O Piauí em Tempos de Segunda Guerra

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O Piauí em Tempos de Segunda Guerra Mobilização local e as experiências do contingente piauiense da FEB




Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antônio Carlos Giuliani Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Eraldo Leme Batista Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa

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©2017 Clarice Helena Santiago Lira Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

L67 Lira, Clarice Helena Santiago O Piauí em Tempos de Segunda Guerra: Mobilização local e as experiências do contingente piauiense da FEB/Clarice Helena Santiago Lira. Jundiaí, Paco Editorial: 2017. 220 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0715-2 1. Segunda guerra 2. Força militar 3. FEB 4. Piauí. I. Lira, Clarice Helena Santiago. CDD: 918.122 Índices para catálogo sistemático: Piauí Serviço militar

918.122 343.013 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi Feito Depósito Legal

Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 contato@editorialpaco.com.br


À minha amorosa mãe, Teresinha Santiago (in memoriam). Aos ex-combatentes do Piauí.



Agradecimentos Quando iniciei este estudo, apesar de saber que teria uma árdua caminhada pela frente, não supunha as várias batalhas a travar até a obra ser concluída. Para que chegasse a sua finalização, foi preciso que, ao longo dessa difícil trajetória, familiares, amigos, mestres, entre outros, me ajudassem de variadas formas, demonstrando, através de seu apoio, que um trabalho é sempre compartilhado, por mais que não nos demos conta disso. Dessa forma, hoje posso afirmar que este livro não foi somente minha produção, mas o resultado de uma relação fecunda, com um universo inimaginável de pessoas e instituições que, de uma forma ou de outra, fizeram com que a ideia se transformasse em concretude. Por isso, agradeço: A Deus, meu grande Amigo, que sempre esteve por perto em todos os momentos da escrita desta obra. À Capes, que me oportunizou realizar um trabalho dessa natureza. À Fapepi, pelo incentivo financeiro que resultou na publicação dessa obra. Ao Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento, meu orientador, por acreditar na concretização da pesquisa, quando ela ainda era um pré-projeto. Aos professores doutores do mestrado em História do Brasil, por terem contribuído com suas discussões no amadurecimento da obra. Em especial, ao Prof. Dr. Pedro Vilarinho Castelo Branco e à Profa. Dra. Teresinha Queiroz, por acompanharem mais de perto as angústias de uma pesquisadora em formação. À Uespi, minha segunda casa, por me proporcionar o exercício diário da profissão docente, experiência fundamental para a escrita desta obra. À Secretaria de Educação do Estado do Piauí, pela liberação de minhas atividades em sala de aula durante o mestrado. Ao Prof. Paulo Nunes, por me ter, em sua entrevista, proporcionado visualizar um pouco da Teresina em tempos de guerra.


À Lília Maria Santiago de Lira e à Rose Lima, por terem feito as transcrições das entrevistas utilizadas neste livro. Ao Gleidson, João Batista, Rafael, Leandro, Ítalo, Calil, Jordan Bruno e à Vera, alunos amigos que me ajudaram a encontrar alguns dos entrevistados e outras fontes que atualmente estão registradas neste estudo. À Ranielli, ao Luciano e Wilson, que, assim como eu, enveredaram-se em pesquisas sobre a FEB e muito contribuíram com informações e indicações de leituras. Ao Rodrigo, amigo carioca, que possibilitou chegar às minhas mãos muitas dissertações relacionadas ao meu objeto de estudo. Aos amigos, Jonhy, Mary, Cláudia, Marcelo, Arimatéa, Vívian, Rosânia, Maureni e Valtéria, pela amizade imensurável. Aos meus colegas do mestrado, em especial à Nalva, ao Pedro Pio, à Andreza, Márcia, Joseanne, ao José Luiz e Paulo Gutemberg, pela amizade e presença fecunda, que, para além das doações intelectuais, contribuíram com doações afetivas, tornando a trajetória de pesquisa uma experiência mais branda. Ao Francisco Alcides do Nascimento Júnior, por ter feito a maior parte da pesquisa documental no Arquivo Público do Piauí. Aos comandantes do 25º BC e da 26ª CSM, por me permitirem o acesso aos arquivos dessas unidades militares. Ao relações-públicas, sargento Edílson, e ao cabo Afrânio, responsável pelo Arquivo do 25º BC, que, para além de suas funções, contribuíram com informações importantes dessa pesquisa. Aos funcionários do Arquivo Público do Estado do Piauí, do Arquivo do 25º BC, do Arquivo da 26ª CSM, do Arquivo da Biblioteca Nacional, do Arquivo Nacional, do Arquivo do Exército, por sua atenção e disponibilidade na procura de fontes para este estudo. Aos ex-combatentes e às suas famílias, que dividiram comigo experiências de guerra, que muitas vezes preferiam silenciar, muito obrigada. Em especial ao Claudísio Torres de Carvalho (in memoriam), ao João Paulino Torres (in memoriam), ao Francisco de Sousa Primo (in memoriam), à Maria de Jesus Rodrigues, ao Renato Silva


e Sousa, à Marinês Silva e Sousa Vilarinho, à Maria de Lourdes Silva e Sousa e à Valdene Mendes de Morais. Ao Vital, pelo amor, conforto e palavras de carinho. Ao meu pai, à minha mãe (in memoriam), às minhas irmãs e ao meu irmão, aos meus sobrinhos: com eles venci essa batalha e vencerei todas as outras. Amo vocês.



Sumário Apresentação....................................................................................13 Prefácio.............................................................................................17 Introdução........................................................................................21 Capítulo 1 A mobilização de guerra no Piauí: entre a produção da propaganda política e o consumo social..................................27 1. Teresina: “uma cidadezinha escura e triste”...................................27 2. “Um apocalipse de fogos de artifício nos ares calmos da cidade”......34 3. A Comissão Estadual da Legião Brasileira de Assistência........49 4. A campanha da borracha usada e o pouso do Semta em Teresina...........................................................................................63

Capítulo 2 Arregimentando forças de terra, mar e ar: a mobilização militar no Piauí em tempos de Segunda Guerra.......................81 1. Campanhas, chamamentos e comemorações aclimando a mobilização militar............................................................................81 2. A inauguração de aeroclubes e a formação de brevetados em céus piauienses...................................................................................93 3. As forças de mar e a mobilização piauiense na vigilância do litoral...108 4. O cotidiano do 25º BC e da 26ª CR na mobilização de jovens piauienses para as forças de terra..........................................113

Capítulo 3 O contingente piauiense da FEB: história e memória...........143 1. Aí eu vim para minha terra, quando, em poucos dias, fui chamado para ir à guerra.................................................................143 2. Ainda hoje sinto uma coisa ruim quando escuto o barulho de um trem...........................................................................................160


3. Muito ruim! Ave Maria! [...] Além do medo da guerra, tinha também o frio..................................................................................177 4. [...] nós vamos embora para o Brasil, foi um corre-corre danado [...]......................................................................................190 5. Os ex-combatentes do Piauí e seus lugares de memória..............198

Considerações finais...........................................................................205 Referências......................................................................................209


Apresentação O livro que está chegando às mãos do leitor resultou da construção da dissertação de mestrado, concluída em 2008, no Programa de Pós-Graduação em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí. A autora, naquela ocasião, já pertencia ao quadro de professores da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e conhecia os caminhos da pesquisa. Ao escolher o tema ou ser escolhida por ele, o Piauí na Segunda Guerra, uma vez que pretendia interpretar o sentimento dos piauienses em relação ao conflito, mas mais do que isso, pretendia construir uma narrativa sobre a participação dos piauienses que fizeram parte do contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB), a autora sabia das dificuldades que encontraria, seja do ponto de vista das fontes documentais escritas, seja na construção das fontes orais que pretendia construir, empregando a Metodologia da História Oral. As dificuldades serviram-lhe de motivação. Saiu-se muito bem. Escreveu um bom texto e lançou luz sobre um tema não explorado na academia, bem como sobre indivíduos que deixaram seus lares para batalhar em terras nunca dantes palmilhadas. Clarice Helena Santiago Lira permite, através da narrativa construída, que o leitor possa entender as estratégias empregadas pelo estado no sentido de persuadir os cidadãos piauienses a alistarem-se, visando à constituição do contingente militar que deveria lutar contra o nazismo e o fascismo que ameaçavam o mundo naquele momento. Não foram poucos os que desejaram manifestar o patriotismo no campo de luta. Como registra a autora, “houve uma mobilização de guerra no estado do Piauí”, mesmo levando em conta as condições socioculturais desse estado. Mas deve-se também ressaltar, do mesmo modo como o fez a autora, que no processo de mobilização houve manifestações contrárias à participação dos piauienses no conflito, “contradizendo a ideia de cooperação de todas as camadas sociais, no esforço de guerra, amplamente divulgada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda”, mesmo 13


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esse Departamento tentando controlar o que se publicava em todo o país através de suas sucursais, os Deips. A propaganda de guerra foi realizada, principalmente através dos jornais, mas a população piauiense em sua maioria não sabia ler e o rádio ainda era um artigo de luxo. As amplificadoras com “bocas” na Praça Rio Branco, na Praça Deodoro da Fonseca e Praça Pedro II divulgavam as notícias da guerra, transmitiam discursos inflamados de políticos profissionais, intelectuais maduros e estudantes. Faziam muito barulho e tais “bravatas” terminaram por afetar o cotidiano dos moradores do Centro e daqueles que se deslocavam para o mercado São José, também conhecido por Mercado Velho, e para as lojas comerciais localizadas em torno da Praça Rio Branco. O coreto localizado na mesma praça era usado pelos estudantes e homens de letras. A autora trabalha tais acontecimentos de forma competente e esclarecedora, tomando como suporte depoimentos como o do sr. Vicente Bezerra, que depois de 60 anos avaliou que “os filhotes da burguesia à época, sequer alistavam-se, pediam dispensa”. A autora listou as medidas tomadas pelo interventor federal, Leônidas de Castro Melo, em relação às pessoas ligadas ao eixo. Os alemães que prestavam serviços ao governo foram dispensados e todos os estrangeiros de origem japonesa e italiana foram obrigados a comparecer à Delegacia de Polícia para prestar depoimento. Mesmo com tais medidas, a vida da maioria dos piauienses foi muito pouco afetada, as longas distâncias e a falta de comunicações rápidas foram determinantes para que homens e mulheres dos sertões piauienses fossem afetados minimamente. Entretanto, Teresina ficou mais longe da capital da República com a suspensão dos voos da companhia aérea Condor. Clarice Helena vasculhou a documentação ligada à Legião Brasileira de Assistência (LBA) e as atividades dessa instituição ligadas às mulheres e aos alunos das escolas públicas de Teresina. Fez a ligação entre esta e a Igreja Católica através das notícias publicadas em jornais e panfletos avulsos, destacando o papel desta última 14


O Piauí em Tempos de Segunda Guerra

no chamamento dos “soldados da pátria”. Promoveu um diálogo competente com a literatura que trata da Guerra e dos soldados brasileiros que foram à guerra ou ficaram esperando o chamamento para o campo de guerra. Clarice conseguiu agrupar a documentação e construir uma competente narrativa sobre a Guerra e a memória daqueles que dela participaram diretamente, seja através dos daqueles que compuseram o contingente piauiense que foram à Guerra, daqueles que ficaram e das mulheres e filhos dos soldados brasileiros. Mas o foco central e mais pungente são as fontes orais construídas com aqueles que voltaram ao Brasil e ao Piauí e puderam narrar sobre o treinamento, sobre a viagem para a Itália, sobre o campo de guerra e a volta. Para finalizar, relembro que durante a Ditadura Civil-Militar participei durante sete anos dos desfiles do 7 de Setembro, ato simbólico que contava com a participação dos expedicionários ainda vivos, mas eu não sabia nada sobre eles. Ela me deu a oportunidade de acompanhar sua caminhada na construção da dissertação, agora transformada em livro, e aprender muito sobre os brasileiros/ piauienses que participaram da Segunda Guerra Mundial. Posso afirmar que o leitor aprenderá muito com o livro que chegará às livrarias e bibliotecas brasileiras. Boa leitura. Teresina-PI Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento Professor Titular de História da UFPI

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