamental que é “sentida na baixeza e vulgaridade de uma existência que de1. Outros textos selecionados dentre as comunicações havidas foram publicados nos seguintes números das seguintes revistas: Eccos n. 38 e 39 (disponível em: <http://www.uninove.br/revistaeccos>) e Resafe, n. 26 (disponível em: <http:// periodicos.unb.br/index.php/resafe>). 7


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corre diante de um pensamento-para-o-mercado” e convida para uma maneira de pensar que responda à situação desumanizante das vítimas desta situação hodierna. Deve haver um pensamento e ações de resistência a este presente coisificante de pessoas. Em segundo lugar, o texto de Sílvio Gallo2 que oferece reflexão, a partir de ideias de Foucault, as quais indicam possibilidades a serem pensadas quando afirma que: [...] podemos pensar a formação como esta contiguidade entre pedagogia e psicagogia: não se forma um sujeito sem técnicas de aprendizado, sem relação com o conhecimento (pedagogia); mas também não se forma um sujeito sem técnicas de trabalho sobre si mesmo, que possibilitem que ele se constitua enquanto tal (psicagogia). Um processo formativo, portanto, não poderia abrir mão destas duas instâncias, necessariamente relacionadas, articuladas, implicando uma na outra. (Gallo, 2016, p. 27)

O texto explora muito bem a significação de o que Foucault denomina de Pedagogia e de Psicagogia a partir de entendimentos dos termos paideia e bildung e, mais do que isso, a partir de significações históricas destes termos para buscar chegar a alguma noção de formação, ou de “boa” formação das pessoas, que possa ser considerada nos nossos dias. Ele, a partir daí, coloca perguntas fundamentais para o trabalho dos filósofos da educação como estas: [...] qual o papel da Filosofia na ação de (re)pensar os processos formativos contemporâneos? Terá ela contribuições a oferecer? Ou seu comprometimento com o projeto “clássico” de formação impede que ela possa interagir positivamente com as demandas contemporâneas de formação? (Gallo, 2016, p. 23)

2. Universidade Estadual de Campinas (Faculdade de Educação). 8


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Aos educadores deve caber boa parte deste esforço de resistência, mas, para isso, deve haver a contribuição formativa da Filosofia. Este é o tema da primeira parte do livro que é iniciada pelo texto que traz ideias de Isabel Baptista: Ética, Filosofia e autoridade pedagógica. Há exigências ético-filosóficas inerentes à praxis educativa, algo primacial, ainda que não exclusivo, para as quais a Filosofia tem muito a contribuir, sendo este um dos seus papéis formadores fundamentais. Aponta-se, a partir de ideias de Lévinas e de Derrida, que “a ética é hospitalidade”, ou seja, ela é inclusiva do outro: especialmente nos caminhos da educação. Aí o caminhar da educação nunca “se efetua a dois, viajante e destino, mas a três”, educador, telos e educando. Pensar assim, ou aprender a pensar assim, deve fazer parte dos aportes formativos dos educadores, pois, “estamos a falar de pessoas que possuem a responsabilidade de guiar, temporariamente, a viagem existencial de outros” para fins que a todos envolvem. Os caminhos atuais percorridos na formação de educadores estão marcados pela preocupação imediatista com a “profissionalização especializada” presente nos cursos superiores (e nos de formação de educadores) que “se baseia exclusivamente no manuseio técnico do saber específico” à qual se contrapõe “a noção de Filosofia como forma de vida e Pedagogia como orientação de mundo”. Este é o mote do texto de Cláudio A. Dalbosco, ao tratar do tema Filosofia da Educação como forma de vida e orientação de mundo. Aponta que os cursos de Pedagogia foram transformados em cursos de formação de professores “restrita ao saber especializado, entendido atualmente como domínio de técnicas de aprendizagem” sem considerar devidamente os aspectos formativos mais amplos para os quais as Humanidades e, em especial a Filosofia, trazem contribuições fundamentais. Perdeu-se de vista a educação e com ela os sentidos do humano e do mundo para os quais a Filosofia da Educação tem sua contribuição específica ao propor “o diálogo crítico entre saber técnico especializado e formação humana”. 9


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Caminhando na mesma direção e acrescentando outras contribuições, segue o texto de Elisete Tomazetti: O papel da Filosofia na formação de educadores, no qual faz denúncia tanto do divórcio dos cursos de formação de educadores, em especial de professores, com a realidade educacional, quanto da diminuição acentuada da presença da Filosofia da Educação nesses cursos. Propõe buscar uma relação entre Filosofia e Educação na formação de educadores, diferente da que está em voga, que tem se focado apenas no desenvolvimento de habilidades e competências técnicas, ou no aprender a fazer. Indica que se dê ênfase no “pensar a educação e no convidar os educadores a pensá-la”. O convite ao exercício de pensar a educação por dentro dela mesma, por dentro do que ocorre, poderá ser fator de formação e, também, iluminador das buscas que a realidade indica como necessárias. Na segunda parte, cujo tema é o papel formativo da Filosofia no ensino médio, o primeiro texto é de Joaquim Escola: Ensinar Filosofia no ensino médio/ensino secundário na sociedade do conhecimento: perspetivas e desafios. Após lembrar a realidade tecnocientífica na qual vivemos e, dentro dela, as mediações tecnológicas, afirma haver um importante espaço de contribuição formativa da Filosofia no ensino médio. Na continuação segue o texto de Patrícia Del Nero Velasco, Sobre o papel formativo da Filosofia no ensino médio, no qual apresenta uma análise do que dizem os documentos oficias brasileiros sobre o papel da Filosofia na formação dos jovens e, juntamente com eles, falas de pensadores diversos a este respeito. Destaquem-se ideias de Tassin, por ela citadas e certa coincidência entre as mesmas e o que é dito pelos documentos oficiais brasileiros relativos à contribuição formativa do ensino de Filosofia, que pode ser assim resumida: desenvolvimento das capacidades de análise, de leitura, de abstração; de atitudes de questionamento, de técnicas de argumentação; desenvolvimento de elaboração do raciocínio; abertura para a interrogação conceitual e para a reflexão racional; instauração de certa distância crítica; convite 10


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ao retorno reflexivo sobre si e sobre as condições de possibilidade do pensamento, e outras. Se assim é, não se pode negar o papel educativo deste ensino. Pedro Angelo Pagni, no terceiro texto desta parte do livro: Considerações sobre a educação filosófica no ensino médio e o seu sentido ético-formativo, aponta para a existência de grande produção teórica aproximando ensino de Filosofia e formação, mas que muitos autores têm visto a contribuição formativa do ensino de Filosofia numa perspectiva somente epistemológica (desenvolvimento do pensamento crítico) e como uma forma de resistência à tecnicização do ensino e ao empobrecimento da formação cultural. Indica que, além disso, há a necessidade de se caminhar numa direção mais “abrangente do ponto de vista ético”. O texto é desenvolvido em dois momentos: no primeiro retoma argumentos de outras suas publicações, relativos à concepção da Filosofia como formadora de um modo de existência e de um ethos e o seu exercício educativo como portador de um sentido denominado de psicagógico, concomitantemente à sua dimensão pedagógica. No segundo indica estratégias e práticas como exercícios de leitura do mundo e escrita de si, considerados como importantes, além de outros, para a educação filosófica e para a concepção ético-formativa que defende. Os três textos apresentam abordagens novas para se pensar a contribuição formativa da Filosofia no ensino médio. Da mesma maneira, os textos da terceira parte do livro trazem contribuições inovadoras para se pensar O papel formativo da Filosofia no ensino superior. Pedro Goergen, no texto O cuidado de si como papel formativo da Filosofia traz contribuições da obra de Michel Foucault por julgar que a contribuição formativa da Filosofia pode ser abordada com proveito a partir do conceito de cuidado de si, explicitado por este pensador. Esclarece o conceito do cuidado de si destacando sua dimensão, também, social, e conclui com importantes apontamentos a respeito da tarefa formativa da Filosofia à luz das con11


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siderações apresentadas a partir das ideias de Foucault. Diz ele, ao final do texto: “A Filosofia não pode nos prometer uma passagem a outro mundo, mas pode ajudar o sujeito a respirar transcendência no contexto de um mundo que o sufoca”. A Filosofia pode ser um convite a exercícios de pensamento nesta direção. No segundo texto desta parte, O papel formativo da Filosofia no ensino superior, Nadja Hermann reforça a ideia da necessidade de experiências filosóficas de pensamento que surgem e são, continuamente, alimentadas pelo espanto (o thauma) com tudo o que existe e ocorre; experiências nas quais se busque um pensamento reflexivo e crítico, uma busca de sabedoria, contrária a qualquer dogmatismo que promova uma recusa da realidade que não se considera mais suportável e que pergunta por outras possibilidades de mundo. Afirma que ao dedicar-se a pensar, a Filosofia tem um caráter intrinsecamente formativo, pois perguntas filosóficas sobre o agir na polis, o bem e a virtude, introduzem uma atitude de questionamento e de reflexão que leva à sabedoria da arte de viver bem. Este tipo de experiências de pensamento não combinam com o utilitarismo imediatista tão presente nos cursos superiores que pode levar à (de)formação de tantos profissionais carentes de uma “vida interior” tal como é definida no texto. Na quarta parte, o livro traz dois capítulos relativos ao tema O papel formativo da Filosofia no ensino fundamental. É de Walter Kohan o primeiro deles, no qual apresenta considerações relativas a certo desconforto em relação à ideia da “formação” que lhe parece inconveniente para descrever o que a Filosofia pode fazer de mais interessante nas práticas educacionais, inclusive com crianças. Ele explicita de maneira instigante as razões deste desconforto apontando, dentre elas, o descompasso entre as exigências da escola que temos, atreladas ao tempo cronológico, às medidas, e não ao livre fluir especialmente do pensamento que indaga, tal como o faz a Filosofia que tem algo em comum com o devir criança que se dá num tempo aiônico no qual habita a infância, um tempo, como diz, 12


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da vida humana, durativo, intensivo, experiencial, o tempo do brincar, do pensar, o tempo, também, da Filosofia. Infância e Filosofia sofrem, no seu tempo comum, com os embates de khrónos.

Há um embate entre as exigências do cronológico escolar e o aiônico da vida para o qual a infância (e a Filosofia) está mais aberta. É neste espaço que os seres humanos poderiam se desenvolver na direção de uma realização não associada a um tempo produtivo, dos resultados, dos conhecimentos medíveis, progressivos, sucessivos. Suas ideias convidam a pensar como seria uma escola assim e, dentro dela, um trabalho filosófico capaz de oferecer subsídios para o desenvolvimento das crianças. Ele não diria “para a formação” delas. No segundo texto, de Leoni Maria Padilha Henning, Crescer filosofando, a autora parece ter posição diversa da de Kohan, mas não totalmente. Ela acena para a defesa e afirmação de uma produtiva vinculação do desenvolvimento infantil com a Filosofia, entendendo esta como um exercício favorecedor concernente ao enfrentamento dos sujeitos em seu processo de viver.

Para isso, propõe uma Filosofia que não se antagonize com os traços próprios dessa fase da vida humana. Sua posição é a de que é possível o filosofar com crianças, sendo este filosofar um fazer que permite a elas o “crescer filosofando” em direção a uma formação humana ampla. Pois, o ser infantil vive cercado por questões filosóficas, muitas das quais o desafiam em momentos, mesmo inobservados pelo adulto. Cabe sim uma formação filosófica inicial para as crianças e vale investir na busca de como fazer isso. A conferir. Na última parte do livro estão dois capítulos finais com ideias colhidas nas apresentações do Congresso e sistematizadas por

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dois de seus coorganizadores. O primeiro é de Antônio Joaquim Severino – A Filosofia da Educação sob a inspiração da Sofelp – no qual oferece, como diz, “um subsídio para o registro e para a memória dos resultados dos debates conduzidos nesse evento buscando explicitar o perfil do mesmo”. Um registro que é mais que isso, pois trata-se de “uma síntese reflexiva feita sob a inspiração das temáticas que, na minha percepção”, marcaram as falas das diversas apresentações feitas. Aponta a riqueza da diversidade de aportes teóricos presentes nas mesmas, todas, porém, convergindo na afirmação do papel formativo da Filosofia vista como paideia. Papel formativo identificado não como caminho para a proposição de alguma forma determinada de ser humano, ou, como diz, “sem qualquer identificação desse processo com a imposição de qualquer tipo de forma, de enquadramento, adestramento ou domesticação”. Daí a importância de sua presença nos processos educacionais. Seus comentários acrescem esclarecimentos importantes às falas dos diversos palestrantes do evento, além de ampliar as contribuições destas falas com importantes novos chamados para reflexões outras como as relativas às contribuições de pensadores latino-americanos, ou dos que pensam mais sistematicamente a interculturalidade e outros. O segundo é de Marcos Antônio Lorieri que aponta o que lhe pareceu poder ser um apanhado de indicações relativas ao papel formativo da Filosofia nos âmbitos tratados nas apresentações do Congresso e constantes nos capítulos deste livro. Daí o título do capítulo: O papel formativo da Filosofia: contribuições a partir do V Congresso da Sofelp. Esperamos que as ideias aqui coligidas e apresentadas sirvam para estimular a continuidade das investigações na área da Filosofia da Educação relativas às contribuições formativas da Filosofia para todas as pessoas e, em especial, nos vários níveis da educação formal. Os organizadores. 14


Capítulo 1. Filosofia e formação pessoal: uma problemática central para a Filosofia da Educação Adalberto Dias de Carvalho1

Numa época como a que vivemos, em que novos e decisivos desafios se colocam ao efetivo exercício da cidadania em sua plenitude, urge valorizar e simultaneamente indagar o papel que aí pode e deve a Filosofia desempenhar. Mais concretamente, qual a pertinência da Filosofia na formação pessoal, entendida esta como suporte do próprio acesso à condição cidadã? Para isso, clarificamos desde já o nosso pressuposto de que a pessoa como entidade ética e sede da dignidade humana constitui um precedente antropológico por referência ao cidadão, concebido este como a condição política de seu estatuto social, em sua inseparabilidade ontológica relativamente àquela. Para aprofundarmos esta nossa reflexão, tomaremos como referenciais três autores: Gilles Deleuze, Eric Weil e Jacques Derrida. Com efeito, Deleuze e Guattari afirmam como acusação que “os direitos não salvam nem os homens nem uma filosofia que se reterritorializa sobre o estado democrático” em que a vergonha de ser um homem é sentida na baixeza e vulgaridade de uma existência que decorre diante de um “pensamento-para-o-mercado”. Ora, para os autores, “este sentimento de vergonha é um dos mais poderosos motivos da filosofia” pois “nós não somos responsáveis das vítimas mas diante das vítimas”, acrescentando em seguida que 1. Gabinete de Filosofia da Educação do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto/Centro de Investigação Interdisciplinar e Intervenção Comunitária do ISCET – Instituto Superior de Ciências Empresariais. Sofelp – Sociedade de Filosofia da Educação de Língua Portuguesa. 15


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