Os Militares e os Aiatolás

Page 1


Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antônio Carlos Giuliani Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Eraldo Leme Batista Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa

Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Magali Rosa de Sant’Anna Prof. Dr. Marco Morel Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt

©2016 Andrew Traumann Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

An259 Traumann, Andrew Os Militares e os Aiatolás: Relações Brasil-Irã (1979-1985)/ Andrew Traumann. Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 256 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0612-4 1. História 2. Política Externa 3. Revolução 4. Petróleo I. Traumann, Andrew. CDD:320 Índices para catálogo sistemático: Política externa / Internacional IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal

Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 contato@editorialpaco.com.br

327


Dedico este livro à memória de meus pais Michael Traumann e Mary Jane Barthelmes Traumann. Sem vocês nada disso teria sido possível...



Agradecimentos Meus mais sinceros agradecimentos a Amado e Rosirene Alvarenga, Enrique e Tatjana Molina, Sérgio Melo, Francisco Ferraz, George Sturaro, Thais Scharfenberg, Murilo Bon Meihy, Muna Omran, Alexsandro Eugênio Pereira, Ana Caroline Moreno, Gustavo Glodes Blum, Bruno Hendler, Carlos-Magno Esteves Vasconcellos, Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto, Salem Nasser, Ana Maria Raietparvar, Jamil Iskandar, Reginaldo Nasser, Patrícia Tendolini, Thiago Assunção, Michele Hastreiter, Jaqueline Ganzert, Isaak Soares, Rafael Pons, Janiffer Zarpelon, Perci Klein, Aírton Backes, Eduardo Teixeira, Caroline Marafiga, Maria Luísa Scaramella, Heloísa Camara, Ângela Moreira, Luís Alexandre Carta Winter, Renan Frighetto, Giselli Gonçalves, Mirelli Fernandes, Ibrahim Essawy Maria Aparecida Leite Laduano, ao meu grande orientador Dennison de Oliveira, aos meus queridos irmãos Elisabeth (in memoriam), Thomas, Jonathan e David, e, por último e em especial, à minha esposa Fabiana, companheira e porto seguro em todos os momentos.



“They must remember that we are the same revolutionary nation whom they know very well. We are not afraid of fire and play with it very easily.” (Aiatolá Ali Khamenei)



Sumário Apresentação

11

Prefácio

17

Prestar continência à incontinência do petróleo Introdução

17 21

Capítulo 1

Discussão bibliográfica

33

Capítulo 2

O Irã no século XX

45

Capítulo 3

A Revolução

63

Capítulo 4

A Política Externa Iraniana

121

Capítulo 5

Brasil: contexto interno

137

Capítulo 6

Geisel e o Pragmatismo Responsável

145


Capítulo 7

Figueiredo e o Universalismo

165

Capítulo 8

Análise da documentação

177

Considerações finais

245

Referências

249


Apresentação Por Muna Omran1

Difícil tarefa a de apresentar um livro: convidar o leitor a se envolver na obra e a desejar conhecê-la. Difícil, porque tenho que anunciar a obra, sem dar detalhes, sem roubar do leitor o direito de se surpreender. Difícil, também, porque devo convencer o leitor de que esta obra, apesar de não ser uma obra literária com histórias que habitam nosso imaginário, não deixa de ser uma narrativa, a crônica da disciplina histórica, entendida aqui como fatos do cotidiano, fatos que nos fazem compreender com mais lucidez muitos aspectos do jogo de xadrez que domina todas as relações cotidianas. Cabe aqui convencer o leitor a se despir diante de um livro, entregando-se a ele, permitindo-se a tecer com ele um novo texto, apenas seu, com os fios que a narrativa que aqui se apresenta oferece. Difícil missão essa de levar o leitor à entrega e à fruição total de um texto. Fruto de uma tese de doutorado, apresentada na Universidade Federal do Paraná, o presente livro, Os militares e os aiatolás: relações Brasil-Irã (1979-1985), enriquece os estudos que envolvem História e Relações Internacionais. Discutir as relações externas entre Brasil e Irã, a partir de uma perspectiva histórica, certamente não foi tarefa fácil, sobretudo no período que nortou a pesquisa do autor. O presente volume traz à luz fatos da História do Brasil e Irã necessários para uma melhor compreensão das relações que se estabelecem entre ambos. O campo da História tem, nos últimos anos, procurado ampliar as fronteiras de suas fontes documentais tradicionais e os diálogos interdisciplinares e, com isso, enriquecer os debates e a busca de novas interseções sobre o processo 1. Professora na pós-graduação em Letras na Universidade Federal Fluminense (UFF). 11


Andrew Traumann

de estruturação e construção do conhecimento acadêmico. Esse talvez seja o grande desafio do autor. A obra permite olhares diferenciados, rompe as barreiras entre os mais diferentes campos do saber no campo das Ciências Humanas e Sociais, novas formas metodológicas se complementam à investigação e na construção do conhecimento aqui apresentadas. Pontos de nós cegos a partir do minucioso olhar do pesquisador são aqui desatados. O livro é composto por oito capítulos e, embora a divisão em partes não esteja evidenciada, podemos observar, como leitores atentos, que duas grandes partes se estruturam: a História e as Relações Internacionais. Na primeira, o olhar de Andrew Traumann mostra o quanto precisamos da História, numa perspectiva crítica, não mais a monumental. Já na segunda o autor reforça o quanto as Relações Internacionais estão presentes na construção do olhar crítico da História. O primeiro capítulo traz uma rica discussão bibliográfica tanto de teóricos ocidentais quanto de orientais acerca da História do Irã contemporâneo, chamando a atenção para a escassa produção historiográfica sobre a Revolução Iraniana. Esse é um dos pontos cegos que Andrew Traumann procura desatar e o faz com mestria. Nesta discussão, não se limita a autores consagrados como Edward Said ou Michel Foucault; coloca-se em evidência as críticas que estes estudiosos sofreram, como também são apresentadas análises de especialistas como R. K. Ramazani, autor de Iran: Challenge and Response in the Middle East ou ainda John Esposito, autor de The Iranian Revolution: It’s Global Impact. Outro dado revelado, e não sem crítica, é a carência de obras sobre o Oriente Médio no Brasil, o que impossibilita o uma rica discussão bibliográfica em que se incluam autores nacionais dedicados ao tema. Nos capítulos o “O Irã no século XX” e “A Revolução”, Traumann tira o véu que encobre a História contemporânea iraniana e, sem orientalismo, destaca as transformações sociais que marcaram o país no século XX. Pontua com clareza os aspectos positivos e negativos da mudança de uma sociedade rural para urbana. O jogo 12


Os Militares e os Aiatolás

das relações de poder estabelecidas em todos os níveis da política iraniana e a constante interferência dos Estados Unidos e Israel, após a chegada de Rehza Pahlev ao poder, são aqui analisados. O mérito desses capítulos encontra-se na condução da reflexão e dos diálogos estabelecidos com diferentes referências históricas sobre o tema. Aqui, o autor preenche, com riqueza teórica, as lacunas historiográficas acerca do Irã contemporâneo no Brasil. As relações internacionais do Irã pós-revolução com o Ocidente ganha destaque em “A política externa iraniana”. Apesar de tratar da política que o Irã estabelece com seus vizinhos da região e com todo o Ocidente, o autor não abandona as teias internas, e, com perspicácia, as costura à política externa. Destaca a importância da guerra contra o Iraque, que durou dez anos, e as consequências para a política externa e para economia brasileira, o rompimento com Israel e Estados Unidos e a permissão para a OLP instalar-se no país como pontos fundamentais para reforçar o pensamento ideológico e antiamericano do novo regime dos aiatolás. O leitor é brindado, ainda, com uma apresentação das consequências que a economia local sofreu e de como esta reverberaria no mundo. Neste capítulo, os interessados sobre a História do Líbano e a criação da Hezbollah poderão encontrar algumas pistas que o conduzirão, também, a responder alguns questionamentos sobre o país dos Cedros. O Brasil entra em cena como protagonista a partir do quinto capítulo, “Brasil: contexto interno”; e no sexto, “Geisel e o PPragmatismo Responsável”, é feita uma análise minuciosa do perfil do quarto presidente do Regime Militar: Ernesto Geisel (1974-1979). Dialogando com Thomas Skidmore, autor de Brasil: de Castelo a Tancredo, Traumann conduz o leitor para uma melhor percepção do período, a partir do olhar que lança sobre o perfil pessoal do general Geisel, dando-lhe um lugar de destaque nas relações que se estabelecem não só com o Irã, mas com todo o Oriente Médio. A apresentação do general contribui para uma compreensão completa das causas e consequências de uma 13


Andrew Traumann

política econômica criada pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento. A partir deste capítulo, abre-se o caminho que norteará as reflexões fundamentais do livro: as relações do Brasil militar com o Irã dos aiatolás. Sempre procurando desatar os nós cegos da História e responder a perguntas, o autor amplia a discussão para o capítulo “Figueiredo e o Universalismo”, a partir de contrapontos com o período de Jânio/Jango e dos regimes que antecederam o general Figueiredo. O autor revê os caminhos da política econômica e da internacional adotadas até então e permite que o leitor perceba como a condução da política externa brasileira se estabeleça sem ferir os dogmas defendidos pelo Golpe de 64. A pesquisa em documentos do Itamaraty feita pelo autor no penúltimo capítulo “Análise de documentação” não se limita ao período delimitado (1979-1985). Há uma digressão para o início dos anos de 1970, destacado a partir da chegada do general Ernesto Geisel ao poder. O rico material leva a analisar e compreender alguns pontos cegos acerca das relações do Brasil com o Oriente Médio e Estados Unidos para que sejam esclarecidas. Por exemplo, analisando telegramas, o autor nos revela, no que tange às observações do nosso país em relação ao Irã, que em pleno Regime Militar havia uma independência da nossa diplomacia, já não tão alinhada aos interesses americanos como se fazia crer. Nosso Itamaraty já percebia que os avanços e investimentos do Xá Rehza Pahlevi em armamentos e na defesa de seu país refletiam a instabilidade interna iraniana e a consequente preocupação de Pahlevi com a continuidade de seu governo. Além disso, o autor analisa os acordos do Brasil com países árabes produtores de petróleo e as articulações e propostas para os mesmos acordos no país persa. O livro apresenta inúmeros dados e fatos que corroboram o papel do historiador, no dizer de Eric Hobsbawm, em Era dos extremos: o Breve Século XX: 1914-1991, “lembrar o que os outros esquecem”, e esse ofício Andrew Traumann sabe exercer. 14


Os Militares e os Aiatolás

Acreditando que o objetivo dessa apresentação tenha sido alcançado, acreditando que a sedução foi possível, acreditando que a curiosidade foi atiçada, convida-se o leitor a lançar-se, a partir de agora, na leitura de Os militares e os aiatolás: relações Brasil-Irã (1979-1985).

15


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.